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Educação Especial e Inclusiva Professora Mestre Ana Paula Francisca dos Santos Diretor Geral Gilmar de Oliveira Diretor de Ensino e Pós-graduação Daniel de Lima Diretor Administrativo Eduardo Santini Coordenador NEAD - Núcleo de Educação a Distância Jorge Van Dal Coordenador do Núcleo de Pesquisa Victor Biazon Secretário Acadêmico Tiago Pereira da Silva Projeto Gráfico e Editoração André Oliveira Vaz Revisão Textual Kauê Berto Web Designer Thiago Azenha UNIFATECIE Unidade 1 Rua Getúlio Vargas, 333, Centro, Paranavaí-PR (44) 3045 9898 UNIFATECIE Unidade 2 Rua Candido Berthier Fortes, 2177, Centro Paranavaí-PR (44) 3045 9898 UNIFATECIE Unidade 3 Rua Pernambuco, 1.169, Centro, Paranavaí-PR (44) 3045 9898 UNIFATECIE Unidade 4 BR-376 , km 102, Saída para Nova Londrina Paranavaí-PR (44) 3045 9898 www.fatecie.edu.br As imagens utilizadas neste livro foram obtidas a partir do site ShutterStock FICHA CATALOGRÁFICA FACULDADE DE TECNOLOGIA E CIÊNCIAS DO NORTE DO PARANÁ. Núcleo de Educação a Distância; SANTOS, Ana Paula Francisca dos. Educação Especial e Inclusiva. Ana. Paula Francisca dos Santos Paranavaí - PR.: Fatecie, 2020. 96 p. Ficha catalográfica elaborada pela bibliotecária Zineide Pereira dos Santos. AUTORA Professora Mestre: Ana Paula Francisca dos Santos Mestre em Gestão do Conhecimento nas Organizações, graduada em Pedagogia. Pesquisadora na área Educação e Tecnologia. Desenvolve pesquisas voltadas ao ensino aprendizagem e o desenvolvimento humano. INFORMAÇÕES RELEVANTES: • Pedagogia • Mestre em Gestão do Conhecimento • Unicesumar • http://lattes.cnpq.br/6336539019012543 APRESENTAÇÃO DO MATERIAL Olá, caro (s) aluno (s), seja bem-vindo (a) à disciplina de Educação Especial e Inclusiva! Neste momento você inicia mais uma etapa em seus estudos, que tem como objetivo enriquecer seu aprendizado. No entanto, o tema abordado ao longo deste estudo refere-se a um tema muito relevante e significativo para sua prática docente e para as relações cotidianas estabelecidas no diálogo com o campo da Educação Especial. A Educação Especial e Inclusiva, pode ser compreendida como uma modalidade de ensino que visa a promoção da cidadania, o qual tem como finalidade promover a igualdade e a valorização das diferenças para pessoas com deficiência. Frente a isto, iremos abordar na Unidade I os aspectos que norteiam o cenário da Educação Especial e Inclusiva, desde seu primórdio na Idade Antiga, até os dias atuais, pois tal processo histórico nos leva a refletir sobre as necessidades das pessoas com deficiência, com relação a sua inclusão no contexto escolar de ensino regular, assim com sua inserção em meio ao âmbito social. Na Unidade II, iremos abordar questões relacionadas a características, causas e prevenção da deficiência física, intelectual e sensorial. No entanto nosso enfoque será direcionado às ações pedagógicas que podem ser realizadas para desenvolver a aprendizagem de uma criança com deficiência, seja ela física, intelectual e sensorial. Na Unidade III, será abordado os aspectos pedagógicos que norteiam a Educação Especial e Inclusiva, para que assim seja possível compreender a Educação Especial e Inclusiva, não somente como um desafio que depende de todos os envolvidos no processo de aprendizagem, mas com uma ação coletiva que depende da vontade e capacitações, dos professores, gestores e da comunidade para cumprir seu objetivo principal que é a inclusão de pessoas com deficiências em âmbitos de ensino regular. Por fim, na nossa Unidade IV, iremos finalizar nossos estudos abordando a importância da equipe multidisciplinar no contexto da educação de pessoas com deficiência, assim como as contribuições da escola para a construção de uma comunidade inclusiva e a relação entre a educação inclusiva e a cidadania de pessoas com deficiência. Aproveito então, para convidá-los para adentrar a mais esta etapa que te promoverá a aquisição de um conhecimento significativo para a efetivação de sua carreira profissional. Bom estudo SUMÁRIO UNIDADE I ...................................................................................................... 6 Educação Especial: Aspectos Históricos, Políticos e Legais UNIDADE II ................................................................................................... 32 Conceitos de Igualdade, Diferença, Diversidade e Multiplicidade UNIDADE III .................................................................................................. 53 Inclusão e Educação I UNIDADE IV .................................................................................................. 74 Educação Inclusiva II 6 Plano de Estudo: • Introdução ao estudo da Educação Especial. • Conceito e histórico da Educação Especial. • Políticas e diretrizes, tendências e desafios da Educação Especial e da educação inclusiva. Objetivos da Aprendizagem • Conhecer sobre os aspectos que regem a história de Educação Especial. • Conhecer os conceitos que norteiam a Educação Especial. • Compreender a importância das políticas e diretrizes da Educação Especial e Inclusiva. UNIDADE I Educação Especial: Aspectos Históricos, Políticos e Legais Professora Mestre: Ana Paula Francisca dos Santos 7UNIDADE I Educação Especial: Aspectos Históricos, Políticos e Legais INTRODUÇÃO Olá caro (s) aluno (s), seja bem-vindo (s) a primeira unidade do nosso estudo. Você tem ou conhece alguém que tenha algum tipo de deficiência? Tenho certeza que você, caro (s) aluno (s), já presenciou inúmeras vezes pessoas com deficiência transitando em nosso meio, mas você já parou para pensar como era no passado, lá na Idade Antiga, no início da nossa história como cidadão? É, muitas vezes nos deparamos com situações que nos fazem refletir sobre determinados aspectos que nos rodeiam. Na história da Educação Especial, não é diferente, uma vez que, para que fosse possível a educação de pessoas com deficiência, muitos paradigmas tiveram que ser quebrados. Portanto, podemos dizer que a história da Educação Especial foi influenciada por inúmeros fatores, fatores estes, abordados na Unidade I deste livro. Assim poderemos juntos, conhecer um pouco sobre o início da Educação Especial, a qual se inicia na Idade Antiga e se estende até os dias atuais. Sendo assim, caro (s) aluno (s), convido você (s) para fazer uma viagem de volta ao passado e conhecer o princípio desta história. Vamos lá? Bons estudos! 8UNIDADE I Educação Especial: Aspectos Históricos, Políticos e Legais 1. EDUCAÇÃO ESPECIAL: ASPECTOS HISTÓRICOS, POLÍTICOS E LEGAIS 1.1. Introdução ao Estudo da Educação Especial A Educação Especial e Inclusiva nada mais é que uma modalidade do ensino que realiza um atendimento especializado a pessoas com deficiência (PcD), o qual tem o objetivo de assegurar a inclusão dos alunos com deficiência e seu direito a educação. Portanto, antes de adentramos as particularidades da introdução ao estudo da Educação Especial, será necessário conhecermos as primícias que regeram o atual contexto da Educação Especial. Sendo assim, caro (s) aluno (s), para iniciarmos nosso estudo, retornaremos aos países do ocidente no período da Idade Antiga, onde a política que predominava na sociedade amparava a exclusão das pessoas deficientes do meio social. Neste período, alguns povos dos países europeus como os que viviam na Esparta na Antiga Grécia também costumavam abandonar ou atirar as crianças que nasciam com algum tipo de deficiência em penhascos ou em rios profundos. Entre os povos egípcios, as crianças eram mortas com marteladas na cabeça e enterradas em urnas sarcófagas para que sua alma se purificasse e a criança retornasse na próxima vida de forma normal, com beleza e inteligência (ANDRADE, 2008). Segundo Andrade (2008) na Idade Antiga, o preconceito predominava na sociedade e por este motivo, não era aceitável que pessoas com deficiência convivessem em meios sociais.Assim, qualquer pessoa que nascesse com deficiência era morta. 9UNIDADE I Educação Especial: Aspectos Históricos, Políticos e Legais No período da Idade Média a igreja possuía pleno poder sobre as decisões da sociedade, ou seja, a sociedade seguia os padrões que a igreja determinava como certo e errado. Seguindo esta concepção Rechineli (2008), relata que neste período a igreja era considerada a maior influenciadora do destino das pessoas com deficiência, pois atrelavam a imagem desses sujeitos à questões religiosas ligadas ao pecado e a culpa. Outra concepção desta mesma época que também ligava a imagem das pessoas com deficiência a preceitos religiosos as definiam com atos demoníacos e de feitiçaria. Esta visão cristã que ligava a imagem das pessoas com deficiência a questões religiosas de pecado e culpa, levava a sociedade a perseguir e a matar qualquer pessoa que apresentasse deficiência física, mental ou sensorial. Portanto, para a sociedade deste período, ter uma criança com deficiência na família era considerado uma forma de punição pelos pecados cometidos. Deste modo, a sociedade acreditava que as pessoas com deficiência impossibilitavam o contato com a divindade, e por isto, muitas pessoas eram afastadas do convívio social ou sacrificadas por sua família (RECHINELI, 2008). Diante disto, este período foi caracterizado como a “Idade das Trevas”, pois entre o final da Idade Média e o início da Idade Moderna a falta de conhecimento, o medo do desconhecido e os paradigmas religiosos e sobrenaturais que não permitiam explicar as deformidades físicas, mentais e sensoriais do homem, levou à morte milhares de pessoas que eram consideradas ou que apresentavam algum grau de deficiência. Esta concepção religiosa permaneceu até o início da Idade Moderna, entretanto, até este período, as pessoas com deficiência ainda eram expostas ou submetidas a executar trabalhos considerados de humilhação pública. Contudo em meados do século XVI, os médicos Paracelso e Cardano passaram a estudar e defender a ideia que a deficiência era decorrência de fatores hereditários ou congênitos, que poderiam ser tratados pela medicina. Com isto, a igreja foi perdendo forças sobre as decisões tomadas em relação ao futuro das pessoas com deficiência, pois segundo os médicos Paracelso e Cardano não caberia ao clero o direito de decidir sobre a vida das pessoas que eram consideradas “fora dos padrões normais” (ANDRADE, 2008). Com as mudanças ocorridas neste período nos países do ocidente, os preceitos religiosos e morais foram modificados e a igreja passou a oferecer assistência as pessoas com deficiência. Logo na sequência, no século XVII, o médico inglês Thomas Willis lança em Londres a primeira obra que descreve a anatomia do cérebro humano (ANDRADE, 2008). Esta obra confirma por meio da ciência que muitas deficiências ocorrem diante de alterações cerebrais, ou seja, tal fato confirma a ideia apresentada por Paracelso e 10UNIDADE I Educação Especial: Aspectos Históricos, Políticos e Legais Cardano, em que designa a medicina como responsável por explicar as deformidades das pessoas com deficiência (ANDRADE, 1984). Assim, pautados em argumentos científicos, a sociedade obteve uma nova visão com relação as pessoas com deficiência. Essa ideia que associava pessoas com deficiência à questões que a medicina poderia solucionar motivou a população e contribuiu para quebrar da visão religiosa que associava a deficiência ao pecado e a culpa. Assim, caro (s) aluno (s), a sociedade passava a acreditar que a deficiência está ligada a aspectos médicos e pedagógicos. Então, a medida que o conhecimento se construía e acumulava, a sociedade passava a aceitar a deficiência como uma doença que não pode ser curada. Dessa forma, inicia-se em meados do século XVI as primeiras ações voltadas a atender pedagogicamente as pessoas com deficiência (RECHINELI, 2008). No entanto, durante o século XVII e meados do século XIX as pessoas com deficiência ainda eram protegidas por instituições residenciais, o que caracterizou este período como a fase da institucionalização. As primeiras classes direcionadas ao atendimento dos alunos com deficiência criadas em instituições públicas regulares surgiram entre o final do século XIX e início do século XX, com o objetivo de promover a integração do sujeito com deficiência ao meio social. Após a introdução das classes especiais, médicos e educadores como Jean Marc Itard (1774-1838), Edward Seguin (1812-1880) e Maria Montessori (1870-1956) buscaram desenvolver métodos de treinamento por meio da prática de atividades físicas e sensoriais para estimular o cérebro dos deficientes mentais. Estes fatos da história da Educação Especial representaram no ocidente um marco histórico. No entanto, segundo Mendes (2011), no Brasil os marcos que caracterizaram o início da Educação Especial consistem na criação do “Instituto dos Meninos Cegos” (hoje “Instituto Benjamin Constant”) em 1854, e do “Instituto dos Surdos-Mudos” (hoje, “Instituto Nacional de Educação de Surdos – INES”) em 1857, ambos na cidade do Rio de Janeiro. Dessa forma, considera que a Educação Especial no Brasil foi marcada por ações isoladas voltadas a atender pessoas com deficiências sensoriais (visual e auditiva), e uma pequena parte de deficientes físicos. Portanto, caro (s) aluno (s), diferente dos países do ocidente e da Europa que visavam atender as pessoas com deficiência mental ou intelectual, o Brasil quase que de forma absoluta, silenciava as ações voltadas ao atendimento de pessoas com deficiência mental, pois a concepção de deficiente mental era associada a aspectos sociais da época. Podemos concluir que nesta época a concepção da sociedade associava o deficiente mental a aspectos correlacionados a um comportamento inaceitável no contexto social. Assim, 11UNIDADE I Educação Especial: Aspectos Históricos, Políticos e Legais qualquer criança que apresente um comportamento fora do esperado pela sociedade, era considerado deficiente mental (MENDES, 2011). Seguindo essa visão, podemos dizer que o Brasil não considerava a deficiência mental com um fator prejudicial que necessitasse de atendimento educacional especializado. Assim, até o ano de 1874 quando surgiu na Bahia o primeiro hospital direcionado a atender pessoas com deficiência mental e intelectual, a Educação Especial era direcionada a atender pessoas com deficiências sensoriais e alguns casos de deficiência física (MENDES, 2011). Dessa forma, a falta de conhecimento sobre tais deficiências dificultava a identificação e classificação do deficiente mental e intelectual, de forma que ambas eram relacionadas a fatores negativos, que impossibilitavam o sujeito de agir como um ser autônomo. Desse modo, os hospitais construídos para atender o deficiente mental e intelectual nada mais eram do que espaços psiquiátricos voltados ao estudo de doenças mentais. No entanto, os hospitais psiquiátricos da época também eram responsáveis por isolar do convívio social todos que apresentassem algum tipo de doença mental, em prol de prevenir a sociedade de pessoas consideradas perigosas pois, segundo Mendes (2011), na concepção da sociedade brasileira desta época, o deficiente mental e intelectual era visto como um fardo perigoso que não podia permanecer no meio social. Assim, caro (s) aluno (s), Mendes (2011) relata a vertente médico-pedagógica, os médicos iniciam um tratamento que visam a educabilidade dos deficientes em prol de prevenir problemas sociais em sua vida adulta. Contudo, mediante a esta vertente surgem escolas dentro de hospitais e serviços de inspeção médica escolar para escolas públicas com o intuito de manter a comunidade livre do contato com deficientes mentais e intelectuais. Em relação a vertente psicopedagógica, trata-se de professores especializados que buscam defender a educação de deficientes mentais e intelectuais,os quais se mostravam preocupados em diagnosticar as causas do encaminhamento para as salas especiais. Neste caso, caro (s) aluno (s), o psicopedagogo trabalha com recursos alternativos na busca de identificar o grau de deficiência ou dificuldade intelectual da criança ou do jovem encaminhado para as classes especiais das escolas (MENDES, 2011). Já nos anos de 1920 à 1930 as escolas primárias começaram a se expandir, e o ensino passou a ser ofertado em turnos devido a necessidade de mão obra (MENDES, 2010). Assim, estas mudanças que iniciaram a reforma da educação tinham o propósito de gerar uma nova escola, a qual predominasse um novo sistema educacional brasileiro com vertentes psicopedagógicas dando as mesmas oportunidades educacionais a todos. 12UNIDADE I Educação Especial: Aspectos Históricos, Políticos e Legais Os defensores desta pedagogia denominada como a Pedagogia da Escola-Nova tinham o objetivo de reestruturar a pedagogia para sanar preocupações políticas e sociais, valorizando a liberdade, a criatividade e a psicologia infantil. Assim, deram início ao Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, movimento que resultou na elaboração de uma diretriz que rege uma nova política nacional de educação e de ensino em todos os níveis, aspectos e modalidades, para diminuir a desigualdade social e oferecer educação a todos (MENDES, 2010). SAIBA MAIS Os Pioneiros, Entusiastas da Educação Nova Para saber mais sobre o Manifesto dos Pioneiro, assista o vídeo disponível no link abaixo. O documento foi redigido por 26 educadores intelectuais, em 1932, e intitulado como: A reconstrução educacional no Brasil: ao povo e ao governo. Este documento oferece novas ideias educacionais, que visam reestruturar as políticas educacionais. Fonte: Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=f6LTmh7Vn04 Acesso em: 22 de mar de 2020 Com o movimento dos pioneiros e da Escola Nova, a psicologia ganhou espaço no meio educacional e assim surgiram testes para diagnosticar os alunos com deficiência mental. No entanto, para alcançar este feito, muitos professores-psicólogos europeus foram trazidos ao Brasil para capacitar educadores brasileiros para atuar na Educação Especial. Entretanto, Jannuzzi (2012) relata que mesmo diante deste movimento que reforma a educação, a Educação Especial ainda permanecia com poucos recursos, visto que até 1935, haviam apenas 22 instituições direcionadas a oferta de Educação Especializada para atender os deficientes mentais, ou seja, o país ainda permaneceu focado em atender deficientes sensoriais. Ao passar dos anos, as instituições públicas que ofereciam atendimento especializados a pessoas com deficiência cresceram, chegando a alcançar até 1950, um número de 190 instituições em todo o país. Mesmo que este número seja considerado baixo, o ensino da Educação Especial ainda estava evoluindo. Por outro lado, Farias e Lopes (2015) apontam que essa evolução no ensino especializado a pessoas com deficiência, facilitou a identificação dos alunos com deficiência mental, transtornos globais ou com dificuldades de aprendizagem. No entanto, o diagnóstico do aluno com deficiência mental 13UNIDADE I Educação Especial: Aspectos Históricos, Políticos e Legais ao invés de diminuir a desigualdade social contribuiu para que a sociedade excluísse mais ainda o sujeito com deficiência. Neste período, caro (s) aluno), entre a década de 50 e 60 a educação foi marcada pela expansão das instituições de Educação Especial, as quais eram a grande maioria de caráter filantrópicos, sem fins lucrativos e ligadas a entidades religiosas, com auxílio do estado. É possível perceber que a concepção da igreja em relação a pessoas com deficiência, não é mais a mesma, pois foi se modificando com o passar dos tempos. Porém, de acordo com Andrade (2008) até este período, a Educação Especial permanece em caráter mais assistencial do que educacional, isto é, as instituições de Educação Especial prezavam mais os cuidados ao invés da aprendizagem, visto que a sociedade não se preocupava em inserir o sujeito com deficiência, no meio social, e sim em lhe oferecer as condições necessárias para sua sobrevivência. É válido ressaltar que até este período, a oferta de Educação Especial era voltada a dar assistência a pessoas com deficiência sensorial e mental. Os primeiros cursos superiores de formação de docentes voltados a educação inclusiva de pessoas com deficiência, surgiram somente no final da década de 70, devido a necessidade de complementar a formação dos docentes que trabalhavam com alunos com deficiência (FARIAS; LOPES, 2015). Esta ação levou a obrigatoriedade do atendimento especializado aos deficientes pela rede pública de ensino. Além da expansão das instituições privadas de caráter filantrópicos, que ofertavam o atendimento especializado sem fins lucrativos. Consequentemente, esta ação trouxe nova polêmicas com relação aos direitos dos deficientes. Sendo assim, caro (s) aluno (s), inicia-se novas discussões, as quais serão abordadas no tópico a seguir, sobre os aspectos conceituais relacionado ao direito do sujeito deficiente. REFLITA Educar é viajar no mundo do outro, sem nunca penetrar nele. É usar o que passamos para transformar no que somos. Augusto Cury 14UNIDADE I Educação Especial: Aspectos Históricos, Políticos e Legais 2. CONCEITO E HISTÓRICO DA EDUCAÇÃO ESPECIAL Assim como vimos anteriormente, caro (s) aluno (s), a Educação Especial visa inserir e educar pessoas com deficiência física, mental e sensorial para contexto social. No entanto, os primeiros conceitos apresentados na história da Educação Especial, associava a imagem do sujeito com qualquer tipo de deficiência, a aspectos religiosos de culpa e pecado. Na sequência, a imagem do sujeito com deficiência mental e intelectual foi associada a aspectos comportamentais presentes na sociedade da época. E assim, por vários séculos a sociedade excluiu a população com deficiência, que não se enquadrava dentro dos padrões denominados como normais, por preceitos religiosos e por falta de conhecimento suficiente para lidar com tais diversidades. Com o passar dos anos e a evolução da sociedade, pessoas com deficiência foram associadas a diversas terminologias como a de pessoas incapacitadas, inválidas, minorados, impedidos, descapacitados, excepcionais, entre outras centenas de termos relacionados ao tipo de deficiência de cada sujeito. Isto é, segundo Andrade (2008) para cada deficiência utilizava-se uma terminologia, porém no contexto social, o vocabulário usado apresentava terminologias consideradas ofensivas aos deficientes, tais como “débil mental”, “idiota”, “retardado mental”, “excepcional”, “incapaz mentalmente”, “maluco”, “louco”, “dementes”, “estúpidos”, “imbecis” ou “alienados” eram associadas aos deficientes mentais, já quanto os deficientes físicos e sensoriais Mendes (2011) apresenta termos com “aleijados”, “enjeitados”, “mancos”, “cegos”, “surdos-mudos”, “loucos”. 15UNIDADE I Educação Especial: Aspectos Históricos, Políticos e Legais Neste sentido, Diniz (2009) relata que estas terminologias designadas a pessoas com deficiência, não se refere a uma classificação de doenças e lesões, e sim a questões de desigualdade imposta pela sociedade, visto que até a década de 60, pessoas com deficiência não tinham seus direitos como algo que prevalece no meio social, ou seja, ainda não haviam regras que defendiam os mesmos direitos dos cidadãos considerados normais para pessoas com deficiência, pois na visão da sociedade as pessoas com deficiência ainda deveriam ser excluídas. Neste período, os países mais desenvolvidos passaram a reconhecer os direitos do sujeito com deficiência, passando assim a enxergá-lo com parte diversificada da humanidade. Por outro lado, os países subdesenvolvidos e emergentes como o Brasil, permaneceram com a mesma visão até a década de 80. No entanto, estemovimento de reconhecimento ocorreu mediante a uma forte pressão de um grupo de intelectuais com deficiência, juntamente com inúmeras outras pessoas com deficiência que lutavam em prol de serem reconhecidas e de terem seus direitos como sujeito, parte da sociedade (MENDES, 2011). Assim, este ato deu início a novas políticas e ações direcionadas a diminuir a desigualdade que desfavorecia a população com deficiência, classificando-as como pessoas “que têm impedimentos de natureza física, intelectual ou sensorial, os quais, em interação com diversas barreiras, podem obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade com as demais pessoas” (ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS [ONU], 2006a, artigo 1º.). Dessa forma, na tentativa de superar as visões e políticas antigamente associadas a imagem do deficiente, este movimento liderado por pessoas intelectuais deficientes, constituiu e implantou normas as quais definiam os deficientes como pessoas que apresentavam limitações e contradições em sua forma e ação. E assim, inicia a luta pelo reconhecimento dos direitos da população com deficiência. Contudo, até chegarmos a este momento, caro (s) aluno (s), a população com deficiência enfrentou períodos de total exclusão, onde foram sacrificadas, perseguidas e abandonadas pela sociedade. Assim, este período de exclusão foi marcado pela privação do direito do sujeito com deficiência de conviver no meio social. Após a luta pelo reconhecimento e pelos direitos do sujeito com deficiência, a educação de pessoas com deficiência passa a ser integrada ao sistema regular de ensino. No entanto, neste período a educação ofertada às pessoas com deficiência era realizada de forma diferenciada, em escolas especiais e em espaços separado das escolas de que ofertavam o ensino regular a população. Fato que marcou o inicio da chamada segregação, 16UNIDADE I Educação Especial: Aspectos Históricos, Políticos e Legais pois, mesmo que indiretamente, a exclusão continuava ocorrendo, pois, os alunos com deficiência eram mantidos em espaços preservados, sem contato com outras crianças consideradas pela sociedade, normais. Quanto ao processo de integração do sujeito com deficiência no contexto da escola regular, este ocorreu mediante inserção de espaços como salas especiais para oferecer atendimento especializado aos alunos com deficiência. Assim, caro (s) aluno (s) considera- se que o conceito de integração se refere à necessidade de modificar o comportamento do outro, de forma que o sujeito com deficiência venha a se identificar com os demais, para que assim seja inserido no contexto social. Dessa forma é possível notar que os conceitos de exclusão, segregação e integração ainda mantém o sujeito afastado do meio social, mesmo que indiretamente. Então, caro (s) aluno (s), podemos dizer que o objetivo de incluir o sujeito com deficiência no contexto da educação regular iniciou de forma demasiada, devido à falta de compreensão dos conceitos que definem o que inclusão, pois, incluir o sujeito em escolas regulares, fazendo com que ele aprenda juntamente a outros alunos considerados deficientes, em uma sala especial, afastada de ensino regular normal, não pode ser considerado uma inclusão, mas sim uma forma de manter este sujeito excluído da sociedade. Neste caso, a Lei De Diretrizes e Bases 4.024/61 de 1961, a qual visa a integração entre o ensino regular e a educação de pessoas com deficiência, não promove a inclusão, mantendo assim somente a integração do sujeito com deficiência no contexto da escola de ensino regular. Dessa forma, até a década de 80, os conceitos que norteiam Educação Especial, se limitam a oferta do atendimento educacional e especializado de pessoas com deficiência mantendo-as excluídas indiretamente. Diante desta concepção que não engloba a Educação Especial de forma inclusiva, na tentativa de reconfigurar o modelo de Educação Especial adaptando-a para uma perspectiva inclusiva, o governo federal retificou o Decreto Nº 6.571, de 17 de Setembro de 2008 para garantir às pessoas com deficiência o direito de se matricular e frequentar escolas e classes de ensino regular. Esta nova normativa permite que o sujeito com deficiência seja inserido e passe a interagir com outras crianças que não apresentam nenhum tipo de deficiência. Dessa forma, a Educação Especial assume um caráter complementar, suplementar e transversal, o qual visa diminuir as barreiras para a inclusão de pessoas com deficiência no contexto social. 17UNIDADE I Educação Especial: Aspectos Históricos, Políticos e Legais Esta ação também interliga a proposta pedagógica da escola, à proposta de inclusão de pessoas com deficiências, por meio de recursos que possibilitem sua inserção âmbito de escolas comuns, pois visa a oferta de serviços especializados no atendimento educacional direcionado ao público com deficiência, presente em salas de aulas do ensino regular. Neste sentido, é válido ressaltar, caro (s) aluno (s), que a Educação Especial nem sempre teve como foco a inclusão de pessoas com deficiência no contexto social, pois antigamente a sociedade não a reconhecia como parte da sociedade, privando-as da educação e do convívio social. Frente a isto, o quadro 1 representa a diferença entre determinados aspectos relacionados à concepção de Educação Especial sobre aspectos de segregação e integração e o novo modelo de Educação Especial sobre um olhar inclusivo. Quadro 1: Educação Especial e Educação Especial e Inclusiva Educação Especial: Segregação e integração Educação Especial: Inclusiva Sistema separado, paralelo ao regular Faz parte da proposta pedagógica da escola. Perpassa todos os níveis, etapas e modalidades de ensino. Por isso, é tida como transversal Substitui o ensino regular Complementa ou suplementa ao processo de escolari-zação em sala de aula Dinâmica independente, total ou parcialmen- te dissociada do ensino regular Dinâmica dependente, totalmente articulada com o tra- balho realizado em sala Restritiva e condicional. Somente os alunos considerados aptos para o ensino regular podem frequentá-lo Incondicional e irrestrita. Garante o direito de todos à educação, ou seja, à plena participação e aprendizagem O referencial é o que se convenciona julgar como “normal” ou estatisticamente mais fre- quente Parte do pressuposto de que a diferença é uma carac- terística humana Baseia-se no modelo médico de deficiência. Foca nos aspectos clínicos, ou seja, no diag- nóstico Baseia-se no modelo social de deficiência. Foca na ar- ticulação entre as características da pessoa e as barrei- ras a sua participação presentes no ambiente Nem todos os estudantes conseguem se adaptar à escola. Nem todos correspondem ao padrão estabelecido por ela A escola deve responder às necessidades e interesses de todos os alunos, sem exceção, partindo do pressu- posto de que todas as pessoas aprendem Estratégias pedagógicas diferentes para so- mente alguns estudantes Diversificação de estratégias pedagógicas para todos Fonte: Instituto Rodrigo Mendes (2019) Partindo dos conceitos que norteiam a Educação Especial no início de sua trajetória, é possível notar, caro (s) aluno (s,) que houve mudanças drásticas sobre as concepções que fundamentavam a inclusão de pessoas com deficiências no contexto educacional. Assim, nosso próximo tópico terá como foco de abordagem as políticas e diretrizes assim como as tendências e desafios que regem a Educação Especial e a Educação Inclusiva. 18UNIDADE I Educação Especial: Aspectos Históricos, Políticos e Legais REFLITA “Pessoas com deficiência são aquelas que têm impedimentos de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, os quais, em interação com diversas barreiras, podem obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdades de condições com as demais pessoas”. Fonte: Convenção sobre os direitos das pessoas com deficiência da ONU.2020. 19UNIDADE I Educação Especial: Aspectos Históricos, Políticos e Legais 3. POLÍTICAS E DIRETRIZES, TENDÊNCIAS E DESAFIOS DA EDUCAÇÃO ESPE- CIAL E DA EDUCAÇÃO INCLUSIVA. Antes de iniciarmos este tópico caro (s) aluno (s), é bom relembrarmos que a história da Educação Especial é marcada por um processo de transformações históricas e políticas, resultado de um movimento que luta pela educação de pessoas com deficiência, assim como seus direitos como cidadão. Neste período de luta, muitas conquistas foram alcançadas, porém, por muito tempo a Educação Especial era vista em caráter de segregação e integração, o qual o atendimento educacional especializado era ofertado em espaços separados das classes de ensino regular. No entanto, esse atendimento especializado passou a ser ofertado somente após a criação da Lei 4.024 de Diretrizes e Bases de 1961, a qual visa garantir a educação de pessoas com deficiência ou como eram denominadas a “educação de excepcionais”. Segundo Andrade (2008), a criação desta lei foi apontada com o marco que deu início às ações públicas voltadas a atender a educação especial em nível federal. Por outro lado, esta lei deu início a uma série de debates sobre as concepções que regem a oferta da Educação Especial, a qual deve ser reestruturada para atender as necessidades da atual sociedade, pois como já foi dito, caro (s) aluno (s), desde o início da oferta da Educação Especial, a proposta de inclusão não vem ocorrendo de forma direta. Dessa forma você poderá acompanhar no quadro 2 as mudanças e alterações ocorridas desde o início da primeira lei que rege a Educação Especial, sobre a perspectiva de integração de 1961 até o novo modelo que visa a perspectiva de inclusão em 2008. 20UNIDADE I Educação Especial: Aspectos Históricos, Políticos e Legais Quadro 2: Política Nacional de Educação Especial LEI DESCRIÇÃO 1961 – Lei Nº 4.024 A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN) fundamenta- va o atendimento educacional às pessoas com deficiência, chamadas no texto de “excepcionais” (atualmente, este termo está em desacordo com os direitos fundamentais das pessoas com deficiência). Segue trecho: “A Educação de excepcionais, deve, no que for possível, enquadrar-se no sistema geral de Educação, a fim de integrá-los na comunidade.” 1971 – Lei Nº 5.692 A segunda lei de diretrizes e bases educacionais do Brasil foi feita na épo- ca da ditadura militar (1964-1985) e substituiu a anterior. O texto afirma que os alunos com “deficiências físicas ou mentais, os que se encontrem em atraso considerável quanto à idade regular de matrícula e os super- dotados deverão receber tratamento especial”. Essas normas deveriam estar de acordo com as regras fixadas pelos Conselhos de Educação. Ou seja, a lei não promovia a inclusão na rede regular, determinando a escola especial como destino certo para essas crianças. 1988 – Constituição Fe- deral O artigo 208, que trata da Educação Básica obrigatória e gratuita dos 4 aos 17 anos, afirma que é dever do Estado garantir “atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino”. Nos artigos 205 e 206, afirma-se, respectivamente, “a Educação como um direito de todos, garantindo o pleno desenvolvimento da pessoa, o exercício da cidadania e a qualificação para o trabalho” e “a igualdade de condições de acesso e permanência na escola”. 1989 – Lei Nº 7.853 O texto dispõe sobre a integração social das pessoas com deficiência. Na área da Educação, por exemplo, obriga a inserção de escolas especiais, privadas e públicas, no sistema educacional e a oferta, obrigatória e gra- tuita, da Educação Especial em estabelecimento público de ensino. Tam- bém afirma que o poder público deve se responsabilizar pela “matrícula compulsória em cursos regulares de estabelecimentos públicos e particu- lares de pessoas portadoras de deficiência capazes de se integrarem no sistema regular de ensino”. Ou seja: excluía da lei uma grande parcela das crianças ao sugerir que elas não são capazes de se relacionar social- mente e, consequentemente, de aprender. O acesso a material escolar, merenda escolar e bolsas de estudo também é garantido pelo texto. 1990 – Lei Nº 8.069 Mais conhecida como Estatuto da Criança e do Adolescente, a Lei Nº 8.069 garante, entre outras coisas, o atendimento educacional especia- lizado às crianças com deficiência preferencialmente na rede regular de ensino; trabalho protegido ao adolescente com deficiência e prioridade de atendimento nas ações e políticas públicas de prevenção e proteção para famílias com crianças e adolescentes nessa condição. 1994 – Política Nacional de Educação Especial Em termos de inclusão escolar, o texto é considerado um atraso, pois propõe a chamada “integração instrucional”, um processo que permite que ingressem em classes regulares de ensino apenas as crianças com deficiência que “(...) possuem condições de acompanhar e desenvolver as atividades curriculares programadas do ensino comum, no mesmo ritmo que os alunos ditos “normais” (atualmente, este termo está em desacordo com os direitos fundamentais das pessoas com deficiência). Ou seja, a política excluía grande parte dos alunos com deficiência do sistema regu- lar de ensino, “empurrando-os” para a Educação Especial. 1996 – Lei Nº 9.394 A Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) em vigor tem um capítulo específico para a Educação Especial. Nele, afirma-se que “haverá, quan- do necessário, serviços de apoio especializado, na escola regular, para atender às peculiaridades da clientela de Educação Especial”. Também afirma que “o atendimento educacional será feito em classes, escolas ou serviços especializados, sempre que, em função das condições especí- ficas dos alunos, não for possível a integração nas classes comuns de ensino regular”. Além disso, o texto trata da formação dos professores e de currículos, métodos, técnicas e recursos para atender às necessidades das crianças com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação. 21UNIDADE I Educação Especial: Aspectos Históricos, Políticos e Legais 1999 – Decreto Nº 3.298 O decreto regulamenta a Lei nº 7.853/89, que dispõe sobre a Política Na- cional para a Integração da Pessoa Portadora de Deficiência e consolida as normas de proteção, além de dar outras providências. O objetivo prin- cipal é assegurar a plena integração da pessoa com deficiência no “con- texto socioeconômico e cultural” do País. Sobre o acesso à Educação, o texto afirma que a Educação Especial é uma modalidade transversal a todos os níveis e modalidades de ensino e a destaca como complemento do ensino regular. 2001 – Lei Nº 10.172 O Plano Nacional de Educação (PNE) anterior, criticado por ser muito extenso, tinha quase 30 metas e objetivos para as crianças e jovens com deficiência. Entre elas, afirmava que a Educação Especial, “como modali- dade de Educação escolar”, deveria ser promovida em todos os diferentes níveis de ensino e que “a garantia de vagas no ensino regular para os diversos graus e tipos de deficiência” era uma medida importante. 2001 – Resolução CNE/ CEB Nº 2 O texto do Conselho Nacional de Educação (CNE) institui Diretrizes Na- cionais para a Educação Especial na Educação Básica. Entre os princi- pais pontos, afirma que “os sistemas de ensino devem matricular todos os alunos, cabendo às escolas organizar-se para o atendimento aos edu- candos com necessidades educacionais especiais, assegurando as con- dições necessárias para uma Educação de qualidade para todos”. Porém, o documento coloca como possibilidade a substituição do ensino regular pelo atendimento especializado. Considera ainda que o atendimento es- colar dos alunos com deficiência tem início na Educação Infantil, “assegu- rando- lhes os serviços de educação especial sempre que se evidencie, mediante avaliação e interação com a família e a comunidade, a necessi-dade de atendimento educacional especializado”. 2002 – Lei Nº 10.436/02 Reconhece como meio legal de comunicação e expressão a Língua Bra-sileira de Sinais (Libras). 2002 – Resolução CNE/CP Nº1/2002 A resolução dá “diretrizes curriculares nacionais para a formação de pro- fessores da Educação Básica, em nível superior, curso de licenciatura, de graduação plena”. Sobre a Educação Inclusiva, afirma que a formação deve incluir “conhecimentos sobre crianças, adolescentes, jovens e adul- tos, aí incluídas as especificidades dos alunos com necessidades educa- cionais especiais”. 2005 – Decreto Nº 5.626/05 Regulamenta a Lei Nº 10.436, de 2002. 2006 – Plano Nacional de Educação em Direitos Hu- manos Documento elaborado pelo Ministério da Educação (MEC), Ministério da Justiça, Unesco e Secretaria Especial dos Direitos Humanos. Entre as metas está a inclusão de temas relacionados às pessoas com deficiência nos currículos das escolas. 2007 – Decreto Nº 6.094/07 O texto dispõe sobre a implementação do Plano de Metas Compromisso Todos pela Educação do MEC. Ao destacar o atendimento às necessi- dades educacionais especiais dos alunos com deficiência, o documento reforça a inclusão deles no sistema público de ensino. 2007 – Plano de Desen- volvimento da Educação (PDE) No âmbito da Educação Inclusiva, o PDE trabalha com a questão da in- fraestrutura das escolas, abordando a acessibilidade das edificações es- colares, da formação docente e das salas de recursos multifuncionais. 2008 – Decreto Nº 6.571 Dispõe sobre o atendimento educacional especializado (AEE) na Educa- ção Básica e o define como “o conjunto de atividades, recursos de aces- sibilidade e pedagógicos organizados institucionalmente, prestado de forma complementar ou suplementar à formação dos alunos no ensino regular”. O decreto obriga a União a prestar apoio técnico e financeiro aos sistemas públicos de ensino no oferecimento da modalidade. Além disso, reforça que o AEE deve estar integrado ao projeto pedagógico da escola. 2008 – Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva Documento que traça o histórico do processo de inclusão escolar no Bra- sil para embasar “políticas públicas promotoras de uma Educação de qua- lidade para todos os alunos”. 22UNIDADE I Educação Especial: Aspectos Históricos, Políticos e Legais 2009 – Resolução Nº 4 CNE/CEB O foco dessa resolução é orientar o estabelecimento do atendimento edu- cacional especializado (AEE) na Educação Básica, que deve ser reali- zado no contraturno e preferencialmente nas chamadas salas de recur- sos multifuncionais das escolas regulares. A resolução do CNE serve de orientação para os sistemas de ensino cumprirem o Decreto Nº 6.571. 2011 - Decreto Nº 7.480 Até 2011, os rumos da Educação Especial e Inclusiva eram definidos na Secretaria de Educação Especial (Seesp), do Ministério da Educação (MEC). Hoje, a pasta está vinculada à Secretaria de Educação Continua- da, Alfabetização, Diversidade e Inclusão (Secadi). 2011 - Decreto Nº 7.611 Revoga o decreto Nº 6.571 de 2008 e estabelece novas diretrizes para o dever do Estado com a Educação das pessoas público-alvo da Edu- cação Especial. Entre elas, determina que sistema educacional seja in- clusivo em todos os níveis, que o aprendizado seja ao longo de toda a vida, e impede a exclusão do sistema educacional geral sob alegação de deficiência. Também determina que o Ensino Fundamental seja gratui- to e compulsório, asseguradas adaptações razoáveis de acordo com as necessidades individuais, que sejam adotadas medidas de apoio indivi- dualizadas e efetivas, em ambientes que maximizem o desenvolvimento acadêmico e social, de acordo com a meta de inclusão plena, e diz que a oferta de Educação Especial deve se dar preferencialmente na rede regular de ensino. 2012 – Lei nº 12.764 A lei institui a Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista. 2014 – Plano Nacional de Educação (PNE) A meta que trata do tema no atual PNE, como explicado anteriormente, é a de número 4. Sua redação é: “Universalizar, para a população de 4 a 17 anos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas ha- bilidades ou superdotação, o acesso à educação básica e ao atendimento educacional especializado, preferencialmente na rede regular de ensino, com a garantia de sistema educacional inclusivo, de salas de recursos multifuncionais, classes, escolas ou serviços especializados, públicos ou conveniados”. O entrave para a inclusão é a palavra “preferencialmente”, que, segundo especialistas, abre espaço para que as crianças com defi- ciência permaneçam matriculadas apenas em escolas especiais. 2019 - Decreto Nº 9.465 Cria a Secretaria de Modalidades Especializadas de Educação, extinguin- do a Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão (Secadi). A pasta é composta por três frentes: Diretoria de Aces- sibilidade, Mobilidade, Inclusão e Apoio a Pessoas com Deficiência; Dire- toria de Políticas de Educação Bilíngue de Surdos; e Diretoria de Políti- cas para Modalidades Especializadas de Educação e Tradições Culturais Brasileiras Fonte: Copyright (2020) Partindo do que foi abordado neste tópico, caro (s) aluno (s), considera que mesmo diante dos avanços, a Educação Especial ainda necessita de reajustes para se adaptar à nova perspectiva inclusiva. No entanto, é possível dizer que a inclusão de pessoas com deficiência no âmbito educacional de escolas em nível regular, depende muito da aceitação da sociedade, para que não volte a ser vista em caráter integrativo. 23UNIDADE I Educação Especial: Aspectos Históricos, Políticos e Legais REFLITA Considerando o que estudamos nesta unidade, chamo sua atenção, caro (s) aluno (s), para refletir sobre quais as ações que você como futuro docente pode promover dentro do contexto da sala de aula para contribuir para inclusão do aluno com deficiência, seja ela física, mental ou sensorial, sem que promova a exclusão de forma indireta. Fonte: a autora (2020) 24UNIDADE I Educação Especial: Aspectos Históricos, Políticos e Legais CONSIDERAÇÕES FINAIS Nesta unidade realizamos um resgate histórico da concepção da deficiência ao longo da história da humanidade, mostrando os momentos principais na vida da pessoa com deficiência, os quais sofreram com a segregação e a exclusão da sociedade, tendo sua imagem associada a questões religiosas de pecado e culpa. Na sequência, abordamos a introdução da Educação Especial, a qual ainda visava a exclusão de pessoas com deficiência, visto que as crianças que apresentavam algum tipo de deficiência, eram inseridas em ambientes separado das demais crianças, tendo seu foco voltado ao cuidado e não à desenvolver a aprendizagem. Com o decorrer dos anos, a sociedade sofreu mudanças, passando a modificar seu olhar sobre os sujeitos com deficiência. Este estudo mostra também o cenário da Educação Inclusiva e a força de seu movimento ao longo do tempo, assim como as leis que marcaram o movimento da inclusão, as quais vêm contribuindo de forma ativa para a promoção da inserção do sujeito com deficiência na sociedade. Quanto ao Atendimento Educacional Especializado, aprendemos que este deve ocorrer em todos os níveis de ensino, desde o básico até o superior, visando a oferta de uma educação de qualidade que possibilite todas as condições necessárias para a permanência e conclusão dos estudos. Assim, podemos concluir que a Educação Inclusiva refere-se a um processo em constante movimento, que exige dos envolvidos compromisso e responsabilidade social para a efetivação prática de sua ação, pois somente assim os direitos das pessoas com deficiência serão exercidos de forma plena para que possam se ver como parte da sociedade. 25UNIDADE I Educação Especial: Aspectos Históricos, Políticos e Legais LEITURA COMPLEMENTAR Legislação e concepções de atendimento escolar Maria Teresa Eglér MantoanUniversidade Estadual de Campinas Faculdade de Educação Laboratório de Estudos e Pesquisas em Ensino e Diversidade – LEPED/Unicamp Nossas leis educacionais sempre dedicaram capítulos à educação de alunos com deficiência, como um caso particular do ensino regular. A educação especial figura na política educacional brasileira desde o final da década de 50 e sua situação atual decorre de todo um percurso estabelecido por diversos planos nacionais de educação geral, que marcaram sensivelmente os rumos traçados para o atendimento escolar de alunos com deficiência. A evolução dos serviços de educação especial caminhou de uma fase inicial, eminentemente assistencial, visando apenas ao bem-estar da pessoa com deficiência para uma segunda, em que foram priorizados os aspectos médico e psicológico Em seguida, chegou às instituições de educação escolar e, depois, à integração da educação especial no sistema geral de ensino. Hoje, finalmente, choca-se com a proposta de inclusão total e incondicional desses alunos nas salas de aula do ensino regular. Essas transformações têm alterado o significado da educação especial e deturpado o sentido dessa modalidade de ensino. Há muitos educadores, pais e profissionais interessados que a confundem como uma forma de assistência prestada por abnegados a crianças, jovens e adultos com deficiências. Mesmo quando concebida adequadamente, a educação especial no Brasil é entendida também como um conjunto de métodos, técnicas e recursos especiais de ensino e de formas de atendimento escolar de apoio que se destinam a alunos que não conseguem atender às expectativas e exigências da educação regular. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei Nº 4.024/61, garantiu o direito dos “alunos excepcionais” à educação, estabelecendo em seu Artigo 88 que para integrá-los na comunidade esses alunos deveriam enquadrar-se, dentro do possível, no sistema geral de educação. Entende-se que nesse sistema geral estariam incluídos tanto os serviços educacionais comuns como os especiais, mas pode-se também compreender 26UNIDADE I Educação Especial: Aspectos Históricos, Políticos e Legais que, quando a educação de deficientes não se enquadrasse no sistema geral, deveria constituir um especial, tornando-se um sub-sistema à margem. Esta e outras imprecisões acentuaram o caráter dúbio da educação especial no sistema geral de educação. A questão que se punha na época era: Enfim, diante da lei, trata-se de um sistema comum ou especial de educação ? O mesmo está acontecendo atualmente com relação à inserção de alunos com deficiência no ensino regular, mas este caso abordaremos posteriormente, no contexto da discussão em torno da educação inclusiva. Em 1972, o então Conselho Federal de Educação em Parecer de 10/08/72 entendeu a “educação de excepcionais” como uma linha de escolarização, ou seja, como educação escolar. Logo em seguida, Portarias ministeriais, envolvendo assuntos de assistência e de previdência social, quando definiram a clientela da educação especial, posicionaram- se segundo uma concepção diferente do Parecer, evidenciando uma visão terapêutica de prestação de serviços às pessoas com deficiência e elegeram os aspectos corretivos e preventivos dessas ações, não havendo nenhuma intenção de se promover a educação escolar. Ainda hoje, fica patente a dificuldade de se distinguir o modelo médico/ pedagógico do modelo educacional/escolar da educação especial. Esse impasse faz retroceder os rumos da educação especial brasileira, impedindo-a de optar por posições inovadoras, como é o caso da inserção de alunos com deficiência em escolas inclusivas. O que parece estar claro é que os legisladores estabeleceram uma relação direta entre alunos com deficiência e educação especial. Essa correspondência binária nem sempre é a que mais nos interessa, principalmente quando temos como objetivo a inserção total e incondicional de todos os alunos, nas escolas regulares, ou melhor, em uma escola aberta às diferenças. Apesar das definições, estudos, e demais maneiras de se diferenciar a clientela da educação especial, ainda não existem instrumentos legais e respostas conclusivas sobre qual é o verdadeiro alunado da educação especial, ou seja, qual é a sua clientela específica. No discurso oficial, nos planos educacionais, nas diretrizes curriculares nacionais para o ensino de pessoas com deficiência a clientela é bem delimitada. Via de regra, os alunos que lotam as classes especiais ainda hoje não são, na grande parte dos casos, aqueles a quem essa modalidade se dirige e pela ausência de laudos periciais competentes e de queixas escolares bem fundamentadas, correm o risco de serem todos admitidos e considerados como alunos com deficiência. Trata-se de alunos que não estão conseguindo 27UNIDADE I Educação Especial: Aspectos Históricos, Políticos e Legais “acompanhar” seus colegas de classe ou que são indisciplinados, filhos de lares pobres, negros, e outros desafortunados da nossa sociedade entre alguns poucos realmente deficientes. Essas indefinições justificam todos os desmandos e transgressões do direito à educação e à não discriminação que algumas redes de ensino estão praticando por falta de um controle efetivo dos pais, das autoridades de ensino e da justiça em geral. Ressalta-se neste momento a existência de ações que buscam garantir a esses alunos o respeito às suas conquistas legais de estudar com seus pares em escolas regulares. Pata tanto, têm-se mobilizado os procuradores e promotores de justiça responsáveis pela infância e juventude, pessoas idosas e deficientes. As Recomendações dessas autoridades têm dirimido dúvidas e resolvido com sucesso os casos de inadequação e de exclusão escolar, em escolas do governo e particulares. Todas estas situações, que implicam problemas conceituais, desconhecimento dos preceitos da Constituição Federal e interpretações tendenciosas da legislação educacional, têm confundido o sentido da inclusão escolar e prejudicado os que lutam por implementá-la nas escolas brasileiras. Essa questões estão na base da compreensão das políticas de educação especial e regular e têm sido, ao nosso ver, responsáveis por caminhos incertos, trilhados pelos que pensam, decidem e executam os planos educacionais brasileiros. A mudança da nomenclatura – “alunos excepcionais”, para “alunos com necessidades educacionais especiais”, aparece em 1986 na Portaria CENESP/MEC nº 69. Essa troca de nomes, contudo, nada significou na interpretação dos quadros de deficiência e mesmo no enquadramento dos alunos nas escolas. O MEC adota até hoje o termo “portadores de necessidades educacionais especiais – PNEE ao se referir a alunos que necessitam de educação especial. Mesmo incluindo entre esses alunos os que apresentam dificuldades de aprendizagem, os que têm problemas de conduta e de altas habilidade, a clientela da educação especial não fica ainda bem caracterizada, pois mantém-se a relação direta e linear entre o fato de uma pessoa ser deficiente e freqüentar, o ensino especial, na compreensão da maioria das pessoas. A Constituição Brasileira de 1988, no Capítulo III, Da Educação, da Cultura e do Desporto, Artigo 205 prescreve : “A educação é direito de todos e dever do Estado e da família”. Em seu Artigo 208, prevê : ...” o dever do Estado com a educação será efetivado mediante a garantia de:..”atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino”. 28UNIDADE I Educação Especial: Aspectos Históricos, Políticos e Legais Este e outros dispositivos legais referentes à assistência social, saúde da criança, do jovem e do idoso levantam questões muito importantes para a discussão da educação especial brasileira, não apenas com relação à adaptação de edifícios de uso público, quebra de barreiras arquitetônicas de todo tipo, transporte coletivo, salário mínimoobrigatório como benefício mensal às pessoas com deficiência que não possuem meios de prover sua subsistência e outros. Entre essas questões desponta atualmente a inclusão escolar e novamente se questiona aqui a destinação da educação especial. O esclarecimento da referida questão envolve a consideração de três direções possíveis aos encaminhamentos dos alunos às escolas: a) a que implica um sentido de oposição entre educação especial e regular, em que os alunos com deficiência só teriam uma opção para seus estudos, ou seja, o ensino especial; b) a que implica uma inserção parcial, ou seja, a integração de alunos nas salas de aula do ensino regular, quando estão preparados e aptos para estudar com seus colegas do ensino geral e sempre com um acompanhamento direto ou indireto do ensino especial e c) a que indica a inclusão dos alunos com deficiência nas salas de aula do ensino regular, sem distinções e/ou condições, implicando uma transformação das escolas para atender às necessidades educacionais de todos os alunos e não apenas de alguns deles, os alunos com deficiência, altas habilidades e outros mais, como refere a educação especial. O debate atual está centrado nas direções b) e c) acima citadas isto é, entre integração escolar e inclusão escolar. O assunto cria inúmeras e infindáveis polêmicas, provoca as corporações de professores e de profissionais da área de saúde que atuam no atendimento às pessoas com deficiência - os paramédicos e outros que tratam clinicamente de crianças e jovens com problemas escolares e de adaptação social e também “mexem” com as associações de pais que adotam paradigmas tradicionais de assistência às suas clientelas. Afetam também, e muito os professores da educação especial que se sentem temerosos de perder o espaço que conquistaram nas escolas e redes de ensino. Os professores do ensino regular consideram-se sem competência para atender às diferenças nas salas de aula, especialmente aos alunos com deficiência nas suas salas de aulas, pois seus colegas especializados sempre se distinguiram por realizar unicamente esse atendimento e exageraram essa capacidade de fazê-lo aos olhos de todos. Há também um movimento contrário de pais de alunos sem deficiências, que não admitem a inclusão, por acharem que as escolas vão baixar e/ou piorar ainda mais a qualidade de ensino se tiverem de receber esses novos alunos. 29UNIDADE I Educação Especial: Aspectos Históricos, Políticos e Legais A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB mais recente, Lei nº 9.394 de 20/12/96 destina o Capítulo V inteiramente à educação especial, definindo-a no Artg. 58º como uma ... “modalidade de educação escolar, oferecida preferencialmente na rede regular de ensino, para educandos que apresentam necessidades especiais” Este destaque seria de fato um avanço? Sem dúvida, avançamos muito em relação ao texto da Lei Nº 4.024/61, pois parece que não há mais dúvidas de que a “educação dos excepcionais” pode enquadrar- se no sistema geral de educação, mas continuamos ainda atrelados à subjetividade de interpretações, quando topamos com o termo “preferencialmente” da definição citada. No Artigo 59 a nova LDB dispõe sobre as garantias didáticas diferenciadas, como currículos, métodos, técnicas e recursos educativos; terminalidade específica para os alunos que não possam atingir o nível exigido para a conclusão do ensino fundamental, em virtude da deficiência; especialização de professores em nível médio e superior e educação para o trabalho, além de acesso igualitário aos benefícios sociais. A LDB definiu finalmente o espaço da educação especial na educação escolar, mas não mencionou os aspectos avaliativos em nenhum ítem e esta ausência gera preocupação, pois não se sabe o que fazer a respeito – pode-se tanto proteger esses alunos com parâmetros específicos para esse fim, como equipara-los ao que a lei propõe para todos. Sobre a “terminalidade específica” dos níveis de ensino, o texto da lei fica também muito em aberto, principalmente no que diz respeito aos critérios pelos quais se identifica quem cumpriu ou não as exigências para a conclusão desses níveis e o perigo é que a idade venha a ser o indicador adotado. A qualificação do professor para assegurar a operacionalização do ensino de alunos com deficiência suscita muitas questões, devidas igualmente à imprecisão do texto legal. Acreditamos que mais urgente que a especialização é a formação inicial e continuada de professores par atender às necessidades educacionais de todos os alunos, no ensino regular, como proposto pela inclusão escolar. Pesquisas recentes de Mestrado e de Doutorado realizadas por membros do Laboratório de Estudos e Pesquisas em Ensino e Diversidade – LEPED / Universidade Estadual de Campinas- São Paulo/ Brasil, do qual sou a coordenadora, mostram claramente que os professores carecem de uma boa formação para ensinar a todos e não especificamente os deficientes. 30UNIDADE I Educação Especial: Aspectos Históricos, Políticos e Legais Como concluiu Brito de Castro (1997) em seu Mestrado sobre a implantação da inclusão escolar na rede municipal de ensino de Natal/ Rio Grande do Norte/Brasil, o professores têm evidenciado dificuldades para trabalhar com os alunos em geral, não apenas com aqueles com deficiência, dadas as precárias condições de trabalho e de formação docente. A pesquisadora constatou que as professoras necessitam de mais conhecimentos do que já possuem para desenvolver uma prática de ensino que considere as diferenças em sala de aula, e não uma capacitação especializada nas deficiências, como propõem a lei e as políticas educacionais brasileiras. O mesmo foi reconhecido por nós em uma pesquisa realizada na região sudeste do Brasil em 1999, juntamente com outras pesquisadoras brasileiras, quando analisamos as respostas de 493 professores das redes públicas de ensino das quatro capitais dessa região sobre suas necessidades para atender aos alunos com deficiência em salas de aula do ensino regular. Recentemente, em abril de 2001, foi colocado em discussão na Cãmara do Ensino Básico do Conselho Nacional de Educação um documento que trata das Diretrizes Curriculares da Educação Especial. O que mais nos surpreende, neste documento é que, a despeito da ampla discussão entre os educadores, legisladores, pais e pessoas com deficiência, o conceito de inclusão escolar não avançou, do ponto de vista das suas aplicações na mesma medida em que vem sendo esclarecido, do ponto de vista teórico. No referido Documento como em muitos outros, fica evidente esse descompasso, quando se afirma, por exemplo, que: “Operacionalizar a “inclusão escolar” de todos os alunos, independentemente de classe, raça gênero, sexo ou características individuais é o grande desafio a ser enfrentado, numa clara demonstração do respeito à diferença” (p.21). Ele defende a inclusão, mas sugere em todo o texto ações que não respeitam os princípios de uma escola para todos, sem discriminações e preconceitos, sem ensino à parte. De fato, o Documento orienta confusamente essa operacionalização, quando se refere à educação escolar dos alunos com deficiência e à formação inicial dos professores, como comentaremos a seguir. Fonte: MANTOAN, M. T. E. (org.). O desafio das diferenças nas escolas. 4. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2011. Disponível em: http://www.lite.fe.unicamp.br/cursos/nt/ta1.3.htm. Acesso em: 29 de mar de 2020 31UNIDADE I Educação Especial: Aspectos Históricos, Políticos e Legais MATERIAL COMPLEMENTAR LIVRO Título: Educação Inclusiva: um desafio para o século XXI Autor: Irene Elias Rodrigues Editora: Paco Editorial Sinopse: A obra Educação Inclusiva: um desafio para o século XXI nos traz a oportunidade de conhecer a real situação do processo de inclusão nos diferentes espaços e níveis de ensino. Uma coletânea com diferentes profissionais que atuam na área da inclusãoe apontam caminhos diversos e viáveis para que possamos superar os desafios e alcançar os objetivos previstos estabelecidos pela política de inclusão, que vem sendo implantada desde os anos 90 nas escolas estaduais e municipais, mas ainda não conseguiu se solidificar e eliminar a discriminação. Organizada por Irene Elias Rodrigues os textos percorrem um caminho rico de informações subsidiadas em pesquisas e experimentações cujo objetivo principal é contribuir para a efetivação de uma educação de oportunidades iguais para todos. O leitor encontrará conhecimentos teóricos e ações práticas que lhe possibilitará uma visão atual e crítica do processo de inclusão em nosso país. FILME/VÍDEO Título: Vermelho Como o Céu Ano: 2006 Sinopse: O filme se passa na década de 1970. Mirco, é um menino que vive na Toscana e tem 0 anos, ele é apaixonado por cinema. Entretanto, após um acidente perde a visão. Rejeitado pela escola pública, que não o considera uma criança normal, é enviado para um instituto que atende deficientes visuais. Lá descobre um velho gravador, com o qual passa a criar histórias sonoras. Link do vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=8_SmUQ6dO_0 32 Plano de Estudo: • Áreas da Educação Especial: Conceituação, características, causas, prevenção e ação pedagógica em relação às seguintes necessidades especiais: • Deficiência: enfoque biológico e social; • Aspectos etiológicos, funcionais e sociais dos transtornos Globais do Desenvolvimento e das deficiências físicas, intelectuais, sensoriais; • Altas habilidades e superdotação; • Condutas típicas. Objetivos da Aprendizagem • Conceituar as características, causas, prevenção e ação pedagógica em relação às necessidades especiais; • Conhecer os tipos de deficiência físicas, intelectuais e sensoriais; • Estabelecer a importância do professor no desenvolvimento da criança com deficiência. UNIDADE II Conceitos de Igualdade, Diferença, Diversidade e Multiplicidade Professora Mestre: Ana Paula Francisca dos Santos 33UNIDADE II Conceitos de Igualdade, Diferença, Diversidade e Multiplicidade INTRODUÇÃO Olá caro (s) aluno (s), seja bem-vindo (s) a segunda unidade. Nesta unidade, abordaremos questões relacionadas a características, causas e prevenções da deficiência física, intelectual e sensorial. No entanto nosso enfoque será direcionado às ações pedagógicas que podem ser realizadas para desenvolver a aprendizagem de uma criança com deficiência, seja ela física, intelectual e sensorial. Neste sentido, podem ser considerados deficientes pessoas que apresente a “perda ou anomalia de uma estrutura ou função psicológica, fisiológica ou anatômica que gere incapacidade para o desempenho de atividade, dentro do padrão considerado normal para o ser humano” (Decreto 3.298/99). Dessa forma, iniciaremos nossa discussão conhecendo os aspectos biológicos e sociais que influenciam na deficiência física, intelectual e sensorial. Iremos conhecer também a etiologia destas deficiências, assim como a características e os conceitos que rodeiam a área das altas habilidades/superdotação e os distúrbios comportamentais denominados como condutas típicas. Sendo assim, caro (s) aluno (s), desejo a todos uma excelente leitura. Vamos começar? Bons estudos! 34UNIDADE II Conceitos de Igualdade, Diferença, Diversidade e Multiplicidade 1. ÁREAS DA EDUCAÇÃO ESPECIAL: CONCEITUAÇÃO, CARACTERÍSTICAS, CAUSAS, PREVENÇÃO E AÇÃO PEDAGÓGICA EM RELAÇÃO ÀS SEGUINTES NE- CESSIDADES ESPECIAIS: 1.1 Deficiência: enfoque biológico e social Você certamente já se deparou com uma pessoa com deficiência ao longo de sua vida, seja pessoalmente ou por meio da mídia. Imagem 1: Mas, afinal, o que é deficiência? A deficiência pode ser compreendida como a insuficiência ou a ausência de um ou mais órgãos. Desse modo, “toda perda ou anomalia de uma estrutura ou função psicológica, fisiológica ou anatômica que gere incapacidade para o desempenho de atividade, dentro do padrão considerado normal para o ser humano”, é considerada como deficiência (Decreto 3.298/99). 35UNIDADE II Conceitos de Igualdade, Diferença, Diversidade e Multiplicidade No entanto, caro (s) aluno (s), o princípio básico para quem decide atuar na Educação Especial, é acreditar que todos são capazes de aprender, mesmo sabendo que o educando chega à escola imerso a preconceitos e “rotulado” que os definem como pessoas incapazes. Nesta concepção, Wallon (1879-1962), um dos maiores estudiosos do desenvolvimento humano, relata que a cultura é construída mediante a relação do homem com ambiente social, ou seja, uma criança aprende através de sua relação com meio (FERREIRA; ACIOLY-RÉGNIER, 2010). Assim, é indispensável a sensibilidade do professor, para enxergar o educando na sua totalidade para que possa alcançar o real potencial deste sujeito com deficiência, intervindo positivamente nas construções de conceitos sociais por meio de atividades cognitivas. Neste sentido, com Cury (2008) relata que: A afetividade deve estar presente na práxis do educador [...] os educadores, apesar das suas dificuldades, são insubstituíveis, porque a gentileza, a so- lidariedade, a tolerância, a inclusão, os sentimentos altruístas, enfim, todas as áreas da sensibilidade não podem ser ensinadas por máquinas, e sim por seres humanos (CURY, 2008, p. 48). É válido ressaltar também a importância de envolver seus responsáveis no processo de desenvolvimento do sujeito com deficiência, visto que a afetividade é fator substancial para a mediação da relação do sujeito com o meio, pois esta mediação é a base para a construção do sistema emocional do sujeito. Quanto às experiências emocionais, elas podem expressadas pelo corpo ou verbalmente de forma positivas ou negativas. Assim, é fundamental que o professor construa um vínculo saudável e promova atividades que estimule o educando a interagir com o meio de forma significativa, de modo que o educando associe suas relações com o meio como algo prazeroso (FERREIRA; ACIOLY-RÉGNIER, 2010). Dessa forma, a atividade do homem é inconcebível sem o meio social, visto que não é possível desassociar o biológico do social. Portanto, o homem é concebido como sendo genética e organicamente social, pois sua existência se realiza entre as exigências da sociedade e as do organismo. Em razão disto, caro (s) aluno (s), é possível compreender a imagem associada às pessoas com deficiência, ao longo da história, visto que sua imagem reflete a aspectos sociais de diversas épocas (SILVA, 2011). Nesse sentido, a escolha do olhar que se adotará frente à deficiência depende de cada um, pois é possível olhar a deficiência destacando o aspecto biológico ou social. Contudo, se atentar aos aspectos biológicos, significa se atentar a padrões que nos qualifica como normalidade ou aliando a deficiência ao conceito de “defeito” e “incapacidade”. Com relação ao olhar social, significa se atentar em sua relação com o meio social, as quais 36UNIDADE II Conceitos de Igualdade, Diferença, Diversidade e Multiplicidade as pessoas com deficiência, se encontram em desvantagem, mas não são consideradas incapazes (SILVA, 2011). Sobre a deficiência à partir do enfoque biológico, o Art. 5º do Decreto 5.296/2004 classifica em 5 categorias a deficiência, sendo elas: Quadro 1: Classificação das deficiências Deficiência Definição Deficiência intelectual Funcionamento intelectual significativamente inferior à média, com manifestação antes dos dezoito anos e limitações associadas a duas ou mais áreas de habilidades adaptativas, tais como: comunicação; cuidado pessoal; habilidades sociais; utilização dos recursos da comu- nidade; saúde e segurança; habilidades acadêmicas; lazer; e trabalho. Deficiência auditiva Perda bilateral, parcial ou total, de quarenta e um decibéis (dB) ou mais, aferida por audiograma nas frequências de 500Hz, 1.000Hz, 2.000Hz e 3.000Hz. Deficiência visual A cegueira, na qual a acuidadevisual é igual ou menor que 0,05 no melhor olho, com a melhor correção óptica; a baixa visão, que sig- nifica acuidade visual entre 0,3 e 0,05 no melhor olho, com a melhor correção óptica; os casos nos quais a somatória da medida do campo visual em ambos os olhos for igual ou menor que 60°; ou a ocorrência simultânea de quaisquer das condições anteriores. Deficiência física: Alteração completa ou parcial de um ou mais segmentos do corpo humano, acarretando o comprometimento da função física, apresen- tando-se sob a forma de paraplegia, paraparesia, monoplegia, mo- noparesia, tetraplegia, tetraparesia, triplegia, triparesia, hemiplegia, hemiparesia, ostomia, amputação ou ausência de membro, paralisia cerebral, nanismo, membros com deformidade congênita ou adquirida, exceto as deformidades estéticas e as que não produzam dificuldades para o desempenho de funções. Deficiência múltipla Deficiência múltipla - associação de duas ou mais deficiências. Fonte: Art. 5º do Decreto 5.296/2004 Vamos acompanhar um caso fictício, pautado na realidade do nosso cotidiano? 37UNIDADE II Conceitos de Igualdade, Diferença, Diversidade e Multiplicidade REFLITA Autodidata e com ouvido absoluto, Daniel, de 7 anos, precisava escutar uma música de Sandy e Junior apenas duas ou três vezes para reproduzi-la no piano. Foi assim com as 178 canções lançadas pela dupla. O resultado foi exibido no Instagram. Cego e au- tista, é em desafios como esse que o garoto se distrai e treina seu dom musical. A ideia partiu de Hedrienny dos Santos, mãe do jovem talento. Ao ler esta história, o que lhe pareceu estranho ou adverso? Talvez que ele toque música clássica no teclado. Perceba, a cegueira é constitutiva da identidade de Pedro, mas ela é só uma característica dentre várias outras. Ao se reduzir Pedro a ela não se estará falando de Pedro, pois ele é muito mais que sua deficiência. Fonte: Pianista cego e autista de 7 anos grava todas as músicas de Sandy e Junior e sonha conhecer a dupla. Disponível em: https://www.instagram.com/tv/BzNciALl14c/?utm_source=ig_embed. Acesso em: 29 de mar de 2020. Considerando o que vimos até agora, podemos considerar o aspecto biológico como um fator importante em nossa vida, no entanto, caro (s) aluno (s), não podemos considerá-lo como determinante, colocando-o na frente da deficiência. Quero dizer que pessoas devem ser vistas como pessoas e não como uma parte, um elemento, que são classificados pela sua imagem física. Assim, o sujeito presente na sala de aula deve ser reconhecido pelas suas ações, seus trabalhos diários e sua relação com o meio, sendo desafiado e motivado a descobrir, conhecer e explorar coisa novas, para que assim, aflore seu potencial de forma positiva (SILVA, 2011). É válido ressaltar que para que este sujeito 38UNIDADE II Conceitos de Igualdade, Diferença, Diversidade e Multiplicidade alcance seu total potencial depende da mediação do professor para o desenvolvimento de todas as capacidades que ainda se encontram em evolução. Quanto ao aspecto social, caro (s) aluno (s), Vygotsky (1896-1934) estudioso de renome na área da teoria histórico-social, destaca que a construção do sujeito ocorre mediada por um contexto sociocultural. Nesta percepção o autor reforça a importância da inter-relação entre o social e o cultural do homem, pois segundo Vygotsky (1997) a deficiência consiste em uma construção histórica e social, que pode ser abordada de forma primária e secundária, sendo que: 1°- O aspecto biológico, a representação do “defeito” orgânico, a “falta”. 2°- As consequências psicossociais do “defeito” derivadas das relações estabelecidas com/no meio. EXEMPLO: um aluno com paralisia cerebral, a deficiência primária seria a lesão no sistema nervoso central e a deficiência secundária seria a consequência dessa lesão para o sujeito inserido em uma sociedade com pessoas ditas “normais”. Desta forma, criam-se barreiras físicas, atitudinais e outras, pela falta de acessibilidade. Isto gera preconceitos, dificuldades na educação, desemprego, falta de acesso aos espaços de lazer/esportivos para esse sujeito, entre outras coisas. No entanto, Diniz (2007) defende a deficiência como um conceito complexo, influenciado por aspectos sociais. Assim, a autora aborda a importância do meio social, visto que o modelo social que a sociedade “impõe”, define a deficiência como algo físico. Neste sentido, Vygotsky (1997) afirma que dependendo das condições sociais, uma pessoa com deficiência primária é convertida em deficiência secundária. Dessa forma, é possível afirmar que a sociedade é construída sobre padrões denominados como normais, os quais a sociedade define a deficiência como um defeito. Portanto, caro (s) aluno (s), considerando tudo o que vimos neste tópico, vocês podem compreender o por que o social não pode ser separado do biológico. 39UNIDADE II Conceitos de Igualdade, Diferença, Diversidade e Multiplicidade 2. ASPECTOS ETIOLÓGICOS, FUNCIONAIS E SOCIAIS DOS TRANSTORNOS GLOBAIS DO DESENVOLVIMENTO E DAS DEFICIÊNCIAS FÍSICAS, INTELECTUAIS, SENSORIAIS 2.1. Etiologia da deficiência física, intelectual e sensorial Como abordamos no tópico anterior os aspectos sociais e biológicos, agora iremos estudar os aspectos etiológicos da deficiência física, intelectual e sensorial. Porém, antes de iniciar nossa discussão sobre estes aspectos, é necessário compreender o que são aspectos etiológicos. Dessa forma eu lhe pergunto, caro (s) aluno (s), você sabe o que é etiologia? Etiologia é a “ciência das causas”, ou seja, a etiologia é o estudo dos fatores que influenciam a causa de deficiências e fenômenos. No entanto, esta ciência refere-se a união da biologia, a criminologia, a psicologia, a medicina e várias outras ciências, na busca de identificar as causas que deram origem a inúmeras deficiências. Dessa forma, seu conceito abrange diversas áreas do conhecimento, que tem como objetivo identificar os fatores que causam um determinado fenômeno ou deficiência (SILVA, 2010). Ao que tange os fatores das deficiências intelectual, a etiologia explica que, a identificação dos fatores influentes no desenvolvimento da deficiência permite sua prevenção 40UNIDADE II Conceitos de Igualdade, Diferença, Diversidade e Multiplicidade e o controle. No entanto, é difícil contatar os fatores causadores da deficiência, o que os definem como fatores suspeitos ou hipóteses etiológicas, sem comprovação. Em alguns casos de deficiência intelectual a deficiência ocorre devido a associação de um ou mais fatores. Quero dizer, caro (s) aluno (s), que algumas deficiências intelectuais, como é o caso da Síndrome de Down e Transtorno Global do Desenvolvimento, não há somente um fator causador, mais sim dois ou mais. Assim, a deficiência intelectual pode apresentar origem genética, ambiental, multifatorial ou causa desconhecida. Esses fatores também podem ser subdivididos em fatores pré-natais e perinatais (SANTOS; MORATO, 2012). Quadro 2: Fatores etiológicos das deficiências intelectual. Fatores etiológicos Conceitos Fatores causadores Pré-natais De origem genética, am-biental e multifatorial Infecções: meningoencefalites bacterianas e as virais principalmente por herpesvírus; Traumatismos crânio- encafálicos; Alterações vasculares ou degenerativas en- cefálicas; Fatores químicos: oxigênio utilizado na encu- badeira; Intoxicação pelo chumbo; Fatores nutricionais: graves condições de hi- poglicemia, hipernatremia, hipoxemia, enve- nenamentos, estados convulsivos crônicos. Podendo ser considerada como causa des- conhecida Perinatais Ambiental Agentes infecciosos (citomegalovírus, toxo- plasmose congênita, rubéola congênita, lues, sífilis congênita, varicela) Fatores nutricionais; Fatores físicos: radiação; Fatores imunológicos; Pré-natais (álcool e drogas, gases anestési- cos, anticonvulsivantes); Transtornos endócrinos maternos: diabetes materna, alterações tireoidianas; Hipóxia intrauterina(causada por hemorra- gia uterina, insuficiência placentária, anemia grave, administração de anestésicos e enve- nenamento com dióxido de carbono). Fonte: Adaptado de Minayano, 1988. É válido ressaltar, que a deficiência intelectual não é uma doença, então quando falamos destes aspectos etiológicos da deficiência intelectual, nos referirmos a causas da redução da capacidade intelectual do sujeito, visto que a deficiência intelectual consiste em 41UNIDADE II Conceitos de Igualdade, Diferença, Diversidade e Multiplicidade pessoas que apresentam uma redução notável em seu funcionamento intelectual associado a limitações comunicativas e sociais (Associação Americana de Deficiência Mental, 1995). Quanto a etiologia da deficiência física, algumas causas são as mesmas que a da deficiência intelectual. No entanto, quando nos referimos à deficiência física, estamos falando sobre limitações do funcionamento físico-motor do ser humano. Antes de conhecer as causas vamos conhecer os tipos de deficiências físicas: Quadro 3: Tipos de deficiências físicas. Paraplegia Perda total das funções motoras dos membros inferiores. Paraparesia Perda parcial das funções motoras dos membros inferiores. Monoplegia Perda total das funções motoras de um só membro (inferior ou posterior) Monoparesia Perda parcial das funções motoras de um só membro (inferior ou posterior) Tetraplegia Perda total das funções motoras dos membros inferiores e superiores. Tetraparesia Perda parcial das funções motoras dos membros inferiores e superiores. Triplegia Perda total das funções motoras em três membros. Triparesia Perda parcial das funções motoras em três membros. Hemiplegia Perda total das funções motoras de um hemisfério do corpo (direito ou esquerdo) Hemiparesia Perda parcial das funções motoras de um hemisfério do corpo (direito ou esquerdo) Amputação Perda total ou parcial de um determinado membro ou segmento de membro. Paralisia Cerebral Lesão de uma ou mais áreas do sistema nervoso central, tendo como consequência altera- ções psicomotoras, podendo ou não causar deficiência intelectual. Ostomia Intervenção cirúrgica que cria um ostoma (abertura, ostio) na parede abdominal para adap- tação de bolsa de coleta; processo cirúrgico que visa à construção de um caminho alterna- tivo e novo na eliminação de fezes e urina para o exterior do corpo humano (colostomia) Fonte: A Inserção da pessoa portadora de deficiência e do beneficiário reabilitado no mercado de trabalho; MPT/Comissão de Estudos para inserção da pessoa portadora de deficiência no mercado de trabalho - Brasília/DF - 2001 Então, caro (s) aluno (s), a deficiência física também pode ser caracterizada como a perda total ou parcial da capacidade motora. São diversas as causas da deficiência física, no entanto, elas podem estar ligadas a problemas na gestão, acidentes e doenças infantis. Assim, como você pode acompanhar no quadro 5, os fatores das causas da deficiência física são classificados em 3 categorias: 42UNIDADE II Conceitos de Igualdade, Diferença, Diversidade e Multiplicidade Quadro 4: Fatores etiológicos da Deficiência Física Fatores etiológi- cos Fatores causadores Pré-natais Causas genéticas; Infecções (por exemplo, a citomegalovirose, ru- béola); Contato com radiação na gestação; Alcoolismo e uso de dro- gas na gestação; Desnutrição (fome): quando ocorre na infância ou em períodos de gestação, as crianças não têm condições de desen- volver uma série de músculos, comprometendo de forma definitiva movimentos como o andar; Mielomeningocele. Perinatais Fórceps; Prematuridade; Infecção hospitalar. Pós-natais Paralisia infantil: apesar das campanhas de vacinação diminuírem sensivelmente este tipo de doença; Doenças degenerativas; Doen- ças auto-imunes; Acidente vascular cerebral; Diabetes, Hansenía- se, Câncer (quando necessária a amputação de membro); Acidentes domésticos; Acidentes de trânsito; Acidentes de trabalho: devido principalmente à falta de condições de trabalho, à negligência dos trabalhadores quanto ao uso de equipamentos adequados, etc; Violência doméstica e urbana: agressões, tiros, facadas e o uso de outras armas têm deixado muitas pessoas deficientes físicas, entre outros. Fonte: A Inserção da pessoa portadora de deficiência e do beneficiário reabilitado no mercado de trabalho; MPT/Comissão de Estudos para inserção da pessoa portadora de deficiência no mercado de trabalho - Brasília/DF – 2001 SAIBA MAIS Brasil teve 26 mil casos de pólio de 68 a 89, e não registra casos há 30 anos; entenda O Ministério da Saude emitiu alerta no dia 3 de julho de 2018 para a baixa vacinação contra a paralisia infantil: 312 cidades não vacinaram nem metade das crianças meno- res de 1 ano em 2017. Embora não haja casos atuais de poliomielite, a preocupação do ministério se justifica por ao menos três motivos: a circulação do vírus em 23 países nos últimos 3 anos; o surgimento de um caso da doença na Venezuela em junho; o efeito devastador da doença no país antes de sua eliminação, graças à vacina. Fonte: Superação 13 - “Poliomielite e Síndrome Pós-pólio”: Disponível em: https://www.youtube.com/watch?time_continue=124&v=HNigPTvFw_o&feature=emb_title. Acesso em: 29 de mar de 2020. Em razão do que foi abordado até aqui, caro (s) aluno (s), que a deficiência física pode ser entendida como uma impossibilidade que limite o sujeito a se deslocar ou realizar 43UNIDADE II Conceitos de Igualdade, Diferença, Diversidade e Multiplicidade algum movimento físico, devido danificação em sua estrutura óssea, nos grupos musculares e entre outras partes do corpo. As deficiências sensoriais consistem na perda total ou parcial da estrutura psicológica, fisiológica ou anatômica que o sujeito nasce ou adquire ao longo da vida. Assim, quando falamos sobre deficiência sensorial, estamos nos referindo a ausência da visão ou audição, o que em casos podem se apresentar em forma de deficiência múltiplas, com a ausência de ambos os sentidos. Especialistas destas deficiências relatam que o cérebro de pessoas com deficiência sensorial apresenta outro tipo de funcionamento, ou seja, o cérebro de uma pessoa com deficiência sensorial não recebe e nem gerencia as informações da mesma maneira que o cérebro de uma pessoa sem essa deficiência. Dessa forma, caro (s) aluno (s), podemos dizer que o tempo e o espaço social de uma pessoa com deficiência sensorial são diferenciados (MASINI, 2002). Existem quatro tipos de deficiência sensorial: Quadro 5: Fatores etiológicos Deficiência Sensorial Deficiência Sensorial Definição Visual Refere-se a uma perda total ou parcial da visão Auditiva Refere-se a uma perda total ou parcial da audição Surdo-cegueira É uma deficiência única que apresenta a perda da audição e da visão de tal forma que a combinação das duas deficiências impossibilita o uso dos sentidos a distância, cria necessidades especiais de comunicação, causa extrema dificuldade na conquista de metas educacionais, vocacionais, recreativas, sociais. Elas podem ser congênitas ou adquirida Múltipla deficiência sen- sorial Considera-se uma criança com Múltiplas Deficiências sensorial aquela que apresenta deficiência visual e auditiva associadas a outras condições de comporta- mento e comprometimentos, sejam eles na área física, intelectual ou emocional e dificuldades de aprendiza- gem Fonte: Classificação ICD Observe caro (s) aluno (s), que em ambos os casos a deficiência pode ocorrer de forma total ou parcial. No entanto, a perda da visão pode ocorrer em três níveis, sendo elas: leve, moderada e profunda, e a perda da audição: somente leve e severo. 44UNIDADE II Conceitos de Igualdade, Diferença, Diversidade e Multiplicidade Com base nesta discussão, entende-se então que a deficiência sensorial se refere a ausência dos sentidos, que também podem ser causadas devido a fatores genéticos ou ambientais. SAIBA MAIS ENTENDA MAIS SOBRES AS DEFICIÊNCIAS SENSORIAISTratar da situação da pessoa com deficiência sensorial, amena, plena ou em formação. a deficiência sensorial se caracteriza pelo não-funcionamento (total ou parcial) de algum dos cinco sentidos. Classicamente, a surdez e a cegueira são consideradas deficiências sensoriais, mas déficits relacionados ao tato, olfato ou paladar também podem ser en- quadrados em tal categoria. Fonte: Sociedade Brasileira de Visão Subnormal Disponível em: http://www.cbo.com.br/subnorma/ conceito.htm. Acesso em: 29 de mar de 2020. 45UNIDADE II Conceitos de Igualdade, Diferença, Diversidade e Multiplicidade 3. ALTAS HABILIDADES E SUPERDOTAÇÃO Provavelmente você já ouviu falar sobre altas habilidades ou superdotação. A terminologia que define pessoas com altas habilidades/superdotação, é decorrente de uma longa discussão iniciada em 1924 que visa definir a denominação correta para pessoas que apresentam um desenvolvimento acima do normal. Em 1931, foi adotada por Kaseff a terminologia “super”, que foi precursor do termo “super-normais”, já em 1971, a Lei 5.692 que estabelece as diretrizes e reforma do Ensino de 1º e 2º graus, em seu art. 9º, usa pela primeira vez o termo “superdotado”. No entanto, atualmente a terminologia que se destaca é de AH/SD, a qual não representa um tema novo, muito menos atual (RANGNI e COSTA, 2011). De acordo com a Política Nacional de Educação Especial (1995), este termo refere-se a pessoas que apresentam uma inteligência acima da média, os quais o sujeito que apresenta altas habilidades/superdotação é capaz de desempenhar um grau de potencialidades nos seguintes aspectos: isolados ou combinados, capacidade intelectual geral, aptidão acadêmica específica, pensamento criativo ou produtivo, capacidade de liderança, talento para as artes, capacidade psicomotora. Estes aspectos são características que definem uma pessoa com altas habilidades/ superdotação, no entanto, outras características como uma boa memória, a facilidade de concentração e atenção, a criatividade e imaginação, riqueza verbal e o vocabulário avançado, podem auxiliar a identificação de pessoas com altas habilidades/superdotação. 46UNIDADE II Conceitos de Igualdade, Diferença, Diversidade e Multiplicidade Por outro lado, pessoas que apresentam este quadro podem se desenvolver em alguns aspectos e apresentar dificuldade em outros. É comum, pessoas com altas habilidades/superdotação apresentarem quadros emocionais imaturos, uma vez que seu desenvolvimento intelectual é acima da média dos sujeitos de sua idade. Neste sentido, é importante que o professor e a instituição estejam preparados para lidar com este sujeito, visto que a não identificação desta criança pode desmotivá-la. Com relação ao diagnóstico deste sujeito com deficiência, a ciência ainda encontrou meios de identificar tal fator que influencia o desenvolvimento de altas habilidades/ superdotação. Já referente aos fatores relevantes, segundo a APAHSD (Associação Paulista para Altas Habilidades/Superdotação) “Pessoas com Altas Habilidades são indivíduos com necessidades educacionais especiais, com direitos garantidos pela legislação brasileira e internacional. Porém, as iniciativas para o seu apoio ainda são insuficientes na sociedade brasileira”. Assim, diante da falta de estímulos, estas crianças podem apresentar um baixo rendimento, falta de interesse e um comportamento diferenciado, o qual pode levar os envolvidos em seu processo de aprendizagem a identificá-lo como aluno hiperativo ou com distúrbios comportamentais (SILVA, 2011). Neste sentido, caro (s) aluno (s,) podemos dizer que pessoas com altas habilidades tem suas próprias ideias e não lidam bem com uma figura superior, visto que seu conhecimento vai além do esperado normalmente. E por isto, eles preferem coisas complexas e ricas em detalhes, pois suas capacidades de pensar e memorizar se desenvolvem mais rápido que os demais. 47UNIDADE II Conceitos de Igualdade, Diferença, Diversidade e Multiplicidade 4. CONDUTAS TÍPICAS A nomenclatura “condutas típicas” é utilizada à partir da década de 90 e refere-se ao aluno que apresenta distúrbios comportamentais. No entanto, atualmente esta nomenclatura é direcionada a alunos com “manifestações típicas de síndromes e quadros neurológicos, psicológicos ou psiquiátricos (BRASIL, 1994)”. Dessa forma, caro (s) aluno (s), antes de falarmos sobre quem é o aluno com condutas típicas, é importante considerar o processo histórico no aspecto cultural, social e político quanto ao conceito de doença mental. Ao longo da Idade Média, a sociedade considerava pessoas com distúrbios comportamentais como loucas. Segundo o filósofo da época Foucault citado por Andrade (2008), o Renascimento foi o período em que os considerados loucos viviam soltos, expulsos das cidades, entregues aos peregrinos e navegantes, sendo visto como tendo um saber esotérico sobre os homens e o mundo, que revelava verdades secretas. Assim, Foucault considerava que a loucura significava a ironia, a ilusão, o desregramento de conduta, o desvio moral, os quais tinham o erro como verdade, a mentira como realidade, o passado como oposição à razão. Neste período, os loucos eram tratados da mesma maneira que os deficientes, ou seja, eram sangrias, purgações, ventosas e banhos. Já nos séculos XVII e XVIII, pessoas com distúrbios comportamentais ainda eram diagnosticadas sobre aspectos que unia a família, a igreja e a justiça. Somente na segunda metade do século XVIII iniciaram-se as reflexões médicas e filosóficas que situavam a loucura como algo que ocorria no interior do próprio homem, como perda de sua própria natureza, considerada alienação (ANDRADE, 2008). De acordo com Andrade (2008), 48UNIDADE II Conceitos de Igualdade, Diferença, Diversidade e Multiplicidade Foucault relata que as primeiras instituições direcionadas a atender pessoas com distúrbio surgiram entre o final do século XVIII e o início do século XIX. Nesta época, a sociedade acreditava que a louca ser curada por meio de terapia religiosa, era a solução para a cura dos loucos. Tais ações eram voltadas a normatização desses sujeitos concebidos como capazes de se recuperar (ANDRADE, 2008). Assim, caro (s) aluno (s), os transtornos mentais são concebidos como síndrome, padrão comportamental ou psicológico, os quais são associação do sofrimento e da incapacitação. Dessa forma, esta nomenclatura foi desenvolvida para ser aplicável a uma ampla gama de contextos, sendo mundialmente utilizada (BRASIL 2013). Assim, Suplino (2010, p. 2) apresenta algumas das condutas típicas mais comumente encontrados no cotidiano escolar: Distúrbio de atenção - geralmente respondem a qualquer dos estímulos presentes que estejam concorrendo com o estímulo relevante. Outros, embora atendam a estímulos relevantes, não conseguem manter a atenção a eles pelo tempo requerido pela atividade. São alunos que apresentam dificuldade em concentrar-se na execução de qualquer atividade. Outros, ainda, selecionam e respondem somente a aspectos limitados da realidade, como por exemplo, crianças que não respondem a mais nada, mas informam ao professor cada vez que um determinado colega se levanta. Hiperatividade - a criança hiperativa apresenta fundamentalmente uma inabilidade para controlar seu comportamento motor de acordo com as exigências nas diversas situações. Assim, apresenta uma constante mobilidade e agitação motora, o que também se torna um grande empecilho para ação, ou para realizar uma tarefa. Impulsividade - apresenta respostas praticamente instantâneas perante uma situação estímulo, não parando para pensar, refletir, analisar a situação, para tomar uma decisão e então se manifestar, por meio de uma ação motora ou verbal. Geralmente, a hiperatividade e a impulsividade encontram- se juntas, num mesmo padrão comportamental. Alheamento - há crianças que se esquivam, ou mesmo se recusam terminantementea manter contato com outras pessoas, ou com qualquer outro aspecto do ambiente sociocultural no qual se encontram inseridas. Em sua manifestação mais leve, encontram- se crianças que não iniciam contato verbal, não respondem quando solicitadas, não brincam com outras crianças, ou mostram falta de interesse pelos estímulos ou acontecimentos do ambiente. Por outro lado, em sua manifestação mais severa, encontram-se crianças que não fazem contato com a realidade, parecendo desenvolver e viver em um mundo só seu, à parte da realidade. Agressividade física e/ ou verbal - se constitui de ações destrutivas dirigidas a si próprio, a outras pessoas ou a objetos do ambiente. Ela inclui gritar, xingar, usar linguagem 49UNIDADE II Conceitos de Igualdade, Diferença, Diversidade e Multiplicidade abusiva, ameaçar, fazer declarações autodestrutivas, bem como bater, beliscar, puxar os cabelos, restringir fisicamente, esmurrar, dentre outros comportamentos. A agressividade passa a ser considerada conduta típica quando sua intensidade, frequência e duração ultrapassam o esporádico, focal e passageiro. Ela pode variar desde manifestações negativistas, mal-humoradas, até atos de violência, brutalidade, destruição, causando danos físicos a si próprio e/ou a outras pessoas. Neste sentido, a educação de sujeitos com distúrbio comportamental iniciou-se no século XIX, juntamente com a educação de pessoas com deficiência, pois o distúrbio comportamental era e ainda é visto pela sociedade, como uma “doença”. No entanto, é válido ressaltar, caro (s) aluno (s), que todos os aspectos abordados nesta unidade se referem a deficiência e não a doença, uma vez que consiste em uma alteração biológica no estado de saúde, a qual pode ser manifestada por um conjunto de sintomas perceptíveis ou não, podendo ser considerada como uma enfermidade, mal ou moléstia. E a deficiência trata-se da insuficiência ou ausência de funcionamento de um ou mais órgão. Considerando todos os elementos que abordamos até aqui, caro (s) aluno (s), podemos dizer que tais abordagem podem subsidiar as ações pedagógicas desenvolvidas pelos docentes, sobre a concepção de uma educação inclusiva, a qual cabe ao professor a obrigação de atribuir significados a suas práticas pedagógicas. As significações têm um papel fundamental na dinâmica das relações sociais e nas práticas porque elas respondem a funções essenciais, tais como: elas permitem compreender e explicar a realidade; elas definem a identidade e permitem as especificidades dos grupos; elas guiam os comportamentos e as práticas e permitem, a posteriori, as justificativas das tomadas de posição e dos comportamentos (MININI, 2009, p. 111). A prática docente direcionada à atender alunos com deficiência é isenta de grandes investimentos e condições “privilegiadas” de trabalho, visto que segundo os dados apresentados pelo Ministério de Educação e Cultura (MEC) e a Cartilha do Censo (BRASIL, 2010), às prática pedagógica direcionada aos alunos com deficiência são aplicadas de maneira equivocada, dificultando assim, a inserção do aluno com deficiência na rede regular de ensino, bem como sua permanência e aprendizagem. Dessa forma, podemos dizer que tanta a escola quanto o professor, aplicam ações inclusivas que efetivamente envolvem visão atender as necessidades da sociedade, da família e das políticas públicas, deixando de se pensar no desenvolvimento e na aprendizagem do aluno com deficiência (CUNHA, 2014). 50UNIDADE II Conceitos de Igualdade, Diferença, Diversidade e Multiplicidade CONSIDERAÇÕES FINAIS Chegamos ao fim de mais uma unidade, na qual abordamos os aspectos sociais e biológicos que influenciam na causa da deficiência física, intelectual e sensorial. Vimos então que, até bem pouco tempo, a escola não portava recursos para atender pessoas com deficiência e mesmo diante do princípio da Educação Inclusiva, o qual visa valorizar a diversidade de sujeitos presentes no contexto social, é necessário romper as barreiras impostas pela sociedade, para promover a educação de forma justa, sem que a mesma tenha medo de enfrentar o desconhecido. Assim, acredita-se que as ações que promovem o desenvolvimento da educação de pessoas com deficiência de forma dinâmica e social, pode levar à escola a pensar na diversidade como um fator coletivo. Isto é, a educação de pessoas com deficiência, deve ser entendida como uma responsabilidade social, que envolve a comunidade, a escola, o professor e todos os envolvidos em seu processo de desenvolvimento. No entanto, fica evidente que o caminho a percorrer é longo e cheio de barreiras, principalmente pelo fato da Educação Especial e Inclusiva ser uma concepção recente, o qual a escola vem se adaptando para atender esta nova visão. Portanto, caro (s) aluno (s), é válido ressaltar a importância da promoção de ações pedagógicas que buscam atender a inclusão de pessoas com deficiência no contexto escolar. 51UNIDADE II Conceitos de Igualdade, Diferença, Diversidade e Multiplicidade LEITURA COMPLEMENTAR REFLEXÕES SOBRE A INCLUSÃO, A DIVERSIDADE, O CURRÍCULO E A FORMAÇÃO DE PROFESSORES. Adriana Costa BORGES1 – UEG – UnU PORANGATU – GO Elaine Cristina Batista Borges de OLIVEIRA2 - UNESP MARÍLIA – SP Ernesto Flavio Batista Borges PEREIRA3 - UEG – UnU PORANGATU – GO Marcio Divino de OLIVEIRA4 – UMESP – SP A escola não é mais a mesma, aquele espaço homogeneizado, em que se via e/ou atendia apenas crianças tidas como normais. Com o crescimento do discurso da inclusão e diversidade, cada vez mais se vê surgir na sociedade uma nova escola, mais aberta, diversa e integral, tornando o espaço escolar mais colorido e rico em aprendizagem. A entrada das crianças com necessidades educativas especiais na escola, verdadeiramente representou um marco social, fruto de uma enorme conquista histórica, como se verá adiante, todavia ainda há muito há fazer para a construção de uma escola efetivamente inclusiva e comprometida com a diversidade. Assim, as reflexões a respeito de como fugir e/ou contribuir para uma prática não segregacionista e preconceituosa, que costumam fazer parte dos espaços educacionais, constitui imperativo no presente, tanto para profissionais ligados a educação como à agentes de pesquisas de cunho teóricas sobre esse setor da educação. Deste modo, o presente trabalho aborda o tema da diversidade e inclusão escolar, assim como as questões ligadas ao currículo e formação de professores para o exercício dessa prática inclusiva e aberta a diversidade. Temas bastantes relevantes na atualidade, já que o tempo presente reclama pela construção cada vez mais de escolas inclusivas e abertas a diversidade. O trabalho está dividido em três tópicos. No primeiro são discutidas questões conceituais em relação à diversidade e inclusão. No segundo é abordada a temática do currículo e sua contribuição para a construção de uma escola e prática docente diversa e inclusiva. Por fim, o terceiro, é voltado para o debate da temática da formação do professor e sua prática para uma ação inclusiva de respeito à diversidade. Feita essas considerações, passemos a discussões dos assuntos nos tópicos destacados. Continue lendo: Fonte: BORGES, A et al. Reflexões sobre a inclusão, a diversidade, o currículo e a formação de professores. In: CONGRESSO ACADÊMICO-CIENTÍFICO DA UEG PORANGATU, 3., 2013, Porangatu. Anai. Porangatu: UEG, 2013. Disponível em: http://www.uel.br/eventos/congressomultidisciplinar/pages/arquivos/anais/2013/ AT01- 2013/AT01-040.pdf. Acesso em: 29 mar. 2019. 52UNIDADE II Conceitos de Igualdade, Diferença, Diversidade e Multiplicidade MATERIAL COMPLEMENTAR LIVRO Título: Do outro lado do sol Autor: Kátia Yuriko Ito Editora: Nome da Rosa Sinopse: Este livro conta a história de Kátia Ito que, aos 19 anos, em 1983, sem qualquer sinal ou premonição, foi vítima de um angioma cerebral que danificou seriamente o lado esquerdo do cérebro. Em plenoauge de sua juventude, cursando Medicina, vivendo intensamente seus sonhos, projetos e amores, Kátia teve seu futuro promissor interrompido por um ‘acidente’ tão rápido quanto inexplicável. Passou a viver como um vegetal, totalmente dependente da ajuda das pessoas à sua volta. Apaixonada pela vida, Kátia buscou alternativas, terapias, saídas, e, os poucos, a sensação aterrorizante de vazio foi sendo preenchida pela vontade de conquistar novamente uma existência digna. Esta é mais que uma história fascinante, de determinação e de força. É uma lição de vida, a lição de uma mulher que conheceu o outro lado do sol e, da penumbra, expandiu sua própria luz. FILME/VÍDEO Título: Little Man Tate (Mentes que brilham) Ano: 1991 Sinopse: Quando Fred tinha um ano de idade ele já sabia ler. Quando tinha quatro anos já sabia escrever poesia. Hoje, aos sete anos, ele pinta quadros e resolve problemas de matemática como um mestre. Isolado por sua incrível inteligência e sensibilidade, Fred (O perfeito Adam Hann-Byrd) está dividido entre os dois mundos que o rodeiam. O mundo descomplicado e emocional de sua dedicada mãe, Dede (a duas vezes vencedora do Oscar, Jodie Foster). E o mundo intelectual e intenso da professora e ex-menina prodígio, Jane (a vencedora do Oscar, Diane Wiest). Confuso mas determinado, Fred tenta de todos os modos fazer amigos e encontrar um lugar para si mesmo entre sua mãe e sua mentora. Dirigido com talento por Jodie Foster e também estrelando Harry Connick, Jr., “Mentes Que Brilham” é a história emocionante e maravilhosa de um herói muito especial, lutando para descobrir qual o lugar a que pertence. 53 Plano de Estudo: • Aspectos pedagógicos da educação inclusiva. • A prática da educação inclusiva na escola e outros espaços educativos: princípios, currículo, metodologia e avaliação. • A participação da família e escola. • Sexualidade. Objetivos da Aprendizagem • Compreender o papel da Educação Especial Inclusiva. • Conhecer e refletir sobre a importância da inclusão em todos os âmbitos da educação. • Conhecer papel da família frente a sociedade e a escola. UNIDADE III Inclusão e Educação I Professora Mestre: Ana Paula Francisca dos Santos 54UNIDADE III Inclusão e Educação I INTRODUÇÃO Olá, caro (s) aluno (s), sejam bem-vindo (s) a nossa terceira unidade. Nesta unidade iremos iniciar nossa discussão mediante a abordagem dos aspectos pedagógicos que norteiam a Educação Inclusiva. E com isto, será possível compreender a Educação Especial não somente como um desafio que depende de todos os envolvidos no processo de aprendizagem, mas com uma ação coletiva que depende da vontade e capacitações dos professores, gestores e da comunidade para cumprir seu objetivo principal que é a inclusão de pessoas com deficiências, em âmbitos regulares. Nesse sentido, é válido ressaltar, caro (s) aluno (s), que a educação inclusiva significa educar todas as crianças em um mesmo contexto escolar, levando em consideração as condições de cada aluno. Uma vez que com a inclusão das diferenças não são vistas como problemas, mas sim como diversidades. Assim, a ideia é ampliar a visão de mundo e desenvolver oportunidades de vivências a todas as crianças. O nosso estudo, dará ênfase às práticas educativas que contemplam o currículo, as metodologias e a avaliação de pessoas com deficiência, além da participação da família no contexto escolar, assim como a Educação Sexual de pessoas com deficiência. Tendo estes como pontos principais de nosso estudo, a escola é considerada como o espaço mais propício para promover a inclusão de pessoas com deficiências, pois apresenta o melhor ambiente para possibilitar a inclusão de forma integral, uma vez que sua função consiste em formar para a cidadania. Bons estudos! 55UNIDADE III Inclusão e Educação I 1. INCLUSÃO E EDUCAÇÃO I Aspectos Pedagógicos da Educação Inclusiva A Educação Especial defende a ideia que a educação de pessoas com deficiência, não deve ser realizada separadamente, ou seja, os alunos com deficiência devem poder interagir em meio a um ambiente comum aos demais. Assim, o Atendimento Educacional Especializado atuaria como um apoio complementar para o desenvolvimento do aprendizado das crianças com deficiência. No entanto, Fávero (2007), relata que a Constituição Brasileira e as convenções internacionais apresentam o Atendimento Educacional Especializado como uma forma válida de tratamento diferenciado, desde que: Seja adotado quando realmente exista uma necessidade educacional espe- cial, ou seja, algo do qual os alunos sem deficiência não precisam; seja ofe- recido preferencialmente no mesmo ambiente (escola comum) frequentado pelos demais alunos; se houver necessidade de ser oferecido à parte, que isso ocorra sem dificultar ou impedir que crianças e adolescentes com defi- ciência tenham acesso às salas de aula do ensino comum no mesmo horário que os demais alunos frequentam; não seja adotado de forma obrigatória, ou como condição para o acesso do aluno com deficiência ao ensino comum (FÁVERO, 2007, p. 20). Dessa forma, podemos dizer que a Educação Especial engloba a oferta de tratamento diversificado, com o intuito de promover a inclusão de pessoas com deficiência em contextos sociais comum. Contudo, Fávero (2007) relata que o art. 208 da Constituição Federal que garante a toda criança o direito à educação, não oferta as pessoas com deficiência um ensino direcionado a atender as especificidades de cada criança, fazendo 56UNIDADE III Inclusão e Educação I com que a Educação Especial não siga uma concepção de inclusão. Assim, a Educação Especial mantém a exclusão das pessoas com deficiência, mesmo que de forma indireta. Neste sentido, o atendimento diferenciado deve ser ofertado em todos os níveis de ensino escolar, devendo assim, funcionar de forma similar nos níveis de ensino superior. Ao se tratar da Lei das Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDBEN, podemos observar que sua interpretação não vem ocorrendo de forma correta, visto que os art. 58 e 59 levam a pensar que o ensino regular pode ser substituído pelo ensino especial. Art. 58. Entende-se por educação especial, para os efeitos desta Lei, a modalidade de educação escolar oferecida preferencialmente na rede regular de ensino, para educandos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação. (Redação dada pela Lei nº 12.796, de 2013) § 1º Haverá, quando necessário, serviços de apoio especializado, na escola regular, para atender às peculiaridades da clientela de educação especial. § 2º O atendimento educacional será feito em classes, escolas ou serviços especializados, sempre que, em função das condições específicas dos alu- nos, não for possível a sua integração nas classes comuns de ensino regular. Observe, caro (s) aluno (s), que os artigos 58 e 59 da LDBEN, podem ser contraditórios a algumas das legislações já abordadas ao longo de nosso estudo. Dessa forma, Fávero (2007) salienta que a Educação Especial sempre foi entendida como capaz de substituir o espaço de ensino regular, pela permanência contínua em espaços específicos direcionados somente a atender crianças com deficiência. Neste sentido, ao olharmos Educação Especial sobre a concepção da educação inclusiva, a escola é entendida como um espaço de todos, onde o aluno constrói o conhecimento de acordo com suas capacidades, tem liberdade para expressar suas ideias, participar das tarefas de ensino e se desenvolver como sujeito que faz parte de uma sociedade. A educação inclusiva não delimita o desenvolvimento do aluno de acordo com sua deficiência, ou dos padrões definidos pelo meio social, pois todos são iguais e possuem suas diferenças (CARVALHO, 2011). A adoção desta prática inclusiva ainda se encontra em andamento, pois para que ocorra a adesão dessas novas práticas, é necessário grandes mudanças, visto que não envolve somente a escolae a sala de aula, mais sim, a sociedade em geral. Isto é, para que a escola possa se concretizar este novo conceito, assim como a redefinição e a aplicação de alternativas e práticas pedagógicas e educacionais compatíveis com a inclusão, é necessário conscientizar a sociedade desta nova concepção. 57UNIDADE III Inclusão e Educação I 2. A PRÁTICA PARA EDUCAÇÃO INCLUSIVA NA ESCOLA E OUTROS ESPAÇOS EDUCATIVOS: PRINCÍPIOS, CURRÍCULO, METODOLOGIA E AVALIAÇÃO A Educação Inclusiva compreende a escola como um espaço de todos, onde o aluno é o sujeito de direito e foco central de todas as ações educacionais, de forma que o aluno constrói seu conhecimento de acordo com sua capacidade. Na escola inclusiva, predomina o respeito e as especificidades de cada aluno, sem que sejam classificados como normais ou especiais. Todos se igualam pelas diferenças. A adesão da pratica inclusiva é uma tarefa difícil e nem rápida, pois vai além do contexto da escolar. Isto é, para que a escola concretize a esta nova concepção, é necessário atualizar e desenvolver conceitos e práticas pedagógicas compatíveis com esta nova concepção de educação. A Educação Inclusiva impõem uma escola em que todos os alunos são inseridos sem qualquer limitação que possa restringir sua participação ativamente no processo escolar. Esta nova posição da escola, leva aos educadores a responsabilidade de constrói um espaço de aprendizagem para todos os alunos, problematizando o currículo, os processos de avaliação, bem como as políticas públicas que favorecem a garantia de acesso e permanência ao ensino a todos os alunos (MINETTO, 2012). A proposta que rege a construção da escola inclusiva depende de uma variedade de mudanças e decisões que precisam ser tomadas em uma ação coletiva, onde uni todos os envolvidos no processo educacional para a elaboração do Projeto Político Pedagógico. Dessa forma, a escola inclusiva só se torna inclusiva mediante a participação consciente de 58UNIDADE III Inclusão e Educação I todos os agentes envolvidos em seu processo educacional, isto é, gestores, professores, familiares e membros da comunidade na qual cada aluno vive (MINETTO, 2012). A Educação Inclusiva busca fazer da aprendizagem o núcleo central das escolas, de modo que o aluno tenha todo tempo necessário para aprender e se desenvolver como cidadão. Por outro lado a Educação Inclusiva tem como principio a valorização da diversidade e da comunidade humana, na luta pelo combate à desigualdade, à exclusão, assim como a permanência e aprendizagem de forma participativa de todos os estudantes. Ao que cabe a adequação do currículo e da avaliação, métodos e técnicas educacionais que atendem as especificidades dos alunos com deficiência, inclusive aos que apresentam altas habilidades, o artigo 59 da LDBN/96 prevê que o sistema de ensino deve assegurar: I - currículos, métodos, técnicas, recursos educativos e organização específi- ca, para atender às suas necessidades; II – terminalidade específica para aqueles que não puderem atingir o nível exigido para a conclusão do ensino fundamental, em virtude de suas deficiên- cias, e aceleração para concluir em menor tempo o programa escolar para os superdotados; III - professores com especialização adequada em nível médio ou superior, para atendimento especializado, bem como professores do ensino regular capacitados para a integração desses educandos nas classes comuns; IV - educação especial para o trabalho, visando a sua efetiva integração na vida em sociedade, inclusive condições adequadas para os que não revela- rem capacidade de inserção no trabalho competitivo, mediante articulação com os órgãos oficiais afins, bem como para aqueles que apresentam uma habilidade superior nas áreas artística, intelectual ou psicomotora; V - acesso igualitário aos benefícios dos programas sociais suplementares disponíveis para o respectivo nível do ensino regular. (BRASIL, 1996, p.22). Assim, a escola deve contar com uma estrutura arquitetônica e uma equipe pedagógica preparada a fim de contemplar os objetivos da educação inclusiva. O currículo pode ser compreendido como um espaço privilegiado de política de identidade, onde se define não apenas a forma que o mundo deve ter, mas também a forma como as pessoas e os grupos devem ser. Essa teoria que envolve o currículo refere-se a prática de uma realidade prévia muito bem estabelecida, a qual se encobrem muitas crenças e valores, por meio de um comportamento didáticos, políticos, administrativos, econômicos (MINETTO, 2012). Com isto, a escola precisa promover estratégias para o acesso ao currículo, métodos diversificados e ações pedagógicas efetivas, considerando as diferenças entre os sujeitos e as especificidades que essas diferenças impõem, enfatizando a premissa de que todos os 59UNIDADE III Inclusão e Educação I estudantes têm direito à educação de qualidade, inclusiva e equitativa, em todos os níveis e modalidades educacionais. Sendo assim, segundo as Diretrizes da Educação Especial, para a Construção de Currículos Inclusivos tem-se: [...] o desafio da participação e aprendizagem, com qualidade, dos alunos com necessidades especiais, seja em escolas regulares ou em escolas espe- ciais, exige da escola a prática da flexibilização curricular que se concretiza na análise da adequação de objetivos propostos, na adoção de metodologias alternativas de ensino, no uso de recursos humanos, técnicos e materiais específicos, no redimensionamento do tempo e espaço escolar, entre outros aspectos, para que esses alunos exerçam o direito de aprender em igualdade de oportunidades e condições (PARANÁ, 2006, p. 09). É válido ressaltar, caro (s) aluno (s), que a escola inclusiva é responsável por oportunizar a apropriação do conhecimento escolar atendendo de modo geral as especificidades de cada aluno, e por isso é importante enfatizamos o valor da adoção de adaptação curricular para que os alunos com necessidades educacionais especiais tenham as mesmas condições e oportunidades para se desenvolver e aprender. REFLITA A flexibilidade é outro fator que contribui para a remoção das barreiras da aprendiza- gem. Traduz-se pela capacidade do professor de modificar planos e atividades à medida que as reações dos alunos vão oferecendo pistas”. (CARVALHO, 2011, p.67). De acordo com Carvalho (2011), a pluralidade das manifestações humanas se revela nas relações cotidianas da escola, em razão disto, a necessidade de um sistema educacional inclusivo que busque novas formas de organização e elaboração do trabalho do professor com a garantia da adoção de práticas necessárias para o acesso ao conhecimento e a participação de todos, isto é, a reconfiguração das práticas pedagógicas para atender a necessidade de cada aluno. Neste sentido, Mantoan (2015) afirma que: A inclusão implica uma mudança de perspectiva educacional, pois não se limita aos alunos com necessidades educacionais especiais e aos que apre- sentem dificuldades de aprender, mas a todos os demais, para que obtenham sucesso na corrente educativa geral. Os alunos com necessidades educa- cionais especiais constituem uma grande preocupação para os educadores inclusivos, mas todos nós sabemos que a maioria dos que fracassam na escola são alunos que não vem do ensino especial, mas que possivelmente acabarão nele. (MANTOAN, 2015, p.196). 60UNIDADE III Inclusão e Educação I Esta situação nos faz refletir sobre a necessidade de compreender os processos de inclusão escolar, como frutos das lutas articuladas pelas minorias sociais excluídas contra um processo de exclusão. Dessa forma, caro (s) aluno (s), torna-se indispensável que nós como professores busquemos contribuir para promover a escola como espaço de aprendizagem que atende a todos os alunos, problematizando o currículo escolar, os processos de avaliação, os momentos de formação, planejamento, as relações estabelecidas nesse cotidiano,os apoios que necessitamos para dar conta de todos os alunos, as parcerias necessárias, bem como as políticas públicas favorecedoras da garantia de acesso, permanência e ensino com qualidade a todos os alunos. É válido ressaltarmos, caro (s) aluno (s), que de acordo com Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação Especial (BRASIL, 1996), o conceito que define a Escola Inclusiva, implica uma nova postura da escola comum, que propõe no projeto político pedagógico, no currículo, na metodologia de ensino, na avaliação e na atitude dos alunos, nas ações que favoreçam a integração social e sua opção por práticas heterogêneas. Isto é, a escola se prepara e capacita seus professores para oferecer educação de qualidade para todos, inclusive para os educandos com necessidades especiais. Portanto, a Educação Especial já não é mais ofertada de forma paralela ou segregada ao sistema educacional, mas sim, como um conjunto de medidas que a escola que oferta o ensino regular disponibiliza a serviço de adaptar as especificidades dos alunos. Foi em razão deste parâmetro que no Brasil a necessidade de se pensar um currículo para a escola inclusiva foi oficializada, criando Parâmetros Curriculares Nacionais que atendessem a uma nova concepção de Educação Especial e inclusiva. Neste documento o conceito de adaptações curriculares é abordado como estratégias e critérios de situação docente, que visam oportunizar a ação educativa escolar às especificidades da aprendizagem dos alunos (BRASIL, 1996). Dessa forma, podemos abordar duas vertentes de adaptação curricular, sendo uma voltada para a acessibilidade ao currículo e a outra voltada a atender as adaptações pedagógicas. Assim, quando nos referimos a adaptações de acessibilidade ao currículo, estamos falando de eliminar barreiras arquitetônicas e metodológicas, as quais são pré-requisito para que o aluno com deficiência possa frequentar a escola de ensino regular com autonomia, e participar das atividades acadêmicas propostas para os demais alunos. Dentre as adaptações que a escola pode realizar para facilitar a acessibilidade de crianças com deficiência física ao âmbito escolar, inúmeras ajustes podem ser feitos, 61UNIDADE III Inclusão e Educação I podendo ser citados como exemplo, as rampas, as barras de apoio para banheiros e carteiras adequadas e com espaço suficiente para a locomoção do aluno com deficiência. Imagem 1: Adaptações de acessibilidade para deficiente físico. Para atender aos alunos com deficiência sensorial, a escola pode promover ações que facilitam sua comunicação e sua locomoção dentro do âmbito escolar. Imagem 2: Adaptações de acessibilidade para deficiente físico. O intérprete de LIBRAS, o professor de apoio, os recursos que permitem a transição em Braile, recursos pedagógicos adaptados facilitar a aprendizagem de deficientes visuais, o uso de comunicação alternativa para os alunos com paralisia cerebral ou dificuldades de expressão oral, entre outros recursos que podem facilitar inclusão deste aluno com deficiência, no âmbito das escolas de ensino regular. É valido ressaltar que a Lei Nº 13.146, de 6 de Julho de 2015 garante ao aluno com deficiência, o direito de solicitar um profissional 62UNIDADE III Inclusão e Educação I de apoio, quando necessário. Esse profissional pode ser um professor de apoio pedagógico ou um interprete para as pessoas surdas. Em relação às adaptações pedagógicas curriculares, de planejamento, objetivos, atividades e formas de avaliação, no currículo como um todo, são adaptações que visam atender as necessidades de aprendizagem dos alunos com necessidades especiais. Assim, as adaptações curriculares consistem em possibilitar o caminho para o atendimento às necessidades específicas de aprendizagem dos alunos, de forma que a identificação dessas “necessidades” requer que os sistemas educacionais modifiquem não apenas as suas atitudes e expectativas em relação a esses alunos, mas que se organize para construir uma real escola para todos, que dê conta dessas especificidades (MINETTO, 2012). De acordo com o BRASIL (1996), essas adaptações curriculares realizam-se em três níveis: • Adaptações no nível do projeto pedagógico (currículo escolar) que devem focar principalmente, a organização escolar e os serviços de apoio, propiciando condições estruturais que possam ocorrer no nível de sala de aula e no nível individual. • Adaptações relativas ao currículo da classe, que se referem, principalmente, à programação das atividades elaboradas para sala de aula. • Adaptações individualizadas do currículo, que focam a atuação do professor na avaliação e no atendimento a cada aluno. Dessa forma, caro (s) aluno (s), a Educação Inclusiva, sob a ótica curricular, reconhece que o aluno com necessidades especiais faz parte da classe regular, e deve aprender as mesmas coisas que os alunos que não apresentam nenhum tipo de deficiência (FARIAS; LOPES, 2015). Portanto, precisamos nos concentrar em pequenas modificações que o professor venha a fazer em termos de métodos e conteúdos, visando assim, uma reformulação na organização do projeto político pedagógico de cada escola e do sistema escolar, sem deixar de considerar as adaptações necessárias para a inclusão e participação efetiva de alunos com necessidades especiais em todas as atividades escolares, pois ensinar um aluno com deficiência é o grande desafio da Educação Inclusiva, visto que é neste aspecto que a inclusão deixa de ser uma ideologia e se torna ação concreta. Em relação ao ato de avaliar dentro do contexto escolar, consiste em um processo de busca de informações sobre determinadas fatos, para conduzir uma mediação a fim de possibilitar um melhor aprendizado. No contexto escolar, ato de avaliar é essencial, sendo 63UNIDADE III Inclusão e Educação I o momento no qual o professor faz um diagnóstico sobre o processo de ensino e define estratégias de como redimensionar esse processo, refletindo sobre sua prática pedagógica, promovendo a aprendizagem dos estudantes e assegurando o direito universal de educação com qualidade, conforme descreve a DCNEB. Art. 47. A avaliação da aprendizagem baseia-se na concepção de educação que norteia a relação professor- estudante- conhecimento- vida em movi- mento, devendo ser um ato reflexo de reconstrução da prática pedagógica avaliativa, premissa básica e fundamental para se questionar o educar, trans- formando a mudança em ato, acima de tudo, político. (2013, p. 76) Portanto, no contexto escolar o ato de avaliar se dá de maneira diagnóstica, na qual a situação de aprendizagem é analisada, e pode ser usada para a averiguar a apropriação do conhecimento. A avaliação auxilia o professor com elementos para uma reflexão sobre a sua prática e o encaminhamento do trabalho com metodologias diferenciadas. Já para o estudante, é o indicativo de suas conquistas, dificuldades e possibilidades. E para a escola, a avaliação de constitui como instrumento diagnóstico para repensar sobre a organização do trabalho pedagógico, a fim de assegurar o desenvolvimento integral dos estudantes, vislumbrando uma educação com qualidade e o direito de aprendizagem. 64UNIDADE III Inclusão e Educação I 3. A PARTICIPAÇÃO DA FAMÍLIA E ESCOLA Muitas das decisões que precisam ser tomadas pela escola na construção do Projeto Político Pedagógico estão diretamente relacionadas às mudanças que constituem o propósito da educação inclusiva, o qual visa fazer da aprendizagem o eixo principal da escola, em prol de garantir o tempo necessário para que o aluno aprenda e se desenvolva de forma coletiva, comunicativa, criativa e crítica. Em razão disto, a família necessita ser parte interessada e presente neste processo, visto que o amparo e a compreensão familiar são fatores indispensáveis para a inclusão escolar e social do aluno com deficiência. É preciso que as famílias aceitem que as crianças comdeficiência, na maioria das vezes, podem atuar como seres autônomos, os quais não são dependentes do mundo, mesmo que na visão dos pais superprotetores, essa criança não possa conviver como os demais (SASSAKI, 2009). Dessa forma, caro (s) aluno (s), a família é considerada pela sociedade como o elemento primário para a promoção da inclusão do sujeito com deficiência no convívio social, sendo caracterizada como a relação primordial para o desenvolvimento humano. Assim, para que se possa incorporar à sociedade em uma nova concepção sobre um olhar inclusivo, faz-se necessário uma mudança no pensamento das pessoas e na estrutura da sociedade, mas acima de tudo e de todos os familiares da pessoa com deficiência. Esta ação de inclusão é um processo gradativo, o qual nada adianta se dentro do próprio núcleo familiar a pessoa com deficiência é restringida a socialização. Segundo 65UNIDADE III Inclusão e Educação I Bastos, Gomes, Gomes e Rego (2007), toda família apresenta experiências e características próprias, enquanto em um âmbito de trabalho, o sujeito com deficiência constrói novas experiências, enfrenta crises e novidades. As autoras ainda relatam que: É na família, enquanto contexto de desenvolvimento humano, que crianças são gradualmente orientadas para tornarem-se adultos, mediante regras da vida cultural, muitas vezes não escritas [...] Em uma sociedade desigual como a brasileira, é indispensável levar em conta que as famílias ocupam espaços diferenciados em sua luta por sobrevivência e reprodução da vida. E, ao ocupar estes espaços, estabelecem relações de convivência, conflituo- sas ou não, trocam experiências, acumulam saberes, habilidades, hábitos e costumes, reproduzindo concepções e cultura (BASTOS; GOMES; GOMES; REGO, 2007, p.162-163) Dessa forma, o núcleo familiar consiste em um espaço fundamental para a promoção da socialização do sujeito com deficiência, pois são responsáveis por mediar a construção da relação do sujeito com deficiência com o mundo externo, ou seja, a sociedade. Portanto, caro (s) aluno (s) não é possível falarmos sobre a Educação Especial e Inclusiva, sem relacionar seu desenvolvimento com fatores do contexto familiar, o qual o sujeito com deficiência está inserido, mesmo porque a deficiência não se restringe exclusivamente ao indivíduo que a tem, uma vez que a família também é parte fundamental desta experiência, pois é a primeira a se socializar com o sujeito com deficiência (BIASOLI-ALVES, 2008). Desse modo, quanto mais cedo a família iniciar o processo de conscientização para promover a inclusão social e posteriormente auxiliar na inclusão profissional da pessoa com deficiência, mais chances dessa pessoa ter um desenvolvimento pleno. É válido salientar que os obstáculos enfrentados por cada família são diferentes, pois cada família e cada pessoa com deficiência é única, tendo assim seus aspectos peculiares dependentes de fatores relacionados ao desenvolvimento, a maturidade, a condição social e financeira de cada uma. O desenvolvimento de uma criança com deficiência que vive em uma família mais estruturada financeiramente apresenta mais recursos que facilitam a ultrapassar algum dos obstáculos que impedem seu progresso, uma realidade diferente da maioria das famílias dos pais. Assim, podemos dizer que, questões financeiras podem dificultam o desenvolvimento das crianças com deficiência. Bastos, Gomes, Gomes e Rego (2007), relata que: A família pobre não se constitui como núcleo, mas como uma rede com ra- mificações que envolvem níveis de parentesco como um todo, configurando uma trama de obrigações morais que enreda os indivíduos em dois sentidos: ao dificultar sua individualização e ao viabilizar sua existência como apoio e sustentação básicos [...]. Neste contexto, as crianças não são responsabili- dade apenas do pai e da mãe, mas de toda a rede de sociabilidade em que a família está envolvida (BASTOS; GOMES; GOMES; REGO, p.160-161). 66UNIDADE III Inclusão e Educação I Este fator de desigualdade dificulta o desenvolvimento do sujeito com deficiência, assim como sua relação com o meio social, uma vez que a falta de recursos financeiros pode causar um quadro de abandono ou de isolamento no seio familiar. Porém, em casos assim, a única coisa que podemos afirmar, caro (s) aluno (s), é que a família tem por obrigação a responsabilidade de promover um espaço de apoio mútuo, de compreensão e aceitação. Por fim, a realidade é que todos nós sabemos, que a família exerce um papel de extrema importância na vida da criança, sobretudo na de uma criança com deficiência, pois é na família que se encontram os laços afetivos necessários para o desenvolvimento e bem- estar de seus componentes. Assim, ela desempenha um papel fundamental na formação dos valores éticos e morais de seus integrantes. 67UNIDADE III Inclusão e Educação I 4. SEXUALIDADE Sabemos que a Educação Inclusiva é um tema muito estudado, no entanto, quando nos referimos à Educação Sexual de crianças e jovens com deficiência, podemos dizer que, por ser considerado um tema bem delicado, muitas vezes é deixado de lado, tanto no contexto escolar quanto no contexto familiar. Assim, quando pensamos no verdadeiro sentido da educação, que consiste em conduzir o aluno a descobrir o desconhecido, percebemos que a Educação Inclusiva não é tão complexa, pois deixa de abordar determinados temas devido a questões ligadas a tabus impostos pela sociedade e a falta de compreensão sobre tal necessidade. De acordo com Maia e Ribeiro (2009, p. 46) “o educador deve ter discernimento para não transmitir valores, crenças e opiniões como sendo princípios ou verdades absolutas”. Partindo disto, entendemos que o professor que atua na formação de crianças e jovens, tanto no ensino regular quanto na educação especial, deve deixar de lado todas as questões pessoais que envolvam algum tipo de crença, para que assim possa desenvolver determinados aspectos de seu trabalho, como é o caso da Educação Sexual. Dessa forma, caro (s) aluno (s), para compreendermos a importância da Educação Sexual, para a vida e o desenvolvimento do sujeito, iremos discutir sobre as contribuições possíveis para o sucesso no trabalho desenvolvido na modalidade da Educação Inclusiva. Segundo Maio (2011, p. 182), uma proposta de educação sexual “adequada, consciente 68UNIDADE III Inclusão e Educação I e emancipadora poderia contribuir para o objetivo de tornar toda a comunidade educativa apta a discutir assuntos importantes para o discernimento, na área da sexualidade”. Portanto, essa discussão que aborda a Educação Sexual dentro da modalidade de Educação Inclusiva, não é uma tarefa fácil, pois ambas são frutos de conquistas adquiridas ao longo da nossa história. Por outro lado, Braga (2009) destaca que a ausência de profissionais da educação preparados para desenvolver essa discussão na escola, impede que a temática seja debatida em âmbitos educacionais. Para Braga (2009), (...) as manifestações sexuais que aparecem na escola demonstram, a cada momento, as dificuldades que as instituições educativas apresentam quando tratam da temática da sexualidade em seu cotidiano. Uma proposta de edu- cação sexual adequada, consciente e emancipadora poderia contribuir para o objetivo de tornar toda a comunidade educativa apta a discutir assuntos importantes para o discernimento, na área da sexualidade (BRAGA, 2009, p. 03). Com isso, podemos dizer que a sexualidade no espaço escolar é uma necessidade. No entanto, quando falamos da educação sexual de crianças e jovens com deficiência, ela ainda não tem sido muito abordada. A abordagem desta temática no âmbito da educação de pessoas com deficiência, contribui para uma vida mais significativa, visto que muitas vezes os alunos com deficiência se isolam do meio social devido a questões emocionais que os fazer se sentir como pessoas inferiores aos demais. Sendo assim,não basta apenas garantir a inclusão do aluno com deficiência no contexto escolar, mais a escola deve garantir a esse aluno com deficiência, os mesmos direitos que os demais, ou seja, a escola deve atender todas as necessidades educacionais dos alunos sem restringir sua aprendizagem devido a sua deficiência. Segundo Teixeira e Braga (2008), pessoas com deficiências foram excluídas do processo histórico, pois ao analisar os projetos políticos pedagógicos de instituições que ofertam a educação para pessoas com deficiência, notaram que esta temática não é abordada dentro do âmbito da Educação Especial e Inclusiva, principalmente com alunos com deficiência mental. Assim, Teixeira e Braga (2008) ressaltam que: Ao debatermos sobre a inclusão educacional não podemos deixar de questio- nar, quanto ao conceito de sujeito que queremos para os alunos com neces- sidades educacionais, já que se trata da diversidade humana, que de acordo com os estudos realizados, verificamos que em alguns momentos da histó- ria os alunos com necessidades educacionais especiais estavam inseridos no processo de escolarização, em espaços de segregação ou de exclusão, dependendo das relações sociais de cada época: nos asilos e em escolas especiais impedidos de se desenvolverem em um processo de aprendizagem participativo (TEIXEIRA; BRAGA, 2008, p. 03).. Em razão disto, podemos afirmar que é importante que haja uma proposta pedagógica adequada, com currículo flexível, que contemple as necessidades de todos os alunos, seja 69UNIDADE III Inclusão e Educação I com deficiência ou não, de modo que torne o processo educativo mais significativo. Dessa forma, caro (s) aluno (s), podemos afirmar que a Educação Especial e Inclusiva continua em déficit, visto que o aluno com deficiência ainda têm a mesma aprendizagem que os demais, pois são restringidos a aprenderem somente parte do que é ofertado aos alunos sem deficiência. Neste sentido, Maia e Ribeiro (2009) contribui em dizer que: (...) a orientação sexual não deve e não pode ter como objetivo a transmis- são de verdades ou valores morais, tampouco reduzir se à transmissão de informações, mas é preciso que o educador tenha bem clara a importância de que seu aluno amplie a visão de mundo que tem e descubra por si como conquistar um caminho e um espaço na sociedade que o leve a ter uma vida sexual mais plena possível, transpondo as barreiras da desigualdade sexual, do preconceito, dos tabus, do medo e da intolerância (MAIA; RIBEIRO, 2009, p. 46). Partindo disto, podemos entender que ao propiciar a ampliação da visão e a abertura de novos horizontes aos alunos com deficiência diminuímos as barreiras que os definem como pessoas dependentes ou incapazes, pois não podemos defini-los como pessoas inferiores, sendo que sua aprendizagem ocorre de forma defasada, devido a vários fatores que as restringiram a essa aprendizagem. Sendo assim, fica claro que o comportamento de pessoas com deficiência pode ser diferente do comportamento de uma pessoa que não apresenta nenhum tipo de deficiência, pois grande parte das pessoas com deficiência não receber nenhum tipo de orientação sexual. Segundo Maia e Ribeiro (2009): (...) é que faltam estratégias educacionais que ensinem o portador de defi- ciência a discriminar os comportamentos socialmente aceitos. Muitos com- portamentos e expressões da sexualidade, comuns em crianças e jovens, como a masturbação, os jogos sexuais, o “ficar” com, namorar, perguntar e comentar sobre sexualidade, etc, são interpretados por educadores e pais como aberrações quando aparecem em pessoas com deficiência intelectual, porque muitas vezes, essas expressões são públicas, inadequadas e até mesmo incompatíveis com o corpo físico adulto (MAIA; RIBEIRO, 2009, p.26) Maia e Ribeiro (2009) complementam que as famílias e os educadores de pessoas com deficiência, se assustam com a abordagem de ações voltadas a questões sexuais de deficientes, pois mesmo estando em uma época que a população tem fácil acesso à informação, grande parte da sociedade ainda não possui conhecimento sobre a sexualidade dessas pessoas. Assim, orientar sexualmente alguém com deficiência, consiste em uma tarefa complexa, porém tão necessária quanto orientar aquele que não possui deficiência alguma. Isto é, a Educação Sexual ainda precisa quebrar os tabus e preconceitos e adentrar no espaço escolar, e para isso é preciso que o professor tenha consciência que este assunto também deve ser abordado com os alunos com deficiência, a fim de garantir a eles o direito 70UNIDADE III Inclusão e Educação I da mesma aprendizagem que os alunos sem deficiência, para que assim possam mudar a história da Educação Especial para a seguir a concepção Inclusiva. SAIBA MAIS Percebe-se que a sexualidade se tornou um assunto presente no dia a dia das pessoas e principalmente na escola, diante disso, buscar compreender todos os campos que en- volvem a sexualidade humana também é tarefa do educador já que este tem a tarefa de transmitir conhecimentos acadêmicos e assim possibilitar a construção de novas apren- dizagens para o aluno. A escola, portanto, se mostra um ambiente ideal para a reflexão sobre o tema sexualidade. Todos os dias presenciamos velhas práticas e concepções acerca deste assunto, enraizando ainda mais conceitos tradicionalistas e preconceituo- sos a respeito da sexualidade humana, não diferente disto, está, a sexualidade da pes- soa com deficiência. Tratar de sexualidade na escola não é tarefa fácil para grande parte dos educadores, relacionar isto à pessoa com deficiência então se mostra um desafio para o ensino nos dias atuais. Compreender a sexualidade humana e principalmente a sexualidade de pessoas deficientes é necessária para que novas práticas sejam desen- volvidas na escola, auxiliando as mesmas a se reconhecerem e a reconhecerem seus sentimentos. Fonte: SILVA, M. B. da; MAIO, E. R. Sexualidade e Inclusão: discussões pedagógicas. In: Cadernos PDE: Os Desafios da Escola Pública Paranaense na Perspectiva do Professor PDE. Paraná, 2014. Disponível em: http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/cadernospde/pdebusca/producoes_pde/2014/20 14_ uem_edespecial_artigo_marta_brito_da_silva.pdf. Acesso em: 29 de mar de 2020. 71UNIDADE III Inclusão e Educação I CONSIDERAÇÕES FINAIS Caro (s) aluno (s), entende-se que a proposta da Educação Especial e Inclusiva visa promover práticas pedagógicas que atendam as especificidades de cada aluno. No entanto, ao olharmos para o contexto atual da educação é possível dizer que ainda faltam recursos que promovam o sucesso de forma integral do processo de aprendizagem de alunos com deficiência. Podemos dizer também que, a efetivação da proposta da Educação Especial e Inclusiva depende de uma ação conjunta, pois a inclusão não significa somente promover a inserção dos com deficiência em ambientes do ensino regular ignorando suas necessidades específicas, mas significa que o professor e a escola devem proporcionar ao aluno condições de aprendizagem como os demais, para que assim eles consigam suprir suas necessidades. A inclusão de alunos com deficiência em classe regular, implica no desenvolvimento de ações adaptativas, visando à flexibilização do currículo, para que ele possa ser desenvolvido de maneira efetiva em sala de aula de ensino regular, e atender as necessidades individuais de todos os alunos. Dessa forma, a escola pode ser vista com o espaço mais preparado para realizar esta formação, visto que é considerada pela sociedade como um espaço eficaz para formar e transformar a realidade do sujeito com deficiência. Por fim, compreendemos então que a Educação Especial Inclusiva necessita de uma ação em conjunto, o qual a comunidade, pais, professores e todos os envolvidos em seu processo buscam desenvolver a prática inclusiva. 72UNIDADE III Inclusão e Educação I LEITURA COMPLEMENTAR Sexualidade na Deficiência Intelectual:uma Análise das Percepções de Mães de Adolescentes Especiais Sexuality in Intellectual Disabilities: an Analysis of the Perceptions of Mothers of Special Adolescents Patrícia Mattos Caldeira Brant LITTIG Daphne Rajab CÁRDIA Luciana Bicalho REIS Erika da Silva FERRÃO RESUMO: Adolescência é a fase transitória entre infância e idade adulta, momento importante do desenvolvimento humano, marcado por mudanças físicas, psicológicas e sociais relativas ao início da sexualidade. Este momento geralmente é conturbado e o poderá ser ainda mais para adolescentes com deficiência intelectual (DI) por confrontar com preconceitos e mistificações estabelecidas há tempos. A maneira infantilizante e discriminatória de serem tratados pela família e sociedade influenciam as percepções das mães de filhos com DI. Assim, objetivando investigar as concepções que mães de jovens com DI têm sobre a sexualidade deles e como elas irão refletir na adoção de práticas de educação sexual, foram entrevistadas 20 mães de adolescentes entre 12 a 18 anos, de ambos os sexos, com diagnóstico de DI, atendidos numa clínica escola localizada no estado do Espírito Santo. Analisando as entrevistas, percebeu-se em 12 respostas, a ideia de ausência de sexualidade na pessoa com DI, trazendo uma postura infantilizadora e superprotetora dessas mães em relação aos filhos, considerando-os com pouca possibilidade de desenvolver interesses e comportamentos sexuais. Quanto às concepções das mães nas manifestações sexuais de seus filhos, 15 delas revelaram entender que a sexualidade deles é diferente da de pessoas sem deficiência intelectual. Percebeu-se que 12 das 20 mães nunca orientaram seus filhos sexualmente, alegando que não compreenderiam. Em geral, as mães não reconhecem uma identidade sexual em seus filhos e, por conseguinte, não fornecem uma educação sexual, reproduzindo a concepção social e cultural que nega a existência da sexualidade quando associada à DI. Continue lendo: LITTIG, P. M. C. B., CARDIA, D. R., REIS, L. B., & FERRÃO, E. D. S. (2012). Sexualidade na deficiência intelectual: Uma análise das percepções de mães de adolescentes especiais. Rev. Bras. Educ. Espec. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/rbee/v18n3/a08.pdf. Acesso em: 29 de mar de 2020. 73UNIDADE III Inclusão e Educação I MATERIAL COMPLEMENTAR LIVRO Título: OS PARÂMETROS DA EDUCAÇÃO INCLUSIVA FACE AO DESAFIOS DA CONTEMPORANEIDADE Autor: Marcos Palácio Editora: Marcos Palácio Sinopse: A gestão democrática é parte do projeto de construção da democratização da sociedade brasileira. Nesse sentido, a construção do projeto político-pedagógico, a participação em conselhos, a eleição para diretores, a autonomia financeira, são processos pedagógicos de aprendizagem da democracia, tanto para a comunidade escolar, quanto para a comunidade em geral, porque a participação, depois de muitos e muitos anos de ditadura, é um longo processo de construção. Pode-se ainda mencionar que a construção de um processo de gestão democrática implica repensar a lógica de organização e participação nas escolas, por isso é essencial discutir os mecanismos de participação na escola, suas finalidades e a definição de ações e metas a serem construídas coletivamente pelos diferentes segmentos que a compõem ou dela devem participar. Em síntese, vale explanar que o acesso à educação para portadores de deficiências vai sendo muito lentamente conquistado, na medida em que se ampliaram as oportunidades educacionais para a população em geral. Entretanto, tanto as classes quanto as escolas especiais somente iriam proliferar como modalidade alternativa às instituições residenciais depois das duas guerras mundiais. FILME/VÍDEO Título: Atypical Ano: 2017 Sinopse: Atypical é uma série norte-americana de comédia dramática original Netflix, criada e escrita por Robia Rashid, que conta a história de um rapaz de 18 anos, diagnosticado dentro do espectro do autismo, que trabalha e estuda, vivendo a efervescência da idade e seu amadurecimento. Disponibilizada na rede de streaming desde 11 de agosto de 2017, com oito episódios. A série foi bem recebida pela crítica. Foi renovada para uma segunda temporada com dez episódios em 13 de setembro de 2017. A Netflix anunciou em 14 de agosto de 2018, que a segunda temporada de Atypical estreou na plataforma de streaming no dia 7 de setembro de 2018. Em 24 de outubro de 2018, a Netflix renovou a série para sua terceira temporada que foi lançada no dia 1º de novembro de 2019. Link trailer: http://www.adorocinema.com/series/serie-21143/video-19555647/ 74 Plano de Estudo: • Equipe multidisciplinar: sua atuação. • Construção de uma comunidade inclusiva: desafios e perspectivas. • Educação para cidadania, uma questão de direitos humanos. Objetivos da Aprendizagem • Conhecer sobre a importância da equipe multidisciplinar, no contexto da educação de pessoas com deficiência; • Compreender qual a contribuição da escola para a construção de uma comunidade inclusiva; • Estabelecer a relação entre a educação inclusiva e a cidadania de pessoas com deficiência. UNIDADE IV Educação Inclusiva II Professora Mestre: Ana Paula Francisca dos Santos 75UNIDADE IV Educação Inclusiva II INTRODUÇÃO Olá, caro (s) aluno (s), estamos iniciando a última parte de nosso estudo. Nesta unidade iremos conhecer sobre a importância da equipe multidisciplinar no contexto da educação de pessoas com deficiência. Além de compreender qual a contribuição da escola para a construção de uma comunidade inclusiva, a relação entre a educação inclusiva e a cidadania de pessoas com deficiência. Há tempos que a educação inclusiva tem sido tema de debates no contexto escolar e social. Especialistas buscam através de políticas públicas e pelo movimento dos direitos humanos atender as ações necessárias para a inclusão de pessoas com deficiência no contexto social e educacional. Assim, quando nos referimos a inclusão social das pessoas com deficiência, é notório que ainda se enfrenta desafios, visto que este processo ocorre de forma lenta devido à falta de recursos e profissionais para atender todas as pessoas com deficiência. Em razão disto, a efetivação dos direitos que cabem as pessoas com deficiência não alcança total plenitude, deixando de atender grande parte da população com deficiência. Assim, entende-se que a escola é a principal responsável por conduzir o processo de inclusão de pessoas com deficiência no contexto social e também por promover uma sociedade mais justa e igualitária, capaz de romper as barreiras impostas sobre os direitos de pessoas com deficiência. Bons estudos! 76UNIDADE IV Educação Inclusiva II 1. EDUCAÇÃO INCLUSIVA II 1.1. Equipe multidisciplinar: sua atuação A equipe multidisciplinar consiste em um conjunto de especialistas de diversas áreas, trabalhando em prol de um único objetivo, no entanto, seu objetivo deve estar articulado com a realidade da comunidade em que a escola pertence. Quero dizer, caro (s) aluno (s), que o objetivo das equipes multidisciplinares das escolas de ensino regular, não são os mesmos, visto que as necessidades da comunidade a qual ela está inserida, são diferentes. Então, quando falamos do trabalho da equipe multidisciplinar no contexto da Educação Especial e Inclusiva, ela é formada para atender as necessidades do sujeito com deficiência, assim, ela é constituída por profissionais da educação e da saúde, com o objetivo de promover ações que possibilite a inclusão desse sujeito, no meio educacional, a fim de facilitar seu desenvolvimento escolar, por meio da identificação de suas dificuldades e potencialidades, respeitando a especificidade de cada aluno. Assim, caro (s) aluno (s), para melhor compreender a relação entre a equipe multidisciplinar e inclusão escolar, é necessário considerar todos os fatores políticos, sociais e econômicos, os quais podem ser impostos como obstáculos para a promoçãoda inclusão do sujeito com deficiência, no contexto escolar. É válido destacar que estes fatores também podem ser vistos como desafios que afetam de forma substancial o interesse da sociedade de promover uma “educação para todos”. 77UNIDADE IV Educação Inclusiva II Portanto, podemos dizer que, a educação somente conseguirá atingir seu objetivo, quando assumir um compromisso social na construção do conhecimento, de forma que possa utilizar o sistema a seu favor, ou seja, fazer com que as mudanças realizadas pelo sistema sejam adaptadas para atender as necessidades de cada comunidade. Então, as equipes multidisciplinares são essenciais a promoção do trabalho pedagógico. A participação colaborativa entre os profissionais da equipe multidisciplinar, favorece a criação de estratégia para atender as necessidades das pessoas com deficiência. Segundo Correia (2010), a constituição de equipes para apoiar a inclusão nas escolas é uma estratégia fundamental que envolve distintos sujeitos para pensar sobre a efetivação dos processos inclusivos. De acordo com Correia (2010), a equipe multidisciplinar pode ser dividida em duas equipes, as quais uma fica responsável por promover estratégicas que envolva o planejamento inclusivo e a outra desenvolve estratégias colaborativas. A equipe de planejamento fica sobre a responsabilidade dos pais e professores, que devem pensar sobre ações estratégicas que visam o desenvolvimento e a avaliação de um projeto inclusivo para as escolas, de forma que mobilizasse toda a comunidade escolar. Quanto a equipe de estratégias colaborativas, atua como uma “equipe de apoio ao aluno” formadas por especialistas da saúde como psicólogos, fonoaudiólogos, terapeutas ocupacionais, além de pais, professores, voltados a pensar em estratégias de trabalho para os casos específicos de estudantes incluídos. No entanto, a formação da equipe multidisciplinar pode variar muito, a depender de cada município (SOUZA et al., 2004). Ainda na concepção de Correia (2010), a equipe multidisciplinar deve manter a troca de informações sobre os alunos, de forma que permita efetuar uma intervenção educacional cujo fim seja o de minimizar ou até suprimir o problema do aluno. (Correia, 2010). O envolvimento e a participação das famílias neste processo são consideradas imprescindíveis para a promoção de estratégias que possam favorecer a aprendizagem e o desenvolvimento dos estudantes com deficiência. Lopes e Marquezan (2010) destacam: [...] que a participação da família do filho com necessidades especiais é deci- siva no processo de integração/inclusão e indispensável para um construir-se pessoal e participante da sociedade. As relações entre famílias de filhos com necessidades especiais oportunizam suporte recíproco para o fortalecimento necessário à convivência saudável entre seus membros. A escola, em con- junto com a família, deverá implementar as melhores estratégias de ensino- -aprendizagem para que o aluno portador de necessidades especiais dela se beneficie e nela permaneça (LOPES; MARQUEZAN, 2010, p.4). Nessa perspectiva, Correia (2010) complementa que as famílias devem ser consideradas membros valiosos da equipe e devem ser envolvidas nas tomadas de decisões. 78UNIDADE IV Educação Inclusiva II As práticas e políticas de atendimento às famílias devem ser amistosas, respeitando os valores, de cada família e estabelecendo prioridades que permite a adaptação do sujeito com deficiência. Um dos fatores importantíssimos desta proposta, refere-se ao grande avanço da política de educação inclusiva como uma rede colaborativa entre o Ministério da Educação, que promove a capacitação profissional que atendem a educação de crianças e jovens com deficiência e as Secretarias de Educação que aderiram ao programa de formação continuada, visando atender a proposta de atendimento em parceria com a família, o professor regente, o professor, e toda a equipe multidisciplinar. Por outro lado, embora as escolas tenham por obrigação, ter em seu espaço uma equipe multidisciplinar que atenda às necessidades dos alunos com deficiência, a maior dificuldade enfrentada nas escolas, principalmente na rede pública de ensino, é encontrar profissionais capacitados da área da saúde para atuação direta com os estudantes com deficiências. Portanto, caro (s) aluno (s), o trabalho de uma equipe multidisciplinar consiste em uma forma específica de organização, que visa, atender as necessidades educativas do aluno, de forma mútua e coletiva, onde os colaboradores da área da saúde e da educação, trocam informação em prol deste objetivo. 79UNIDADE IV Educação Inclusiva II SAIBA MAIS Você sabia que segundo os dados apresentados pelo IBGE, em 2015, mais 6,7% da população geral possui algum tipo de deficiência? E que atualmente, cerca de 7,5% das crianças brasileiras – de até 14 anos de idade, têm uma deficiência diagnosticada, con- forme dados divulgados pelo IBGE? Em termos de porcentagem pode não parecer um valor muito expressivo, mas quando convertemos para números reais, são 47 milhões de brasileiros com deficiência, dos quais quase 16 milhões são crianças. Mas, mesmo com esse número alto, a inclusão social é uma grande barreira para a integração efetiva e abertura de oportunidades igualitárias para essas pessoas. Quando pensamos em “inclusão” precisamos expandir nossa ideia de apenas dar acesso aos mesmos espa- ços, mas sim às possibilidades de aprendizagem e atuações que os espaços oferecem. Inclusão é um conceito que tem a ver com a sensação de pertencimento. E para ser in- cluída a pessoa precisa fazer parte e ter voz dentro dos grupos nos quais convive, sejam eles familiares, sociais, profissionais e acadêmicos. Para que isso seja possível, preci- samos nos conscientizar e nos preparar para lidar com as diferenças de pensamento, mobilidade, comunicação e interação. Devemos nos unir na luta em prol da empatia e direitos. Fonte: MICAS, L. GARCEZ, L e CONCEIÇÂO, L. H. P. 2018. IBGE constata 6,7% de pessoas com de- ficiência no Brasil com nova margem de corte. Disponíveis em: https://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/ noticia/2015-08/ibge-62-da-populacao-tem-algum-tipo-de-deficiencia, Acesso em: 29 de mar de 2020. 80UNIDADE IV Educação Inclusiva II 2. CONSTRUÇÃO DE UMA COMUNIDADE INCLUSIVA: DESAFIOS E PERSPECTIVAS Uma escola inclusiva possui o compromisso de lutar por uma sociedade mais igualitária, onde todos são tratados com dignidade e respeito. Assim, surge um novo olhar, com grandes desafios sobre a inclusão, o qual percorrendo caminhos que nos levam a uma sociedade mais justa e unida na luta pelo direito das pessoas com deficiência. Assim, quando pensamos em uma escola inclusiva, pensamos em criar possibilidades que possam atender as necessidades dos alunos com deficiência. A escola necessita fazer adaptações arquitetônicas, flexibilizar o currículo, capacitar professores, rever as metodologias, e manter uma interação entre a comunidade, a família e a escola. Contudo, essa ação só pode ser alcançada mediante a um bom desenvolvimento educacional que busca promover o respeito às diferenças, mesmo que não seja em pequena escala, visto que, ainda grande parte das crianças com deficiência não frequentam a escola de ensino regular. Em razão disto, caro (s) aluno (s), podemos dizer que o sistema de ensino ainda está em fase de adaptação, e requer um empenho maior das escolas de ensino regular, pois para que essa inclusão ocorra, é indispensável que as escolas que ofertam o ensino regular, disponha de recurso e de profissionais preparados para atender as especificidades de cada aluno. Outro ponto importante, refere-se à participação ativa de todos os envolvidos no processo educacional, isto é, para ocorra a adaptação do sistema, é necessário que 81UNIDADE IV Educação Inclusiva II ocorra um intercâmbio entre os gestores, professores, alunos, família e todaa comunidade a qual a escola pertence. A intervenção deste intercâmbio entre estes atores, pode ser realizada a partir da construção do Projeto Político Pedagógico, o qual deve envolver todos eles, em prol de promover ações significativas para todos (comunidade, escola, família e alunos). Dessa forma, o processo de elaboração do projeto necessita de um conhecimento sobre educação, as ações e resultados da escola, assim como as ações promovidas pela comunidade, visando sempre valorizar o papel da escola em meio ao seu contexto social. Portanto, a elaboração do Projeto Político Pedagógico exige um planejamento que busque identificar o que a comunidade e a escola deseja alcançar. Neste sentido, é válido se atentar aos obstáculos que uma criança com deficiência terá que enfrentar no âmbito educacional, visto que a inclusão deste aluno depende muito do currículo escolar que deve ter sua função atrelada às dificuldades dos alunos. Sendo assim, o Projeto Político Pedagógico da escola ser adaptado, baseando-se em situações reais, as quais foram vivenciadas na comunidade e na escola, para atender as necessidades de cada aluno. No entanto, devem ser levadas em consideração as reflexões e propostas em torno de três dimensões de ação, que competem a segmentos distintos. Quadro 1: Segmentos do Projeto Político Pedagógico Proposta Descrição A construção de culturas in- clusivas (comunidade escolar e sociedade em geral) Envolve propostas para a construção de uma comunidade escolar segura, receptiva, colaboradora e estimulante em que todos são con- siderados importantes para a remoção de barreiras para a aprendi- zagem e para a participação. A elaboração de políticas in- clusivas (secretarias munici- pais e estaduais de educação) Envolve a organização de apoios e a formação continuada dos pro- fessores e demais profissionais da educação, de modo que a escola desenvolva sua capacidade de responder às necessidades dos alu- nos, sem nenhum mecanismo de exclusão. A dimensão das práticas in- clusivas (professores e equipe técnico pedagógica) Envolve a organização do processo de aprendizagem, por meio da flexibilização e adaptações curriculares (de conteúdos, métodos, avaliação), de modo a contemplar a participação de todos os alunos, considerando seus conhecimentos prévios, suas necessidades lin- guísticas diferenciadas e o contexto social. Fonte: adaptado de Manetto (2011) O Projeto Político Pedagógico da escola deve apresentar os princípios, objetivos educacionais, do método de ação e das práticas que serão adotadas para a promoção da ação inclusiva, além de definir uma relação entre a escola e comunidade (BRASIL, 2004). Segundo Libânio (2008), esta relação pode promover a construção de uma sociedade mais justa e humana, e também valorizar o trabalho coletivo e participativo dos envolvidos neste processo. Dessa forma, a construção do projeto político-pedagógico da escola deve ser um 82UNIDADE IV Educação Inclusiva II processo coletivo que exige reflexão e organização de todos os que dela participam ou se beneficiam. A gestão da escola é a principal responsável por conduzir a elaboração deste projeto. Assim, deve buscar mobilizar, pais, professores e a comunidade a formar uma equipe que reflita sobre os princípios, objetivos e metas a serem estabelecidos neste projeto. Esta ação deve ser refletida com muito cuidado, pois é a partir dela que a comunidade dará início ao desenvolvimento de ações de inclusão, a fim de transforma-se em uma comunidade inclusiva. Entende-se então caro (s) aluno (s) que a comunidade desempenha um papel de suma importância na construção do Projeto Político Pedagógico. De acordo com Conceição et al. (2006), a comunidade é parte indispensável processo de construção da identidade de uma instituição educativa, pois somente com a participação de todos é possível promover política públicas que atendam aos anseios de toda a comunidade. Dessa forma, a construção da comunidade inclusiva, depende muito da participação e colaboração dos membros, pois assim como a Educação Inclusiva, não basta somente que o aluno frequente a escola, esta nova concepção implica, também, em assegurar seus direitos como membros de uma determinada sociedade. Isto é, caro (s) aluno (s), para que a inclusão ocorra, não basta somente a escola fazer sua parte, pois a inclusão deste aluno não pode ser realizada somente no âmbito escolar. Portanto, para que a comunidade adentre a concepção inclusiva, é necessário que todos os membros colaborem e participem da elaboração do projeto político pedagógico da escola de sua comunidade, visto que este projeto abrange ações para promover o desenvolvimento este aluno com deficiência, em suas experiências vivenciadas na comunidade, ou seja, as ações estarão voltadas para o desenvolvimento integral do aluno, dentro e fora do contexto escolar. 83UNIDADE IV Educação Inclusiva II 3. EDUCAÇÃO PARA CIDADANIA, UMA QUESTÃO DE DIREITOS HUMANOS A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho”. (Art. 205, CF) A educação para a cidadania consiste na formação de pessoas responsáveis, autónomas, solidárias, para exercer os seus deveres e direitos em forma de diálogo e respeito do outro, com espírito democrático, pluralista, crítico e criativo, tendo como referência os valores dos direitos humanos. A educação para a cidadania, surge inicialmente na educação não formal, como prática de educação popular, por meio da constituição de estratégia de mobilização, organização e formação de uma cultura cidadã na construção de sujeitos históricos em processos de lutas pelas conquistas dos seus direitos civis, políticos, econômicos, sociais e culturais. Nesse sentido, é possível afirmar, caro (s) aluno (s), que a educação para a cidadania, busca uma educação mais democrática, em prol de fazer valer os direitos e deveres de todo cidadão. Assim, a educação para a cidadania tem início com as lutas sociais, as quais visam construir uma sociedade mais justa e igualitária. Outro ponto importante da educação para a cidadania, refere-se a integração do sistema de educação, o qual transforma a educação sobre caráter interdisciplinar, ou seja, obriga à superação das tradicionais divisões em disciplinas e departamentos em prol de 84UNIDADE IV Educação Inclusiva II estimular uma colaboração mais sistemática e orgânica entre as disciplinas: direito, história, filosofia, ciências sociais, psicologia social, serviço social, educação, entre outras. A partir desta experiência formativa é possível agrupar as principais temáticas ao redor de alguns grandes eixos: Quadro 2: Educação para a cidadania Eixo Objetivo Eixo histórico Abordar a reconstrução da trajetória histórica do surgimento e da afirmação dos Direitos Humanos. Eixo de fundamentação Aborda as questões relativas à fundamentação dos direitos Hu-manos do ponto de vista teórico. Eixo Político Discute as teorias e os sistemas políticos atuais e sua relação com os direitos do homem, enfrentando temas tais como: as dife- rentes concepções da democracia e os direitos humanos; demo- cracia e liberalismo (democracia e liberdade); democracia e so- cialismo (democracia e igualdade); o papel do Estado e da “nova esfera pública da cidadania” na promoção e defesa dos Direitos do homem a nível local, nacional e internacional. Eixo educacional ou formativo Estudar as teorias e os métodos pedagógicos mais adequados para uma educação aos direitos humanos nos vários contextos (educação formal e informal, movimentos sociais, entidades pú- blicas), abordando aspetos tais como a educação das crianças, jovens e adultos para uma nova cultura dos direitos humanos e da paz e a reflexão e sistematização da prática educativa emdireitos humanos. Eixo prático/aplicativo As medidas e os instrumentos existentes para a realização dos direitos humanos e ao estudo da eficácia social das normas de proteção aos direitos humanos e das ações e políticas públicas, tanto do ponto de vista jurídico, explicitando as garantias gerais. Fonte: SECAD/MEC (2010) Nota-se, caro (s) aluno (s), que o objetivo desses eixos tem como finalidade, diminuir as diferenças sociais, transformando a sociedade de forma justa e igualitária. Assim, tais eixos deram início a discussões com o objetivo de promover às pessoas com deficiência, a construção de sua cidadania por meio de medidas que visam melhorar a acessibilidade e igualdade de oportunidades, proporcionando assim, a participação e inclusão destas pessoas em âmbito social e promover o respeito pela autonomia e dignidade das pessoas com deficiência (OMS, 2011). Dessa forma, no que se refere a educação para cidadania de pessoas com deficiência, podemos dizer que por muito tempo a educação de pessoas com deficiência, conforme mencionado na Unidade I de nossa apostila, seguiu uma concepção que as restringia a receber apenas um atendimento diferenciado, o qual as mantinham em espaços separados de crianças que não apresentavam deficiência. Porém, nas últimas décadas, esta concepção sofreu alterações, voltando para a promoção da Educação Inclusiva. Logo, 85UNIDADE IV Educação Inclusiva II as políticas que regem a Educação Especial também sofreram alterações, passando a atender uma concepção Inclusiva, a qual tende a assegurar não só a permanência do sujeito com deficiência no âmbito da escola regular, mais sim, o desenvolvimento integral deste aluno, assim como a valorização e o respeito à sua diversidade. Nesta nova concepção, não é o aluno que deve se adaptar à realidade da escola, mas a escola quem deve se adaptar para receber este aluno com deficiência, aceitando e respeitando suas diferenças e garantido uma aprendizagem significativa, para que assim o sujeito com deficiência passe a se enxergar como membro da sociedade. Com isto, caro (s) aluno (s), reforço o que venho dizendo nas unidades anteriores, o processo de inclusão ocorre de forma lenta, pois muitas das escolas de ensino regular do país não estão preparadas para receber alunos com deficiência. Dessa forma, mesmo que o acesso à educação destas pessoas com deficiência, seja assegurada pela Constituição de 1988, é possível afirmar que uma grande parte delas não estão frequentando a escola de ensino regular, muitas nem se encontram matriculadas em instituições de ensino devido à falta de condições financeiras (CARVALHO, 2008). No entanto, de acordo com a Declaração de Salamanca (1994): Qualquer pessoa portadora de deficiência tem o direito de expressar seus desejos com relação à sua educação, tanto quanto estes possam ser realiza- dos. Pais possuem o direito inerente de serem consultados sobre a forma de educação mais apropriadas às necessidades, circunstâncias e aspirações de suas crianças (SALAMANCA, 1994, p. 3). Em contraponto, volto a reforçar que mesmo que as leis assegurem a educação como um direito de todos, a falta de recursos que faz com que a inclusão ocorra de forma lenta, de modo que dificulte à educação de ser acessível a todos. Ainda sobre a inclusão, caro (s) aluno (s), quero deixar claro que não pode ser uma ação a qual inserimos uma criança com deficiência no âmbito da escola regular esperando que esta reproduza as ações praticadas pelas outras e assim consiga construir sua cidadania. De acordo com Boneti: (...) falar em Inclusão como resgate da cidadania, significa falar na busca da plenitude dos direitos sociais, da assistência social, da participação da pessoa em todos os aspectos da sociedade. A ação educativa, assim, seria “inclusiva” na medida em que proporciona a participação integral da pessoa na sociedade, sobretudo no sentido de fornecer elementos de autonomia in- dividual, como é o caso da apropriação aos saberes para o trabalho, aos saberes culturais etc. (BONETI, S/d. p.16-17). Acredita-se então, que não são todas as pessoas da sociedade que possuem a cidadania plena, porém, a construção da cidadania dessas pessoas compete não só aos 86UNIDADE IV Educação Inclusiva II governantes, mas também a toda a sociedade do nosso país que deve assegurar e fiscalizar a inclusão (MARTINS, 2010). A escola inclusiva deve possibilitar ao aluno com deficiência, os mesmos direitos que cabem aos outros alunos, garantindo assim, sua caminhada no processo de aprendizagem e de construção das competências necessárias para o exercício pleno da cidadania, que é objetivo primário de toda ação educacional. A escola inclusiva também deve ser o espaço que favorece e possibilita ao aluno com deficiência o acesso ao conhecimento e o desenvolvimento de suas competências, assim como o exercício efetivo da cidadania. É válido ressaltar que a educação tem como função promover estratégias que efetivem a formação do cidadão e, consequentemente, a prática da cidadania. Assim, quando ela não está atingindo este objetivo, como é o caso da inclusão de pessoas com deficiência no contexto de ensino regular, precisa-se refletir e repensar determinadas práticas e atitudes. Então, a garantia do acesso das pessoas com deficiência à educação no ensino regular é um modo de promover a cidadania, pois é mediante a interação com o meio que o sujeito desenvolve os valores que correspondem aos valores de um cidadão. A primeira questão em relação ao processo de formação do cidadão deve priorizar as mudanças de valores, de atitudes, de posições, de comportamentos e de crenças, em favor da prática da tolerância, da paz e do respeito ao ser humano. Partindo desta compreensão, podemos dizer que esta formação adquirida mediante a inclusão, não é uma formação formal, distanciada do contexto sociopolítico, cultural e ético a que garante juridicamente os direitos, mas uma cidadania ativa e organizada de forma individual na sua prática e coletiva na sua afirmação. Dessa forma, é importante salientar que a participação da comunidade é indispensável, na construção da cidadania de crianças com deficiência. Por conseguinte, para que seja concretizada a cidadania seguindo esta perspectiva, é fundamental que toda a comunidade busque o conhecimento sobre os direitos, a formação de valores e as atitudes para o respeito aos direitos que a competem. A prática da cidadania consiste em processo participativo, individual e coletivo, que visa promover a reflexão sobre ações que possam afetar o comportamento social. Dessa forma, o exercício da cidadania implica sobre as ações de cada sujeito e até mesmo nos que interagem ao seu redor, de modo que a cidadania pode ser vista por meio das atitudes, do comportamento, do modo do convívio social. Caro (s) aluno (s), a garantia da inclusão de pessoas com deficiência na educação pode ser vista como a efetivação do direito humano e um instrumento de potencialização 87UNIDADE IV Educação Inclusiva II do exercício da cidadania. Assim, podemos dizer que a inclusão como um direito humano foi constituída mediante a necessidade de promover a igualdade e o respeito às diferenças (SANTOS, 2014). Entende-se que a educação é uma ação coletiva que visa à convivência social, a cidadania e a consciência política do sujeito, além de ensinar o conhecimento científico e conduzir o sujeito ao exercício da cidadania. Entende-se também que o exercício da cidadania é responsável por possibilitar o acesso à bens culturais, os quais fazem parte da produção social da sociedade. A educação para a cidadania permite que cada pessoa seja vista como um agente transformador, os quais consideram suas questões sociais e suas raízes históricas. Isto faz com que a educação se associe a questões de liberdade, democracia e cidadania, pois, tais questões devem existir em todas as relações sociais,econômicas, políticas e culturais. Por fim, caro (s) aluno (s), podemos compreender que a inclusão de pessoas com deficiência em escolas de ensino regular como um fator fundamental para a efetivação da sua cidadania. No entanto, como foi visto em sua trajetória a educação desses indivíduos foi marcada por segregação, isso porque os estabelecimentos de ensino especial que os recebiam sempre se apresentaram como os que poderiam atender de maneira efetiva os indivíduos com deficiência. Portanto, considerando tudo o que vimos até aqui, é necessário ampliar-se o conceito de escola democrática, pensar em como a participação nas decisões que envolvem a instituição, bem como, acolher e oportunizar a admissão de discentes com deficiência na instituição podem contribuir para promover a cidadania. REFLITA Você já parou para refletir sobre quais as condições necessárias à compreensão de um novo sujeito histórico? O que o identifica? Fonte: A autora (2020) 88UNIDADE IV Educação Inclusiva II CONSIDERAÇÕES FINAIS Diante das exigências da sociedade sobre a nova concepção de Educação Inclusiva, vimos nesta unidade que a escola é responsável por promover ações coletivas que visam possibilitar o desenvolvimento integral de cada aluno. Vimos que a equipe multidisciplinar consiste em um grupo de especialistas da saúde e educação para refletir sobre ações que possam facilitar o desenvolvimento das crianças e jovens devidamente matriculadas em instituições de ensino. Nesta unidade, podemos compreender também que a inclusão de pessoas com deficiência no ensino regular contribui para a formação da sua cidadania, para que assim, possam a se enxergar como parte ativa da sociedade. Partindo disto, foi possível compreender que a escola consiste em um instrumento facilitador na promoção da relação entre pessoas com deficiência, a família e a sociedade. Entende-se também que a escola desempenha um papel fundamental na construção desta relação, visto que sua função consiste em formar o sujeito para atuar e exercer sua cidadania em meio a sociedade. Enfim, partindo do que foi estudado nesta unidade, acredito que vocês, caro (s) aluno (s), tenham compreendido qual a relação entre a concepção da escola inclusiva, a construção da cidadania e efetivação dos direitos humanos das pessoas com deficiência. 89UNIDADE IV Educação Inclusiva II LEITURA COMPLEMENTAR Projeto Brasil Inclusão vai implementar ações em benefício das pessoas com deficiência em 2020 Em 2020, o Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (MMFDH), por meio da Secretaria Nacional dos Direitos das Pessoas com Deficiência (SNDPD), vai lançar o projeto “Brasil Inclusão”. A iniciativa incluirá regulamentações, plataforma de cadastro único, medidas no campo de empregabilidade, entre outras ações em benefício dessa população. Desde 2015, quando a Lei Brasileira de Inclusão (LBI) foi sancionada, há uma expectativa de que a avaliação biopsicossocial da deficiência seja implantada. O método finalmente ganhará forma com por meio do “Brasil Inclusão”. A partir da Convenção dos Direitos da Pessoa com Deficiência, o conceito de deficiência passou do modelo biomédico, centralizado na doença e nas limitações do corpo, para o modelo biopsicossocial, que também compreende barreiras socioeconômicas, ambientais e atitudinais. Enquanto o modelo biomédico se atém a uma visão reducionista e fragmentada da deficiência, centrada apenas no organismo, a avaliação biopsicossocial privilegia uma visão sistêmica, em que a restrição de participação social é a principal característica definidora da deficiência. No modelo biopsicossocial, o reconhecimento da deficiência é feito a partir de um olhar multifatorial, por uma equipe multiprofissional e interdisciplinar, integrando de forma dinâmica várias perspectivas da vida da pessoa com deficiência, como também os saberes de diversas disciplinas, de modo a avaliar a pessoa com deficiência em sua integralidade. Plataforma digital com cadastro único A LBI, em seu artigo 92, prevê a criação do Cadastro Nacional de Inclusão da Pessoa com Deficiência. O objetivo é que haja um registro público eletrônico com a finalidade de coletar, processar, sistematizar e disseminar informações georreferenciadas, que permitam a identificação e a caracterização socioeconômica da pessoa com deficiência, bem como das barreiras que impedem a efetivação de seus direitos. Pensando nisso, será criada uma plataforma digital, na qual as pessoas com deficiência poderão ser cadastradas. Mais do que mapear o exato número de pessoas com deficiência no país, o cadastro pretende possibilitar a identificação dessas pessoas para 90UNIDADE IV Educação Inclusiva II eliminar a burocracia relacionada ao acesso às políticas públicas, entre outras situações que dificultam a garantia dos direitos previstos por lei. A secretária nacional da SNDPD, Priscilla Gaspar, falou sobre a importância desse projeto. “Minha expectativa é que em 2020 a SNDPD consiga sanar a falta de estatísticas sobre pessoas com deficiência, porque isso representa um obstáculo para o planejamento e para a implantação de políticas de desenvolvimento que melhorem as vidas dessas pessoas”, afirmou. Com a inclusão no cadastro, a expectativa é que a pessoa com deficiência tenha uma identificação única que comprovará sua deficiência. Assim, aqueles que passarem pela avaliação biopsicossocial e tiverem sua condição de deficiência comprovada serão incluídas no Cadastro-Inclusão. Entre as ações propostas estão estudos e pesquisas para identificar medidas para ampliar a participação de pessoas com deficiência no mercado de trabalho, envolvendo empresas e funcionários com deficiência. O objetivo é assegurar e promover, em condições de igualdade, o exercício dos direitos e das liberdades fundamentais das pessoas com deficiência, com vistas à sua inclusão social e ao exercício da cidadania. 2019 No ano passado, o MMFDH promoveu muitos avanços nas políticas voltadas às pessoas com deficiência. No âmbito da SNDPD, foi criada uma coordenação específica para tratar das questões de direitos humanos envolvendo pessoas com doenças raras, por meio do Decreto 10.174/2019. Também em 2019 foi lançada uma cartilha sobre direitos de pessoas com deficiência auditiva contendo textos informativos e vídeos em libras. A cartilha envolve temas relacionados à informação, saúde, educação, cultura, além de apresentar os canais para denúncias. Além disso, o Ministério ofertou um curso de Libras na plataforma da Escola Nacional de Administração Pública (ENAP) para mais de 50 mil pessoas. A secretária Priscilla relatou que há muito tempo o lema “nada sobre nós sem nós” tem sido um mote de movimentos de direitos para pessoas com deficiência. “Quando elas são consultadas, isto leva a leis, políticas e programas que contribuem para uma sociedade mais inclusiva. Para que isso aconteça, é preciso trabalhar muito com a campanha de conscientização e empatia”, concluiu. BRASIL. Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos. Projeto Brasil Inclusão vai implementar ações em benefício das pessoas com deficiência em 2020. Disponível em: https://www.mdh.gov.br/ todas-as-noticias/2020-2/fevereiro/projeto-brasil-inclusao-vai-implementar-acoes-em-beneficio-das-pessoas- com-deficiencia-em-2020 Acesso em: 29 de mar de 2020. 91UNIDADE IV Educação Inclusiva II MATERIAL COMPLEMENTAR LIVRO Título: Um Olhar Sobre a Diferença Autor: Ida Mara Freire, Lucídio Bianchetti Editora: Papirus Editora Sinopse: Se essa obra, como outras coletâneas em educação, reúne textos variados sobre um determinado tema, o que a torna ímpar, no cenário editorial brasileiro voltado para à divulgação de estudos sobre as deficiências, é seu eixo condutor. Sua organicidade está no que ela oferece em termos de análise da deficiência considerada como diferença, com base nos processos históricose culturais que produziram, e produzem, formas de inclusão/exclusão. Os autores discutem o modo como os diferentes vêm sendo tratados através dos tempos, demonstrando que, longe de representar um acúmulo natural de experiências destituídas de intencionalidades, a trajetória de tais relações foi, em grande parte, de fomento à segregação. É pretensão dos autores deste livro contribuir para o debate dessas questões, tanto com capítulos mais teóricos em que analisam o desenvolvimento da educação especial, a (des) institucionalização do diferente e sua inserção no mercado de trabalho –, como apresentando pesquisas de caráter mais empírico, relacionadas à sexualidade e à deficiência, e às experiências dos adultos com crianças não visuais. Baseado em texto do Prof. Dr. José Geraldo Silveira Bueno - Papirus Editora FILME/VÍDEO Título: Extraordinário Ano: 2017 Sinopse: Auggie Pullman é um garoto que nasceu com uma deformidade facial, o que fez com que passasse por 27 cirurgias plásticas. Aos 10 anos, ele irá frequentar uma escola regular, como qualquer outra criança, pela primeira vez. No quinto ano, ele precisa se esforçar para conseguir se encaixar em sua nova realidade. 92UNIDADE IV Educação Inclusiva II REFERÊNCIAS ANDRADE, F. S. de. Fatos históricos sobre os portadores de necessidades especiais e tam- bém o contexto historiográfico dos jogos e brincadeiras ao longo dos tempos, 2008. BASTOS, A.C.S., GOMES, M.M., GOMES, M.C. & REGO, N. (2007). Conversando com famílias: crise, enfrentamento e novidade. In: Moreira, L. & Carvalho, A.M.A. (Orgs.). Família, subjetivida- de, vínculos. São Paulo (SP): Paulinas. BIASOLI-ALVES, Z. M. M. Cuidado e negligência na educação da criança na família. In: CAR- VALHO, Ana M. A.; MOREIRA, Lúcia Vaz de Campos (Org.). Família e educação: olhares da psico- logia. São Paulo: Paulinas, 2008. BONETI, L. W. Vicissitudes da Educação Inclusiva. PUCPR. ANPED GT: Política de Educação Superior . 2011 BRAGA, E. R. M. Educação sexual e escola. 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Neste aspecto, acreditamos que tenha ficado claro para você, quais as ações que podem ser tomadas para promover a inclusão do sujeito com deficiência, não só no contexto escolar, mais sim na comunidade a qual pertence. Apresentamos os aspectos causadores da deficiência física, intelectual e sensorial e suas características. Desse modo, foi possível compreender que as pessoas com deficiência apresentam lacunas em sua formação. Ressaltamos também, a importância relação entre a família, a comunidade e a escola em meio ao processo de inclusão, enfatizando a importância da mediação da escola no processo de inclusão escolar e social. Destacamos questões relacionadas a educação para a cidadania de pessoas com deficiência, as quais dependem do intermédio da escola, da família e da comunidade para se enxergar e serem vistas como sujeitos ativos sociais. Partindo deste estudo, acreditamos que você já está preparado para seguir para sua próxima etapa e enfrentar os desafios que possam surgir ao longo do caminho. Foi ótimo estar com vocês! Desejo sucesso em sua próxima etapa.