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Comercialização de Produtos Agrícolas Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Prof. Dr. Antônio Marcos Vargas Oliveira Revisão Textual: Prof.ª Dr.ª Selma Aparecida Cesarin Cadeias Produtivas do Agronegócio • Introdução; • Caracterização; • Competitividade. · Conhecer o conceito de Cadeias Produtivas, suas principais aplica- ções no Agronegócio e a competitividade desse Setor. OBJETIVO DE APRENDIZADO Cadeias Produtivas do Agronegócio Orientações de estudo Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem aproveitado e haja maior aplicabilidade na sua formação acadêmica e atuação profissional, siga algumas recomendações básicas: Assim: Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e horário fixos como seu “momento do estudo”; Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo; No material de cada Unidade, há leituras indicadas e, entre elas, artigos científicos, livros, vídeos e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você também encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados; Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discus- são, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e de aprendizagem. Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Determine um horário fixo para estudar. Aproveite as indicações de Material Complementar. Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma Não se esqueça de se alimentar e de se manter hidratado. Aproveite as Conserve seu material e local de estudos sempre organizados. Procure manter contato com seus colegas e tutores para trocar ideias! Isso amplia a aprendizagem. Seja original! Nunca plagie trabalhos. UNIDADE Cadeias Produtivas do Agronegócio Introdução A Visão Neoclássica da Economia adota duas abordagens: a abordagem micro- econômica e a abordagem macroeconômica. A primeira analisa o Mercado a partir da atuação de seus agentes individuais – produtores e consumidores, conside- rando um a um os fatores de produção, e a segunda analisa o Mercado com base nas totalidades, ou variáveis agregadas – produção, consumo, renda, moeda e outros; nessa visão, os fatores de produção são considerados na formação do valor agregado da produção. A Visão Neoclássica trata de forma insuficiente o papel das organizações empre- sariais, assim como a Visão Clássica da Economia desconhece o papel dessas orga- nizações. De acordo com Dantas, Kertsnetzky e Prochnik (in KUPFER 2002, p. 25), “A escola clássica não chega a explicitar um agente de nome empresa. Nela estão presentes como agentes as classes sociais – trabalhadores, proprietários de terras e capitalistas”. Nessa visão, as empresas estariam relacionadas aos capitalistas, buscando o acúmulo de capital por meio da propriedade dos meios de produção. Já na Abordagem Neoclássica, os estudos das organizações empresariais, além de parcial, não leva em conta a dinâmica do Mercado, ao não incluir as relações entre os agentes e entre eles e os meios de produção. Falta uma visão sistêmica do Mercado. Além disso, essas abordagens econômicas dividem a Economia em três setores: o setor primário ou extrativista, em que se encontram as atividades rurais e de extração mineral; o setor secundário ou industrial, em que os insumos primários são transformados em produtos, e o setor de serviços, em que se encontram as atividades comerciais e financeiras. Assim, falta uma visão integradora entre esses setores da Economia que, ao ado- tar uma abordagem de Cadeia Produtiva irá contemplar verticalmente todos os agen- tes envolvidos na produção de um determinado bem, desde o campo, passando por todas as organizações de intermediação e processamento, até a distribuição final ao consumidor ou partindo do produto final em direção à matéria-prima básica que o originou, contemplando todas as etapas do processo produtivo. O principal aspecto dessa abordagem verticalizada, de acordo com Batalha (2001, p. 37), é “[...] o caráter mesoanalítico e sistêmico dos estudos”. Essa abor- dagem é denominada Economia Industrial, pela escola francesa, ou Organização Industrial, pela escola norte americana. Segundo Kupfer (2002, XXII), a Economia Industrial “É uma área de conhecimen- to relativamente recente que veio a florescer somente a partir dos anos 50, motivada principalmente pela busca de novos meios e métodos para estudar a dinâmica real dos diversos setores industriais”. 8 9 A Economia Industrial se desenvolve a partir dos anos 1950, justamente para preencher essa lacuna nos estudos econômicos das organizações, tendo por ob- jeto a indústria moderna e complexa, bem como as organizações à montante e à jusante, ou seja, toda a Cadeia Produtiva em que a indústria esta inserida: “Relações entre empresas, mercados, instituições, processos. Essa complexidade é o cerne da Economia Industrial, cujo objetivo é o estudo do funcionamento real do mercado” (KUPFER, 2002, XXIII). Montante: O termo à montante corresponde à origem ou nascente de um rio; à jusante corresponde à foz em que o rio deságua. Assim, organizações à montante são as organizações geradoras das matérias-primas e insumos básicos e as organizações à jusante são as empresas de distribuição que entregam o meu produto ao consumidor fi nal. Ex pl or A visão estanque dos agentes econômicos da Abordagem Neoclássica irá tam- bém influir nos estudos e ações de marketing, quando se referem à concorrên- cia, ficando limitado às empresas individualmente, não considerando os diferenciais competitivos existentes e potenciais, relacionados aos componentes de uma Cadeia Produtiva em relação a uma Cadeia Produtiva concorrente. A concorrência, hoje, não se dá mais entre empresas, mas sim entre as Cadeias Produtivas das quais as empresas fazem parte. Da mesma forma, todo o Processo Estratégico deve ser ampliado para contemplar a Cadeia Produtiva e, assim, desen- volver estratégias mais robustas e efetivas. O propósito do conhecimento é poder atuar de forma efetiva sobre a realidade. Parafraseando Henri Bergson (2006), não buscamos conhecer por conhecer, busca- mos conhecer para decidir melhor, para alcançar resultados, enfim, para satisfazer algum interesse. Assim, devemos nos debruçar sobre o estudo das Cadeias Produtivas e suas formas mais modernas de arranjos organizacionais, para conseguirmos os melhores resul- tados possíveis para a empresa e para as Cadeias Produtivas das quais ela participa. Com essa abordagem, a falta de visão sistêmica do Mercado, mencionado anterior- mente, passa a ser contemplada, pois, conforme nos explica Batalha (2001, p. 37) a respeito do estudo das Cadeias Produtivas agroindustriais, dentro do enfoque da Eco- nomia Industrial, “A mesoanálise pode ser definida como sendo ‘a análise estrutural e funcional dos subsistemas e de sua interdependência dentro de um sistema integrado’”. Assim, na próxima seção, passaremos a analisar o Agronegócio a partir das Ca- deias Produtivas e dos novos arranjos organizacionais decorrentes do desenvolvimento das relações desenvolvidas por seus componentes e das estratégias de cooperação por eles desenvolvidas. 9 UNIDADE Cadeias Produtivas do Agronegócio Caracterização De acordo com Richard Coase (apud KUPFER, 2002, p. 27), “A empresa é vista como um arranjo institucional que substitui a contratação renovada de fatores no mer- cado por outra forma de contratação, representadapor um vínculo duradouro entre os fatores de produção”. Essa definição apresenta a evolução nas relações entre os fatores de produção que, com a Organização Empresarial, passou a ser mais estável, sem a necessidade de, constantemente, buscar esses fatores no Mercado, dando maior previsibilidade no desenvolvimento de suas atividades, além da redução dos custos de transação. A mão de obra, por exemplo, passa a ter um contrato por tempo indeterminado. Os custos de transação são, simplificadamente, os decorrentes das negociações entre Em- presas e Fatores de Produção, da elaboração dos contratos e das garantias necessárias ao seu cumprimento. Ex pl or Observe-se que, nesse movimento, acontece um estreitamento das relações en- tre esses fatores de produção que atuam internamente à Organização Empresarial; porém, externamente, entre as empresas, as relações se desenvolvem via contratos específicos, de acordo com a necessidade de fornecimento ou aquisição de insumos ou produtos, podendo gerar insegurança às empresas. Para reduzir essa insegurança e seus correspondentes custos de transação, as in- dústrias procuraram verticalizar suas operações, garantindo, assim, o fluxo de forne- cimento e distribuição. O melhor exemplo desse processo de verticalização foi o da Ford, na primeira metade do século XX, que procurava concentrar em sua estrutura todas as etapas necessária à produção de seu produto. Importante! Verticalização consiste no processo de procurar produzir internamente tudo o que é necessário para um determinado negócio – desde a extração da matéria-prima, até a entrega do produto final ao consumidor; assumir todas as etapas de produção de um determinado bem ou serviço. Trocando ideias... 10 11 Essa estratégia, porém, aumenta consideravelmente os custos de Gestão, em fun- ção da diversidade de negócios a serem administrados e, além disso, tira o foco da atividade principal da organização – Core Business. Se a Organização se concentra em realizar apenas as atividades relativas à sua especialidade, os resultados de sua operação serão muito superiores e com um custo de gestão menor. Além disso, se cada etapa de produção for realizada por uma Empresa especia- lizada nas atividades necessárias à sua realização, o resultado final, ou seja, o pro- duto que será entregue ao consumidor, poderá alcançar altos níveis de qualidade, sendo que os custos operacionais de cada uma dessas empresas serão proporcio- nalmente menores. Para garantir que também os custos de transação sejam reduzidos, torna-se ne- cessário reduzir ao máximo as incertezas nas relações entre essas empresas, seja estreitando as relações entre as empresas, seja celebrando contratos de longo prazo. Quanto mais estreitas as relações, menor a incerteza e, consequentemente, menores os custos de transação. Nesse modelo, todas as empresas envolvidas estarão dedicadas a fazer aquilo que sabem fazer melhor, aumentando a produtividade e a qualidade, recebendo insumos de qualidade a preços competitivos e entregando ao mercado produtos melhores e mais baratos. Essa constatação levou ao processo de desintegração vertical da produ- ção, principalmente, na segunda metade do século passado. Temos, assim, dois extremos: o primeiro, em que a Empresa procura integrar à sua estrutura organizacional todas as etapas necessárias à produção de seus bens ou serviços; e o segundo, em que a Empresa procura se concentrar em sua especialidade, ocupando apenas essa etapa da produção. No segundo caso, as etapas necessárias à produção dos produtos ou serviços, sejam à montante, seja à jusante, são desenvolvi- das por outras empresas. Segundo Kupfer (2002, p. 37), “Cadeia Produtiva é um conjunto de etapas con- secutivas pelas quais passam e vão sendo transformados e transferidos os diversos insumos”. De acordo com essa definição, a Cadeia Produtiva está presente nos dois modelos extremos acima analisados. No primeiro modelo, internamente; no segundo modelo, externamente. Podemos representar uma Cadeia Produtiva segmentando-a verticalmente (Figura 1). 11 UNIDADE Cadeias Produtivas do Agronegócio INSUMOS INSUMOS INSUMOS OPERAÇÃO 1 OPERAÇÃO 2 OPERAÇÃO 3 OPERAÇÃO 4 OPERAÇÃO 5 OPERAÇÃO 6 OPERAÇÃO 7 OPERAÇÃO 8 OPERAÇÃO 11 OPERAÇÃO 9 OPERAÇÃO 10 OPERAÇÃO 12 OPERAÇÃO 13 PRODUTO 3 PRODUTO 2 PRODUTO 1 P R I M Á R I O S E C U N D Á R I O T E R C I Á R I O S E T O R E C O N Ô M I C O CADEIA DE PRODUÇÃO 1 CADEIA DE PRODUÇÃO 2 Figura 1 – Cadeia de Produção Agroindustrial Fonte: Adaptado de Batalha, 2001 Nessa representação, cada etapa corresponde a uma Empresa – ou pequenos con- juntos de empresas, e apresenta um exemplo de duas cadeias de Produção Agroin- dustrial em que temos como resultado produtos que derivam diretamente de um único insumo, ou da combinação desses insumos. Nessa representação podemos, também, identificar os Setores Econômicos que são perpassados pelas atividades desenvolvidas pela Cadeia Produtiva e suas etapas; 12 13 porém, como nos lembra Kupfer (2002, p. 37): “As pressões competitivas por maior interação e coordenação entre as atividades, ao longo das cadeias, ampliam a articu- lação entre os agentes”. Isso nos leva ao desenvolvimento de modernas Técnicas de Gestão – como Supply Chain Management, à adoção de Estratégias de Cooperação – como as Alianças Estratégicas, e ao desenvolvimento de novos modelos organizacionais – como as Or- ganizações em Rede. De acordo com Batalha (2001, p. 49), “Admitir que a competitividade de uma em- presa está relacionada à competitividade do sistema no qual ela está inserida pode sig- nificar alterações profundas na maneira de a empresa tomar e conduzir suas decisões”, ou seja, na forma de administrar suas atividades e as relações com as organizações que compõem as Cadeias Produtivas da qual sua Empresa participa. Ainda, de acordo com esse autor (2001, p. 57), “A gestão desse conjunto de eta- pas é o que alguns autores pioneiramente chamaram de Suplly Chain Management ou Gestão da Cadeia de Suprimentos”. Não estamos falando apenas da gestão das atividades de Logística, e sim da gestão dos relacionamentos e todos os processos intraorganizacionais e interorganizacionais. Atividades de Logística são as atividades que envolvem colocar produtos disponíveis onde e quando são desejados por seus consumidores (BATALHA, 2001, p. 58)Ex pl or A operacionalização da gestão da Cadeia de Suprimentos, segundo Cooper et.al (apud BATALHA, 2001, p. 59), “É composta de três elementos relacionados: a estrutura da cadeia de suprimentos, os componentes de gestão e os processos de negócio”, que são representados na Figura 2. A estrutura da Cadeia de Suprimentos é formada pelas organizações que a com- põem, desde os insumos básicos, até o cliente final, o fluxo das informações que ocorre nos dois sentidos da Cadeia de Suprimentos, o fluxo de produtos e/ou servi- ços que acompanha o encadeamento das etapas ou a organizações que compõe a cadeia de suprimentos, e o fluxo monetário que segue no sentido inverso. 13 UNIDADE Cadeias Produtivas do Agronegócio FLUXO DE INFORMAÇÕES ELO 1 FORNECEDOR ELO 2 FORNECEDOR ADMINISTRAÇÃO DE MATERIAIS PRODUÇÃO DISTRIBUIÇÃO FÍSICA MARKETING E VENDAS CLIENTESCOMPRAS FLUXO DE PRODUTO/SERVIÇO FLUXO MONETÁRIO PR OC ES SO COMPONENTES DO SUPPLY CHAIN MANAGEMENT • Planejamento e controle - estrutura de produtos • Estrutura do trabalho - métodos de gestão • Estrutura Organizacional - estrutura de poder e liderança • Estrutura de instalações para o �uxo de produtos - estrutura de riscos e recompensas • Estrutura de instalações para o �uxo de informações (TI) - cultura e atitudes ADMINISTRAÇÃO DO RELACIONAMENTO COM CLIENTES ADMINISTRAÇÃO DO SERVIÇO AOS CLIENTES ADMINISTRAÇÃO DA DEMANDA ATENDIMENTO DE PEDIDOS ADMINISTRAÇÃO DO FLUXO DE PRODUÇÃO SUPRIMENTOS DESENVOLVIMENTO E COMERCIALIZAÇÃO DE PRODUTOS CANAIS DE DEVOLUÇÃO Figura 2 – Estrutura deGestão da Cadeia de Suprimento Fonte: Adaptado de Cooper et al. apud BATALHA, 2001 O segundo elemento é representado pelos componentes de Gestão, sendo os mais importantes: o planejamento e o controle de atividades, a estrutura de trabalho, a estrutura de produtos e serviços, os métodos de gestão, a estrutura do poder e li- derança, o suprimento/fornecedores, manufatura e distribuição, a estrutura do fluxo de informações, a estrutura de riscos e recompensas e a cultura organizacional ao longo da Cadeia. Finalmente, o terceiro elemento se refere às atividades que agregam valor ao cliente ou ao Mercado de que a Cadeia de Suprimentos participa: processo de administração do relacionamento com os clientes, processo de administração dos serviços ao clien- te, processo de administração das demandas, processo de administração de pedidos, 14 15 processo de administração do fluxo da produção, processo de suprimentos, processo de desenvolvimento e comercialização dos produtos e processo do desenvolvimento e administração dos canais de devolução. De acordo com Hitt, Ireland e Hoskisson (2008, p. 246), “Uma estratégia de coope- ração é uma estratégia em que as empresas trabalham juntas para atingir um objetivo comum”. O principal objetivo das Estratégias de Cooperação é se posicionar frente ao cliente de forma mais favorável do que a concorrência. O principal tipo de Estratégia de Cooperação é a Aliança Estratégica. “Uma aliança estratégica é uma estratégia de cooperação em que as empresas combi- nam alguns de seus recursos e capacitações para criar uma vantagem competitiva” (HITT, IRELAND E HOSKISSON, 2008, p. 247). As Alianças Estratégicas podem ser de três tipos: as alianças estratégicas com participação acionária; as alianças estratégicas de base contratual (sem partici- pação acionária) e as joint ventures. Nas alianças estratégicas sem participação acionária, a base de relacionamen- to entre as empresas participantes da Cadeia Produtiva é apenas contratual. Já nas alianças estratégicas com participação acionária, há o estreitamento das relações entre os componentes da Cadeia Produtiva pela participação, recíproca ou não, no capital de empresas participantes dessa Cadeia Produtiva. Quando duas ou mais empresas resolvem combinar recursos e capacitações crian- do uma nova Empresa, juridicamente independente, temos uma joint venture. Nas Cadeias Produtivas Agroindustriais, as Alianças Estratégicas mais comuns são as de base contratual e as com participação acionária. Ao fazermos uma comparação entre características de Gestão quando reguladas pelo Mercado em comparação com a regulação em uma hierarquia (em uma orga- nização empresarial verticalizada) e, ainda, quando regulada pelas relações em rede (Quadro 1), constatamos que as Organizações em Rede apresentam vantagens com- parativas claras quando comparadas às organizações reguladas exclusivamente pelo Mercado ou as organizações verticalizadas. Quadro 1 – Formas de Coordenação das Atividades Econômicas Características Mercado Hierarquia Rede Resolução de Conflitos Leis e Códigos Supervisão Reciprocidade Flexibilidade Alta Baixa Média Comprometimento Baixo Alto Médio Comunicação Formal Burocrático Formal e Informal Ênfase Indivíduo Indivíduo Coletivo Estratégia Competição Competição Co-opetição Relação entre Envolvidos Independência Dependência Interdependência Determinação do Poder Market Share Cargo Reputação Fonte: Balestrin e Verschoore, 2008 15 UNIDADE Cadeias Produtivas do Agronegócio Segundo Hitt, Ireland e Hoskisson (2008, p. 260), “Uma estratégia em rede de cooperação é uma estratégia de cooperação em que várias empresas concordam em formar várias parcerias para atingir os objetivos compartilhados”. Já para Balestrin e Verschoore (2008, p. 79), “As redes de cooperação empresa- rial podem ser definidas como organizações compostas por um grupo de empresas formalmente relacionadas, com objetivos comuns, prazo ilimitado e escopo múltiplo de atuação”. A principal forma de Estratégia de Cooperação presente nas Redes de Coope- ração Empresarial é a aliança estratégica; porém, enquanto a aliança estratégica reúne algumas empresas em torno de um objetivo comum, as Redes de Coopera- ção Empresarial reúnem várias empresas em torno de objetivos comuns, amplian- do o número de empresas e os objetivos que as unem. São três as formas mais comuns de configurações de Redes de Cooperação Em- presarial: as redes de fornecimento, também denominadas Ego-Rede; os consór- cios e as redes associativas. No Quadro 2, apresentamos as principais característi- cas, benefícios e desafios dessas três configurações de rede. Quadro 2 – Características das Três Configurações de Redes CONFIGURAÇÕES CARACTERÍSTICAS BENEFÍCIOS DESAFIOS A SUPERAR Redes de Fornecimento • Foco nas competências essenciais da empresa líder, ficando as atividades paralelas e complementares a cargo da rede de fornecedores. • Constituem uma estrutura produtiva, integrada e flexível. • Possuem uma organização líder, focada na competitividade; • Buscam a aprendizagem e a geração de inovações coletivamente; • Evitar o controle de apenas uma empresa; • Fortalecer os elementos de confiança e transparência entre os membros; • Equilibrar o poder decisório entre fornecedores e empresa líder. Consórcios • União de empresas visando à obtenção de ganhos de escala; • Manutenção da individualidade e da autonomia decisória da própria empresa; • Formalizados por contrato específico; • Utilizados com fim predeterminado; • Tempo de duração a vincular-se à realização; • do objetivo definido em contrato. • Interesses comuns direcionados a superar obstáculos ou oportunizar novos negócios aos membros; • Coordenação democrática, na qual o quadro diretivo deve ser eleito em assembleia; • Existência de normas e procedimentos que garantem os sistemas de controle e o monitoramento da performance; • Formação de equipes, com a divisão de trabalhos entre as empresas envolvidas. • Evitar a formalização excessiva das estratégias colaborativas por meio do contrato; • Promover a divisão equânime das riquezas produzidas pelas empresas participantes; • Enfatizar estratégias também no consórcio como um todo, e não somente nas empresas participantes. 16 17 Redes Associativas • Surgem com o aumento das dificuldades estruturais das empresas; • Partem do pressuposto de que as dificuldades e oportunidades comuns podem ser superadas com a realização de ações colaborativas. • Constituem uma entidade formalizada; • Gestão democrática, com a participação dos envolvidos nas decisões e ações da rede; • Normas específicas em estatuto e regimento, que representam contratos estáveis e flexíveis. Os ganhos gerados em conjunto são distribuídos o mais equilibradamente possível; • Promover um caráter estratégico, e não apenas se apresentar como tábua de salvação das empresas associadas; • A motivação deve ser equilibrada entre as necessidades individuais e da rede associativa; • Valorizar mais a integração flexível e a orientação estratégica. Fonte: Balestrin e Verschoore, 2008 Por suas características, a configuração de Rede de Fornecimento é a mais encontrada nas Cadeias Produtivas Agroindustriais. O maior risco é o da excessiva hierarquização das relações. Os principais modelos de Gestão adotados pelas Redes de Cooperação Empre- sarial são: a auto-organização, a gestão a partir de uma empresa líder e a gestão a partir de uma entidade administrativa autônoma. A Figura 3 apresenta a representação da gestão de Rede de Cooperação Empresarial a partir da auto-organização. Figura 3 – Gestão a partir da Auto-organização Fonte: Balestrin e Verschoore, 2008 Esse modelo de gestão é o mais adotado por redes que congregam um pequeno número de participantes, sejam consórcios, sejam redes associativas. Nesse modelo, a gestão é compartilhada entre seus componentes, aproveitando as capacidades complementares,fortalecendo os laços e intensificando a interação. 17 UNIDADE Cadeias Produtivas do Agronegócio As Redes de Fornecimento, geralmente, adotam o modelo de gestão a partir da Empresa Líder. Para o seu desenvolvimento, os objetivos comuns devem estar bem claros e alinhados para a manutenção da Rede; por essa característica, pode ser a configuração mais instável (Figura 4). Empresa Líder Figura 4 – Gestão a partir de uma Empresa Líder Fonte: Balestrin e Verschoore, 2008 Mecanismos de estreitamento dos laços e identidade são imprescindíveis para a permanência da Rede de Fornecimento. As Redes Associativas, que inicialmente adotam a auto-organização como mo- delo de gestão, conforme se desenvolvem e agregam maior número de participan- tes, costumam migrar para o modelo de gestão a partir da criação de uma Entidade Administrativa Autônoma (Figura 5). Entidade Administrativa Autônoma Figura 5 – Gestão a partir de uma Entidade Administrativa Autônoma Fonte: Balestrin e Verschoore, 2008 18 19 Nesse modelo de gestão, a identidade de seus membros com a Rede costuma ser elevada. Apesar de possibilitar maior envolvimento com os assuntos da Rede, exige um ajustamento de visão e interesses entre os participantes. Já, as redes associativas, quando não assumem um modelo de gestão de auto- -organização, normalmente constituem uma joint venture, tanto para a gestão, quanto para a operacionalização dos interesses comuns das organizações que com- põem esse tipo de Rede. O Quadro 3 nos mostra as principais diferenças entre a Gestão de Redes de Cooperação e a Gestão de uma Empresa Individual. Os aspectos analisados são: o objetivo principal – lucro versus ganhos coletivos; o modo de interação entre seus membros – impositiva e burocrática versus colabo- rativa e em Rede; as bases contratuais das relações entre os participantes – rígida e formalizada versus constitucional e flexível; a orientação estratégica – individual versus coletiva; a coordenação – funcionalista e hierárquica versus transversal e interdependente; a tomada de decisão – centralizada e impositiva versus descentra- lizada e democrática; o papel dos gestores; o controle e, a avaliação. Quadro 3 – Gestão da Empresa Individual versus Gestão das Redes de Cooperação Característica da Gestão Empresa Tradicional Redes de Cooperação Objetivo Principal Lucro Ganhos Coletivos Interação Impositiva e Burocrática Colaborativa e em Rede Contratualização Rígida e Formalizada Constitucional e Flexível Orientação Estratégica Individual Coletiva Coordenação Funcionalista e Hierárquica Transversal e Interdependente Papel dos Gerentes Internamente nas empresas e com basena autoridade e no comando Por meio das empresas e com base na influência e negociação Tomada de Decisão Centralizada e Impositiva Descentralizada e Democrática Planejamento Geral e em cada Departamento Conjunto e em cada empresa associada Direção Definida de forma hierárquica Definida de forma independente Controle Baseado em direitos proprietários e emacordos contratuais Baseado na reciprocidade das relações entre os associados Avaliação Resultados departamentais e por empregado Resultados coletivos e por empresa associada Fonte: Balestrine e Verschoore, 2008 Vemos, assim, que as Cadeias Produtivas do Agronegócio podem apresentar características distintas dependendo das diversas formas possíveis que elas podem adotar, desde a simples Cadeia em que as empresas se relacionam precariamente, com contratos e relações ad-hoc (finalidade específica e eventual) com altos custos de transação e alto grau de incerteza, até empresas totalmente verticalizadas e hie- rarquizadas que, embora garantam baixos custos de transação, assumem altos custos de gestão e ineficiência. 19 UNIDADE Cadeias Produtivas do Agronegócio Entre esses dois extremos, temos as relações contratuais de caráter mais perma- nente nas Cadeias de Suprimento, as Alianças Estratégicas parciais dentro de uma Cadeia Produtiva, envolvendo poucas empresas, e as Redes de Cooperação Empre- sarial que podem incluir toda uma Cadeia Produtiva. As Cadeias Produtivas do Agronegócio podem assumir qualquer dessas configura- ções; porém, os resultados obtidos por seus integrantes irão variar de acordo com a configuração escolhida, além de outros fatores. Esse é o nosso próximo assunto. Competitividade Hitt, Ireland e Hoskisson (2008) definem competitividade como a capacidade que uma EMPRESA apresenta de conseguir retornos (lucro) acima da média com suas operações. Para esses autores, os retornos acima da média correspondem a retornos acima dos que se poderia obter com outros investimentos que apresentem risco semelhante. Podemos concluir que retornos acima da média correspondem a retornos supe- riores aos retornos médios de meus concorrentes diretos, pois esses concorrentes estão sujeitos aos mesmos riscos que a minha Organização. Como estamos tratando de Cadeias Produtivas do Agronegócio, podemos dizer que a competitividade de uma Cadeia Produtiva, corresponde à capacidade que seus integrantes têm de obter retornos superiores aos retornos obtidos pelos inte- grantes das Cadeias Produtivas concorrentes. Como já mencionado, a competição hoje não se dá mais no nível das empresas, mas sim, no nível de suas Cadeias Produtivas. Dessa forma, são fatores básicos de competitividade a configuração adotada pela Cadeia Produtiva e seu sistema ou modelo de coordenação e gestão. Qual o mais eficaz? Qual o mais produtivo? Qual o que melhor atende às expectati- vas do meu consumidor? Qual o que apresenta custos menores e maior produtividade? É claro que as respostas a essas perguntas não estão restritas apenas à configuração e ao modelo de gestão adotado pela Cadeia Produtiva; outros fatores como inovação, tec- nologia, infraestrutura, qualidade dos insumos, ambiente institucional (incluindo Governo e Políticas Públicas) e estrutura do Mercado irão contribuir ou não para que os resultados sejam superiores à média. Cada contexto competitivo poderá levar a soluções únicas que atendam às ca- racterísticas desses contextos. Não é suficiente analisar e adequar um elo ou etapa da Cadeia Produtiva. A interdependência entre cada elo, as relações entre os di- versos agentes e seus padrões de interação irão afetar a competitividade de toda a cadeia produtiva. 20 21 Os modelos de Análise Competitiva deverão ser utilizados nesse processo. A aná- lise das forças competitivas de Porter, a análise das cadeias de valor de cada um dos componentes da cadeia produtiva, a análise SWOT, as análises do modelo baseado em valor de Barney e outras. Fica claro que os arranjos das Cadeias Produtivas que beneficiam a integração, a cooperação e a coordenação levam vantagens em comparação às Cadeias Pro- dutivas mais restritivas e que aumentam os custos de transação; porém, os demais fatores, já mencionados, devem ser considerados em qualquer análise competitiva. 21 UNIDADE Cadeias Produtivas do Agronegócio Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Leitura A Ortodoxia Neoclássica https://goo.gl/71ogxn Desenvolvimento territorial e agricultura familiar: reflexões a partir da comunidade de Piedade de Santa Rita: https://bit.ly/3uGv51h Fatores Críticos para a Competitividade de Micro, Pequenas e Médias Empresas: Proposição de Modelo Analítico: https://bit.ly/36czsYu O que são cadeias produtivas do agronegócio? https://bit.ly/3JBraqM O Conceito de Competitividade da Empresa: Uma Análise Crítica https://goo.gl/pt9GtM Firmas, Cadeias e Redes de Agronegócio https://goo.gl/SABh5x Agricultura Familiar, Agroindústria E Desenvolvimento Territorial https://goo.gl/ePxsUz 22 23 Referências BALESTRIN, Alsones. Redes de Cooperação Empresarial: Estratégias de Gestão na Nova Economia. Porto Alegre: Bookman, 2008. BATALHA, Mário Otávio (coord.). Gestão Agroindustrial. 2.ed. São Paulo: Atlas, 2001. v. 1. BERGSON, Henri. O Pensamento e o Movente: Ensaios e Conferências.São Paulo: Martins Fontes, 2006. HITT, Michael; IRELAND, R. Duane; HOSKISSON, Robert E. Administração Es- tratégica: Competitividade e Globalização. São Paulo: Thomson Learning, 2008. KUPFER, David (org.). Economia Industrial: Fundamentos Teóricos e Práticos no Brasil. Rio de Janeiro: Elsevier, 2002. 23
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