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BIO L O G I A F i s i o l o g i a P r o f a . R i t a d e C á s s i a X a v i e r d e C a r v a l h o 2a edição | Nead - UPE 2013 Dados Internacionais de Catalogação-na-Publicação (CIP) Núcleo de Educação à Distância - Universidade de Pernambuco - Recife Xxxxxxxx, Xxxxxxxx Xxxxxxxx Xxxxxxxxxxxx / Xxxxxxxx Xxxxxxxx Xxxxxxxx. – Recife: UPE/NEAD, 2009. 76 p. ISBN - xxxxxxxxxxxxxxxxx Xxxxxxxx Xxxxxxxx Xxxxxxxx Xxxxxxxx Xxxxxxxx Xxxxxxxx Xxxxxxxx Xxxxxxxx Xxxxxxxx Xxxxxxxx XXXXXXXXXXX xxxx UNIVERSIDADE DE PERNAMBUCO - UPE Reitor Prof. Carlos Fernando de Araújo Calado Vice-Reitor Prof. Rivaldo Mendes de Albuquerque Pró-Reitor Administrativo Prof. Maria Rozangela Ferreira Silva Pró-Reitor de Planejamento Prof. Béda Barkokébas Jr. Pró-Reitor de Graduação Profa. Izabel Christina de Avelar Silva Pró-Reitora de Pós-Graduação e Pesquisa Profa. Viviane Colares Soares de Andrade Amorim Pró-Reitor de Desenvolvimento Institucional e Extensão Prof. Rivaldo Mendes de Albuquerque NEAD - NÚCLEO DE ESTUDO EM EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Coordenador Geral Prof. Renato Medeiros de Moraes Coordenador Adjunto Prof. Walmir Soares da Silva Júnior Assessora da Coordenação Geral Profa. Waldete Arantes Coordenação de Curso Prof. José Souza Barros Coordenação Pedagógica Profa. Maria Vitória Ribas de Oliveira Lima Coordenação de Revisão Gramatical Profa. Angela Maria Borges Cavalcanti Profa. Eveline Mendes Costa Lopes Profa. Geruza Viana da Silva Gerente de Projetos Profa. Patrícia Lídia do Couto Soares Lopes Administração do Ambiente José Alexandro Viana Fonseca Coordenação de Design e Produção Prof. Marcos Leite Equipe de Design Anita Sousa/ Gabriela Castro/Renata Moraes/ Rodrigo Sotero Coordenação de Suporte Afonso Bione/ Wilma Sali Prof. José Lopes Ferreira Júnior/ Valquíria de Oliveira Leal Edição 2013 Impresso no Brasil Av. Agamenon Magalhães, s/n - Santo Amaro Recife / PE - CEP. 50103-010 Fone: (81) 3183.3691 - Fax: (81) 3183.3664 Fisiologia Comparada Profa. Rita de Cássia Xavier de Carvalho Carga horária I 60H EmENTa Estudo da fisiologia dos sistemas em orga- nismos invertebrados e vertebrados e na es- pécie humana através de uma abordagem comparativa. oBJETiVo gEral Relacionar estrutura e função dos diversos grupos animais, considerando os aspectos evolutivos, adaptativos e comportamentais. aprEsENTaÇÃo da disCipliNa O tema central deste livro-texto é a Fisiolo- gia Animal Comparada. O primeiro capítulo, abordando sobre Alimento e Energia, con- templa questões voltadas à nutrição animal: como o alimento é processado no sistema digestório; como a energia é obtida dos ali- mentos e fornecida através do metabolismo energético e como a produção de calor me- tabólico e o acúmulo de reservas alimentares são usados para a regulação da temperatura. O segundo capítulo Balanço de Água e Íons trata do equilíbrio osmótico e iônico e de como os animais o mantêm através dos processos de osmorregulação no ambiente aquático e terrestre e de suas unidades ex- cretoras renais ou extra-renais. No terceiro capítulo, Transporte de Gases, é considerada a circulação dos invertebrados e vertebrados e a respiração aquática e aérea e o modo como os sistemas circulatório e respiratório trabalham em conjunto, no trans- porte de oxigênio e gás carbônico. No último capítulo, Controle e Integração, será visto como os sistemas nervoso e endó- crino trabalham na coordenação das funções dos demais sistemas, dentre estes, o sistema sensorial e o controle do movimento animal. Bom estudo! c a p ít u lo 1 7 alimENTo E ENErgia Profa Rita de Cássia Xavier de Carvalho Carga horária I 15H oBJETiVos EspECÍFiCos • Relacionar os tipos de alimento e os me- canismos de ingestão. • Estabelecer diferenças entre a estrutura e a função de diferentes porções do canal alimentar. • Estabelecer relação entre taxa metabóli- ca e tamanho. • Classificar os animais com relação à tem- peratura corporal. iNTrodUÇÃo Neste capítulo, você estudará as necessida- des de nutrientes nos animais e percebe- rá que o equilíbrio energético depende de moléculas nutrientes presentes no alimento ou sintetizadas a partir destes. Serão abor- dados os tipos de alimento, mecanismos de ingestão, tipos de digestão e de siste- mas alimentares quanto a sua organização e adaptações, com um enfoque na digestão de celulose no estômago de ruminantes e a fermentação em não ruminantes e, ainda, sobre a estrutura e a função do canal alimen- tar. Serão discutidos os fatores orgânicos e ambientais que influenciam a taxa metabóli- ca, como pode ser medida, as formas de ar- mazenamento de energia e as relações entre c a p ít u lo 1 8 o tamanho e a atividade sobre o custo energé- tico da locomoção. Como a temperatura inter- fere sobre a taxa metabólica, será abordada a maneira como os animais são classificados em relação a sua capacidade de produzir calor, e apresentadas interessantes adaptações para o frio e para o calor, sendo, também, avaliados os custos e os benefícios de ser um endotermo ou ectotermo. 1. NUTriÇÃo aNimal Os alimentos fornecem a energia necessária para o desempenho das funções vitais, já que contêm matéria-prima para formar e manter o mecanismo celular e metabólico para os processos dinâmicos, como o metabolismo, movimento, crescimento e reprodução. Qual- quer que seja a forma de captura, ingestão e digestão do alimento, todos os animais devem requerer quantidade e variedade apropriada de substâncias nutritivas, o que corresponde as suas exigências nutricionais. 1.1 EQUilÍBrio ENErgÉTiCo O equilíbrio energético requer que a ingestão calórica durante um dado período de tempo seja igual ao número de calorias consumidas para a manutenção e o reparo dos tecidos e para o trabalho (metabólico e de outros tipos) mais a produção de calor corpóreo. Assim: produção calórica = caloria consumida pelos tecidos + calor produzido. Se o gasto de energia for maior que o consu- mo de alimento, a ingestão insuficiente de ca- lorias pode ser compensada temporariamente pelo consumo de substâncias corporais de re- serva, gordura, carboidratos ou proteínas dos tecidos, inicialmente, a gordura, produzindo perda de peso. Se o consumo de alimento for maior que o gasto de energia, o excesso será armazenado como gordura, independente- mente da composição do alimento. Os ani- mais diferem em sua capacidade de sintetizar substâncias fundamentais para manutenção e crescimento. Certos co-fatores, como o zinco e o iodo ou alguns aminoácidos, são essen- ciais para reações bioquímicas importantes ou para a produção de moléculas dos teci- dos. Estes itens só podem ser obtidos através das fontes alimentares e são denominados de nutrientes essenciais. 1.2 EXigÊNCias NUTriCioNais Os nutrientes são substâncias, que servem como fonte de energia metabólica e como matéria-prima para o crescimento, o reparo de tecidos e a produção de gametas. Existe uma grande variação entre as necessidades nutri- cionais de diferentes espécies que está relacio- nada com variações fenotípicas no tamanho e na composição do corpo e, também, com a idade, o sexo e o estado reprodutivo. Animais menores necessitam de mais alimento por gra- ma de peso corpóreo para suprir energia do que um animal maior, visto que sua taxa me- tabólica por unidade de peso corpóreo é mais alta. Do mesmo modo, animais com tempe- ratura corpórea alta requerem mais alimento para satisfazerem sua maior necessidade ener- gética. As exigências nutricionais incluem: • fonte de energia suficiente para manter to- dos os processos corpóreos, • proteínas e aminoácidos suficientes para manter um equilíbrio de nitrogênio posi- tivo (i.e., para evitar perda de proteínas corpóreas), • água e minerais suficientes para compensarsuas perdas ou incorporações nos tecidos do organismo e vitaminas e aminoácidos essenciais não sintetizados no organismo. 1.3 molÉCUlas NUTriENTEs Estão aí incluídos a água, as proteínas e os aminoácidos, os carboidratos, as gorduras e os lipídios, os ácidos nucléicos, os sais inorgâ- nicos e as vitaminas. Água – esta substância é a mais universalmen- te importante para os tecidos animais, poden- do constituir 95% ou mais do peso de alguns tecidos. A água perdida pela evaporação, de- fecação ou micção é reposta pelo ato de beber e pela ingestão de alimento. Proteínas e aminoácidos – as proteínas podem ser usadas como componentes estruturais de tecidos, como enzimas, e também como fonte c a p ít u lo 1 9 de energia após a degradação até aminoáci- dos. A capacidade de sintetizar aminoácidos difere entre as espécies. Os aminoácidos, que são necessários para a síntese de proteínas, que não podem ser sintetizados por um ani- mal, são chamados aminoácidos essenciais. Carboidratos – são usados como fonte primá- ria de energia química (glicose-6-fosfato) ou como estoque (glicogênio). Também podem ser convertidos em metabólitos intermediários ou em gorduras. Por outro lado, a maioria dos animais também pode converter proteínas e gorduras em carboidratos. As principais fontes de carboidratos são os açúcares, os amidos e a celulose, encontrados nas plantas, e o glicogê- nio, estocado nos tecidos animais. Lipídios – as moléculas de lipídios são especial- mente adequadas para reserva concentrada de energia, visto que cada grama de gordura for- nece mais que o dobro da quantidade de ener- gia calórica que as proteínas e os carboidra- tos, podendo estocar mais energia por volume unitário de tecido. A gordura é comumente estocada em animais para os períodos de de- ficiência calórica, como durante a hibernação, quando a energia utilizada excede a ingestão. Os lipídios são importantes constituintes da membrana plasmática e de organelas e da bainha de mielina dos axônios. Os lipídios in- cluem: ácidos graxos, monoglicerídios, triglice- rídios, esteróis e fosfolipídios. Ácidos nucléicos – todas as células animais pa- recem ser capazes de sintetizá-los a partir de precursores simples. A ingestão de ácidos nu- cléicos intactos não é necessária do ponto de vista nutricional. Sais orgânicos – sais, como o cloreto, sulfato, fosfato e carbonato de metais, como o cálcio, potássio, sódio e magnésio, são importantes constituintes dos líquidos intra e extracelula- res. O fosfato de cálcio presente na hidroxia- patita dá rigidez aos ossos de vertebrados e às conchas de moluscos. O ferro, o cobre e outros metais são necessários como co-fatores e para o transporte e ligação de oxigênio nos pigmentos respiratórios. Enzimas requerem átomos de metais para completar suas funções catalíticas. Os tecidos necessitam dos íons Ca, P, K, Na, Mg, S e Cl em pequenas quantidades e dos íons Mn, Fe, I, Co, Cu, Zn e Se, em me- nores concentrações. Vitaminas – são necessárias em pequenas quantidades para agir como co-fatores para enzimas. A capacidade de sintetizar diferentes vitaminas difere entre as espécies. As vitaminas essenciais que um animal não pode produzir são obtidas através de plantas e, também, da carne da dieta animal ou de microorganismos intestinais. Muitos animais sintetizam a vitami- na C (ácido ascórbico), mas não o homem, que também é incapaz de produzir as vitaminas K e B12, produzidas por bactérias intestinais. As vitaminas lipossolúveis, como A, D, E e K, são armazenadas nos depósitos de gordura do corpo. As vitaminas hidrossolúveis não são armazenadas e devem ser ingeridas ou produ- zidas continuamente, para a manutenção dos níveis adequados. 1.4 Tipos dE alimENTo E mECaNismos dE iNgEsTÃo 1.4.1 ALIMENTO SOLÚVEL Este método é usado por animais que são me- nos dependentes da captura e de órgãos di- gestórios especializados, utilizando alimento que se encontra dissolvido na água. Ex: endo- parasitas, como tênias e fascíolas, invertebra- dos aquáticos, como moluscos e crustáceos. Os endoparasitas são envolvidos por tecidos ou líquidos do tubo alimentar dos hospedei- ros, os quais são ricos em nutrientes. A tênia não possui trato digestório nem enzimas, logo os nutrientes são obtidos através da superfície corpórea (retirado do intestino do hospedeiro). 1.4.2 ALIMENTO LÍQUIDO Este método envolve uma variedade de estru- turas e mecanismos nos vertebrados e inver- tebrados: perfurar e sugar, cortar e lamber. O mecanismo de perfurar e sugar ocorre em platelmintos, nematelmintos, anelídeos e ar- trópodes. Pernilongos, pulgas, percevejos são vetores de doença ou retiram seiva de plantas. Nos insetos que sugam, geralmente as peças bucais têm a forma de probóscides. Em ani- mais hematófagos, como insetos e morcegos, pode haver secreção de substâncias anticoa- c a p ít u lo 1 10 gulantes e anestésicas na saliva. Isso permite a alimentação por longos períodos. As sangues- sugas usam como anticoagulante a heparina. Morcegos vampiros usam dentes para perfurar o corpo do gado e lambem o sangue que extra- vasa das feridas. Outros exemplos de alimento líquido são o néctar, mel, leite. Além de mamí- feros, há animais que produzem leite, como pombos, pinguins para alimentar os filhotes. 1.4.3 ALIMENTO EM PEQUENAS PARTÍCULAS Neste método, os itens alimentares (do fito- plâncton ou zooplâncton) são transportados através de estruturas especializadas, por cor- rentes de água naturais ou geradas pelo mo- vimento de cílios ou flagelos, como ocorre na maioria dos filtradores marinhos, animais sésseis pequenos. Ex: esponjas, braquíopodes, lamelibrânquios, tunicados. As partículas são ingeridas com o auxílio de cílios, flagelos ou secreção de muco, uma mistura espessa de mucopolissacarídeos, que tem um importan- te papel na ingestão por filtração. Microorga- nismos aquáticos e partículas de alimento são envolvidos por uma camada de muco, que re- cobre o epitélio ciliado, sendo transportados à boca por batimento ciliar. Aves também se ali- mentam de plâncton (flamingos, procelárias, pássaro baleia). Inclusive as maiores baleias e tubarões alimentam-se de plâncton ao invés de carne, evitando redução na captação de energia em outros níveis tróficos da cadeia alimentar. 1.4.4 ALIMENTO EM GRANDES PARTÍCULAS Os animais utilizam estruturas, como bicos, dentes, rádula, moela, para capturar, cortar, raspar e triturar. Aves e minhocas são animais com moela, que tem ação de trituração, apresentando paredes musculares espessas. Muitos vertebrados têm a boca e a cavidade oral com vários tipos de mandíbulas ou den- tes que servem para a quebra mecânica do alimento em menores partículas (mastigação), facilitando a ação das enzimas. 1.4.5 SUPRIMENTO SIMBIÔNTICO DE ALIMENTO Depende da relação de simbiose entre orga- nismos, como ocorre entre as algas verdes e os celenterados. No interior das células, as algas utilizam a amônia do hospedeiro para a sín- tese protéica e fornecem carboidratos, como a glicose. Além de celenterados, como os co- rais e a hidra, as esponjas, os platelmintos, os crustáceos também podem suprir seu alimento desta forma. 2. sisTEma digEsTÓrio As principais funções do sistema disgestório são a captação do alimento, digestão, absor- ção e eliminação do material alimentar não di- gerido. Citar outras funções do sistema.defesa. Digestão - processo que envolve a hidrólise de macromoléculas do alimento em moléculas menores, possibilitando a sua absorção pelo organismo. Esta hidrólise ocorre devido à ação de enzimas presentes no trato digestório. A atividade das enzimas é influenciada pela tem- pe-ratura e pelo pH da solução, e cada enzima tem o seu pH ótimo que corresponde a uma faixa estreita, na qual a enzima tem atividade mais alta. (Tabela 1) 2.1 Tipos dE digEsTÃo Digestão intracelular – trata-se do tipo mais primitivo de digestão. Ela ocorre nas células,no interior do vacúolo digestivo, através da ação de enzimas que auxiliam na digestão de carboidratos, lipídios e proteínas. A digestão intracelular acontece em esponjas, celentera- dos, ctenóforos e turbelários. Digestão extracelular – é realizada através de um trato digestório bem desenvolvido, o que permite a ingestão de grandes pedaços de alimento e também que enzimas ajam sobre o alimento ao longo do trato. Ela ocorre em invertebrados, como platelmintos, asquelmin- tos, moluscos, insetos, crustáceos e todos os vertebrados. Digestão extracorpórea – é realizada fora do corpo, como na estrela-do-mar. Ela apresenta estômago eversível, que digere parcialmente o alimento, sendo ele depois introduzido no corpo. Aranhas perfuram com as mandíbulas o corpo do inseto, lançam sucos digestivos no interior da presa, liquefazendo os tecidos e, depois, os ingerem por sucção. c a p ít u lo 1 11 2.2 CaNal alimENTar O canal alimentar tem sua luz externa ao corpo e possui esfíncteres e outros dispositivos que guardam sua entrada e saída. A organização tubular é eficiente devido ao fluxo unidirecional do material alimentar. O alimento ingerido é submetido a vários tratamentos mecânicos, químicos e bacterianos, enquanto atravessa o canal, sendo misturado a sucos digestivos (enzimas e ácidos). Depois de ser quimicamente quebrado e digerido, é absorvido e transportado pelo sistema circula- tório. O material que não foi digerido ou absorvido é estocado e expelido como fezes no processo de defecação, junto com restos bacterianos. Tabela 1 - Distribuição e atividade das enzimas ao longo do canal alimentar. (Adaptado de Randall et all., 2000). Ingestão Trato gastrointestinal cefálico Trato gastrointestinal proximal Trato gastrointestinal médio Trato gastrointestinal distal Defecação Estocagem dos resíduos Absorção -> Assimilação (secreções básicas) Digestão (Secreção ácida) Condução Estoque Digestão Área de recepção Boca Cavidade Bucal Faringe Esôfago Papo Estômago Divertículo digestivo Intestino Reto Ânus Intestino anterior Intestino médio Intestino posterior Figura 1 - Principais divisões no canal alimentar nos vertebrados (A) e invertebrados (B). (Adaptado de Barnes et all., 1995, e Randall et all., 2000). c a p ít u lo 1 12 Geralmente os canais alimentares são dividi- dos, de acordo com a estrutura e a função, em quatro partes principais: • CEFÁLICA (recepção do material ingerido) • PROXIMAL (condução, estocagem e diges- tão do material ingerido) • MÉDIA (digestão e absorção dos nutrientes) e • DISTAL (absorção de água e defecação). 2.2.1 TRATO DIGESTÓRIO CEFÁLICO Localiza-se na região anterior do trato diges- tório. Aí se encontram todas as estruturas para a captura do alimento. Já pode começar a haver digestão, por haver secreção de enzi- mas. Há produção de substâncias paralisan- tes para captura da presa (veneno das cobras peçonhentas), anticoagulantes, ácidos, (para dissolver a concha dos animais). Consiste em órgãos e estruturas para a ingestão de ali- mentos e deglutição (boca, faringe e estrutu- ras associadas: bico, dentes, língua e glându- las salivares). Glândulas salivares – estão presentes na maioria dos metazoários, exceto em celen- terados, platelmintos e esponjas, que se alimentam de pequenas partículas. A saliva auxilia na ingestão do alimento e na diges- tão mecânica e, frequentemente, química. Sua função principal é a lubrificação, para facilitar a deglutição. A saliva contém muco, bicarbonato de sódio e, ainda, agentes adi- cionais: enzimas digestivas, toxinas e anti- coagulantes (animais que sugam e lambem sangue). O muco contém mucopolissacarí- deos (mucina). O bicarbonato de sódio fun- ciona como tampão para os ácidos orgâni- cos e meio de fermentação adequado para os microorganismos no rúmen. Língua – é uma inovação nos cordados, usada para segurar o alimento, ajudando na digestão mecânica, na deglutição e, também, na qui- miorrecepção (botões gustativos). As cobras obtêm amostras olfativas do ar e do substrato com a língua e a passam nos órgãos de Jaco- bson (olfação). 2.2.2. TRATO DIGESTÓRIO PROXIMAL Localiza-se na faringe, esôfago e estômago. Neste sítio, ocorre a condução e o armazena- mento do alimento. Pode possuir, ainda, a mo- ela, papo, cecos gástricos e proventrículo. Esôfago – o esôfago conduz o alimento do trato digestório cefálico para as áreas di- gestórias, geralmente o estômago. Em cor- dados e alguns vertebrados, a condução se dá da cavidade bucal ou faringe, por meio de movimentos peristálticos. Em alguns animais, esta região contém um segmento expandido em forma de saco (papo), utilizado para es- tocar o alimento antes da digestão, como as sanguessugas (passam semanas e meses, sem se alimentarem). Estômago – em muitas espécies, serve de local para armazenar o alimento e iniciar a diges- tão. A maioria dos vertebrados inicia a diges- tão das proteínas, secretando pepsinogênio e HCl, o que torna o meio ácido para a ativação da pepsina. A contração da sua parede mus- cular propicia a mistura mecânica do alimento com a saliva e as secreções gástricas. O estô- mago é classificado em monogástrico (quando é um único tubo ou saco muscular como em vertebrados carnívoros ou onívoros) e digástri- co (quando possui muitas câmaras, como nos ruminantes). O estômago dos ruminantes é dividido em quatro compartimentos: rúmen, retículo, omaso e abomaso. Figura 2 - Divisões do estômago de bovino. (Adaptado de Schmidt- -Nielsen, 2002). Cecos gástricos – insetos possuem, em vez de estômago, bolsas externas revestidas de cé- lulas, que secretam enzimas e células fagoci- tárias, as quais englobam o alimento parcial- mente digerido e continuam o processo de c a p ít u lo 1 13 digestão. A digestão e a absorção são comple- tadas nos cecos. O restante do canal alimentar está relacionado com o equilíbro hídrico e ele- trolítico e com a defecação. Moela e papo – a moela é o estômago me- cânico nas aves, nos teleósteos e nos répteis. Antes de passar pela moela, o alimento pas- sa pelo papo ou estômago químico, que con- tém as enzimas digestivas. Algumas aves têm moela, papo ou ambos. Areia, seixos e pedras são deglutidos e, então, alojados na moela, auxiliando na quebra de grãos. Peixes, como a tainha, apresentam moela. Em aves, o papo é usado para fermentar ou digerir alimentos, como ocorre em pinguins e pombos que re- gurgitam alimentos modificados no papo para alimentarem os seus filhotes. Proventrículo e estômago – em insetos, o pa- pel do estômago é cumprido pelo proventrí- culo, órgão para moagem do alimento, se- melhante à moela das aves. Nos crustáceos decápodes, esta estrutura é denominada de estômago. 2.2.3 TRATO DIGESTÓRIO MÉDIO Localiza-se no intestino anterior ou delgado em associação às glândulas acessórias: pân- creas, fígado e hepatopâncreas. É a principal região de absorção de água (mucosa fina com células absorventes). Este segmento varia mui- to em invertebrados. Nos insetos com cecos, o intestino distal não possui função digestória. O intestino contém grande número de bactérias, protozoários e fungos que compõem a flora intestinal, sintetizam vitaminas essenciais e contribuem enzimaticamente para a digestão, sendo, também, digeridos. Em vertebrados, é o principal local para a digestão química e absorção das proteínas, gorduras e carboidra- tos. Em carnívoros, o intestino é mais curto e mais simples do que em herbívoros, refletindo o menor tempo gasto para digerir as carnes do que os vegetais. Intestino delgado – é dividido em duodeno, jejuno e íleo. O duodeno recebe secreções do fígado e pâncreas e realiza digestão e absorção dos nutrientes, assim como o jejuno. O íleo re- aliza absorção. Fígado – produz sais biliares, que são transpor- tados pela bile para o duodeno por meio do ducto biliar. A bile tem importantes funções na digestão dos lipídios, já que emulsifica a gor- dura e ajuda a neutralizara acidez do duode- no originada pela secreção gástrica. Pâncreas – divide-se em pâncreas endócrino e exócrino. A porção exócrina produz o suco pancreático, que contém muitas proteases, li- pases e carboidrases, essenciais à digestão in- testinal em vertebrados. Este suco é liberado no duodeno pelo ducto pancreático e, tam- bém, neutraliza a acidez. 2.2.4 TRATO DIGESTÓRIO DISTAL Localiza-se no intestino posterior ou intesti- no grosso, reto, cloaca e ânus. Sua principal função é a de estocar os restos de alimento digerido. Deste material são absorvidos íons inorgânicos, e o excesso de água retorna para o sangue. Em vertebrados, esta função é rea- lizada na última porção do intestino delgado (íleo) e no intestino grosso. Em alguns insetos, as fezes tornam-se quase secas por mecanis- mo de reabsorção de água no reto. É o princi- pal local para a digestão bacteriana do conte- údo intestinal. Ocorre, também, a formação de fezes, que daí passa para a cloaca ou para o reto, sendo expelidas através do ânus. Em muitos vertebrados, incluindo o peixe-bruxa, peixe pulmonado, elasmobrânquios, anfíbios adultos, répteis, pássaros e uns poucos ma- míferos (monotremos, marsupiais, alguns in- setívoros e uns poucos roedores), o intestino distal termina em uma cloaca. Em espécies cujos ureteres não terminam na genitália ex- terna, mas, na cloaca, esta realiza reabsorção de água e íons da urina. 2.3 CoNTrolE da digEsTÃo Os sistemas nervoso e endócrino coordenam a atividade muscular (motilidade) e secretora do trato gastrointestinal, que é influenciada pela ação de nervos autonômicos (principal- mente o vago e por fibras simpáticas), ple- xos nervosos internos das paredes do próprio trato e hormônios secretados por glândulas gastrointestinais. c a p ít u lo 1 14 2.4. digEsTÃo da CElUlosE A enzima celulase é sintetizada por protozoá- rios ciliados, flagelados, algumas espécies de moluscos, de crustáceos, de insetos, como os cupins e as traças. Celulases verdadeiras foram encontradas no trato intestinal de muitos in- vertebrados, que se alimentam de madeira e produtos vegetais similares. Em muitos casos, a digestão é realizada por microorganismos simbiônticos, que vivem no trato digestório do hospedeiro. Ela ocorre, também, em mamíferos ruminantes e em vertebrados não mamíferos. 2.4.1 DIGESTÃO DA CELULOSE EM VERTEBRADOS RUMINANTES A celulase encontra-se ausente nas secreções dos vertebrados. Nos mamíferos, a única for- ma de obter energia da celulose ocorre através da digestão simbiôntica. Os vertebrados rumi- nantes, como o gado, ovelha, cabra, realizam a digestão simbiôntica da celulose graças à presença de ciliados no rúmen, compartimen- to do estômago no qual o alimento, mistura- do com a saliva, sofre fermentação intensa. As bactérias e os protozoários, em grande quantidade, degradam a celulose. Os produ- tos da fermentação (ácido acético, propriônico Alguns hormônios peptídicos gastrointestinais Homônio Tecidos de origem Tecido alvo Ação primária Estímulo para a secreção Gastrina Estômago e duodeno Células secretoras e músculo do estômago Produção e secreção de HCl; estí- mulação da motilidade gástrica Atividade do nervo vago; peptídios e proteínas no estômago Colecistocinina (CCC)* Intestino delgado superior Vesícula biliar Contração da vesícula liliar Ácidos graxos e aminoácidos no duodeno Secretina* Duodeno Pâncreas, células secretoras e mús- culos do estômago Secreção de suco pancreático, Se- creção deágua e NaHCO3; inibição da motilidade gástrica Alimento e ácido forte no estômago e no intestio delgado Peptídeo inibitório gástrico (PIG) Intestino delgado superior Mucosa e muscu- latura gástricas Inibição da secreção e da motilida- de gástrica Monossacarídeos e gorduras no duodeno Bubogastrona Intestino delgado superior Estômago Inibição da secreção e da motilida- de gástrica Ácidos no duodeno Peptídeo intestinal vasoativo (PIV)* Duodeno Estômago, intes- tino Aumento do fluxo sanguíneo: se- creção pancreática líquida; inibição da secreção gástrica Gorduras no duodeno Enteroglucagon Duodeno Jejuno, pâncreas inibição da motilidade e da secre- ção Carboídratos no duodeno Encefalina* Intestino delgado Estômago, pâncre- as, intestino Estimulação da secreção de HCl; inibição da secreção de enzima pancreática e da motilidade intestinal Condições alcalinas no estô- mago e duodeno Somatostarina* Intestino delgado Estômago, pâncre- as, intestino, arte- riolas esplâncnicas Inibição da secreção de HCl da secreção pancreática da motilidade intestinal e do fluxo sanguíneo esplâncnico Ácido na luz do estômago Tabela 2 – Ação hormonal sobre o canal alimentar. (Randall et all., 2000). e butírico) são absorvidos e utilizados para a nutrição. O CO2 e CH4 formados no processo são liberados por eructação (arroto). Na rumi- nação, ocorre regurgitação e remastigação de substâncias fibrosas indigestas, que, depois, são engolidas novamente. O alimento entra mais uma vez no rúmen, sofrendo outra fer- mentação. Os produtos desta fermentação correspondem, no gado, a 70% do total da demanda energética. O alimento processado, após a segunda fermentação, passa para as outras partes do estômago, sendo submeti- das aos sucos digestivos no abomaso. Este é o compartimento que contém enzimas e é cha- mado de estômago digestório. Em bovinos, o estômago pode pesar cerca de 200Kg, sendo que, aproximadamente 2Kg deste peso deve- -se à quantidade de protozoários. Os ciliados do rúmen são organismos anaeróbios obriga- tórios, suprindo as necessidades energéticas através do processo fermentativo. Os produtos da fermentação são utilizados pelo hospedeiro no metabolismo oxidativo. Os microorganismos sintetizam proteínas, contri- buindo tanto para a síntese protéica quanto para a qualidade desta, já que sintetizam todos os aminoácidos essenciais. A síntese protéica no rúmen é importante quando o animal se c a p ít u lo 1 15 alimenta com ração de baixa qualidade. Os mi- croorganismos também conseguem sintetizar algumas vitaminas importantes, como várias do grupo da vitamina B (principalmente B12). 3. mETaBolismo ENErgÉTiCo Ao conjunto de reações químicas que ocor- rem num organismo para a produção e uso de energia química necessária ao desempenho de suas funções vitais, denominamos de me- tabolismo energético. Este pode ser aeróbio ou anaeróbio sendo expresso através da taxa metabólica. 3.1 TaXa mETaBÓliCa A conversão de energia química em calor é medida como a taxa metabólica e refere-se ao gasto de energia por unidade de tempo. É expressa em calorias por unidade de tempo e unidade de peso, referindo-se à taxa metabó- lica massa-específica. O termo caloria refere- -se à quantidade de calor necessária para ele- var a temperatura de 1g de água em 1˚C (de 14,5˚C para 15,5˚C). A taxa metabólica pode ser classificada em diferentes níveis de utili- zação de energia, dependendo das condições em que o animal se encontra no campo ou em laboratório. A taxa metabólica basal é a taxa estável de metabolismo energético medida em condi- ções de mínimo estresse, em repouso e sem nenhum estresse térmico e após o jejum, quando cessam os processos digestórios e absortivos. A taxa metabólica de campo é a taxa média de utilização de energia, quando o animal executa suas atividades normais desde a ina- tividade completa a um esforço máximo, caso esteja capturando uma presa ou fugindo de um predador. 3.1.1 FATORES QUE AFETAM A TAXA METABÓLICA São fatores orgânicos (intrínsecos) e ambien- tais (extrínsecos), tais como: massa corpórea, forma, idade, sexo, estado nutricional, tipo de alimento metabolizado, disponibilidade de ali- mento, fase reprodutiva, estado reprodutivo, estresse, grau de atividade, ritmos biológicos, temperatura, tensão de oxigênio do meio, sali- nidade, sazonalidade, etc. 3.2 mEdidas da TaXa mETaBÓliCa É útil medir a taxa metabólica parase calcula- rem as necessidades energéticas de um animal. Calorimetria – é a determinação da taxa metabólica através da quantidade de calor liberado por certo período. A calorimetria pode ser realizada em um calorímetro, uma câmara bem isolada, na qual é colocado um animal, sendo medida a perda de calor pelo aumento da temperatura em uma massa de água de volume conhecido, usada para re- ceber o calor emitido pelo corpo do animal. Também pode ser medido o conteúdo de energia contido na comida ou nos produtos de excreção pelo calor de combustão, que é liberado desses materiais em uma bomba ca- lorimétrica ou câmara de combustão. A taxa metabólica é igual à taxa de energia quími- ca ingerida menos a taxa de energia química perdida pelo animal. Respirometria – as medidas da captação de O2 (MO2) e da produção de CO2(MCO2), ex- pressas em moles de gás por hora, podem ser usadas para se calcular a taxa metabóli- ca. Este método é chamado de respirometria. Geralmente o O2 é mais fácil de ser medido do que o CO2, sendo a MO2 mais comumente descrita como medida da taxa metabólica. O consumo de oxigênio é mais usado para me- dir a taxa metabólica, porque é uma medida prática da taxa metabólica, devido à quanti- dade de calor produzida para cada litro de oxigênio, usado no metabolismo, permane- cer quase constante, independentemente de gordura, carboidrato ou proteína serem oxi- dados. Além disso, as reações químicas im- portantes são aeróbias, e os estoques de O2 no corpo são pequenos, por isso o consumo de O2, do ar ou da água que flui pelos órgãos de troca gasosa representa, com precisão, a taxa metabólica. c a p ít u lo 1 16 Calor produzido e oxigênio consumido no metabolismode alimentos comuns. Os valo- res para as proteínas dependem de o produto metabólico final ser uréia ou ácido úrico. A proporção entre dióxido de carbono e oxigênio usada é conhecida como quociente respiratório (QR). (Dados baseados em Lusk, 1931; King, 1957.) Alimento (a) kcal g-1 (kj g-1) (b) litro C12g -1 (c) kcal por litro O2 (kj por litro O2) (d) QR = CO2 formado O2 usado Carboídrato 4,2 (17,6) 0,84 5,0 (20,9) 1,00 Gordura 9,4 (39,3) 2,0 4,7 (19,7) 0,71 Proteína (uréia) 4,3 (18,0) 0,96 4,5 (18,8) 0,81 Proteína (ácido úrico) 4,25 (17,8) 0,97 4,4 (18,4) 0,74 Tabela 3 – Calor produzido e oxigênio consumido durante o metabolismo dos principais substratos. (Schmidt- -Nielsen, 2002). 3.3 QUoCiENTE rEspiraTÓrio É a relação entre o volume de CO2 produzido e o volume de O2 consumido em certo período. O QR fornece informações sobre o combustí- vel usado no metabolismo. Em condições de repouso e estáveis, o QR é característico para o tipo de molécula catabolizada (carboidrato, gordura ou proteína). Em geral, o QR encon- tra-se entre 0,7 e 1,0. O valor de QR próximo a 1.0 sugere, principalmente, metabolismo de carboidrato e próximo a 0.7 sugere metabolis- mo de gordura. 3.4 ENErgia armaZENada A forma mais eficiente de se armazenar ener- gia é acumulando gordura, porque a oxidação da gordura produz 38,9KJ/g (9,3Kcal/g), mais que o dobro de energia que o carboidrato, sendo mais adequada para o armazenamen- to de energia (veja figura). Além de a energia produzida por grama de carboidrato ser me- nor que a de gordura, ele é estocado na forma hidratada (mais de 4 a 5g de água/grama de carboidrato), enquanto a gordura é armazena- da em um estado desidratado. Isto é vantajo- so para a economia de peso. Os carboidratos tendem a ser usados para fornecerem energia mais rapidamente, aumentando, assim, o me- tabolismo. Por exemplo, durante a atividade. As gorduras são metabolizadas aerobicamente em resposta a demandas de energia mais pro- longadas e durante o jejum, quando os esto- ques de carboidratos foram diminuídos. O gli- cogênio é a reserva usada em animais sésseis, como ostras e mariscos e parasitas intestinais, expostos frequentemente a condições de bai- xo ou nenhum oxigênio e apresentando pouca necessidade de economia de peso. Aves migra- tórias ou insetos acumulam gordura, porque isso reduz o peso, o que é importante durante o vôo. O metabolismo oxidativo é mais van- tajoso. No metabolismo anaeróbio, quando 1 mol de glicose é degradado em 2 moles de ácido lático, são sintetizados 2 moles de ATP, que ficam disponíveis para suprirem energia. No metabolismo aeróbio, quando ocorre a oxi- dação completa de 1mol de glicose, são sinte- tizados 36 moles de ATP. Portanto, o produto da quebra anaeróbia é pequeno em relação à quebra aeróbia. 3.5 aÇÃo diNÂmiCa EspECÍFiCa Os animais podem apresentar taxas metabó- licas diferentes, dependendo do estado pós- -absortivo. Esta resposta é denominada de ação dinâmica específica (ADE). O processo de digestão e assimilação dos alimentos promove um aumento marcante no metabolismo. 3.6 TamaNHo CorpÓrEo X TaXa mETaBÓliCa O tamanho corporal é uma das características físicas mais importantes que afetam a fisiolo- gia animal, e variações na massa corporal têm grandes efeitos sobre a taxa metabólica. Os animais pequenos têm de respirar sob taxas mais elevadas por unidade de massa corporal do que os animais grandes. Existe uma relação inversa entre a taxa de consumo de oxigênio c a p ít u lo 1 17 por grama de massa corporal e a massa total do animal. Esta relação é mantida para os animais, intra e interespecificamente. A taxa metabólica é expressa matematicamen- te, como uma função exponencial da mas- sa corporal: TM = aMb, sendo transformada numa função linear, passando-se para a forma logarítmica: log TM = log a + b log M TM = taxa metabólica; M = massa corporal; a = interseção das retas logarítmicas de re- gressão linear e b = expoente que expressa a taxa de alteração da TM com a mudança da massa corporal. O valor de b igual a 0,67 para a taxa metabó- lica, corresponde ao valor de b para a área de superfície. A área de superfície de um objeto de forma isométrica, ou seja, de proporções invariáveis, e densidade uniforme, varia com a potência de 0,67 ou 2/3 de sua massa, de acordo com a Hipótese da superfície (Max Rubner, 1883). Esta relação é verdadeira para animais com massas diferentes, apenas se as proporções do corpo se mantiverem constan- tes, o que é obtido para indivíduos da mesma espécie. Este é o princípio da isometria. O valor de b=0,67 só vale como caráter intra-especí- fico. Isso mostra que a hipótese da superfície Figura 4 – Inclinação das retas de regressão linear em diferentes organis- mos demonstrando semelhança nos coeficientes angulares (expoente b). (Randall et all., 2000). Figura 3 – Curva do camundongo ao elefante, mostrando a taxa de consumo de oxigênio massa específico. (Adaptado de Randall et all., 2000). não explica o incremento da taxa metabólica proporcional ao tamanho, ou seja, o valor de b para diferentes espécies de animais. O valor de b para a taxa metabólica fica próximo de 0,75 em muitos organismos taxonomicamen- te diferentes, como foi proposto por Max Klei- ber (1932). Animais ectotermos apresentam a mesma relação com a massa corporal, e o efeito do escalonamento também é visto nas células. O valor de b=0,75 é válido como cará- ter interespecífico. c a p ít u lo 1 18 3.7 ENErgÉTiCa da loComoÇÃo A locomoção é uma importante atividade de rotina, e o metabolismo de atividade está as- sociado aos tipos de locomoção nos diferentes meios. 3.7.1 CUSTO METABÓLICO DA LOCOMOÇÃO É a quantidade de energia necessária para mover uma unidade de massa do animal por uma unidade de distância. Ela é expressa em unidades de quilocaloria por quilograma por quilômetro (Kcal/Kg/Km). Essa energia corres- ponde à que é gasta acima da que é usada em condições basais de repouso. Figura 5 – Relação entre o tamanho e a velocidade sobre o custo energético da locomoção (A) e curva em U típica, associada ao custo energético da locomoção, observada para nadadores (B). (Adaptado de Randall et all. 2000).3.7.2 TAMANHO DO ANIMAL, VELOCIDADE E CUSTO DA LOCOMOÇÃO A taxa de consumo de O2, além da taxa me- tabólica basal, aumenta linearmente com a velocidade. Animais maiores gastam menos energia para mover uma dada massa por certa distância do que animais menores, visto que o aumento na utilização de energia por unida- de de peso é menor para animais maiores do que para os menores. Assim, atingem maio- res velocidades (veja figura). À medida que a velocidade aumenta, o custo metabólico ini- cialmente diminui. Contudo, à medida que a velocidade continua a aumentar, os animais que nadam, voam ou correm começam a so- frer aumento no custo energético até as suas velocidades máximas. 3.7.3 LOCOMOÇÃO AQUÁTICA, AÉREA E TERRESTRE Os animais desenvolveram modos de locomo- ção na água, na terra e no ar, sendo limitados pelo ambiente e pelas leis da física. 3.7.3.1 natação A densidade alta da água permite aos ani- mais que nadam a flutuabilidade, já que qua- se não precisam suportar o seu próprio peso. Bexigas de flutuação ou grandes quantida- des de gordura corporal ajudam na suspen- são do animal em dada profundidade com pouco gasto de energia. Contudo, a água apresenta elevada viscosidade e, também, produz atrito. Esta dificuldade promoveu a convergência de formas corporais alongadas e hidrodinâmicas entre mamíferos aquáticos e peixes. O corpo fusiforme permite um tipo de fluxo denominado laminar, no qual ocor- re formação mínima de correntes turbulen- tas, dissipadoras de energia, mesmo nadan- do em altas velocidades. 3.7.3.2 vôo Como o ar oferece pouco suporte à flutua- ção, os voadores devem superar a gravidade, utilizando os princípios da elevação aerodi- nâmica. Embora os efeitos do atrito aumen- tem com a velocidade, há menos necessida- de para a aerodinâmica entre aves do que para a hidrodinâmica entre os peixes, devido à baixa densidade do ar. Graças às forças de atrito, que são relativamente mais baixas, as aves podem atingir velocidades muito maio- res do que os peixes. c a p ít u lo 1 19 3.7.3.3 corrida Um animal bípede ou quadrúpede, quando anda ou corre, sofre oscilação no seu centro de massa. Quando os músculos extenso- res do pé e da perna impulsionam o corpo para cima e para frente, ocorre mudança de posição do corpo em relação ao centro de massa e também quando a gravidade puxa o corpo de volta para a terra. A eficiência locomotora é diminuída, porque os múscu- los extensores, que se contraem para pro- pelir o corpo para cima e para frente, tam- bém têm que impedir a sua queda antes do próximo passo, mantendo o equilíbrio em relação às oscilações no centro de massa. Essa utilização da energia muscular para contrabalançar a força da gravidade é cha- mada de trabalho negativo. Os músculos devem ser usados para desaceleração (tra- balho negativo) e para aceleração (trabalho positivo). Os membros estão comprometi- dos com movimentos para frente e para trás e sofrem a ação das forças inerciais relacio- nadas com as suas massas, à medida que aceleram e desaceleram. 3.7.3.4 comparação entre os três modos de locomoção O custo energético em animais de mesma massa corpórea, adaptados aos seus modos de locomoção, varia. Os peixes usam menos energia que os pássaros. Os corpos dos pei- xes são adaptados a um meio com viscosida- de e densidade relativamente altas. Não há esforço para impedir o afundamento na mas- sa de água. Além disso, os peixes se movem mais lentamente que os pássaros. Contudo, os pássaros precisam gastar mais energia, para se manterem suspensos no ar. No vôo e na corrida, há um gasto de energia para sus- tentar o corpo, mas as aves possuem forma aerodinâmica, o que diminui a resistência do ar e permite maior velocidade que os ani- mais que correm. Na corrida, há diferenças no uso dos músculos dos membros, para li- dar com os efeitos da gravidade. Portanto, a locomoção terrestre é a mais dispendiosa, e a aquática, a menos dispendiosa. Figura 6 – Comparação do custo energético entre animais adaptados a cada modo de locomoção. (Schmidt-Nielsen, 2002). 4. rEgUlaÇÃo da TEmpEraTUra Os animais, cujas temperaturas corporais flu- tuam com a temperatura ambiental, estão ex- postos a alterações correspondentes na taxa metabólica. Os que mantêm a temperatura corporal constante em temperatura ambien- tal flutuante têm de gastar energia metabólica para isso. O metabolismo do organismo como um todo depende da manutenção do ambien- te interno em temperaturas compatíveis com as reações metabólicas. Coeficiente de temperatura (Q10) – compara a velocidade de uma reação em duas temperatu- ras diferentes. Uma diferença de temperatura de 10˚C tornou-se um padrão de medida com o qual se determina a sensibilidade de uma função biológica à temperatura. Os processos fisiológicos, como metabolismo, crescimento, locomoção, têm valores de Q10 de cerca de 2 a 3. O efeito da temperatura sobre as enzimas faz com que a velocidade da taxa metabólica aumente exponencialmente com a temperatu- ra corporal. Q10 = (K2/K1) 10/T2-T1 (Equação de Van’t Hoff) Onde: Q10 = coeficiente de temperatura e K1 e K2 = velocidades da reação nas temperaturas T1 e T2, respectivamente. 4.1 aClimaTaÇÃo TÉrmiCa Muitas espécies sofrem alterações compensa- tórias decorrentes do calor e do frio do am- c a p ít u lo 1 20 biente. Essas mudanças ajudam o animal a lidar com o estresse térmico, sendo denomina- das de aclimatização. Aclimatação Enzimática – como as reações são controladas enzimaticamente, uma mudança na sua velocidade pode indicar que houve al- guma adaptação, como alteração na estrutura molecular de uma ou mais enzimas ou outro fa- tor, afetando a cinética enzimática. A compen- sação térmica, também, pode acontecer atra- vés da mudança na quantidade de uma enzima. Adaptações na Viscosidade da Membrana – a bicamada lipídica da membrana celular é mui- to sensível a alterações na temperatura. A di- minuição da temperatura pode fazer com que a membrana aumente a sua viscosidade, pas- sando para uma fase de gel, e o aumento da temperatura pode fazer com que a membrana diminua a sua viscosidade, tornando-se mui- to fluida. Os lipídios da membrana tornam-se mais saturados durante a aclimatação ao calor e menos saturados durante a aclimatação ao frio, o que estabiliza a forma da dupla cama- da, sendo mantidas as suas funções. 4.2 TroCa dE Calor Corporal A temperatura de um animal depende da quantidade de calor (calorias) contida por uni- dade de massa de tecido. A taxa de variação de calor corporal depende: da velocidade de produção de calor por meios metabólicos, da velocidade de ganho de calor externo e da ve- locidade de perda de calor para o ambiente. A temperatura corporal de um animal (calor corporal) pode ser regulada através de altera- ções, na taxa de produção de calor e de trans- ferência de calor ou troca (calor ganho menos calor perdido). Assim: calor corporal = calor produzido + ca- lor transferido 4.3 armaZENagEm dE Calor A taxa de transferência de calor (Kcal/h) de um animal depende de fatores, tais como a área de superfície, gradiente de temperatura e sua condutância específica de calor. Área de superfície – um animal grande tem rela- ção superfície-massa pequena e tende a se aque- cer mais lentamente, em resposta a uma carga de calor do ambiente do que um animal peque- no, que tem relação superfície-massa grande. Gradiente de temperatura – é a diferença de temperatura entre o ambiente e o corpo do animal. Condutância específica – varia de acordo com a natureza da superfície corporal. Os endo- termos têm tecidos de superfície com baixa condutância, porque apresentam maior iso- lamento. Eles mantêm a temperatura corpo- ral constante ativamente. Os ectotermos têm tecidos de superfície com alta condutância de calor, porque possuem menor isolamento. Eles estão mais próximos da temperatura ambiente. 4.3.1 MECANISMOS PARA REGULARA TROCA DE CALOR ENTRE O CORPO E O AMBIENTE Os mecanismos podem ser comportamentais, autonômicos e de aclimatização. Os animais podem usar o controle comportamental e au- tonômico em curto prazo e a aclimatização em longo prazo. Controle comportamental – um esquilo do de- serto pode procurar microclimas como uma toca mais fria. Lagartos e iguanas podem aquecer-se ao sol ou realizar ajustes posturais para diminuir ou aumentar as trocas de calor com o meio. Controle autonômico – a vasoconstricção ou vasodilatação afeta o fluxo sanguíneo para a pele, produzindo mudança no gradiente de temperatura e, desse modo, no fluxo de calor na superfície do corpo. A ativação de músculos pilomotores em resposta ao ambiente frio di- minui a dissipação de calor. A sudorese e a sali- vação durante o ofego aumentam a dissipação de calor em resposta ao ambiente quente. Aclimatização – ocorre através da alteração em longo prazo na pelagem ou plumagem e no isolamento da camada subdérmica de gordu- ra. Estas estruturas aumentam ou diminuem sazonalmente, conforme a temperatura am- biental cai ou se eleva. c a p ít u lo 1 21 4.4 ClassiFiCaÇÃo dos aNimais Em rElaÇÃo À TEmpEraTUra Corporal Endotermos – são animais, que geram o seu próprio calor corporal como um subproduto do metabolismo, elevando suas temperaturas corporais acima das temperaturas ambientais. A faixa fisiológica normal da temperatura cen- tral interna para mamíferos é de 37 a 38˚C, e de aves, é de, aproximadamente, 40˚C. Ectotermos – são animais, que produzem calor metabólico em taxas muito baixas para per- mitirem a endotermia. Frequentemente têm baixas taxas de produção de calor e altas con- dutâncias térmicas, visto que são pobremente isolados. Heterotermos – são animais capazes de varia- dos graus de produção de calor endotérmico, embora geralmente não regulem a temperatu- ra corporal dentro de uma faixa estreita, como os endotermos. 4.5. adapTaÇÕEs ao Frio E ao Calor Substâncias anticongelantes – são substâncias que agem como soluto anticongelante, bai- xando o ponto de congelamento dos líquidos extracelulares, pelo aumento da sua osmolari- dade. Elas podem estar presentes em peixes, anfíbios e insetos, aumentando a sua concen- tração no inverno. Ex: glicerol. A larva do mos- quito Chironomus sobrevive ao congelamento, porque mantém algum líquido não congelado a uma temperatura muito baixa (– 32˚C). Mecanismos comportamentais e fisiológicos – os ectotermos utilizam a regulação térmica comportamental como o principal meio para regular a temperatura. Eles realizam exposição do corpo à sombra ou ao sol, por mudanças posturais ou movimentos para o interior de um microclima. Também podem usar meios fi- siológicos, desviando sangue para a pele a fim de esfriá-lo ou aquecê-lo. O iguana marinho mergulhador do Galápagos Amblyrhynchus utiliza processos fisiológicos para controlar a velocidade de aquecimento ou resfriamento do corpo, regulando a frequência cardíaca e o fluxo sanguíneo em seus tecidos de superfície, durante o aquecimento ao sol ou durante o mergulho. Termogênese – quando a temperatura am- biente cai abaixo da temperatura crítica infe- rior, o animal endotérmico responde, gerando grandes quantidades de calor adicional, pro- veniente dos estoques energéticos. Além do exercício, existem dois processos de produção de calor: a termogênese por tremor e a termo- gênese sem tremor. Na termogênese por tre- mor, que ocorre em vertebrados endotérmicos (também em alguns insetos), grupos de mús- culos esqueléticos antagonistas localizados nas extremidades são ativados pelo sistema nervo- so, havendo poucos movimentos resultantes, exceto tremor. A atividade destes músculos causa a hidrólise de ATP, que fornece energia para a contração e a produção de calor, sem produzir trabalho útil. Na termogênese sem tremor, os sistemas enzimáticos para o meta- bolismo da gordura são ativados, havendo a quebra e a oxidação da gordura convencional, e também, da gordura marron, para produzir calor. A gordura marron é uma especialização para produção rápida e intensa de calor du- rante o despertar em animais em hibernação ou em torpor. Sendo bem vascularizada, distri- bui, rapidamente, o calor pelo corpo. Resfriamento evaporativo – a evaporação de 1g de água requer 2448J (585 cal) de energia. É o meio mais eficiente de remover calor em excesso, caso exista água suficiente. Alguns répteis, aves e mamíferos espalham a água corporal (saliva e urina) ou a água do ambien- te em várias áreas do corpo para evaporação, à custa de calor corporal. O ofego ocorre em mamíferos e aves, que usam o sistema respi- ratório para perder calor. Os mamíferos em ofego respiram pela boca e não, pelo nariz, conduzindo o calor para fora no ar exalado e aumentam a perda de calor por hiperventila- ção. Em alguns mamíferos, ocorre sudorese, e as glândulas sudoríparas liberam água ativa- mente, através dos poros da pele. Troca de calor por contracorrente – os endo- termos apresentam membros pouco isolados em relação ao restante do corpo, o que faci- lita o trabalho mecânico da locomoção. Seus membros são bem vascularizados, e isso facili- c a p ít u lo 1 22 ta a perda de calor corporal, porque são finos e têm grandes áreas de superfície. Contudo, esta perda pode ser muito reduzida devido à troca de calor por contracorrente, resultante do arranjo em paralelo dos vasos que condu- zem sangue arterial e venoso. Como as artérias e veias passam umas pelas outras, o sangue arterial quente, que vem do centro do corpo, cede calor para o sangue venoso, que retorna dos tecidos periféricos. O sangue arterial se tor- na progressivamente mais frio, à medida que entra na extremidade e, chegando à periferia pré-resfriado, dissipa pouco calor na superfí- cie. O inverso ocorre com o sangue venoso, que é pré-aquecido, à medida que retorna ao centro do corpo. O gradiente de temperatura entre o centro e a periferia do corpo diminui a perda de calor para o ambiente. economizar energia. O torpor diário ocorre em endotermos, mamíferos e aves de pequeno porte. O exemplo mais conhecido é o do beija- -flor. Neste animal, a temperatura corporal cai de um nível diurno de 40˚C para um nível no- turno de 13˚C. Várias espécies de pequenos mamíferos também apresentam torpor, como os musaranhos e morcegos. Hibernação – é um tipo de dormência mais profundo, também chamado de dormência de inverno devido a sua sazonalidade. Ela tem uma duração maior e pode permane- cer por semanas ou meses em climas frios. A hibernação ocorre em mamíferos de mé- dio porte, como esquilos, morcegos e mu- saranhos, que podem estocar reservas para sobreviver por períodos em que não há ali- mentação. As funções corporais se tornam bastante lentas, refletindo a redução no me- tabolismo com o abaixamento da tempera- tura corporal, característico do torpor e da hibernação. Sono de Inverno – este tipo de dormência, no qual a temperatura corporal cai apenas uns poucos graus, é observado em ursos, que permanecem enrolados em um micro-habitat protegido, como uma caverna ou um tronco oco. Devido à grande massa corporal e à bai- xa taxa de perda de calor, podem estocar re- servas energéticas suficientes para entrar em sono de inverno sem queda da temperatura corporal. Eles são capazes de acordar e se tor- narem ativos rapidamente durante o inverno, o que mostra não ser um estado de dormên- cia tão profundo. Contudo, podem perma- necer por longos períodos, retendo produtos metabólicos. Estivação ou sono de Verão – é um tipo de dormência em resposta a temperaturas ambientais elevadas ou perigo de desidra- tação, que ocorre em algumas espécies de vertebrados e invertebrados, como peixes pulmonados, caramujos terrestres, caran- guejos. Os caramujos fecham a entrada da concha após se recolherem dentro dela, o que retarda a perda de água por evapora- ção. Na estaçãoseca, peixes pulmonados, como o Protopterus, estivam no fundo de lagos quase secos. Figura 7 – Exemplo de trocador de calor por contracorrente. Note no detalhe o mecanismo de funcionamento. (Adaptado de Schmidt- -Nielsen, 2002). 4.6 EsTados mETaBÓliCos EspECialiZados Dormência é um termo geral usado para des- crever a redução das atividades corporais que refletem a redução na taxa metabólica. Pode ser classificada em níveis, de acordo com a sua profundidade e duração: em torpor, hiberna- ção, sono de inverno e estivação. Torpor – é um tipo de dormência menos pro- funda e de menor duração, que está associada a períodos de jejum durante inatividade, para c a p ít u lo 1 23 4.7 TErmorrEgUlaÇÃo A temperatura de mamíferos varia entre a periferia e o centro. As extremidades sofrem variações muito maiores do que o centro do corpo. Os humanos, outros mamíferos e aves, apresentam, ao longo do dia, flutuações regu- lares na temperatura central (entre 1 ou 2˚C). Os animais diurnos possuem uma temperatura máxima durante o dia e uma mínima à noite. Os noturnos apresentam um padrão inverso, mesmo em repouso, seguindo o ciclo de clari- dade e escuridão. Na maioria dos mamíferos, a elevação de 0,5˚C da temperatura do centro do corpo causa vasodilatação periférica inten- sa e aumento no fluxo sanguíneo para a pele. No cérebro, na medula espinhal, na pele e em locais no centro do corpo, neurônios sensíveis à temperatura e terminações nervosas aferen- tes fornecem impulsos para os centros ter- mostáticos, localizados na porção anterior do hipotálamo. Aí, existem neurônios altamente sensíveis à temperatura. 4.8 ComparaÇÃo ENTrE os CUsTos E os BENEFÍCios da ECToTErmia X ENdoTErmia Os endotermos têm um modo de vida rápido, altamente energético, enquanto os ectoter- mos têm um modo de vida mais lento e de baixa energia, possibilitando investir uma pro- porção maior de energia para o crescimento e a reprodução. Nos endotermos, somente uma pequena proporção da energia pode ser usada nestes processos, devido à maior quantidade que é consumida para manter a temperatura corporal. A baixa taxa metabólica dos ectoter- mos limita a duração dos surtos de aumento na atividade, podendo desenvolver, durante a respiração anaeróbia, um débito de O2. Nos endotermos, as taxas de respiração aeróbia são mais elevadas, permitindo longos períodos de atividade intensa. A temperatura corporal constante possibilita que as enzimas funcio- nem numa faixa relativamente mais estável. Contudo, a alta velocidade de troca gasosa promove a desidratação no calor em climas secos. Há diferentes vantagens em relação ao clima. Os répteis são bem sucedidos nos tró- picos. Nas regiões mais distantes do Equador, predominam os endotermos. rEsUmo Os métodos de obtenção do alimento variam entre as espécies. Os animais usam fontes de nutrientes diferenciadas e com isso apresen- tam variações nos métodos de ingestão do ali- mento. Nos animais mais complexos, os siste- mas alimentares possuem canal alimentar, cuja estrutura e função permitem o processamento em série dos alimentos, otimizando a obten- ção e a assimilação dos nutrientes disponíveis no meio. A relação de simbiose com outros or- ganismos é essencial para a nutrição, como no caso dos ruminantes. Na maioria dos animais, a energia química fornecida pelos alimentos pode ser utilizada através do metabolismo ae- róbio, ou, então, armazenada como reserva de combustível. Em função do acúmulo de reser- vas, um animal pode apresentar variações no seu estado metabólico. O tamanho do animal e o seu nível de atividade refletem a sua taxa metabólica. O custo energético da locomoção e a velocidade desenvolvida por um animal es- tão relacionados com o tamanho e o modo de locomoção para os meios terrestre, aquático e aéreo. A temperatura exerce grande influência sobre a taxa metabólica dos animais e sobre a sua distribuição nos ecossistemas. As estra- tégias para controlar a temperatura corporal envolvem respostas comportamentais e fisio- lógicas. Os animais são classificados de acor- do com a produção de calor metabólico. Os ajustes ao frio e ao calor revelam grande capa- cidade de tolerância a condições ambientais adversas, sendo verificado que, em determi- nado ambiente, a endotermia e a ectotermia apresentam custos e benefícios. aTiVidadEs do CapÍTUlo 1. Construa um quadro comparativo, relacio- nando a diversidade de alimento ingerido com os métodos de alimentação. 2. Faça um quadro comparativo entre a es- trutura do canal alimentar de vertebrados e invertebrados, estabelecendo semelhan- ças e diferenças entre estes. c a p ít u lo 1 24 3. Um endotermo de uma dada massa apre- senta taxa metabólica basal cerca de 6 a 10 vezes maior do que um ectotermo de massa semelhante. Imagine que o endo- termo é o predador e o ectotermo, a presa. Que implicação isso teria sobre a velocida- de de locomoção desenvolvida e o custo da locomoção nestes animais? 4. Os endotermos apresentam taxa metabó- lica de campo 17 vezes mais elevadas do que os ectotermos. Eles pagam o preço da necessidade de terem que ingerir grande quantidade de comida e de água diariamen- te. Por que eles “pagam um preço maior”, em relação à ingestão de alimento e água quando comparados aos ectotermos? rEFErÊNCias HILL, R. W.; WYSE G. A.; ANDERSON, M. Ani- mal Physiology. Sinauer Associates, Inc., Sun- derland, 2004, 770p. POUGH, F. H.; HEISER, J. B.; MCFARLAND, W.N. A Vida dos Vertebrados. 3.a ed., São Paulo, 2003. 699p. RANDALL, D.; BURGGREN, W.; FRENCH, K. Fi- siologia Animal – mecanismos e adaptações. 4.a ed., Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2000, 729p. SCHMIDT-NIELSEN, K. Fisiologia Animal – adaptação e meio ambiente. 5.a ed., São Pau- lo: Editora Santos, 2002, 611p. c a p ít u lo 2 25 BalaNÇo dE ÁgUa E ÍoNs Profa Rita de Cássia Xavier de Carvalho Carga horária I 15H oBJETiVos EspECÍFiCos • Reconhecer variações anatômicas e fun- cionais entre os rins de vertebrados. • Conhecer as principais unidades excreto- ras extra-renais. • Classificar os animais aquáticos com rela- ção aos mecanismos de osmorregulação. • Estabelecer semelhanças e diferenças entre as adaptações apresentadas por mamíferos marinhos e do deserto para a osmorregulação. iNTrodUÇÃo Neste capítulo, você estudará as característi- cas das unidades excretoras renais dos verte- brados e, também, as unidades extra-renais encontradas nos invertebrados e vertebra- dos. Será dada ênfase ao rim de mamífero em termos de sua capacidade de concentrar a urina. Você verá a classificação dos animais quanto à concentração osmótica em relação ao meio aquático. Serão apresentadas algu- mas adaptações para o meio aquático e ter- restre em mamíferos marinhos e do deserto. Também será apresentada a classificação dos animais com relação às principais excretas ni- trogenadas. c a p ít u lo 2 26 1. UNidadEs EXCrEToras rENais 1.1 FUNÇÕEs das UNidadEs EXCrEToras Estas unidades são responsáveis pela manu- tenção da concentração iônica e do volume corpóreo de água mantendo, dessa forma, a concentração osmótica. Também atuam na eli- minação das excretas nitrogenadas e substân- cias estranhas ou seus catabólitos introduzidos no organismo. Figura 1 – Padrões básicos do aparelho excretor de vertebrados em relaçao ao sistema circulatório e celoma. (Storer et all., 1991). 1.1.1. CLASSIFICAÇÃO DAS UNIDADES EXCRETORAS Unidades excretoras renais: rim de vertebra- dos, rim de moluscos. Unidades excretoras extra-renais: túbulos de Malpighi, glândulas verdes ou antenais, glân- dulas coxais, protonefrídeos e metanefrídeos, brânquias, glândulas retais, glândulas de sal, papilas anais e pele, dentre outros. 1.2 origEm do rim dE VErTEBrados São classificados em pronéfricos, mesonéfricos e metanéfricos. Figura 2 – Processos envolvidos na formação da urina nonefron de mamífero. (Randall et all., 2000). Rim pronéfrico – aparece durante o desenvol- vimento embrionário de todos os vertebrados, sendo funcional na larva de peixes e anfíbios e em alguns peixes adultos. Rim mesonéfrico – aparece durante o desen- volvimento embrionário dos répteis, das aves e dos mamíferos, sendo funcional na maioria dos peixes e dos anfíbios adultos e em algu- mas espécies de répteis mais primitivos. Rim metanéfrico – aparece na maioria dos répteis, em todas as aves e mamíferos, após o nascimento e/ou eclosão. 1.2.1 MECANISMOS DE FORMAÇÃO DA URINA A urina é formada por ultrafiltração, processo que necessita de uma diferença de pressão en- tre a cápsula de Bowman e os capilares glome- rulares, gerando força através de uma mem- brana semipermeável. Na formação da urina, também, ocorre reabsorção e secreção tubu- lares. A secreção é a passagem de substâncias do corpo do animal para dentro da unidade excretora, e a reabsorção é a passagem de substâncias do lúmen da unidade excretora para a circulação do corpo do animal. c a p ít u lo 2 27 1.3. rim dE VErTEBrados 1.3.1 CICLÓSTOMOS Apresentam nefros com glomérulos, mas sem túbulos. As cápsulas de Bowman se esvaziam diretamente, nos ductos coletores. Os rins re- alizam pouca osmorregulação e excretam íons divalentes, como Ca++ e Mg++. As brânquias têm um papel maior na osmorregulação. O plasma é isotônico em relação à água do mar. 1.3.2 ELASMOBRÂNQUIOS Os rins possuem feixes tubulares com sistema de contracorrente que está relacionado com a reabsorção de uréia como osmólito orgânico. As glândulas retais secretam o excesso de íons para o meio. 1.3.3 TELEÓSTEOS Teleósteos de água doce apresentam nefros com grandes glomérulos e produzem grandes volumes de urina diluída e fortemen- te hipotônica em relação ao sangue. Como são hipertônicos em relação ao meio, precisam eliminar água. Os tele- ósteos marinhos possuem nefros com pequenos glomérulos. Em alguns te- leósteos, eles podem estar ausentes, assim como a cápsula de Bowman e o túbulo distal. A urina, então, é forma- da por secreção, a partir dos túbulos renais. Em outros, a urina é isotônica em relação ao sangue e produzida em pequeno volume, já que são hi- potônicos e precisam conservar água. 1.3.4 ANFÍBIOS E RÉPTEIS Não apresentam alça de Henle e pare- cem incapazes de produzir urina hiper- tônica em relação ao plasma. Em an- fíbios, a urina é fortemente hipotônica e, nos répteis marinhos, é isotônica em relação ao sangue. Eles têm glomérulos grandes com cápsula de Bowman. Nos répteis, o glomérulo é pequeno e pode estar ausente em alguns. 1.3.5. AVES E MAMÍFEROS Apresentam um grande glomérulo e cápsula de Bowman, alça de Henle, interposta entre os túbulos renais, apresentan- do sistema de contra-corrente renal, que per- mite a produção de urina mais concentrada em relação aos demais vertebrados. Apesar de o volume do filtrado ser grande, a quantidade que chega até a bexiga é pequena nos mamí- feros. As aves apresentam rins com mistura de nefros do tipo réptil, isto é, sem alça de Henle e do tipo mamífero, ou seja, com alça. Nos ma- míferos, todos os nefros contêm alça de Henle, razão por que eles têm uma maior capacidade de concentração da urina. Os mamíferos do deserto apresentam as alças mais longas entre os mamíferos. Este é um aspecto adaptativo importante, porque diminui a perda de água corpórea nestes animais. Quanto mais longa a alça, maior a capacidade de concentração da urina, como será visto mais adiante no mecanis- mo de concentração da urina. A urina em aves marinhas e terrestres é fracamente hipertônica em relação ao sangue. Nos mamíferos mari- nhos e do deserto, é fortemente hipertônica. Figura 3 – Mecanismos osmorreguladores e estrutura do nefron em vertebrados (Adaptado de Hildebrand, 1995, e Randall et all. 2000). c a p ít u lo 2 28 1.4 rim dE molUsCos Estes animais podem apresentar um ou dois rins. O sangue é filtrado na cavidade pericárdi- ca e processado no rim, através de reabsorção de substâncias em suas câmaras. Eles podem reabsorver glicose, aminoácidos e eletrólitos e eliminar metabólitos. Desta maneira, é um sistema de filtração e reabsorção, cuja princi- pal vantagem para o animal é a diminuição no número de sistemas de transporte através do epitélio. A desvantagem é que o processo de ultrafiltração e a reabsorção ativa envolvem um alto custo energético. 2. UNidadEs EXCrEToras EXTra-rENais As unidades excretoras mais simples são os va- cúolos contráteis, estruturas presentes em pro- tozoários de água doce e ciliados marinhos, que são também encontradas no reino animal, em representantes de água doce do filo Porife- ra. Embora nos celenterados e equinodermos, não se tenha registro de unidades excretoras características, nos invertebrados, em geral, estas estruturas apresentam uma grande diver- sidade de tipos adaptados ao meio aquático e terrestre. 2.1 Tipos dE UNidadEs EXCrEToras EXTra-rENais Em iNVErTEBrados 2.1.1 PROTONEFRÍDEOS São encontrados na maioria dos animais ace- lomados, como platelmintos, asquelmintos, rotíferos, nemertíneos, alguns poliquetas pri- mitivos. São constituídos de células bulbares com um cílio (solenócitos) ou vários (células- -flama). Estas unidades funcionam através do movimento dos cílios que provocam uma dife- rença de pressão em função da qual ocorre a ultrafiltração de substâncias, que são excreta- das através do poro nefridial presente na su- perfície corpórea. 2.1.2 METANEFRÍDEOS São encontrados em invertebrados celoma- dos, como os anelídeos. Eles apresentam células em forma de funil com cílios que se abrem para fora da cavidade celômica. Estes tipos celulares possuem um canal que conduz a um poro excretor (nefridióporo) na superfí- cie do corpo. 2.1.3 TÚBULOS DE MALPIGHI São estruturas filamentosas que terminam em fundo cego e se abrem entre o intestino mé- dio e o intestino distal, como é encontrado nos insetos. Nesta unidade, ocorre formação de pré-urina, e no intestino distal, a urina é formada por mecanismo de transporte ativo, envolvendo a secreção de potássio. No reto, ocorre grande reabsorção de água, e o epitélio dessa região é bem desenvolvido em insetos adaptados a regiões secas, que são capazes de produzir urina bastante concentrada. Este é um sistema de secreção e reabsorção, não ocorrendo filtração, já que os insetos, por te- rem sistema circulatório aberto, não desenvol- vem pressões elevadas para que ocorra este processo. 2.1.4. GLÂNDULA ANTENAL A glândula antenal presente em crustáceos, como a lagosta, é um sistema que também realiza ultrafiltração e reabsorção. Ela difere estruturalmente em relação ao rim de verte- brados, embora seja funcionalmente análo- ga, apresentando filtração numa estrutura chamada celomossaco e no labirinto, que se assemelha ao glomérulo do nefro. Este líqui- do é modificado no canal nefridial semelhan- te aos túbulos renais pela reabsorção seletiva de substâncias, regulando a concentração os- mótica de íons como o Mg++. c a p ít u lo 2 29 Figura 4 – Estrutura de um protonefrídeo em planária (A), metanefrideo em minhoca (B), túbulos de Malpighi em gafanhoto (C). Note a estrutura do epitélio de absorção do trato intestinal. Glândula antenal em lagostim (D). Note a variação da composição de cloreto ao longo da unidade excretora. (Adaptado de Storer et all., 1991; Barnes et all., 1995; Randall et all., 2000). 2.2.2 GLÂNDULA DE SAL É encontrada em pássaros marinhos, como a gaivota e em répteis marinhos como o igua- na marinho e cobras marinhas. Ela pode estar presente na região cranial acima da órbita dos olhos, próxima ao nariz e aos olhos. Crocodi- los de água salobra podem apresentar glându- las de sal na língua. Estas glândulas, de modo geral, são formadas por lóbulos constituídos de túbulos secretores, cujo epitélio apresen- ta células de sal com sistemas de transportesemelhantes aos da glândula retal. Elas, tam- bém, possuem movimento paracelular de íons. O controle da secreção dessas glândulas é neuroendócrino através do sistema nervo- so parassimpático (acetilcolina) e dos hormônios, como a corticosterona, o peptídeo atrial natriurétrico, a ar- ginina vasotocina, a angiotensina II. 2.2 Tipos dE UNidadEs EXTra-rENais Em VErTEBrados Nos vertebrados, as principais unidades extra- renais são as glândulas de sal, as glândulas re- tais e as brânquias. 2.2.1 GLÂNDULA RETAL A glândula retal está presente no reto dos elas- mobrânquios. São estruturas tubulares em fun- do cego, que se abrem na porção do intestino distal próxima ao reto e que, através de ductos drenam o líquido para esta porção onde será processado. Os túbulos da glândula apresen- tam, em seu epitélio, células secretoras de sal. A membrana basal destas células contém ATPases de Na+/K+, sistemas de cotrans- porte Na+/2Cl-/ K+ e canais de potássio. A célula possui canais de cloreto na membrana apical e movimento paracelular de sódio, que garantem a secre- ção de NaCl. Figura 5 – Sistemas de transporte das células secretoras de sal em glandulas retais de tubarões, glândulas nasais de aves e brânquias de peixes. (Randall et all., 2000). c a p ít u lo 2 30 3. osmorrEgUlaÇÃo Em aNimais aQUÁTiCos Nos animais, cerca de 60 a 85% do peso corporal corresponde ao volume de água. Na medusa Aurelia aurita, esta proporção chega a 95% do seu peso total. Os animais podem estar distribuídos em ambientes marinhos, como os grandes oceanos, ambientes de água doce, como rios e lagos ou ambien- tes estuarinos, como pântanos, mangues. O teor salino nos grandes oceanos é maior do que 35%, ou seja, maior que 30g/l. Nos estu- ários, a concentração é intermediária e pode variar entre 0,5% a 30%. Nos ambientes de água doce, estes valores são menores do que 0,5%. Os principais íons no ambiente marinho são: cloreto, sódio, cálcio, magnésio e sulfatos. 3.1 mECaNismos dE rEgUlaÇÃo osmÓTiCa Referem-se à regulação da pressão osmótica e da concentração iônica no compartimento extracelular. Os mecanismos osmorregulató- rios foram desenvolvidos para compensar as trocas obrigatórias de água e de os íons que acontecem entre o animal e o ambiente. Os fatores que interferem sobre as trocas obriga- tórias são: 3.1.1 GRADIENTE DE CONCENTRAÇÃO ENTRE O ANIMAL E O MEIO Quanto maior a diferença de concentração entre o meio externo e os líquidos corporais, maior a tendência de difusão na direção da concentração mais baixa. 3.1.2 RAZÃO SUPERFÍCIE-VOLUME É maior para os animais menores do que para os maiores. A relação entre o conteúdo de água e a área de superfície da epiderme atra- vés da qual pode haver troca de água e íons com o meio é maior nos animais menores do que nos maiores. 2.2.3 BRÂNQUIAS Elas realizam secreção na água salgada e reab- sorção na água doce, como ocorre em teleóste- os, através das células de cloreto e de prótons. 2.2.3.1 Secreção na água salgada As células de cloreto possuem sistemas de transporte semelhante ao das glândulas retais e das glândulas de sal. Figura 6 – Controle neuroendócrino da atividade da glândula nasal de aves em resposta ao aumento na osmolaridade sangüínea. (Randall et all., 2000). Figura 7 – Mecanismos osmorregulatórios em teleósteos de água doce e nos marinhos. (Randall et all., 2000). 2.2.3.2 Reabsorção na água doce Os peixes, além das células de cloreto, pos- suem células chamadas células de próton, por- que apresentam sistemas de transporte com ATPase de prótons (H+) e canais de Na+ na membrana apical. Na membrana basal, pos- suem ATPase de Na+/K+. c a p ít u lo 2 31 3.1.3 PERMEABILIDADE DA EPIDERME Ela age como barreira entre o ambiente e o compartimento extracelular. O movimento de água na epiderme ocorre através das células (transcelular) ou entre as células (paracelular). A permeabilidade da epiderme varia entre os animais e depende da presença de canais de água ou de estruturas impermeabilizantes, como cera, quitina, queratina. 3.1.4 INGESTÃO DE ÁGUA, ALIMENTOS, FATORES METABÓLICOS E EXCREÇÃO Os animais podem ingerir a água diretamen- te do meio ou dos alimentos com maior ou menor teor de água. Eles podem, também, obter água metabólica como subproduto do metabolismo através da oxidação dos esto- ques de gordura ou da oxidação dos alimen- tos. Também podem diminuir a perda de água, de acordo com o tipo de resíduo nitrogenado que podem excretar, dependendo da disponi- bilidade de água. 3.1.5 TEMPERATURA, EXERCÍCIO E RESPIRAÇÃO A regulação da temperatura através do resfria- mento evaporativo pode gerar estresse osmó- tico para o animal, gerando um conflito entre a necessidade de regular a temperatura e a os- molaridade. O aumento da atividade, também, aumenta a produção de calor e intensifica o problema, principalmente em animais de res- piração aérea. Mesmo dentro da cavidade cor- pórea, o mecanismo de ventilação expõe o epi- télio respiratório à perda evaporativa de água. Os animais podem limitar a permeabilidade da superfície corpórea à água ou a íons, alterar o volume de água ou a concentração de íons na urina excretada e, ainda, absorver ou secre- tar ativamente água ou eletrólitos do meio ou para o meio. 3.2 rElaÇÃo osmÓTiCa ENTrE o aNimal E o mEio aQUÁTiCo Com relação à capacidade de sobreviver em di- ferentes ambientes com diferentes concentra- ções iônicas, os animais aquáticos podem ser classificados como eurialinos e estenoalinos. Os eurialinos são animais que toleram grandes variações na concentração do meio, enquanto os estenoalinos toleram pequenas variações. Com relação à capacidade de regulação interna podem ser classificados em osmorreguladores e osmoconformadores. Os osmorreguladores estritos mantêm a sua concentração interna constante numa faixa mais ampla de variações do ambiente, sendo independentes das varia- ções do meio. Os osmorreguladores limitados regulam numa determinada faixa de osmolari- dade do meio e se adaptam em outras faixas. Os osmoconformadores estritos, ao contrário, variam sua concentração interna, à medida que as concentrações do meio variam. A maio- ria dos vertebrados, exceto elasmobrânquios e peixes-bruxa, são osmorreguladores estritos, mantendo a composição dos líquidos corporais dentro de uma faixa estreita. Alguns invertebra- dos aquáticos são osmorreguladores estritos, outros são osmorreguladores limitados, exis- tindo, ainda, os osmoconformadores estritos. Figura 8 – Classificação dos animais com relação à osmolaridade inter- na em relaçao à osmolaridade do meio aquático. (Randall et all., 2000). 3.3 rElaÇÃo ENTrE a CoNCENTraÇÃo iNTErNa E a CoNCENTraÇÃo EXTErNa O sangue dos vertebrados é hiposmótico em relação à água do mar e altamente hiperosmó- tico em relação à água doce. Existem espécies que são isosmóticas em relação ao meio, mas não necessariamente isoiônicas. ISOSMÓTICOS – são animais que apresen- tam a mesma concentração do ambiente, c a p ít u lo 2 32 como ocorre em invertebrados marinhos e ciclóstomos marinhos. HIPOSMÓTICOS – são animais que apresen- tam concentração interna inferior à do am- biente, como ocorre em todos os vertebrados marinhos e ciclóstomos marinhos, como a lampréia. HIPEROSMÓTICOS – são animais que apresen- tam concentração interna superior à do am- biente, como ocorre em todos os animais de água doce. 3.4. aNimais mariNHos A maioria dos invertebrados marinhos é isosmótica, apresentando concentração de Na+ e Cl- igual à do meio. Os teleósteos e lampréias, como são hiposmóticos, tendem a perder água para o meio pela boca, brân- quias, mucosas, faringe, que são muito per- meáveis. No processo de osmorregulação, eles tentam compensar a água perdida para o meio, bebendo água, aumentando, assim, a concentração de sais no sangue, eliminan- do o
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