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Complementação Pedagógica Coordenação Pedagógica – IBRA DISCIPLINA FUNDAMENTOS DA ORIENTAÇÃO - SUPERVISÃO E INSPEÇÃO ESCOLAR INTRODUÇÃO As ideias aqui expostas, como não poderiam deixar de ser, não são neutras, afinal, opiniões e bases intelectuais fundamentam o trabalho dos diversos institutos educacionais, mas deixamos claro que não há intenção de fazer apologia a esta ou aquela vertente, estamos cientes e primamos pelo conhecimento científico, testado e provado pelos pesquisadores. Não obstante, o curso tenha objetivos claros, positivos e específicos, nos colocamos abertos para críticas e para opiniões, pois temos consciência que nada está pronto e acabado e com certeza críticas e opiniões só irão acrescentar e melhorar nosso trabalho. Como os cursos baseados na Metodologia da Educação a Distância, vocês são livres para estudar da melhor forma que possa organizar-se, lembrando que: aprender sempre, refletir sobre a própria experiência se somam e que a educação é demasiado importante para nossa formação e, por conseguinte, para a formação dos nossos/ seus alunos. Falar em Orientação Escolar passa necessariamente por autores como Miriam Grinspun e Imídeo Nérici os quais já publicaram muitos estudos sobre o tema em epígrafe. Segundo Grinspun (2008) a Orientação Educacional no Brasil percorreu um longo caminho comprometido com a educação e com as políticas vigentes. Todo o processo da orientação manteve sempre, estreita relação com as tendências pedagógicas, sendo o seu trabalho desenvolvido a partir do que dela se esperava nas diversas concepções. Enquanto tinha sua abordagem na área psicológica, os objetivos da Orientação eram claros e precisos, no entanto, na medida em que houve mudança no enfoque da Orientação, com ênfase nos aspectos sociológicos, os objetivos deixaram de ser claros e precisos, uma vez que o conceito e o direcionamento da orientação passaram de ajustamento do aluno à escola, família ou sociedade para a formação do cidadão para uma participação mais consciente no mundo. Enfim, a Orientação hoje está mobilizada com outros fatores que não apenas. E unicamente cuidar e ajudar os alunos com problemas e os profissionais precisam se adequar a esse novo tempo, essas nova necessidade e foco de trabalho, ou seja: ajudar na construção de um cidadão que esteja mais comprometido com seu tempo e sua gente. Esperamos que ao final do módulo compreendam que as novas abordagens e o novo paradigma para Orientação Educacional, não mais se alicerçam no perfil da ajuda ao aluno em uma dimensão psicológica, mas sim no perfil de colaborar com esse mesmo aluno na sua formação de cidadania. Ressaltamos que o material se trata de uma reunião do pensamento de vários autores que entendemos serem os mais importantes para a disciplina. Para maior interação com o aluno deixamos de lado algumas regras de redação científica, mas nem por isso o trabalho deixa de ser científico. Desejamos a todos uma boa leitura e caso surjam algumas lacunas, ao final da apostila encontrarão nas referências consultadas e utilizadas aporte para sanar dúvidas e aprofundar os conhecimentos. SERVIÇO DE ORIENTAÇÃO ESCOLAR - SOE De maneira geral, o Serviço de Orientação Educacional (SOE) é um trabalho no qual o profissional busca administrar, resolver e viabilizar recursos que propiciem um melhor processo de aprendizagem e de autoconhecimento, além de uma integração entre a família e a escola, mas sempre buscando a formação integral dos alunos. Devido o século XXI trazer em seu bojo solicitações novas, nunca antes requeridas, demandando do sujeito uma nova postura diante da vida, tanto os profissionais quanto os sujeitos-alunos-cidadãos precisam lidar com este cenário. Sob outra ótica: todos devem aprender a pensar, a criticar, a desenvolver a autonomia e a interagir com as pessoas, de forma inteligente e criativa. Nesse sentido, é necessário construir nos alunos, ou até, em cada um dos profissionais, entre outros aspectos, recursos internos que facilitem uma maior interação com o outro, com a comunidade, com o planeta. É preciso construir uma nova consciência desde a educação infantil até o ensino médio. Daí a necessidade de uma atuação do Orientador Educacional onde seja possível, não só desenvolver. Estes recursos, mas interferir e criar estratégias que deem conta de situações emergenciais e pontuais. Evolução histórica da Orientação Educacional Para se compreender as atividades desenvolvidas pelos orientadores, temos que nos deter aos diferentes períodos em que a Orientação foi desenvolvida e o que dela se esperava em termos dos próprios educadores. Acreditamos que houve inicialmente, uma fase romântica que achava a Orientação por si só resolveria todos os problemas dos alunos e também os envolvessem direta ou indiretamente os alunos. Nesta fase o ajustamento era a palavra-chave, e havia um "modelo" de aluno, de filho, de irmão, de colega etc. que deveria ser atingido e conquistado. Outra fase, que poderia ser chamada de objetiva, foi àquela voltada para a Orientação como sendo a prestadora de serviços - de várias ordens - que não permitiria que os alunos incorressem em problemas (GRINSPUN, 2008). A Orientação estaria sempre atenta, vigilante, esclarecendo objetivamente as situações emergenciais para que não ocorressem mais. Na realidade, a objetividade procurava esclarecer, mostrar de forma bem transparente a necessidade de dominar determinados conceitos, normas, padrões, para que não houvesse "problemas" ou desacertos, posteriormente. O conceito-chave é o da prevenção. A Orientação Educacional era preventiva, isto é, ela se adiantava em todas as circunstâncias para que não se instalassem os conflitos. Hoje vivemos a fase crítica, em que se procura ajudar o aluno, como um todo, com os seus problemas e o significado dos mesmos junto ao momento histórico em que vivemos. A Orientação está do lado do aluno fazendo-o compreender que naquele momento assinalado ele também está vivendo a sua própria história de vida. São várias as maneiras que podemos apresentar a evolução desse serviço, desde analisando os conceitos como por determinadas características usando o critério didático, de todo modo, o nosso interesse é identificar através da história do Brasil pontos referentes a legislação, ou seja como foi se construindo esse profissional. 1920 a 1941 – período da primeira tentativa de implantação do Serviço de Orientação.Nérici (1976) acredita que a primeira tentativa de Orientação Educacional no Brasil deve-se à Lourenço Filho, que quando diretor do Departamento de Educação do Estado de São Paulo, criou o “Servi o de Orientação Profissional e Educacional”, em 1931, o qual tinha como maior objetivo, guiar o indivíduo na escolha de seu lugar social pela profissão. Para Grinspun (2008) a Orientação começa a aparecer no cenário educacional brasileiro timidamente associada à orientação profissional, com ênfase nos trabalhos de seleção e escolha profissional. A questão do trabalho, na escola, remonta a década de 1920, com os projetos do deputado Fidelis Reis, que desejava tornar o ensino profissional obrigatório em todos os estabelecimentos de ensino. 1942 a 1960 – período em que o governo, através do esforço do Ministério da Educação e Cultura, implantam institucionalmente o serviço de Orientação, procurando dinamiza-lo bem como aos cursos que cuidavam da formação dos orientadores educacionais. 1961 a 1970 – Grinspun chamam esta década de período transformador porque traz uma Orientação Educacional caracterizada como educativa na Lei n. 4024/61, até a profissionalização dos que atuam nesta área, através da Lei n. 5540/48. Começam a ganhar maior dimensão os eventos da classe, apresentados em seminários, encontros e congressos. Nos congressosbrasileiros de Orientação Educacional ganham espaço, nesse período, as questões psicológicas. Na década de 1960, em que floresceu o aspecto preventivo da Orientação Educacional, a escola vivia o seu momento de grande importância, uma vez que a educação seria a responsável pelo desenvolvimento do país. Abafado entre os muros da escola, o aluno ia sendo "objeto" significativo na mudança de currículo, programas, métodos de ensino, materiais didáticos. O fazer da Orientação era de fora para dentro, isto é, no sabor da dinâmica do grupo e deatividades que sustassem o conflito dentro da escola (GRINSPUN, 2008). A escola, com um discurso democrático, começava a exigir de seus protagonistas uma atitude que estivesse de acordo com o sistema político vigente. O "novo e o diferente", mesmo dentro de uma abordagem pedagógica, não era permitido na escola. Não havia grêmios nas escolas. A participação dos alunos em grandes movimentos, como teatros, festivais, campanhas, festas, elaboração de jornais etc., sempre era tida como uma ameaça dentro das escolas. 1971 a 1980– Fase disciplinadora da Orientação quando fica sujeita à obrigatoriedade da Lei n° 5692/71 que determina, inclusive, o aconselhamento vocacional. Ao mesmo tempo, a Orientação quer trabalhar com o currículo da escola, encontrando, porém, os seus orientadores, a questionar a sua prática pedagógica. Apesar de a diretriz da Orientação assinalar para uma visão mais sociológica e coletiva, a legislação dos profissionais da área compromete-os com atribuições e funções voltadas para a Psicologia. O Decreto n° 72.846/73, que regulamenta a lei que trata do exercício da profissão de orientador educacional, vai disciplinar os passos que deverão ser seguidos. A impressão que se tinha é de que a Orientação estava buscando seu real papel, mas a lei acenava com a disciplina que deveria ser seguida. Na década de 1970, sob as luzes das teorias pedagógicas de Althusser, Bourdier, Passeron, estuda-se a escola como uma reprodutora do sistema social.Uma nova leitura começa a ser feita. Desloca-se a análise da escola, das relações internas desta instituição e da dinâmica do processo de ensino-aprendizagem, para compreender o que se passava no "eixo social" e, posteriormente, trazê-lo para o interior da escola. Começa-se a questionar o que faz esta escola e para que servem os serviços que estão sob sua responsabilidade. Surge uma lei que obriga a profissionalização do ensino, mas existe uma enorme dificuldade em lidar com esse fato novo, desde a falta de recursos materiais para sua efetivação até a formação de profissionais para sua realização. Centrada nesse mosaico - quase surrealista - retoma à cena a Orientação Educacional, costurando um modelo pedagógico, já tentado no início do século, de mostrar ao aluno as benesses do sistema aberto às suas potencialidades e aptidões. O garimpo pedagógico dos cursos profissionalizantes que atendessem ao mercado de trabalho foi extremamente difícil. Houve muitos atropelos, modificações (inicialmente o ensino era técnico, depois foi auxiliar técnico e no final o ensino terminou como habilitação básica), projetos, sempre envolvendo a Orientação Educacional no seu compromisso com a escolha da profissão. Interessante observar que em todo o momento a Orientação que deveria realizar o aconselhamento vocacional em cooperação com a família, escola e sociedade, na realidade o que realizou foi uma informação profissional (GRINSPUN, 2008). No final da década de 1970 crescem as denúncias, grita-se contra a falta de compromisso da escola e de seus reais protagonistas. Tenta-se resgatar a importância da escolaridade para as estratégias de vida das camadas população chamando a atenção para a estrutura interna da escola como um dado significativo para o desempenho dos alunos. A Orientação estava dentro da escola e não se deu conta do seu papel. Aliás, assumiu, em alguns momentos, uma ingenuidade pedagógica, ouvindo, muitas vezes calada, as críticas às suas atividades, como sendo responsável pela fragmentação do trabalho escolar, como não resolvendo todos os conflitos que a própria escola não dava conta de resolver (GRINSPUN, 2008). A década de 1980 se constitui no período questionador, tanto em termos da formação de seus profissionais, quanto da prática realizada. Por outro lado, os orientadores, através de seus órgãos de classe, procuram respostas para seus questionamentos, nas próprias questões sociais e políticas. A década de 80 traz grandes modificações que irão se refletir na educação, na escola e na Orientação. Os postulados teóricos desta área vão se modificando para uma dimensão mais crítica e consciente do momento político social que vivíamos. Esse período é marcado pela realização de muitos cursos de reciclagem, de atividades que deveriam ser integradas com os supervisores, de trabalhos voltados para o currículo, onde a própria questão do trabalho era o eixo condutor da proposta curricular. O orientador educacional quer participar do planejamento - não como benesse da Orientação, mas sim como um protagonista do processo educacional - procurando discutir objetivos, procedimentos, estratégias, critérios de avaliação, sempre voltados para os alunos. O orientador deseja trazer a realidade do aluno para dentro da escola e, portanto, começa a discutir suas práticas, seus valores, a questão do aluno trabalhador, enfim, o seu "mundo lá de fora". Por outro lado, enquanto pertencentes a uma classe de profissionais, discutem-se também as funções dos orientadores nos campos de consultoria, assessoria e coordenação. Os orientadores procuram evidenciar a contribuição da Orientação em uma escola pública que se quer democrática e de qualidade. Cada vez mais próxima dos laços pedagógicos, a Orientação procura encaminhar-se na direção dos problemas macroeducacionais. Libâneo (1984) apresenta uma proposta de trabalho para o orientador educacional dentro da pedagogia crítico-social dos conteúdos, que posteriormente será retomada por outros educadores, como Selma G. Pimenta (1985), que analisa essa questão específica para o orientador. Neste período os orientadores, enquanto trabalhadores, organizam-se de maneira mais objetiva nos sindicatos, ampliando e fortalecendo sua relação com os demais profissionais da educação. Segundo Grinspun (2008) há uma discussão muito grande do papel do orientador educacional, como trabalhador, desvelando seu compromisso político e pedagógico. O fazer dos orientadores tem a ver com este novo momento vivido. A prática ia sendo diferenciada de acordo com as possibilidades do orientador e com os espaços conquistados. Toda prática da Orientação está debruçada nesta concepção de educação como um ato político, como uma instituição que está intrinsecamente relacionada com as mudanças ocorridas no próprio núcleo da sociedade. A prática da Orientação tem que ser mais aberta e dinâmica: o que seria, hoje, da prática anterior quando se pedia ao orientador educacional que trabalhasse o ajustamento do aluno à família, à escola e à sociedade? A que tipo de sociedade o aluno, hoje, deveria se ajustar? A comunidade? A alguma sociedade utópica? E a família? Qual o "modelo"de família a que o jovem deveria ser ajustado hoje? E a que escola? A que se volta para os conteúdos, ou a que motiva preferencialmente os valores? Discutia-se, mais do que nunca, a questão do trabalho, não pelo caminho da sondagem de aptidões individuais, mas pelas questões sociais, de suas desigualdades, do significado do próprio trabalho. Grinspun (2008) determina como orientador, o período que começa com a década de 1990, por acreditar que ela estava encontrando realmente a orientação pretendida. Inúmeros são os fatores que nos mostram um novo momento vivido por esta área, dentre eles: Houve extinção da Federação Nacional deOrientação Educacional (FENOE); Houve uma tentativa de unificação dos trabalhadores de educação, engajando- os em uma entidade nacional - a Confederação Nacional de Trabalhadores da Educação (CNTE). A prática que advirá ainda está sendo construída, uma vez cujos orientadores têm que buscar - sem o apoio específico da sua categoria em termos de órgãos de classe - a especificidade requerida no trabalho com os demais educadores, mas pontuamos que: Deixar de existir esse profissional na escola é impossível, pois nunca deixará de existir a educação e como diz Grinspun (2008), elas estão ligadas a tal ponto que o próprio conceito etimológico de educação se compromete, enquanto educare, com a Orientação, isto é, refere-se a orientar, guiar, conduzir o indivíduo; O centro do processo educacional é o aluno e sempre ele foi o campo de trabalho da Orientação; portanto, o aluno é o sujeito da educação, e o sujeito e objeto da Orientação; Caminhamos, em todas as ciências, e também na área das ciências humanas, para as especializações que atendam com mais propriedade e segurança aos seus intentos - não é substituir o professor por outro profissional, mas sim ajudar esse professor no seu campo de ação. Pretende- se mostrar que a especificidade da Orientação se torna necessária no processo educacional, quando o desenvolvimento científico-tecnológico precisa da "humanização" deste homem; Estamos cada vez mais mergulhados em um novo tempo, com uma nova linguagem, com um novo canal de educação, e o orientador poderá ajudar nessa realidade existente, com o significado de uma nova leitura a partir do que se entende por comunicação e interação social; A educação está construindo novas formas de entender e trabalhar a prática Pedagógica, respeitando-se as práticas particulares, compreendidas no seu Contexto histórico e, nesse sentido, a Orientação seria a mediadora, trazendo, à prática do aluno, a sua realidade para o cotidiano da escola; A Orientação articula as diferentes vozes, dentro da escola, na construção de Diálogos necessários ao homem que se quer mais humano e mais justo; A Orientação sempre trabalhou junto à realidade dos alunos, procurando identificá-Ia e interpretá-Ia. Havia e continua existindo uma busca da leitura ideológica sobre os fatos existentes. A Orientação Educacional tem que estar preparada para ajudar nessas relações em que contradições e conflitos fazem parte do contexto do aluno. Atribuições Os Serviços de Orientação Educacional (SOE) deveriam desenvolver a sua ação nos estabelecimentos de educação básica, mas geralmente estão alocados no ensino médio - sendo três os domínios considerados para a sua intervenção: a) O apoio psicopedagógico a alunos e a professores; b) O apoio ao desenvolvimento do sistema de relações da comunidade ducativa. c) A orientação escolar e profissional. Dentre suas várias atribuições encontramos: Colaborar com a comunidade educativa prestando apoio psicopedagógico às atividades educativas, identificando as causas do insucesso escolar e propor medidas tendentes à sua eliminação. Articular em colaboração com os órgãos de gestão da escola e com outros serviços especializados, nomeadamente das áreas de saúde e da segurança social, de modo a contribuir para o correto diagnóstico e avaliação sócio-médica- educativa dos alunos e planejar medidas de intervenção. Apoiar alunos no processo de desenvolvimento da sua identidade pessoal e do seu projeto de vida. Planejar e executar atividades de orientação escolar e profissional através de programas e ações de aconselhamento a nível individual e de grupo. Colaborar com outros serviços, nomeadamente no apoio à celebração de protocolos, tendo em vista a organização de informação e orientação profissional. Desenvolver ações de informação e sensibilização dos pais e da comunidade em geral no que respeita à problemática que as opções escolares e profissionais envolvem. Mobilizar a escola, a família e a criança para a investigação coletiva da realidade na qual todos estão inseridos; Cooperar com o professor, estando sempre em contato com ele, auxiliando-o na tarefa de compreender o comportamento das classes e dos alunos em particular; Manter os professores informados quanto às atitudes do SOE junto aos alunos, principalmente quando esta atitude tiver sido solicitada pelo professor; Esclarecer a família quanto às finalidades e funcionamento do SOE; Atrair os pais para a escola a fim de que nela participem como força viva e ativa; Desenvolver trabalhos de integração: pais x escola, professores x pais e pais x filhos; Pressupor que a educação não é maturação espontânea, mas intervenção direta ou indireta que possibilita a conquista da disciplina intelectual e moral; Trabalhar preventivamente em relação a situações e dificuldades, promovendo condições que favoreçam o desenvolvimento do educando; Organizar dados referentes aos alunos; Procurar captar a confiança e cooperação dos educandos, ouvindo-os com paciência e atenção; Desenvolver atividades de hábitos de estudo e organização; tratar de assuntos atuais e de interesse dos alunos fazendo integração junto às diversas disciplinas. O ORIENTADOR E A PERSPECTIVA CONSTRUTIVISTA As atribuições desses profissionais estão determinadas em documentos legais (Decreto n° 72.846/73),direcionando a sua prática, bem como definindo as condições para o exercício da profissão. Este decreto apresenta, em artigos separados -art. 8° e art. 9°-as atribuições privativas e as não privativas, respectivamente, do orientador educacional. Ocorre, entretanto, que a evolução histórica da Orientação Educacional tem nos apontado para "fazeres" que efetivaram- ou não - as atribuições proclamadas. O como fazer, durante longo período nesta história, foi mais importante do que o porquê e o para que fazer tal atividade em Orientação. Essas alterações observadas na prática estão relacionadas com a evolução do conceito de Orientação Educacional, na sua trajetória histórica. Algumas delas pouca ou nenhuma efetivação tiveram, no contexto escolar, como a da "coordenação do acompanhamento pós-escolar" do aluno. Por outro lado, outras atribuições foram pouco exercidas, mas, ao contrário, necessitariam de maior amplitude de execução, como a de "realizar estudos e pesquisas na área da Orientação Educacional", por exemplo. Tomando comoreferencial as pesquisas realizadas nesta área, a prática exercitada e as perspectivas que já se encaminham, neste campo, vamos analisar como foi evoluindo a prática dos orientadores para um novo enfoque, uma nova linha de ação, a perspectiva construtivista. A Orientação Educacional, no contexto atual, busca maior aproximação com o projeto pedagógico da escola e pretende contribuir, satisfatoriamente, não mais para atender "alunos problemas", mas para discutir, junto com todos os alunos e professores, os problemas que vivenciamos e as soluções possíveis de serem atingidas. Existe, é verdade, um elenco de atribuições identificadas legalmente e existe, por outro lado, uma série de atribuições tidas como indispensáveis pelos orientadores, mas que não possuem nem o "aval" legal, nem a aceitação dos demais profissionais: são atribuições mais relacionadas com os aspectos pedagógicos. Isto nos leva a uma prática muito comprometida com as expectativas dos diferentes segmentos onde atua o orientador educacional, onde ainda prevalece uma Orientação tradicional e psicológica. Uma das suas primeiras atribuições, por exemplo, ocorreu na Escola Amaro Cavalcanti, em 1934, e estava relacionada à disciplina da escola e, portanto, o fazer daquele profissional era revestido de um papel muito mais de inspetor do que de orientador. Depois este profissional foi tendo papéis diferenciados,sob a postura de orientador, mas o que na verdade predominava eram os papéis de psicólogo, de conselheiro e de coordenador na escola. O que se espera, hoje, são atribuições relacionadas à formação do cidadão e, por conseguinte, nosso papel é de um educador; o orientador trabalhando diretamente na qualificação da sua especificidade, mesmo porque a formação inicial do Orientador é a Pedagogia! No cotidiano da escola, as questões do trabalho, da tecnologia, das novas relações sociais, fazem parte do seu contexto. Desconhecer esta realidade será um prejuízo inevitável à formação do aluno. Quanto ao construtivismo, por hora, é preciso entender que o sentido é o seguinte: o profissional deve ser mais comprometido técnica e politicamente, com a construção de um novo tempo na sua história, com a construção do conhecimento. Grinspun (2008) acredita e concordamos com ela que este seja o caminho mais produtivo para o orientador, na medida em que sua ação vai ser significativa na "exploração e mobilização" do meio em que o aluno vive, do qual participa. Esse meio é importante porque é através da interação que o sujeito mantém com o meio que ele vai construindo o conhecimento. Como afirma Becker (1993, p. 25): “[...] o meio, por si só, não se constitui estímulo. E o sujeito, por si só não se constitui sujeito, sem a mediação do meio; meio físico e social”. Portanto, é uma das funções do orientador fazer a mediação entre os dois lados da questão: sujeito e meio. O que se pretende é trabalhar nesta meio como força propulsora do conhecimento do indivíduo, de sua realidade e de sua participação para construção do conhecimento necessário à transformação desta realidade. Muito relacionado às novas propostas de alfabetização, o construtivismo aparece, em grande parte, como se apenas a ela dissesse respeito. O construtivismo, por é fundamenta não só a alfabetização como todas as aprendizagens lógicas que ocorrem dentro e fora da escola. Grossi e Bordin (1993, p. 131) definem o construtivismo como (...) uma teoria filosófica que, dentre suas tantas vertentes, procura explicar um aspecto essencial de ser gente, isto é, uma de nossas condições definitórias, a de que acedemos ao humano porque aprendemos. Para Becker (1993, p. 9), o construtivismo significa (...) a ideia de que nada, a rigor, está pronto, acabado, e de que, especificamente, o conhecimento não é dado, em nenhuma instância, como algo terminado. Ele se constitui pela interação do indivíduo com o meio físico e social, com o simbolismo humano, com o mundo das relações sociais. O construtivismo, que assim foi nomeado inicialmente por Piaget, enfatiza a dimensão da interação entre o sujeito e a realidade de onde surge o conhecimento. Para que ele ocorra há necessidade de um indivíduo ativo. Piaget trabalhou a questão da ação como básica para o conhecimento da realidade; Vigotsky valoriza a questão da linguagem como fundamental à estruturação do pensamento, assim como valoriza o meio social como um indicador no processo da comunicação. O que nos chama a atenção é que nas áreas privilegiadas pela perspectiva construtivista podemos encontrar o caminho de uma nova prática da Orientação Educacional. A Orientação deve trabalhar o meio externo para atingir o nível individual do aluno. Também é tarefa do orientador ajudar o aluno na construção do seu conhecimento, não apenas como um dado cognitivo, mas como aquisição de conhecimentos básicos à sua formação. Para isso assume relevância "a forma" como isso ocorrerá com o aluno, considerando os esquemas simbólicos que fazem a mediação entre o meio e o sujeito, realidade dos alunos, propiciando-Ihes as condições favoráveis à aquisição do conhecimento e concomitante a esta aquisição, o próprio desenvolvimento. O indivíduo deve construir o conhecimento através da elaboração de relações, as mais abrangentes possíveis. O orientador pode ajudar o aluno na interpretação das ações do meio, na construção da representação mental dessas ações. Discutindo, refletindo, interpretando o contexto, o orientador pode colaborar com a passagem do significado do meio externo para as reflexões pertinentes ao próprio indivíduo. Aqui cabem dois pontos muito importantes para o raciocínio desse pensamento centrado na perspectiva construtivista: a noção de igualdade e o aluno como centro da ação pedagógica. Se partirmos da noção de igualdade da escola, isto é, igualdade real e objetiva de oportunidade no acesso à educação, para todos, sendo esta uma condição básica na qualidade pretendida, esta igualdade vai permitir uma construção da cidadania plena e responsável pelos seus direitos e deveres. Com isto o que se afirma é que o trabalho do orientador, dentro da escola, está consoante com a igualdade de oportunidades a todos os alunos desta escola, no seu direito de receber a educação e de desenvolver seu processo de formação da cidadania. Admitir o aluno como centro da ação pedagógica; - todas as atividades que ocorrem na escola, e que devem ser "orientadas" pelo currículo escolar, existem por causa do aluno. Com isto, a Orientação não está trabalhando com as exceções, e sim com as "regras". A escola deve oferecer condições para a socialização e a participação dos alunos em uma sociedade em mudança, assim como possibilitar aos alunos o acesso aos bens culturais, científicos e tecnológicos desta sociedade. Para tanto, a escola deve oportunizar a aquisição do conhecimento a ser construído, bem como os meios necessários para tal atividade. Além dos aspectos cognitivos, terão importância os demais aspectos básicos àquela construção, revestidos de vivências e experiências que o aluno deverá realizar. A escola deve conhecer a bagagem que o aluno traz e estimulá-lo para que ele, sempre, seja capaz de produzir e criar. Inserida neste contexto temos, então, uma construção do próprio sujeito, que envolve o auto e o hétero conhecimento, a questão da participação nas ações coletivas, os valores nas escolhas efetuadas e a responsabilidade e autonomia nas decisões efetivadas (GRINSPUN, 2008). É com este "bloco" de conceitos, principalmente, que o orientador vai lidar nas suas atribuições com os alunos, não impondo os conceitos tidos como bons certos e verdadeiros, mas deixando que os alunos os descubram e os construam dentro das suas próprias experiências. O orientador agiria, basicamente, em três grandes momentos: o ponto de partida (a realidade), o processo (a Orientação), o ponto de chegada (a formação). Ora, como este último momento por si só é um processo, conclui-se que, na dimensão construtivista, o trabalho do orientador é contínuo, dinâmico e permanente. As diferentes abordagens do conhecimento não só se completam cada vez mais umas às outras, mas apontam para uma síntese cada vez maior. Esta síntese, entretanto, só poderá ser realizada a partir de uma visão interdisciplinar do conhecimento e também do indivíduo. O conhecimento é aqui entendido como o ato de compreender, relacionar e capacitar à aplicação de conceitos em determinadas situações. O conhecimento leva-nos à totalidade e à capacidade de reprodução do que é real no nível do pensamento. Em um espaço interdisciplinar é necessário que o orientador esteja em uma situação de abertura permanente, de diálogo, não só com seus alunos, como com seus demais parceiros. O que caracteriza a interdisciplinaridade é a atitude para vivenciá-la. Como diz Fazenda (1979, p. 8) [...] somente na intersubjetividade, num regime de copropriedade, de interação, é possível o diálogo, única condição da interdisciplinaridade. Assim sendo, pressupõe uma atitude engajada, um comprometimento pessoal. Voltando, então, à prática do orientador nesta dimensão construtivista, ela atuaria em um primeiro momento, nas condições mobilizadoras do meio externo que propiciariam o contato mais próximodo aluno com a realidade. Esta realidade seria trabalhada a partir dos significados que o grupo cultural empresta à mesma. O orientador poderia trabalhar com grupos, identificando o real, fazendo desabrochar os conceitos e abstrações, e despertando para temas, áreas ou tópicos de pouco conhecimento dos alunos. De um lado, o orientador teria as questões das necessidades dos alunos, seus interesses e aspirações e, do outro, o desenvolvimento das questões sociais. O orientador poderia atuar em reuniões com os alunos para discussão desses temas; na elaboração de jornal escolar ou jornal mural; na criação de grupos interessados na música, na poesia, na política, na ciência etc. para um trabalho integrado com os demais professores; nas oficinas de trabalho; nas atividades com a comunidade (alfabetização para pessoas da comunidade, por exemplo); enfim, uma abertura para novos conhecimentos e novas práticas. Na construção do conhecimento três fatores são importantes: a historicidade- conhecer, interpretar, analisar e "viver" a história de seu tempo; a totalidade- identificar as partes para a formação do todo; e a criticidade - realizar criticamente a leitura de sua formação, de sua prática. O orientador poderá utilizar-se de inúmeros recursos disponíveis (como um jornal, um vídeo, uma entrevista, uma fotografia, etc.) para fornecer elementos iniciais que sirvam de fontes esclarecedoras ou provocadoras ao objetivo desejado. Convém lembrar que esta proposta, mais do que todas as outras, deve ser planejada de acordo com a realidade existente, valorizando aspectos cognitivos e afetivos. O que se pretende na proposta em que o aluno é o sujeito da construção do conhecimento é possibilitar-lhe a resolver seus próprios problemas, dúvidas e indagações, sendo capaz de caminhar para a solução dos mesmos com as reflexões necessárias. Aqui, Grinspun (2008) chama atenção para a importância da linguagem, da comunicação, do diálogo na proposta defendida. O orientador promoverá condições, meios, para que a voz dos alunos seja ouvida - e respeitada - no espaço pedagógico. Se o aluno é o promotor da sua história, ouví-lo não é nenhuma atitude de atendimento específico, mas sim uma obrigação que se insere em uma medida educacional. A Orientação, então, deverá ser vista como uma atividade, disciplina (no sentido de ação), dentro da escola, que ajudará, facilitará os meios e as condições necessárias para o aluno buscar, discutir, pensar, refletir, problematizar, agir sobre dados e fatos necessários à construção do seu conhecimento, à formação do seu entendimento como cidadão. O movimento será uma constante nesse trabalho, mas é o próprio movimento que faz o sentido e a existência da vida. A ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL E VOCACIONAL As mudanças ocorridas nas formas de vida desde o século passado e o impacto da globalização e das tecnologias de informação e comunicação influenciaram sobremaneira a natureza do trabalho e das relações de emprego, trazendo novas exigências para os trabalhadores já inseridos no mercado de trabalho e às gerações de jovens que se preparam para o risco na força produtiva. Nas palavras de Carvalho (2005, p. 98), preciso considerar que “o trabalho clássico cede espaço ao trabalho delineado pela atualização da competência, impossível de ser medido pelo tempo da hora regular de um relógio”. Mas, o que é competência? O conceito é polêmico e muitas vezes definido sob diferentes enfoques. Na perspectiva educacional, Carvalho (2005, p. 98) destaca que “[...] na era do ciberespaço o trabalhador expressa sua força de trabalho através da competência, entendendo-a como uma capacidade continuamente melhorada de aprender e inovar, atualizada de maneira imprevisível em contextos variáveis”.Para Rios (1993), ser competente é saber fazer bem. E saber fazer bem tem um duplo caráter – uma dimensão técnica e uma dimensão política. A dimensão técnica é a do saber e a do saber fazer, isto é, do domínio dos conteúdos que o sujeito necessita para desempenhar seu papel, aquilo requer dele socialmente, articulado com o domínio das técnicas, das estratégias que permitam que ele realize seu trabalho. A dimensão política vai ao encontro daquilo que é desejável, que está estabelecido valorativamente com relação à sua atuação, nesse caso, o bem responde a necessidades historicamente definidas pelos homens de uma determinada sociedade (RIOS, 1993, p. 47). Se competência é palavra de ordem no mundo do trabalho, também é útil o debate no contexto da formação dos trabalhadores de um modo geral e, em especial, do orientador profissional, uma vez que a prática da orientação e do aconselhamento de carreira sofre impacto direto de tais alterações do mercado e das formas de trabalho. Observa-se, portanto, a necessidade de se estabelecer, no contexto brasileiro, parâmetros para a formação e desenvolvimento de competências mínimas para o exercício profissional que resulte em oferta de serviços cada vez mais qualificados (MELO-SILVA, 2003). Ainda, as mudanças sofridas pela própria área da orientação profissional e de carreira, sobretudo no Brasil, implicam em reformulações da estrutura formativa dos profissionais inseridos nesse contexto de trabalho, sejam eles psicólogos, educadores, ou outros profissionais que atuam em áreas de interface com a orientação. A orientação profissional e de carreira, no Brasil, desenvolveu-se como uma prática voltada ao público adolescente, cujas intervenções objetivam primordialmente auxiliar adolescentes que aspiram ao ingresso no Ensino Superior. Desta forma, a atuação tem sido circunscrita, muitas vezes, ao alunado de escolas privadas do Ensino Médio. Nesse contexto de atuação, a formação do orientador está voltada a uma capacitação para o trabalho em grupos, o entendimento das questões da adolescência e o conhecimento do mundo profissional marcado pela formação superior. No cenário atual, entretanto, além das mudanças contextuais que afetam o trabalho e a inserção profissional, vive-se um período de expansão e redefinição dos propósitos e do alcance da orientação profissional e de carreira. De forma geral, se concebe o desenvolvimento de carreira como um processo contínuo e dinâmico que não se inicia nem se encerra na adolescência ou em um contexto exclusivo de transição, por exemplo, a transição escola-trabalho. O indivíduo relaciona-se com o trabalho e vivencia o papel de trabalhador ao longo de sua vida e essa relação sofre inúmeras transformações e reorganizações nas trajetórias de carreira. Além disto, é importante assumir que o indivíduo que trabalha também desempenha outros papéis relevantes ao longo da vida, e está inserido simultânea ou sequencialmente em diversos papéis e cenários, como o da educação formal, do lar e família, dos serviços comunitários e do lazer, delineando um estilo de vida próprio (SUPER, 1980; SUPER; NEVILL, 1986; SUPER; SVERKO, 1995 apud LASSANCE et al, 2007). Nessa perspectiva, o papel da orientação profissional e de carreira, como campo teórico e prático, é relevante e deve acompanhar a relação dinâmica entre o indivíduo, o trabalho e outros papéis de vida. Intervenções de carreira são possíveis com crianças, adolescentes, adultos inseridos ou não no mundo produtivo, pré- aposentados, indivíduos com necessidades especiais, jovens em situação de risco e com grupos profissionais específicos, entre outros. Nesse sentido, é natural pensar que este alargamento do escopo da orientação implique em mudanças também significativas na formação do profissional e, indubitavelmente, na definição de políticas públicas que visem à implementação e à avaliação de serviços em diferentes cenários e contextos (LASSANCE ET AL, 2007) O uso de testes A Orientação Profissional, como uma prática majoritariamente voltada para estudantes queaspiram carreira universitária, ou o “teste vocacional” no senso comum, está consolidada. Como o acesso à universidade e à orientação profissional não é amplamente democrático, nesse cenário há necessidade de ampliação do atendimento nas redes da Educação e Trabalho e de avaliação e aperfeiçoamento das práticas instituídas. Em outros cenários e contextos, inúmeros projetos foram e estão sendo desenvolvidos em nosso país com populações e objetivos específicos e, devido à natureza particular de suas ações educativas, muitas vezes, tais práticas não são vistas como sendo do domínio da Orientação Profissional. Os autores reconhecem o valor de diversas ações governamentais e não governamentais implementadas no país no âmbito da educação para e/ou pelo trabalho (MELO-SILVA, LASSANCE, SOARES, 2004). Na língua portuguesa, genericamente, encontra-se que orientação consiste em “ato ou arte de orientar (-se)” (FERREIRA, 1986, p. 1232). A definição sugere a possibilidade de a pessoa ser orientada por profissionais qualificados e também a possibilidade, mais comum em nosso contexto, da própria pessoa se orientar, ou seja, “reconhecer a situação do lugar onde se acha, para guiar-se no caminho” (p. 1233). Assim, enfatiza-se que as pessoas tomam decisões por si mesmas sem necessariamente a ajuda de algum especialista em Orientação Profissional. Portanto, a orientação pode ser necessária para indivíduos em determinados momentos de sua carreira. Na perspectiva dos orientadores, quanto mais pessoas puderem beneficiar-se com Serviços de Orientação qualificados e desenvolvidos por técnicos competentes e credenciados, melhor será para o desenvolvimento da carreira pessoal e profissional dos cidadãos e para o país. “Geralmente as expressões ligadas orientação são: vocacional, profissional e educacional, para nos restringirmos ao campo do comportamento vocacional” (MARTINS, 1978, p. 13). Mais recentemente observa-se o uso também da expressão ocupacional. E como cada uma dessas expressões é definida na língua portuguesa? O conceito vocacional tem sido entendido como referente à vocação. Vocação, do latim vocatione, significa ato de chamar, escolha, chamamento, predestinação, tendência, disposição, talento, aptidão. O conceito profissional é definido “como respeitante ou pertencente profissão, ou a certa profissão”; “que exerce uma atividade por profissão ou ofício”. O conceito orientação profissional, na perspectiva psicológica significa a ajuda prestada a uma pessoa com vistas à solução de problemas relativos à escolha de uma profissão ou ao progresso profissional, tomando em consideração as características do interessado e a relação entre essas características e as possibilidades no mercado de emprego” (Brasil, s/d). O conceito orientação profissional tem sido utilizado para denominar muitas disciplinas e estágios dos cursos de Psicologia e Pedagogia (Melo- Silva, 2003), na legislação que criou a profissão do psicólogo e na Recomendação (87) da Organização Internacional do Trabalho (OIT) (Brasil, 1949). No senso comum, a terminologia mais utilizada é orientação vocacional, sobretudo nas intervenções no campo da Psicologia. Muitos autores fazem uso dos dois conceitos como sinônimos enquanto outros definem o vocacional como mais amplo, ou seja, o sentido que se atribui à vida que inclui o profissional, relativo ao exercício de uma profissão, de uma ocupação. O conceito orientação educacional consiste em um “processo intencional e metódico destinado a acompanhar, segundo técnicas específicas, o desenvolvimento intelectual e a personalidade integral dos estudantes, sobretudo os adolescentes, orientação escolar” (FERREIRA, 1986, p. 1232). Aos termos vocacional ocupacional, profissional e educacional pode-se acrescentar referente à ocupação, trabalho, ofício. De acordo com a Classificação Brasileira de Ocupações (CBO), “define-se a ocupação como um conjunto de postos de trabalho substancialmente iguais quanto à sua natureza e às qualificações exigidas”. “[...] Pode-se ainda conceituar a ocupação como conjunto articulado de funções, tarefas e operações destinadas obtenção de produtos ou servi os” (BRASIL, 1994, p.13). A Orientação Profissional realizada no Brasil circunstanciou-se, principalmente, no atendimento de jovens do ensino médio, desenvolvendo temas como escolha (graus de liberdade, influências), autoconhecimento, informação sobre as profissões e vestibular, entre outros emergentes. Atualmente, a questão do sistema de cotas também emerge como mais uma variável para aumentar a ansiedade em quem julga que poderá ter prejuízo com tal medida. Contudo, cria esperanças e gera possibilidades para inúmeras pessoas cujo sonho da carreira universitária era praticamente impossível de ser vivido. Sistemas de cotas e de bolsas de estudos consistem em temas relevantes e atuais, na ordem do dia, pois objetivam o acesso mais democrático à universidade. A educação é um bem público e cabe ao Estado exercer sua função reguladora, preservar a qualidade e promover a inclusão social. O cenário atual é de mudanças, por isso é preciso informações fidedignas sobre os projetos de lei e a compreensão do significado das ações afirmativas, a fim de subsidiar o mais amplo debate na sociedade, com as pessoas de diferentes faixas etárias e classes sociais. O Orientador Profissional não pode ausentar-se desses debates e deixar de avaliar as possíveis consequências das mudanças na vida de jovens e adultos. A escolha profissional envolve uma gama de questionamentos, entre eles, a descoberta de campos de interesse, a busca de uma profissão que gere satisfação, a diversidade do mercado de trabalho, que se apresenta em constante transformação e a análise da consonância entre estes elementos e as características do jovem. Considerando a complexidade dos processos de escolha de profissão, a Orientação Profissional (OP) deve problematizar as teorias e as práticas que a constituem, assim como os métodos e testes psicológicos utilizados (MELLO-SILVA, OLIVEIRA E COELHO, 2002). Um dos construtos psicológicos importantes no processo de OP são os interesses. Eles são definidos como padrões de gostos, neutralidade ou aversão frente a certas atividades ou características profissionais (LENT, BROWN E HACKETT, 1994). Em OP, além da análise dos interesses por meio de técnicas não padronizadas, é possível utilizar os inventários ou testes de interesses. Esses instrumentos buscam investigar quão estreitamente os interesses de alguns indivíduos estão relacionados aos de pessoas que estão envolvidas em determinadas ocupações (ANASTASI E URBINA, 2000). No que se refere ao desenvolvimento dos testes para uso em orientação profissional, notou-se um aperfeiçoamento nos últimos anos, especialmente em países estrangeiros. No Brasil, no entanto, ainda há a necessidade de construir instrumentos para mensurar os interesses profissionais, já que poucos atualmente possuem parecer favorável do Conselho Federal de Psicologia (2007), ou seja, possuem os padrões mínimos de excelência, como estudos das propriedades psicométricas e normatização com amostras brasileiras. Ainda nessa direção, outro aspecto relevante é que o diagnóstico em OP tem sido compreendido como uma das competências fundamentais para o orientador profissional, que por sua vez, poderá ter um serviço de melhor qualidade, de acordo com Talavera 2004), caso seja desenvolvido com instrumentos que possuam características psicométricas adequadas e que mostrem sua utilidade para a população específica. Um deles possui parecer favorável do Conselho Federal de Psicologia – CFP (2007), a Escala de Aconselhamento Profissional – EAP (Noronha, Sisto e Santos, 2007) e o outro, o Self-Directed Search Career Explorer – SDS (Holland, Fritzsche e Powell, 1994), traduzido literalmente como diretor de autoavaliação apesar de ainda nãosubmetido à avaliação do CFP, possui pesquisas realizadas no Brasil (Primi, Moggi e Casellato, 2004; Mansão, 2005; Mansão e Yoshida, 2006; Sartori, 2007; Nunes, 2007). O SDS está estruturado na teoria tipológica de Holland (1963; 1996), que propõe seis tipos de personalidades vocacionais, a saber: Realista (R), Investigativo (I), Artístico (A), Social (S), Empreendedor (E) e Convencional (C), conhecidos pela sigla RIASEC. No que se refere à conceituação dos tipos, o Realista é definido como pouco sociável, com boa coordenação motora e rapidez. Os sujeitos realistas preferem os problemas concretos aos abstratos; percebem-se como agressivos e possuem valores políticos e econômicos convencionais. O Investigativo é hábil para manipular ideias e palavras; é analítico, introvertido e crítico. Já o Artístico utiliza os sentimentos para enfrentar as situações cotidianas e prefere trabalhar com coisas mais abstratas e em que pode utilizar a criatividade. Por sua vez, o Social é sensível responsável e costuma agir mais pela intuição do que pela razão. Os indivíduos com preferência por este tipo tendem a possuir maior capacidade verbal e interpessoal. O Empreendedor tende a ser mais ousado nos objetivos profissionais, com características de dominância, de entusiasmo e de extroversão; com boa capacidade verbal para trabalhar com vendas e interesse por política e economia. Por fim, o tipo Convencional prefere tarefas bem organizadas, identifica-se com o poder, valorizando os bens materiais e a posição social; mostra-se inflexível, rígido e com pouca criatividade. Vale destacar que a teoria de Holland (1963; 1996) pressupõe que os tipos do RIASEC são produto da interação entre uma variedade de forças pessoais e culturais, sendo que a partir dessa experiência, uma pessoa aprende primeiramente a preferir algumas atividades em detrimento de outras. Em consequência, essas atividades se transformam em interesses. O segundo aspecto da teoria refere-se à preferência por alguns tipos de ambiente de trabalho, utilizando para tanto a mesma nomenclatura anteriormente descrita (Realista, Investigativo, Artístico, Social, Empreendedor e Convencional). Assim, as conceituações dos tipos de ambientes são iguais às de pessoas, o que facilita o trabalho de parear tipos de pessoas e ambientes. O terceiro pressuposto do autor aponta para o fato de que as pessoas procuram ambientes que lhes permitam exercer seus talentos, habilidades, valores e a assumir problemas e papéis compatíveis. Em acréscimo, propõe que o comportamento é determinado pela interação da personalidade com o meio. Fogliatto etal (2003) afirmam que em face disso, a teoria do RIASEC tem sido descrita como um modelo de congruência entre os interesses e habilidades, de tal sorte que desenvolvimento da tipologia profissional depende de uma série complexa de acontecimentos familiares, preferências ocupacionais e interações com contextos ambientais específicos (SARTORI, NORONHA E NUNES, 2009).Atualmente, há um relativo consenso de que o aconselhamento vocacional tem uma natureza educativa e de que a articulação das concepções desenvolvimentistas e sócio cognitivas considera o desenvolvimento integral da pessoa. Enfatiza-se a importância da teoria sócio cognitiva, no modo privilegiado com que focaliza a capacidade auto regulatória de aprender e de desenvolver as estratégias adaptativas para lidar com as contingências pessoais e situacionais, perante as características do mundo atual. A natureza educativa da orientação remete para a convergência dos objetivos que visam o desenvolvimento das potencialidades individuais e o desenvolvimento social da comunidade (Guichard & Huteau, 2001). No prosseguimento destas finalidades, a intervenção educativa da orientação distingue-se por adotar estratégias holísticas e integradoras, que articulam a aprendizagem formal e informal com a construção dos projetos de vida e de carreira, e abrangem todos os grupos, no respeito pela sua autonomia e especificidade cultural TEIXEIRA, 2008). Abaixo temos alguns tipos de instrumentos para orientação e avaliação profissional que se for de interesse podem ser aprofundados baseando nas referências bibliográficas. Levantamento de Interesses Profissionais (LIP – Del-Nero, 1984). Consiste num inventário composto por 256 itens, agrupados em 128 pares de atividades profissionais, que dizem respeito a oito áreas, a saber, Ciências Físicas (CF), Ciências Biológicas (CB), Calculísticas (C), Persuasivas (P), Administrativas (A), Sociais (S), Linguísticas (L) e Artísticas (A). O respondente deve ler os pares e optar por um ou ambos os itens, de acordo com sua preferência. No manual, existe indicação de correção, mas não há dados normativos para interpretação. Inventário de Interesses Angelini (Angelini, s.d.). Avalia os interesses profissionais em nove áreas: Ciências Físicas (CF); Persuasão (P); Ciências Biológicas (CB); Literatura (L); Cálculo (C); Artes (A); Música (M), Burocracia (B) e Serviços Assistenciais-Sociais (S). O instrumento é formadopor 100 itens, dispostos em pares, dos quais o sujeito deve marcar apenas o que mais lhe aprouver. No manual é relatado um estudo de precisão, em que o Alfa de Cronbach variou entre 0,87 e 0,95 nas dez áreas profissionais. Teste de Inteligência não-verbal – Forma A (INV, Rainho, s.d.). Consiste em uma medida do fator geral de inteligência, formado por 60 itens, no qual o respondente deve descobrir e completar o padrão que governa um conjunto de figuras geométricas abstratas, dispostas em matrizes. O manual técnico relata três estudos de precisão sobre o INV. Em um, utilizou-se o método das metades, sendo que o coeficiente obtido foi de 0,82, em uma amostra de adolescentes comerciários. A precisão pelo coeficiente de Kuder-Richardson também foi obtida numa amostra de 600 crianças entre 7 e 12 anos, tendo-se obtido um alfa de 0,93. Por fim, em um estudo com 1000 adolescentes com idades entre 11 e 16 anos, os coeficientes variaram entre 0,86 e 0,96, obtidos separadamente para grupos etários. Bateria de Prova de Raciocínio (BPR-5, Primi; Almeida, 1998). O instrumento visa avaliar aptidões cognitivas por meio de cinco provas: raciocínio abstrato (RA-25 itens), raciocínio verbal (RV-25 itens), raciocínio mecânico (RM-25 itens), raciocínio espacial (RE- 20 itens) e raciocínio numérico (RN- 20 itens). Os participantes devem responder os problemas lógicos propostos nos itens, escolhendo entre até cinco alternativas, com exceção da prova de raciocínio numérico, que não apresenta opções de resposta pré- definidas. A QUESTÃO DA INDISCIPLINA Autoritarismo dos docentes de um lado e indisciplina dos discentes de outro lado são componentes de uma equação que sempre terá como resultado um valor negativo. E essa situação que não é nova só tem feito aumentar os problemas para todos, tanto no âmbito da escola quanto fora dela. Como sinônimo de desordem, de rebelião ou desobediência, a verdade é que a indisciplina atrapalha o desenvolvimento de uma aula, é falta de respeito para com o colega e com o professor, enfim, uma transgressão de regras. Sem querer apresentar um culpado para essa condição/situação, pois tanto pode vir do ambiente familiar, quanto ser uma maneira de o aluno retribuir o tratamento que não lhe é dispensado pelo professor, vamos fazer breves relações entre a indisciplina, a família, a escola e o papel do Orientador na mediação desses conflitos. Segundo Ferreira (2009) a escola tem como um de seus maiores obstáculos à conduta em formas de bagunças, falta de limites, maus comportamentos e desrespeito aos professores entre outros, ultrapassando assim fronteiras culturais e econômicas. A ausência de cultura disciplinar preventiva nas escolas, bem como falta de preparo por parte dos professores para lidar com distúrbios em sala deaula, trás um contexto social onde a indisciplina se expressa. Muitas escolas não oferecem estrutura, ou seja, espaços adequados para a prática de esportes, para brincar e interagir nos intervalos. Assim o espaço fica limitado somente à sala de aula, essa falta de locais para "gastar" energia conduzirá a indisciplina em sala. As causas da indisciplina escolar podem ser divididas em dois grupos gerais: - Causas externas à escola => entre elas veem a influência exercida pelos meios de comunicação, violência social e ambiente familiar. - Causas internas => incluem ambiente escolar, condições de ensino-aprendizagem, modos de relacionamento humano, o perfil dos alunos e a capacidade deles em adaptar-se aos esquemas da escola. Em muitos casos as formas de intervenção disciplinar que os professores usam acabam por reforçar a indisciplina. Devemos lembrar que as escolas em meados de 1960, conseguiam fazer com que seus alunos se comportassem, pois a disciplina era imposta de forma autoritária, com ameaças e castigos e não prevaleciam os códigos e leis em defesa de crianças e adolescentes. O medo levava a obediência e a subordinação por parte dos alunos, eles nãopodiam se posicionar, questionar e refletir, sobre quaisquer que fosse o assunto. Atualmente vivemos outro contexto, onde influenciados por mudanças políticas, sociais, econômicas e culturais instituições escolares, alunos e professores, assumem um papel diferente na sociedade. Um aspecto importante nessa mudança é a escola estar mais aberta para a participação dos pais e da comunidade (FERREIRA, 2009). As efervescências da sala de aula marcada pela diferença, instabilidade e precariedade, apontam para a inutilidade de um controle totalitário, do planejar. Racional, pois o que os alunos procuram é de alguma forma estar juntos e isso impede qualquer tipo de autoridade forçada. Daí quanto maior a repressão, maior será a força que os alunos usarão para garantir sua vitalidade em grupo. A organização do ano escolar dos programas, das aulas, a estrutura do prédio e sua conservação não podem estar distantes da realidade dos alunos. A escola tem que ter significado para eles, pois o não envolvimento dos alunos com a escola pode se transformar em apatia e explodir em indisciplina e violência. O Estatuto da Criança e do Adolescente também tem sido apontado, de forma equivocada, como um dos fatores determinantes da indisciplina escolar, pelo fato de contemplar apenas os direitos e de não prever expressamente os deveres dos educandos, porem estamos nos esquecendo de que se não respeitarmos os direitos dos educandos é evidente que esse não irá respeitar os educadores. Dentro dessa perspectiva, encontramos capítulos e artigos da Constituição Federal e das Leis de Diretrizes e Bases que é voltado para o pleno desenvolvimento da pessoa e para a prática da cidadania. Devemos fazer uma breve distinção do que vem a ser ato infracional, indisciplinar, pois embora todo ato infracional seja uma forma de manifestação da indisciplina, nem todo ato de indisciplina constitui um ato infracional. O ato infracional está definido no artigo 103 do Estatuto da Criança e do Adolescente: "Art.103 considera-se ato infracional a conduta descrita como crime ou contravenção penal". Já a indisciplina pode ser entendida como um comportamento contrário a uma norma explícita no Projeto Político Pedagógico da escola, ou implícito em termos escolares e sociais. Que em sua maioria se manifesta em forma de cochicho, troca de bilhetes, discussões e na forma de agressões a colegas e professores. Dentre as medidas que são tomadas pelas escolas, estão a expulsão e a transferência dos alunos "problemáticos", medidas que geram muitas discussões. As escolas não podem simplesmente acabar com o problema, transferindo ou expulsando o aluno indisciplinado. O aluno que é expulso ou "convidado a se retirar" acaba se sentindo injustiçado, rejeitado e isso acaba por interferir em sua capacidade de aprendizagem tornando-os ainda mais indisciplinados. As escolas têm todo o direito e dever de impor limites e criar obrigações, porém, imposição de limites não significa medidas abusivas e acima de tudo, ilegais. Com o objetivo de conceder eficácia à educação, a constituição estabeleceu diversos princípios, dentre eles, o de igualdade de condições para o acesso e permanência na escola. Diante do que foi exposto, percebemos que a expulsão e a transferência compulsória, como medidas disciplinares não encontram justificativa admissível, pois tais medidas constituem flagrante, desrespeito à Constituição Federal e ao Estatuto da Criança e do Adolescente. Assim de que se efetive o direito de toda criança e do adolescente à educação, deve ser extirpadas de todo Projeto Político Pedagógico escolar essas medidas abusivas. É frequente a afirmação, por partes dos professores, que os alunos de hoje são indisciplinados, evocando um saudosismo de uma suposta educação de antigamente, que estabelecia parâmetros rígidos para o uso do corpo e da mente. A origem dos comportamentos ditos indisciplinares pode estar em diversos Fatores: uns ligados a questões relacionadas ao professor, principalmente na sala de aula; outros centrados nas famílias dos alunos; outros verificados nos alunos; outros gerados no processo pedagógico escolar; e outros alheios ao contexto escolar. A indisciplina na escola pode ter relação com o fraco rendimento escolar dos alunos. O seu insucesso pode levá-los a investir pouco nas tarefas escolares e a desinteressarem-se pela escola, desencadeando, eventualmente emoções negativas, traduzidas em comportamentos inadequados. Estes alunos são chamados de aluno- problema, conceito tomado em geral, como àquele que padece de certos supostos "distúrbios psicopedagógicos"; distúrbios estes que podem ser de natureza cognitiva ou de natureza comportamental, e nessa última categoria enquadra-se um grande conjunto de ações que chamamos usualmente de "indisciplinadas". Esse tipo de entendimento da questão disciplinar, mais de cunho psicológico, merece pelo menos dois reparos: o primeiro, com relação à ideia de ausência absoluta de limites e do desrespeito às regras; o segundo, sobre a suposta permissividade dos pais. É tarefa de todos garantirem uma escola de qualidade para todos, indisciplinados ou não, com recursos ou não, com pré-requisitos ou não, com supostos problemas ou não. A inclusão passa a ser o dever de todo educador preocupado com o valor social de sua prática e, ao mesmo tempo, ciente de seus deveres profissionais. Quando desponta algum entrave de ordem disciplinar na sala de aula, uma das atitudes usuais por parte dos educadores é convocar as autoridades escolares, e estes, os pais para que "deem um jeito no seu filho". A tarefa do professor, por sua vez, não é moralizar a criança. O objeto do trabalho escolar é fundamentalmente o conhecimento sistematizado, e seu objetivo, a recriação deste. Uma das posturas do professor na sala de aula, que é necessário que ele desenvolva e conquiste maior autonomia para lidar com a indisciplina na sala de aula. Isso não significa deixar o professor sozinho com a indisciplina, mas fomentar um trabalho em parceria, baseado em responsabilidades claramente definidas e no auxílio estratégico da orientação educacional em situações que requerem intervenção. Segundo Schneider (s.d. apud FERREIRA, 2009), normas de convívio podem ser soluções para escolas. A ideia é tornar claro o que não pode ser feito e ter punições definidas para cada ato irregular, tudo com o comprometimento de todos. As normas são decididas em reuniões, ficam escritas e assinadas em ata. Mesmo os alunos pequenos devem participar. Ela diz que as regras variam de caso para caso. Se o aluno não pode chegar tarde, isso também vale para o professor. Os próprios alunos querem limites. Professor que gritarou humilhar aluno, também pode ser punido. Se o aluno fizer gesto obsceno, falar palavrão, igualmente terá punição. Nos últimos trinta anos os alunos ficaram soltos demais, e hoje eles precisam de limites. Quando deixarem o colégio, eles terão que ter emprego, onde será cobrada disciplina. E eles não vão estar prontos porque fizeram o que queriam. Podem até ter conhecimento, mas faltou saber conviver, saber obedecer a regras. Embora seja difícil e complexo lidar com o problema da indisciplina, o professor não pode desistir e nem se acomodar. Não pode deixar que a educação silencie e limite os alunos e que impeça seu desenvolvimento criativo e participativo em sala de aula. Precisa- se de uma educação que valorize as organizações Coletivas e que contribua para a construção da autonomia e para o desenvolvimento intelectual dos alunos, a fim de que se conquiste uma sociedade democrática. Ao questionarmos o papel do serviço de orientação educacional face à indisciplina na realidade escolar, ainda vemos sua atuação sendo categorizada como secundária, considerando que muitas instituições designam à direção e supervisão o "cumprimento" da disciplina. Com uma visão errônea sobre a atuação do orientador, ainda hoje, figura-se apontamentos como sendo o SOE responsável por lidar e encaminhar os alunos problemas, deturpando assim sua importância social e no processo pedagógico. Contraditório às considerações anteriores, porém assertivo, é o conceito que se faz da atuação do orientador educacional relacionada aos casos de indisciplina, que imprime ao SOE um papel distinto, participativo e dinâmico, reconhecendo o trabalho desse profissional conjunto à esfera escolar. Primordialmente, o orientador educacional estabelece uma relação dialógica com a comunidade escolar, podendo então, desenvolver ações preventivas na tocante construção disciplinar (FEREIRA, 2009). O setor de orientação educacional analisa, planeja e propicia um ambiente harmonioso e seguro ao educando, fazendo-se primo o respeito às individualidades e diferenças, originando um ambiente escolar que encerre em si a construção da aprendizagem satisfatoriamente. Esse equívoco acerca do papel do orientador educacional se dá devido as suas atribuições históricas como disciplinador, ajustador e conselheiro, evidenciamos que mesmo em casos nos quais o orientador não tem seu papel delineado conforme a legislação que o rege atualmente, é pertinente a relação sujeito/escola/sociedade, o que podemos mudar, mudando nossas atitudes enquanto profissionais. No tocante à atuação do SOE nos casos de indisciplina é preciso segurança e continuidade do processo, visto a mediação família/escola e a função social do mesmo em formar cidadãos capazes de analisar, refletir e agir de maneira consciente. Geralmente, é na escola que o aluno passa a maior parte do seu tempo e nada mais justo que encontre apoio do SOE para aconselhá-lo, para resolver suas frustrações, suas raivas, seus medos. O trabalho com a família também é essencial, pois em muitos casos ela segue uma linha desordenada, desorientada, sem saber quais ações devem ser tomadas com esse filho, e o cenário do orientador educacional se faz, detectando no aluno seus anseios frustrados, suas necessidades, inseguranças, excessos de cuidado e carinho ou se é simplesmente um problema em corresponder-se com normas e regras (FERREIRA, 2009). Enfim, ouvir o aluno, trabalhar dentro de todos os seus aspectos emocionais, cognitivos, estéticos, sociais e interpessoais, é o principal meio para o orientador agir junto ao aluno e à família para combaterem a indisciplina. Lidar com essa problemática não é fácil, mas o orientador deve desenvolver competências para mediar as ações para satisfazer, mesmo que parcialmente, as situações problemas do nosso dia a dia escolar. 5- EVOLUÇÃO – AVANÇOS E RETROCESSOS DA SUPERVISÃO ESCOLAR Em recente artigo publicado por Leal e Henning (2010) questionando a Supervisão Escolar por diversos ângulos, observamos a mesma linha de pensamento de outros estudiosos, qual seja, a supervisão, do ponto de vista global é narrada como um trabalho que evoluiu de uma ação “controladora” para uma “ação conjunta com os professores”, marcando, assim, duas fases diferentes dessa função, evidenciando uma ruptura na forma como o trabalho da supervisão é realizado. De todo modo, quer seja no passado ou no presente, o controle e a autonomia marcam a trajetória do supervisor escolar, como veremos mais adiante. A ideia de supervisão começa a se configurar, em nosso país, com a chegada dos primeiros jesuítas, presente no Plano de ensino de Manuel da Nóbrega, o Ratio Studiorum. Com a expulsão dos jesuítas do Brasil e a extinção do seu sistema de ensino, são instituídas as reformas Pombalinas, surgindo a figura do diretor geral, que atuava com auxílio dos comissários, configurando-se a ideia de supervisão como inspeção e direção. Por outro lado, com a implantação da República, a organização das escolas em grupos escolares e a ampliação do corpo de professores e de alunos, fez-se urgente e indispensável a institucionalização de um serviço específico de supervisão pedagógica (SILVA, 2009). Com o surgimento da classe burguesa, consolida-se o papel da escola como agência transmissora do saber elaborado, espaço apropriado e privilegiado para a formação cultural letrada, notadamente da formação apropriada para a manutenção e perpetuação da ordem que se estabelecia. Assim, a ação supervisora mantém uma característica prioritariamente fiscalizadora, que perdura mesmo nos dias atuais. As ideias de supervisão e de educação podem estar diretamente relacionadas. Ao buscarmos na história a gênese da supervisão, não encontramos referências explícitas ao termo ou à função, no entanto constatamos que a ideia de supervisão está presente no contexto educacional desde o início da Época Moderna, quando acontece a transformação dos modos de produção, a instauração do Capitalismo e o surgimento da escola pública para as massas. É importante ressaltar que essa dominação da sociedade capitalista acontece em todas as instâncias. A respeito disso, Marcuse (1982, p. 37) faz a seguinte observação: [...] a dominação – disfarçada em afluência e liberdade – se estende a todas as esferas da vida pública e privada, integra toda oposição autêntica, absorve todas as alternativas. A racionalidade tecnológica revela o seu caráter político ao se tornar o grande veículo de melhor dominação, criando um universo verdadeiramente totalitário no qual sociedade e natureza, corpo e mente são mantidos num estado de permanente mobilização para a defesa desse universo. Como vemos, o aparato tecnológico capitalista é montado para que as pessoas vejam as coisas pelo mesmo ângulo, por isso a integração também é cultural. Nesse contexto, a supervisão surge como elemento de fiscalização e de controle [...] os padrões de supervisão, baseados em inspeção e fiscalização, dão ênfase a um sistema vertical de autoridade, submissão e controle, e identifica-se como uma posição hierárquica, onde o executor é sempre um dependente e deve aceitar passivamente as diretrizes emanadas do supervisor, hierarquicamente num escalão mais alto (LACERDA, 1983, p. 32). Entretanto, entendemos que se encontra aí um ponto contraditório; situando a supervisão no nível hierárquico das decisões e a supervisão enquanto prática, ela se situa na linha também de execução, isto é, dos que obedecem e simplesmente executam as ordens que lhes são transmitidas. Na década de 1970, durante o governo militar, o Brasil importou tecnologia inclusive para a educação, através de convênios estabelecidos com os Estados Unidos. Com a Lei 5.692/71 para o 1º e 2º graus, a supervisão escolar é concebida, conforme Silva Júnior (2003, p. 93), “como parte de um processo de dependência cultural eeconômica e integrada a seguir a um projeto militarista-tecnocrático de controle do povo e da nação [...]”. A supervisão praticada produzia o ofuscamento e não a elaboração da vontade dos profissionais. Arroyo (2000, p. 23) enfatiza que essa lei veio para descaracterizar a chamada arte educativa, ao dizer que: A Lei nº 5.692 de 1971 descaracterizou a escola e os currículos de formação. As licenciaturas desfiguraram seus mestres. Os currículos gradeados e disciplinares empobreceram o conhecimento, a escola e os professores. O peso central dado ao domínio dos conteúdos das áreas de licenciatura e o peso secundários dados ao domínio das artes educativas reflete essa mesma concepção e trato descaracterizado do ofício e do campo educativo que vem se alastrando há décadas. Reduzimos a escola, o ensino e os mestres a ensinantes. Para Silva Júnior (2003), o controle que caracteriza a supervisão é uma consequência negativa das condições do momento histórico em que a profissão começou a existir no Brasil. A conotação negativa dada pelo autor à categoria de controle aparece na definição da palavra, enquanto analisada sob a perspectiva da relação entre supervisor e professor. Conforme descrita no dicionário, a palavra controle significa “[...] fiscalização sobre as atividades de pessoas, órgãos, departamentos ou sobre produtos, etc. para que tais atividades, ou produtos, não se desviem das normas preestabelecidas”. (FERREIRA, 1986). Dessa forma, o controle pode ser interpretado como uma manifestação de poder que permeia a relação do supervisor com o professor, tornando esses atores do ensino profissionais distanciados hierarquicamente e vinculados a compromissos diferentes: o primeiro com o sistema e o segundo com o aluno. Considerando as diferentes terminologias atribuídas à supervisão ao longo de sua existência, assim como suas diferentes significações e abrangências, faz-se necessário conhecê-las para, então, eleger aquela adequada à proposta de um estudo relacional. O Parecer n. 252/69 e a Resolução n. 02/69, ambos do Conselho Federal de Educação, utilizam a expressão “Supervisão Escolar”, a qual permaneceu até 1996, quando a profissão foi renomeada pela Lei de Diretrizes e Bases nº 9.394, de 20/12/96. Essa lei utiliza a terminologia “Supervisão Educacional” (Título VI, Art. 64), com o objetivo de ampliar as possibilidades de atuação do supervisor no mercado de trabalho e por considerar que hoje os serviços de tal profissional não se restringem ao âmbito escolar (ao contrário, se ampliam). Organizações de trabalho coletivo, sejam escolares ou não escolares, geralmente demandam articulação de atividades, integração, direção, orientação e coordenação. Todas as funções que podem ser consideradas como definidoras do trabalho de supervisão sofreram uma adequação ao modelo tecnicista de ensino (BARBOSA, SILVA, NASCIMENTO, 2009). No atual contexto, com as exigências sociais e a complexa e desleal concorrência, proporcionada pela lógica mercadológica capitalista, centrada na produção e no consumo, a escola configura-se como espaço apropriado para o desenvolvimento de indivíduos detentores de uma cultura universal, de formação geral, tendo a prática da supervisão escolar o grande desafio de tornar-se uma ação coletiva no sentido de contribuir para um trabalho pedagógico voltado para a formação plena do aluno, que lhe possibilite o desenvolvimento da autonomia e a busca pela concretização de uma realidade social mais justa (SILVA, 2009). Carvalho (1989) nos chama a atenção para o fato da supervisão no Brasil vai se revestindo de situações novas de acordo com as novas realidades que vão surgindo e afirmando a partir da ampliação do direito à escola para as camadas menos favorecidas, aumenta a exigência de outros profissionais na escola que se torna bastante complexa, destacando que, na década de cinquenta, com a política desenvolvimentista do governo JK, são formados os primeiros supervisores escolares do ensino primário, através do Programa Americano-Brasileiro de Assistência ao Ensino Elementar (PABAEE). A supervisão escolar como prática de controle ganha ênfase, ao mesmo tempo em que a educação começa a servir aos interesses econômicos capitalistas, como forma eficiente de formar mão de obra barata, massificada e alienada. No final da década de 1970 e início da de 1980, estudos de vários autores, dentre eles Rezende (1979) e Alves (1984) buscam investigar a função política da supervisão, no esforço de demonstrar que, quanto mais a supervisão fosse utilizada ou defendida como função essencialmente técnica, mais ela servia aos interesses da elite que comandava a sociedade. Segundo Cunha (1999), nas sociedades contemporâneas, em que o desenvolvimento econômico e a viabilização de melhores condições de vida para a população é uma realidade, é cada vez maior a exigência sobre o aumento da escolaridade e da qualificação das pessoas, principalmente a formação de nível superior. Assim, as políticas de educação no Brasil priorizam cada vez mais a educação superior. Mesmo carecendo de reformas e muitas discussões, não se pode negar a expansão do ensino superior hoje em nosso país. No campo da educação, no contexto escolar, o supervisor deve, pois, assumir o compromisso da transformação e da luta por melhores condições de vida, engajando-se num projeto de conscientização crítica, denunciando as injustiças e as desigualdades e apontando propostas de superação dessas diferenças, reconhecendo que esta tarefa, longe de se esgotar, está apenas em seu começo (SILVA, 2009). 6- ATRIBUIÇÕES DA SUPERVISÃO ESCOLAR A função supervisora está relacionada ao ato de prestar atenção sobre algo ou sobre alguma coisa, estar alerta ou vigilante. Nas comunidades mais primitivas, a função supervisora, implicitamente, acompanha a ação educativa, função esta que se concebia enquanto orientadora para a satisfação das necessidades coletivas. Nessas comunidades, a função supervisora acontecia na própria relação cotidiana entre os adultos e as crianças, em que os primeiros exerciam uma vigilância discreta sobre os jovens, orientando-os diante dos desafios da vida (SAVIANI, 2000). Silva Júnior (1986, p.100) refere-se à Supervisão escolar como aquela que “se apresenta como mais uma tarefa cujo desempenho impõe aos seus praticantes a observância de um desempenho preciso do ‘papel’ a ser executado”. Rangel (2000) e Ferreira (2002) atribuem significados diferenciados para os dois termos, educacional e escolar. Supervisão Educacional tem uma conotação abrangente, extrapola as atividades da escola para alcançar, em nível macro, os aspectos estruturais, sistêmicos, da educação. Já Supervisão Escolar supõe a supervisão da escola nos seus aspectos administrativos, de funcionamento geral e pedagógico. Pouco identificada em relação ao ensino. O termo coordenador também é amplamente utilizado. Na maioria das vezes a referência ao coordenador aborda uma das atribuições da supervisão, a de coordenar o projeto educacional. Para assumir essa coordenação não é necessário um supervisor habilitado, pois é uma função que pode ser exercida por qualquer professor. Logo, destaca-se aí a questão da formação. Esse lugar de coordenador, integrante do grupo, é relativamente recente na história da organização escolar. É uma mudança de postura político-pedagógico que tomou força e abrangência, concomitantemente e em decorrência dos movimentos de redemocratização do país. Atualmente, podemos dizer que a supervisão pedagógica dirige-se ao ensino e à aprendizagem, tendo por objeto, a qualidade do ensino, porém os critérios e a apreciação da qualidade não são impostos de cima para baixo numa perspectiva de receituário acriticamente aceito pelos professores, mas na interação entre supervisor e os professores (ALARCÃO, 2002 p. 12). A abrangência do
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