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GESTÃO DO DESEMPENHO HUMANO Pablo Rodrigo Bes Feedback contínuo Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Definir feedback e seus principais tipos. Reconhecer o feedback como meio de estabelecimento de diálogo entre organização, líder, liderados e pares. Explicar a predominância do feedback negativo nas organizações contemporâneas. Introdução Ao longo do século XX, as teorias organizacionais, sobretudo das áreas da administração e da psicologia organizacional, estudaram o compor- tamento humano nas relações e interações com seus pares e com as lideranças estabelecidas. Dessa forma, o conceito de feedback, ou retro- alimentação, derivado da área de conhecimento da física, expandiu-se, abrangendo o aspecto sistêmico e associando-se com a performance dos colaboradores, ou seja, com o resultado esperado como efeito de suas atividades laborais. As organizações contemporâneas associam o feedback a ações vol- tadas para o reconhecimento, a orientação e a avaliação de compor- tamentos das pessoas que as compõem; porém, predomina o uso do feedback negativo, associado diretamente ao desempenho, aos objetivos e às metas que fazem parte do cotidiano de uma empresa que busca manter-se competitiva no dinâmico mercado global. Neste capítulo, você vai conhecer o conceito de feedback e suas tipo- logias. Aqui, ele será analisado sob a forma de diálogo, como ferramenta de comunicação essencial para as organizações, com destaque para os aspectos que favoreceram a predominância do feedback negativo no ambiente organizacional contemporâneo. 1 Feedback: conceito e tipologia Após a emergência da globalização e o impulso das tecnologias da in- formação e comunicação digitais, que, segundo Friedman (2014, p. 18), tornaram o “mundo plano”, as organizações contemporâneas passaram por grandes transformações e adaptações. Ainda segundo o autor, “[...] esse achatamento quer dizer que estamos interligando todos os centros de conhecimento do planeta e costurando uma única rede global [...]” (2009, p. 18). Assim, essa planifi cação do mundo, metáfora de como a sociedade da informação se desenvolve, deslocando-se para a sociedade do conhecimento e, atualmente, para a sociedade da aprendizagem, fez as organizações focalizarem seus objetivos estratégicos também nas questões voltadas para a aprendizagem, para o desenvolvimento contínuo de seus colaboradores, frente a um universo de novas capacidades que passaram a ser requeridas. Ao analisarem essas reconfigurações, ocorridas a partir da década de 1990, London e Smither (1999, p. 4) alertam que “[...] mudanças organi- zacionais levam à necessidade de um ambiente de trabalho fortalecedor” — e é pela busca por maneiras de tornar o ambiente organizacional uma fonte de empoderamento constante, de estímulo a aprendizagem e ao desenvolvimento pessoal e organizacional que começaremos a estudar o conceito de feedback. Conforme salienta Moscovici (1997, p. 52), a expressão feedback se origina na eletrônica, em que retroalimentação significa “[...] qualquer procedimento em que parte do sinal de saída de um circuito é injetado no sinal de entrada para ampliá-lo, diminuí-lo, modificá-lo ou controlá-lo”. Assim, analisando o comportamento dos circuitos elétricos, as teorias organizacionais entendem que também os processos organizacionais poderiam utilizar a retroalimentação para ampliar, diminuir, modificar ou, mesmo, controlar os níveis de desem- penho de seus colaboradores, alinhando-os com os objetivos organizacionais. Daí vem a tipologia inicial do feedback, que o divide em duas categorias: o positivo e o negativo. No feedback positivo (MOSCOVICI, 1997): uma parte da energia de saída retorna como entrada; a fração de saída que reentra tem o mesmo sinal original da entrada; os sinais de entrada são aumentados, não corrigidos. Feedback contínuo2 No feedback negativo, por sua vez (MOSCOVICI, 1997): o comportamento é controlado pela margem de erro ao qual está sujeito para o alcance de seu objetivo; os sinais do objetivo são utilizados para restringir saídas; sem correção, essas saídas poderiam ultrapassar os objetivos. Analisando os conceitos acima, cabe fazer uma ressalva importante para evitar equívocos futuros em relação ao entendimento de feedback no contexto organizacional. Nesse caso, os termos “positivo” e “negativo” estão desprovidos de juízo de valor, caso em que “positivo” seria enquadrado como “melhor” e “negativo”, como pior. Nesse caso, o feedback positivo significa um reajuste de forças que seriam novamente reposicionadas para sua saída, ampliando-a, enquanto que o negativo assume um objetivo futuro a atingir com tais forças, que passa a ser o condicionante para que as possíveis saídas sejam controladas e corrigidas quando necessário na condução das energias envolvidas. Assim, “[...] pode-se considerar que todo comportamento dirigido para um fim requer feedback negativo. Para alcançar um objetivo, alguns sinais do objetivo são absolutamente necessários, em algum momento, para orientar o comporta- mento” (MOSCOVICI, 1997, p. 52). Ao longo deste capítulo, você verá que esse tipo de feedback negativo acaba sendo predominante nas organizações brasileiras por ir ao encontro do caráter corretivo e estratégico das culturas organizacionais contemporâneas. Cabe salientar, ainda, que uma organização que busca seu desenvolvimento, voltando-se para a aprendizagem individual e coletiva, deveria valer-se desses dois tipos de feedback, uma vez que a aprendizagem poderia ocorrer a partir da gestão do conhecimento daqueles que já vivenciaram os processos internos e obtiveram êxito (ou mesmo falhas), exemplo típico de feedback positivo. London e Smither (1999, p. 4) comentam que são “[...] características de uma cultura de aprendizagem capacitadora e contínua para apoiar o autodesenvol- vimento (busca de feedback, estabelecimento de metas e acompanhamento do progresso) especialmente para pessoas cujas características os predispõe à autodeterminação”. Assim, ter um espaço de comunicação aberto à busca de feedbacks, tanto positivos quanto negativos, é essencial para que o auto- desenvolvimento dos colaboradores seja estimulado. Sobre o aspecto histórico da emergência do termo feedback, Stone e Heen (2016, p. 15) acrescentam que: 3Feedback contínuo O termo “feedback“ — correspondente a “realimentação” em português — foi cunhado na década de 1860, durante a Revolução Industrial, para designar o modo como a produção de energia, a quantidade de movimento ou os sinais de saída retornam ao ponto de partida num sistema mecânico. Em 1909, Karl Braun, ganhador do prêmio Nobel, usou a expressão para designar as conexões e os loops de um circuito eletrônico. Uma década depois, a nova palavra “fe- edback” estava sendo usada para nomear a recirculação do som (microfonia) num sistema de amplificação — [...]. Em dado momento, depois da Segunda Guerra Mundial, o termo começou a ser usado em relações de trabalho, no que tangia às pessoas e a seu desempenho profissional. [...]. O deslocamento do âmbito da indústria eletrônica para o ambiente orga- nizacional se deu a partir do impulso das teorizações que surgiram no início do século XX, como a Teoria Geral dos Sistemas, proposta em 1937 pelo biólogo Ludwig Von Bertalanffy. É a partir dessa teorização que chegamos ao entendimento de sistema atual, em que se destacam a importância e a interdependência das partes componentes para o resultado do todo. Para o autor, o feedback, ou sistema de retroação, “[...] é um processo circular no qual uma parte da saída é reenviada de volta, como informação sobre o resultado preliminar da resposta, para a entrada” (BERTALANFFY, 1973, p. 217), o que torna o sistema autorregulador, seja no sentido da manutenção de certas variáveis, seja na direção para a meta desejada. Assim, o feedback retroalimenta o sistema a respeito da performance deseus demais componentes (entradas, processos e saídas). Muitos outros autores da área da gestão de pessoas e da psicologia organizacional, como Robbins (2009), entendem o feedback como premissa do sistema de comunicação, conforme veremos na próxima seção. Willians (2005) desenvolveu uma tipologia que propõe quatro tipos de feedbacks: positivo, que busca uma repetição de um comportamento; corretivo, que procura modificar determinado comportamento; insignificante, aquele que é vago, tendo como alvo a pessoa no lugar da ação; ofensivo, quando o foco é o desprezo e seu objetivo é ofender a pessoa que o recebe. Caberia a organização capacitar seus colaboradores para que praticassem os dois primeiros tipos, uma vez que o insignificante e o ofensivo são, obviamente, falhos e ineficazes para o desenvolvimento do colaborador. Stone e Heen (2016) desenvolveram uma nova tipologia sobre o feedback, classificando-o de acordo com seus objetivos de utilização em: Feedback contínuo4 feedback de reconhecimento, cujo objetivo é reconhecer, conectar, motivar e agradecer; feedback de orientação, que ajuda o receptor a aumentar seu conheci- mento, a aprimorar suas técnicas e a aperfeiçoar suas capacidades e/ ou qualificação; feedback de avaliação, cujo o intuito é classificar ou comparar com um padrão, ajustar expectativas e subsidiar tomadas de decisões. Segundo Stone e Heen (2016, p. 54), é frutífero que uma organização utilize esses três tipos de feedback, de forma equilibrada: Precisamos da avaliação para saber em que posição estamos, estabelecer expectativas e nos sentir confiantes e seguros. Precisamos de orientação para acelerar o aprendizado, focar nosso tempo e nossa energia no que realmente importa e fazer com que nossas relações sejam saudáveis e funcionais. E precisamos do reconhecimento para sentir que valeu a pena todo o suor e as lágrimas que dedicamos ao nosso trabalho ou relacionamento. Como podemos perceber, as tipologias sobre o feedback são muitas, o que somente ressalta sua importância para a gestão contemporânea. Saber no que consiste o feedback e aplicá-lo de forma proficiente é fundamental, principalmente se os objetivos são o desenvolvimento e a aprendizagem or- ganizacionais contínuos. De fato, “[...] quatro condições são essenciais para que o aprendizado floresça: o reconhecimento e a aceitação das diferenças; o fornecimento de feedback oportuno e objetivo; a busca de novas formas de pensar e fontes inexploradas de informação; e aceitação de erros, enganos e falhas ocasionais como o preço da melhoria” (GARVIN, 2000, p. 34). Na próxima seção, veremos o feedback como uma útil ferramenta de co- municação, que amplia as possibilidades de diálogo dentro das organizações. Entre os processos internos das organizações contemporâneas, existem práticas que remetem ao futuro, como as ações de planejamento em todos os níveis organizacionais, conhecidas como feedforward, e as atitudes que se voltam para retroalimentar as entradas realizadas no sistema em busca dessa projeção almejada, dando um retorno sobre os esforços empreendidos, que são conhecidas como feedback. 5Feedback contínuo 2 Feedback como ferramenta de diálogo Na seção anterior, defi nimos feedback e suas tipologias, de forma que foi pos- sível compreender como ele se relaciona com a crítica que se estabelece sobre os comportamentos dos colaboradores a partir da retroalimentação realizada por seus gestores. O feedback também pode ser visto como uma ferramenta que se aplica a todos, líderes e liderados, pois fornece informações acerca do desempenho das pessoas, suscitando que possam ser reconhecidos esforços, enaltecidas atitudes, orientadas ações e, inclusive, corrigidos os comporta- mentos desviantes, quando necessário. Dessa forma, é importante considerar o que Robbins (2009) propõe ao considerar o feedback um dos componentes do processo de comunicação que ocorre em uma organização. Esse processo de comunicação, essencial para que a gestão se efetive e para que os líderes organizacionais possam dirigir seus membros com êxito, costuma apresentar os componentes ilustrados na Figura 1. Figura 1. O processo de comunicação. Fonte: Adaptada de Robbins (2009). Por meio da Figura 1, Robbins (2009) apresenta o processo de comunicação como composto por estas sete partes: o emissor, a codificação, a mensagem, o canal, a decodificação, o receptor e o feedback, todas igualmente importantes para que a comunicação cumpra algumas de suas funções básicas, que seriam “[...] controle, motivação, expressão emocional e informação” (ROBBINS, 2009, p. 136). Todas as etapas podem ser afetadas pelo ruído, que simboliza barreiras que podem obstaculizar a comunicação; vão desde falhas na emis- são a mensagem e/ou na capacidade do receptor até problemas com o canal Feedback contínuo6 utilizado, sendo que “[...] o elo final do processo de comunicação é o círculo de feedback. O feedback faz a verificação do sucesso na transmissão de uma mensagem, como originalmente pretendida. Ele determina se a compreensão foi obtida” (ROBBINS, 2009, p. 137). Logo, é a partir da conversa estabelecida entre dois colaboradores, independentemente de sua posição hierárquica ou funcional, que podem ser esclarecidos pontos acerca do desempenho de um deles, do resultado de suas atribuições, ou sobre assuntos que se voltem a aspectos de sua vida pessoal, que também são relevantes para seu desenvol- vimento profissional. Cabe esclarecer que o feedback deve ser compreendido como diálogo, em que ambas as partes têm a possibilidade de escuta e fala, não como uma comunicação unilateral ou imposta de forma autoritária ou coerciva. Quando realizado de forma coercitiva ou autoritária, tende a se tornar insignificante ou ofensivo, em nada contribuindo para o desenvolvimento individual e organizacional (WILLIAMS, 2005). Ao analisar a importância do feedback para o desenvolvimento da competência interpessoal, responsável, pela forma como os colaboradores relacionam-se com seus pares e lideranças dentro de uma organização, Moscovici (1997, p. 53) destaca que a prática de feedback pode fecundar novas interpretações ao colaborador e reinaugurar comportamentos, pois trata-se do processo de “[...] comunicação a uma pessoa, ou grupo, no sen- tido de fornecer-lhe informações sobre como sua atuação está afetando outras pessoas. Feedback eficaz ajuda o indivíduo (ou grupo) a melhorar seu desempenho e assim alcançar seus objetivos”. Podemos compreender que a prática do feedback é uma forma de ajudar a aprimorar a percepção do outro sobre sua performance nas questões cognitivas, relacionadas com sua capacidade de aprender e aos níveis de habilidades que possui. Também se associa com suas habilidades sociais e emocionais, normalmente perce- bidas na comunicação e na interação com os demais membros de grupos ou equipes que venha a integrar, bem como pela empatia e pelo engajamento que apresente. Assim, o feedback atua tanto no âmbito cognitivo, objetivo, quanto no âmbito emocional, subjetivo, dos colaboradores, uma vez que: 7Feedback contínuo O incremento do autoconhecimento requer feedback quanto à competência ou a incompetência demonstrada pelo indivíduo. A competência é demons- trada pela imagem que a pessoa tem de si (autoimagem) e pela imagem que os outros formam dela. Assim, a forma como suas ações são percebidas e recebidas pelos outros, proporcionam-lhe um feedback que possibilitará corrigir e complementar sua autoimagem (ANTONELLO et al., 2011, p. 235). A partir da citação da autora, vemos que o feedback dialogado em uma organização contribui para a busca do autoconhecimento dos colaboradores, uma vez que proporciona que analisem seu desempenho em comparação ao desempenho dos demais membros da organização. Assim, o feedback vai ao encontro dos objetivos de reconhecimento e orientação propostos por Stone e Heen (2016) que aprendemos anteriormente, sendo uma ferramentapositiva por dar fôlego aos esforços implementados pelo receptor do feedback. Sem corretamente implementado, então, vai além de seu caráter negativo ou cor- retivo, que objetiva avaliar comportamento e desempenho em relação a metas e objetivos, unicamente (MOSCOVICI, 1997). Uma das formas de ampliarmos o nosso entendimento a respeito do fee- dback sob a forma de diálogo a ocorrer por parte da organização, dirigido a seus gestores e colaboradores, ou ainda entre líderes e liderados, ou mesmo entre os pares na distribuição hierárquica existente, é a partir do conceito de feedback positivo e seus passos: Os quatro passos do feedback positivo: 1) Descreva um comportamento específico. 2) Descreva as consequências do comportamento. 3) Descreva como você se sente em relação ao comportamento. 4) Descreva por que você se sente dessa forma (WILLIAMS, 2005, p. 93). O feedback aplicado de forma adequada, que se volte para reconhecer, orientar ou, mesmo, avaliar aqueles que o recebe, necessita ser planejado, por isso costuma ser considerado uma entrevista. Nesse caso, além de preparar o ambiente onde será realizado, seu emissor deve permitir que o receptor possa manifestar-se sobre o que pensa, sobre seus sentimentos, sobre suas dúvidas e angústias. Nesse caso, na citação dos passos acima, imagine que, a cada descrição realizada, o gestor estaria realizando pausas, questionando e passando a palavra para que o colaborador pudesse manifestar-se, pois, caso contrário, pode ser interpretado como simples imposição de ordens, prejudicando a atitude mental positiva e o processo de reflexão sobre o que está sendo abordado. Feedback contínuo8 Embora todos os tipos de feedback sejam importantes, incluindo os de reconhecimento, orientação e avaliação, na próxima seção vamos analisar como o feedback negativo, comumente associado com a avaliação, segundo a tipologia da Stone e Heen (2016), acabou consolidando-se como a prática predominante nas organizações de todo o mundo. 3 Feedback negativo: motivos de sua predominância nas organizações Na seção anterior, vimos que as organizações contemporâneas tiveram que se ajustar a um novo ambiente competitivo, cruelmente dinâmico, que se esta- beleceu após a globalização, o que fez as práticas organizacionais, sobretudo as relacionadas com a gestão de pessoas, reconfi gurarem-se, voltando-se para os aspectos que envolvem a busca pelos resultados. Assim, a gestão de pessoas se tornou fundamental e estratégica, pois, a partir de suas práticas, a performance dos colaboradores pode alavancar o crescimento organizacional ou, pelo menos, garantir a sobrevivência da empresa no mercado. Entre as inúmeras ferramentas que são elaboradas para apoiar os gestores nessa busca pela adaptabilidade, pelo acompanhamento de tendências e pela fl exibilidade de competências dos colaboradores, encontramos o feedback, um instrumento capaz de possibilitar ajustes quando a avaliação do desempenho apresenta inconsistências em relação aos objetivos organizacionais, comumente de caráter estratégico por remeterem à posição esperada e projetada em relação ao futuro. Para apoiar nossa análise acerca da predominância do feedback negativo, vamos utilizar os seguintes termos: desempenho; resultados; eficácia; objetivos; estratégia; metas; competitividade; performance. Retomando o conceito que aprendemos anteriormente, conforme Moscovici (1997), o feedback negativo é aquele norteado por objetivos previamente traça- dos, que servem como balizadores para que os esforços de entrada realizados 9Feedback contínuo sejam reorganizados visando a sua consecução. Dessa forma, podemos admitir existir uma predominância nas organizações do feedback negativo, conforme comentam London e Smither (2002, p. 7) “[...] uma forte cultura de feedback é aquela em que os indivíduos recebem, solicitam, e utilizam o feedback formal e informal para melhorar o desempenho no trabalho. Isso pode ser vinculado a políticas e programas eficazes de gerenciamento de desempenho, aprendizado e desenvolvimento de carreira” (LONDON; SMITHER, 2002, p. 7). Percebemos como o feedback, nesse caso, remetendo a uma cultura organizacional que o pratique de forma contínua, é diretamente associado com as políticas e práticas de gestão de pessoas que se voltam para os aspectos do desempenho dos colaboradores. Robbins (2009), ao analisar a administração por objetivos, que “[...] enfatiza a fixação participativa de metas que sejam tangíveis, verificáveis e mensu- ráveis” (ROBBINS, 2009, p. 64), aponta que esta se difundiu no ambiente organizacional ao longo da segunda metade do século XX, como forma de fazer com que os objetivos organizacionais fossem racionalmente distribuídos aos colaboradores. Os objetivos organizacionais são aqueles estipulados pelos diretores das organizações, de caráter estratégico (longo prazo) e pros- pectivo, que serão posteriormente desmembrados em objetivos de divisão, departamentos e de indivíduos, seguindo uma hierarquia denominada cascata de objetivos (ROBBINS, 2009). A administração por objetivos, segundo Robbins (2009, p. 64, grifo nosso) costuma ter quatro elementos básicos: “[...] a especificidade, a decisão participativa, um período determinado e o feedback de desempenho”. Nesse caso, a adminis- tração por objetivos naturaliza o feedback negativo como o sentido prioritário dado à retroalimentação. Ainda sobre importância do feedback dentro da lógica da administração por objetivos, Robbins (2009, p. 65) acrescenta que: O ingrediente final da administração por objetivos é o feedback de desempe- nho. É um aspecto importante avaliar constantemente o progresso em relação às metas estabelecidas para que os indivíduos possam monitorar e corrigir suas próprias ações. O feedback contínuo, complementado por avaliações mais formais, deve ocorrer em todos os níveis organizacionais. Esse sentido dado ao feedback dentro da administração por objetivos pode ser mais bem compreendido a partir do exemplo a seguir. Feedback contínuo10 O diretor de vendas possui metas gerais de vendas e metas específicas por produto. Ele deve monitorar os relatórios de vendas para avaliar o progresso em relação às metas de cada divisão. Da mesma maneira, os gerentes regionais de vendas possuem metas, bem como cada vendedor, individualmente. O feedback das vendas e do desempenho é realizado para que todas essas pessoas saibam como estão progredindo. Em reuniões formais de avaliação, os executivos e seus subordinados avaliam o progresso obtido em relação às metas, e um feedback adicional pode ser oferecido (ROBBINS, 2009). Cabe destacar que a administração de objetivos foi reforçada a partir de outras teorias da fixação de objetivos que passaram a entender que: [...] o estabelecimento de metas difíceis leva a um melhor desempenho individu- al do que as consideradas fáceis, que a complexidade das metas gera resultados mais produtivos do que a ausência delas ou o gênero “faça o melhor possível” e que o feedback também aprimora o rendimento (ROBBINS, 2009, p. 65). Como podemos perceber, persegue-se a ideia do feedback negativo, utilizado para monitorar, manter ou ampliar os níveis de rendimento dos colabora- dores em relação aos objetivos contratados pelos seus líderes ou gestores organizacionais. Os autores Locke e Latham (1990) também se referem ao feedback a partir de seu sentido negativo, articulando-o com a produção de metas e objetivos: A definição de metas é mais eficaz e, geralmente, apenas eficaz, quando o feedback permite que o desempenho seja rastreado em relação a objetivos de alguém. A definição de metas sem feedback parece ter pouco efeito de longo prazo no desempenho. É importante observar também o outro lado desta moeda. O feedback sem objetivos também tem pouco efeito no desem- penho. O feedback, é claro, pode ter um efeito cognitivo no desempenho se informar ao indivíduo como executar a tarefa efetivamente. A necessidadede metas para complementar o feedback é especialmente óbvia nos casos em que o indivíduo é confrontado por múltiplos tipos de feedback (LOCKE; LATHAM, 1990, p. 241). 11Feedback contínuo É interessante a necessidade apontada pelos autores da devida amarração do feedback de desempenho com metas específicas formuladas para a melhoria da execução das tarefas, pois, caso isso não ocorra, o feedback não motivaria o alto desempenho que as organizações buscam na contemporaneidade. Claro que existem alguns cuidados que devem ser observados pelos gestores ao realizarem os feedbacks, sejam eles positivos ou negativos. Robbins (2009) fornece uma lista de itens que podem ser utilizados para aprimorar a habilidade de fornecer feedback: focar comportamentos específicos; manter uma postura impessoal; manter o feedback orientado para os objetivos; escolher o momento certo; assegurar-se de que foi bem compreendido. Perceba o quanto esses passos amarram, necessariamente, a ação de fe- edback com os comportamentos individuais e objetivos envolvidos. Além de apontar esses importantes itens para a realização de um feedback eficaz junto aos colaboradores, Robbins (2009) ainda se refere, especificamente, ao feedback negativo, alertando que: Quando o feedback é negativo, assegurar-se de que o comportamento em questão pode ser controlado pelo receptor. Não adianta chamar a atenção de uma pessoa para um problema que está fora do alcance dela. O feedback negativo, portanto, deve ser fornecido em relação a um comportamento a respeito do qual o receptor possa fazer alguma coisa (ROBBINS, 2009, p. 151). Assim, podemos perceber que o feedback negativo, como se relaciona com a possibilidade de realização de ações corretivas e de ajustes em relação aos objetivos contratados para o indivíduo (diretamente ligados aos objetivos estratégicos organizacionais), deve ser realizado com foco nas ações, nos comportamentos que deverão ser ajustados a partir dele. Esse motivo faz o feedback negativo ser diretamente associado com as metas e os planos de melhoria específicos que passam a ser contratados entre líderes e liderados e que podem potencializar a eficiência da organização. Cabe problematizarmos, porém, se, na atual sociedade da aprendizagem na qual estamos inseridos, onde a busca por novas formas de aprender faz parte da nossa cultura cotidiana e nos acompanhará ao longo de toda a vida, essas práticas que se voltam somente para o monitoramento de indicadores e técnicas prioritariamente quantitativas de gestão do desempenho estariam sendo sufi- Feedback contínuo12 cientes para dimensionar a performance humana. Não deveriam ser incluídas, nessas ações de retroalimentação, olhares acerca dos aspectos sociológicos, dando importância a relações e interações que se realizam entre as pessoas, orientando-as e reconhecendo suas potencialidades? Buscando respostas a esses questionamentos, podemos compreender que a medida mais eficaz seria o uso equilibrado de todas as formas de feedback que vimos neste capítulo. Aqui, você aprendeu que o feedback é uma ferramenta muito utilizada nas organizações, onde se destaca o feedback negativo, pela sua relação com a postura estratégica da gestão contemporânea. Porém, é essencial salientar que os feed- backs positivos, voltados para a orientação e o reconhecimento, também devem ser postos em prática, pois contribuem diretamente para o autodesenvolvimento e para que as habilidades sociais e emocionais também sejam incrementadas, além das habilidades técnicas, que normalmente se relacionam com o feedback negativo. Assim, cabe aos gestores organizacionais emprenharem-se para manter um equilíbrio entre os tipos de feedback existentes. ANTONELLO, C. S. Saberes no singular? Em discussão a falsa fronteira entre aprendi- zagem formal e informal. In: ANTONELLO, C. S. et al. Aprendizagem organizacional no Brasil. Porto Alegre: Bookman, 2011. p. 225–245. BERTALANFFY, L. von. Teoria Geral dos Sistemas. Petrópolis: Vozes, 1973. FRIEDMAN, Thomas L. O mundo é plano: o mundo globalizado no século XXI. 3. ed. Rio de Janeiro: Companhia das Letras, 2014. GARVIN, D. A. Learning in action: a guide to putting learning organization to work. Boston: Harvard Business School Press, 2000. LOCKE, E. A.; LATHAM, G. P. Work motivation and satisfaction: light at the end of the tunnel. Psychological Science, v. 1, nº. 4, jul. 1990. Disponível em: https://www.wku.edu/ cebs/doctorate/documents/readings/locke_latham_1990_work_motivation_satisfac- tion.pdf. Acesso em: 24 ago. 2020. LONDON, M.; SMITHER, J. W. Empowered self-development and continuous learning. Human Resource Management, v. 38, nº. 1, p. 3–15, 1999. LONDON, M.; SMITHER, J. W. Feedback orientation, feedback culture, and the longi- tudinal performance management process. Human Resource Management Review, v. 12, nº. 1, p. 81–100, 2002. MOSCOVICI, F. Desenvolvimento interpessoal: treinamento em grupo. São Paulo: José Olympio, 2013. 13Feedback contínuo Os links para sites da web fornecidos neste capítulo foram todos testados, e seu fun- cionamento foi comprovado no momento da publicação do material. No entanto, a rede é extremamente dinâmica; suas páginas estão constantemente mudando de local e conteúdo. Assim, os editores declaram não ter qualquer responsabilidade sobre qualidade, precisão ou integralidade das informações referidas em tais links. ROBBINS, S. P. Fundamentos do comportamento organizacional. 8. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2009. STONE, D.; HEEN, S. Obrigado pelo Feedback: a ciência e a arte de receber bem o retorno de chefes, colegas, familiares e amigos. São Paulo: Schwarcz, 2016. WILLIAMS, R. Preciso saber se estou indo bem: uma história sobre a importância de dar e receber feedback. Rio de Janeiro: Sextante, 2005. Feedback contínuo14
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