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Profa. Dra. Lígia Menna Material Complementar Literatura Portuguesa: Poesia Literatura Portuguesa de Produção Feminina Por que há pouca produção feminina nos cânones? As mulheres não escreviam? Trovadorismo: Cantigas de amigo – eu lírico feminino – Inspiradas nas cantigas populares, fora da corte. Breve panorama da Literatura Portuguesa produzida por mulheres, em diferentes gêneros, ao longo dos tempos. Literatura Portuguesa de produção feminina http://lugardemulher.com.br/para-as-mulheres-que-querem-escrever/ Filha de Gil Vicente e Melícia Rodrigues, foi a dama da Infanta D. Maria. Era conhecida pela sua erudição e talento musical. Acredita-se que tenha representado em algumas peças de seu pai. Acredita-se também que tenha escrito várias comédias. Organizou a compilação da obra de Gil Vicente, juntamente com seu irmão Luís Vicente. “Arte da Língua Inglesa e Holandesa para a instrução dos seres naturais”, obra atribuída. Paula Vicente (1519 - 1576) Infanta D. Maria, Duquesa de Viseu Por António Mouro - Traje Feminino: D. Manuel até D. Pedro II, Domínio público, https://commons.wikimedia.org/w/index.php? curid=25293402 Nasceu em Beja. Em 1663 conheceu o oficial francês Camilly, com quem passa a trocar cartas de amor. Época do Barroco: Poder do Clero. Reforma e Contrarreforma. Lettres Portugaises traduites en français (Cartas de amor, Cartas portuguesas), 1669. Sejam “As Cartas” verídicas ou não, Mariana Alcoforado existiu realmente e o escândalo que houve em torno da sua pessoa também foi verdadeiro. A sua vida, tornada famosa pelas cartas, foi motivo de inspiração a diversas obras teatrais. Sóror Mariana Alcoforado (1640 - 1723) Cartas de amor ao cavaleiro de Chamilly, Domínio público, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=33577571 “Considera, meu amor, a que ponto chegou a tua imprevidência. Desgraçado!, foste enganado e enganaste-me com falsas esperanças. Uma paixão de que esperaste tanto prazer não é agora mais que desespero mortal, só comparável à crueldade da ausência que o causa. Há de então este afastamento, para o qual a minha dor, por mais subtil que seja, não encontrou nome bastante lamentável, privar-me para sempre de me debruçar nuns olhos onde já vi tanto amor, que despertavam em mim emoções que me enchiam de alegria, que bastavam para meu contentamento e valiam, enfim, tudo quanto há? Ai!, os meus estão privados da única luz que os alumiava, só lágrimas lhes restam, e chorar é o único uso que faço deles, desde que soube que te havias decidido a um afastamento tão insuportável que me matará em pouco tempo.” Primeira carta. https://www.luso-livros.net/wp-content/uploads/2013/02/Cartas-de-Amor-de-uma-Freira-Portuguesa.pdf Cartas Portuguesas Leonor de Almeida de Portugal Lorena e Lencastre – 4ª Marquesa de Alorna. Viveu quase 20 anos reclusa em um convento, durante o período dominado pelo Marquês de Pombal. Aos 27 casou-se e viajou para Espanha, França, Áustria e Inglaterra. Adotou o pseudônimo árcade de Alcipe. Fundou a Sociedade da Rosa – 1803. Obras poéticas, 6 volumes (1844). Marquesa de Alorna (1750 - 1839) Pintura de Franz Joseph Pitschmann, 1780 https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Leonor-de-Almeida- Portugal_Marquesa-de-Alorna.jpg#filelinks Vai a Fresca Manhã Alvorecendo Vai a fresca manhã alvorecendo, vão os bosques as aves acordando, vai-se o Sol mansamente levantando e o mundo à vista dele renascendo. Veio a noite os objetos desfazendo e nas sombras foi todos sepultando; eu, desperta, o meu fado lamentando fui coa ausência da luz esmorecendo. Neste espaço, em que dorme a Natureza. Por que vigio assim tão cruelmente? Por que me abafa ó peso da tristeza? Ah, que as mágoas que sofre o descontente, as mais delas são faltas de firmeza. Torna a alentar-te, ó Sol resplandecente! “A fina educação da Marquesa de Alorna e a leitura de filósofos como Voltaire, Rousseau e Montesquieu, entre outros, contribuiu para a sua formação e para a liberdade do seu pensamento e da sua cultura, tendo sido ainda conhecida pelo seu talento para o desenho e para a pintura”. Já o século XIX, como o reconhece Helena Vasconcelos na mesma obra As Luzes de Leonor (D. Quixote, 2011), foi “pernicioso e, em muitos casos, devastador para as mulheres.” (p. 158) “O romantismo, veiculando a ideia da mulher como um ser frágil e instável, caprichoso e melancólico, remeteu as mulheres para um estatuto de «deusas», de mães intocáveis, o que muito convinha ao universo masculino, enclausurando-as no lar.” Fonte Revista Caliban: https://revistacaliban. net/a-literatura-feminina-em-portugal-480d17ecbe04 Lacuna durante o Romantismo Escritora, pedagoga, jornalista, feminista e republicana portuguesa. Atualmente, muitas de suas posições são polêmicas. (Ex.: Valorização da “raça” portuguesa) Figura destacada da luta pela emancipação das mulheres. É considerada a iniciadora da literatura infantil em Portugal. Em 1911, emigrou com o marido para São Paulo (Brasil), onde ele exerceu funções de cônsul de Portugal. Em 1914, após a morte do marido regressou a Portugal fixando residência em Lisboa. Ana de Castro Osório (1872 - 1935) http://www.portugal1914.org/portal/pt/historia /biografias/item/2504-osorio-ana-de-castro Precursora do feminismo em Portugal, esteve ligada à fundação de diversas associações: Grupo Português de Estudos Feministas (1907), Liga Republicana das Mulheres Portuguesas (1908), Associação de Propaganda Feminista (1911), Comissão Feminina “Pela Pátria” (1914) e Cruzada das Mulheres Portuguesas (1916). Obras: Contos morais (1903), Contos traduzidos de Grimm (1904), entre outros. Alguns contos publicados no jornal O senhor Doutor (1933). Ana de Castro Osório (1872 - 1935) Fonte: Jornal O senhor doutor, 25/03/1933:6 Microfilme Ao final do texto, a avó ainda dá um conselho à neta, que não fez a lição e passou o dia a admirar uma ave e seus filhotinhos no ninho: “ – Devia ser lindo, devia! Mas a pequenina toutinegra, tenho a certeza, não faltava, por querer, à lição. Não te parece? É necessário aprender para voar sem amparo e é na Escola que se tenteiam as asas para o nosso espírito subir muito alto e soltar à vontade o canto triunfal de uma vida útil e alegre, abrindo as asas a todo pano, sem hesitação.” (O senhor doutor, 25/03/1933:6) Conversa com Ana Maria Quanto à produção feminina de literatura portuguesa até o século XIX, é correto afirmar que: a) As peças de Paula Vicente tornaram-se paradigma para o teatro português vindouro. b) As Cartas Portuguesas atribuídas a Mariana Alcoforado não são verdadeiras, já que o clero não tinha acesso à leitura e à escrita. c) Nos poemas da Marquesa de Alorna, encontramos características do Arcadismo, como o bucolismo e a valorização da cultura greco-romana. d) Durante o Romantismo, há uma profusão de mulheres escritoras. e) As cantigas de amigo, de produção feminina, marcam o início da participação das mulheres na literatura. Interatividade Quanto à produção feminina de literatura portuguesa até o século XIX, é correto afirmar que: a) As peças de Paula Vicente tornaram-se paradigma para o teatro português vindouro. b) As Cartas Portuguesas atribuídas a Mariana Alcoforado não são verdadeiras, já que o clero não tinha acesso à leitura e à escrita. c) Nos poemas da Marquesa de Alorna, encontramos características do Arcadismo, como o bucolismo e a valorização da cultura greco-romana. d) Durante o Romantismo, há uma profusão de mulheres escritoras. e) As cantigas de amigo, de produção feminina, marcam o início da participação das mulheres na literatura. Resposta Florbela foi uma das raras mulheres que teve acesso à educação superior. Quando se matriculou na Universidade de Direito, em 1917, era uma das 14 mulheres, entre 347 alunos inscritos, revelando o escasso nível deeducação entre as mulheres. Talentosa e bela, rapidamente se tornou notada. As suas obras de poesia, cuja lírica forte e impressiva se impunha na poesia da sua época, mostravam um lado feminino pouco usual na literatura, como o desamor. Florbela Espanca (1894 - 1930) https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Picture_of_Florbela_Espanca.jpg Só depois da sua morte é que viria a ser conhecida do grande público. Não seguiu claramente qualquer movimento. Não se apegou às gerações modernistas. Segundo a crítica, pratica um “Neorromantismo de caráter confessional”. Sonetos aos moldes de Antero de Quental e Camões. Obras: Livro de Mágoas (1919), Livro de Sóror Saudade (1923), Charneca em Flor (1930), Reliquiae (1931), A Máscara do Destino (1931) e Dominó Negro (contos, 1931). Florbela Espanca Eu Eu sou a que no mundo anda perdida, Eu sou a que na vida não tem norte, Sou a irmã do Sonho, e desta sorte Sou a crucificada … a dolorida … Sombra de névoa ténue e esvaecida, E que o destino amargo, triste e forte, Impele brutalmente para a morte! Alma de luto sempre incompreendida!. Sou aquela que passa e ninguém vê … Sou a que chamam triste sem o ser … Sou a que chora sem saber porquê … Sou talvez a visão que Alguém sonhou, Alguém que veio ao mundo pra me ver E que nunca na vida me encontrou! Sonetos de Florbela Espanca https://en.wikipedia.org /wiki/File:Florbela.jpg Minh'alma ardente é uma fogueira acesa, É um brasido enorme a crepitar! Ânsia de procurar sem encontrar A chama onde queimar uma incerteza! Tudo é vago e incompleto! E o que mais pesa É nada ser perfeito. É deslumbrar A noite tormentosa até cegar, E tudo ser em vão! Deus, que tristeza!... Aos meus irmãos na dor já disse tudo E não me compreenderam!... Vão e mudo Foi tudo o que entendi e o que pressinto... Mas se eu pudesse a mágoa que em mim chora Contar, não a chorava como agora, Irmãos, não a sentia como a sinto!... O meu impossível https://en.wikipedia.org /wiki/File:Florbela.jpg Segundo José Régio: “...viveu a fundo esses estados quer de depressão, quer de exaltação, quer de concentração em si mesma, quer de dispersão em tudo, que na sua poesia atingem tão vibrante expressão...” “...Também de certo aparecem na nossa poesia autênticas poetisas, antes e depois de Florbela. Nenhuma, porém até hoje, viveu tão a sério um caso tão excepcional, e, ao mesmo tempo, tão significativamente humano...tão expressivamente feminino...” Documentário: https://youtu.be/3NVrSMq2u0Q Fanatismo - musicado por Fagner https://youtu.be/o8P6kLRih34 Florbela Espanca Judite dos Reis Ramos Teixeira (Pseudónimo: Lena de Valois). Escritora do modernismo português. Em março de 1923 publicou sua primeira coletânea de poesia, “Decadência”, e foi alvo de uma polêmica sobre a (i)moralidade da arte, a qual envolveu também Antônio Botto e Raul Leal. Apesar do escândalo, publicou mais dois livros de poesia, Castelo de Sombras (1923) e Nua. Poemas de Bizâncio (1926), e duas novelas publicadas sob título de Satânia (1927). Judite Teixeira (1880 - 1959) https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Judith_Teixeira.png Caso raro, Judith foi diretora da revista Europa em 1925 e escreveu uma palestra, intitulada De mim, em que se explicam as razões sobre a Vida, sobre a Estética, sobre a Moral (1926). Provavelmente o único manifesto artístico modernista de autoria feminina no início do século XX em Portugal. Sua obra foi ignorada e censurada. Somente a partir de 1996 voltou ao cenário literário. Em 2015, a editora Dom Quixote fez uma edição de cinco obras de poesia e prosa que Judith Teixeira publicou em vida, conjuntamente com vinte poemas desconhecidos e uma conferência inédita. Judite Teixeira https://sites.google.com/site/poesiadalusof onia/judith-teixeira/judith-teixeira-in- coracao-arquivista Liberta Noutros cenários a minha alma vive! Outros caminhos... Por outras luzes iluminada! - Eu vim daquele mundo onde estive tanto tempo emparedada... Andavam de negro As minhas horas... A esquecer-me da vida - Não me encontrava! Meus sonhos amortalhados Em crepúsculo, A noite não os levava! Um entardecer triste e doloroso Enrubesceu o céu! E o meu olhar ansioso Fundiu-se no teu! E as tuas lindas mãos, Esguias e nevróticas, Pintam-me telas rubras Bizarras e exóticas De largos horizontes... Hoje, ergue-me a ânsia enorme De outras horas viver! - Sensualizando a vida, Descobrindo novas fontes De dor e de prazer... - Judith Teixeira, in 'Decadência' Irene do Céu Vieira Lisboa foi professora primária e estreou na literatura em 1926 com o livro “Contarelos”. Faz parte da segunda geração modernista, do Presencismo. Publicou prosa ficcional e obras de Pedagogia. Seu estilo é marcado pela oralidade e pela naturalidade, assim como um tom intimista e, muitas vezes, autobiográfico. Sua lírica rompe com os cânones da poesia e da lírica tradicional, dando lugar ao verso livre. Obras: Um dia e outro dia – Diário de uma mulher (1936), Uma mão cheia de nada, outra de coisa nenhuma (1955), O pouco e o muito(1956), Eu conto(1958); Crônicas da Serra (1962),entre outras. Irene Lisboa (1892 - 1958) Fonte: http://cvc.instituto-camoes.pt “Sofri muito tempo porque o meu mundo se reduzia ou se dilatava. Sofria de aperto. E hoje, mais do que nunca, sofro de irremediável solidão [...] Não me interessa moralizar, nem nunca me interessou; interessa-me ou apetece-me fechar um livro, vão como tudo quanto se escreve, com este desabafo: mundos perdidos, mundos perdidos, tudo que se não conheceu e nos faltou... Mas mundo morto e conhecido, submergido, conosco afogado, unidade incômoda e dolorosa, este, da irremediável solidão.” (Irene Lisboa, “O pouco e o muito” apud MOISÉS, 1981, p. 265, 266) “No convento onde fui internada aos seis anos, as coisas passavam-se de um outro modo. Lá não havia passeios nem liberdades, tudo era triste. Tanto assim que as férias me davam arrebatamentos. Foi para entrar no convento que me batizaram. Sem filiação e com o sobrenome de... Céu. Por que fui eu do Céu? Nunca o soube.” (Irene Lisboa, Começa uma vida) Irene Lisboa Quanto à produção feminina no início do século XX, assinale a alternativa correta: a) Irene Lisboa ficou conhecida por seguir os cânones da poesia e da lírica tradicional. b) Florbela Espanca adere ao modernismo, seguindo os ideais de ruptura da primeira geração. c) Segundo José Régio, Florbela Espanca distanciou-se da essência da poesia feminina ao escrever seus sonetos. d) Judite Teixeira foi alvo de polêmicas e sua primeira coletânea de poesias “Decadência” foi considerada imoral. e) Irene Lisboa, uma renomada presencista, destaca-se por sua linguagem hermética e filosófica. Interatividade Quanto à produção feminina no início do século XX, assinale a alternativa correta: a) Irene Lisboa ficou conhecida por seguir os cânones da poesia e da lírica tradicional. b) Florbela Espanca adere ao modernismo, seguindo os ideais de ruptura da primeira geração. c) Segundo José Régio, Florbela Espanca distanciou-se da essência da poesia feminina ao escrever seus sonetos. d) Judite Teixeira foi alvo de polêmicas e sua primeira coletânea de poesias “Decadência” foi considerada imoral. e) Irene Lisboa, uma renomada presencista, destaca-se por sua linguagem hermética e filosófica. Resposta A geração poética que, em Portugal, emergiu com o movimento em torno da revista Poesia 61, trouxe autoras que fariam uma completa revolução da poesia, contando-se entre elas Maria Teresa Horta (1937), Luiza Neto Jorge (1939-1989) e Fiama Hasse Pais Brandão (1938-2007). (Vozes que se confirmariam mais tarde na poesia portuguesa.) Foi, no entanto, o escândalo da publicação de As Novas Cartas Portuguesas, (1971), da autoria de Maria Teresa Horta, Isabel Barreno (1939) e Maria Velho da Costa (1938), que se tornou claro o poder que a literaturafeminina teve na década de 70. Documentário: https://youtu.be/IfsrkHQ_p8I. O livro revelou ao mundo a existência de situações discriminatórias agudas em Portugal relacionadas com a repressão ditatorial, o poder do patriarcado católico e a condição da mulher (Conteúdo erótico e político). Poesia 61 Após o 25 de Abril de 1975 , as vozes femininas impuseram-se na literatura portuguesa, tanto na poesia quanto na ficção. Algumas poetas e/ou ficcionistas: Isabel da Nóbrega, Agustina Bessa-Luís, Maria Ondina Braga, Maria Gabriela Llansol, Lídia Jorge, Hélia Correia, Teolinda Gersão. Maria Velho da Costa, Ana Hatherly, Sophia de Mello Andersen, Natália Correia. Luiza Neto Jorge, Eduarda Chiote, Isabel de Sá, Rosa Alice Branco, Ana Luísa Amaral, Helga Moreira, Adília Lopes, Alice Vieira, entre outras. Após 25 de abril Fonte: https://i2.wp.com/rede.outraspalavra s.net/outras/files/2012/04/cravos.jpg Considerada uma das poetisas portuguesas mais importantes. Após o 25 de Abril, viria a desempenhar funções políticas que a transformaram numa das mulheres que marcaram o período pós-revolucionário. Poesia de excepcional pureza lírica, marcadamente moderna. “Exaltação lírica: dor, loucura, desilusão pela ausência do ser amado. As palavras em Sophia possuem encanto, sedução e afetividade. Revelam desejos e, sobretudo, a procura da verdade e da plenitude.” G. Betsy Também escreveu literatura infantil. Site: http://purl.pt/19841/1/ Veja documentário: https://youtu.be/s0MhPfK1OjY Sophia de Mello Breyner Andresen (1919 - 2004) http://lounge.obviousmag.org/de_dentro_da_cartola/2 015/07/sophia-de-mello-breyner-andresen.html Sophia de Mello Breyner Andresen Terror de Te Amar Terror de te amar num sítio tão frágil como o mundo Mal de te amar neste lugar de imperfeição Onde tudo nos quebra e emudece Onde tudo nos mente e nos separa. Que nenhuma estrela queime o teu perfil Que nenhum deus se lembre do teu nome Que nem o vento passe onde tu passas. Para ti eu criarei um dia puro Livre como o vento e repetido Como o florir das ondas ordenadas. Poetisa, jornalista e figura pública. Organizou tertúlias e encontros entre poetas e escritores . Protagonizou momentos de resistência ao Salazarismo. Poesia lírica, surrealista e erótica. Algumas obras: Poemas (1954), Cântico do País imerso (1961), Antologia da Poesia Portuguesa Erótica e Satírica, considerada ofensiva dos costumes, (1966). Natália Correia (1923 - 1993) http://tezturas.pt/natalia-correia-dia-da-mulher/ Natália Correia Balada para um Homem na Multidão Este homem que entre a multidão enternece por vezes destacar é sempre o mesmo aqui ou no Japão a diferença é ele ignorar. Muitos mortos foram necessários para formar seus dentes um cabelo vai movido por pés involuntários e endoidece ser eu a percebê-lo. Sentam-no à mesa de um café num andaime ou sob um pinheiro tanto faz desde que se esqueça que é homem à espera que cresça a árvore que dá dinheiro. Alimentam-no do ar proibido de um sonho que não é dele não tem mais que esse frasco de vidro para fechar a estrela do norte. E só o seu corpo abolido lhe pertence na hora da morte. Natália Correia, in "O Vinho e a Lira" Maria Teresa de Mascarenhas Horta nasceu em Lisboa. Poetisa e escritora Segundo Natália Correia: “Com ela decaem os últimos tabus do erotismo encarado do ponto de vista feminino... Assume-se como liberta e dá voz à sua sensualidade...” Algumas obras: Espelho Inicial (1960), Tatuagem (1961), Novas cartas portuguesas (1971)(conjunta), Poesia Reunida (1960-2006),As Palavras do Corpo (Antologia de poesia erótica) (2012),Poemas para Leonor (2012), Poesis (2017), As Luzes de Leonor (2011), A Dama e o Unicórnio (2013), Meninas (2014), entre outras. Maria Teresa Horta (1937- ) https://www.escritas.org/pt/maria-teresa-horta Maria Teresa Horta Mãe mãe terminou o tempo de sorrir desculpa-me a morte das plantas tatuei a tua antiga imagem loura em todos os pulsos que anjos inclinam de existires perdi-me noite na planície branca sobrevivente das madrugadas da memória trocaram-me os dias e as ruas de ancas verticais e nas minhas mãos incompletas trouxe-te um naufrágio de flores cansadas e o único jardim de amor que cultivei de navios ancorados ao espaço Maria Teresa Horta, in 'Antologia Poética' Maria José da Silva Viana Fidalgo de Oliveira, poetisa, cronista e tradutora. Estreou na literatura em 1985, com o livro Um jogo bastante perigoso. Possui mais de 30 livros publicados. É uma das poetisas em maior evidência na atualidade. A Pão e Água de Colónia (1987) , O Marquês de Chamilly (1987), O Decote da Dama de Espadas (1988), Os 5 Livros de Versos Salvaram o Tio (1991),O Peixe na Água (1993), A Bela Acordada (1997), Clube da Poetisa Morta (1997), Florbela Espanca espanca (1999), A mulher-a-dias (2002), entre outras. https://www.poetryinternationalweb.net /pi/site/poet/item/4640/11/Adilia-Lopes Adília Lopes (1960-) Adília Lopes Arte Poética Escrever um poema é como apanhar um peixe com as mãos nunca pesquei assim um peixe mas posso falar assim sei que nem tudo o que vem às mãos é peixe o peixe debate-se tenta escapar-se escapa-se eu persisto luto corpo a corpo com o peixe ou morremos os dois ou nos salvamos os dois tenho de estar atenta tenho medo de não chegar ao fim é uma questão de vida ou de morte quando chego ao fim descubro que precisei de apanhar o peixe para me livrar do peixe livro-me do peixe com o alívio que não sei dizer Adília Lopes, in 'Um Jogo Bastante Perigoso' Leia as afirmações a seguir e assinale a alternativa correta. I. O livro “Novas Cartas portuguesas” foi um marco para a literatura feminina por explicitar a repressão ditatorial e a condição da mulher durante o Salazarismo. II. Após a Revolução dos Cravos, a literatura feminina concentrou-se na produção poética, já que não havia espaço para a prosa. III. Após 1960, a poesia feminina apresenta diferentes vertentes, entre elas o lirismo, o surrealismo e erotismo. Está correto o que se diz: a) Apenas em I. b) Apenas em II. c) Apenas em III. d) Apenas em I e II. e) Apenas em I e III. Interatividade Leia as afirmações a seguir e assinale a alternativa correta. I. O livro “Novas Cartas portuguesas” foi um marco para a literatura feminina por explicitar a repressão ditatorial e a condição da mulher durante o Salazarismo. II. Após a Revolução dos Cravos, a literatura feminina concentrou-se na produção poética, já que não havia espaço para a prosa. III. Após 1960, a poesia feminina apresenta diferentes vertentes, entre elas o lirismo, o surrealismo e erotismo. Está correto o que se diz: a) Apenas em I. b) Apenas em II. c) Apenas em III. d) Apenas em I e II. e) Apenas em I e III. Resposta Destacou-se no panorama da literatura portuguesa contemporânea pela sua vasta obra, inovadora e crua. Poetisa, romancista, contista, dramaturga. Casada com o escritor Urbano Tavares Rodrigues, conheceu o exílio entre 1949 e 1955, tendo vivido entre a França e a Bélgica. A sua linguagem depurada e “limpa”, abordando temas como a angústia e a solidão, foi certamente muito influenciada pelo existencialismo, que conheceu de perto enquanto viveu fora de Portugal. Há nela uma consciência em movimento. Algumas obras: Tanta gente, Mariana (1959); Paisagem sem Barcos (1963) , Armários Vazios (1966), A Flor Que Havia na Água Parada (poemas). 1998. Ver vídeo: https://youtu.be/RLhb3pg-Bww Maria Judite de Carvalho (1921 - 1998) https://debategraph.org/De tails.aspx?nid=309094 A criança estava perplexa. Tinha os olhos maiores e mais brilhantes do que nos outros dias, e um risquinho novo, vertical, entre as sobrancelhas breves. «Não percebo», disse. Em frente da televisão, os pais. Olhar para o pequeno écran era a maneira de olharem um para o outro. Mas nessa noite, nem isso. Ela faziatricô, ele tinha o jornal aberto. Mas tricô e jornal eram álibis. Nessa noite recusavam mesmo o écran onde os seus olhares se confundiam. A menina, porém, ainda não tinha idade para fingimentos tão adultos e subtis, e, sentada no chão, olhava de frente, com toda a sua alma. E então o olhar grande, a rugazinha e aquilo de não perceber. «Não percebo», repetiu. «O que é que não percebes?» disse a mãe por dizer, no fim da carreira, aproveitando a deixa para rasgar o silêncio ruidoso em que alguém espancava alguém com requintes de malvadez. «Isto, por exemplo.» «Isto o quê» «Sei lá. A vida», disse a criança com seriedade. Perplexidades O pai dobrou o jornal, quis saber qual era o problema que preocupava tanto a filha de oito anos, tão subitamente. Como de costume preparava-se para lhe explicar todos os problemas, os de aritmética e os outros. «Tudo o que nos dizem para não fazermos é mentira.» «Não percebo.» Ora, tanta coisa. Tudo. Tenho pensado muito e...Dizem-nos para não matar, para não bater. Até não beber álcool, porque faz mal. E depois a televisão...Nos filmes, nos anúncios...Como é a vida, afinal?» A mão largou o tricô e engoliu em seco. O pai respirou fundo como quem se prepara para uma corrida difícil. «Ora vejamos,» disse ele olhando para o tecto em busca de inspiração. «A vida...» Mas não era tão fácil como isso falar do desrespeito, do desamor, do absurdo que ele aceitara como normal e que a filha, aos oito anos, recusava. «A vida...», repetiu. As agulhas do tricô tinham recomeçado a esvoaçar como pássaros de asas cortadas. Maria Judite de Carvalho in «O Jornal», 2-10-81 http://cvc.instituto-camoes.pt/contomes/09/texto.html Perplexidades Maria Agustina Ferreira Teixeira Bessa. “Romancista privilegiada, sua poderosa imaginação tudo transfigura e vivifica a um só tempo, conferindo aos seres e aos objetos um halo de verdade e autenticidade provavelmente apenas possível no âmbito da Arte.” Massaud Moisés A Sibila, 1953, romance que a consagrou. Publicou mais de 40 romances, contos, crônicas, literatura infantil e peças de teatro. Documentário: https://youtu.be/HbMBPKD2mIg Agustina Bessa-Luís (1923-) http://www.vogaisecompanhia.pt/biografia-de-agustina-bessa-luis Retrata o universo feminino, em forma de memórias. Narra conspirações, corrupções e intrigas de parentes, criados, amigos e inimigos de Quina. Ocorrem críticas à burguesia rural e uma reflexão sobre a dimensão metafísica do ser humano. Quina não tinha poderes sobrenaturais, era apenas uma conselheira. A história do romance começa e termina com Germa, sua sobrinha, filha do irmão Abel, que representa uma geração já urbana, desenraizada dum espaço a que Quina sempre se sentira presa. “Germana, sua prima (de Bernardo), era por seu lado, um tipo fatídico das degenerescências, o artista, o produto mais gratuito da natureza e que se pode definir como uma inutilidade imediata. Era ela uma criatura paciente, tímida, e que inspirava confiança sem limites. Os artistas, que, em geral, se fazem notar pela sua excêntrica banalidade e que se distinguem dos burgueses porque vivem as extravagâncias que os burgueses reprimem em si próprios, não se pareciam nada com Germa.” (p. 8) A Sibila Romancista de grande sucesso, com mais de 30 obras (romances, contos, literatura infantil, teatro, ensaios). Vários prêmios, várias traduções. Hoje é professora universitária e colaboradora de vários jornais e revistas. As mudanças da sociedade portuguesa e a condição feminina são alguns de seus temas. Experimentalismo, resgate da oralidade e elementos fantásticos são alguns recursos estéticos. Site: http://www.lidiajorge.com/. O Vento Assobiando nas Gruas (2002) venceu o Grande Prêmio de Romance e Novela da Associação Portuguesa de Escritores em 2003. Aborda a relação entre uma mulher branca com um homem africano e o seu comportamento perante uma sociedade de contrastes. Lídia Jorge (1946-) http://www.postal.pt/2018/04/90025 “Aquilo que vi em primeiro lugar não foi propriamente o homem, mas o seu malote, um prisma de cabedal impecável com seu fecho de metal dourado e sua asa espessa, abandonado no chão, e um saco porta-fatos do mesmo material estendido sobre uma cadeira. Só depois compreenderia que a pessoa que se encontrava de costas, sentada no meio desses pertences de luxo, era o grandalhão. Isto significava que eu estava chegando ao hotel com uma hora de avanço, e que ele ainda havia chegado primeiro, o que não deixava de ser embaraçoso. Comecei então a consultar o relógio e a agenda, pensando que o rumor que faria atrás de si fosse suficiente para que se virasse e me visse, e ato contínuo se iniciasse ali o encontro. Mas tal não aconteceu.” (JORGE, Lídia. O belo adormecido, contos, Dom Quixote, 2004, p. 4) O belo adormecido Escritora e jornalista de grande relevância na atualidade. Publicou 18 livros, entre os quais se destacam 7 romances: A Instrução dos Amantes, Nas Tuas Mãos (Prêmio Máxima de Literatura), Fazes-me Falta, A Eternidade e o Desejo (finalista do Prémio Portugal Telecom 2009 e do Prémio Correntes d' Escritas 2010), Os Íntimos (Prêmio Máxima de Literatura), Dentro de Ti Ver o Mar e Desamparo (2015). Nas Tuas Mãos (1997) Diário de Jenny, Cartas de Natália, Álbum de Camila. Site: http://www.inespedrosa.com/biografia.html. Inês Pedrosa (1962- ) https://www.delas.pt/ines-pedrosa-ainda- nao-sou-tao-livre-quanto-gostaria-de-ser “Nas Tuas Mãos é constituído pela autobiografia de três mulheres oriundas das décadas de quarenta, sessenta e oitenta, e com elas comprometidas. Jenny, Camila e Natália são, respectivamente, avó, filha/mãe e neta, cada uma com a sua história incomum, mas unidas tanto nas vidas quanto nos discursos pela exaltação do poder do sentimento e o triunfo deste sobre o apelo do corpo.... é um romance sobre todos, mas prioritariamente sobre mulheres. A este respeito dá que pensar o livro de Inês Pedrosa. As feministas dos anos sessenta devem trocar olhares curiosos com Inês, feminista dos anos noventa. Onde estão as fórmulas do vigor emancipativo que atravessaram o discurso de há trinta anos, ou mesmo de há vinte anos atrás?” Lídia Jorge, texto de apresentação de Nas Tuas Mãos. Livraria Barata, Julho 1997. Publicado no Jornal de Letras a 13/08/1997. Nas Tuas Mãos “Tudo o que há para saber do amor é deslumbrada aceitação. Não se aprende a amar, Camila; não há vontade democrática capaz de espalhar a paixão pelas bolsas de pobreza onde ela não chega, nem fábricas capazes de a produzir em peças, para montagem, construção ou exportação. Não há nada de justo nesse sentimento: a justiça, aliás, não passa de um espetáculo de ordenação do mundo, um circo que inventámos para substituir a irracional lei do coração. Não procures explicação para a minha vida, nem a tomes com pena ou escândalo; quando eu ficar tão velha que pareça louca, lê nestes cadernos que eu fui feliz. Não te preocupes como ou quanto, nem caias na tentação de distinguir amor e paixão: a pouco e pouco, fui vendo que essas divisões são armadilhas que se montam para que o pano caia sobre os nossos olhos e a imortalidade desapareça do nosso horizonte. O amor, Camila, consiste na divina graça de parar o tempo. E nada mais se pode dizer sobre ele.” (p. 20-21) Nas Tuas Mãos “A partir do novo século são muitas as vozes femininas e jovens que tendem a impor-se na poesia portuguesa, como Ana Marques Gastão, Margarida Vale de Gato, Filipa Leal, Rita Taborda Duarte, Margarida Ferra, Inês Fonseca Santos, Raquel Nobre Guerra, Cláudia R. Sampaio, Rosalina Marshall, Golgona Anghel, Rosa Oliveira, Cláudia Lucas Chéu. ” “Do feminino na Literatura portuguesa”, Maria João Cantinho Disponível em https://revistacaliban.net/a-literatura-feminina-em-portugal-480d17ecbe04 Novas escritoras As romancistas apresentadas retratam, cada uma a seu modo, o universo feminino.Contudo, apenas uma delas traz elementos fantásticos para sua obra, como influência do realismo-fantástico latino-americano. Assinale a alternativa correta: a) Agustina Bessa Luís. b) Maria Judith de Carvalho. c) Lídia Jorge. d) Inês Pedrosa. e) Adília Lopes. Interatividade As romancistas apresentadas retratam, cada uma a seu modo, o universo feminino. Contudo, apenas uma delas traz elementos fantásticos para sua obra, como influência do realismo-fantástico latino-americano. Assinale a alternativa correta: a) Agustina Bessa Luís. b) Maria Judith de Carvalho. c) Lídia Jorge. d) Inês Pedrosa. e) Adília Lopes. Resposta ATÉ A PRÓXIMA!
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