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Psicologia do Esporte Pediátrica

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LUIZ HENRIQUE PORTO VILANI 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Considerações Gerais da Psicologia do Esporte Pediátrica: 
Uma Revisão da Influência do Contexto Psicológico Sobre 
Jovens Atletas 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Belo Horizonte 
Escola de Educação Física – UFMG 
2001 
 
LUIZ HENRIQUE PORTO VILANI 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Considerações Gerais da Psicologia do Esporte Pediátrica: 
Uma Revisão da Influência do Contexto Psicológico Sobre 
Jovens Atletas 
 
 
 
 
 
 
 
(Monografia apresentada ao curso de 
Especialização em Treinamento Esportivo da 
Escola de Educação Física da Universidade 
Federal de Minas Gerais, como requisito parcial 
à obtenção do título de Especialista em 
Treinamento Esportivo.) 
 
Orientador: Prof. Dr. Dietmar Martin Samulski 
 
 
 
 
 
 
 
Belo Horizonte 
Escola de Educação Física – UFMG 
2001 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Este trabalho foi desenvolvido com apoio do Laboratório de Psicologia do 
Esporte (LAPES) do Centro de Excelência Esportiva (CENESP) da Escola de 
Educação Física da Universidade Federal de Minas Gerais, sob orientação do Prof. 
Dr. Dietmar Martin Samulski, durante o Curso de Especialização em Treinamento 
Esportivo. 
 
AGRADECIMENTOS 
 
 
 Aos meus pais, pela confiança e apoio constante em minha carreira 
acadêmica e profissional. 
 
 Ao meu irmão, e colegas da Secretaria Municipal de Esportes – SMES-PBH, 
pelas constantes discussões e críticas que contribuem para um processo contínuo 
de aprendizagem. 
 
 Ao meu orientador Prof. Dr. Dietmar Martin Samulski, cujo exemplo, 
questionamentos e disposição, desde a graduação, quando tive a oportunidade de 
trabalhar ao seu lado como monitor da disciplina Psicologia do Esporte, constitui um 
grande incentivador de meus estudos na área. 
 
 Ao amigo Prof. Ms. Fernando Vitor Lima, cuja atuação profissional como 
técnico em minha infância e adolescência, e os diálogos atuais como colega, 
inspiraram grandes reflexões para o presente trabalho. Nossas conversas informais, 
pode hoje se formalizar como uma co-orientação indireta deste. 
 
Ao Prof. Dr. Pablo Juan Greco, exemplo de profissional, cuja orientação na 
graduação, ainda refletem grandes inspirações nesta mesma linha de pesquisa. 
Simples ações e exemplos pedagógicos, facilitam até hoje a resolução de 
complexas situações práticas. 
 
 Aos amigos do Tênis de Mesa, cujos laços sinceros de amizade constitui um 
constante incentivo na busca da evolução e otimização das relações do meio 
esportivo em geral. 
 
Monografia apresentada e aprovada em 02 de maio de 2001, pela banca 
examinadora constituída pelos professores: 
 
 
 
 
 
 
__________________________________ 
Prof. Dr. Leszek Antoni Szmuchrowski 
 
 
 
 
__________________________________ 
Prof. Dr. Hans-Joachim Karl Menzel 
 
 
 
 
__________________________________ 
Prof. Dr. Rodolfo Novellino Benda 
 
 
RESUMO 
 
 O processo de iniciação e treinamento de crianças e adolescentes é um 
aspecto extremamente importante na formação de atletas de alto nível. Entretanto, 
muitas vezes, este contexto não é constituído pelos melhores e mais adequados 
meios. Alguns aspectos como o alto nível de exigência, aplicação de métodos 
inadequados, dentre outros fatores que influem diretamente no Treinamento 
Esportivo voltado para jovens atletas, geram uma situação muito delicada com 
relação à segurança que pretendemos estabelecer para atingir um trabalho bem 
orientado. 
Sob o ponto de vista da Psicologia do Esporte, os diversos constructos relativos 
à área possuem abordagens diferenciadas quando se trata de crianças e 
adolescentes. Assim, a avaliação e compreensão do contexto do jovem no esporte 
constituiu a base fundamental do presente estudo, visto que as características do 
meio, interferem diretamente nos aspectos psicológicos do processo da prática 
esportiva. Assim, buscamos levantar e analisar na literatura o contexto do esporte 
para crianças e adolescentes, partindo desde as bases legais, até os preceitos 
psicológicos adequados ao processo de treinamento com crianças e adolescentes. 
Neste sentido, integramos algumas considerações de outras áreas, ressaltando a 
importância de uma abordagem multidisciplinar. 
 O número de jovens que buscam a prática de uma determinada modalidade 
esportiva, vem aumentando intensamente nas últimas décadas. Entretanto, as 
considerações gerais da Psicologia do Esporte Pediátrica, ainda não refletem uma 
forte área de pesquisa. Ainda que diversos estudiosos da área ressaltam a 
importância da análise e comparações dos distintos constructos psicológicos, bem 
como suas inter-relações, o número de pesquisas não é considerado satisfatório 
para a dimensão que este segmento do esporte vem tomando. 
Embora muitas vezes ainda não se configure de forma sistemática frente a 
preparação do jovem atleta, o treinamento psicológico é fundamental para a 
adequação da criança e do adolescente frente ao processo de experiência esportiva. 
Ao identificarmos as influências psicológicas neste contexto de treinamento, 
buscamos a ampliação de uma base teórica adequada às características próprias da 
 
psicologia do esporte pediátrica, procurando estabelecer uma referência básica, bem 
como despertar o interesse para estudos mais específicos futuramente. 
Ao identificar as sensíveis diferenças entre jovens e adultos, que devem ser 
observadas em programas de esportes. Abordamos a necessidade de adaptar e 
adequar o meio esportivo sob as bases psicológicas, para uma prática que permita à 
criança e ao adolescente, o amplo desenvolvimento de suas potencialidades. 
Ressaltamos ainda que mesmo frente as diversas pesquisas realizadas nesta área, 
há uma grande necessidade de mais estudos que possam estabelecer maior 
confiabilidade às necessidades e peculiaridades do processo de participação 
esportiva de crianças e adolescentes. 
 
SUMÁRIO 
 
RESUMO------------------------------------------------------------------------------------- 09 
1. INTRODUÇÃO------------------------------------------------------------------------- 11 
 1.1. JUSTIFICATIVA---------------------------------------------------------------- 14 
 1.2. OBJETIVOS--------------------------------------------------------------------- 14 
1.3. DELIMITAÇÕES--------------------------------------------------------------- 14 
1.4. METODOLOGIA--------------------------------------------------------------- 15 
2. NATUREZA E FINALIDADES DO ESPORTE PARA CRIANÇAS E 
ADOLESCENTES----------------------------------------------------------- --------- 16 
2.1. ORIENTAÇÕES GERAIS DO ESPORTE----------------------------- 16 
2.2. ASPECTOS LEGAIS-------------------------------------------------------- 17 
2.3. O CONTEXTO DAS CRIANÇAS E ADOLESCENTES NO ESPORTE 19 
2.4. A NATUREZA DO ESPORTE--------------------------------------------- 24 
2.4.1. O MODELO SOCIAL DO ESPORTE-------------------------------- 25 
2.4.2. O MODELO COMPETITIVO DO ESPORTE---------------------- 25 
2.4.3. UM MODELO ALTERNATIVO PARA CRIANÇAS -------------- 25 
2.5. A CRIANÇA E A COMPETIÇÃO ESPORTIVA------------------------ 27 
2.6. OS VALORES DO ESPORTE PARA CRIANÇAS-------------------- 28 
2.6.1. VALORES DE REALIZAÇÃO------------------------------------------ 30 
2.6.2. VALORES SOCIAIS------------------------------------------------------ 30 
2.6.3. VALORES DE COMPETÊNCIA--------------------------------------- 30 
2.6.4. VALORES MORAIS------------------------------------------------------ 30 
2.7. CONSIDERAÇÕES FINAIS------------------------------------------------- 33 
3. PRINCIPAIS INTER-RELAÇÕES DO ESPORTE PARA CRIANÇAS E 
ADOLESCENTES---------------------------------------------------------------------- 35 
3.1. A RELAÇÃO ENTRE PAIS E FILHOS (ATLETAS)------------------- 38 
3.1.1. PAIS DESINTERESSADOS-------------------------------------------- 41 
3.1.2.PAIS MAL INFORMADOS----------------------------------------------- 41 
3.1.3. PAIS EXCITADOS--------------------------------------------------------- 41 
3.1.4. PAIS FANÁTICOS--------------------------------------------------------- 42 
3.1.5. RECOMENDAÇÕES------------------------------------------------------ 42 
3.2. A RELAÇÃO ENTRE A CRIANÇA E O TREINADOR----------------- 44 
 
3.2.1. RECOMENDAÇÕES---------------------------------------------------- 46 
3.3. A RELAÇÃO ENTRE OS PAIS E TREINADORES------------------ 48 
3.3.1. RECOMENDAÇÕES---------------------------------------------------- 49 
4. A INICIAÇÃO E A ESPECIALIZAÇÃO ESPORTIVA PRECOCE-------- 51 
5. O DESENVOLVIMENTO DO TALENTO ESPORTIVO---------------------- 56 
5.1. ESTÁGIOS DE DESENVOLVIMENTO DO TALENTO-------------- 58 
5.1.1. ANOS INICIAIS DE APRENDIZAGEM------------------------------ 58 
5.1.2. ANOS INTERMÉDIOS DE APRENDIZAGEM--------------------- 59 
5.1.3. ANOS FINAIS DE APRENDIZAGEM-------------------------------- 59 
6. OVERTRAINIG, BURNOUT e DROPOUT EM JOVENS ESPORTISTAS 62 
7. ENTENDENDO OS ASPECTOS GERAIS DA PSICOLOGIA DO ESPORTE 
PEDIÁTRICA-----------------------------------------------------------------------------
 66 
7.1. A AÇÃO HUMANA COMO OBJETO DE ESTUDO DA PSICOLOGIA DO 
ESPORTE------------------------------------------------------------------------
 68 
7.2. O TREINAMENTO PSICOLÓGICO PARA CRIANÇAS-------------- 71 
7.3. ATENÇÃO E CONCENTRAÇÃO EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES 75 
7.4. MOTIVAÇÃO PARA O ESPORTE----------------------------------------- 80 
7.4.1. DETERMINANTES INTERNOS---------------------------------------- 85 
7.4.2. DETERMINANTES EXTERNOS--------------------------------------- 88 
7.4.3. ATIVAÇÃO------------------------------------------------------------------- 90 
7.4.4. ASPECTOS ESPECÍFICOS DA MOTIVAÇÃO EM CRIANÇAS E 
ADOLESCENTES----------------------------------------------------------
 92 
7.5. EMOÇÕES E O JOVEM NO ESPORTE --------------------------------- 94 
7.6. ESTRESSE COMPETITIVO------------------------------------------------- 98 
7.7. A PERSONALIDADE DA CRIANÇA--------------------------------------- 103 
8. CONCLUSÕES-------------------------------------------------------------------------- 108 
9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS----------------------------------------------- 111 
 
 
LISTA DE FIGURAS 
 
FIGURA 1- Circulo de influências----------------------------------------------------- -------- 35 
FIGURA 2 - Representação de THOMAS (1992) para o modelo de 
Bronfenbrenner----------------------------------------------------------------------------- 38 
 FIGURA 3 - Triângulo esportivo------------------------------------------------------- 38 
FIGURA 4 - Crianças e jovens no esporte competitivo-------------------------- 39 
FIGURA 5 - O contínuo do envolvimento dos pais------------------------------- 41 
FIGURA 6- Modelo multifatorial da especialização esportiva precoce proposto por 
KREBS (1987)------------------------------------------------------------------------------ 55 
FIGURA 7- Modelo de Bloom, do desenvolvimento do talento---------------- 60 
FIGURA 8- Determinantes subjetivos e objetivos da ação---------------------- 69 
FIGURA 9- As três fases da regulação da ação----------------------------------- 71 
FIGURA 10: Modelo das diferentes formas do treinamento psicológico no esporte 
-------------------------------------------------------------------------------------------------- 73 
FIGURA 11- Determinantes da motivação------------------------------------------- 84 
FIGURA 12- Determinantes da motivação atual para o rendimento----------- 84 
FIGURA 13- Fatores causais do êxito e do fracasso------------------------------ 88 
FIGURA 14- Relação entre motivação, rendimento e dificuldade de uma tarefa 90 
FIGURA 15-Ativação - Desempenho Princípio de DODSON-YERKES------ 91 
FIGURA 16- Relação entre o nível de ativação e o rendimento---------------- 91 
FIGURA 17 – Relação entre emoção e rendimento------------------------------- 97 
FIGURA 18: Modelo do desenvolvimento do estresse psíquico--------------- 99 
FIGURA 19 – Estresse como um produto tridimensional------------------------ 100 
FIGURA 20- As 2 dimensões da personalidade reveladas através da análise fatorial--
-------------------------------------------------------------------------------------------------- 105 
FIGURA: 21- Hereditariedade e meio: ambos influenciam a personalidade do 
indivíduo-------------------------------------------------------------------------------------- 107 
 
 
LISTA DE TABELAS 
 
TABELA 1 Razões usualmente utilizadas por diferentes profissionais em relação 
aos benefícios das atividades físico-desportivas (incluídos os pais)--------- 22 
TABELA 2 Classificação dos valores humanos de acordo com a dimensão e o 
foco--------------------------------------------------------------------------------------------- 29 
TABELA 3 Observação dos valores do esporte (adaptado de ROKEACH, 1973) 33 
TABELA 4 Carta de direitos para jovens atletas------------------------------------ 34 
TABELA 5 - Tipos de riscos a que está exposta a criança quando da prática 
Intensiva de uma modalidade esportiva----------------------------------------------- 53 
TABELA 6 - Breve descrição dos tipos mais importantes de treinamento---- 72 
TABELA 7 - Diretrizes gerais para melhorar a capacidade de concentração- 79 
TABELA 8 - Diretrizes para o treinamento da concentração---------------------- 79 
TABELA 9 - Lista de necessidades de Murray---------------------------------------- 82 
TABELA 10 - Diretrizes para a determinação de metas---------------------------- 86 
TABELA 11 - Comparação entre o tipo vencedor e o perdedor------------------ 87 
 
LISTA DE GRÁFICOS 
 
GRÁFICO 1 - Efeito do estabelecimento da meta na performance. Os alunos 
encorajados a estabelecer seus próprios objetivos tiveram melhor performance do 
que aqueles aos quais foi dito apenas “faça o seu melhor”------------------------- 86 
 
 
 11
 
1. INTRODUÇÃO 
 
 Dentre as diversas manifestações esportivas em todo o mundo, o processo de 
iniciação e treinamento de crianças e adolescentes sempre constitui um aspecto de 
grande relevância no que tange a adequação de princípios, valores, intensidade das 
cargas e seus respectivos controles, bem como as possíveis consequências do 
trabalho com esta faixa etária com vistas a um melhor aproveitamento no processo 
de desenvolvimento do sujeito. Independentemente do âmbito esportivo em que está 
direcionado, como por exemplo no esporte educacional ou de rendimento 
(profissional, semi-profissional ou amador), tal processo acarretará em profundas 
transformações seja de ordem funcional, social, psicológica, ou de qualquer outro 
aspecto, advindas das modificações e variações dos estímulos e meios aos quais as 
crianças e adolescentes transitam. 
De acordo com ZAKHAROV (1992:21), a preparação dos desportistas 
”apresenta-se-nos sob a forma de uma enorme quantidade de fatos e 
acontecimentos separados”. A detecção de fatos repetidos e ligações entre os 
fenômenos observados, formam a condição básica para o acúmulo de experiências. 
“Estes dados se enriquecem com os conhecimentos acumulados em outros campos 
da ciência: fisiologia, medicina, bioquímica, psicologia, etc. ” que posteriormente 
passa a constituir uma escala de conhecimento generalizado que norteia o corpo 
teórico do Treinamento Esportivo. 
Analisando este contexto, podemos considerar que o treinamento de crianças 
e adolescentes constitui um processo multidisciplinar complexo e interdependente. 
Entretanto, a questão da maturidade interfere com grande intensidade no processo 
de planificação, aplicação e controle do treinamento. Segundo CLAPARÈDE (1937) 
in WEINECK (1989:31, 1991:246), “a criança não é um adulto em miniatura, e sua 
mentalidade não é somente quantitativa, mas também qualitativamente diferenteda 
dos adultos, de modo que uma criança não é somente menor, mas também 
diferente”. Logo, evidencia o cuidado e as necessidades de estudos que envolvem a 
planificação de um treinamento para crianças. 
Alguns aspectos como o alto nível de exigência, aplicação de métodos 
inadequados, dentre outros fatores que influem diretamente no Treinamento 
Esportivo voltado para crianças e adolescentes, geram uma situação muito delicada 
 12
com relação à segurança que pretendemos estabelecer para atingir um trabalho 
bem orientado. Conforme ROBERTS & TREASURE (1993:4), existem muitas razões 
para se concentrar na condução de estudos acerca da criança que está engajada no 
esporte de competição. Primeiramente, a organização esportiva para crianças têm 
expandido em muitos países e em muitas modalidades nas últimas décadas. Os 
autores citam que nos Estados Unidos, já estão organizando competições para 
crianças com 3 anos de idade, ou seja, um contexto não muito diferente de nosso 
país, onde já podemos observar algumas entidades esportivas que atendem 
categorias envolvendo crianças em faixas etárias também muito baixas. BRUSTAD 
(1993:696) reforça estas considerações ao citar algumas pesquisas que ressaltam a 
idade de iniciação no esporte de competição: 3 anos de idade nos Estados Unidos 
(Martens, 1986); 4 anos na Austrália (Robertson, 1986); e 6 anos de idade no Brasil 
(Ferreira, 1986) e no Canadá (Valeriote & Hansen, 1986). Assim, os estudos nas 
diversas áreas do treinamento esportivo voltam a destacar um papel fundamental. 
COX et al. (1993:23) ao tratar sobre o futuro da pesquisa em Psicologia do Esporte, 
ressalta que enquanto o desempenho for uma área excitante e importante de 
investigação, é certo que a pesquisa na área do esporte para jovens continuará 
sendo enfatizada. O autor destaca entretanto, uma grande preocupação com relação 
a profissionais não qualificados para o trabalho com crianças e adolescentes. 
Ocorrem abusos por falta de conhecimento e procedimentos adequados, além da 
insegurança no desenvolvimento de programas desportivos para jovens. 
Consequentemente é necessário documentar através de pesquisas os efeitos dos 
vários programas desportivos para crianças e adolescentes (COX et al., 1993:23). 
Neste sentido, há uma necessidade emergente de justificar sob os diversos 
aspectos envolvidos no treinamento esportivo, as intervenções adequadas a cada 
faixa etária de acordo com a essência das características do desenvolvimento da 
criança. 
As linhas de ação, conceitos filosóficos, políticos, sociais e conteúdos 
inerentes às diferentes fases de ensino-aprendizagem-treinamento que compõem o 
Sistema de Formação Esportiva (SFE), obedecem a uma sistemática previamente 
organizada, que de acordo com VILANI (1998) e VILANI, GRECO & LIMA (2001) 
com base em GRECO (1997) deve respeitar uma série de implicações como os 
níveis de desempenho que uma criança pode alcançar em cada uma das suas fases 
evolutivas, os aspectos como o “drop-out”, a seleção de talentos, a especialização 
 13
precoce, e a conseqüente necessidade de planificar um processo de iniciação 
esportiva de acordo com os interesses e necessidades de cada criança, baseando-
se em princípios e métodos de treinamento esportivo adequados a cada faixa etária. 
Seguindo esta mesma linha, entendemos que o processo de preparação psicológica, 
enquanto conteúdo do SFE, poderia contribuir de forma mais sistemática nesta 
planificação, através do estabelecimento de intervenções adequadas à estrutura da 
criança. O que poderia constituir um mecanismo facilitador devido ao controle dos 
atributos psicológicos envolvidos no processo. 
 VILANI, GRECO & LIMA (2001) adaptando o modelo de Greco (1997) 
fundamenta uma proposta de iniciação esportiva com base em um critério 
multidisciplinar, onde o aspecto metodológico é estabelecido conforme a estrutura 
global do desenvolvimento humano. O autor considera que independente da 
modalidade, “o processo de iniciação esportiva deveria antes de tudo preservar as 
características, possibilidades de desenvolvimento, necessidades e interesses da 
criança, ou seja, deveria basear-se em estudos de desenvolvimento humano, sejam 
eles em qualquer um de seus domínios determinantes (cognitivo, afetivo-social, 
motor, emocional, moral, maturativo, etc.)”. Neste sentido, endossamos as 
preocupações de VILANI (1998) e VILANI, GRECO & LIMA (2001), que apresenta, 
dentre outras, acusações como as do Professor Doutor A. Delmas, citadas por RUIZ 
PÉREZ (1987:125) com relação à manipulação do treinamento de crianças e jovens 
em idades de crescimento, tendo como finalidades, conquistas de medalhas 
internacionais, o que pode colocar em risco a integridade das mesmas. 
 Sob o ponto de vista da psicologia do esporte, os diversos constructos 
relativos à área possuem abordagens diferenciadas quando se trata de crianças e 
adolescentes. A avaliação e compreensão do contexto do esporte para crianças e 
adolescentes, constitui-se uma das bases fundamentais do presente estudo, visto 
que as características do meio, interferem diretamente nos aspectos psicológicos do 
processo da prática esportiva. Assim, buscaremos levantar e analisar na literatura o 
contexto do esporte para crianças e adolescentes, partindo desde as bases legais, 
até os preceitos psicológicos adequados ao processo de treinamento com crianças e 
adolescentes. Neste sentido, integraremos algumas considerações de outras áreas, 
ressaltando a importância de uma abordagem multidisciplinar. 
 14
1.1. JUSTIFICATIVA 
 
 O número de jovens que buscam a prática de uma determinada modalidade 
esportiva, vem aumentando intensamente nas últimas décadas. Entretanto, as 
considerações gerais da Psicologia do Esporte Pediátrica, ainda não refletem uma 
forte área de pesquisa. Ainda que diversos estudiosos da área ressaltam a 
importância da análise e comparações dos distintos constructos psicológicos, bem 
como suas inter-relações, o número de pesquisas não é considerado satisfatório 
para a dimensão que este segmento do esporte vem tomando. 
Logo, o presente estudo justifica-se pela grande necessidade de uma maior 
compreensão, planificação, orientação e controle dos aspectos gerais da psicologia 
do esporte aplicada à criança e ao adolescente. 
 Com base no levantamento e na análise de questões relevantes da Psicologia 
do Esporte Pediátrica, esperamos contribuir através de uma estruturação didática, 
para a compreensão dos aspectos inerentes à esta área, bem como motivar e 
incentivar pesquisas específicas sobre o contexto psicológico do jovem atleta e suas 
relações. Buscando a adequação de um ambiente psicológico que permita uma 
otimizaçao do processo de experiência da criança e do adolescente no esporte. 
 
1.2. OBJETIVOS 
 
♦ Analisar a influência do contexto esportivo nos aspectos psicológicos das 
crianças e adolescentes; 
♦ Analisar alguns constructos básicos da Psicologia do Esporte aplicados às 
peculiaridades de jovens atletas; 
♦ Incentivar e motivar um maior número de pesquisa acerca da Psicologia 
do Esporte Pediátrica. 
 
1.3. DELIMITAÇÕES 
 
♦ Este estudo restringe-se a análise geral da influência do contexto 
psicológico do esporte para jovens atletas, à partir de sua natureza, 
valores, inter-relações, processos de iniciação, desenvolvimento, 
abandono e abusos. 
 15
♦ Sob os aspectos gerais da Psicologia do Esporte Pediátrica, restringimos a 
análise dos constructos mais polêmicos observados na literatura, partindo da 
ação humana, processo de treinamento psicológico, atenção, concentração, 
motivação, emoção, estresse competitivo e a personalidade da criança. 
 
1.4. METODOLOGIA 
 
 Foi realizado um estudo analítico e descritivo através de uma extensa revisão 
de literatura sobre os aspectos gerais da Psicologia do Esporte Pediátrica. 
 
 
 
 16
2. NATUREZA E FINALIDADES DO ESPORTE PARA CRIANÇAS E 
ADOLESCENTES2.1. ORIENTAÇÕES GERAIS DO ESPORTE 
 
 O Esporte enquanto fenômeno socio-cultural constitui uma grande gama de 
atividades que compõem um conjunto diverso de valores, objetivos e meios de 
expressão. De acordo com GALL (2000) o panorama do esporte moderno têm 
despertado interesses cada vez mais intensos sobre a prática desportiva. 
Inicialmente, o “boom” do corpo, a chamada explosão das mais distintas 
manifestações da cultura física exaltada pelos diferentes meios de comunicação, 
passa a estabelecer uma maior consciência da relação corpo e saúde; o corpo e o 
esporte iniciam um processo que nos permite identificar pessoas e grupos sociais, 
ou seja, o culto aos padrões de beleza, expressões corporais, etc. apresentam-se 
sob diferentes perfis que se transformam em uma velocidade relativamente alta. 
 As novas concepções e valores do esporte não apresentam modificações 
estruturais relevantes em suas áreas de aplicação (saúde, recreação, educação, 
reabilitação, alto rendimento, etc.) entretanto, intensificam sua importância e traz 
novas áreas como a indústria do esporte que passa a refletir um amplo consumo 
seja em revistas, jornais, televisões, equipamentos e acessórios, através da moda. 
Além de expandir as ações do turismo esportivo. Enfim, embora a essência do 
esporte continue intacta, a nova ordem desportiva passa a exigir outros padrões e 
propósitos que adaptem à nova ordem social, como por exemplo, adaptações nas 
regras dos esportes, buscando a evolução da plasticidade dos jogos, de forma a 
garantir e maximizar uma lógica de consumo. 
 O principal reflexo deste contexto que aumentou significativamente o 
consumo do esporte, seja diretamente através do envolvimento de pessoas em 
programas de esportes e atividades físicas, ou indiretamente na audiência de 
eventos e mesmo o consumo de equipamentos e acessórios, foi a transformação do 
esporte em uma das principais indústrias do final do século e com emergente 
potencial para o início do 3º milênio. 
 Analisando este novo panorama do esporte, há que se observar alguns 
aspectos de grande relevância para o processo de Treinamento Esportivo. GALL 
(2000) apresenta uma ampla extensão de ofertas para o esporte, como novas 
 17
disciplinas competitivas, esportes alternativos, na natureza, radicais, assim como 
esportes elitistas, prestigiosos, de alta tecnologia, etc. A cultura esportiva passa a 
ser tão ressaltada na mídia, que alguns valores do esporte passam a 2º plano. O 
esporte começa a abarcar com maior intensidade os diversos segmentos como 
homens, mulheres, crianças, adolescentes, meia idade, 3ª idade, enfermos, 
portadores de deficiência, etc. Entretanto, a velocidade com que a demanda para 
estes grupos cresce, lamentavelmente não consegue ser acompanhada pela 
ciência. A qualificação do profissional para lidar com estes grupos, 
consequentemente fica limitada, gerando a necessidade de aperfeiçoamento 
constante e a fundamentação necessária para trabalhar com um mercado tão amplo 
e diverso. 
 O esporte além de todos os aspectos já apresentados de forma resumida, 
ainda passa a constituir a idealização profissional de muitas crianças e jovens, bem 
como emergir uma necessidade de formação para suprir as necessidades de um 
rendimento plástico e eficiente para o meio do espetáculo, ou esporte de alto nível. 
Neste sentido, muitas vezes observa-se condutas inadequadas na formação de 
novos atletas. Níveis de cobrança e exigência incompatíveis com o estágio de 
maturação, cargas muito altas de treinamento, especialização precoce, dentre outros 
aspectos que para atender a ânsia seletiva de grandes atletas acabam “queimando” 
outros que poderiam ser até melhores. 
 Neste capítulo, pretendemos discutir a essência do esporte para crianças e 
adolescentes, a importância, os cuidados no processo de sua iniciação, dentre 
outras considerações. 
 
2.2. ASPECTOS LEGAIS 
 
 Para descrevermos a importância do esporte, é essencial entendermos e 
interpretarmos a legislação esportiva de nosso país. De acordo com (BRASIL, 1998), 
a Lei nº 9615 de 24 de março de 1998, alterada em alguns dispositivos pela lei 9981 
de 14 de Julho de 2000, expressa o esporte nos seguintes termos. 
“Art 3º O desporto pode ser reconhecido em qualquer das seguintes 
manifestações: 
I - desporto educacional, praticado nos sistemas de ensino e em formas 
assistemáticas de educação, evitando-se a seletividade, a 
 18
hipercompetitividade de seus praticantes, com a finalidade de alcançar o 
desenvolvimento integral do indivíduo e a sua formação para o exercício da 
cidadania e a prática do lazer; 
II - desporto de participação, de modo voluntário, compreendendo as 
modalidades desportivas praticadas com a finalidade de contribuir para a 
integração dos praticantes na plenitude da vida social, na promoção da 
saúde e educação e na preservação do meio ambiente; 
III - desporto de rendimento, praticado segundo normas gerais desta Lei e 
regras de prática desportiva, nacionais e internacionais, com a finalidade de 
obter resultados e integrar pessoas e comunidades do País e estas com as 
de outras nações. 
Parágrafo único. O desporto de rendimento pode ser organizado e praticado: 
I - de modo profissional, caracterizado pela remuneração pactuada em 
contrato formal de trabalho entre o atleta e a entidade de prática desportiva; 
II - de modo não-profissional, compreendendo o desporto: 
a) semiprofissional, expresso em contrato próprio e específico de estágio, 
com atletas entre quatorze e dezoito anos de idade e pela existência de 
incentivos materiais que não caracterizem remuneração derivada de contrato 
de trabalho; 
b) amador, identificado pela liberdade de prática e pela inexistência de 
qualquer forma de remuneração ou de incentivos materiais para atletas de 
qualquer idade.” 
 
A respeito deste ítem II –a e b do parágrafo único do art 3º desta lei, achamos 
interessante refletir as considerações de CRATTY (1984:144), onde o autor define 
que um dos grande problemas das Ciências do Esporte é justamente “definir qual a 
idade e os níveis técnicos que caracterizam a criança como atleta”. Esta questão, 
acaba nos indicando uma certa dúvida quanto ao texto da lei, ou seja, o que significa 
ser atleta?, por exemplo, será que praticar uma determinada modalidade 2 vezes por 
semana aos 5 anos de idade, caracteriza um atleta?, como sugere a categorização 
amadora do esporte. Não vamos nos ater a tentativas de respostas para estas 
questões, mas refletir sobre as diferenças que existem em relação ao esporte semi-
profissional, e amador, e até que ponto a organização do esporte amador orienta-se 
para o esporte semi-profissional e profissional. Chamamos a atenção aqui para as 
 19
considerações seguintes deste capítulo que nos indica uma grande necessidade 
legal de estabelecermos critérios específicos para a criança no esporte. 
 
2.3. O CONTEXTO DAS CRIANÇAS E ADOLESCENTES NO ESPORTE 
 
 Dentre as inúmeras consequências sócio-culturais do “boom” do esporte, 
destacam-se o crescente número de crianças envolvidas em programas de iniciação 
esportiva. Centenas de milhões de jovens no mundo inteiro estão envolvidos em 
alguma forma de organização esportiva de competição (CRATTY, 1984; GOULD, 
1987 in BECKER JR, 2000 e BECKER JR & TELÖKEN 2000; BRUSTAD,1993). 
Segundo NETO (2000:44), tal população de crianças e jovens “são atraídas a estas 
atividades pelos heróis esportivos criados pela mídia, ou pela influência direta dos 
pais, passando posteriormente a sofrer um radical processo de seleção, treinamento 
ou exclusão”. A este respeito, HANLON (1994) destaca o contexto norte americano 
que observa um recorde no numero de crianças que praticam esportes, 
complementando que podemos ver crianças de diversos níveis de condicionamento, 
habilidades e estaturas, bem como diferentes raças e experiências culturais 
participando de atividades físicas em camposimprovisados, ginásios, parques, etc. 
com apenas uma meta universalmente comum: O desejo de se divertir. 
Conforme LEE (1993:91), o entendimento do desenvolvimento psicossocial da 
criança através do esporte é importante por algumas razões. Primeiramente, provem 
a base para compreensão de como as crianças provavelmente reagem em 
diferentes situações. Em segundo lugar, ajuda-nos a entender as demandas 
psicossociais que os estímulos do ambiente esportivo podem exercer sobre os 
participantes, adultos e crianças, e os poderosos efeitos psicológicos destes. Uma 
terceira, refere-se a ajudar ao técnico a tornar-se mais atento nos processos de seu 
comportamento frente as crianças que ele treina. De acordo com BECKER JR & 
TELÖKEN (2000:15) e BECKER JR (2000: 131) estes grupos de crianças e 
adolescentes “representam uma das forças mais poderosas e importantes da 
atividade humana”, entretanto, os autores nos chama a atenção para uma 
importante questão: “Que influências traz à criança a participação em atividades 
físicas?”. 
 O esporte voltado para crianças e adolescentes reflete todo o contexto 
apresentado anteriormente, mas sob o ponto de vista científico despertam estudos 
 20
que apontam tanto o lado dos benefícios, quanto dos prejuízos que o esporte 
competitivo pode induzir à criança. Conforme ROBERTS & TREASURE (1993:3) em 
geral, acredita-se que a participação de crianças em jogos esportivos constituem 
importantes estímulos de socialização, uma vez que, através das regras e valores do 
esporte, bem como do contato com outras crianças, o sujeito é conduzido a 
desenvolver habilidades de convívio social. Para tanto, o esporte passa a ser 
considerado como um modelo antecipatório da sociedade, onde a criança aprende 
importantes lições sociais que deverão beneficiá-la futuramente em sua vida diária. 
Com relação a este aspecto, LEE (1993:92) destaca dois elementos do 
desenvolvimento psicossocial a serem considerados. O primeiro descreve a 
compreensão da criança sobre ela mesma, sendo o auto conceito e a auto estima, 
os mais importantes para o auto crescimento. O segundo, denota como as crianças 
aprendem a responder apropriadamente às demandas de outros, a lidar com 
situações sociais complexas, a tornar-se independente e ao mesmo tempo saber 
cooperar de forma eficaz. 
NETO (2000:45) faz uma alusão a dois estudos franceses, o primeiro de 
(Danse e Lambert, em Durand, 1988), revela que para os pais, a prática esportiva é 
uma necessidade, sendo que “95% dos pais está a favor da prática esportiva de 
seus filhos e 86% pensa que estas atividades são tão importantes quanto as 
intelectuais”. O segundo, de (Mandel e Hennequet, em Durand, 1988) destaca o 
posicionamento da classe médica, “99% dos pediatras franceses considera positiva 
a prática esportiva infantil, reduzindo no entanto esta aceitação para 74% quanto a 
iniciação se dá antes dos 7 anos de idade”. 
De acordo com ROBERTS & TREASURE (1993:4) o envolvimento no esporte 
pode influenciar por meio de valiosas lições e contribuir para um desenvolvimento 
positivo da personalidade da criança. Entretanto, há que se entender melhor os 
aspectos negativos que podem ser causados pela competição esportiva para o 
desenvolvimento psicossocial da criança. Segundo CRATTY (1984:145), o jovem 
atleta é submetido a algumas forças psicológicas que o modificam internamente, 
assim, crianças que enfrentam precocimente “situações nas quais seu sucesso ou 
fracasso é muito visível aos outros fora de sua família imediata, situações que, pela 
primeira vez, podem lhes dar o sentimento do próprio valor outorgado pela 
sociedade”, pode acarretar em confrontações internas que raramente são 
esquecidas quando atingirem a idade adulta. 
 21
 Outro aspecto importante, é que ao mesmo tempo em que observamos o 
incentivo para a prática esportiva, há um confronto com a influência do 
desenvolvimento tecnológico que reduz bastante a atividade motora humana. 
Mesmo frente ao “boom” do corpo, nos deparamos com uma série de fatores que 
incentivam indiretamente ao ócio. De acordo com WEINECK (1989:31), o movimento 
é uma necessidade da criança guiado de forma espontânea, e permitindo um 
desenvolvimento psicofísico harmonioso, complementando ainda que os estímulos 
de movimento da criança têm sido “consideravelmente reduzidos pela educação e 
pela escola (posição sentada obrigatória)”. VILANI (1998:84) ressalta que esta 
redução de movimentos não advém somente da escola mais também da “nova 
ordem socio-cultural onde as principais brincadeiras se destacam pelos jogos 
eletrônicos e brinquedos movidos por energia elétrica, que acabam restringindo a 
atividade motora em geral na criança, uma vez que com um mínimo de movimento 
humano, estas novas atividades transformam-se em verdadeiras “fantasias” de 
aventuras e movimentos emocionantes que a criança vivencia em frente a uma 
televisão, computador, controle remoto, etc.” Assim, apreciamos em WEINECK 
(1989:31) que “o treinamento corporal deve ser incentivado sobretudo na infância e 
adolescência, quando for administrado em conformidade com a idade e com o nível 
de desenvolvimento”. 
 Analisando mais atenciosamente os benefícios que o esporte pode trazer, 
encontraremos distintas posições relativas às especificidades de cada área. Assim, 
apresentaremos a seguir, uma tabela que revela as diferentes razões usualmente 
utilizadas por diferentes profissionais e pais sobre os benefícios do esporte 
(atividades físicas). 
 22
TABELA 1 
Razões Usualmente Utilizadas por Diferentes Profissionais em Relação aos 
Benefícios das Atividades Físico-Desportivas (Incluídos os Pais) 
 
Pais - Uma necessidade psicofísica 
- Novas amizades 
- Ambiente sadio 
- Afasta de atividades inadequadas 
Médicos - Melhora a saúde de forma geral 
- Combate a “degeneração hipocinética” 
- Como prevenção nas doenças cardiovasculares 
Nutricionistas - Coadjuvante no tratamento da obesidade 
- Manutenção do peso adequado 
Fisioterapeutas - Importante elemento reabilitador nas doenças do 
aparelho locomotor 
Psicólogos - Elemento preventivo e terapêutico na ansiedade, no 
estresse e na depressão 
- Produz efeitos sobre a cognição, a afetividade e 
agressividade 
Professores de 
Educação Física 
- Aprendizado esportivo 
- Desenvolvimento de habilidades motoras 
- Desenvolvimento da capacidade física ou condição 
biológica 
FONTE: NETO, 2000. p. 48 
 
 É importante destacarmos no entanto, que os benefícios do esporte ocorrem 
de forma integral, ou seja, interagindo ao mesmo tempo em todos os aspectos, 
sendo a divisão por áreas, uma forma didática de apresentação, ou mesmo para 
aprofundamento nas especificidades voltadas para o método científico nas 
pesquisas. 
 Com relação aos aspectos negativos, vários pontos são identificados por 
diversos autores, entretanto, não são os estímulos propriamente ditos do esporte 
que causam os prejuízos ao sujeito, e sim a forma como este é conduzido por 
profissionais mal orientados e não qualificados para trabalhar com crianças e 
adolescentes. Assim, destacaremos a seguir algumas considerações sobre os 
perigos e riscos do esporte, bem como entraremos em maiores detalhes em alguns 
itens do nosso estudo, sobre aspectos com alta contestação na literatura, como: a 
competição esportiva para crianças, o fenômeno do “drop-out” e “burnout” e a 
especialização esportiva precoce. 
 Os perigos e riscos do esporte foram destacados por HAHN (1988:65), que 
traz como principal causa, a cobrança do rendimento precoce como forma de 
 23
formação de atletas para o alto rendimento. Este contexto reflete a falta de 
informações detalhadas a respeito de um treinamento objetivo e adaptado à criança, 
ou seja, conclui-se através de analogia partindo da estrutura do treinamento de um 
adulto, a forma do treinamento da criança. As conclusões erróneas mais frequentes 
são: 
 A criança é um adulto em miniatura,logo basta estabelecer uma redução linear e 
quantitativa do treinamento (tempo, intensidade, volume); 
 Para conseguir um rendimento excepcional já na idade de criança, treina-se 
relativamente muito. Desta forma, manifesta uma sobreproporcionalidade de 
rendimento; 
 Este maior rendimento é interpretado como qualidade esportiva, não 
considerando que na maioria dos casos trata-se de um rendimento de uma 
criança treinada frente a uma menos treinada ou não treinada; 
 O treinamento enfoca um processo monodimensional de preferência, não 
cabendo outros objetivos como o trabalho do comportamento lúdico por exemplo; 
 Têm que haver uma especialização precoce para concentrar a energia no 
domínio de poucos elementos motores, mas específicos; 
 Por tanto, têm que formar as capacidades físicas da mesma forma, 
 A introdução das crianças nas competições, devem objetivar os mesmos 
princípios dos adultos, de forma a minimizar a ruptura na passagem de uma 
categoria para outra. 
As consequências deste tipo de trabalho foram evidenciadas por COTTA 
(1979) in HAHN (1988:67) na citação de patologias no campo médico-ortopédico 
observada em diversas modalidades que buscam o alto rendimento de crianças. Em 
geral, o esporte fomenta na criança e no adolescente a maturidade, o crescimento e 
o desenvolvimento. E perigoso, é somente o esporte de alto rendimento específico 
na idade infantil. (COTTA, 1979 in HAHN 1988:67). A este respeito, NETO (2000:46) 
cita que “é quase unânime o acordo no momento de recomendar a prática esportiva 
na infância, ainda que muitos entendem que pode provocar problemas quando esta 
prática se inicia cedo ou está totalmente voltada para a competição”. 
 Voltando-se especificamente ao aspecto psicológico, SAMULSKI (1995:88) 
com base em KAMINSKI & RUOFF (1979) resume as vantagens e desvantagens do 
esporte para crianças da seguinte forma: 
 24
 “Vantagens: 
- No esporte de alto nível desenvolve-se a motivação pelo rendimento. 
Alcançar um bom resultado através da determinação, concentração, vontade, 
ambição e auto-determinação; 
- Segundo opinião dos pais, professores e treinadores, as vantagens do 
esporte de alto rendimento consistem no desenvolvimento das disposições 
positivas da personalidade. Sobretudo no âmbito social: desenvolvimento da 
autonomia, auto-confiança, orgulho, prazer, coleguismo, sinceridade, 
pontualidade, comportamento disciplinar, responsabilidade, capacidade de 
comunicação. 
 Desvantagens: 
- Uma desvantagem na opinião dos pais e crianças relaciona-se com a 
organização das atividades diárias (pouco tempo para outras atividades, altas-
exigências, estresse emocional); 
- A dedicação total ao esporte de alto nível impede o desenvolvimento de 
atividades nas áreas escolares, recreativas e sociais. Esportistas jovens tem 
pouco contato social com seus companheiros fora da escola; 
- Do ponto de vista dos pais, o esporte de alto nível pode criar problemas psico-
somáticos, como por exemplo: estresse, nervosismo, sobrecarga, lesões, fadiga 
mental, frustração e desmotivação; 
- A dedicação exagerada do atleta no esporte de alto nível pode afetar 
negativamente o desenvolvimento da personalidade das crianças, como por 
exemplo: auto-valorização exagerada, fixação a motivação do rendimento, medo 
do fracasso, estresse psíquico, instabilidade emocional e isolamento social.” 
 
Com relação aos prejuízos psicológicos, como alguns fatores emocionais, o 
estresse, a ansiedade, dentre outros, abordaremos em uma sessão específica sobre 
diversas considerações da Psicologia do Esporte que descritas adiante. 
 
2.4. A NATUREZA DO ESPORTE 
 
 O esporte pode ser vivenciado através de diversas perspectivas. Segundo 
GILROY (1993:18), o esporte possui diferentes significados para as pessoas, 
exemplificando que, para um atleta profissional significa trabalho; para um amador 
 25
pode ser o gosto pelo trabalho e muita competitividade; para qualquer outra pessoa 
poderá ser um bom caminho para conhecer pessoas. Analisando estes significados, 
podemos identificar que a natureza dos esportes destaca dois modelos básicos 
dominantes. Um predominantemente competitivo, sendo que a autora destaca a 
palavra “predominantemente” pois em todas as formas de esportes a competição 
constitui um elemento básico, embora com outras conotações. Em geral, para 
algumas pessoas a competição é a essência do esporte, e para outras, o social é o 
elemento crucial. O segundo portanto sugere que a participação social é mais 
importante do que os aspectos competitivos. Para entendermos melhor estes 
modelos, destacaremos a seguir um resumo da classificação de GILROY (1993:19), 
sobre o modelo social de esporte, e o modelo competitivo de esporte. 
 
2.4.1. O MODELO SOCIAL DO ESPORTE 
 Centralizado nas razões sociais, possui como características, ser agradável e 
ter pouca pressão ligada a ele, constitui um bom caminho para conhecer pessoas, e 
faz com que os participantes em geral se sintam bem. O elemento competitivo, 
entretanto também se faz presente, mas apenas com importância secundária. O 
caráter de não ter a obrigação de treinamentos duros e a vitória possui pouco valor, 
mais de satisfação pessoal do que de obrigação, destaca um propósito de jogar por 
jogar. 
 
2.4.2. O MODELO COMPETITIVO DO ESPORTE 
 O modelo competitivo embora também reflita aspectos sociais de grande 
relevância, concentra-se mais numa organização altamente estruturada e numa 
linha de ação ultra competitiva, portanto a diferença entre os modelos é 
caracterizada pela forma de organização e regras sociais observadas em cada um. 
Este modelo apresenta uma alta premiação e largas quantias de dinheiro que 
envolvem e podem ser almejadas por grandes atletas profissionais. O treinamento 
intensivo que os atletas de ponta são submetidos são altamente estressantes. 
 
2.4.3. UM MODELO ALTERNATIVO PARA CRIANÇAS 
 Seguir modelos voltados para adultos no esporte infantil, constitui um grande 
problema, de acordo com GILROY (1993:24), primeiramente, as crianças não estão 
amadurecidas o bastante (fisicamente, socialmente ou mentalmente) para enfrentar 
 26
a tensão que está associada ao modelo competitivo. Segundamente, são os adultos 
que organizam freqüentemente o esporte para crianças, tentando realizar as 
próprias ambições esportivas de quando eram jovens; assim, o esporte para 
crianças passa a constituir um trabalho muito sério. Este contexto foi descrito por 
investigadores tanto na Inglaterra, quanto na América do Norte como sendo uma das 
razões que levam as crianças a optar por sair do esporte à procura de algo que é 
mais agradável. O problema então passa a ser tentar estabelecer um modelo que 
equilibre o contexto social e competitivo do esporte. Se destacamos um caráter 
extremamente social, as crianças podem ficar frustradas pela falta de desafio. Se 
estabelecermos um caráter altamente competitivo a taxa de drop-out, ansiedade e 
descontentamento pode ser mais alta. 
Com respeito a este problema, foram desenvolvidas adaptações de esportes, 
alterando as estruturas, mas tentando reter a natureza básica do jogo, como 
modificações de equipamentos, da área de jogo e das regras, buscando emparelhar 
o desenvolvimento físico e mental das crianças. Jogo esportivos como rugby e tênis 
conduziram este movimento, através do desenvolvimento do mini-rugby e o mini-
tênis (short tennis), hoje já podemos observar também o mini voleibol e o mini 
basquetebol, dentre outras modalidades adaptadas. Entretanto, muitas vezes, estas 
modalidades ainda reproduzem o modelo competitivo sob o aspecto psicológico, ou 
seja, cria-se uma nova modalidade de competição, onde há menos carga física, uma 
maior exigência talvez de participação do jogo em diferentes posições sob o ponto 
de vista de desenvolver uma habilidade geral ao invés de se especializar 
precocemente em uma única posição, mas a base psicológica permanecea mesma. 
Cobra-se a vitória a qualquer custo, gerando os mesmos problemas da carga 
psicológica dos jogos formais, longe de criar um ambiente mais saudável para 
crianças. 
Logo, a adaptação dos esportes não garantem a resposta a nossos 
problemas; é necessário uma maior sensibilidade para as experiências das crianças 
no esporte. Destacaremos a seguir algumas considerações sobre as bases 
fundamentais do esporte para crianças e adolescentes. Entendermos mais acerca 
da competição esportiva, dos valores do esporte, das relações sociais entre os 
“atores” do esporte (pais, crianças e treinadores), é essencial para refletirmos um 
modelo alternativo para o esporte para crianças. 
 
 27
2.5. A CRIANÇA E A COMPETIÇÃO ESPORTIVA 
 
O ambiente de competição no esporte tem sido amplamente discutido sob 
acusações de produzirem efeitos de ordem negativa para o desenvolvimento da 
criança. De fato, como afirma CRATTY (1983:144), “raramente o impacto da luta 
competitiva nos jovens participantes é neutro, seja em seus corpos ou em suas 
personalidades”. Entretanto, a literatura acerca da competição para jovens sustenta 
que o desejo de comparar habilidades com outros, é um dos primeiros fatores que 
atraem a criança para o esporte (Passer, 1988; Roberts, 1980; Scanlan, 1988) in 
BRUSTAD (1993:696). 
 Conforme BECKER JR & TELÖKEN (2000:18), “a competição é uma 
comparação social do resultado de uma criança com outra ou contra padrões de 
rendimento”, o mesmo para grupos de crianças, logo, podemos observar que a 
competição acaba sendo um componente natural nas relações da sociedade. 
Reduzindo a competição somente para o esporte de alto nível, podemos observar 
que não há limites para os conflitos internos que a competição pode gerar nas 
crianças. “Elas são submetidas à uma autêntica «peneira», que vai eliminando a 
grande maioria para conseguir-se um grupo de qualidade”, este contexto foge às 
ações naturais, devido aos interesses e intervenções de adultos no processo. As 
crianças fazem comparações visando a aquisição de maiores informações a respeito 
de seu nível de capacidade. Logo, elas possuem maiores parâmetros contra 
adversários do que sozinhas. “Por isso, a criança prefere competir com outras do 
mesmo nível de aptidão, para testar o seu valor”. (BECKER JR & TELÖKEN 
2000:19) 
 Segundo BECKER JR & TELÖKEN (2000:20) nas competições entre crianças 
deve-se sempre procurar emparelhar os níveis, “vencer um adversário 
demasiadamente fraco não aumenta a auto-estima do vencedor, o perdedor fica 
humilhado e sua auto-estima é reduzida”. Caso isto não ocorra, a possibilidade de 
causar uma situação de estresse, é extremamente alta, podendo prejudicar a 
criança na estruturação de sua personalidade. 
 VILANI (1998:56) salienta a competição como fruto do objetivo de alcançar 
um melhor resultado, podendo interagir de forma positiva dentro das partes de um 
grupo, entretanto entre estas partes ela pode ocorrer de forma negativa. A 
competição pode ser consciente, como na disputa de uma partida de tênis, ou 
 28
inconsciente, como por exemplo entre um aluno e o professor diante da prova final. 
Pode ainda ocorrer internamente (a pessoa contra ela mesma), de forma individual, 
entre grupos, ou de uma pessoa contra um grupo. Em um sentido construtivo, o 
esforço humano é salientado na competição. Entretanto, devemos ressaltar que este 
processo pode ocorrer de forma destrutiva, no caso de um competidor inseguro 
sucumbir diante de um pequeno obstáculo devido a uma forte carga emocional que 
age sobre este organismo desprotegido, neste caso, pode ocorrer cicatrizes 
irreversíveis, principalmente quando estamos lidando com crianças. A competição 
pode ainda levar a uma promoção enganosa, e em alguns casos tornar o ser 
humano agressivo na busca da “vitória a qualquer custo”, consequentemente, ferir o 
código de ética para alcançar os objetivos de qualquer forma. (MUSSEN 1975; 
1970;TANI et al. 1988:129). 
 Assim, a competição é um processo social onde há uma grande dificuldade 
de formular um juízo, por um lado ela exerce um papel importante na formação do 
ser humano, mas por outro, pode causar experiências extremamente prejudiciais 
neste processo de formação. Sendo assim, concordamos e endossamos o ponto de 
vista de TANI et al. (1988:131), a competição “não pode ser eliminada nem 
indevidamente ressaltada, mas sim orientada para promover um melhor 
relacionamento humano”. 
 
2.6. OS VALORES DO ESPORTE PARA CRIANÇAS 
LEE (1993:28) apresenta o trabalho do psicólogo americano Milton Rokeach 
(1973), que durante muitos anos dedicou seus estudos à organização social das 
pessoas, suas crenças, e os valores que acham mais importantes na vida. A este 
respeito, buscaremos descrever a influência destes sobre o treinamento com 
crianças. 
De acordo com LEE (1993:28), os valores e crenças compreendem tudo 
aquilo que acreditamos ser importante em nossa vida; eles expressam o que é 
preferível entre os objetivos de nossa luta diária e nossas ações. Os valores podem 
ser também tudo pelo qual esforçamos para nos realizarmos (valores terminais) ou 
mesmo, os caminhos aos quais somos conduzidos (valores instrumentais). PARRY 
(1985) apud LEE (1993:29) estende a descrição dos valores para a área da 
Educação Física, e diz que o esporte é uma arena de testes de valores. Sendo que 
 29
os estímulos advindos da vitória e da derrota causam conflitos entre os valores do 
sucesso e os valores sociais da responsabilidade moral. 
Quanto a natureza dos valores, podemos observar algumas características 
que podem clarear nossa compreensão. Segundo LEE (1993:29), primeiramente um 
valor é uma forma de crença, algo que existe em nossa mente antes mesmo de um 
objetivo global que possamos almejar. Assim, bem como outras crenças, devemos 
sempre observar três aspectos básicos: a) o que conhecemos e acreditamos ser 
verdadeiros; b) como nos sentimos sobre isto, bem ou mal; e c) como nos portamos 
frente as consequências geradas. Por exemplo, se um treinador acredita que a 
aprendizagem de novas habilidades contribui para o auto conhecimento por parte de 
seu aluno, então isto deverá significar algum aspecto positivo para ele, logo será 
enfatizado no processo de treinamento, constituindo um de seus valores de trabalho. 
(LEE, 1993:29) 
Segundamente, os valores parecem ser melhor suportados, quando 
acreditamos que algo é mais valorizado e perseguido. Em terceiro lugar, eles são 
dotados de um conceito de operar conscientemente através de diferentes situações. 
Assim, esperamos que as pessoas sustentem os mesmos valores no esporte como 
em qualquer outro caminho da vida, ou seja, os sistemas não mudam em diferentes 
cenários. (LEE, 1993:29) 
 Devido ao sistema de valores poder ser idealizado através da combinação 
dos valores terminais e instrumentais, bem como através de uma classificação 
pessoal ou interpessoal, LEE (1993:30) classifica os valores em uma simples 
estrutura (Tabela 2). Apresentaremos a seguir a classificação de LEE (1993:30) 
sobre a natureza dos valores: 
TABELA 2 
Classificação dos Valores Humanos de Acordo com a Dimensão e o Foco. 
DIMENSÃO DOS VALORES 
FOCO 
Terminal Instrumental 
Intrapessoal 
Interpessoal 
Realização 
Social 
Competência 
Moral 
FONTE: LEE, 1993. p. 30 
 30
 
2.6.1. VALORES DE REALIZAÇÃO 
Os valores de realização denotam a ideia dos objetivos que temos para nós 
mesmos, e não estão interessados com o bem estar de outras pessoas ou da 
sociedade. Portanto, podemos pensar em termos de realização, no aumento do 
reconhecimento social ou do respeito próprio. Desta forma, empenhando para 
vencer um evento particularmente importante ou adquirindo um determinado nível de 
rendimento no esporte, representa a manifestação de valores comportamentais 
associados com a realização. 
 
2.6.2. VALORES SOCIAIS 
São objetivos que temos para a sociedade como um todo, ou a pequenaparte 
disto, com as quais estamos idealizando, como o clube ou o time por exemplo. Eles 
incluirão objetos semelhantes, como a providência de justiça, liberdade e 
equacionamento de oportunidades. 
 
2.6.3. VALORES DE COMPETÊNCIA 
Representam a extensão para o que consideramos ser importante para 
mostrar como nos comportamos com respeito a demonstração de nossas 
habilidades. Em termos de esportes, poderia ser representado pelo estabelecimento 
de grandes objetivos, referindo se ao habilidoso. Caso ocorra uma falha na tentativa 
de alcançar os resultados padrões esperados, pode causar um sentimento de 
desapontamento ou vergonha. O técnico que enfatiza os valores de competência 
concentrando sobre a manutenção de alto níveis de performance a todo momento, 
poderá contribuir para uma experiência do sentimento de ansiedade entre jovens 
atletas. 
 
2.6.4. VALORES MORAIS 
São valores interpessoais e instrumentais. Isto é, estão direcionados sobre 
como comportamos em situações que envolvem outras pessoas. Incluem aspectos 
semelhante a honestidade, a aceitação e o ato de perdoar. No campo esportivo, os 
valores morais formam a base do que chamamos de espírito esportivo. 
 
 31
 No meio do esporte, podemos observar diferentes valores em cada área de 
aplicação, como por exemplo, formar campeões, onde os principais valores são de 
ordem de realização e de competência, já um técnico que enfatiza o caráter da 
prática para a manutenção da criança no meio esportivo, como forma de fomentar o 
prazer para a prática sadia do esporte, ou mesmo através da utilização do esporte 
como meio educacional, estará concentrado em valores sociais e morais. Entretanto, 
em qualquer meio esportivo, todas estas classificações de valores estão presentes, 
assim, no próprio alto rendimento, podemos perceber valores morais, sociais, e 
logicamente, os de realização e de competência. Entretanto, há uma questão de 
caráter pessoal do grupo de pessoas que trabalham com os atletas, ou seja, os 
valores do treinador ou grupo (comissão técnica), refletem diretamente nos atletas, e 
da mesma forma que observamos técnicos que buscam incentivar a honestidade, o 
jogo limpo, e a integração com os colegas da outra equipe, existem também aqueles 
que incentivam a violência, o desprezo pelo adversário dentre outros aspectos. 
Logo, a constituição dos valores advém desde a infância, assim o que se prega hoje 
enquanto valor é reflexo de todo um contexto ao qual fomos envolvidos em nossa 
formação pessoal, é a aplicação de nossa consciência mediante nossa concepção 
do que o esporte representa. É um aspecto de filtragem de milhares de estímulos e 
da confrontação de tudo aquilo que experimentamos na vida enquanto valor, que 
agora julgamos e sentenciamos como mais adequados para nossa vida. 
 O trabalho com crianças e adolescentes, torna-se portanto, um meio delicado, 
onde devemos estabelecer valores que buscamos e entendemos que são 
fundamentais para a vida cotidiana de um cidadão, ou seja, para a formação 
humana, entretanto isto como já destacado, possui um caráter pessoal. Entretanto, o 
esporte por si só apresenta valores básicos e que são fundamentais para a carreira 
esportiva de qualquer pessoa, seja como um futuro atleta de elite, seja como um 
futuro sujeito ativo que busca manter uma atividade sadia por meio da prática 
esportiva, como recreação e lazer em parques, praças e clubes. A este respeito, 
HANLON (1994) apresenta alguns valores sob a forma de explicar para os pais de 
atletas, o que o esporte deveria representar para seu filho. Assim, o autor apresenta 
uma lista de valores que enfatiza que através do esporte a criança pode: 
 Adquirir o gosto por um estilo de vida ativo; 
 Desenvolver uma auto-imagem positiva através do domínio de habilidades 
esportivas; 
 32
 Aprender a trabalhar em equipe; 
 Aprender habilidades sociais ao lidar com outras crianças e adultos; 
 Aprender a administrar o sucesso e o fracasso; 
 Praticar o bom espírito esportivo, e 
 Aprender a respeitar os outros. 
 Os valores do esporte podem demonstrar ainda diferenças quando analisados 
sob a ótica do gênero, e do tipo de modalidade (individual ou coletiva), além de 
estabelecer diferenças entre os objetivos das crianças, dos pais e dos treinadores. 
Entendemos, que o trabalho com crianças exige uma reflexão maior sobre os 
valores que envolvem o processo, assim, LEE (1993:32) apresenta em uma tabela, 
um pequeno questionário sobre os valores observados no esporte, que pode nos 
auxiliar a explorar nosso sistema de valores, bem como o sistema de valores de 
nossos atletas e seus pais, otimizando assim, um processo adequado de trabalho 
com estes jovens. 
 O processo de interpretação consiste em estabelecermos uma ordem de 
importância em duas coluna (a) e (b), sendo que a (a) representa a importância dos 
valores para nossa vida em geral, e a (b), a importância dos valores para o esporte. 
Identifique quais os valores que você considera como interpessoal e intrapessoal em 
cada lista. Depois, pergunte a você mesmo, as três questões abaixo: 
1) Você apresenta uma consistência no esporte e na vida geral? 
2) Como seus valores de vida afetam seu treinamento? 
3) Quais são seu valores mais fortes em seu sistema? 
- Realização ou social? 
- Competência ou moral? 
 
Muitas vezes, encontraremos diferenças em nossos valores na vida e no 
esporte, geralmente, os valores do esporte são mais voltados para o pessoal, e na 
vida para o social. Entretanto, isto nos permite analisar nossa coerência com nossos 
objetivos concretos sobre nosso trabalho, e novamente faz com que possamos 
refletir sobre as diferenças entre o que entendemos sobre esporte e treinamento 
para adultos e para crianças e se estamos trabalhando de forma adequada ou não, 
ou seja, um simples teste, nos permite uma auto avaliação sobre a coerência de 
nosso trabalho. 
 33
TABELA 3 
Observação dos Valores do Esporte (adaptado de ROKEACH, 1973) 
Valores Terminais Valores Instrumentais 
 
Realização 
Igualdade 
Liberdade 
Amizade 
Justiça 
Prazer 
Auto respeito 
Roconhecimento social 
(a) 
- 
- 
- 
- 
- 
- 
- 
- 
(b) 
- 
- 
- 
- 
- 
- 
- 
- 
 
Aceitação 
Ambição 
Capacidade 
Consideração 
Disciplina 
Perdão 
Honestidade 
Independência 
(a) 
- 
- 
- 
- 
- 
- 
- 
- 
(b)
- 
- 
- 
- 
- 
- 
- 
- 
FONTE: LEE, 1993. p. 32. 
 
 Assim, identificar não somente os valores, mas também os motivos que 
treinadores, atletas e pais possuem sobre a prática esportiva, pode representar a 
chave para a compreensão e a construção de um sistema adequado para o esporte 
voltado a crianças e adolescentes. A este respeito, explicaremos mais 
detalhadamente quando estivermos ressaltando o contexto dos constructos 
psicológicos aplicados à criança. 
 
2.7. CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
Como pudemos constatar, o contexto do esporte para crianças e 
adolescentes envolvem um amplo e complicado contexto, onde identificamos 
diversas variáveis em um sentido multidisciplinar, que estabelece uma conotação 
complexa para nossa compreensão. 
Para conseguirmos delimitar com maior facilidade e nortearmos este extenso 
campo de atuação, entendemos que é fundamental estarmos baseados em alguns 
ponto concretos do trabalho com crianças e adolescentes. A este respeito, 
MARTENS (1981:7), HANLON (1994:17) e GALL (2000) apresentam uma carta de 
direitos para jovens atletas, que acabam constituindo uma referência básica para os 
profissionais que trabalham com esta faixa etária. 
 34
TABELA 4 
Carta de Direitos para Jovens Atletas 
 Direito a praticar esportes 
 Direito a participar em níveis adaptados à maturação e às 
capacidades do jovem 
 Direito a contar com uma liderança adulta qualificada 
 Direito a jogar como uma criança e não como um adulto 
 Direito a participar na liderança e decisões dos assuntos 
pertinentes ao seu esporte 
 Direito a participarem ambientes seguros e saudáveis 
 Direito a preparação adequada para a participação nos 
esportes 
 Direito a oportunidades iguais para o sucesso 
 Direito a ser tratada com dignidade 
 Direito a ter alegria e diversão nos esportes 
FONTE: MARTENS, 1981.p.7; HANLON, 1993.p.17 e GALL, 2000. 
 
 Sobre esta carta, endossamos a reflexão de NETO (2000:57) ao apresentar 
esta ideologia psicopedagógica, que, de uma forma geral e resumida, “toda criança 
tem o direito a não ser um campeão”. 
Assim sendo, temos que ressaltar novamente nossa legislação esportiva, 
BRASIL (1998), uma vez que, o Item I do Art 3º de nossa lei, já citado anteriormente, 
referenciando o desporto educacional, apresenta um texto adequado às 
considerações acima citadas, neste sentido, gostaríamos de voltar a questionar os 
demais ítens de nossa legislação, por que não as mesmas considerações para o 
jovem atleta de rendimento, ou será que o caráter do rendimento permite-nos a 
tratar a criança e o adolescente atleta fora dos direitos universais do atleta jovem? 
 
 
 35
3. PRINCIPAIS INTER-RELAÇÕES DO ESPORTE PARA CRIANÇAS E 
ADOLESCENTES 
 
 Segundo afirmações de BYRNE (1993:39), o contexto atual do esporte para 
crianças constitui-se uma área bastante controversa. Como já ressaltamos, várias 
pesquisas destacam aspectos positivos e negativos do esporte. Na realidade, não é 
a prática esportiva que determina os benefícios e prejuízos que envolvem a 
formação do sujeito, mas sim a natureza do esporte em que a criança está 
envolvida, onde há um círculo de influências (técnicos, professores, pais, árbitros, 
torcedores, clubes) que agem direta ou indiretamente estimulando a criança e 
definindo a natureza do esporte que ela pratica. 
De acordo com BRUSTAD (1993:709) a influência dos adultos no esporte é 
perversa. As ligas esportivas para jovens são organizadas por adultos, assim como 
a direção dos treinamentos e a própria competição, que por uma série de razões, 
passam a atender muito mais aos interesses destes, do que das próprias crianças e 
adolescentes, sendo os pais, os principais atores neste meio. 
O modelo do círculo de influências de BYRNE (1993:40) representa muito 
bem as diversas classes de pessoas que estão envolvidas nos mais variados ciclos 
do ambiente de desenvolvimento da criança no esporte. 
 
Espectadores Clubes 
Professores 
Treinadores Pais 
Crianças Árbitros 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
FIGURA 1- Circulo de influências 
FONTE: BYRNE, 1993. p. 40 
 
 36
A respeito das inter-relações, observadas no círculo de influências, é 
importante reconhecermos o modelo da teoria ecológica de BRONFENBRENNER 
(1979) apud KREBS (1995:104), que “enfatiza o desenvolvimento humano como um 
conjunto de sistemas aninhados em que a pessoa em desenvolvimento é, ao mesmo 
tempo, capaz de ser influenciada por esses sistemas, como também determinar 
mudanças que neles ocorram” . O primeiro conjunto de pressupostos de sua teoria, 
refere-se aos elementos do ambiente. A partir da identificação destes elementos, é 
possível analisar os diferentes microssistemas referentes a eles, como também as 
forças que afetam o desenvolvimento humano (mesossistema, exossistema e 
macrossistema). KREBS (1995:30); (1995:104). 
 A ecologia do desenvolvimento humano é definida por BRONFENBRENNER 
(1979:21) in KREBS (1995:41) como “o estudo científico da acomodação 
progressiva e mútua de um ser humano ativo, em ambientes imediatos nos quais a 
pessoa em desenvolvimento vive; como esse processo é afetado pelas relações 
entre ambientes, e pelos contextos maiores nos quais estes ambientes estão 
contidos”. O autor considera que o desenvolvimento humano, na perspectiva 
ecológica apresenta-se na forma de sistemas (microssistema, mesossistema, 
macrossistema, exossistema, cronossistema), que podem ser resumidos da seguinte 
forma: 
• Microssistema 
 Para BRONFENBRENNER (1979:22) in KREBS (1995:42), “um 
microssistema é um padrão de atividades, papéis e relacionamentos interpessoais, 
experienciados pela pessoa em desenvolvimento em um determinado ambiente com 
características físicas e materiais particulares”. 
• Mesossistema 
 “Compreende as inter-relações entre dois ou mais ambientes nos quais a 
pessoa em desenvolvimento participa ativamente (tais como, para uma criança, as 
relações no lar, na escola, na vizinhança; para um adulto, entre a família, trabalho, e 
meio social” BRONFENBRENNER (1979:25) in KREBS (1995:43). 
• Exossistema 
 “Refere-se a um ou mais ambientes que não envolvem a pessoa em 
desenvolvimento como um ser participante ativo, mas nos quais ocorrem eventos 
que afetam, ou são afetados por, o que ocorre no ambiente que contém a pessoa 
em desenvolvimento”. BRONFENBRENNER (1979:25) in KREBS (1995:43). 
 37
• Macrossistema 
 “Refere-se as consistências na forma e no conteúdo dos sistemas de ordem 
inferior (micro, meso e exo) que existem, ou poderiam existir, ao nível da cultura ou 
subcultura como um todo, ao longo do qual qualquer sistema de crenças ou 
ideologias sustenta tais consistências”. BRONFENBRENNER (1979:26) in KREBS 
(1995:24). 
• Cronossistema 
 O cronossistema só aparece na obra de Bronfenbrenner à partir de 1986, sua 
formulação deveu-se à necessidade de diferenciar a pesquisa sob o ponto de vista 
ecológico, das tradicionais pesquisas longitudinais: “Para distinguir a investigação na 
abordagem ecológica dos estudos longitudinais mais tradicionais, que focalizam 
predominantemente o indivíduo, eu propus o termo cronossistema para designar um 
modelo de pesquisa em que torna possível examinar a influência sobre a pessoa em 
desenvolvimento das modificações ao longo do tempo, nos ambientes nos quais as 
pessoas estão vivendo”. BRONFENBRENNER (1986) in KREBS (1995:46). 
Segundo KREBS (1995:56), Urie Bronfenbrenner não utiliza representação 
gráfica para a explicação de seu modelo, entretanto, outros autores procuram 
simplificar sua teoria através de representações que facilitam a compreensão da 
mesma. Desta forma podemos apresentar a representação de THOMAS (1992), 
visto a viabilidade para adentrarmos no modelo esportivo. 
 Este modelo representa as relações de alguns sistemas sociais que 
interferem no processo de desenvolvimento de uma criança ou adolescente. Todos 
estes aspectos acabam influenciando direta ou indiretamente o sujeito em 
desenvolvimento, em qualquer que seja seu meio ambiente sócio cultural. Assim, 
quando estamos lidando com o modelo esportivo, logicamente estes aspectos 
estarão influenciando todo o contexto de progressão da criança no esporte. 
Entretanto, há que se considerar os aspectos imediatamente mais importantes para 
tentarmos intervir nos agentes “chave” da participação da criança no esporte. 
Conforme BYRNE (1993:41) dentre todos os aspectos do círculo de influências da 
criança no esporte, os pais, e os técnicos são os mais importantes e acabam criando 
o chamado “triângulo esportivo”, relacionando a tríade treinador-criança-pais, 
constituindo pares de inter-relações fundamentais, inevitáveis e decisivos na 
constituição de uma ambiente adequado para a formação esportiva da criança. 
 38
Assim sendo, analisaremos a seguir, cada uma das interações desta tríade, 
chamando a atenção para uma leitura sempre à luz da perspectiva ecológica. 
 
FIGURA 2 - Representação de THOMAS (1992) para o modelo de Bronfenbrenner. 
FONTE: KREBS, 1995. P.55. 
 
 
 
 
 
 
 
FIGURA 3 - Triângulo Esportivo 
Treinadores Pais 
Crianças 
FONTE: BYRNE, 1993. P. 41 
 
3.1. A RELAÇÃO ENTRE PAIS E FILHOS (ATLETAS) 
 
 Analisando a inter-relação específica entre as crianças atletas e os pais, 
estaremos nos atendo para um dos pontos mais importantes para a formação dos 
jovens no esporte. CRATTY (1984:146) apresenta um modelo da criança e do jovem 
no esporte competitivo, destacando as diversas influências que os pais exercem 
 39
sobre as atitudes da criança, quepodem determinar o aumento de aptidões para o 
esporte. 
 
Estrutura física 
inerente à mãe 
Estrutura física 
inerente ao pai 
Estrutura física 
inerente à criança 
Propensão do progenitor para 
atividades físicas e esporte 
Grau de sucesso, aclamação 
recebida, aumento de auto estima 
(ou diminuição) no esporte, 
sentido pelos pais 
Atitudes dos pais sobre esporte e 
atividade física 
Propensão a participar no esporte 
e em atividades vigorosas. 
Fornecer oportunidades através 
de instalações e equipamentos 
Atitudes da criança 
e mudanças para 
aumentar as 
aptidões 
Característica dos 
pais 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
FIGURA 4 - Crianças e Jovens no Esporte Competitivo 
FONTE: CRATTY 1984. p. 146 
 
 Como podemos observar no modelo acima, a estrutura, a cultura esportiva, as 
atitudes, dentre outros fatores característicos, apresentados pelos pais, são 
aspectos de grande influência na formação do filho atleta. Conforme MEDINA (2000) 
e GORDILLO (2000:120) , torna-se necessário então, elaborar programas de 
 40
trabalho para assessorar e colaborar com o treinador na intervenção adequada ao 
problema da relação infantil e juvenil com os pais, buscando a consecução dos 
objetivos de adequação no tratamento das crianças, bem como na adaptação das 
regras sociais que favorecem o desenvolvimento esportivo. 
 Além do mais, a figura dos pais constitui a maior influência para o ingresso da 
criança no esporte, entretanto, como cita HANLON (1994:1) muitas vezes os pais 
projetam seus sonhos de 20-30 anos atrás em seus filhos, buscando suprir seus 
interesses próprios, ao invés de ajudar sua crianças a terem experiências alegres, 
seguras e de grande valor. É claro, que seja ou não o pai um desportista, ele sempre 
quer o melhor para seu filho. O problema, é esta conduta passar desapercebida ou 
seja, de forma inconsciente. Aspectos como estes, levam os pais a assumirem 
diferentes condutas, que poderão representar tanto aspectos positivos, como 
negativos. 
Segundo BECKER JR & TELÖKEN (2000:24) “analisando a conduta de pais 
de jovens esportistas, verifica-se que existem os que se dedicam a apoiar com 
sobriedade, outros que nunca estão presentes e ainda outros que só perturbam por 
sua conduta totalmente desequilibrada. A este respeito, BYRNE (1993:43) descreve 
a sugestão de HELLSTADT (1987) sobre o comportamento e envolvimento dos pais, 
que elabora de forma mais clara o conceito anterior, através da divisão de grupos 
em uma linha contínua, ordenada do sub envolvimento, passando para o 
envolvimento moderado até o envolvimento excessivo, ou super envolvimento. 
Descreveremos a seguir um resumo das características dos grupos extremos, visto 
que o comportamento moderado, está relacionado à zona de conforto, ou seja aos 
aspectos fundamentais do envolvimento dos pais, logo estas características serão 
ressaltadas em nossas recomendações. 
 41
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Pais desinte-
ressados 
Pais mal 
informados 
Zona de 
conforto
Pais 
excitados 
Pais 
fanáticos 
Sub-envolvimento Envolvimento 
moderado 
Envolvimento 
excessivo ou 
Super envolvimento
FIGURA 5 - O Contínuo do Envolvimento dos Pais 
FONTE: BYRNE, 1993 p. 43 
 
3.1.1. PAIS DESINTERESSADOS 
 São os pais que transferem a responsabilidade de cuidar de seus filhos para o 
treinador (esporte como “babá”). Eles inscrevem as crianças em programas 
esportivos, sem ao menos saber se o garoto gosta ou não daquela atividade. Estas 
crianças acabam sendo submetidas à situações de estresse, uma vez que são 
obrigados a praticar uma modalidade, não possuindo portanto, uma motivação 
intrínseca suficiente, que a leve a gostar e querer praticar esta atividade. 
 
3.1.2. PAIS MAL INFORMADOS 
 São aqueles que permitem a prática esportiva de seus filhos à partir de uma 
primeira conversa, mas depois não se envolvem no processo de treinamento e 
competições. Nestes casos, não parece haver desinteresse por parte dos pais, mas 
uma incompreensão sobre a importância do papel dos pais na formação esportiva 
de seu filho. 
 
3.1.3. PAIS EXCITADOS 
 Este grupo refere-se aos pais que tendem a estar sempre colaborando com o 
técnico. Frequentam aos treinamentos, se envolvem no processo de forma 
adequada. Entretanto, em jogos mais empolgantes, se excitam de forma 
exacerbada, dirigindo aos árbitros com frases ofensivas e acabam prejudicando todo 
o ambiente competitivo. Pais nesta categoria não são más pessoas, geralmente, não 
 42
percebem seu comportamento inadequado, e muito menos que estão constrangido 
seus filhos ou mesmo lhes dando um mal exemplo de conduta social e esportiva. 
 
3.1.4. PAIS FANÁTICOS 
 Sem sombra de dúvidas, são os mais problemáticos. Independentemente de 
suas experiências no esporte, bem ou mal sucedidos, eles criam um desejo comum, 
que seus filhos sejam os verdadeiros heróis no esporte. “Nunca estão satisfeitos 
com o desempenho e sempre têm sugestões para melhoria deste” (VIDIGAL & 
ALVARENGA, 2000). Acabam interferindo em todo processo de preparação, cobram 
muito de seus filhos a ponto de gerar grandes pressões e falta de prazer pela prática 
de esportes. Se exaltam facilmente com a conduta do árbitro e do próprio treinador 
de seu filho, criando um ambiente hostil e perturbado. 
 
3.1.5. RECOMENDAÇÕES 
 Com base na literatura apresentada por BECKER JR (2000), GORDILLO 
(2000) e HANLON (1994) apresentaremos algumas recomendações para que as 
inter-relações entre os pais e seus filhos atletas sejam mais adequadas no processo 
da formação esportiva da criança: 
• Oportunizar, favorecer e encorajar a participação de seus filhos em diferentes 
modalidades esportivas. Após estas experiências, permitir a escolha da própria 
criança sobre qual esporte, ou quais esportes ela irá praticar. É claro, que este 
tipo de conduta implica em grande esforço por parte dos pais, além de algumas 
renúncias da vida particular como tempo, atividades próprias, e em alguns casos 
financeiros. 
• Ajudar os filhos a decidirem quais os níveis de compromissos poderão assumir. 
Isto dependerá de múltiplos fatores, como as oportunidades que a cidade onde 
residem oferece, as experiências dos pais nos esportes, a situação econômica, o 
envolvimento com outras atividades fora do esporte, etc. 
• Estar certo de que os filhos estão praticando as atividades em um ambiente 
propício e saudável para seu desenvolvimento integral. Demanda para tanto, a 
compreensão da filosofia da instituição, e os consequentes valores ressaltados 
por esta. 
• Construir a auto estima da criança, através da compreensão dos aspectos 
inerentes ao sucesso e fracasso, orientando-as para motivação e melhora. 
 43
• Ajudar a criança a determinar objetivos reais de desempenho. 
• Aprender a controlar as próprias emoções e favorecer emoções positivas nos 
filhos. 
• Entender quais os interesses e necessidade das crianças no esporte, criando um 
ambiente favorável para que alcancem seus objetivos. 
• Estabelecer limites de participação das crianças nos esportes. Os pais devem 
determinar se as crianças estão aptas fisicamente e emocionalmente para 
participar e assegurar que as condições do jogo sejam seguras. 
• Certificar se o treinador é qualificado para orientar a criança no esporte. 
• Ajudar a criança a entender lições valiosas que o esporte pode proporcionar. 
• Ajudar a criança cumprir as responsabilidades com o time e o treinador. 
• Aceitar o papel do treinador. 
Compreender e comportar-se de acordo com estas recomendações é 
fundamental para a criação do ambiente adequado do esporte para crianças e 
adolescentes. HANLON (1994:30) reforça ainda estas recomendações com um 
“código de conduta dos pais de atletas”, relatando que os dez itens apresentados, 
não completam a lista do código, mas é uma forma de dar um bom suporte para o 
início da mudança de comportamento para adequação às demandas das

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