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Nutrição animal - Fisiologia da digestão

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ORGANIZAÇÃO DO TRATO DIGESTÓRIO 
O sistema digestório é formado por um conjunto de órgãos em que cada um tem sua função específica – e, juntos, eles promovem a funcionalidade adequada do sistema. A principal função do sistema digestório é quebrar os alimentos em moléculas menores, solúveis, e absorvê-las, ou seja, transformar as macromoléculas em micromoléculas, com o objetivo de captar os nutrientes provenientes do alimento que foi fornecido, para que sejam gerados energia, crescimento e renovação celular nos animais. 
Os órgãos pertencentes ao trato digestório – também denominado trato gastrointestinal – são capazes de captar e receber os alimentos, realizar a digestão mecânica e química, a absorção e a excreção. 
A digestão mecânica é a parte física, que inclui os processos de mastigação, deglutição e peristaltismo (movimento que os órgãos fazem para que o alimento siga o caminho correto no trato digestório). A digestão química é a etapa de hidrólise enzimática até o nível de componentes moleculares. Após a digestão, os órgãos do trato digestório realizam a absorção dos nutrientes, água e eletrólitos que foram digeridos; por fim, para os resíduos que não foram absorvidos, há formação das fezes, e o trato digestório realiza a excreção. 
Para entendermos como um animal se alimenta e ganha energia para se movimentar e se reproduzir, ou como os animais ganham peso e músculos, precisamos aprender sobre a organização do trato digestório, a fim de que possamos assimilar todos os processos de digestão, absorção e excreção. 
O tubo digestório completo dos animais tem um fluxo unidirecional. Trata-se do processo em que o animal ingere o alimento pela boca; o bolo alimentar formado segue todas as etapas pelo tubo digestório e, por fim, o que não foi absorvido é excretado em forma de fezes pelo ânus. 
De forma geral, independentemente da espécie animal, o trato digestório é organizado em um tubo digestório dividido em cinco seguimentos: cavidade oral (boca e faringe); esôfago e estômago; intestino delgado; intestino grosso; e canal anal. Todos esses segmentos têm subdivisões e especificidades de acordo com as espécies. Além disso, o trato digestório contém as glândulas anexas, que são as glândulas salivares, o fígado e o pâncreas, cujas secreções são utilizadas no canal alimentar. 
Os componentes do trato gastrointestinal alojam-se dentro das cavidades abdominal e pélvica. Dessa forma, podemos dizer que o sistema digestório é basicamente formado pelo tubo digestório e pelas glândulas anexas.
Representação esquemática do trato gastrointestinal do cão. Na ordem de apreensão e excreção do alimento: boca, faringe, esôfago, estômago, intestino delgado, intestino grosso, as glândulas anexas (fígado e pâncreas) e o canal anal. 
Precisamos saber que cada espécie animal tem particularidades em cada órgão dentro do sistema digestório, e que essas características anatômicas e fisiológicas estão diretamente ligadas à classificação com base na dieta – ou seja, se são herbívoros, carnívoros ou onívoros – e ao hábito alimentar de cada espécie. 
O primeiro segmento da organização do trato gastrointestinal é a boca. Ela é formada pelos lábios, língua, dentes e pelas glândulas salivares. A língua e os lábios auxiliam na captura do alimento, de acordo com as espécies. Em ruminantes, por exemplo, a captura do alimento é realizada pela língua; já em equinos, a apreensão é feita com os lábios. Os dentes auxiliam na maceração do alimento (digestão mecânica), e as glândulas salivares são responsáveis pela produção da saliva, que, por sua vez, auxilia no início da quebra das partículas de alimento em partículas menores (início da digestão química ou enzimática). 
Seguinte à boca, tem-se a faringe, que é responsável por separar o sistema respiratório do sistema alimentar. O ar é direcionado para a laringe, e o alimento e os líquidos são direcionados ao esôfago. No esôfago, iniciam-se os movimentos peristálticos, com o objetivo de conduzir o bolo alimentar para o estômago. 
No estômago, ocorre o início da digestão de proteínas e lipídios – e, de modo geral, ele é responsável por liberar o bolo alimentar de forma gradual para o intestino; porém, a função do estômago especifica-se conforme as espécies. Nos ruminantes, por exemplo, o estômago é dividido em quatro compartimentos: rúmen; retículo; omaso; e abomaso. Na região do rúmen, as bactérias realizam o processo de fermentação da fibra proveniente do alimento de origem vegetal, do qual os ruminantes adquirem energia. 
O intestino delgado, por sua vez, é dividido em duodeno, jejuno e íleo. No intestino delgado, são liberadas enzimas pelo pâncreas e pelo fígado (glândulas anexas ao tubo digestório) para digestão de carboidratos, proteínas e lipídios. Praticamente todos os nutrientes são digeridos no intestino delgado. Com isso, inicia-se a absorção dos nutrientes, que é feita na borda em escova, formada por vilosidades que aumentam a superfície de contato e facilitam a absorção. 
A região seguinte é o intestino grosso, dividido em ceco, cólon e reto. Quando o alimento chega ao intestino grosso, a maioria dos nutrientes já foi digerida e absorvida. A maior função do intestino grosso é absorver água e eletrólitos e, com isso, há formação das fezes na excreção. 
Nos equídeos, por exemplo, além da absorção de água, no intestino grosso, localizado na região do ceco e do cólon, ocorre o processo de fermentação. Já nos cães, a região do ceco não tem uso funcional, já que são animais carnívoros. 
SECREÇÕES DO TRATO DIGESTÓRIO 
As glândulas anexas são responsáveis pela produção e liberação das secreções no trato digestório. Existem secreções liberadas pelas glândulas salivares, pelo fígado e pelo pâncreas, bem como as secreções gástricas. Essas secreções auxiliam nos processos de digestão e absorção dos nutrientes e são controladas por estímulos nervosos e hormonais. Precisamos ter em mente que os processos de digestão e absorção ocorrem em meio aquoso, o que torna possível o fluxo unidirecional no trato gastrointestinal do bolo alimentar. Para que o meio permaneça aquoso, é necessário que haja síntese e liberação das secreções. 
A primeira secreção que auxilia no sistema gastrointestinal é a saliva. Assim que o animal apreende o alimento na boca, este é misturado à saliva e começa a ser moldado em um bolo alimentar com auxílio da mastigação. A síntese de saliva é realizada pelas glândulas salivares. 
De forma geral, a produção de saliva e o bolo alimentar facilitam a deglutição. A produção de saliva, porém, tem características que auxiliam nas especificidades de cada espécie. Nos cavalos, ela inicia a digestão do amido por meio da amilase salivar; nos ruminantes, a saliva é rica em bicarbonato, utilizado para neutralizar os ácidos da ruminação originados da fermentação realizada no rúmen, o compartimento do estômago. 
As secreções gástricas, liberadas no estômago, são também importantes para o trato gastrointestinal. Há muitas variações do órgão entre as espécies, bem como nas regiões glandulares e aglandulares. Portanto, vamos abordar o que ocorre de semelhante entre a maioria das espécies domésticas. 
As células de superfície da mucosa estomacal secretam o muco que protege a mucosa gástrica do potencial hidrogeniônico (pH) ácido. As células parietais secretam o ácido clorídrico (HCl), e as células principais sintetizam a pepsina.
Representação das diferenças dos estômagos entre as espécies domésticas cão, gato, suíno, bovino e equino, com ênfase na região das glândulas gástricas e das regiões cárdicas e pilóricas, que produzem o muco para proteção da mucosa gástrica. Na região fúndica das glândulas gástricas, há as células principais, que produzem o pepsinogênio; e as células parietais, produtoras do ácido clorídrico. 
O ácido clorídrico (HCl) é responsável pela acidez do meio para que outras enzimas possam atuar na degradação das proteínas. Para isso, vamos entender como o HCl é formado. Primeiramente, quandoo ácido clorídrico começa a ser produzido? Os estímulos são neurais, e o próprio bolo alimentar serve de estímulo para produção do suco gástrico, pois, quando presente, aumenta o pH e produz um feedback positivo para aumentar a produção de HCl e diminuir o pH. 
O interior das células parietais é rico em gás carbônico (CO2) e água (H2O). Essas moléculas se unem pela ação da anidrase carbônica e geram o ácido carbônico. O ácido carbônico é uma molécula instável e rapidamen-te dissocia-se em bicarbonato (HCO3-) e hidrogênio (H+). O próton H+ é transportado para o lúmen gástrico através da bomba de prótons que troca o hidrogênio pelo potássio. O bicarbonato é transportado para a corrente sanguínea e é trocado pelo cloreto (Cl‑ ) por meio de um transportador, que vai para dentro da célula. 
No interior da célula parietal, o cloreto e o potássio são transportados para o lúmen da célula; com isso, o hidrogênio e o cloreto unem-se no lúmen gástrico para formar o ácido clorídrico. 
EXPLICANDO Você sabe o que significa lúmen da célula? Nada mais é que a parte interna da célula, onde se encontram a membrana plasmática, o citoplasma e o núcleo. O bicarbonato transportado para a corrente sanguínea será utilizado posteriormente no intestino delgado, na porção do duodeno, para neutralizar as secreções gástricas. 
A produção do ácido clorídrico – e, consequentemente, o pH baixo do estômago – propicia um ambiente para o início da digestão de proteínas pela pepsina. 
Ela é secretada pelas células principais do estômago e é armazenada na forma inativa dentro de grânulos. A forma inativa da pepsina é denominada pepsinogênio. 
Quando o pepsinogênio é secretado na luz do estômago, o pH ácido faz com que a molécula seja clivada e ativada em pepsina. Com isso, a pepsina inicia a digestão da proteína no bolo alimentar. 
CURIOSIDADE 
As enzimas que são sintetizadas de forma inativa e posteriormente clivadas para ativação são denominadas zimogênios. Todos os zimogênios terminam com sufixo -gênio, como o pepsinogênio. O objetivo da inativação é fazer com que as enzimas realizem somente a digestão do substrato que for necessário. 
Com o início da digestão da proteína, o bolo alimentar segue para o intestino delgado na primeira porção – o duodeno –, onde passa a ser denominado quimo. A partir dessa fase, as secreções pancreáticas são necessárias e começam a agir. 
O pâncreas é composto pela parte endócrina, formada pelas ilhotas pancreáticas; e pela parte exócrina, formada pelos ácinos. Entre as ilhotas pancreáticas e os ácinos, o pâncreas tem as células centroacinares. 
Todas as enzimas pancreáticas são produzidas inicialmente em sua forma inativa e são denominadas suco pancreático. Com a produção do suco pancreático, este é transportado para o duodeno através do ducto pancreático, que liga o pâncreas a essa porção do intestino delgado. 
As células acinares produzem enzimas que atuam na digestão de proteínas e carboidratos. As células centroacinares produzem uma secreção que é rica em bicarbonato de sódio – por sua vez, utilizado para alcalinizar o quimo que chegou do estômago. 
Finalmente, chegamos à última glândula anexa: o fígado. O órgão é composto pelos hepatócitos, que são formados por canalículos biliares. Os hepatócitos produzem e secretam a bile, que é armazenada na vesícula biliar. Não são todas as espécies que têm vesícula biliar – por exemplo, nos equídeos, a bile é produzida e secretada no duodeno na mesma hora, o que aumenta a eficiência da digestão da gordura por essas espécies. 
A bile é composta principalmente por sais biliares, mas também tem moléculas, como fosfolipídios e colesterol. A bile é importante para a digestão de gordura (lipídios): sua função é fazer a emulsificação da mesma, ou seja, quebra a gordura em pedaços menores para facilitar a digestão dos lipídios. 
Indicação das principais classes de secreções liberadas pelo trato gastrointestinal (TGI). As principais secreções salivares são: amilase salivar; e bicarbonato, para neutralizar o bolo alimentar. Secreções gástricas: muco, liberado pela superfície mucosa; ácido clorídrico, pelas células parietais; e pepsina, pelas células principais. Secreções hepáticas: bile. Secreções pancreáticas: suco pancreático e ácinos. 
DIGESTÃO E ABSORÇÃO DE ALIMENTOS 
Os animais podem alimentar-se de dois grandes grupos de alimentos: concentrados e/ou volumosos. A escolha desses alimentos é selecionada de acordo com o hábito alimentar, ou seja, se não carnívoros, herbívoros ou onívoros. Ao se alimentarem, os animais ingerem a fração de alimento que será quebrada em micromoléculas – que, posteriormente, serão absorvidas. O objetivo principal é que a alimentação seja a fonte de energias para as funções vitais. 
Os alimentos são compostos por uma fração rica em carboidratos, uma de proteínas e outra de lipídios. Quando falamos de alimentos de origem vegetal, ainda se enquadram na categoria os carboidratos fibrosos, ou seja, a fração fibra. 
EXPLICANDO As células vegetais são compostas pela parede celular, que é rica em fibra. Esta é dividida em quatro tipos: celulose; hemicelulose; pectina; e lignina. O que seriam as células vegetais? Capim, gramíneas e leguminosas, que são os alimentos que denominamos volumosos. Os animais classificados com hábito alimentar herbívoro necessitam obrigatoriamente ter, na dieta, alimentos volumosos, independentemente da maneira pela qual são oferecidos. 
A etapa de quebra do alimento e transformação de macromoléculas em micromoléculas é denominada digestão. Já a etapa em que o animal recebe os nutrientes é chamada absorção. Os carboidratos e proteínas são digeridos e absorvidos ao longo do intestino delgado e intestino grosso, e a fração de lipídios é digerida e absorvida exclusivamente no intestino delgado.
Esquematização do processo de digestão e absorção. Observe que a digestão é responsável por quebrar as macromoléculas para que os nutrientes sejam absorvidos através do epitélio intestinal para a corrente sanguínea. 
A digestão é dividida em mecânica e química. A digestão mecânica é a parte física, ou seja, a quebra do alimento – e também a influência dos movimentos peristálticos para manter o fluxo unidirecional. 
A quebra do alimento inicia-se na boca com a mastigação e maceração, além da amilase salivar, que já inicia a digestão química do amido. Lembre-se de que o objetivo da digestão é preparar o alimento para ser absorvido. Como uma célula vai absorver uma macromolécula? Não há como. Por isso, os animais iniciam a digestão quebrando alimento em frações menores. 
A digestão química é a etapa seguinte que será objeto de nossa atenção. Nela, enzimas atuam no bolo alimentar para transformar as frações de proteínas, carboidratos e lipídios em componentes moleculares. 
O alimento mastigado, macerado e transformado em bolo alimentar na boca vai em direção ao esôfago, seguindo para o estômago. No estômago, o ácido clorídrico e a pepsina atuam para o início da digestão das proteínas. No entanto, é no intestino delgado que os carboidratos, proteínas e lipídios são digeridos efetivamente. 
No órgão, os carboidratos e proteínas da dieta sofrem ação das enzimas pancreáticas e da borda em escova e são desdobrados em hexoses (galactose, lactose e glicose) e peptídeos ou aminoácidos. O propósito final da digestão de proteínas e carboidratos é chegar a moléculas mais simples: os aminoácidos e a glicose. 
Com isso, os produtos da digestão de proteínas e carboidratos no intestino delgado são absorvidos por transporte ativo pela mucosa do próprio intestino delgado, por intermédio de mecanismos de transporte específicos para cada molécula. 
Caso as hexoses e peptídeos não sejam completamente absorvidos no intestino delgado e, por meio dos movimentos peristálticos, cheguem até o intestino grosso, são convertidos em 
ácido graxos voláteis e amônia pelas bactérias que habitam as regiões do órgão. O processo de digestão realizado pelas bactérias é denominado fermentação.No final do mesmo, os produtos são absorvidos por difusão passiva no próprio intestino grosso, com exceção dos ruminantes, cuja fermentação ocorre no estômago. Na maioria das espécies, não ocorrem mecanismos de transporte ativo para hexoses ou aminoácidos no intestino grosso – por isso, são fermentados em ácidos graxos voláteis. 
Os lipídios, por sua vez, são macromoléculas mais complexas que as proteínas e carboidratos, e por isso demoram mais tempo para serem efetivamente quebrados e absorvidos. A maior parte da gordura na dieta está na forma de triglicerídeos insolúveis em água, o que dificulta a digestão, uma vez que, como vimos, os processos de digestão e absorção ocorrem em meio aquoso. 
Dessa forma, as moléculas de triglicerídeos precisam ser transformadas de insolúveis para solúveis. Por isso, na digestão dos lipídios, é indispensável a atuação da lipase pancreática (secreção liberada pelo pâncreas) e dos ácidos biliares (secreção liberada pelo fígado). 
A lipase pancreática atua na fase óleo-água, transformando os triglicerídeos em moléculas que também são insolúveis, mas têm uma região polar e outra hidrossolúvel. Com isso, a bile realiza a emulsificação da gordura, aumentando a superfície de contato para facilitar a digestão, tornando a fase hidrossolúvel em fase solúvel. 
Quando há formação de moléculas solúveis, estas ainda são moléculas grandes e continuam passando pelo processo de digestão para serem quebradas. As moléculas de gordura, agora denominadas quilomícrons, são muito grandes para serem absorvidas pelo sistema sanguíneo entérico; em decorrência disso, elas são absorvidas pelos vasos linfáticos intestinais até atingirem o sistema vascular sanguíneo. 
Finalmente, além da digestão e absorção de carboidratos, proteínas e lipídios, ocorre também a reposição de águas e eletrólitos pelo processo de absorção no intestino grosso. 
De forma geral, os alimentos são compostos de macromoléculas, e os carboidratos, proteínas e lipídios ainda existem na fração mineral. Cada macromolécula sofrerá o processo de digestão mecânica e química para que possa ser absorvida como moléculas mais simples possíveis. Os 
carboidratos não fibrosos basicamente são digeridos como glicose; as proteínas, como aminoácidos; e os lipídios, como quilomícrons. Lembrando que, para cada etapa da digestão, existem particularidades para as espécies.
MOTILIDADE GASTROINTESTINAL 
Você sabe o que deve fazer se um animal está com diarreia em decorrência de distúrbios na dieta? Será preciso entender a motilidade gastrointestinal, já que o aumento e a redução nos movimentos propulsores do sistema digestório são importantes para o tratamento da diarreia. 
Para que os processos de digestão e absorção ocorram, o bolo alimentar precisa ser deglutido da boca em direção ao intestino delgado e grosso. Esse fluxo do bolo alimentar é possível pela motilidade gastrointestinal, que nada mais é que movimentos peristálticos realizados pelos músculos do trato gastrointestinal (TGI). 
O trato gastrointestinal tem quatro camadas: mucosa; submucosa; camada muscular; e serosa. A camada muscular é dividida em muscular circular interna e longitudinal externa, e ainda existe uma camada muscular na mucosa. São as camadas musculares que capacitam o trato gastrointestinal a gerar os movimentos de motilidade. 
A motilidade do trato gastrointestinal proporciona tanto o fluxo do bolo alimentar quanto a digestão física dos alimentos e ainda auxilia na formação das fezes. Os movimentos degradam o bolo e garantem efetivamente a mistura com as secreções digestivas, auxiliando na digestão química. 
A motilidade pode ser de três tipos: propulsora, retentiva ou mista. 
● PROPULSORA: Quando a motilidade é propulsora, auxilia na passagem do alimento para o próximo segmento; 
● RETENTIVA: Quando é de retenção, permite que a digesta permaneça no compartimento para ser absorvida ou armazenada; 
● MISTA: Quando a motilidade é mista, permite a quebra física do bolo alimentar, para que ele seja misturado às secreções, aumentando a superfície de contato. 
Para os processos de digestão e absorção ocorrerem, é necessário um tempo de ação, no qual a digesta deve permanecer no compartimento em que está sendo realizada a digestão ou a absorção; por exemplo: a digesta deve permanecer no intestino delgado na porção do 
duodeno para digestão dos carboidratos. Esse tempo é denominado tempo de trânsito e varia conforme a motilidade e a espécie. 
Além disso, outra nomenclatura importante é a do sentido da motilidade. Quando a motilidade é realizada no sentido da boca ao ânus, é denominada aboral; e, quando ao contrário, é nomeada oral. 
EXPLICANDO Se o tempo de trânsito é maior, quer dizer que o tempo de retenção e de mistura são elevados, pois a digesta necessita passar mais tempo no compartimento do trato gastrointestinal. No entanto, se o tempo de trânsito for menor, significa que o tempo de propulsão é maior, pois o alimento está sendo empurrado para o próximo segmento e, consequentemente, o tempo de mistura e retenção são menores. 
O primeiro nível de controle da motilidade no trato gastrointestinal está relacionado às propriedades elétricas do músculo liso. As fibras musculares lisas ficam dispostas em feixes paralelos e comunicam-se pelos nexos, que são junções comunicantes. Os nexos permitem uma conexão elétrica entre as células musculares, permitindo que os íons passem de uma para outra. Isso quer dizer que, caso ocorra alteração em uma célula muscular lisa, essa informação é passada para todas as células musculares, pois elas estão interligadas. 
A ativação das ondas elétricas no músculo liso é possível pela atividade elétrica das células intersticiais de Cajal (CIC). As células de Cajal atuam como marca-passos elétricos, o que caracteriza as ondas lentas que se propagam por toda a musculatura gastrointestinal. Então, todas as vezes que ocorre um estímulo para uma onda lenta com potencial de ação, ocorre um padrão de motilidade responsável pela contração. As ondas lentas ocorrem em todos os animais, mas a frequência de disparo varia de acordo com a espécie. No cão, por exemplo, as ondas lentas são disparadas a cada cinco minutos no estômago, ou seja, o ritmo de contração no estômago de um cão é realizado a cada cinco minutos no sentido aboral. 
O outro tipo de músculo que podemos encontrar no trato gastrointestinal dos animais e que tem importância na motilidade é o músculo estriado esquelético. O padrão de motilidade, nesse caso, é denominado peristaltismo. O peristaltismo consiste em uma motilidade propulsora, que é como um anel contrátil que surge em um ponto e se move para frente. Um exemplo de peristaltismo é o que ocorre no esôfago, onde o bolo alimentar precisa ser expulso para o estômago. 
O músculo longitudinal e o circular, quando estimulados, podem realizar tanto a contração quanto o relaxamento. O peristaltismo é a diminuição da área do lúmen, formando como se fosse um anel em movimento de constrição que impulsiona o bolo alimentar para frente. Nesse caso, a área de constrição é formada por contrações do músculo circular, enquanto a dilatação é criada por contrações dos músculos longitudinais. 
Os padrões de motilidade no estômago variam de acordo com as espécies. Nos ruminantes, por exemplo, como são animais que têm estômago dividido em quatro compartimentos, os padrões de motilidades são mais complexos. Nos animais de estômago composto, os padrões são mais simples, apenas por um compartimento.
Além disso, podemos dividir o estômago em porção proximal e distal. 
Assim que o bolo alimentar chega ao estômago na região proximal, a motilidade promovida é de relaxamento adaptativo, para que seja possível armazenar o alimento recém-chegado e liberá-lo gradativamente para o estômago distal. Já no estômago distal, os padrões de motilidade são mistos, pois ele tem a função de triturar o alimento até o nível de partículas menores e enviar de forma gradativa ao duodeno. 
Na fasedigestiva do intestino delgado, é possível observar dois padrões de movimento: os propulsivos e os não propulsivos, ou de mistura. O movimento não propulsivo é um movimento de segmentação, ou seja, divide o bolo alimentar que chega ao duodeno, misturando-o com as secreções que estão sendo liberadas. Já os movimentos propulsivos são ondas curtas que empurram a digesta para frente. 
Na ligação do intestino delgado para o intestino grosso, existe o esfíncter ileocecal e a válvula ileocecal, que são compostos de músculo circular e evitam que o conteúdo do intestino grosso retorne ao intestino delgado. 
O intestino grosso tem a função de absorver a água e os eletrólitos e de formar as fezes para que possam ser excretadas. Por isso, o órgão tem padrões de motilidade realizando movimentos de mistura e de retropulsão, ou seja, antiperistaltismo, o que permite que as ondas lentas se propaguem no sentido oral, realizando a retropulsão, e que as fezes sejam eliminadas. 
DIFERENÇAS DO SISTEMA DIGESTÓRIO NAS ESPÉCIES DE ANIMAIS DOMÉSTICOS 
Os animais domésticos têm particularidades anatômicas e fisiológicas, diferentes para cada espécie. Essas diferenças são devidas principalmente ao hábito alimentar. Podemos, então, dividir as espécies em grupos de acordo com o hábito alimentar: os herbívoros – nos quais temos os animais ruminantes e os não ruminantes; as aves e suínos; e os animais carnívoros. 
Nos animais de produção classificados como herbívoros ruminantes, encontram-se, por exemplo, bovinos, caprinos e ovinos. Já nos herbívoros não ruminantes, encontram-se cavalos, jumentos, muares e coelhos. Nos carnívoros, encontram-se cães e gatos. Há ainda as aves e suínos, que têm particularidades próprias e podem ser classificados como granívoros, pois alimentam-se de grãos. Entretanto, dependendo do sistema de criação, esses animais podem ser até mesmo onívoros. 
A anatomia do sistema digestório diz muito sobre o hábito alimentar do animal. Se os cães são carnívoros, isso nos indicia que esses animais precisam ter obrigatoriamente um intestino delgado voltado para a digestão de alimentos de origem animal. Sabendo disso, há necessidade de cães e gatos terem um intestino grosso mais desenvolvido? Não, pois é no intestino grosso que são realizados os processos de fermentação da fibra, proveniente da célula vegetal (além da absorção de água e eletrólitos). Portanto, o intestino grosso dos cães e gatos são menos desenvolvidos. 
Já nos animais herbívoros não ruminantes, o processo de fermentação ocorre no intestino grosso. Os equinos, por exemplo, têm estômago pequeno comparado ao tamanho do animal, um intestino delgado desenvolvido e um intestino grosso extremamente desenvolvido, principalmente na região do ceco e cólon. 
Classificamos os equídeos (cavalos, jumentos e muares) como ceco-cólon funcionais. Isso quer dizer que, na região do ceco-cólon, as bactérias realizam o processo de fermentação. Os coelhos também são herbívoros não ruminantes, mas somente o ceco é mais desenvolvido, pois é apenas nessa região que ocorre a fermentação da fibra; denominamos os coelhos, então, ceco-funcionais. 
Nos animais herbívoros ruminantes, o processo de fermentação ocorre no estômago, especificamente na região do rúmen. Nos ruminantes, o estômago é dividido em quatro compartimentos: rúmen; retículo; omaso; e abomaso. Com isso, entendemos que a porção do estômago dos ruminantes é maior, principalmente a região do rúmen, para que as bactérias possam realizar a fermentação. Antes de serem classificados como ruminantes, esses animais são herbívoros, o que nos indica que, obrigatoriamente, a dieta deve ter alimento volumoso, assim como a dos não ruminantes. 
Representação do trato gastrointestinal do cão (A), cavalo (B) e de um boi (C), sendo: 1 – estômago; 2 – intestino delgado; 3 – ceco; 4 – cólon ascendente; e 5 – cólon descendente. Podemos observar o tamanho de cada segmento do trato gastrointestinal de acordo com o hábito alimentar. 
EXPLICANDO Devemos dividir os animais domésticos em dois grandes grupos: ruminantes e não ruminantes. Não é correto denominar os ruminantes “poligástricos”, pois eles não têm “vários estômagos”, mas um único estômago com quatro compartimentos. Também não é correto denominar os não ruminantes “monogástricos”. As aves também entram no grupo de animais não ruminantes; porém, dentro do grupo de não ruminantes, existem carnívoros, onívoros e herbívoros. 
As aves, por sua vez, apresentam um sistema digestório reduzido quando comparado ao das outras espécies, principalmente porque precisam voar e poupar o peso dos órgãos. Elas apresentam o trato digestório dividido em papo, proventrículo, moela e a cloaca. O proventrículo refere-se ao estômago químico; e a moela, ao estômago mecânico, onde há a trituração do alimento.
Representação da anatomia das aves, com papo, moela, proventrículo, cloaca e outros órgãos. Observe o tamanho do papo: é uma dilatação do esôfago que permite a umidificação do alimento para torná-lo mais macio e facilitar a digestão. Além disso, é importante para armazenar o alimento e liberá-lo de forma gradativa ao proventrículo. 
Finalmente, os suínos têm estômago de compartimento simples, assim como os equinos, e a anatomia segue o padrão de boca, esôfago, estômago, intestino delgado, intestino grosso e reto. Nos suínos, digestão química ocorre no intestino delgado e grosso – esses animais, 
inclusive, têm uma microbiota considerável no intestino grosso para processos de fermentação e produção de ácidos graxos voláteis. 
PROCESSOS FERMENTATIVOS E NÃO FERMENTATIVOS 
De onde vem a energia proveniente dos alimentos de origem vegetal? De onde os cavalos e os bois, que comem apenas pasto, tiram energia? As células vegetais também têm carboidratos na região intracelular, que geram energia aos animais. Existe ainda a fração de carboidratos fibrosos, que são provenientes da fibra. 
Para entendermos o processo, precisamos considerar que existem duas grandes classes de carboidratos: os fibrosos e não fibrosos. Os carboidratos não fibrosos são digeridos pela maioria dos animais e englobam monossacarídeos, oligossacarídeos, frutanos, amido, pectina e ácido orgânicos. Já os carboidratos fibrosos incluem hemicelulose e pectina. 
Precisamos ter em mente que os carboidratos não fibrosos são digeridos no intestino delgado pelas enzimas do próprio animal e são absorvidos no intestino grosso. No entanto, a fração de carboidratos fibrosos é digerida pelas bactérias que habitam o intestino grosso ou o estômago dos animais, a depender da espécie. 
O processo de digestão da fibra é denominado fermentação, e existem outros nutrientes, além das paredes celulares, que são sujeitos à digestão fermentativa. Então, definimos fermentação como a atividade metabólica anaeróbica das bactérias e de outros microrganismos. Para que haja fermentação, as condições do ambiente devem permitir o crescimento dessas bactérias. 
A localização da fermentação depende da espécie estudada. No caso dos equinos, a fermentação ocorre no intestino grosso, na região do ceco e do cólon. Já em ruminantes, a fermentação ocorre no estômago, especificamente na região do rúmen. 
Com isso, podemos definir que os processos não fermentativos incluem a digestão e absorção de carboidratos não fibrosos, proteínas e gorduras, realizados pelas enzimas do próprio animal; os fermentativos incluem a digestão da fibra e são realizados pelas bactérias. 
Tanto na digestão não fermentativa quanto na fermentativa, é necessário que haja hidrólise enzimática das grandes moléculas para facilitar o processo de digestão, seja a fermentação, seja a digestão enzimática. A principal diferença é que as enzimas do processo fermentativo são microbianas, e as enzimas do processo não fermentativo são as do próprio animal. 
Outras diferenças importantes entre a digestão fermentativa e a digestão não fermentativa ou enzimática são a velocidade das reações e o grau de alteração das moléculasdos substratos. Em geral, a digestão fermentativa é muito mais lenta que a digestão enzimática, e os substratos são muito mais alterados. 
Os produtos da fermentação são os ácidos graxos voláteis (AGVs) – entre eles, o acetato, butirato, propionato, isobutirato, isobalerato e 2-metilbutirato. Os ácidos graxos voláteis são substratos energéticos para o animal hospedeiro. Também pode ocorrer a fermentação das proteínas, que resulta na desaminação de grande quantidade de aminoácidos. 
DIGESTÃO NO ESTÔMAGO MONOCAVITÁRIO 
O estômago monocavitário é um estômago simples, que tem apenas um compartimento. Os animais com essa característica são os não ruminantes, como cães, gatos, equinos, suínos e coelhos. As aves são exceção, pois seu estômago é dividido em proventrículo e moela. 
No estômago, iniciam-se os processos de digestão dos alimentos. Como as proteínas são moléculas mais complexas que os carboidratos, necessitam de uma quebra das moléculas previamente ao intestino delgado. Por isso, somente as proteínas iniciam a digestão no estômago. 
O órgão recebe o alimento do esôfago e o retém por algum tempo, para liberá-lo, de forma gradativa, para a primeira porção do intestino delgado: o duodeno. O estômago dos não ruminantes tem uma região aglandular, onde ocorre algum tipo de fermentação; porém, não é o local principal, já que a fermentação pelas bactérias ocorre, majoritariamente, nas regiões do ceco e/ou colón. A região glandular, por sua vez, é rica em glândulas que secretam e liberam as secreções enzimáticas que auxiliam na digestão química. 
Podemos dividir o estômago da maioria dos não ruminantes em cárdia, fundo, corpo e piloro.
Representação das regiões do estômago. Observe a região da cárdia, fundo, corpo e piloro. A região da cárdia é a área de entrada do bolo alimentar do esôfago para o estômago. Na região do corpo, ocorre a mistura, trituração e início da digestão das proteínas. A região do fundo é conhecida como “saco cego”, e a região do piloro é a que vai controlar e enviar o quimo do estômago para o duodeno. A curvatura menor conecta-se ao fígado; e a curvatura maior conecta-se ao baço. 
O bolo alimentar, ao chegar ao estômago, sofre a ação do ácido clorídrico (sintetizado e liberado pelas células parietais) e da pepsina (secretada e liberada pelas células principais). As células principais liberam o pepsinogênio (molécula inativa), que, ao entrar em contato com o pH ácido, causado pela produção de ácido clorídrico, é ativado em pepsina. A pepsina é responsável por quebrar as proteínas em cadeias menores de aminoácidos, de forma a facilitar a digestão completa das proteínas no intestino delgado. 
A capacidade em litros de reter o bolo alimentar no estômago varia para cada espécie. Nos cães, por exemplo, o estômago tem capacidade de 0,5 a 6,0 litros. Esse valor também se altera de acordo com a raça. Em suínos, a capacidade de armazenamento gástrico é de 6 a 8 litros. Em equinos, é de 7,5 a 15 litros, o que equivale de 8 a 10% de todo o trato gastrointestinal. 
Essas informações nos indicam, portanto, qual manejo alimentar e nutricional devemos adotar. Em equinos, para mantermos o exemplo, devemos orientar que os animais comam várias vezes ao dia e que essas refeições sejam oferecidas em menor quantidade (de acordo com a exigência nutricional de cada animal), já que têm um estômago pequeno comparado ao tamanho total de seu corpo. Dessa forma, permanecerá um equilíbrio no trato gastrointestinal e não haverá problemas como cólica por compactação estomacal, que é muito frequente nos equinos.
DIGESTÃO NO ESTÔMAGO PLURICAVITÁRIO 
Você já reparou que os bovinos ficam grande parte do dia ruminando? Que eles comem poucas vezes, em grande quantidade, e passam em torno de 30 a 40% do dia ruminando? Esse comportamento está ligado ao fato deles serem, claro, animais ruminantes – e isso ocorre não apenas com bovinos, mas também com os caprinos, os ovinos, as girafas, os veados e os camelos. 
Você já reparou que os bovinos ficam grande parte do dia ruminando? Que eles comem poucas vezes, em grande quantidade, e passam em torno de 30 a 40% do dia ruminando? Esse comportamento está ligado ao fato deles serem, claro, animais ruminantes – e isso ocorre não apenas com bovinos, mas também com os caprinos, os ovinos, as girafas, os veados e os camelos. 
Os ruminantes são animais de estômago pluricavitário: há somente um estômago, mas dividido em quatro compartimentos: rúmen, retículo, omaso e abomaso. O processo de digestão no estômago pluricavitário é um pouco mais complexo que nos animais de estômago simples, pois são realizadas tanto a digestão enzimática quanto a digestão fermentativa. 
A digestão enzimática, que é a digestão química, é realizada pelas próprias enzimas do animal e ocorrem na região do abomaso, conhecida como “estômago verdadeiro”. Já a digestão fermentativa, que é o processo de fermentação realizado pelas bactérias, fungos e protozoários, ocorre na região do rúmen. 
A fermentação é o processo de digestão da fibra proveniente da parede das células vegetais, ou seja, do alimento volumoso do qual o animal se alimenta e de alimento concentrado que contenha substratos de origem vegetal. A fibra é composta pela celulose, hemicelulose, pectina e lignina. O produto da digestão fermentativa são os ácidos graxos voláteis (AGVs), que servem de energia para o animal hospedeiro. 
Os microrganismos no rúmen e o próprio animal hospedeiro têm uma relação de simbiose. Por um lado, o hospedeiro (animal) oferece condições específicas para o desenvolvimento das bactérias no rúmen, como: ausência de oxigênio, pH ácido (6,5) e temperatura entre 38,5 e 40 °C. Por outro lado, as bactérias realizam a fermentação da fibra, produzindo os AGVs que servirão de energia para o animal hospedeiro. Os microrganismos também podem sintetizar proteínas por meio de fontes não proteicas de nitrogênio, como a amônia, a ureia e os nitratos. Os ruminantes captam o alimento com a língua e realizam a mastigação com auxílio dos dentes, da língua e da saliva. O bolo alimentar passa pelo esôfago e atinge a região do rúmen e do retículo no estômago. Esses animais, porém, têm a capacidade fisiológica de voltar o alimento para boca, para uma nova mastigação. Esse processo é denominado ruminação e é importante para triturar as partículas alimentares até um tamanho compatível para o trânsito do bolo alimentar. 
Após a ruminação, o alimento retorna ao rúmen e é sedimentado de acordo com o maior peso das partículas, para gradativamente ser liberado. Isso porque o rúmen é dividido em fases, de acordo com peso das partículas que são absorvidas. A primeira fase é a fase gasosa, na qual ocorre a fermentação. Segue-se, então, uma fase sólida e uma fase líquida.
A função principal do rúmen é realizar a fermentação, e os principais ácidos graxos voláteis produzidos são: ácido propiônico, ácido butírico e ácido acético. O ácido acético tem influência na liberação do gás metano, que é liberado pelos bovinos por meio da eructação. A síntese do gás metano é realizada no retículo e liberada para eructação via esôfago. A produção de gases é de aproximadamente 30 a 40 litros por hora, e, em bovinos, a capacidade do rúmen e do retículo chega a cerca de 150-210 kg, de acordo com a raça. 
O omaso é responsável pela absorção de água, acetato, propionato e butirato. Já no abomaso, ocorre a secreção de ácido clorídrico: ali, ocorre a digestão enzimática ou digestão química do bolo alimentar, ou seja, é nessa porção que há atuação das enzimas digestivas produzidas pelo próprio animal. 
Para que todos esses processos de eructação, ruminação, fermentação e digestão ocorram, além dos microrganismos e das secreções enzimáticas, existe mais um fator para que tudo aconteça em equilíbrio: a motilidade do estômago dos ruminantes. 
O processo de fermentação é demorado quando comparado à digestão enzimática. Por isso, a musculatura da parede do rúmen e do retículo apresenta padrões demotilidade complexos e coordenados para manter o conteúdo que será fermentado por tempo adequado no rúmen e liberar gradativamente os resíduos que não são fermentados para os segmentos posteriores do estômago e intestino, para a digestão química. 
Basicamente, existem dois padrões de motilidade: as contrações primárias e as contrações secundárias. As contrações primárias são responsáveis por misturar o bolo alimentar e empurrá-lo novamente ao esôfago e à boca, para a ruminação. Posteriormente à ruminação, quando as partículas menores voltam ao rúmen, os padrões de contrações primárias são responsáveis por separar a ingesta circundante de acordo com a densidade. Formam-se bolhas de ar suspensas, próximas à região da cárdia. 
Com a contração primária no rúmen, inicia-se a contração primária bifásica no retículo. A primeira contração no retículo é relativamente fraca. Já a segunda é extremamente forte, criando um fluxo forte e rápido de digesta fluida. Com isso, o material que está no retículo, incluindo o bolo alimentar que foi recentemente deglutido, é levado de volta para o rúmen. 
O padrão de motilidade secundário tem o objetivo de contrair o gás na direção da porção cranial do rúmen, para liberá-lo na eructação. As contrações secundárias são importantes para liberar a grande quantidade de gases formados durante a fermentação, principalmente o gás carbônico e o gás metano, que devem ser rapidamente removidos para impedir a distensão do rúmen. Em geral, ocorrem de uma a três contrações rúmen-retículo por minuto.
Representação da digestão no estômago pluricavitário. Observe que a seta preta indica o caminho do bolo alimentar para a digestão enzimática, passando pelo abomaso, que é o “estômago verdadeiro”. A seta amarela, por sua vez, indica o caminho do bolo alimentar para o rúmen, para o processo de ruminação. 
REGULAÇÃO NEURAL E HORMONAL DOS PROCESSOS GASTROINTESTINAIS 
Como tudo isso acontece? Como todos os processos de digestão, absorção, motilidade, excreção, secreção das glândulas anexas, ruminação etc. ocorrem? A resposta para essas perguntas está no sistema nervoso e endócrino! 
Denominamos nível extrínseco o controle de fora do sistema digestório, pelo sistema nervoso e endócrino. Há também, é claro, um controle pelo nível intrínseco, que está localizado dentro do trato gastrointestinal, realizado pelo sistema nervoso entérico e os hormônios intestinais. 
Vamos falar primeiro sobre o sistema nervoso e endócrino extrínseco. O controle do sistema nervoso extrínseco ocorre pela ação do nervo vago, proveniente do sistema nervoso parassimpático e do nervo esplâncnico, originado do sistema nervoso simpático. O sistema nervoso simpático tem função inibitória, e o parassimpático tem função excitatória dos músculos e glândulas. 
O nervo vago detecta diferentes estímulos no trato gastrointestinal e comunica esse estímulo ao sistema nervoso central (SNC), por meio de quimiorreceptores e mecanorreceptores; por exemplo, durante a digestão no estômago, a acetilcolina é liberada pelo nervo vago para estimular a produção do suco pancreático pelo pâncreas. 
O nervo esplâncnico, por sua vez, é responsável por inervar a mucosa, os músculos e a camada serosa. Esse nervo tem a função de informar ao SNC os erros que podem ocorrer ao longo do trato gastrointestinal, como patologias. Com esse estímulo de “algo está errado”, a ativação simpática responde, inibindo a motilidade e aumentando as secreções glandulares. 
Já o sistema endócrino é responsável por regular o sistema digestório por meio da secreção de aldosterona. Quando atua no intestino, a aldosterona estimula a reabsorção de sódio e água.
Em relação ao sistema nervoso entérico, as estruturas nervosas estão localizadas na parede do trato gastrointestinal, em uma região denominada plexo mioentérico, entre a camada muscular interna e a longitudinal externa. O plexo é responsável pelos movimentos do trato gastrointestinal, que recebe estímulos via mecanorreceptores e quimiorreceptores que vão gerar respostas inibitórias ou excitatórias. 
Os enterócitos, que são as células epiteliais do trato gastrointestinal, além de liberarem as substâncias reguladoras para auxiliar na digestão, são capazes de perceber alterações do conteúdo que passa pelo lúmen. Com isso, as células endócrinas vão regular a atividade do trato gastrointestinal pela secreção dos hormônios secretina, gastrina, colecistocinina, motilina e enterogastrona. 
A secretina é secretada no duodeno em resposta à gordura, ao ácido gástrico e ao ácido biliar – e, por isso, tem a função de estimular a secreção de suco pancreático, bile e inibir a secreção de ácido clorídrico. Já a gastrina tem a função de estimular a secreção de ácido clorídrico e é secretada na presença de proteínas e quando ocorre a distensão gástrica. 
Por sua vez, a colecistocinina é liberada no duodeno e no jejuno e tem a função de estimular a contração da vesícula biliar, nas espécies que a possuem, promovendo seu esvaziamento e aumentando a secreção pancreática. Além disso, pode inibir o esvaziamento gástrico. 
A enterogastrona (também denominada polipeptídeo ou peptídeo inibidor gástrico) é secretada em resposta à glicose e à gordura e tem a capacidade de reduzir o esvaziamento gástrico. Por fim, a motilina tem a função de regular o complexo motor migrante e é secretada no duodeno. 
Precisamos ter em mente que as secreções liberadas do trato gastrointestinal vão ser controladas tanto pelo sistema nervoso e endócrino extrínseco quanto intrínseco; por exemplo, nas secreções liberadas pelo pâncreas, o estímulo para elas serem liberadas são provenientes de receptores para acetilcolina, secretina e colecistocinina.
Atuações do hormônio colecistocinina. Esse hormônio vai coletar estímulos do fígado, do pâncreas, do estômago, do ácido clorídrico, do esfíncter de Oddi, do duodeno e da vesícula biliar. Todo o trato gastrointestinal vai responder com estímulos de colecistocinina e de outros hormônios. 
METABOLISMO ORGÂNICO: CONTROLE E INTEGRAÇÃO DO METABOLISMO DE GLICÍDIOS, PROTEÍNAS E LIPÍDIOS 
Metabolismos são todas as reações bioquímicas que ocorrem dentro das células dos animais. Essas reações podem caracterizar um anabolismo ou um catabolismo. 
O anabolismo é a biossíntese de compostos orgânicos por meio da quebra de energia (trifosfato de adenosina – ATP) liberada no catabolismo; e o catabolismo é a degradação de nutrientes, acompanhada pela liberação de energia. Então, quando falamos de metabolismo orgânico, estamos falando da síntese ou quebra de carboidratos (glicídios), proteínas e lipídios. 
As proteínas têm função estrutural, energética, enzimática e hormonal. Os carboidratos têm função estrutural e energética. Os lipídios apresentam função de isolante térmico, reserva energética, membrana plasmática e hormonal. 
O controle do metabolismo orgânico ocorre pela regulação hormonal e controle da concentração celular de uma determinada enzima. A regulação hormonal pode estimular ou inibir o metabolismo: a adrenalina é um hormônio que estimula a quebra de glicogênio, e a insulina é um hormônio que inibe a quebra do glicogênio, por exemplo. A concentração celular das enzimas aumenta ou diminui de acordo com a necessidade da célula. 
A partir dos estímulos neuroendócrinos, iniciam-se os processos de catabolismo ou anabolismo dos compostos orgânicos. De forma geral, o catabolismo das proteínas é realizado pela quebra das proteínas em aminoácidos, que são quebrados em cetoácidos e amônia. Os cetoácidos são utilizados no ciclo de Krebs, e a amônia é transformada em ureia e atua nos rins. 
Os carboidratos, por sua vez, são transformados em monossacarídeos e posteriormente em glicose. Por meio da glicólise, a molécula de glicose gera piruvato e lactato. O piruvato é transformado em acetilcoenzima A (acetil-CoA), que atua no ciclo de Krebs. Já os lipídios são moléculas de triglicerídeos que são quebradas em ácidos graxos e glicerol. Os ácidos graxossão convertidos em acetil-CoA; e o glicerol, em glicose. A molécula de acetil-CoA vai, novamente, atuar no ciclo de Krebs. 
Podemos perceber que o objetivo do catabolismo dos glicídios, proteínas e lipídios é gerar energia para o animal, não importa a diferença no processo de síntese de energia por cada molécula. 
A integração do metabolismo orgânico é realizada principalmente pelo ciclo de Krebs. Os cetoácidos e as moléculas de acetil-CoA atuam no ciclo, gerando água, gás carbônico e amônia. Essas moléculas vão atuar na fosforilação oxidativa, gerando ATP. 
Além disso, existem outros processos que podem interligar o metabolismo das moléculas orgânicas, como a gliconeogênese. Nesse processo, há formação de glicose a partir de substratos não glicídicos, como aminoácidos, lactato, piruvato e glicerol. A gliconeogênese ocorre em estado de jejum, animais com diabetes e no período de exercícios – e ocorre no fígado e rins. 
Outra via metabólica importante que integra as proteínas, lipídios e glicídios é a glicogênese. A glicogênese é a síntese de glicogênio a partir de glicose. O glicogênio no músculo é combustível de reserva para síntese de ATP, e o glicogênio hepático é formado pela glicose de reserva para manutenção da glicemia. 
Devemos saber como ocorrem as vias metabólicas, a fim de que possamos orientar estratégias de manejo nutricional aos animais. A via metabólica da gliconeogênese, por exemplo, é muito utilizada para estudos em cavalos atletas, pois pode ser medida no momento da atividade física. 
FENÔMENOS E CONTROLE NEUROENDÓCRINO DOS ESTÁGIOS ABSORTIVOS E PÓS-ABSORTIVOS 
Quais mecanismos estão envolvidos no desenvolvimento da fome e da saciedade? O que faz um animal começar a se alimentar e o que faz com que fique saciado? 
O estágio absortivo é o momento em que há digestão e absorção, ou seja, o animal está saciado; e o pós-absortivo é a necessidade de ingerir qualquer alimento calórico que vá saciar o estágio de fome. Vários fatores estão envolvidos no controle neuroendócrino dos estágios absortivos e pós-absortivos.
Existem dois reguladores para o estágio de fome, sendo o primeiro o componente hedônico, que está relacionado à memória que fica impressa ao se alimentar, o estímulo visual e o olfato; e o segundo está relacionado às influências metabólicas ou homeostáticas, como, por exemplo, o nível de glicose no sangue. 
Quando o animal acaba de se alimentar, a parede do trato gastrointestinal fica distendida e aumenta-se o nível de glicose no sangue. Esses são estímulos para liberação do hormônio leptina, que atua no sistema nervoso central (SNC) e induz à saciedade. Ao contrário, se o trato gastrointestinal está vazio, é liberada a grelina pelo estômago, que age no SNC, 
produzindo o estágio de fome. 
Outros fatores também atuam nos estágios absortivos e pós-absortivos, como as respostas metabólicas insulina e glucagon. A insulina é produzida pelo pâncreas quando a glicemia está alta e induz à saciedade; e o glucagon é produzido quando a glicemia está baixa e induz à fome. 
Essa informação endócrina chega no sistema nervoso central porque todos os hormônios atuam em receptores para neurotransmissores. Os neurônios que atuam no metabolismo alimentar são os de primeira ordem, sendo eles: neurônios orexígenos (que induzem à fome) e anorexígenos (que induzem à saciedade). 
Esses neurônios são estimulados pelos hormônios e enviam informações por seus axônios para os neurônios de segunda ordem. Os neurônios de segunda ordem são neurônios da área hipotalâmica, que levam a informação para o hipotálamo – e, dessa forma, os animais têm estímulos absortivos ou pós-absortivos.

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