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Ditatura Militar e Nova República (Livro-Texto Unidade II) - UNIP

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62
Unidade II
Unidade II
5 GOVERNO COSTA E SILVA (1967-1969)
Em 15 de março de 1967, Castelo Branco entregou a faixa presidencial a Arthur da Costa e Silva. Seu 
discurso foi bastante comedido em torno de suas qualidades para o cargo:
Trago, pois, para exercício da Presidência, uma larga lição de experiência 
— propiciada pela ação direta, pela observação e pela reflexão — do 
trato da coisa política, que requer paciência e tolerância contínuas, e 
do trato da coisa pública, que impõe esforço constante de inteligência, 
coragem e tenacidade. Acima de tudo, trago preparados espírito e 
coração. Confio em que não decairei, jamais, da confiança dos meus 
concidadãos e da rica herança que recebo das mãos honradas de Vossa 
Excelência. E peço a Deus que me conceda a graça de ser sempre justo 
e isento, firme na palavra empenhada e inflexível na ação necessária, 
e consagre a minha esperança de fazer pelo Brasil o que ele espera e 
merece (COSTA E SILVA, 1967a).
Em 31 de março de 1967, passados três anos do golpe civil-militar, o presidente lançou seu primeiro 
discurso para a imprensa nacional e internacional. Aqui, apresentou temas de grande impacto:
Hoje, 31 de março, completam-se 3 anos da vitória do movimento 
que, em 1964, irmanou a opinião pública brasileira ao pensamento 
e à ação das Forças Armadas na tentativa bem-sucedida de salvar a 
democracia de um naufrágio que parecia àquela altura irremediável. A 
escolha desta data para o meu reencontro com a imprensa livre de meu 
País não foi a casual e tem um sentido simbólico a nós que chefiamos 
o Movimento de 31 de Março no âmbito militar e que teríamos 
fracassado se não contássemos com a opinião pública e com os órgãos 
que a exprimem. A data de hoje é, portanto, igualmente dos Senhores 
e podemos, neste momento, mutuamente nos congratular pelo fato de 
estarmos comemorando nesta atmosfera de liberdade e confiança que 
em meu governo será mantida, no que depender de nós, até o último 
dia do mandato. [...]
Se a Revolução como processo heróico está encerrada, o que nela havia de 
substancial continuará no meu Governo e há de continuar, mercê de Deus, 
através dos mandatos dos presidentes que me sucederem.
63
DITADURA MILITAR E NOVA REPÚBLICA
LIBERDADE DE IMPRENSA
Concito os Senhores a que me ajudem a manter bem vivo este propósito, muito 
mais que uma intenção, um compromisso e um dever. A liberdade de imprensa 
é um dos pressupostos da democracia e para nós é sagrada. Procuraremos 
torná-la efetiva na medida em que o Governo assegure, como pretende, o 
acesso constante às fontes de informação, para que o povo possa saber o que 
estamos fazendo e julgar mais acertadamente os nossos atos. 
IMPOSTO DE RENDA
A primeira resposta do Presidente foi dada à pergunta relacionada com 
os planos de Governo para reduzir o ônus que representa para os menos 
favorecidos a cobrança do imposto de renda. Reafirmou as intenções do 
Governo de materializar a redução da cobrança do imposto, anunciando 
que já estava decidida a elevação do teto e a cobrança que atualmente 
incide sobre os salários, além de 150 cruzeiros novos, e que passará para 
quatrocentos ou quinhentos cruzeiros novos mensais. 
ERRADICAÇÃO DO ANALFABETISMO
Foi a segunda resposta relacionada com a erradicação do analfabetismo, à 
qual respondeu o Presidente que tal problema foi a tônica principal de todos 
os seus pronunciamentos. E afirmou que a situação em que se encontra o 
Brasil no setor educacional é realmente vergonhosa, pois apresenta o índice 
alarmante de cinqüenta por cento de analfabetos. E anunciou o lançamento 
de campanha de âmbito nacional visando a convocar todos os alfabetizados 
a transmitir seus conhecimentos aos analfabetos. [...]
ESTUDANTES E TRABALHADORES
Perguntado sobre se tinha planos de conciliação com trabalhadores e 
estudantes, respondeu afirmando ser desagradável que alguém perguntasse 
tal coisa. E frisou: — Essa conciliação existe naturalmente. Para que existe 
o Governo? Não é justamente para proporcionar o bem-estar de todas 
as classes? E quais são as classes que devem merecer especial atenção 
do Governo num país jovem como o Brasil, em pleno desenvolvimento? 
Justamente aqueles que trabalham, a classe dos trabalhadores. Aqueles 
que estudam. [...]
UNIÃO NACIONAL
Sobre os objetivos programáticos enunciados por alguns ministros, 
notadamente os Senhores Hélio Beltrão, Delfim Netto e Magalhães Pinto, 
64
Unidade II
e os objetivos também programáticos da Oposição, que revelam certa 
semelhança, respondeu dizendo que o governo de um país não é somente 
uma parte política, mas é um todo que compreende inclusive, a oposição, 
porque a oposição é fiscalização, é crítica e ninguém pode ter a pretensão de 
acertar sempre, e concluiu à resposta afirmando que haverá união nacional 
em todos os problemas máximos.
PODER SOBERANO DO CONGRESSO
Ao esclarecer as relações do Executivo com o Legislativo, afirmou não crer 
que o Executivo precisasse estimular o Congresso para votação e solução 
de determinadas leis que implicam profundas modificações e com grandes 
resultados para determinadas classes. [...]
GOVERNARÁ DE BRASÍLIA
Ao perguntar ao Presidente Costa e Silva se pretendia mesmo governar 
de Brasília, o Jornalista Heron Domingues afirmou que Brasília era uma 
ilha sem comunicações. Respondendo, o Presidente disse que mesmo no 
Rio de Janeiro, às vezes querendo falar com São Paulo, a telefonista pede 
doze horas de espera. E prosseguiu: Aqui em Brasília não esperarei mais do 
que meia hora. Esta posição do Governo não representa isolamento. Falo, 
agora, com Recife, se quiser. Brasília existe, não iremos deixar que Brasília se 
transforme em tapera (COSTA E SILVA, 1967b).
A entrevista é reveladora de alguns pontos e propósitos interessantes que voltam à tona: uma 
primeira fase da “revolução” associada ao militarismo, ao povo e também pela opinião pública, 
ou seja, os órgãos de imprensa. Nesse sentido, defende calorosamente a liberdade de imprensa, 
“um dos pressupostos da democracia e para nós é sagrada”. A justificativa da democracia é 
dada pela liberdade de imprensa – semelhante ao que fez Castelo Branco. A temática do povo 
levantada é a da cobrança de impostos (no caso, imposto de renda), reflexo claro dos ajustes 
feitos pelo Paeg e que resultavam em aumento do custo de vida dos trabalhadores. Ao mesmo 
tempo, um projeto social importante dos 21 anos dos militares no poder, o fim do analfabetismo, 
é levantado para acabar com “cinquenta por cento de analfabetos”. Na perspectiva de garantir a 
governabilidade, argumenta ainda que o governo trabalha para o bem de todos procurando trazer 
para si os interesses dos trabalhadores e estudantes, gerando, em última instância, uma forte 
união nacional – até mesmo com projetos semelhantes aos da oposição. Por isso que o próprio 
Congresso, em suas palavras, não precisa ser estimulado a promover as leis e dá a impressão de 
que não será necessário intervir no Legislativo. Por fim, o comentário acerca de Brasília revela a 
capital ainda pouco atuante, em torno da enorme efervescência do eixo Rio-São Paulo em termos 
socioeconômicos e de forte presença de opositores ao regime militar.
 
65
DITADURA MILITAR E NOVA REPÚBLICA
Figura 16 – A posse do presidente Arthur da Costa e Silva
 Observação
O exercício analítico dos primeiros discursos de Arthur da Costa e Silva 
contrastam com a imagem tradicional de um militar de linha-dura bastante 
associado às Forças Armadas. Qual tipo de construção tentava-se fazer aqui?
Costa e Silva era, sem dúvidas, completamente diferente de Castelo Branco. Como descreve 
Boris Fausto:
Apesar de ter sido ministro da Guerra de Castelo Branco, Costa e Silva era uma 
figura estranha ao grupo de Sorbonne. O “tio velho”, como era chamado pelos 
conspiradores de 1964, fizera uma carreira militar sólida, incluindo desde 
meses de treinamento nos Estados Unidos até o comando do IV Exército, 
nos anos tensos de 1961-1962. Seu estilo, porém, não coincidia com o dointelectualizado Castelo. Ele não se interessava por leituras complicadas 
sobre estratégia militar, preferindo coisas mais leves e corridas de cavalos. 
Mais significativo do que essa diferença de personalidades era o fato de que 
Costa e Silva concentrava as esperanças da linha-dura e dos nacionalistas 
autoritários das Forças Armadas. Estes estavam descontentes com a 
política castelista de aproximação com os Estados Unidos e de facilidades 
concedidas aos capitais estrangeiros. Não havia, aliás, incompatibilidade 
entre ser “linha-dura” e nacionalista. Existia até uma tendência à junção 
dessas orientações (FAUSTO, 2004, p. 476).
66
Unidade II
Uma demonstração evidente da força do militarismo em seu governo foi a escolha de seus ministros. 
Dos 18 cargos, 8 foram ocupados por militares. 
Na atuação econômica, o presidente convidou para o Ministério da Fazenda o economista da USP 
Antonio Delfim Netto. No geral, manteve a política econômica anterior, mas com uma mudança em dois 
sentidos, como explica Jennifer Hermann:
(1) o controle da inflação passou a enfatizar o componente de custos, em vez 
da demanda, já que a economia operou em ritmo de stop and go nos três anos 
de governo do Castelo Branco; e (2) por isso mesmo, o combate à inflação 
deveria ser conciliado com políticas de incentivo à retomada do crescimento 
econômico. Essa reorientação atendia à já mencionada necessidade de o 
governo militar legitimar-se no poder como uma alternativa melhor para 
o país que a do governo deposto, marcado pela tendência à estagflação 
(HERMANN, 2011a, p. 64).
A economista explica que a política fiscal e salarial foi mantida, mas cresceu a expansão monetária 
apesar do controle de preços – regulamentado pela Comissão Nacional de Estabilização de Preços 
(Conep) e depois pela Comissão Interministerial de Preços (CIP).
Em 1968 o governo lançou o Plano Estratégico de Desenvolvimento (PED), caracterizado por garantir 
a estabilização dos preços, fortalecimento das empresas privadas, desenvolvimento da infraestrutura e 
ampliação do mercado interno. Eram passos importantes para a condução do Estado e para a formação 
do “milagre brasileiro”.
Na atuação política, a ditadura militar já vivia dias de contradições. A perpetuação do militarismo 
já estava bastante evidente. E isso produziu a mudança de lado de antigos apoiadores. As lideranças 
civis foram se afastando. Se o golpe de 31 de março era para garantir a democracia, onde ela estava? 
Juscelino Kubitschek já havia sido cassado – candidato natural às eleições que se esperava em 1965. 
Das lideranças estaduais, Adhemar de Barros, governador de São Paulo, acusado de corrupção, também 
foi levado ao mesmo caminho. O antigo apoiador do golpe, Carlos Lacerda, insatisfeito com o fim das 
eleições diretas, foi o próximo cassado. O importante líder civil de 1964 e ex-governador de Minas 
Gerais, Magalhães Pinto, não foi cassado, mas perdeu, completamente, sua força política – se escondeu 
da vida pública.
O descontentamento gerou oposição, como explica Reis Filho:
Havia uma oposição democrática moderada, principalmente nos grandes 
centros urbanos, que defendia a restauração do statu quo anterior. 
Alinhavam-se aí políticos do Movimento Democrático Brasileiro (MDB) – 
único partido político oposicionista legal consentido pela ditadura –, apoiados 
por organizações da esquerda moderada, como o PCB, e segmentos da 
intelectualidade, cuja voz era potencializada pela posição que ocupavam em 
67
DITADURA MILITAR E NOVA REPÚBLICA
meios artísticos e culturais e também nos veículos de comunicação. Havia 
ainda outras forças que apoiaram o golpe, mas que se afastaram do regime 
por não se identificarem com seus propósitos e rumos atuais. Aí figuravam 
profissionais liberais e lideranças religiosas (REIS FILHO, 2014, p. 91).
Desse grupo variado, formou-se a Frente Ampla, com a participação de lideranças difíceis de acreditar 
que poderiam se unir em qualquer outro momento: Carlos Lacerda, Juscelino Kubitschek e João Goulart. 
Havia sido criada em 28 de outubro de 1966 e partiu da insatisfação de Carlos Lacerda. Na época, 
obteve o apoio de Jango, exilado no Uruguai, e de JK, voluntariamente presente em Portugal. Tudo ficou 
pronto em 4 de setembro de 1967. Suas propostas centrais eram a anistia imediata de todos os políticos 
contrários ao regime militar; a elaboração de uma nova constituição de viés democrático pleno; e a 
imediata formação de eleições diretas. Conseguiu certa projeção, principalmente no Rio de Janeiro, mas 
o fato de reunir lideranças muito divergentes, como Lacerda e Jango, gerava grandes debates acerca de 
sua real eficácia. Durou pouco tempo:
Os últimos suspiros da Frente Ampla deveram-se aos arroubos verbais de 
Lacerda. Já no final do ano estava moribunda. Quando veio sua extinção, por 
uma portaria do Ministério da Justiça, em 5 de abril de 1968, a Frente tinha 
pouca importância no cenário político.
Foi a última tentativa de oposição civil, democrática, ao regime. O seu 
fracasso foi também o dobre de finados de João Goulart, Juscelino 
Kubitschek e Carlos Lacerda. As velhas lideranças não mais conseguiam dar 
conta da complexa conjuntura, e saíram, ainda que precocemente, da vida 
política para entrar na história (VILLA, 2014, p. 117).
O histórico de repressão e domínio foi uma das mais importantes marcas do regime militar. Um dos 
elementos centrais, nesse sentido, foi o de Golbery do Couto e Silva. Como analisam Guilherme Mota e 
Adriana Lopez:
O novo governo militar criou um instrumento de inteligência muito temido, 
que marcou todo o período ditatorial: o Serviço Nacional de Informações (SNI), 
inspirado pelo general Golbery do Couto e Silva, militar intelectualizado da 
Escola Superior de Guerra. O SNI multiplicou seus tentáculos por todo o país, 
passando a vigiar e inspecionar secretamente a vida de muitos cidadãos, 
até mesmo das Forças Armadas, especializando-se em escutas telefônicas, 
em seguir “suspeitos” e outros expedientes. “Criei um monstro”, dirá, na 
virada dos anos 1970, o general Golbery, ele próprio agora vigiado pelos 
remanescentes da “linha-dura” do regime em crise. Ironias da história 
(MOTA; LOPEZ, 2015, p. 794).
O SNI foi criado ainda no governo Castelo Branco, em 25 de junho de 1964, e seria, nas palavras de 
Golbery (apud VILLA, 2014, p. 64), “o ministério do silêncio e uma janela aberta aos influxos dos mais 
68
Unidade II
sutis da opinião pública.” . Nos seus 21 anos de funcionamento, teve cinco chefes, sendo que dois foram 
presidentes do país: Médici e Figueiredo.
Já se nota que a SNI foi um instrumento extremamente importante na construção de um aparato 
repressivo àqueles que eram contrários ao regime ditatorial militar. 
A força para ser uma oposição forte a esse poder de opressão não era facilmente encontrada. 
Um movimento democrático radical teve base com os estudantes. Com apoio de alguns setores da 
Igreja Católica, associados à teologia da Libertação, ou seja, da ação missionária indo além da mensagem 
religiosa, em busca da transformação real socioeconômica, cresceram em busca da denúncia da repressão. 
Uma vertente bastante importante da Igreja nesse sentido foi a atuação de Dom Hélder Câmara. 
A maior luta que se estabelecia para esse grupo era pelo fim da ditadura. Faziam manifestações nas 
ruas, esperavam que a mudança seria alcançada. A prisão autoritária, os abusos de poder, o fim das 
eleições diretas eram exemplos evidentes de que a mudança era mais que necessária.
Ao mesmo tempo, essa ação estava associada, diretamente, ao sonho de amplas mudanças 
que ocorria no mundo dos anos 1960. Estabelecia-se, no dizer de Eric Hobsbawm, uma verdadeira 
revolução cultural. O mundo que até então era dominado por adultos, passou a ver grandes 
transformações nas casas, com a propagação de divórcios, de abortos, de pessoas que decidiam 
viver só ou ainda da homossexualidade. No campo da política, alguns países como Estados Unidos, 
Grã-Bretanha, Alemanha e França passaram,aos poucos, a baixar a idade eleitoral para dezoito 
anos. No campo econômico, o rápido avanço tecnológico dava à juventude ampla vantagem 
em relação aos mais velhos – conseguiam lidar com as novas ferramentas de maneira muito 
mais breve, o que resultava em melhores resultados para as empresas. Consequentemente, os 
computadores eram projetados para pessoas de vinte e poucos anos.
Daqui, crescem dois elementos indispensáveis à compreensão desse tempo: o rock e o blue 
jeans. O novo estilo musical, com a morte precoce de grandes representantes, associado ao uso da 
roupa de destaque criada nas universidades estadunidense para, claramente, diferenciar-se da geração 
anterior “terminou aparecendo, em dias de semana e feriados, ou mesmo, no caso de ocupações 
‘criativas’ e outras avançadinhas, no trabalho, embaixo de muita cabeça grisalha” (HOBSBAWM, 
1995, p. 320)
Essa luta por autonomia adquiriu feições intelectuais, tendo como exemplo mais forte o 
movimento estudantil francês. Foi ali, nesse contexto, que o movimento feminista ganhou força, 
com a queima de sutiãs. A intelectualidade passou também a discutir outros parâmetros de limites 
impostos pela sociedade. Foi então que surgiu o importante cartaz “é proibido proibir”. “Liberação 
pessoal e liberação social, assim, davam-se as mãos, sendo sexo e drogas as maneiras mais óbvias 
de despedaçar as cadeias do Estado, dos pais e do poder dos vizinhos, da lei e da convenção” 
(HOBSBAWM, 1995, p. 326).
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DITADURA MILITAR E NOVA REPÚBLICA
Figura 17 – Mulher participa de queima de sutiãs
No Brasil, todo esse clima fez com que os movimentos estudantis estivessem associados a militantes 
de esquerda que “queriam não apenas se livrar da ditadura, mas destruir o sistema capitalista. Queriam 
a revolução social” (REIS FILHO, 2014, p. 92). O relato de Leoncio de Queiroz é fantástico:
A cultura que floresceu nos primeiros anos da ditadura, antes de ser sufocada 
na década de 70, somente foi possível como produto da liberdade existente 
durante os governos anteriores. Nós, que queríamos reinventar o Brasil e, 
depois, nos rebelamos contra a tirania entreguista, fomos a geração que leu 
Monteiro Lobato. 
Os anos que pegaram os governos do Juscelino e do Jango, com o curto 
entreato do Jânio Quadros, foram, seguramente, os de mais fecunda criação 
artística e cultural no Brasil – uma avalanche de talentos que se estendeu 
e repercutiu até os primeiros tempos da ditadura. O clima de liberdade de 
criação e edição, a ausência de censura e o elevado crescimento econômico 
durante o mandato do Juscelino, favoreceram um desenvolvimento sem 
precedentes das artes, em todas as suas manifestações, e do estudo social, 
histórico e econômico do Brasil. Nessa época surgiu a Bossa Nova e o Cinema 
Novo. A música popular constituiu um terreno particularmente fértil, 
com o surgimento de um grande número de compositores extremamente 
talentosos, para não dizer geniais, como Chico Buarque, Tom Jobim, João 
Gilberto, Carlos Lira, Geraldo Vandré, Sérgio Ricardo, Edu Lobo, Gilberto Gil 
e Caetano Veloso. Na pintura, sobressaíram Portinari e Di Cavalcante. Na 
arquitetura e no urbanismo, fomentados com a construção de Brasília, Oscar 
Niemeyer e Lúcio Costa. Na literatura, Jorge Amado, Guimarães Rosa, João 
Cabral de Melo Neto, Érico Veríssimo, Vinícius de Moraes e Clarice Lispector. 
70
Unidade II
Na dramaturgia, além da genialidade de um Nelson Rodrigues, o teatro 
engajado de Oduvaldo Viana Filho, no Rio, e de Gianfrancesco Guarnieri, em 
São Paulo. No cinema, destacaram-se Nelson Pereira dos Santos, Glauber 
Rocha, Cacá Diegues, Rui Guerra e outros – havia muitos diretores no 
Cinema Novo. 
A Geografia Humana teve seu expoente em Josué de Castro (A Geografia 
da Fome), a História, em Nelson Werneck Sodré e a antropologia, em Darcy 
Ribeiro. Resta mencionar os grandes educadores Paulo Freire e Anísio 
Teixeira e o economista que equacionou o problema do subdesenvolvimento 
brasileiro e criou a SUDENE – Celso Furtado. Esses homens eram pensadores 
brasileiros originais e não meros papagaios do que se propalava na matriz 
norte-americana, como a maioria dos economistas e sociólogos que fizeram 
carreira sob tacão da ditadura militar. 
Os nomes mencionados acima não pretendem esgotar o rol dos grandes 
intelectuais brasileiros, mas apenas relacionar os que foram mais 
representativos para aqueles tempos. 
Esses artistas e estudiosos eram, em sua grande maioria, comunistas, 
socialistas ou homens de esquerda. Ser de esquerda, aqui, significa 
preocupar-se com as condições de vida do povão e com a subordinação 
econômica do país. Toda essa efervescência cultural foi, burramente, 
censurada, combatida, perseguida, dispersada e aniquilada pela ditadura 
instaurada em 1964.
A geração cuja adolescência e juventude coincidiram com esse período, 
vivenciou um estimulo intelectual, uma colocação de novas ideias e 
uma sociedade em transformação rápida e positiva como nenhuma 
outra. Coube a ela questionar os tabus arraigados, preconceitos 
cristalizados e realizar uma revolução nos costumes e na mentalidade 
então predominantes. Esta foi a geração do feminismo, do amor livre 
e do antirracismo. Nos Estados Unidos, foi a geração da contestação 
pacifista à guerra do Vietnã, do movimento hippie e do poder negro. 
Foram os moços e moças dos anos 60 que lutaram pela igualdade de 
diretos entre homens e mulheres, conquistaram a liberdade sexual e 
começaram a deitar por terra os preconceitos raciais. 
Pode parecer estranho aos jovens de hoje, mas, em passado recente, as 
moças eram uma espécie de propriedade de seus pais, que tudo faziam 
para preservar-lhes a virgindade, como se nela se consubstanciasse toda 
a honra da família. Uma vez perdida essa condição e sendo impossível 
solucionar tudo com um casamento, a perda era amiúde incorporada 
à pessoa, que tornava-se uma “perdida” e era, com frequência expulsa 
71
DITADURA MILITAR E NOVA REPÚBLICA
de casa pelo pai, precisando muitas vezes recorrer à prostituição para 
sobreviver. É bem ilustrativo o título do filme de Roberto Farias: Toda 
Donzela Tem um Pai que é uma Fera. Na verdade, eram covardes, pois 
temiam a maledicência mais do que amavam a filha. As que conseguiam 
resistir e preservar o hímen tornavam-se, depois de casadas, dependentes 
dos maridos, que, não raramente, as proibiam de trabalhar. As mulheres 
não podiam viajar, nem ter conta bancária sem o consentimento 
daqueles. Se abandonassem o lar, perdiam o direito à guarda dos filhos. 
O adultério feminino era punido, não com o apedrejamento, mas quase: 
com a execração pública, o desquite e a perda da convivência com os 
filhos, quando não com a morte, pois o assassínio da mulher adúltera era 
aceito como “legítima defesa da honra”. 
Havia, nesse tempo, os que tentavam puxar para trás. Rapazes de terno, 
portando o estandarte do leão rompante, colhiam nas ruas assinaturas “contra 
o consumismo e o amor livre”. Embora em pequeno número, dispunham de 
consideráveis recursos. Esse grupo anacrônico autodenominava-se TFP – 
Tradição, Família e Propriedade – e ainda existe. [...]
A revolução cubana e o bravo exemplo de resistência do povo vietnamita 
contra as potências invasoras serviram de fonte inesgotável de inspiração à 
juventude daquela época e mesmo aos mais velhos. Aquele grupo corajoso 
de guerrilheiros sobreviveu ao desembarque do barco Granma, subiu a Sierra 
Maestra e resistiu aos ataques e ao cerco do exército regular da ditadura do 
Batista. Ganhou força, com o apoio popular, conquistou a vitória, expulsou 
os imperialistas e construiu o primeiro país verdadeiramente independente 
da América Latina. Cuba apresentou-se como um norte a ser seguido por 
todos os idealistas do continente. Igualmente, a luta indômita daquele povo 
baixinho do Vietnã contra os gigantes supernutridos da América do Norte, 
com seu sistema de túneis e de armadilhas na floresta, mostrava que o ser 
humano, o patriotismo, a unidade e a firmeza ideológica podem maisdo que 
uma sofisticada máquina de guerra. 
Essa geração 68, urdida no clima de liberdade intelectual do pós-guerra, 
submetida a uma criativa renovação cultural e com expectativas de 
progresso social inspiradas nas realidades cubanas e vietnamita sofreu todo 
o tipo de perseguição, sequestro, prisão, tortura, morte e desaparecimento. 
Contra ela, a direita militar, liderada por oficiais que tiveram seus neurônios 
lavados, escovados e engraxados em bases militares dos Estados Unidos, 
naquele país e no Panamá, deu dois golpes de Estado: um em 1964 e outro 
com o AI5. Pertenceram a ela os jovens que, em 1968, se insurgiram na 
França e na Alemanha e os que, após manifestações, foram massacrados no 
México, assim como os que protestaram nos Estados Unidos contra a guerra 
do Vietnã (QUEIROZ, 2011, p. 69-72).
72
Unidade II
A análise desse movimento, portanto, é ampla e de enorme riqueza. Como se percebe, está associado 
à cultura em transformação e, ao mesmo tempo, à ação de destruição do regime militar em busca do 
socialismo, sobretudo, de inspiração cubana.
O elemento a unir a luta por mudanças foi o movimento Calabouço, no dia 28 de março de 1968. Em 
uma manifestação estudantil em busca de melhorias na alimentação fornecida para estudantes pobres 
no restaurante Calabouço, no Rio de Janeiro, um estudante secundarista de apenas 18 anos de idade 
foi morto. Era Edson Luís de Lima Souto (conhecido como Edson Luís). Os estudantes levaram seu corpo 
pelo Rio de Janeiro até as escadarias da Assembleia Legislativa. A missa realizada na igreja da Candelária 
paralisou a cidade. Cartazes lançavam palavras de ordem como “Mataram um estudante. E se fosse seu 
filho?” e “PM: Pode Matar”. A indignação tomou conta. O relato de Airton Queiroz, um dos trabalhadores 
do Calabouço, é extremamente rico e rememora todo o processo:
O tiro que atingiu o estudante paraense de 18 anos, Edson Luís, não veio 
do alto.
Eu era comensal do Calabouço, pois, na época, já me tinha tornado um 
transposto político forçado, sem dinheiro, recém fugido do Nordeste, de onde 
passara meses na clandestinidade, por causa da perseguição da ditadura e 
motivado pela “queda” de membros dos Comitês Estadual e Universitário 
do Partidão (PCB) em Pernambuco, no segundo semestre de 1967. Eu era o 
Secretário Agitprop (Agitação e Propaganda) do Comitê Universitário.
O Calabouço era um complexo estadual de assistência estudantil, localizado 
em um velho prédio, alongado por um grande galpão ao lado da Avenida 
Marechal Câmara, no centro do Rio de Janeiro. Compreendia um verdadeiro 
universo de estudantes carentes de todas as partes do país e reduto de todas 
as esquerdas universitárias e secundárias.
Havia, no seu interior, oficinas de diferentes tipos de artesanato, de 
produção rústica de livros de poesia, “salas” de aula de tudo quanto era 
matéria comum e esotérica, cursinhos pré-vestibular, projeção rudimentar 
de filmes, grupos de teatro popular, de dança, muito namoro e amor livre e, 
claro, comida barata, que era o principal. No Calabouço, também existia o 
Instituto Cooperativo de Ensino, no qual, Edson Luís continuava seu curso 
secundário começado em sua Belém do Pará.
Comícios eram feitos quase todos os dias e noites, dentro e fora, num 
descampado situado à frente do galpão do Calabouço e delimitado pelo 
Edifício da Legião Brasileira de Assistência (LBA) e por muros de prédios que 
voltavam suas frentes para a Avenida General Justo.
Naquela fatídica quinta-feira, durante o jantar, no dia 28 de março de 1968, 
quando já passava das 18 horas, os estudantes havíamos marcado um ato de 
73
DITADURA MILITAR E NOVA REPÚBLICA
protesto e estávamos concentrados no descampado, no que seria seguido 
de uma passeata, contra o preço das refeições, além das péssimas condições de 
higiene e a lentidão das obras do Calabouço. Foi, então, que choques da 
Polícia Militar, de início com cassetetes, cercaram o descampado, vindos pela 
galeria do Edifício da LBA e pela Avenida Marechal Câmara e atacaram-nos 
em uma atitude bestial de espancamento com ordens de dispersão e 
abandono do local.
Como não queríamos abandonar a área, corremos para o interior do galpão 
do Calabouço e, daquele lugar, revidávamos com o varejamento de pedras 
da obra. A polícia reagiu com rajadas de fuzis e metralhadoras para o alto, 
como forma de intimidação. Em seguida, baixou a linha de disparos, que 
eram respondidos com mais pedradas nossas, no que resultou e, vários 
estudantes feridos e na tragédia da morte do estudante Edson Luís Lima 
Souto, assassinado com um tiro no peito, de pistola calibre 45, identificada 
depois, como do tenente Alcindo Costa, que comandava o Batalhão 
Motorizado da PM no local.
Após os tiros que atingiram o Edson, nós entramos em clamor, gritando 
que mataram um jovem, chamando os policiais de assassinos. Perdemos 
o medo da morte e avançamos contra eles, carregando o corpo de Edson 
Luís, quando, finalmente, a polícia, receosa, retirou-se, depois de ter feito 
outras vítimas, dentre elas o comerciário Telmo Henriques, com um tiro na 
boca, e um porteiro do INPS que passava pelas imediações e que também 
tombou morto.
Com Edson ainda com vida e sangrando muito, eu tentei influenciar a turba, 
na confusão do empurra-empurra, para que ele fosse levado, rapidamente, 
para ser atendido no Hospital da Santa Casa, que fica próximo ao local. 
Todavia, só consegui meu intento depois de passados alguns minutos 
preciosos. Ao lá adentrar, o médico, Dr. Luis Fortes, declarou que Edson já 
estava morto. 
Seu corpo, então, foi retirado da Santa Casa, sob protestos dos funcionários 
do hospital e carregado aos brados de “Abaixo a Ditadura Militar” e “Mataram 
um estudante, e se fosse seu filho?” No trajeto até a Cinelândia, o corpo 
de Edson, ainda sangrava. Foi conduzido, deitado, no alto, sustentado por 
vários braços que se revezavam, por uma multidão enfurecida de estudantes 
e populares que se incorporavam, pela Rua Santa Luzia.
Quando, por volta das 21 horas, seu corpo chegou, foi depositado no saguão 
da Assembleia Legislativa da Guanabara (hoje Câmara de Vereadores do 
Rio de Janeiro), onde foi velado, até o dia seguinte. Seu enterro, no dia 
29 de março de 1968, foi acompanhado por um cortejo gigantesco, até o 
74
Unidade II
Cemitério São João Batista. Deputados estaduais encheram-se de coragem 
e, em sessão noturna da Assembleia, extraordinariamente convocada, 
conclamavam o governador Negrão Lima a tomar medidas contra o ato 
infame e covarde. Vários de nós ficamos com nossas roupas tintas do sangue 
daquele jovem em plena flor da idade. Durante todo o resto da noite do 
dia 28, na madrugada e em toda a manhã e tarde do dia 29 de março, 
uma grande e crescente multidão se comprimia na Cinelândia. Ouviram-se 
muitos oradores, com os mais candentes discursos a vituperar a ditadura, 
exigir sua derrubada, reivindicar a volta das liberdades democráticas e 
denunciar vários outros crimes cometidos pelos golpistas de abril de 64.
Notem que estávamos a três dias do quarto aniversário da “gorilada” de 
1º de abril, ou a dois dias como entendiam eles, que se fixavam no dia 31 
de março, fugir do dia da mentira de que o golpe fora desfechado para 
restabelecer a democracia no Brasil. 
DURANTE TODO ESSE TEMPO, NEM SINAL DE POLÍCIA EM TODO O CENTRO 
DA CIDADE. Tínhamos a impressão de que a ditadura começava a cair. Isso 
era afirmado em muitos discursos. Que grande ilusão a nossa!
Irônica foi a resposta do covarde general Oswaldo Niemeyer, Superintendente 
da Polícia Executiva (depois demitido pelo Secretário de Segurança, general 
Dario Coelho, amando do governador Negrão de Lima), ao declarar ao Jornal 
do Brasil que a polícia estava inferiorizada em potência de fogo, comparada 
à estudantes (pedras).
Aquele foi um crime-símbolo que fez tremer todo o país e abalou a política 
nacional. Ofereceu-nos a liberdade, por um dia, de protestar sem a presença 
dos meganhas. Entretanto, constituiu-se, também, em marco da escaladade uma ditadura que marchava pela rota do endurecimento e da repressão 
crescentes. Dali a nove meses se gestava mais um golpe profundo, o nefando 
Ato nº 5, parido em 13 de dezembro (QUEIROZ, 2011, p. 161-163).
Ao mesmo tempo, em São Paulo, os estudantes organizaram manifestação com milhares na Faculdade 
de Medicina da Universidade de São Paulo, no Centro Acadêmico XI de Agosto da Faculdade de Direito 
do Largo São Francisco, na Escola Politécnica da USP ou ainda na Pontifícia Universidade Católica de 
São Paulo (PUC-SP).
Não demorou para que os estudantes associados à Igreja e a representantes da classe média do Rio 
de Janeiro conseguissem articular uma grande demonstração de força contra o regime militar e sua 
truculência: foi a passeata dos 100 mil, em 25 de junho de 1968. Destaque-se que o movimento também 
contou com artistas e intelectuais, como Paulo Autran, Chico Buarque, José Celso Martinez Corrêa, Betty 
Faria, entre outros. O relato de Dalva Bonet é bastante ponderado e elucidativo do evento:
75
DITADURA MILITAR E NOVA REPÚBLICA
Embora permitida, a passeata não deixou de ser vigiada. E também não 
faltaram os paranoicos, que viam uma bomba em cada esquina. Mas a 
manifestação foi tão impecável quanto o Festival de Woodstock. Reuniu a 
todos em um belíssimo protesto pacífico, mostrando ao Brasil e ao mundo 
que não éramos nós os que buscavam a guerra. Só queríamos de volta 
nossa legalidade, nossas liberdades democráticas, usurpadas pelos governos 
militares após o Golpe de 1964. 
Naquela noite, sim, porque ela durou o dia inteiro, voltamos para casa com 
a sensação do dever cumprido. Havíamos sido vitoriosos o povo estava nas 
ruas. Ledo engano... A ditadura militar apertou mais o cerco e, depois de 
tentar editar outras passeatas do mesmo tamanho e com a mesma repercussão 
(50 mil, 20 mil, etc.) caímos no vazio do refluxo e fomos enfrentar, em 1969, 
o chumbo de um Estado terrorista dedicado a quebrar nossa espinha dorsal 
e a apagar qualquer vestígio de aliança popular. 
Sem dúvida que perdemos a guerra militar que se seguiu depois. Mas não sem 
luta. No entanto, a marca indelével da Passeata dos Cem Mil permaneceu, 
porque povo não se apaga. O resgate histórico ocorreu quando, maltrapilho 
e maltratado pelos militares, o Estado repressor brasileiro começou a dar 
sinais de cansaço e um milhão de pessoas se reuniu na Candelária para 
exigir as mesmas liberdades democráticas sempre perseguidas, desta feita 
com sucesso, no Comício das Direitas (BONET, 2011, p. 181-183).
Figura 18 – Passeata dos Cem Mil – manifestação de artistas, intelectuais, estudantes e trabalhadores 
contra a ditadura militar, no Rio de Janeiro, em 26 de junho de 1968
Greves, que não surgiam desde 1964, apareceram. No dia 16 de abril de 1968, houve uma greve em 
Contagem, a 17 km de Belo Horizonte, inicialmente com 1.700 operários da Siderúrgica Belgo-Mineira, 
mas que, em alguns dias, alcançou 15 mil trabalhadores. Sonhavam com um aumento salarial de 25%. 
76
Unidade II
O governo se viu forçado a negociar. O ministro do Trabalho, Jarbas Passarinho, foi diretamente gerir a crise. 
Houve acordo, apesar da maciça presença de militares, da prisão de alguns operários e do fechamento de 
sindicatos. O movimento, como explicam Lilia Schwarcz e Heloisa Starling, surpreendeu os militares:
A greve inovou na forma de organização, e isso também dificultou a 
repressão imediata: os grevistas não armavam piquetes, não realizavam 
grandes assembleias nem tinham liderança ostensiva – conhecidos. Só Ênio 
Seabra e Imaculada Conceição de Oliveira, do Sindicato dos Metalúrgicos 
da cidade. A mobilização dos operários ocorria dentro das fábricas, através 
de comissões semiclandestinas que reuniam de cinco a dez participantes 
e atuavam em rede. A greve de Contagem terminou quinze dias após seu 
início, com um abono de 10% e certa esperança de que era possível enfrentar 
a política salarial do governo (SCHWARCZ; STARLING, 2015, p. 452).
Logo, o exemplo gerou outro movimento de grande projeção: a greve de Osasco, em 16 de julho. 
Assim como em Minas Gerais, a paralisação paulista rapidamente angariou milhares: após o primeiro dia 
havia mais de 10 mil operários parados. O sonho era “desencadear uma onda de reação do movimento 
operário e sindical em todo o país contra o modelo econômico da ditadura” (SCHWARCZ; STARLING, 
2015, p. 452). No entanto, o governo agiu diferente: já no outro dia, soldados bem equipados invadiram 
a siderúrgica, mais de 400 operários estavam presos e a cidade de Osasco, completamente ocupada 
pela Polícia Militar. Assim, “a violência da repressão funcionou como instrumento tanto de coerção 
quanto de dissuasão e, nos dez anos que se seguiram, o movimento operário submergiu em todo o país” 
(SCHWARCZ; STARLING, 2015, p. 452). O relato de Alípio Freire, no entanto, revela que a memória ainda 
trazia o sonho de que a luta dos trabalhadores continuava atuante de alguma forma:
Por outro lado, durante os anos pós-golpe e 1968, diversas organizações 
operárias prosseguem seus trabalhos, enquanto outras são criadas. No 
primeiro caso, temos, apenas, como um exemplo, a Frente Nacional do 
Trabalho – organizada pelos cristãos de esquerda. No segundo, temos 
as oposições sindicais, que se articulam por todo o Brasil, sendo mais 
conhecida a oposição sindical metalúrgica de São Paulo. Ou seja, a classe 
operária (e outros trabalhadores assalariados), depois das intervenções dos 
governos pós-golpe, também se reorganizava. 
E é nesse movimento que eclodem, em 1968, ocupando brevemente a cena, 
mas marcando uma virada na concepção de sindicalismo, as greves de Osasco 
e Contagem, imediatamente sufocadas pelo regime. Essas greves também 
produzirão importantes quadros para as organizações políticas clandestinas 
(FREIRE, 2011, p. 232).
Entre os dois movimentos grevistas, houve, em 1º de maio de 1968, na Praça da Sé, uma união de 
estudantes e operários em uma manifestação incialmente organizada pelo governado de São Paulo, 
Abreu Sodré, que talvez ambicionasse ser sucessor de Costa e Silva. De qualquer maneira, a rebeldia não 
deu nada certo:
77
DITADURA MILITAR E NOVA REPÚBLICA
Ir ao ato – ainda sob o impacto dos acontecimentos de Contagem – seria um 
meio de mostrar independência do governo federal e simpatia pelo movimento 
operário. Deu tudo errado. Os discursos foram radicalizando o ato – que tinha a 
presença de vários grupos de esquerda – até Abreu Sodré ser atingido por uma 
pedrada. O clima esquentou, e o palanque acabou incendiado. O governador teve 
de ser retirado às pressas do ato (VILLA, 2014, p. 122).
Um último momento importante de manifestação estudantil foi, justamente, de sua divisão: em 
3 de outubro de 1968, surgiu a batalha da rua Maria Antônia, em São Paulo. Ali, de um lado, estava 
localizada a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo (FFCL-USP), em 
que predominava, em boa medida, a esquerda universitária; do outro, estava localizada a Universidade 
Mackenzie, em que predominava, por sua vez, a direita estudantil, inclusive, sob a liderança do Comando 
de Caça aos Comunistas (CCC) e protegida pela reitoria. Um estudante, José Carlos Guimarães, foi morto 
no confronto. Não houve grande repercussão política do episódio no momento, mas, claramente, ele 
revelava um racha e, sobretudo, o afastamento das lutas democráticas em torno da opção, cada vez 
maior, pela luta armada contra o regime.
 Saiba mais
Uma boa forma de discutir a “Batalha da Maria Antônia” e o movimento 
estudantil é também assistir a:
A BATALHA da Maria Antônia. Dir. Renato Tapajós. Brasil: Laboratório 
Cisco, 2014. 76 min.
Procure, a seguir, discutir as diferentes formas de interpretação: a 
memória, o documentário e o seu diálogo com o contemporâneo da 
produção. Em que medida podemos observar caminhos de interpretação?
A última tentativa de ação de impacto dos estudantes foi em 13 de outubro de 1968. Foi o XXX Congresso 
dos estudantes, localizado em Ibiúna. Acredita-seque cerca de mil jovens iriam se encontrar lá. 
A organização foi feita pela UEE paulista, sob a liderança de José Dirceu. O relato de Jean Marc von Weid 
revela aspectos importantes:
68, a Geração que Queria Mudar o Mundo
Eu não tinha falado na plenária por achar desgastante o debate sobre credenciamento, 
mas me inscrevi para a primeira fala da manhã seguinte e pretendia abrir com a discussão 
sobre as concepções militaristas que levaram a montar um congresso que parecia um 
acampamento guerrilheiro de mentirinha. Ia contrapor com a nossa proposta de um congresso 
aberto no CRUSP e alertar a todos sobre o imenso risco de sermos todos presos e até pior, 
mortos no mato sem qualquer defesa. 
78
Unidade II
Fui tentar achar algo para comer na escuridão da noite chuvosa e fui abordado por 
um cara que eu não conhecia e tinha uma voz rouquíssima inesquecível. Era um jornalista 
(o único a entrar no congresso) do JB do Rio de Janeiro, Eduardo Pinto, o Dudu, de quem 
fiquei muito amigo ao voltar do exílio onze anos depois. 
- Jean Marc? Preciso falar com você, urgente! – Saímos para um lado menos movimentado 
e ele me mostrou um recorte de jornal. Era o Estado de São Paulo ou da Folha da Tarde e dizia 
apenas em uma micro nota: “II Exército iniciará, nos próximos dias, exercícios de contraguerrilha 
na região de Ibiúna”. A data era do próprio dia. 
Olhei para ele perplexo: 
- Passou isto para a segurança?
- Eles estão muito seguros de que não haverá repressão – disse ele – não levaram a sério. 
Agradeci a informação e procurei o Travassos. Ele conseguira um sanduíche de mortadela, 
não sei como, e dividiu comigo. Comi quase em êxtase embora detestasse mortadela, cardápio 
obrigatório de reuniões clandestinas junto com ovo cozido. Em aparelhos fechados, o efeito 
dos gases decorrentes era mais catastrófico que o estufa. 
- Há algo de estranho nesta confiança deles nas condições de segurança, mas não há 
nada que possamos fazer. É melhor tentar dormir, pois amanhã será um dia decisivo – Ele 
não podia imaginar quão decisivo seria para ele. [...]
Nesse momento ecoou um tiro, repercutindo nas colinas ainda envolvidas em névoa. 
- E isto, Cândido, é o que?
- Pode ser um caçador – disse ele, empalidecendo.
Seguiu-se uma rajada de metralhadora e vimos um bando de soldados fardados com 
capacetes azuis correndo na direção da cancela da fazenda. 
- Vão matar passarinhos assim na puta que os pariu - disse eu.
Estávamos razoavelmente longe da plenária e da casa, ambas próximas da cancela. 
Os soldados chegaram atirando por cima das duas, mas as balas passavam perto de nós, 
fazendo barulho nas pedras e no mato. 
- Vamos fugir – gritou Cândido, mas o grupo estava paralisado, abaixando-se para 
escapar dos tiros. Calculei as minhas chances. Com a notícia trazida pelo Dudu das operações 
anti-guerrilha do II Exército eu imaginei que estes soldados eram para-quedistas (não sei por 
que esta hipótese, acho que estes capacetes azuis a inspiraram). Pensei que uma operação 
79
DITADURA MILITAR E NOVA REPÚBLICA
militar não deixaria de cercas a área e que se entrássemos na mata nos arriscávamos de 
sermos presos isoladamente e eu temia ser morto se fosse reconhecido. Preferi ser preso 
junto com os outros e me dirigi devagar para a casa, que ficava no alto de uma colina. O 
pessoal do PCBR me acompanhou. Encontramos no caminho um dos garotos da segurança 
com uma pistola na mão perguntando em desespero:
- Que é que eu faço com isso?
- Não atire de jeito nenhum. Esconda a arma para vir busca-la mais tarde – disse eu. Ele 
lançou-a no lago e seguiu para a casa da fazenda. 
Quando chegamos no sopé da colina, um agente a paisana surgiu no alto e ordenou: 
“levantem as mãos” e escorregou no lameiro deslizando até quase os nossos pés. Deu 
vontade de rir, mas a acara de ódio do homenzinho não dava margem para gracinhas. Ficou 
coberto de lama e, ainda mais bravo, distribuiu coronhadas a torto e a direito. 
Na porta da casa, os que lá dormiam vinham saindo em pânico, espancados pelos 
soldados. Foi nesta hora que vi o meu erro. Eram soldados da Força Pública de S. Paulo, não do 
exército. Havia perdido a chance de correr para o mato, pois era claro que não havia cerco ao 
local. Fomos tangidos para a plenária onde ficamos todos sob a mira das metralhadoras dos 
guardinhas e proibidos de falar ou levantar. Travassos e Wladimir chegaram escoltados por 
outros guardas e ele sentou-se a meu lado dizendo que foram presos tentando correr para o 
mato. Pouco depois o Dirceu apareceu escoltado por agentes do Dops que o reconheceram 
imediatamente. Travassos colocou um cobertor sobre a cabeça como se fosse para proteger 
do frio e com isto escapou de ser identificado logo. [...]
Nunca se soube o que ocorreu nos bastidores da repressão, o porquê da inércia da polícia 
paulista até o ataque à Ibiúna, o significado da nota do exército anunciando manobras 
antiguerrilha exatamente naquele local. O mistério ainda não foi desvendado. 
Travassos, Dirceu e Wladimir só seriam soltos quase um ano depois, com o sequestro 
do embaixador americano. Eu consegui uma fuga quase miraculosa disfarçando-me e 
misturando-me com os estudantes do Paraná que foram mandados para Curitiba escoltados 
pelo Dops de lá. As circunstâncias rocambolescas desta fuga dariam outro longo artigo e 
não cabem aqui. Zé Luis conseguiu fugir de ônibus que o levava junto com os estudantes 
de Minas Gerais. Quase todos foram libertados por força dos habeas corpus e pela imensa 
mobilização do ME em todo país, provando que, mesmo sem as principais lideranças, aquilo 
era um movimento de massas e capaz de reagir aos golpes recebidos. A consigna inventada 
naquelas manifestações por um militante anônimo é, até hoje, uma marca da história do 
ME: A UNE somos nós, nossa força e nossa voz.
Fonte: Weid (2011, p. 199-221).
80
Unidade II
É interessante notar que seria bastante difícil que os militares não obtivessem informações de 
um movimento estudantil dessa magnitude. Ao mesmo tempo, o sonho e a esperança de luta dos 
estudantes saltam aos olhos, mas, para alguns, ao mesmo tempo, revelam também certa inocência 
e desorganização – em torno das diversas ideias de esquerda possíveis, mas, no geral, associadas à 
discussão da luta armada ou não.
 Lembrete
Nos anos 1960, a Guerra Fria atingiu sua maior dimensão, com a crise 
dos mísseis em 1962. A presença dos mísseis soviéticos em território cubano 
gerou 13 dias de grande tensão no mundo, pois as duas superpotências não 
se entenderiam a partir dali.
Paralelamente a essa questão, a América Latina convivia com a 
expectativa de a esquerda propagar o exemplo de luta guerrilheira de Cuba 
em seus países. Muitos acreditavam que seriam capazes de traduzir os 
mesmos esforços de Che Guevara e Fidel Castro, a fim de atingir o sistema 
socialista, pelo fim da propriedade, desigualdade e exploração capitalista. 
Tudo isso também fervilhava na mente e no coração de estudantes.
Além disso, os constantes relatos de bravura e força dos vietcongues 
contra os Estados Unidos, na Guerra do Vietnã, somavam a expectativa de 
que a coragem, a intrepidez, poderiam fazer com que pequenos grupos 
obtivessem grande vitória.
Associada a esse amplo movimento estudantil e também apoiada pelos operários, havia a luta 
de guerrilha da esquerda. O relato de Elio Gaspari é bastante interessante para adentrarmos nessa 
importante análise:
Na manhã de 25 de julho de 1966 algumas dezenas de pessoas esperavam-no 
no aeroporto dos Guararapes, no Recife. 
Havia gente querendo a revolução, disposta a matar para fazê-la. Um 
cidadão entrou na banca de jornal do saguão com uma maleta e saiu sem 
ela. Pouco depois o serviço de alto-falantes anunciou que o avião em que 
viajava o candidato, que estava em João Pessoa, sofrera uma pane e ele 
chegaria de automóvel a outro ponto da cidade. O jornaleiro notou a maleta 
deixada no chão e pediu a um guarda-civil que a levasse para a sala de 
achados e perdidos. O guarda apanhou-a e tinhadado uns poucos passos 
quando ela explodiu. Costa e Silva deveria ter chegado às 8h30. A maleta 
detonou às 8h50. Guardava uma bomba feita com um pedaço de cano e 
que fora acionada pelo mecanismo de um relógio. Morreram no aeroporto 
um almirante da reserva e um jornalista. O guarda teve a perna amputada, 
81
DITADURA MILITAR E NOVA REPÚBLICA
e o secretário de Segurança de Pernambuco perdeu quatro dedos da mão 
esquerda. Treze pessoas ficaram feridas, inclusive uma criança de seis anos. 
No mesmo dia explodiram duas outras bombas, uma no serviço de divulgação 
do consulado dos Estados Unidos e outra na União Estadual de Estudantes, 
ferindo um funcionário. As três explosões de julho não foram as primeiras a 
acontecer no Recife. Em março haviam sido detonadas duas outras bombas, 
uma das quais diante da casa do comandante do IV Exército. Como de 
hábito, logo depois do atentado de Guararapes se prendeu um suspeito – 
um peruano desconexo – e se achou um mandante: Fidel Castro. [...]
Surgira o terrorismo de esquerda. Não vinha das dissidências radicais do 
Partido Comunista, onde funcionavam as velhas máquinas revolucionárias, 
nem do brizolismo, com seus pelotões de sargentos cassados. A bomba saiu 
da Ação Popular, a AP. Entre 1950 e 1967, num processo surpreendente, a 
militância católica das universidades movera-se da direita para o centro, 
do centro para a esquerda, da esquerda para o marxismo e dele para a luta 
armada. Desde 1960 a esquerda católica, coligada com o PCB, fornecia 
o presidente da União Nacional dos Estudantes. Com uma mensagem 
cristã e socialista, era a organização com maior número de militantes no 
movimento estudantil e, portanto, a que mais sofria com a repressão que 
o clandestinizara. No seu processo de radicalização tinha circuitos ligados 
com o brizolismo, com Havana e com Pequim (GASPARI, 2014a, p. 241-242).
 Observação
Uma importante análise em História tem que ver diretamente com os 
termos empregados para descrever determinados grupos e ações. Nesse 
sentido, há uma extensa discussão acerca do termo terrorismo para os 
grupos armados de esquerda. Gaspari, como vimos, decidiu por adotar essa 
designação. O jornalista explica que, apesar de o termo conter certa noção 
pejorativa (como hoje mantém), o utiliza, pois era designação comum 
entre os militantes. Em abril de 1968, o Comando da Libertação Nacional, 
declarava: “o terrorismo, como execução [...] deverá obedecer a um rígido 
critério político”. Carlos Marighella, em seu Manual do Guerrilheiro, 
apontava que “ser terrorista é uma condição que enobrece qualquer 
homem de honra” (apud GASPARI, 2014a, p. 241-242).
Frise-se, contudo, como o próprio Gaspari defende, que o terrorismo aqui 
estabelecido não era, em termos gerais, para atingir “indiscriminadamente 
a população”.
82
Unidade II
Toda essa relação política estava associada, diretamente, ao crescimento das manifestações artísticas. 
Relação, diga-se de passagem, composta em todo o mundo. Não à toa, o Festival de Woodstock promovia 
uma ampla manifestação pelo fim da Guerra do Vietnã e, com isso, a imediata promoção da paz 
para uma juventude que não via sentido algum no combate daquela região distante e sem qualquer 
relação com os Estados Unidos.
Figura 19 – Festival de Woodstock e uma concepção de vida baseada no lema “paz e amor”
No Brasil, à medida que a repressão tentava controlar as manifestações artísticas, os opositores ao 
regime ganharam projeção com a esquerda em diversos meios culturais. Como explica Marcelo Ridenti:
O tempo que vai do Golpe de 1964 à edição do Ato Institucional nº 5 (AI-5), 
em dezembro de 1968, caracterizou-se pela superpolitização da cultura, 
associada ao fechamento dos canais de representação política institucional. 
Muitos buscaram participar da vida política inserindo-se em manifestações 
artísticas contestadoras, ainda toleradas com relativa liberdade de 
expressão até o AI-5. Havia militantes e simpatizantes de esquerda nos 
meios intelectuais e artísticos, que sofreram repressão comparativamente 
menor que os trabalhadores, graças a seu prestígio social e a sua origem de 
classe média, na maior parte apoiadora do Golpe de 64. Roberto Schwarz 
chegou a falar na época em uma relativa hegemonia cultural de esquerda, 
perceptível no Cinema Novo, na música popular, nos teatros de Arena, 
Opinião e Oficina, em mostras de artes plásticas, na literatura, e assim por 
diante, como atestavam, por exemplo, os artigos de artistas e intelectuais na 
Revista Civilização Brasileira (RIDENTI, 2014, p. 241).
Essa força cultural da esquerda estava presente na dramaturgia com o Teatro Arena. Seu enfoque 
era criticar os problemas sociais e políticos, formando uma peça despojada e simplificada. Ao mesmo 
tempo, era participativo, a fim de quebrar os limites de público e atores – formava o conceito de que 
todos estabeleciam um só espetáculo.
83
DITADURA MILITAR E NOVA REPÚBLICA
No cinema, havia um claro declínio dos modelos das chanchadas e dos musicais ingênuos dos anos 
1950. O Cinema Novo, na década de 1960, atuava em busca de um autêntico cinema brasileiro. O maior 
expoente, sem dúvida, foi Glauber Rocha. Seu lema era: “uma câmera na mão, uma ideia na cabeça”. 
Como analisa Ridenti:
[...] o ano de 1964 viu chegar às telas a trilogia clássica do Cinema Novo: 
Vidas secas, de Nelson Pereira dos Santos, inspirado a obra de Graciliano 
Ramos; Deus e o Diabo na terra do Sol, de Glauber Rocha; e Os fuzis, de Rui 
Guerra. Os três usavam a câmera na mão, a montagem com cortes abruptos, 
e a luz agressiva nas imagens em branco e preto para denunciar a miséria e 
criticar o latifúndio; o que os aproximava das interpretações dominantes da 
esquerda da época, e do imaginário sobre o rural da cultura dos anos 1960, 
num contexto de afirmação da nacionalidade e do povo que perpassava 
todas as artes (RIDENTI, 2014, p. 252).
De qualquer maneira, destacou-se o filme Terra em Transe, de Glauber Rocha, de 1967. Em uma 
fantástica construção, o diretor contrapõe a fusão entre o fantástico e o real, fazendo alusão ao regime 
militar no Brasil em torno de um país imaginário, o Eldorado, e logo apresenta diferentes correntes, 
inclusive a esquerdista.
Na música, surgiram importantes e famosos movimentos. Um deles foi o programa Jovem Guarda. 
Seu mais proeminente ícone foi Roberto Carlos, impulsionado pelo sucesso, já em 1964, com a canção 
“É Proibido Fumar” (junto com Erasmo Carlos). Apesar de considerado alienado pela esquerda, Roberto 
Carlos era ambicioso e aceitou o desfaio, formando o trio do programa com Erasmo e Vanderléa.
Figura 20 – Programa Jovem Guarda, em São Paulo, 1966
Na realidade, a atração, inicialmente, deveria preencher o espaço do domingo à tarde da TV Record 
(que acabara de perder os direitos de transmissão do futebol). No entanto, seu ritmo, o iê-iê-iê, bastante 
associado ao rock dos Beatles, associado a certas formas brasileiras, até mesmo a bossa nova, lançava o 
romantismo com tons de rebeldia – tudo bastante de acordo com os valores da década de 1960.
84
Unidade II
A Tropicália, por sua vez, estava ligada, diretamente, a uma sociedade de massa e na contracultura 
do movimento hippie estadunidense. Propunha o choque entre o arcaico e o moderno, a cultura de 
massa e a necessidade da massificação.
Propondo-se a instituição de uma cultura de massa, “consumível” e popular, que fosse recorde de 
vendas e, ao mesmo tempo, expressasse o anacronismo social em que o país se encontrava, com uma 
política que não condizia com o progresso cultural e intelectual da sociedade, a Tropicália impôs-se no 
cenário artístico brasileiro. Entre seus temas, figuravam as relações com o exterior, especialmente os 
EUA, com os movimentos hippie e do rock’n’roll, uma retomada atualizada do modernismo, o choque 
entre o autoritarismo arcaico do Brasil e a modernidade, além da crítica contra a direita e da esquerda 
do país, pela incapacidade política (vale notar que recebeu exatamente a mesma crítica dos movimentospolíticos de esquerda).
Figura 21 – Caetano Veloso e Gal Costa no início da Tropicália
 Saiba mais
Para conhecer melhor, segue a indicação de um bom balanço do 
movimento da Tropicália, com imagens e canções, além dos depoimentos 
dos envolvidos, no documentário:
TROPICÁLIA. Dir. Marcelo Machado. Brasil: Imagens Filmes, 2012. 
87 min.
Com uma linguagem agressiva e irreverente nas mais diversas formas de expressão, a Tropicália 
desenvolveu uma estética fragmentada dirigida mais especialmente para jovens e para a esquerda, 
criticada por tentar dialogar com o povo sem saber quem era o povo. Expressão do estado 
psicológico de identidade do povo brasileiro, no teatro e no cinema, ao contrário dos burgueses, que 
buscavam identificação com o público, os tropicalistas, por exemplo, no teatro Oficina, queriam uma 
“desidentificação” do público, causar uma sensação de desconforto.
85
DITADURA MILITAR E NOVA REPÚBLICA
É o que se observa no filme O Bandido da Luz Vermelha, o qual, pelo anacronismo, ironicamente, 
mostra o desespero brasileiro de não ter mais uma identidade concreta. Segundo o próprio autor, 
Rogério Sganzerla [s.d.]: “Falo como espectador comum, agredido pela burrice institucionalizada. 
[...] afirmando minha ruptura ao movimento de elite, aristocrático, paternalizante e acadêmico 
denominado Cinema Novo”.
O Cinema Novo com quem aqui dialoga era justamente mais afeito a temas políticos, o que mostra 
um desencanto de Sganzerla com a política.
De qualquer forma, sem dúvida, os famosos festivais televisivos tiveram enorme força nos anos 
de 1960. Ali, havia, claramente, segundo Ridenti, “a mistura entre politização de esquerda e indústria 
cultural, engajamento e mercado” (RIDENTI, 2014, p. 256). Estava associado ao início da difusão da 
televisão no país (apesar da primeira transmissão no Brasil ser de 1950), como explica Jairo Severiano:
Ainda sem contar com boas verbas publicitárias, nossas emissoras pioneiras 
só tinham condições de oferecer uma programação modesta, praticamente 
calcada na que se fazia no rádio. E, como no meio radiofônico, um de seus 
maiores trunfos era a apresentação dos grandes cantores e cantoras da 
época (SEVERIANO, 2013, p. 347).
Figura 22 – Rita Lee e Mutantes, no Festival Internacional da Canção, Rio de Janeiro, 1968
Foi então formado um grande ícone do que se convencionou chamar de Música Popular Brasileira 
(MPB): Chico Buarque. A canção de protesto trazia referências a comunidades do campo, como “Arrastão”, 
vencedora do I Festival de Música Popular da TV Excelsior, ou ainda alienação religiosa, a vida dura do 
nordestino e a utopia revolucionária, como em “Viramundo”, de 1965.
Geraldo Vandré, então, tornou-se o mais célebre em 1968, com a canção “Pra Não Dizer que Não 
Falei das Flores”. Ela era um claro desafio de ataque ao militarismo e engajava as manifestações para 
enfrentar os militares, assim como já faziam os guerrilheiros, como a Ação Libertadora Nacional, de 
Carlos Marighella:
86
Unidade II
Pra Não Dizer que Não Falei das Flores
Caminhando e cantando
E seguindo a canção
Somos todos iguais
Braços dados ou não
Nas escolas, nas ruas
Campos, construções
Caminhando e cantando
E seguindo a canção
Vem, vamos embora
Que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora
Não espera acontecer
Pelos campos há fome
Em grandes plantações
Pelas ruas marchando
Indecisos cordões
Ainda fazem da flor
Seu mais forte refrão
E acreditam nas flores
Vencendo o canhão
Vem, vamos embora
Que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora
Não espera acontecer
Há soldados armados
Amados ou não
Quase todos perdidos
De armas na mão
Nos quartéis lhes ensinam
Uma antiga lição
De morrer pela pátria
E viver sem razão
Vem, vamos embora
Que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora
Não espera acontecer
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DITADURA MILITAR E NOVA REPÚBLICA
Nas escolas, nas ruas
Campos, construções
Somos todos soldados
Armados ou não
Caminhando e cantando
E seguindo a canção
Somos todos iguais
Braços dados ou não
Os amores na mente
As flores no chão
A certeza na frente
A história na mão
Caminhando e cantando
E seguindo a canção
Aprendendo e ensinando
Uma nova lição.
Fonte: Vandré (2000).
A canção era um claro chamado à união e à ação. As desgraças eram grandes e muitos ainda estavam 
“indecisos”, mas, ao mesmo tempo, a esperança poderia vencer o medo dos canhões. Os soldados, ainda 
que com um pretenso patriotismo, são levados a “viver sem razão”. Portanto, o movimento de 1968 
precisava da “certeza na frente, a história na mão”.
A música imediatamente empolgou a plateia, que passou a defender sua vitória no III Festival 
Internacional da Canção Popular (fase nacional). No entanto, a canção ficou em segundo lugar, gerando 
grandes vaias.
Toda essa efervescência cultural escancarava um Brasil inteligente e em busca de mudanças no 
regime militar. Ao mesmo tempo, os mais alertas estavam preocupados com uma possível reação 
proveniente dos quartéis. E ela chegou brutalmente.
O estopim para a reação dos militares foi o discurso de Marcio Moreira Alves, deputado do MDB, pela 
sua oposição à invasão da UnB e contra o militarismo que estaria associado ao desfile tradicional de 
7 de setembro. Sua fala aconteceu em 2 de setembro:
Sr. Presidente, Srs. Deputados,
Todos reconhecem ou dizem reconhecer que a maioria das forças 
armadas não compactua com a cúpula militarista que perpetra violências 
e mantém este país sob regime de opressão. Creio ter chegado, após 
88
Unidade II
os acontecimentos de Brasília, o grande momento da união pela 
democracia. Este é também o momento do boicote. As mães brasileiras 
já se manifestaram. Todas as classes sociais clamam por este repúdio à 
polícia. No entanto, isto não basta. É preciso que se estabeleça, sobretudo 
por parte das mulheres, como já começou a se estabelecer nesta Casa, por 
parte das mulheres parlamentares da ARENA, o boicote ao militarismo. 
Vem aí o 7 de setembro. As cúpulas militaristas procuram explorar o 
sentimento profundo de patriotismo do povo e pedirão aos colégios 
que desfilem junto com os algozes dos estudantes. Seria necessário que 
cada pai, cada mãe, se compenetrasse de que a presença dos seus filhos 
nesse desfile é o auxílio aos carrascos que os espancam e os metralham 
nas ruas. Portanto, que cada um boicote esse desfile. Esse boicote pode 
passar também, sempre falando de mulheres, às moças. Aquelas que 
dançam com cadetes e namoram jovens oficiais. Seria preciso fazer hoje, 
no Brasil, que as mulheres de 1968 repetissem as paulistas da Guerra 
dos Emboabas e recusassem a entrada à porta de sua casa àqueles que 
vilipendiam-nas. Recusassem aceitar aqueles que silenciam e, portanto, 
se acumpliciam. Discordar em silêncio pouco adianta. Necessário se 
torna agir contra os que abusam das forças armadas, falando e agindo 
em seu nome. Creia-me Sr. Presidente, que é possível resolver esta farsa, 
esta democratura, este falso impedimento pelo boicote. Enquanto não 
se pronunciarem os silenciosos, todo e qualquer contato entre os civis 
e militares deve cessar, porque só assim conseguiremos fazer com que 
este país volte à democracia. Só assim conseguiremos fazer com que 
os silenciosos que não compactuam com os desmandos de seus chefes, 
sigam o magnífico exemplo dos 14 oficiais de Crateús que tiveram a 
coragem e a hombridade de, publicamente, se manifestarem contra um 
ato ilegal e arbitrário dos seus superiores (ALVES, 1968).
A palavra de ordem do discurso foi boicote em dois pontos centrais ao militarismo: o 
nacionalismo e o seio familiar, já que as noivas dos cadetes não deveriam dançar com seus 
pares no baile da festa de Independência. O discurso não foi feito em um momento de grande 
participação na Câmara. No entanto, a indignação dos militares foi tamanha que entregavam 
cópias nas unidades das Forças Armadas.
Em pouco tempo os ministros militares passaram a exigir um processo criminal contra o deputado, 
porém, a Constituição de 1967 garantia imunidade aos parlamentares. Assim, era necessária autorizaçãoprévia do Congresso. Uma primeira vitória chegou no dia 11 de dezembro: depois de algumas manobras 
com deputados, a Comissão de Justiça aprovou o pedido do ministro da Justiça para a continuidade do 
processo. No dia seguinte, no entanto, para surpresa dos militares, por 216 votos a 141, foi negada a 
suspensão da imunidade de Márcio Moreira Alves.
Menos de 24 horas depois, houve uma reunião decisiva entre Costa e Silva e seus ministros, como 
narra Elio Gaspari:
89
DITADURA MILITAR E NOVA REPÚBLICA
O presidente abriu a reunião com um discurso em que se denominou 
“legítimo representante da Revolução de 31 de março de 1964” e lembrou 
que com “grande esforço [...] boa vontade e tolerância” conseguira chegar 
a “quase dois anos de governo presumidamente constitucional”. Ofereceu 
ao plenário “uma decisão optativa: ou a Revolução continua, ou a 
Revolução se desagrega.” Batendo na mesa, anunciou que “a decisão está 
tomada” e pediu que “cada membro diga o que pensa e o que sente”. Era o 
primeiro discurso desconexo daquela sessão presidida pela determinação 
de proclamar uma ditadura. O marechal suspendeu a reunião por vinte 
minutos, para que cada ministro lesse o texto, e desculpou-se pela pressa. 
Com um preâmbulo de seis parágrafos, o Ato tinha doze artigos e cabia 
em quatro folhas de papel. Costa e Silva retirou-se debaixo de aplausos 
(GASPARI, 2014a, p. 336).
Todos foram favoráveis, com exceção do vice-presidente, o civil Pedro Aleixo. E, logo a seguir, foi 
lançado em 13 de dezembro de 1968 o AI-5:
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL, ouvido o Conselho 
de Segurança Nacional, e
CONSIDERANDO que a Revolução Brasileira de 31 de março de 1964 teve, 
conforme decorre dos Atos com os quais se institucionalizou, fundamentos 
e propósitos que visavam a dar ao País um regime que, atendendo às 
exigências de um sistema jurídico e político, assegurasse autêntica ordem 
democrática, baseada na liberdade, no respeito à dignidade da pessoa 
humana, no combate à subversão e às ideologias contrárias às tradições de 
nosso povo, na luta contra a corrupção, buscando, deste modo, “os. meios 
indispensáveis à obra de reconstrução econômica, financeira, política e 
moral do Brasil, de maneira a poder enfrentar, de modo direito e imediato, 
os graves e urgentes problemas de que depende a restauração da ordem 
interna e do prestígio internacional da nossa pátria”
CONSIDERANDO que o Governo da República, responsável pela execução 
daqueles objetivos e pela ordem e segurança internas, não só não pode 
permitir que pessoas ou grupos anti-revolucionários contra ela trabalhem, 
tramem ou ajam, sob pena de estar faltando a compromissos que assumiu 
com o povo brasileiro, bem como porque o Poder Revolucionário, ao editar 
o Ato Institucional nº 2, afirmou, categoricamente, que “não se disse que a 
Revolução foi, mas que é e continuará” e, portanto, o processo revolucionário 
em desenvolvimento não pode ser detido;
CONSIDERANDO que esse mesmo Poder Revolucionário, exercido pelo 
Presidente da República, ao convocar o Congresso Nacional para discutir, 
votar e promulgar a nova Constituição, estabeleceu que esta, além de 
90
Unidade II
representar “a institucionalização dos ideais e princípios da Revolução”, 
deveria “assegurar a continuidade da obra revolucionária” 
CONSIDERANDO, no entanto, que atos nitidamente subversivos, oriundos dos 
mais distintos setores políticos e culturais, comprovam que os instrumentos 
jurídicos, que a Revolução vitoriosa outorgou à Nação para sua defesa, 
desenvolvimento e bem-estar de seu povo, estão servindo de meios para 
combatê-la e destruí-la;
CONSIDERANDO que, assim, se torna imperiosa a adoção de medidas que 
impeçam sejam frustrados os ideais superiores da Revolução, preservando 
a ordem, a segurança, a tranqüilidade, o desenvolvimento econômico e 
cultural e a harmonia política e social do País comprometidos por processos 
subversivos e de guerra revolucionária;
CONSIDERANDO que todos esses fatos perturbadores da ordem são 
contrários aos ideais e à consolidação do Movimento de março de 1964, 
obrigando os que por ele se responsabilizaram e juraram defendê-lo, a 
adotarem as providências necessárias, que evitem sua destruição,
Resolve editar o seguinte
ATO INSTITUCIONAL
Art. 1º – São mantidas a Constituição de 24 de janeiro de 1967 e as Constituições 
estaduais, com as modificações constantes deste Ato Institucional.
Art. 2º – O Presidente da República poderá decretar o recesso do Congresso 
Nacional, das Assembléias Legislativas e das Câmaras de Vereadores, por Ato 
Complementar, em estado de sitio ou fora dele, só voltando os mesmos a 
funcionar quando convocados pelo Presidente da República.
§ 1º – Decretado o recesso parlamentar, o Poder Executivo correspondente 
fica autorizado a legislar em todas as matérias e exercer as atribuições 
previstas nas Constituições ou na Lei Orgânica dos Municípios.
§ 2º – Durante o período de recesso, os Senadores, os Deputados federais, 
estaduais e os Vereadores só perceberão a parte fixa de seus subsídios.
§ 3º – Em caso de recesso da Câmara Municipal, a fiscalização financeira 
e orçamentária dos Municípios que não possuam Tribunal de Contas, será 
exercida pelo do respectivo Estado, estendendo sua ação às funções de 
auditoria, julgamento das contas dos administradores e demais responsáveis 
por bens e valores públicos.
91
DITADURA MILITAR E NOVA REPÚBLICA
Art. 3º – O Presidente da República, no interesse nacional, poderá decretar a 
intervenção nos Estados e Municípios, sem as limitações previstas na Constituição.
Parágrafo único - Os interventores nos Estados e Municípios serão nomeados 
pelo Presidente da República e exercerão todas as funções e atribuições 
que caibam, respectivamente, aos Governadores ou Prefeitos, e gozarão das 
prerrogativas, vencimentos e vantagens fixados em lei.
Art. 4º – No interesse de preservar a Revolução, o Presidente da República, 
ouvido o Conselho de Segurança Nacional, e sem as limitações previstas na 
Constituição, poderá suspender os direitos políticos de quaisquer cidadãos pelo 
prazo de 10 anos e cassar mandatos eletivos federais, estaduais e municipais.
Parágrafo único - Aos membros dos Legislativos federal, estaduais e 
municipais, que tiverem seus mandatos cassados, não serão dados 
substitutos, determinando-se o quorum parlamentar em função dos lugares 
efetivamente preenchidos.
Art. 5º – A suspensão dos direitos políticos, com base neste Ato, importa, 
simultaneamente, em:
I – cessação de privilégio de foro por prerrogativa de função;
II – suspensão do direito de votar e de ser votado nas eleições sindicais;
III – proibição de atividades ou manifestação sobre assunto de natureza política;
IV – aplicação, quando necessária, das seguintes medidas de segurança:
a) liberdade vigiada;
b) proibição de freqüentar determinados lugares;
c) domicílio determinado,
§ 1º - O ato que decretar a suspensão dos direitos políticos poderá fixar 
restrições ou proibições relativamente ao exercício de quaisquer outros 
direitos públicos ou privados
§ 2º – As medidas de segurança de que trata o item IV deste artigo serão 
aplicadas pelo Ministro de Estado da Justiça, defesa a apreciação de seu ato 
pelo Poder Judiciário.
Art. 6º – Ficam suspensas as garantias constitucionais ou legais de: 
vitaliciedade, inamovibilidade e estabilidade, bem como a de exercício em 
funções por prazo certo.
92
Unidade II
§ 1º – O Presidente da República poderá mediante decreto, demitir, remover, 
aposentar ou pôr em disponibilidade quaisquer titulares das garantias referidas 
neste artigo, assim como empregado de autarquias, empresas públicas ou 
sociedades de economia mista, e demitir, transferir para a reserva ou reformar 
militares ou membros das polícias militares, assegurados, quando for o caso, 
os vencimentos e vantagens proporcionais ao tempo de serviço.
§ 2º – O disposto neste artigo e seu § 1º aplica-se, também, nos Estados, 
Municípios, Distrito Federal e Territórios.Art. 7º – O Presidente da República, em qualquer dos casos previstos na 
Constituição, poderá decretar o estado de sítio e prorrogá-lo, fixando o 
respectivo prazo.
Art. 8º – O Presidente da República poderá, após investigação, decretar o confisco 
de bens de todos quantos tenham enriquecido, ilicitamente, no exercício de 
cargo ou função pública, inclusive de autarquias, empresas públicas e sociedades 
de economia mista, sem prejuízo das sanções penais cabíveis. 
Parágrafo único – Provada a legitimidade da aquisição dos bens, far-se-á 
sua restituição.
Art. 9º – O Presidente da República poderá baixar Atos Complementares 
para a execução deste Ato Institucional, bem como adotar, se necessário à 
defesa da Revolução, as medidas previstas nas alíneas d e e do § 2º do art. 152 
da Constituição.
Art. 10 – Fica suspensa a garantia de habeas corpus, nos casos de crimes 
políticos, contra a segurança nacional, a ordem econômica e social e a 
economia popular.
Art. 11 – Excluem-se de qualquer apreciação judicial todos os atos praticados 
de acordo com este Ato institucional e seus Atos Complementares, bem 
como os respectivos efeitos.
Art. 12 – O presente Ato Institucional entra em vigor nesta data, revogadas 
as disposições em contrário.
Brasília, 13 de dezembro de 1968; 147º da Independência e 80º da República 
(BRASIL, 1968).
Lançamos o documento completo aqui, já que é o mais importante de todo o período estudado. 
Nas suas prerrogativas, rememorando inicialmente o AI-2, garante que os ideais revolucionários 
continuarão; ao mesmo tempo, citando o AI-4, é defendida a “obra revolucionária” e considera os 
93
DITADURA MILITAR E NOVA REPÚBLICA
mecanismos jurídicos capazes de acabar com todo o projeto para preservar a ordem e a segurança 
contra a subversão, gerando a concentração completa de poderes nas mãos do presidente. Era 
uma revolução dentro da revolução. Ou, se preferir, um golpe dentro do golpe. Sem prazo legal, 
vigorou até 1979. Como visto, o presidente poderia fechar o Congresso, intervir nos estados 
e municípios, inclusive nomeando seus interventores. Era possível ao presidente, mais uma 
vez, cassar e suspender direitos políticos, além de decidir por aposentar ou demitir qualquer 
funcionário público. Com a garantia do fim do habeas corpus, era possível manter na prisão quem 
fosse necessário e pelo tempo que o governo julgasse necessário. Assim, a tortura só aumentava. 
Além disso, havia a suspensão da garantia de liberdade de expressão, o que foi feito na surdina, 
sem agentes evidentes, sempre acobertados, agindo na imprensa, nos meios de comunicação, 
ou ainda nas escolas e universidades. Sintetizava o sentimento dos militares a fala do general 
Guedes: “aqueles que não amam a revolução, pelo menos devem temê-la”.
Figura 23 – A legislação de exceção, em que proliferaram os Atos Institucionais, 
foi uma das características marcantes do Estado Autoritário
Há de se destacar que o então ministro da Fazenda, Antonio Delfim Netto, em 1988, argumentou 
acerca da crise de 1968:
Naquela época do AI-5 havia muita tensão, mas no fundo era tudo teatro. 
Havia as passeatas, havia descontentamento militar, mas havia sobretudo 
teatro. Era um teatro para levar ao Ato. Aquela reunião foi pura encenação. 
O Costa e Silva de bobo não tinha nada. Ele sabia a posição do Pedro Aleixo 
e sabia que ela era inócua. Ele era muito esperto. Toda vez que ia fazer 
alguma coisa dura chamava o Pedro Aleixo para se aconselhar e, depois, 
fazia o que queria. O discurso do Marcito não teve importância nenhuma. 
O que se preparava era uma ditadura mesmo. Tudo era feito para levar 
àquilo (GASPARI, 2014a, p. 341).
94
Unidade II
 Saiba mais
Uma ótima fonte de informações acerca da ditadura militar, suas 
operações e análises é o site:
http://memoriasdaditadura.org.br/
O endereço virtual conta com ampla pesquisa documental das 
informações na imprensa e nos documentos liberados do regime militar, 
tudo separado por nomes. Há um grande acervo dos desaparecidos. Além 
disso, para nós, educadores, há ótimas propostas de análises desse período 
histórico utilizando diversos tipos de visões para os alunos. Vale muito a 
pena conferir.
Estava evidente a ditadura militar. Se antes de 1968 os militares ainda falavam em uma pretensa 
restauração democrática, se tentavam manter uma “aparência” do sistema de participação popular, 
agora não havia mais nada disso.
Já no dia seguinte, 14 de dezembro de 1968, o Jornal do Brasil estabeleceu em sua previsão do 
tempo uma belíssima crítica: “Tempo negro. Temperatura sufocante. O ar está irrespirável. O país está 
sendo varrido por fortes ventos; máxima de 38º, em Brasília; mínima de 5º, nas Laranjeiras.” A metáfora 
não poderia ser melhor: a censura e o autoritarismo estavam, no dizer de Elio Gaspari, escancarados.
A repressão passou a ganhar uma proporção muito maior. O SNI era o mecanismo central. O 
Centro de Informações do Exterior (Ciex) foi criado ainda em 1966 para atuar nas embaixadas dos 
países em que os exilados foram sendo enviados. O projeto era reunir informações sobre o que 
esses brasileiros estavam fazendo por lá. Na estrutura estadual, aproveitou-se dos Departamentos 
de Ordem Política e Social (Dops). Em 1967, foi criado o Centro de Informações do Exército (CIE), 
que coletava informações e também poderia agir diretamente. Existiam também centros de 
informação da Marinha (Cenimar), estabelecido em 1957 (e muito utilizado para a tortura), e da 
Aeronáutica (Cisa), formado em 1969.
São diversos os casos que hoje conhecemos acerca da atuação desumana operada nesse contexto. 
De qualquer maneira, longe de considerar que outros casos são menos importantes, é passível de nota 
que vários cidadãos foram sendo sumariamente desaparecidos. Em maio de 1969,
[...] o padre Antônio Henrique Pereira Neto, auxiliar direto de d. Helder 
Câmara, arcebispo de Olinda e Recife, e reconhecido internacionalmente 
como um símbolo da luta em defesa dos direitos humanos, foi sequestrado, 
torturado e morto no Recife. Era a primeira vez que no país se assassinava 
um padre por motivos políticos (SCHWARCZ; STARLING, 2015, p. 461).
95
DITADURA MILITAR E NOVA REPÚBLICA
Não à toa, a Igreja Católica procurou usar seus recursos possíveis contra a tortura no Brasil. Em 1970, 
uma igreja em Paris exibiu um Cristo algemado, com um tubo na boca e um magneto no topo da cruz. 
Em cima, inscrevia-se: “Ordem e Progresso”.
Nesse sentido, devemos compreender que a ação dos militares resultou, em um primeiro momento, 
na multiplicação das forças armadas contra o regime, em 1969. Eram vários os grupos existentes. 
Os mais fortes eram: a Aliança de Libertação Nacional (ALN), liderada por Carlos Marighella, que propunha 
a ação autônoma de grupos revolucionários guerrilheiros apoiados por camponeses e operários contra a 
burguesia – assim, defendiam que “a nossa luta é de libertação nacional e antioligárquica, por isso mesmo 
anticapitalista” – e ligados diretamente com Cuba em termos de treinamento militar e solidariedade 
(mas não com recursos financeiros); o Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR-8), inicialmente 
com a proposta da formação de um partido de linha leninista, mas que em 1969 se subdividiu em três 
setores (setor armado, operariado e classe média); e a Vanguarda Popular Revolucionária (VPR), com a 
presença de vários militares de esquerda contra o capitalismo e a burguesia, tendo como figura mais 
proeminente Carlos Lamarca (antes capitão do Exército).
Mas, afinal, existia uma luta das esquerdas por democracia?
Há um amplo debate historiográfico acerca do tema, inclusive, porque está bastante associado à 
memória e à construção da história contemporânea do Brasil e suas ideologias – áreas sempre delicadas 
e das quais o historiador precisa se desprender para fazer uma análise ampla e crítica. Para adentrarmos 
nessa problemática, ainda que brevemente, percorramos a década de 1960 e sua discussão em torno da 
defesa, ou não, da democracia.
Diversas eram

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