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Fisiologia Animal Comparada e Humana Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Prof. Dr. Carlos Eduardo de Oliveira Garcia Prof. Me. Norton Claret Levy Junior Revisão Textual: Prof.ª Dr.ª Luciene Oliveira da Costa Granadeiro Respiração Animal e Músculo e Movimento • Caracterização Ambiental Quanto à Disponibilidade de O2; • Respiração Celular e Orgânica; • Escala Evolutiva das Trocas Gasosas; • Sistema Respiratório Humano; • Equilíbrio Ácido-base do Sangue; • Ventilação Pulmonar e seu Controle; • Mecanismos Produtores de Movimento; • Propriedades Fundamentais das Fibras Musculares; • Custo Energético do Deslocamento Animal. • Reconhecer os princípios e os mecanismos básicos da fi siologia animal e as adaptações dos animais que os tornam capazes de existir em tantos ambientes diferentes. OBJETIVO DE APRENDIZADO Respiração Animal e Músculo e Movimento Orientações de estudo Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem aproveitado e haja maior aplicabilidade na sua formação acadêmica e atuação profissional, siga algumas recomendações básicas: Assim: Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e horário fixos como seu “momento do estudo”; Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo; No material de cada Unidade, há leituras indicadas e, entre elas, artigos científicos, livros, vídeos e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você tam- bém encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados; Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discus- são, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e de aprendizagem. Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Determine um horário fixo para estudar. Aproveite as indicações de Material Complementar. Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma Não se esqueça de se alimentar e de se manter hidratado. Aproveite as Conserve seu material e local de estudos sempre organizados. Procure manter contato com seus colegas e tutores para trocar ideias! Isso amplia a aprendizagem. Seja original! Nunca plagie trabalhos. UNIDADE Respiração Animal e Músculo e Movimento Caracterização Ambiental Quanto à Disponibilidade de O2 O ar atmosférico apresenta uma proporção de gases extremamente constante, que permanece a mesma desde o nível do mar até o Monte Everest (8.848m). O ar atmosférico é composto de: 20,05% de oxigênio, 0,03% de gás carbônico, 78,06% de nitrogênio e o restante é considerado uma mistura de gases inerte como hélio, neônio, argônio e outros. Em Fisiologia, para simplificar, consideramos: 21,0% de oxigênio, 78,0% de nitrogênio e 1,0% outros gases. Os animais aquáticos obtêm o oxigênio dissolvido na água. Para cada 100mL de água a 0°C, apenas 1mL de oxigênio encontra-se dissolvido. Com a elevação da temperatura a 15ºC, este valor cai para 0,7mL e, a 37°C, a solubilidade do oxigênio na água é de apenas 0,5mL (valores considerados a 1atm). Concluindo, temos que a solubilidade dos gases na água diminui com o aumento da temperatura. Respiração Celular e Orgânica Alguns microrganismos são denominados de anaeróbios, pois não precisam do gás oxigênio (O2) presente no ar atmosférico para metabolizarem os compostos orgânicos absorvidos ou ingeridos do ambiente. Nesses organismos, o aceptor final de elétrons é uma substância inorgânica diferente de O2, que pode ser nitrato, sul- fato ou carbonato. A respiração anaeróbia por bactérias que utilizam nitrato ou sulfato como aceptor final é essencial para os ciclos do nitrogênio e do enxofre na natureza. A quantidade de ATP gerada pela respiração anaeróbia varia de acordo com o microrganismo e a via metabólica utilizada. Nos seres unicelulares, o ATP é necessário para o transporte ativo, a síntese de substâncias, a divisão celular, entre outras funções; nos seres pluricelulares, além das funções celulares, o ATP cumpre funções como a contração muscular e produção de calor. Somente uma parte da cadeia respiratória, a glicólise, funciona em anaerobio- se e, portanto, a produção de ATP é bem menor do que na respiração aeróbia. Por isso seres anaeróbios tendem a crescer mais lentamente do que seres aeróbios. A degradação da glicose (glicólise), que independe do O2, gera duas moléculas de ácido pirúvico. Na presença de O2, esse ácido produz acetil-CoA que se une ao oxaloacetato e dá origem ao citrato do ciclo de Krebs. Na ausência do O2, o ácido pirúvico passa por processo fermentativo, as bactérias anaeróbias geralmente produzem ácido lático e CO2 e as leveduras anaeróbias etanol e CO2. Outras subs- tâncias como ácido propiônico, ácido butírico, acetato e isopropanol são produzi- das por fermentação microbiana. Vamos lembrar que, na respiração anaeróbia, compostos inorgânicos são acep- tores finais de O2, e, na fermentação, não há aceptor final de O2. Na respiração 8 9 aeróbia, a produção de ATP é cerca de dezesseis vezes maior do que na ausência de O2. A fermentação também ocorre em nossas células musculares. Quando realiza- mos exercícios físicos forçados e a quantidade de O2 absorvida não é suficiente para transformação de ácido pirúvico em aceti-CoA, esse ácido é transformado em áci- do lático, principalmente nas fibras musculares de contração rápida que possuem maiores quantidades das enzimas lactato desidrogenase, especializada em degradar ao ácido lático e dar continuidade à produção de energia. Com exceção dos microrganismos anaeróbios e fermentativos e dos vermes pa- rasitas intestinais, os animais necessitam captar O2 do ambiente e enviá-lo às suas células para que as reações metabólicas ocorram de maneira favorável. A ausência desse gás leva o indivíduo à morte por débito energético celular. O processo de respiração celular aeróbio tem como resíduo celular o CO2, cujo acúmulo é indese- jável ao organismo, precisando ser removido constantemente. A aquisição de O2 do meio e eliminação de CO2 do corpo realizada por órgão especializados nos animais é denominada respiração orgânica ou respiração pulmonar. “Respiração Celular – Bioquímica – Resumo”: https://youtu.be/TxK8aoUpyhM Ex pl or Escala Evolutiva das Trocas Gasosas Protozoários, poríferos, cnidários, platelmintos e nematelmintos são muito pe- quenos e não possuem sistema respiratório, sendo suas trocas gasosas realizadas diretamente pela superfície do corpo por difusão simples. Os demais animais de maior tamanho desenvolveram órgãos respiratórios, pois a distância das células mais internas da superfície do corpo é grande e não conse- guem receber O2 e eliminar CO2 por difusão. A maioria deles utiliza o sistema cir- culatório para conduzir O2 às células mais distantes e CO2 das células mais distantes ao meio externo. A troca dos gases com o meio ocorre de formas variadas, pela pele nos anelí- deos e anfíbios, pela traqueia nos insetos, pelas brânquias nos animais aquáticos e pelos pulmões nos vertebrados. Pele Anfíbios e anelídeos realizam uma eficiente troca gasosa pela pele, que é rica- mente vascularizada e contém muitos capilares sanguíneos espalhados que aumen- tam muito a superfície das trocas. Esses animais possuem pigmentos respiratórios especializados no transporte de O2 e CO2 que melhoram a eficiência respiratória. 9 UNIDADE Respiração Animal e Músculo e Movimento Os animais que respiram pela pele precisam manter constantemente a pele úmida para facilitara difusão dos gases. Nas rãs, as trocas gasosas entre pele e pulmão alternam-se durante o ano, devido à temperatura. No inverno, quando a captação de O2 é menor, a pele realiza mais trocas que o pulmão. No verão, ocorre o inverso. A rã do lago Titicaca (Telmatobius culeus) vive nas profundezas do lago Titicaca a 3812 de altitude, não sobe à superfície para respirar, usa apenas a pele, que é altamente vascularizada e expandida por dobras frouxas que aumenta a área de superfície respiratória (Figura 1). Algumas salamandras pequenas (pletodontes) não possuem pulmão e a troca de O2 e gases ocorre totalmente pela pele, exceto por uma pequena porção de que é absorvida pela mucosa oral. Figura 1 – Rã do lado Titicaca (Telmatobius culeus). Utiliza a pele extremamente enrugada e vascularizada para obter todo O2 necessário à sua sobrevivência Fonte: Ground Truth Trekking A serpente marinha Pelamaris platurus, quando fica submersa por muito tempo atrás de presas, obtém cerca de 33,0% do O2 pela pele. Outros vertebrados tam- bém realizam trocas gasosas pela pele, a exemplo dos morcegos, que têm a superfí- cie cutânea bem maior do que a dos outros mamíferos. As membranas de suas asas são grandes, finas, sem pelo e altamente vascularizada. No entanto, a captação de O2 pelas asas não é grande o suficiente e os morcegos precisam utilizar os pulmões para sobreviver. Diversas espécies de vertebrados realizam trocas gasosas pela pele (Figura 2), porém, em percentuais pequenos que não garantem absorção de O2 e eliminação de CO2 compatíveis com a sobrevivência e, então, precisam de outro órgão respiratório. 10 11 Figura 2 – Percentual de troca de O2 e CO2 que ocorrem através da pele de vertebrados Fonte: Adaptado de HILL, et. al; 2012 Traqueias Os insetos, assim como outros artrópodes terrestres, respiram por traqueia, que consiste em um sistema de túbulos que permeia os tecidos celulares, realizando de forma direta as trocas gasosas por difusão simples, sem a necessidade de integra- ção com o sistema circulatório. As traqueias originam-se nos espiráculos, pequenos orifícios, situados lateral- mente ao tórax e abdômen. Ao penetrarem no corpo do animal, vão se ramifi- cando e tornam-se cada vez mais finos, os ramos terminais e mais finos recebem o nome de traquéolas, as quais possuem fundo cego e penetram por entre as células e até no interior delas, sem romper a membrana plasmática, liberando O2 próximo à região onde se encontram as mitocôndrias. As traquéolas possuem em 11 UNIDADE Respiração Animal e Músculo e Movimento suas porções finais um líquido extracelular onde o O2 se dissolve e depois se difunde para os tecidos (Figura 3). Algumas espécies possuem reservatórios de ar, os sacos aéreos que estão intercalados entre as traqueias. Esses sacos diminuem a densida- de do animal, facilitando o voo, a flutuação e o equilíbrio do animal. Contrações musculares conduzem o ar em um movimento de vai e vem para dentro e para fora. As células absorvem O2 quando o ar entra e liberam o CO2 quando o ar sai. Insetos com alta atividade que gastam muita energia desenvol- veram um sistema de bombeamento ativo e unidirecional de ar em partes do sistema traqueal que é mais eficiente para as trocas gasosas. Figura 3 – Sistema traqueal de insetos Fonte: Moyes & Schulte, 2010 Os escorpiões e outros aracnídeos têm uma invaginação da parede abdominal, formando uma bolsa onde várias lamelas paralelas vascularizadas realizam as trocas diretamente com o ar. Esse órgão é denominado de filotraqueia ou pulmão foliáceo. Brânquias As brânquias, também chamadas de guelras, são órgãos encontrados em ani- mais aquáticos como os peixes, os crustáceos, cefalópodes, bivalves, gastrópodes, anelídeos poliquetas, larvas de anfíbios (girinos), axolote (anfíbio que não completa a metamorfose), equinodermos e larvas de insetos. Poucos animais branquiados conseguem viver fora da água, como o caranguejo coco (Birgus latro) – isso de deve ao fato de suas brânquias serem bem rígidas. Mas, se for mantido submerso, ele morre. Enquanto outras espécies de caranguejo semiterrestres (espécies anfíbias) morrem se mantidos fora da água. E, curiosamen- te, caranguejos do gênero Cardiosoma podem viver tanto na água como no ar. Outro grupo de crustáceos, o grupo dos isópodos terrestres (tatuzinho), têm as brânquias alocadas dentro de cavidades que podem ser consideradas como pul- mões funcionais, entretanto, só sobrevivem em ambientes úmidos. 12 13 Nos moluscos, as brânquias estão localizadas internamente na cavidade do manto. Os bivalves como as ostras e mariscos apresentam uma evolução, as brânquias- -foliáceas que são semelhantes a lamelas (os bivalves também são chamados de la- melibrânquios) e possuem células ciliadas que direcionam o fluxo de água para seu interior. Vale a pena lembrar que os bivalves são filtradores de alimentos suspensos na água e as brânquias auxiliam na captação de alimentos. Nos cefalópodes, as brânquias não são especializadas, mas a ventilação sim. Elas são ventiladas mais por contração muscular do que batimento ciliar. Para nadar, os cefalópodes sugam água para a cavidade do manto e depois a conduzem de modo forçado para fora através de um funil ventral que produz uma força jato-propulsora que ventila as brânquias. Alguns gastrópodes (caracóis e lesmas) evoluíram e vivem em meio ter- restre, suas brânquias desapareceram e a cavidade do manto se tornou altamente vascularizada e adaptada para trocas gasosas com o ar. Os equinodermos possuem muitas projeções digitiformes de paredes finas a partir de sua cavidade celomática, as pápulas branquiais, onde ocorre m as trocas branquiais. Larvas de insetos possuem brânquia anal que absorvem íons da água e está relacionada com e regulação osmótica, mas não com a respiração. As brânquias de peixes e crustáceos também auxiliam na regulação osmótica, mas sua principal função é a respiração. As brânquias dos peixes teleósteos (Figura 4) são formadas de vários arcos branquiais que possuem um par de filamentos denominado lamela primária. Esses filamentos possuem pequenas lamelas transversais, chamadas de secundárias, por onde a água flui em direção oposta à direção do sangue. O fluxo contracorrente aumenta a eficiência das trocas gasosas. Figura 4 – Estrutura da brânquia de um teleósteo Fonte: Adaptado de Moyes & Schulte, 2010 e Wikimedia Commons A maioria dos teleósteos bombeia água para as brânquias por duas bombas, a de pressão bucal e a de sucção opercular, que possuem válvulas e criam uma corrente contínua e unidirecional. Alguns teleósteos pelágicos como o atum são incapazes de bombear água para as brânquias, resolvem esse problema nadando com a boca parcialmente aberta, permitindo assim que a água flua continuamente sobre as brânquias, e isso é chamado de ventilação forçada. Os elasmobrânquios também utilizam a ventilação forçada. 13 UNIDADE Respiração Animal e Músculo e Movimento Pulmões Vimos nesta unidade que alguns animais como os tatuzinhos (isópodas) e os caracóis possuem estrutura funcionalmente semelhante aos pulmões. Note que os dipnoicos são chamados de peixes pulmonados, pois seu órgão respiratório aéreo é muito semelhante aos pulmões dos anfíbios. Acredita-se que esse órgão é uma adaptação da bexiga natatória que se tornou tão vascularizada ao ponto de realizar trocas gasosas diretamente com o ar. Dipnoico significa respiração dupla e esses peixes respiram pelas brânquias quan- do a tensão de O2 na água está normal. No entanto, quando a tensão de O2 na água baixa a nível desfavorável (20mmHg) à respiração branquial, ou em período de seca, eles utilizam o pulmão. No período de seca, enterram-se na lama e permanecem dormentes até o período de cheia. Conhecemos três gêneros desses peixes que vi- vem em lagos ou rios, na América do Sul, o Lepidosiren, na África, o Protopterus e, na Austrália, o Neoceratodus. Algumas espécies absorvem mais O2 pelo pulmão e outras pelas brânquias. O Protopterusé considerado peixe de respiração aérea obrigatória, pois as brânquias não suprem totalmente a demanda de O2 do animal. Alguns Dipnoicos sobrevivem até dois anos enterrados na lama. Ex pl or Existem aproximadamente 400 espécies de peixe que recorrem à respiração aérea, a grande maioria habita rios e lagos nos trópicos, onde a temperatura é mais alta e há menor quantidade de O2 dissolvido na água. Além do pulmão, existem ou- tros mecanismos de respiração aérea. Geralmente, submergem e engolem bolhas de ar e obtêm O2 – isso pode ocorrer na cavidade oral, na cavidade opercular, no estômago, no intestino ou na bexiga natatória, locais que se tornaram muito bem vascularizados e tornaram-se eficientes para tal função. Existem ainda peixes que sofreram adaptações nas brânquias para obtenção de O2 aéreo e os que utilizam a pele. Note que, nesses casos, a respiração aérea é um complemento à respiração branquial aquática. Nos anfíbios, os pulmões pareados são sacos aéreos bem vascularizados, no entanto, não possuem muitos dobramentos e a área de trocas gasosas não é muito grande; e nesse aspecto é considerado menos desenvolvido do que o de peixes pulmonados. A ventilação também se dá por pressão bucal, como nos peixes. A relativa ineficiência dos pulmões quanto à superfície de trocas é recompensada pela respiração efetuada pela pele umedecida. Como vimos na Figura 2, apenas alguns répteis aquáticos absorvem O2 pela pele e em quantidades que não suprem totalmente a demanda de O2 do animal. A maioria deles possui pele impermeabilizada por grossas camadas de queratina. Os pulmões apresentam-se de forma muito variada nos diferentes grupos de répteis e podem apresentar estruturas em forma de colmeia que amplia a superfície de tro- cas gasosas. A ventilação por pressão bucal pode ocorrer, mas a maior parte é por 14 15 sucção devido à expansão do volume pulmonar. Esse tipo de ventilação representa uma evolução a partir de pulmões preenchidos por pressão bucal. Os pulmões das aves são pequenos rígidos e compactos e comunicam-se com sacos aéreos de paredes finas situados entre seus órgãos, que realizam a ventilação e constituem uma adaptação ao voo. Esse sistema de sacos aéreos garante que o pulmão receba ar durante a inspiração e expiração (Figura 5). A inalação de ar para os sacos aéreos ocorre pela contração de músculos torácicos, entre eles, os inter- costais internos, que movimentam o esterno para cima e para baixo e expande a caixa torácica. O ar é expelido da cavidade torácico-abdominal e dos sacos aéreos por compressão dos músculos intercostais externos e abdominais. Esterno: osso achatado, situado na parte anterior da caixa torácica, e a que estão ligadas às costelas.Ex pl or Nos mamíferos, os pulmões alveolares correspondem a uma brilhante adaptação para aumento de superfície destinada às trocas gasosas. Os pulmões desses ani- mais não são sacos ocos. No homem, existem cerca de 750 milhões de alvéolos, perfazendo uma área disponível de 80 m2, o equivalente a uma quadra de tênis. Figura 5 – Fluxo de ar nos pulmões e sacos aéreos das aves Fonte: HILL, et. al; 2012 15 UNIDADE Respiração Animal e Músculo e Movimento Sistema Respiratório Humano Assim como na maioria dos vertebrados, nosso sistema respiratório (Figura 6) tem como principal função a respiração orgânica para as trocas gasosas. No entan- to, participam da fonação, produzem substâncias vasoativas que regulam a pressão arterial, auxiliam na manutenção do pH plasmático e do equilíbrio térmico, entre outras funções. A porção condutora de ar é constituída de nariz externo, cavidade nasal, faringe, laringe e traqueia. O pulmão contém os alvéolos onde acontece a hematose e é a porção respiratória do sistema. Ao passar pela cavidade nasal em direção à nasofaringe, o ar é aquecido e umi- dificado. A orofaringe e a laringofaringe são regiões onde ar e alimento passam ao mesmo tempo. Ao chegar à laringe, passam através das pregas vocais, respon- sáveis pela fonação, em direção à traqueia. Na laringe, encontramos a epiglote, uma cartilagem hialina que atua como válvula impedindo que alimentos deglutidos e corpos estranhos penetrem na traqueia que se ramifica em brônquios direito e esquerdo, pequenas partículas que seguem em direção das vias respiratórias são aderidas ao muco produzido pela mucosa traqueal e varridas em direção à epiglote por células ciliadas. Os brônquios penetram no pulmão e vão se ramificando em tubos cada vez menos espessos, os bronquíolos, para formar a árvore brônquica. Os bronquíolos respiratórios, de menor espessura, desembocam nos sacos alveolares formados pela união de muitos alvéolos (Figura 7). Trato respiratório superior Cavidade nasal Faringe Laringe Trato respiratório inferior Traqueia Brônquio principal Pulmão Figura 6 – Sistema respiratório humano Fonte: Adaptado de Wikimedia Commons Os alvéolos pulmonares (Figura 7) são estruturas em forma bolsinhas altamente irrigadas por uma rede de capilares e com parede muito fina que favorece a hema- tose, a troca dos gases respiratórios. Quando o sangue venoso (saturado de CO2) 16 17 passa pelos capilares alveolares, ocorre a difusão de CO2 para o interior do alvéolo e de O2 do interior do alvéolo para o sangue, que agora se torna arterial. Figura 7 – Estrutura do saco alveolar e do alvéolo Fonte: Moyes & Schulte, 2010 No plasma sanguíneo, o O2 difunde-se para o interior dos eritrócitos e liga-se à hemoglobina. Essa união favorece o desligamento do CO2 que estava na hemoglo- bina. Então o sangue venoso que possuía muitas carboxiemoglobinas (CO2 ligada à hemoglobina) passa a ter muita oxiemoglobinas (O2 ligada à hemoglobina) e passa a ser chamado de sangue arterial. Nos tecidos sistêmicos, o O2 difunde-se para o interior das células para a realização da respiração celular e o CO2 difunde-se para o plasma sanguíneo. Devido à solubilidade do CO2 em água ser maior do que o O2, 7% dele, é transportado dissolvido no plasma sanguíneo, 23% na forma de carbo- xiemoglobina e 70% no forma do íon bicarbonato (HCO3 –) dissolvido no plasma. No interior do eritrócito, o CO2 une-se a H2O pela ação da anidrase carbônica (AC) e transforma-se em bicarbonato que, então, retorna ao plasma. Quando o sangue aproxima-se dos capilares alveolares, o bicarbonato retorna ao eritrócito, une-se a um íon hidrogênio e forma o ácido carbônico (H2CO3), que, por ação da AC, é convertido em H2O e CO2 (Figura 8). 17 UNIDADE Respiração Animal e Músculo e Movimento Equilíbrio Ácido-base do Sangue Devido à solubilidade do CO2 em meio aquoso, sua elevada concentração no plasma baixa o pH sanguíneo, problema que é resolvido com o sistema tampão áci- do carbônico/bicarbonato (H2CO3 / HCO3 –). O pulmão contribui com o equilíbrio do pH sanguíneo. Quando aumenta a liberação do CO2, ocorre acréscimo do pH e, quando diminui a liberação do CO2 na forma de H2CO3, ocorre decréscimo do pH. O rim também participa, de forma mais lenta, na regulação do pH sanguíneo com a eliminação pela urina de HCO3 – H+. Figura 8 Fonte: Moyes & Schulte, 2010 a) Troca gasosa nos tecidos sistêmicos. Note que a AC converte agua e dió- xido de carbono em bicarbonato que vai para o plasma. b) Troca gasosa nos tecidos pulmonares (hematose). Note que o bicarbonato retorna ao eritrócito para novamente ser convertido em gás carbônico. Ventilação Pulmonar e seu Controle Os movimentos inspiratórios e expiratórios estão relacionados com as variações de pressão e com o volume da caixa torácica. Na inspiração, ocorre a contração da musculatura respiratória, o diafragma se achata e desce, os músculos intercostais dirigem as costelas para cima e para frente e, como consequência, amplia-se a cai- xa torácica, aumentando seu volume interno. A pressão interna da caixa torácica reduz e fica menor que a pressão atmosférica e, então, o ar penetra nos pulmões, como se fosse sugado. Na expiração, os músculos respiratórios relaxam, o diafragma fica abauladoe sobe, os músculos intercostais fazem as costelas voltarem à posição original. O vo- lume da caixa torácica diminui e a pressão interna aumenta, forçando a saída do ar. 18 19 Como acabamos de ver, se houver acúmulo de CO2 no sangue, seu pH baixa, ati- vando o centro de controle da ventilação no tronco encefálico composto por neurô- nios localizados no bulbo e na ponte, que envia impulsos ao diafragma e à musculatu- ra intercostal, promovendo sua contração e a realização involuntária dos movimentos respiratórios. De início, ocorre uma hiperventilação, ou seja, o ritmo dos movimentos respiratórios aumenta na tentativa de expulsar o excesso de gás carbônico. A situação se normaliza lentamente e a respiração volta aos níveis habituais. Mecanismos Produtores de Movimento Existem três mecanismos básicos para a movimentação dos seres vivos: ameboi- de, ciliado/flagelado e muscular. O termo ameboide vem do modo de locomoção de um protozoário, a ameba. Os protozoários paramécio e tripanosoma possuem respectivamente locomoção ciliar e flagelar, movimentos natatórios desses micror- ganismos. E o movimento muscular, decorrente do encurtamento de fibras protei- ca, é encontrado nos animais e realiza diversos tipos de movimentos. É comum encontrarmos nos animais células com movimento ameboide, como as do sistema imune, macrófago e neutrófilos, que saem da corrente sanguínea e se locomovem na direção de tecidos infectados. Em muitos animais, os esperma- tozoides são células flageladas que se locomovem do colo do útero até a região do ovário. Os animais possuem células ciliadas especializadas na movimentação de substâncias e células, o óvulo sai do ovário pelo oviducto, que é revestido por célu- las ciliadas e criam uma corrente de dentro para fora. Em animais sésseis como os mariscos, o movimento ciliar cria uma corrente de água através das brânquias para respiração e captura de alimentos. Sésseis: são animais que não possuem capacidade de locomoção, vivem fixos, associados a um substrato. Nos costões rochosos, são muito comuns, por exemplo, cracas, corais, crinoi- des, ostras e algas. Ex pl or Propriedades Fundamentais das Fibras Musculares Os movimentos de um animal ou de substâncias no organismo são realizados por dois tipos de fibras musculares, as estriadas, que possuem um conjunto bem organizado de filamentos proteicos contráteis (miofibrilas) em seu interior, e as lisas, com miofibrilas apenas em sua superfície. No entanto, existem três tipos de tecido muscular, pois as fibras estriadas podem ser esqueléticas ou cardíacas, que com- põem o miocárdio. 19 UNIDADE Respiração Animal e Músculo e Movimento Embora as fibras musculares possuam características morfológicas e funcionais próprias e sua distribuição no corpo seja bem característica, todas têm em comum: 1) a presença de grande quantidade de proteínas contráteis, representadas prin- cipalmente por miosina e actina; 2) a capacidade de gerar movimento ou tensão em consequência da contração – pelo fato de essas células serem alongadas, elas podem sofrer um grande encurtamento longitudinal, gerando movimento, e, se as células se contraem sem que seja permitido um encurtamento, elas geram tensão (tônus) –; e 3) gasto de ATP durante a contração para engatilhar a cabeça da mio- sina na actina e também no relaxamento muscular com o bombeamento ativo de cálcio para o retículo sarcoplasmático. Retículo sarcoplasmático: retículo endoplasmático das células musculares. Ex pl or Note que existem diferentes adaptações musculares para atividades executadas pelos animais, tais como a vibração de estruturas para a sonorização – o peixe- -sapo macho (Opsanus tau) vibra a bexiga-natatória e produz um chamado de aca- salamento do tipo “apito de navio”; a vibração da cauda para chocalhar o guizo na cascavel pode durar até três horas e, nesse caso, repele outras espécies como de costume em animais venenosos. Os músculos dos peixes são adaptados à natação, os das rãs são adaptados à potência para o salto. Nos insetos voadores como os besouros, os músculos de alta potência e frequência são assincrônicos, em outros, como a libélula, os músculos são sincrônicos. Importante! Os peixes-elétricos possuem órgãos elétricos constituídos de eletrócitos, células muscu- lares que não contraem e são adaptadas a gerar correntes elétricas, às vezes, tão fortes que atordoam a presa para captura ou o predador para a fuga, mas as correntes elétricas também auxiliam na exploração do ambiente e na comunicação. Você Sabia? Músculo estriado esquelético O músculo estriado recebe esse nome devido à organização das miofibrilas nas células apresentarem bandas transversais (estrias) quando vistas ao microscópio. O músculo estriado esquelético possui contração voluntária rápida, descontínua e forte e constitui a musculatura do corpo ligada aos ossos, além de alguns poucos músculos não ligados a ossos, como, por exemplo, músculos situados na pele (mús- culos da mímica), orbicular dos lábios e outros. Esses músculos, além de impulsionarem o animal em certa direção, auxiliam na estabilidade do corpo para efetuação de manobras e também são responsáveis pela geração de som. Também são responsáveis por produção de calor, movimentação 20 21 de sangue e linfa, e os esfíncteres auxiliam no controle de volume dos órgãos a exemplo do esfíncter pilórico no fluxo alimentar e esfíncter uretral no fluxo urinário. Esfíncter: músculo anular, que serve para abrir e fechar ductos, orifícios ou canais naturais. Ex pl or As fibras esqueléticas podem ser do tipo I ou II. As fibras do tipo I são denomi- nadas de vermelhas ou oxidativas lentas, sendo seu metabolismo predominante- mente aeróbio e, portanto, com maior quantidade mitocôndrias e mioglobina, que é uma proteína fixadora O2, o que vem a contribuir com a cor avermelhada da fibra. Possuem ciclo de contração e relaxamento mais demorados e são mais resistentes à fadiga muscular. Estão presentes em quantidades maiores nos músculos que rea- lizam atividades de resistência e posturais. As fibras do tipo II, também conhecidas como brancas ou glicolíticas rápi- das, possuem contrações mais potentes do que as vermelhas. Quando um animal desloca-se em seu habitat, está utilizando as fibras vermelhas, mas, se atacado por um predador, seus movimentos de escape serão realizados pelas fibras brancas. Elas possuem maior quantidade de glicogênio que é uma fonte de glicose e enzimas glicolíticas que, ao degradarem a glicose, produzem ATP e ácido lático e, portanto, entram em fadiga rapidamente. Estão mais presentes em músculos de contração rápida e intensa utilizados em atividade que requerem explosão, mas se mantêm ativas por período curto. A carne branca do peito das aves não voadoras é formada de musculatura es- triada pobre em mioglobina. Mas os músculos da coxa, que são muito solicitados nessas aves, são vermelhos e ricos em mioglobina. Compreende-se, portanto, que a quantidade de mioglobina é proporcional ao grau de atividade de cada músculo. Assim, você distingue a carne branca (peito) da carne escura (coxa), nas aves. Os mamíferos apresentam abundância de mioglobina e, portando, carne avermelhada. Invertebrados como moluscos e artrópodes também apresentam músculo estria- do para realização de movimentos rápidos e voluntários. Músculo estriado cardíaco As fibras estriadas cardíacas compõem o miocárdio e são encontradas tam- bém na porção inicial da aorta. Possuem contração rápida, contínua e involuntária. Essas fibras são anastomosadas, ou seja, comunicam-se por junções intercelulares, que, em conjunto, formam estruturas denominadas de disco intercalar. Músculo liso As fibras musculares lisas são fusiformes com citoplasma sem estrias trans- versais, pois as miofibrilas apresentam-se fixadas na membrana plasmática. Possuem contração fraca, lenta e involuntária. São responsáveis, por exemplo, pela 21 UNIDADE Respiração Animal e Músculo e Movimento ereção dos pelos na pele (arrepio)e pelos movimentos de substâncias em órgãos como esôfago, estômago e intestino, ou seja, músculos associados aos movimentos peristálticos. Participam da constituição das veias e das artérias auxiliando o fluxo de sangue no organismo. Custo Energético do Deslocamento Animal A energia gasta para a locomoção de uma determinada distância por animais terrestre (caminhada ou corrida) é maior do que a gasta por animais voadores para percorrer o mesmo trecho, e os animais que nadam são ainda mais econômicos do que os que voam. Animais de grande tamanho corporal cobrem distâncias com custo peso-específico relativamente menor do que animais de tamanho pequeno. A comparação de gasto energético entre os diferentes tipos de locomoção e entre o tamanho dos animais pode ser observado no Figura 9. Note também neste gráfico que os humanos gastam mais energia nadando do que se locomovendo em meio terrestre, pois não apresentam adaptações ao nado. Figura 9 – O custo mínimo de transporte peso-específico em relação ao peso corporal para animais que correm, voam e nadam e para humanos usando aparelhos manufaturados Fonte: Adaptado de HILL, et. al; 2012 Colabam: ato de comprimir uma estrutura tubular, fazendo com que suas paredes se toquem. Quitina: material que compõe o exoesqueleto dos insetos.E xp lo r A natação de superfície gasta mais energia do que a subaquática, os peixes gas- tam menos energia peso-específico do que invertebrados e mamíferos marinhos (Figura 10). 22 23 Figura 1 0 – O custo mínimo de transporte peso-específi co durante o nado Fonte: Adaptado de HILL, et. al; 2012 23 UNIDADE Respiração Animal e Músculo e Movimento Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Livros Princípios de Fisiologia Animal MOYES, C. D.; SCHULTE, P. M. Princípios de Fisiologia Animal. 2. ed. Porto Alegre (RS): Artmed, 2010. 756p. e-book Vídeos O que é Respiração Comparada? Extensivo Biologia | Descomplica https://youtu.be/weNZuZkTfsE Anatomia Comparada – Sistema Respiratório https://youtu.be/bJT70b1-8TA Leitura Locomoção terrestre e demanda metabólica: uma revisão histórica CHAUI-BERLINCK, J. G. Locomoção terrestre e demanda metabólica: uma revisão histórica. Revista da Biologia. São Paulo, 2013; 11(1):28-37. http://bit.ly/30ApcRi 24 25 Referências GUYTON, A. C.; HALL, J. E. Tratado de Fisiologia Médica. 11. ed. Rio de Janeiro-RJ: Elsevier, 2011. 1128p. HILL, R. W.; WYSE, G. A.; ANDERSON, M. Fisiologia Animal. 2. ed. Porto Alegre-RS: Artmed, 2012. 894p. MOYES, C. D.; SCHULTE, P. M. Princípios de Fisiologia Animal. 2. ed. Porto Alegre-RS: Artmed, 2010. 756p. RANDALL, D.; BURGGREN, W.; FRENCH, K. Eckert Fisiologia Animal: Mecanismos e Adaptação. 4. ed. Rio de Janeiro-RJ: Guanabara Koogan, 2014. 729p. SCHMIDT-NIELSEN, K. Fisiologia Animal e Comparada. 5. ed. São Paulo-SP: Livraria Santos, 2002. 600p. TORTORA, G. J. Corpo Humano – Fundamentos de Anatomia e Fisiologia. 4. ed. Porto Alegre-RS: Artmed, 2010. 537p. 25
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