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2º Semestre Letivo de 2021 EDIFÍCIO ESCOLAR: AVALIAÇÃO PÓS-OCUPAÇÃO E PERCEPÇÃO DOS USUÁRIOS Jade Delmas (1) ; Nara Roggini (2); Ravyer Cariús (3); Stephany Macedo (4); Professor Victor Hugo Godoy (5) (1) Jade Delmas. Aluno do curso de Arquitetura e Urbanismo. Faculdade Doctum de Juiz de Fora-MG, E-mail: aluno.jade.fernandes@doctum.edu.br (2) Nara Roggini. Aluno do curso de Arquitetura e Urbanismo. Faculdade Doctum de Juiz de Fora-MG, E-mail: aluno.nara.roggini@doctum.edu.br. (3) Ravyer Cariús. Aluno do curso de Arquitetura e Urbanismo. Faculdade Doctum de Juiz de Fora-MG, E-mail: aluno.ravyer.guimaraes@doctum.edu.br. (4) Stephany Macedo. Aluno do curso de Arquitetura e Urbanismo. Faculdade Doctum de Juiz de Fora-MG, E-mail: stephanymmacedo242@gmail.com. (5) Victor Hugo Godoy. Professor do curso de Arquitetura e Urbanismo. Faculdade Doctum de Juiz de Fora-MG. E-mail: prof.victor.nascimento@doctum.edu.br. RESUMO Um comparativo de duas escolas públicas em continentes diferentes, a Escola Primária e Secundária KB que fica no Japão, na cidade de Sasebo (província de Nagasaki) e a Escola Municipal Cosette de Alencar, que fica no Brasil no município de Juiz de Fora - MG, com a intenção de mostrar a diferença em sua arquitetura escolar, apresentando estruturas completamente distintas, mostrando os dois lados da realidade. E que é visível que uma falta de bom planejamento arquitetônico, tem influência diretamente no ensino e bem estar de seus alunos e funcionários, desde a falta de acessibilidade a espaços planejados de convivência e ensino. Foram destacados pontos para analisar a escola Cosette e todo seu edifício: foi construído em uma topografia com declive e de pouca metragem, sendo um grande empecilho para a construção de ambientes funcionais. Diferentemente, a escola KB, foi implantada em um terreno amplo e estudada pelos escritórios HIBINOSEKKEI, Kids Design Labo, Youji no Shiro, resultando em uma reforma de qualidade e que segue a risca seu conceito de aprendizado livre e ativo, com abordagem moderna. Palavras-chave: reforma, material, acessibilidade, escolar, pública 1. INTRODUÇÃO: 1.1) ESCOLA MUNICIPAL COSETTE DE ALENCAR: A edificação ficou pronta em 1976, mas somente em 1984 aconteceu um processo de integração dos alunos com alguma deficiência, sendo atendidos em salas especiais devido a sua situação, como visão. Assim, dividia a sala com os demais alunos com esta situação. De acordo com Débora Rodrigues Cruz, que escreveu sua monografia sobre esta escola, em 2015 recebia 800 alunos, sendo que 25 deles eram atendidos pelo AEE. Estão matriculados alunos com transtornos globais de desenvolvimento, deficiência intelectual, visual e múltipla. Contando com 10 professores de apoio colaborativo e 5 professores de AEE. Com a ausência de rampas, não são aceitos alunos cadeirantes, uma vez que não atendem à NBR 9050. Figura 1: Fachada 1.2) ESCOLA PRIMÁRIA E SECUNDÁRIA KB: Projetada com 5.856m² pelos escritórios HIBINOSEKKEI, Kids Design Labo e Youji no Shiro no ano de 2019, tornando um ensino mais livre e ativo, uma vez que muitas escolas estão envelhecendo, assim, é hora de renovar e reconstruir. É um estilo de arquitetura minimalista e contemporânea, com traços retos, misturando características alternativas, industriais, transparecendo uma linguagem jovem para os espaços. A proposta é criar espaços despojados, que atraiam a vontade da criança e do adolescente a estar na escola, e logo ter uma desenvoltura maior nos estudos. Fugindo totalmente de uma arquitetura escolar tradicional, clássica, entediante e não atrativa. O novo projeto da escola KB, surgiu da união de uma escola pública com uma privada, criando um novo espaço alternativo, com uma metodologia de ensino que vem tomando espaço no Japão. Figura 2: Fachada 1.3) COMPARAÇÃO: É possível notar que há uma diferença gritante nas duas fachadas. A escola no Japão está preocupada com acessibilidade, sair do tradicional e as crianças tem a total segurança de irem sozinhas para aula, enquanto isso, a escola Cosette é totalmente o contrário, diz ser acessível, mas não há rampas na NBR 9050, separa os alunos com alguma deficiência em uma sala separada, tem layout da sala de aula tradicional e os alunos não tem a segurança de irem sozinhos para aula. 2. 2. ENTORNO: 2.1) ESCOLA MUNICIPAL COSETTE DE ALENCAR: Situada na região central da cidade de Juiz de Fora. Localizado no bairro Santa Catarina, seu entorno são referências muito famosas e importantes na cidade, como a Igreja da Glória, Cemitério da Glória, Colégio Santa Catarina e o Museu Mariano Procópio. Muito próxima a Avenida dos Andradas, via que faz ligação com bairros da região norte, nordeste e centro. Seu entorno também é caracterizado por edificações residenciais e pequenos estabelecimentos comerciais, podendo afirmar que são edificações de no máximo 4 pavimentos. Figura 3 – Mapa do local Fonte: Google Maps 2.2) ESCOLA PRIMÁRIA E SECUNDÁRIA KB: Localizada no Japão na cidade de Sasebo, que é província de Nagasaki, ao redor é possível encontrar cafeterias e escritórios. A tipologia local é composta por casas e prédios com baixa estrutura, sem prédios com mais de 4 andares. Pode ser notado que as casas são próximas e com contato com a natureza. Figura 4: Mapa local Fonte: Google Maps 2.3) COMPARAÇÃO Nota-se que se observarmos o entorno da escola Cossette de Alencar, é uma rua extremamente residencial, mas na sua proximidade há também rua movimentada , que acaba se tornando a região como polo comercial, por ter padarias, igreja, restaurantes, entre outras coisas. A Escola Primária e Secundária no Japão também está localizada em um bairro considerado residencial. A diferença entre elas é que a primeira acaba ficando perto de um centro comercial , o que torna a rua bem movimentada e mais prático a busca por momentos de lazer. Já a Escola Primária fica numa região que não tem um comércio local próximo, que dificulta aos moradores a procura por estabelecimentos necessários para se ter momentos de lazer. Mas em contrapartida , a Escola Primária Hibinosekkei promove uma interação com a natureza muito próxima, o que só tende a trazer benefícios para a população local, e infelizmente a escola Cosette não consegue ter esse tipo de integração próxima com a natureza. 3. CONFORTO AMBIENTAL: 3.1) ESCOLA MUNICIPAL COSSETE DE ALENCAR: Por ser um bairro essencialmente residencial com gabarito de até quatro pavimentos, possibilita assim uma boa ventilação e iluminação natural. Nos ambientes da sala de vídeo e da biblioteca atual foram relatados diversos aspectos negativos. O local anteriormente era o porão da escola e com a constante necessidade de ampliações foi transformado para seu uso atual. Devido ao fato de ser o porão do edifício, a sala de vídeo em especial não possui janelas, sua iluminação é feita apenas de modo artificial e a ventilação natural não ocorre, acarretando mofo nas paredes. Também como tentativa para a contenção de ratos no local, foi colocado um forro de PVC nas paredes. A biblioteca também apresenta os mesmos problemas em características ambientais, sendo que nela a ventilação se dá através da janela do depósito localizado ao lado Figura 5: Sala de vídeo Figura 6: Biblioteca As salas de AEE se abrem diretamente para o refeitório/pátio, local que é grande fonte de barulho devido ao recreio que é realizado em horários diferentes. 3.2) ESCOLA PRIMÁRIA E SECUNDÁRIA KB: Com ambientes amplos, bem arejados, grandes aberturas de esquadrias, que desse modo, proporcionam uma sensação de liberdade com os alunos. De consequência, há uma grande iluminação natural. Figura 7 3.3) COMPARAÇÃO: Ambas das escolas foram construídas com baixo custo financeiro, mas pode ser observado que a Escola Primária e Secundária KB tiveram um melhor aproveitamento. Usando materiais com design estético mais atraente. Isso não acontece com o Cosette, vemos que não há uma preocupação estética e nem de conforto ambiental,as salas além de nada atrativas, não há isolamento acústico e parecem “estufas” de tão quentes. 4. IMPLANTAÇÃO E SETORIZAÇÃO: 4.1) ESCOLA MUNICIPAL COSETTE DE ALENCAR: Construída em 1976, está implantada em um terreno em declive com aproximadamente 2290m². Composta por dois blocos, um destinado à educação fundamental (três pavimentos: térreo, 1º pavimento e subsolo) e o outro educação infantil (também três pavimentos). O edifício destinado à educação fundamental possui 10 salas de aula, sala de professores, secretaria, direção, dois sanitários (feminino e masculino), biblioteca, sala de vídeo, duas salas de atendimento educacional especializado (sendo que uma delas específica para atendimento aos alunos com deficiência visual), refeitório, cozinha e despensa. O edifício de educação infantil possui 09 salas de aula e dois sanitários (feminino e masculino). Figura 8: Implantação Fonte: Secretaria da Educação/JF No pavimento térreo localiza-se o acesso principal, seis salas de aula, sala dos professores, secretaria e diretoria. As salas possuem layout tradicional com carteiras enfileiradas em frente ao quadro negro. As salas possuem layout tradicional com carteiras enfileiradas em frente ao quadro negro. Figura 9: Setorização - planta térreo Fonte: Débora Rodrigues Cruz, 2015 No primeiro pavimento, com as obras de ampliação, estão em funcionamento duas salas de aula e a coordenação. Com o fim das obras serão transferidas para este pavimento a biblioteca e a brinquedoteca, e serão criadas mais duas salas de aula e almoxarifado Figura 10: Setorização – Planta 1º pavimento Fonte: Débora Rodrigues Cruz, 2015 Seguindo para o pavimento subsolo, onde se localizam o refeitório/pátio, cozinha, depósito, biblioteca, sala de vídeo, duas salas de AEE, duas salas de aula e sanitários. A cozinha da escola é considerada pequena, com má ventilação e iluminação bem como com layout e mobiliário ruins. No local existe apenas um basculante localizado no alto da parede e a porta de acesso Figura: Setorização – Planta subsolo Fonte: Débora Rodrigues Cruz, 2015 4.2) ESCOLA PRIMÁRIA E SECUNDÁRIA KB: A Escola Primária e Secundária KB foi projetada a partir de duas escolas anteriormente existentes no local. Sendo uma delas de caráter público, e outra elitizada, de caráter privado. A partir disso, no ano de 2019, foi inaugurada a Escola KB, com uma pedagogia diferenciada, dotada de um projeto de reforma e readequação do espaço a partir de prédios anteriormente existentes. Ao todo, são 2.956m² de área ocupada. Espaço esse divido entre pavilhões (instalações educacionais) e área livre: espaços ao céu aberto, que interligam um anexo a outro, e funcionam como pátio verde para crianças e adolescentes. A concepção do projeto visa a acessibilidade e a ecologia. Toda a implantação foi idealizada de forma a ocupar todo o terreno, e propor espaços que conectam o interior com o exterior. Ao mesmo tempo que prioriza áreas para distração e conexão com o verde, e principalmente, uma boa locomoção de alunos, pais e funcionários, independente de qualquer dificuldade, ou seja, espaço pensado também para usuários PCDs. Cada anexo é voltado para uma função. Isso garante um setorização simples e funcional. Na prática, há um pavilhão voltado para o setor administrativo e pedagógico da escola, um para as atividades esportivas, outro para atividades artísticas, um pólo único e exclusivo para as turmas do ensino primário, outro para as salas secundárias. Dessa forma, cada atividade tem seu espaço particular, sem que atrapalhe o desempenho da outra. Uma característica do projeto, é que o projeto de interiores foi essencial na ideia do espaço ser considerado ferramenta de aprendizado. Ou seja, são espaços interativos. E a volumetria é plana, horizontalizada, com no máximo, 2 pavimentos. Figura 11: Planta baixa e setorização, térreo Fonte: ArchDaily 4.3) COMPARAÇÃO: A Escola Cosette, é dotada de um terreno pequeno, o que limita suas instalações a ter espaços amplos,com boas metragens quadradas e uma setorização mais organizada. Apesar disso, dentro de suas limitantes, o prédio da escola tenta ser o mais funcional possível, com uma setorização que facilite o funcionamento da escola. Um fator precário, são as condições de acessibilidade, prejudicado pela topografia do terreno, com declividade acentuada, e o tamanho do espaço. No extremo disso, está a Escola KB, que está instalada num terreno amplo, com bastante espaço externo e topografia praticamente plana. O projeto da Escola Cosette, conhecido atualmente, passou por um processo de reformas, ao longo dos anos. Enquanto a Escola KB, têm seu projeto a partir da reforma de duas instituições anteriormente existentes. As duas ocupam o espaço todo disponível, sendo uma delas, de maneira confortável (Japão) e outra, sempre em busca de soluções para melhorar seu espaço limitado. 5. REFORMAS: 5.1) ESCOLA MUNICIPAL COSETTE DE ALENCAR: Já foram realizadas diversas reformas como a criação da brinquedoteca, sala de psicomotricidade, almoxarifado, sala de recurso e refeitório, bem como ampliações em número de salas, cozinha, secretaria e muros de proteção. O último registro encontrado foi em 2015, que a escola passava por uma reforma, havendo a ampliação do ensino fundamental, criando mais três salas de aula e a transferência da biblioteca e brinquedoteca para o primeiro pavimento do bloco, que antes se localizava em uma situação precária no subsolo. Figura 12: Obra primeiro pavimento mFonte: Débora Rodrigues Cruz, 2014 Outro ponto é a rampa na área exterior da lateral do prédio, que foi construída “fora dos padrões” e que é considerada um ponto positivo, já que anteriormente os alunos com dificuldades locomotoras eram carregados ao colo para irem aos sanitários no subsolo. Mas não sendo o suficiente, uma vez que alunos com cadeiras de rodas não têm acesso à ela, por ser fora do padrão NBR 9050, com uma inclinação muito elevada. Figura 13: Rampa lateral Fonte: Débora Rodrigues Cruz, 2014 Por fim, a escola realizou uma obra de contenção nos fundos do terreno, pois o mesmo estava cedendo, colocando em dúvida a estrutura do edifício. Construída também uma laje de concreto que possibilitou a formação de um pátio separado para as crianças do ensino infantil. 5.2) ESCOLA PRIMÁRIA E SECUNDÁRIA KB: A Escola KB é um projeto recente, do ano de 2019. Mas, apesar do seu projeto partir de instalações prediais já existentes, todo o projeto arquitetônico de reforma e reestruturação do espaço é excelente e funcional. Ou seja, um modelo contemporâneo de pedagogia, e principalmente, arquitetura escolar, que ainda não se popularizou mas que é considerado um avanço temporal. Até então, o uso cotidiano e o funcionamento da escola no dia a dia não geraram a necessidade de reformas, mudanças e adequações do espaço. Tudo isso contribui para que a arquitetura da escola hoje permaneça original ao projeto, sem ter sofrido alterações ao longo desses 2 anos, desde sua inauguração. 5.3) COMPARAÇÃO A escola KB é um modelo de escola moderna que não necessita de novas reformas, uma vez que houve um planejamento de espaço, estrutura e acessibilidade. Todas essas mudanças foram pensadas para ser um espaço não só bonito esteticamente, mas também agradável, tudo isso para um bom retorno educacional. Muito diferentemente, a escola Cosette de Alencar como visto, não há acessibilidade e não são aceitos alunos PNE, porque não há rampas seguindo a NBR 9050. Mesmo passando por uma série de reformas, ainda não é o suficiente para ser uma escola receptível e inclusiva. 6. MATERIAIS UTILIZADOS: 6.1) ESCOLA MUNICIPAL COSETTE DE ALENCAR: Ambos os edifícios foram construídos em alvenaria convencional e estrutura de concreto armado. Com relação aos materiais de acabamento, as fachadas são revestidas em pintura com detalhes em cerâmica. O piso é em marmorite e cimento liso nas áreas internas e áreas molhadas de forma geral, e em cimento grossonas áreas externas Figura 14: Vista do refeitório com as salas de AEE no fundo 6.2) ESCOLA PRIMÁRIA E SECUNDÁRIA KB: Quanto aos materiais: grande uso de vidros, ferro, e principalmente, madeira, ambientes com grande uso do branco, mas com elementos em destaque na coloração preta Figura 15: Refeitório Fonte: ArchDaily 6.3) COMPARAÇÃO: Nessa comparação podemos notar uma grande diferença sócio econômica nos materiais, a escola Cosette usa mais simples e baratos, como marmorite e cimento, enquanto a outra usa e abusa de materiais mais caros e de alto padrão, como madeira e vidro. Nas duas figuras acima podemos notar a grande diferença de um mesmo ambiente, um com menos estrutura e o outro mais sofisticado. Referência Bibliográfica: GONZÁLES, Maria Franscisca. Escola Primária e Sendária KB / HIBINOSEKKEI + Youji no Shiro + Kids Design Labo. ArchDaily, 2019. Disponível: <https://www.archdaily.com.br/br/925790/escola-primaria-e-sendaria-kb-hibinosekkei-plus-y ouji-no-shiro-plus-kids-design-labo> Acesso em: 26 de setembro de 2021. CRUZ, Débora Rodrigues. Arquitetura e espacialidade escolar para alunos com deficiência intelectual: percepção ambiental em escolas com atendimento educacional especializado em Juiz de Fora - MG. Tese (Mestrado em Ambiente Construído) - Faculdade de Engenharia, Universidade Federal de Juiz de Fora. Juiz de Fora - MG, p.192. 2015 https://www.archdaily.com.br/br/925790/escola-primaria-e-sendaria-kb-hibinosekkei-plus-youji-no-shiro-plus-kids-design-labo https://www.archdaily.com.br/br/925790/escola-primaria-e-sendaria-kb-hibinosekkei-plus-youji-no-shiro-plus-kids-design-labo