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LÍNGUA PORTUGUESA PROF. PABLO JAMILK QUESTÕES COMENTADAS E GABARITADAS 2 LÍNGUA PORTUGUESA SUMÁRIO MORFOLOGIA........................................................................................................03 VOZES VERBAIS.....................................................................................................28 SINTAXE..................................................................................................................36 COLOCAÇÃO PRONOMINAL E EMPREGO DO PRONOME..............................67 ACENTUAÇÃO GRÁFICA.......................................................................................88 CONCORDÂNCIA....................................................................................................91 EMPREGO DO SINAL INDICATIVO E CRASE......................................................99 PONTUAÇÃO..........................................................................................................116 INTERPRETAÇÃO DE TEXTO...............................................................................126 REDAÇÃO DE CORRESPONDÊNCIAS OFICIAIS................................................139 @pablojamilk YouTube.com/pablojamilkoficial @pjamilk www.pablojamilk.com.br Facebook.com/pablojamilkoficial 3 LÍNGUA PORTUGUESA EMPREGO DAS CLASSES DE PALAVRAS ARTIGO Um embate entre instituições de ensino superior, editoras e autores é travado há anos. Com o argumento de que livros são caros e muitas vezes apenas um capítulo é necessário para o curso, alunos e professores lançam mão de cópias de partes de publicações ou de apostilas para economizar. O debate voltou à tona após policiais da Delegacia Antipirataria apreenderem, no mês passado, mais de duzentas pastas com textos para serem reproduzidos em uma universidade do Rio de Janeiro, sob a alegação de crime de direitos autorais. O operador da máquina foi detido, e a universidade, indignada, criou normas para regulamentar as cópias dentro de seus estabelecimentos. Uma alternativa legal, porém, existe há quatro anos, mas só agora começa a ser efetivada em algumas universidades: a venda de capítulos avulsos. Luciani Gomes. In: IstoÉ, 6/10/2010 (com adaptações) 01. (CESPE – Adaptada)##A inserção do artigo definido plural os imediatamente antes da palavra “policiais” (l.6) não alteraria o sentido original do período. Resposta: Errado. Comentário: como não havia artigo no texto original, o substantivo “policiais” foi empregado de maneira genérica. Caso houvesse a inserção do artigo definido plural, o entendimento seria de que o substantivo passaria à determinação, ou seja, haveria um substantivo saliente (já mencionado) no texto que passa a ser retomado pelo referente. A presença do artigo altera o sentido original do período, que era de generalização do substantivo. MORFOLOGIA Na verdade, o que hoje definimos como democracia só foi possível em sociedades de tipo capitalista, mas não necessariamente de mercado. De modo geral, a democratização das sociedades impõe limites ao mercado, assim como desigualdades sociais em geral não contribuem para a fixação de uma tradição democrática. Penso que temos de refletir um pouco a respeito do que significa democracia. Para mim, não se trata de um regime com características fixas, mas de um processo que, apesar de constituir formas institucionais, não se esgota nelas. É tempo de voltar ao filósofo Espinosa e imaginar a democracia como uma potencialidade do social, que, se de um lado exige a criação de formas e de configurações legais e institucionais, por outro não permite parar. A democratização no século XX não se limitou à extensão de direitos políticos e civis. O tema da igualdade atravessou, com maior ou menor força, as chamadas sociedades ocidentais. Renato Lessa. Democracia em debate. In: Revista Cult, n.º 137, ano 12, jul./2009, p. 57 (com adaptações). 02. (CESPE - Adaptada)##Preservam-se a correção gramatical e a coerência textual ao se optar pela determinação do substantivo “respeito” (l.6), juntando-se o artigo definido à preposição “a”, escrevendo-se ao respeito. Resposta: Errado. Comentário: a expressão “a respeito de” é uma locução prepositiva, formada por uma preposição, um substantivo e uma preposição. Ao inserir um artigo antes do substantivo “respeito”, descaracteriza-se a locução prepositiva, o que causa erro na construção do parágrafo. -------------------------- ------------------------ Costumamos olhar pouco para fora do Brasil quando tentamos compreender o que estamos vivendo. Faz muito que a 4 LÍNGUA PORTUGUESA distância entre os países desapareceu, no plano objetivo. Continuamos, porém, vivendo “isolados do mundo”, como diz uma canção, ainda que apenas na subjetividade. Se pensarmos no que está à nossa volta, na América do Sul, então, mais ainda. Mesmo quando é bem informado, o brasileiro típico se mostra mais capaz de dar notícia do que ocorre na Europa e nos Estados Unidos da América do que em qualquer de nossos vizinhos. É pena, pois estar mais informados sobre o que acontece além das fronteiras pode ajudar muito a que nos entendamos como país. Marcos Coimbra. Olhando à nossa volta. In: Correio Braziliense, 23/9/2007 (com adaptações). 03. (CESPE - Adaptada)## Preservam-se a coerência textual e a correção gramatical ao se empregar o artigo o em lugar de “como” (l. 11). Resposta: Errado. Comentário: haverá um prejuízo para a coerência da sentença, pois o artigo surge em substituição do comparativo. Na construção da sentença, essa comparação é fundamental para entender ideia ex-pressa pela sentença, que é o autoentendimento como país. Tópico 2: O Jivaro (Rubem Braga) Um Sr. Matter, que fez uma viagem de exploração à América do Sul, conta a um jornal sua conversa com um índio jivaro, desses que sabem reduzir a cabeça de um morto até ela ficar bem pequenina. Queria assistir a uma dessas operações, e o índio lhe disse que exatamente ele tinha contas a acertar com um inimigo. O Sr. Matter: - Não, não! Um homem, não. Faça isso com a cabeça de um macaco. E o índio: - Por que um macaco? Ele não me fez nenhum mal! 04. (IBFC - Adaptada) Assinale a alternativa em que o vocábulo “a”, destacado nas opções abaixo, seja exclusivamente um artigo. a) “conta a um jornal sua conversa com um índio jivaro,” b) “desses que sabem reduzir a cabeça de um morto” c) “Queria assistir a uma dessas operações” d) “ele tinha contas a acertar com um inimigo” e) “uma viagem de exploração à América do Sul” Resposta: A Comentário: o “a” que antecede o termo cabeça deve ser classificado como artigo, pois, se analisarmos o termo subsequente, perceberemos que se trata de um substantivo. Nas demais alternativas, nota-se que há o emprego da preposição “a” em razão da regência dos termos “contar” e “assistir”. A preposição nos outros casos, surge em razão de haver uma locução adverbial que, em sua formação, usualmente é introduzida por uma preposição. -------------------- -------------------- Catar feijão (João Cabral de Melo Neto) Catar feijão se limita com escrever joga-se os grãos na água do alguidar1 E as palavras na folha do papel; E depois, joga-se fora o que boiar. [...] (João Cabral de Melo Neto) 5 LÍNGUA PORTUGUESA 05. (Makiyama - Adaptada) No trecho: “E as palavras na folha do papel”, o termo destacado morfologicamente é um a) adjetivo. b) pronome. c) artigo. d) numeral. e) verbo. Resposta: C Comentário: o termo destacado é um artigo, porque determina o substantivo “palavras”, com o qual estabelece uma relação de concordância, isto é, está flexionado no feminino e no plural. ADJETIVO Tornou-se sócio de um clube da Lagoa. Sozinho, porém, nunca punha os pés lá, até que um dia se fez acompanhar pelo Lulu, bom atleta e péssimo funcionário, que o apresentara como “velho servidor do Estado” às principais beldades do bairro. Como dialogar com elas? Não conhecia futebolnem equitação, não sabia jogar baralho, não guardava nomes de artistas de cinema, ignorava os escândalos da sociedade. 06. (CESPE – Adaptada)##O termo “velho” (l. 3) constitui exemplo de adjetivo cujo sentido é alterado conforme a posição em relação ao substantivo que modifica no sintagma — velho servidor / servidor velho. Resposta: Certo. Comentário: Considerando a alternativa, é preciso entender que a posição do adjetivo restritivo é fundamental para o entendimento da sentença: quando se desloca o adjetivo, o sentido pode ser alterado. A diferença em pleito é: velho servidor (servidor de longa data); servidor velho (um servidor com idade avançada). -------------------------- ------------------------ Rememoro os Natais da Rua da União, no Re- cife... A cozinha da casa de meu avô, aque- la cozinha que era todo o mundo da velha preta Tomásia... As grandes tachas de cobre que deixavam o sono da despensa, o grande pilão de madeira, que entrava a esmagar o milho verde cozido... [25.XII.1960] BANDEIRA, Manuel. Andorinha, Andorinha. Rio de Janeiro: Editora José Olympio, 1966. (Com adaptações) 07. (CESGRANRIO – Adaptada)##O adjetivo (entre parênteses) NÃO corresponde à locução adjetiva (destacada) em a) “Nos meses do verão,” (hibernais) b) “...afastado do bulício da cidade,” (urbano) c) “Às primeiras horas da tarde,” (vespertinas) d) “...grandes tachas de cobre...” (cúpreas) e) “o grande pilão de madeira,” (lígneo) Resposta: A Comentário: “Hibernal” é adjetivo que se refere à locução adjetiva “de inverno”. -------------------------- ------------------------ A polêmica sobre o porte de armas pela população não tem consenso nem mesmo dentro da esfera jurídica, na qual há vários entendimentos como: “o cidadão tem direito a reagir em legítima defesa e não pode ter cerceado seu acesso aos instrumentos de defesa”, ou “a utilização da força é direito exclusivo do Estado ”ou “o armamento da população mostra que o Estado é incapaz de garantir a segurança pública”. Independente de quão caloroso seja o debate, as estatísticas estão corretas: mais armas potencializam a ocorrência de crimes, sobretudo em um ambiente em que essas sejam obtidas por meios clandestinos. A partir daí, qualquer 6 LÍNGUA PORTUGUESA fato corriqueiro pode tornar-se letal. O porte de arma pelo cidadão pode dar uma falsa sensação de segurança, mas na realidade é o caminho mais curto para os registros de assaltos com morte de seu portador. Internet:<http://www.serasa.com.br/ guiacontraviolencia>. Acesso em 28/9/2004 (com adaptações). 08. (CESPE - Adaptada)##No período de que faz parte, o termo “Independente” (l.6) exerce a função de adjetivo e está no singular porque se refere a “debate” (l.7). Resposta: Errado. Comentário: A palavra “independente” é, morfologicamente falando, um adjetivo. Apesar disso, na sentença, ele foi empregado com função adverbial e, por essa razão, não há que se falar em concordância, afinal, o advérbio é invariável. -------------------------- ------------------------ O que nós conhecemos como vida é apenas a camada superficial de um mundo desco-nhecido. A grande maioria dos seres vivos são bactérias e microrganismos. Os cientistas estimam que as espécies que só podem ser vistas com aparelhos especiais cheguem a 10 milhões. Ou, quem sabe, a 100 milhões. O biólogo norte-americano Craig Venter acredita que o código genético de microrganismos pode se transformar num excelente negócio no futuro. Esses seres microscópicos estão na base da cadeia alimentar e dão forma aos ciclos de carbono, nitrogênio e outros nutrientes que sustentam todo o ecossistema. Em teoria, o DNA deles pode conter a chave para gerar energia barata, desenvolver remédios e acertar as bagunças da natureza provocadas pelo avanço da civilização. Há bactérias que só vivem em locais onde existe petróleo. Quem identificá-las terá o mapa da mina para explorar o produto. Veja. 25/8/2004, p. 64-5 (com adaptações). 09. (CESPE - Adaptada)##Com o emprego do adjetivo “superficial” (l.1), em sentido conotativo, a argumentação do texto reforça a ideia de que a ciência tem tratado de maneira muito pouco aprofundada os conhecimentos sobre a totalidade dos seres vivos do planeta. Resposta: Errado. Comentário: Em primeiro lugar, o adjetivo não foi empregado conotativamente, mas sim denotativamente, pois faz alusão ao que é mais externo, mais exterior, portanto, superficial. Em segundo lugar, o sentido pretendido é o de que ainda não há conhecimento suficiente, mas não que seja por negligência da ciência. -------------------------- ------------------------ Em 1819, o poeta John Keats, um expoente do movimento romântico, escreveu: “a verdade é bela e a beleza, verdade. Isso é tudo o que precisas saber em vida; tudo o que precisas saber”. (Perdoem-me pela tradução amadora.) Aqui, podemos perguntar: qual a relação da matemática com a beleza? Matemáticos e físicos atribuem beleza a teoremas e teorias, criando uma estética da “verdade”. Os mais belos são aqueles que explicam muito com pouco. Quando possível, os teoremas e teorias mais belos são também os mais simples: dadas duas ou mais explicações para o mesmo fenômeno, vence a mais simples. Esse critério é conhecido como a lâmina de Ockham, atribuído a William de Ockham, um teólogo inglês do século XIV. Para os que creem na matemática como linguagem universal, essa estética leva à existência de uma única verdade, o que parece guardar relação com o monoteísmo judaico-cristão nas ciências. Melhor é defender a matemática como nossa invenção. Criamos uma linguagem para descrever o mundo, que não podemos deixar de achar bela. Marcelo Gleiser. Folha de S.Paulo (com adaptações) 7 LÍNGUA PORTUGUESA 10. (CESPE - Adaptada)##No trecho “monoteísmo judaico-cristão nas ciências” (l. 15), o adjetivo é grafado na sua forma mais conhecida, embora também estejam corretas as formas judaicocristão e judaico cristão. Resposta: Errado. Comentário: Como é um adjetivo composto, é preciso inserir um hífen na formação da palavra que, é preciso ressaltar, é feita por justaposição. -------------------------- ------------------------ Brasil. País do verde-amarelo. Terra do futebol, do samba amigo e das mulatas sensuais. País da violência, das riquezas minerais e da política corrupta. Terra de Ronaldinho e de Chico Buarque. Alguma mentira? Não. Nosso país é de uma diversidade e de uma adversidade espantosas. De altos e baixos e extremos radicais. Riqueza, exuberância e miséria. São tantas coisas que falar sobre ele parece ser fácil. Ou não. São tantos extremos que evitar estereótipos parece difícil. Ou não. Todos estão sujeitos aos estereótipos. A ignorância e a arrogância permeiam esse caminho. A questão não é lutar para deletá-los, mas sim lutar para desmitificá-los. 11. (CESPE - Adaptada)##O fato de a palavra “verde-amarelo” (L.1) ser grafada com hífen mostra que se trata de uma composição vocabular em que o adjetivo verde passa a ser prefixo. Resposta: Errado. Comentário: Como a palavra é composta, não há que se pensar em prefixação; afinal, esse procedimento ocorre apenas no processo de derivação. É preciso considerar que a palavra “verde” é um dos elementos da composição que já possui um morfema lexical (raiz) por si só. Eu não gosto de ninguém, ele quase respondeu, refreando-se a tempo; faz sentido, ele mesmo concluía — é o pior momento da minha vida, sem a mulher, sem o filho, sem dinheiro, e desgraçadamente sem literatura. Uma letra de tango. Ou “um maneirista da própria sombra”, como escreveu Eusébio de Mattos no Suplemento de Arte, demolindo-o até a última linha com o sadismo certeiro dos grandes críticos. Para um país sem crítica, aquele texto chegava a ser uma boa surpresa, ainda que deixasse entrever mais o prazer do ataque que o lamento sincero de um estudioso honesto, o tsc tsc tsc diante de um escritorque nunca “chegou lá” na corrida de cavalos letrados do panorama nacional — e Donetti sentiu a respiração opressa pelo rancor. O célebre homem brasileiro cordial é cordial não porque seja polido, o que ele nunca foi, mas porque nada nunca passa pelo cérebro antes de chegar à vida — é só um coração batendo forte no meio da rua, que é o seu lugar. Cristovão Tezza. Um erro emocional. Rio de Janeiro: Record, 2010, p. 91 (com adaptações). 12. (CESPE - Adaptada)##Se, em vez do adjetivo “célebre” (L.12), o autor tivesse optado pela sua forma superlativa, teria de acrescentar-lhe o sufixo -érrimo, da seguinte forma: celebérrimo. Resposta: Certo Comentário: A formação do superlativo de um adjetivo pode ser pela raiz vernácula ou pela raiz erudita. Com a vernácula, utiliza- se o sufixo –íssimo; já, com a erudita, usa- se o sufixo -érrimo. A forma célebre ficará, em seu superlativo absoluto sintético, como celebérrimo, porque a raiz latina desse adjetivo é “celeber”. 8 LÍNGUA PORTUGUESA Pesquisas constatam doses crescentes de pessimismo diante do que o futuro esteja reservando aos que habitam este mundo, com a globalização exacerbando a competitividade e colocando os Estados de bem-estar social nos corredores de espera de cumprimento da pena de morte. É preciso “investir no povo”, recomenda o Per Capita — um centro pensante, criado recentemente na Austrália —, com seus dons progressistas. Configurar um mercado no qual as empresas levem em consideração o interesse público, sejam ampliados os compromissos de proteção ao meio ambiente e tenham como objetivo o bem-estar dos indivíduos. A questão maior é saber como colocar em prática essas belezas, num momento em que as lutas sociais sofrem o assédio cada vez mais agressivo da globalização e as próprias barreiras ideológicas caem por terra. Newton Carlos. Má hora das esquerdas. In: Correio Braziliense, 20/11/2007 (com adaptações). 13. (CESPE - Adaptada)##O adjetivo “agressivo” (l.11) está empregado com valor de advérbio e corresponde, dessa forma, a agressivamente. Resposta: Errado Comentário: O adjetivo “agressivo” está no masculino e no singular. Por isso, já é possível entender que ele estabelece um vínculo de concordância com o substantivo que lhe é correlato na sentença, a palavra “assédio”. Não é possível dizer que se trata de um advérbio, porque não está vinculado a um verbo a um adjetivo ou a outro advérbio. -------------------------- ------------------------ Nicolau meteu-se na política. Em 1823, vamos achá-lo na Constituinte. Não há que dizer ao modo por que ele cumpriu os deveres do cargo. Íntegro, desinteressado, patriota, não exercia de graça essas virtudes públicas, mas à custa de muita tempestade moral. Pode- se dizer, metaforicamente, que a frequência da câmara custava-lhe sangue precioso. Não era só porque os debates lhe pareciam insuportáveis, mas também porque lhe era difícil encarar certos homens, especialmente em certos dias. Montezuma, por exemplo, parecia-lhe balofo, Vergueiro, maçudo, os Andradas, execráveis. Cada discurso, não só dos principais oradores, mas dos secundários, era para o Nicolau verdadeiro suplício. E, não obstante, firme, pontual. Nunca a votação o achou ausente; nunca o nome dele soou sem eco pela augusta sala. Qualquer que fosse o seu desespero, sabia conter-se e pôr a ideia da pátria acima do alívio próprio. Talvez aplaudisse in petto o decreto de dissolução. Não afirmo; mas há bons fundamentos para crer que o Nicolau, apesar das mostras exteriores, gostou de ver dissolvida a assembleia. E se essa conjetura é verdadeira, não menos o será esta outra: que a deportação de alguns dos chefes constituintes, declarados inimigos públicos, veio aguar-lhe aquele prazer. Nicolau, que padecera com os discursos deles, não menos padeceu com o exílio, posto lhes desse um certo relevo. Se ele também fosse exilado! Machado de Assis. Verba testamentária. In: J. Gledson. 50 contos de Machado de Assis. São Paulo: Companhia das Letras, 2007, p. 168 (com adaptações). 14. (CESPE - Adaptada)##O termo “balofo” (l.8) expressa uma característica do sujeito da oração na qual esse adjetivo é empregado. Resposta: Certo. Comentário: A oração em questão é “Montezuma, por exemplo, parecia-lhe balofo, Vergueiro, maçudo, os Andradas, execráveis”. Considerando que o sujeito do verbo parecer é o substantivo Montezuma e o verbo em pleito é um verbo relacional (de ligação), conclui-se que a função de predicativo do sujeito – atribuída ao adjetivo “balofo” – direciona-se ao sujeito da oração. 9 LÍNGUA PORTUGUESA CONJUNÇÕES Embora as conquistas obtidas a partir da Revolução Francesa tenham possibilitado a consolidação da concepção de cidadania, elas não foram suficientes para que essa condição se verificasse na prática. A mera declaração formal das liberdades nos documentos e nas legislações esboroava diante da inexorável exclusão econômica da maioria da população. Em vista disso, já no século XIX, buscaram- se os direitos sociais com ações estatais que compensassem tais desigualdades, municiando os desvalidos com direitos implantados e construídos de forma coletiva em prol da saúde, da educação, da moradia, do trabalho, do lazer e da cultura para todos. 15. (CESPE - Adaptada)##Dada a relação de concessão estabelecida entre as duas primeiras orações do texto, a palavra “Embora” (l.1) poderia, sem prejuízo do sentido ou da correção gramatical do texto, ser substituída por Conquanto. Resposta: Certo Comentário: A palavra “embora” é uma conjunção subordinativa adverbial concessiva, assim como a palavra “conquanto”. Como o verbo da oração em que a conjunção surge foi conjugado no subjuntivo, é possível afirmar que não haverá prejuízo para a correção gramatical ou para o sentido da sentença. -------------------------- ------------------------ A impunidade de políticos não decorre de foro privilegiado, mas de justiça ineficiente. Abolir o referido mecanismo produzirá efeitos desfavoráveis. É compreensível a confusão. A designação mais conhecida, “foro privilegiado”, sem dúvida, sugere a existência de condenável regalia. Não é estranho, portanto, que o Congresso tenha incluído em sua agenda positiva um esforço para eliminar essa prerrogativa constitucional. Os parlamentares estariam, com isso, oferecendo o seu quinhão para o combate à impunidade que tradicionalmente beneficia políticos de todos os matizes. Entretanto, há dois equívocos nesse raciocínio. O primeiro é imaginar que o foro especial — assegurado a autoridades como o presidente da República, governadores, prefeitos, congressistas e ministros de Estado — seja responsável pela ausência de punições na esfera jurídica. As numerosas instâncias da justiça comum favorecem a interposição de recursos, o que atrasa a caminhada processual e contribui para a impunidade. O segundo equívoco do raciocínio é imaginar que a prerrogativa de foro constitua, de fato, um privilégio. De um lado, porque não há benefício na supressão de um ou de todos os graus de jurisdição. De outro, porque o mecanismo busca assegurar um julgamento imparcial — em proveito não só do réu, mas também da sociedade. 16. (CESPE - Adaptada)##Mantêm-se as relações sintáticas originais ao se substituir o termo “Entretanto” (l. 9) por qualquer um dos seguintes: Porém, Contudo, Todavia, No entanto. Resposta: Certo Comentário: A palavra destacada é uma conjunção coordenativa adversativa, ou seja, que exprime sentido de oposição. Todos os elementos suscitados para a permuta a que a questão alude são da mesma natureza. Isso quer dizer que na troca solicitada não haveria problemas para a correção ou para o sentido da sentença. -------------------------- ------------------------ Leio que a ciência deu agora mais um passo definitivo. É claro que o definitivo da ciência é transitório, e não por deficiência da ciência (é Origem ciênciademais), que se supera a si mesma a cada dia... Não 10 LÍNGUA PORTUGUESA indaguemos para que, já que a própria ciência não o faz — o que, aliás, é a mais moderna forma de objetividade de que dispomos. Mas vamos ao definitivo transitório. Os cientistas afirmam que podem realmente construir agora a bomba limpa. Sabemos todos que as bombas atômicas fabricadas até hoje são sujas (aliás, imundas) porque, depois que explodem, deixam vagando pela atmosfera o já famoso e temido estrôncio 90. Ora, isso é desagradável: pode mesmo acontecer que o próprio país que lançou a bomba venha a sofrer, a longo prazo, as consequências mortíferas da proeza. O que é, sem dúvida, uma sujeira. Pois bem, essas bombas indisciplinadas, mal-educadas, serão em breve substituídas pelas bombas n, que cumprirão sua missão com lisura: destruirão o inimigo, sem riscos para o atacante. Trata-se, portanto, de uma fabulosa conquista, não? Ferreira Gullar. Maravilha. In: A estranha vida banal. Rio de Janeiro: José Olympio, 1989, p. 109. 17. (CESPE - Adaptada)##Mantendo-se a correção gramatical e a coerência do texto, a conjunção “e”, em “e não por deficiência da ciência” (l. 2), poderia ser substituída por mas. Resposta: Certo. Comentário: A conjunção “e”, na maior parte das vezes, indica uma soma, ou seja, é aditiva. Ocorre que, na sentença em questão, ela desempenha função adversativa, razão pela qual sua permuta pela palavra “mas” (conjunção coordenativa adversativa) não prejudicaria a correção gramatical da sentença, tampouco a coerência. -------------------------- ------------------------ Todos nós, homens e mulheres, adultos e jovens, passamos boa parte da vida tendo de optar entre o certo e o errado, entre o bem e o mal. Na realidade, entre o que consideramos bem e o que consideramos mal. Apesar da longa permanência da questão, o que se considera certo e o que se considera errado muda ao longo da história e ao redor do globo terrestre. Ainda hoje, em certos lugares, a previsão da pena de morte autoriza o Estado a matar em nome da justiça. Em outras sociedades, o direito à vida é inviolável e nem o Estado nem ninguém tem o direito de tirar a vida alheia. Tempos atrás era tido como legítimo espancarem-se mulheres e crianças, escravizarem-se povos. Hoje em dia, embora ainda se saiba de casos de espancamento de mulheres e crianças, de trabalho escravo, esses comportamentos são publicamente condenados na maior parte do mundo. Mas a opção entre o certo e o errado não se coloca apenas na esfera de temas polêmicos que atraem os holofotes da mídia. Muitas e muitas vezes é na solidão da consciência de cada um de nós, homens e mulheres, pequenos e grandes, que certo e errado se enfrentam. E a ética é o domínio desse enfrentamento. Marisa Lajolo. Entre o bem e o mal. In: Histórias sobre a ética. 5.ª ed. São Paulo: Ática, 2008 (com adaptações). 18. (CESPE - Adaptada)##Dado o fato de que nem equivale a e não, a supressão da conjunção “e”, empregada logo após “inviolável”, na linha 8, manteria a correção gramatical do texto. Resposta: Errado. Comentário: Se houvesse a supressão do termo em questão, seria necessário inserir uma vírgula em seu lugar, a fim de manter a correção gramatical da sentença, pois o termo precisaria ficar separado da sentença como um elemento deslocado. 11 LÍNGUA PORTUGUESA Durante o período de janeiro a março de 2013, foram recebidas 13.348 reclamações de beneficiários de planos de saúde referentes à garantia de atendimento. Entre as operadoras médico-hospitalares, 480 tiveram pelo menos uma reclamação e, entre as operadoras odontológicas, 29 tiveram pelo menos uma reclamação de não cumprimento dos prazos máximos estabelecidos ou de negativa de cobertura. A fiscalização do cumprimento das garantias de atendimento é uma forma eficaz de se certificar o beneficiário da assistência por ele contratada, pois leva as operadoras a ampliarem o credenciamento de prestadores e a melhorarem o seu relacionamento com o cliente. Para isso, a participação dos consumidores é de fundamental importância. Internet: <www.ans.gov.br> (com adaptações). 19. (CESPE - Adaptada)##Mantêm-se a correção gramatical do período e suas informações originais ao se substituir o termo “pois” (l. 7) por qualquer um dos seguintes: já que, uma vez que, porquanto. Resposta: Certo. Comentário: A conjunção destacada é subordinativa adverbial causal, assim como as conjunções e locuções conjuntivas destacadas para a substituição na sentença. Por essa razão, não haveria prejuízo para a correção ou para o sentido da sentença, ao realizar a permuta mencionada. -------------------------- ------------------------ As relações que as sociedades ocidentais industriais mantêm com os temas da ciência e da tecnologia não se constituem numa constante. No transcorrer da história dessas sociedades, a ciência deixa de ser entendida apenas como um tipo de conhecimento tido como válido e passa a se conjugar com as técnicas, conformando uma aplicação prática e útil desse conhecimento. Isso ocorre desde os desdobramentos da Revolução Industrial no século XIX, quando ciência e tecnologia passaram a constituir um binômio, abreviadamente ex-presso por C&T, no qual, cada vez mais, conhecimento científico e técnica se entrelaçam. A tecnologia vai-se tornando plena de ciência e esta tende a incorporar crescentemente a técnica. Já no século XX, o desenvolvimento de ciência e tecnologia passou a utilizar intensivamente grandes investimentos financeiros, tendo em vista o domínio tanto da natureza quanto das sociedades. A partir de então, e dada a intensifi- cação dos processos técnico-científicos da contemporaneidade, surgem posiciona- mentos antagônicos em relação à temáti- ca da aceleração tecnológica. Por um lado, estabelece-se uma compreensão de que o incremento de ciência e tecnologia é algo determinante, ou até mesmo fundamental para um desenvolvimento econômico e so- cial satisfatório, além de ser politicamente neutro e desprovido de normatividade. Desde outra perspectiva, desenvolvem-se reflexões sobre as incertezas e indeterminações acerca do destino das sociedades como consequência dos principais modelos e sistemas técnico- científicos contemporâneos. Questiona-se o papel da ciência e da tecnologia como fator determinante e como atividade neutra de valores. Raquel Folmer Corrêa. Tecnologia e sociedade : análise de tecnologias sociais no Brasil contemporâneo. Porto Alegre: UFRGS, 2010. Dissertação de mestrado. In: Internet: <http://www.lume.ufrgs.br> (com adaptações) 20. (CESPE - Adaptada)##Nas linhas 8 e 28, as ocorrências do vocábulo “desde” introduzem circunstâncias temporais. Resposta: Errado. 12 LÍNGUA PORTUGUESA Comentário: Na primeira ocorrência, a palavra “desde” indica uma circunstância de tempo; na segunda ocorrência, a palavra “desde” indica perspectiva (posição) e não circunstância temporal. -------------------------- ------------------------ Se considerarmos o panorama internacional, perceberemos que o Ministério Público brasileiro é singular. Em nenhum outro país, há um Ministério Público que apresente perfil institucional semelhante ao nosso ou que ostente igual conjunto de atribuições. Do ponto de vista da localização institucional, há grande diversidade de situações no que se refere aos Ministérios Públicos dos demais países da América Latina. Encontra-se, por exemplo, Ministério Público dependente do Poder Judiciário na Costa Rica, na Colômbia e, no Paraguai, e ligado ao Poder Executivo, no México e no Uruguai. Constata-se, entretanto, que, apesar da maior extensão de obrigações do Ministério Público brasileiro, a relação entre o número de integrantes da instituição e a população é uma das mais desfavoráveis no quadro latino-americano. De fato, dados recentes indicam que, no Brasil, com 4,2 promotorespara cada 100 mil habitantes, há uma situação de clara desvantagem no que diz respeito ao número relativo de integrantes. No Panamá, por exemplo, o número é de 15,3 promotores para cada cem mil habitantes; na Guatemala, de 6,9; no Paraguai, de 5,9; na Bolívia, de 4,5. Em situação semelhante ou ainda mais crítica do que o Brasil, estão, por exemplo, o Peru, com 3,0; a Argentina, com 2,9; e, por fim, o Equador, com a mais baixa relação: 2,4. É correto dizer que há nações proporcionalmente com menos promotores que o Brasil. No entanto, as atribuições do Ministério Público brasileiro são muito mais extensas do que as dos Ministérios Públicos desses países. Maria Tereza Sadek. A construção de um novo Ministério Público resolutivo. Inter- net: <https://aplicacao.mp.mg.gov.br> (com adaptações). 21. (CESPE - Adaptada)##Seriam mantidas a coerência e a correção gramatical do texto se, feitos os devidos ajustes nas iniciais maiúsculas e minúsculas, o período “É correto (...) o Brasil” (l.11-12) fosse iniciado com um vocábulo de valor conclusivo, como logo, por conseguinte, assim ou porquanto, seguido de vírgula. Resposta: Errado. Comentário: A questão não fala sobre a retirada do ponto final da sentença antecedente. Além disso, é preciso entender que as conjunções conclusivas não estabelecem relação de conclusão com a sentença antecedente, mas com toda a circunstância que era transmitida pelo texto. Portanto, a alteração mencionada causaria prejuízo para a coerência da sentença. -------------------------- ------------------------ A parte da natureza varia ao infinito. Não há, no universo, duas coisas iguais. Muitas se parecem umas às outras, mas todas entre si diversificam. Os ramos de uma só árvore, as folhas da mesma planta, os traços da polpa de um dedo humano, as partículas do mesmo pó, as raias do espectro de um só raio solar ou estelar. Tudo assim, desde os astros no céu, até os micróbios no sangue, desde as nebulosas no espaço até as gotas do rocio na relva dos prados. A regra da igualdade não consiste senão em quinhoar desigualmente aos desiguais na medida em que se desigualam. Nessa desigualdade social, proporcionada à desigualdade natural, é que se acha a verdadeira lei da igualdade. O mais são desvarios da inveja, do orgulho ou da loucura. Tratar com desigualdade a iguais, ou a desiguais com igualdade, seria desigualdade 13 LÍNGUA PORTUGUESA flagrante e não igualdade real. Essa blasfêmia contra a razão e a fé, contra a civilização e a humanidade, é a filosofia da miséria; executada, não faria senão inaugurar a organização da miséria. Se a sociedade não pode igualar os que a natureza criou desiguais, cada um, nos limites da sua energia moral, no entanto, pode reagir sobre as desigualdades nativas, pela educação, atividade e perseverança. Tal a missão do trabalho. Ruy Barbosa. Oração aos moços. Internet: <http://home.comcast.net> (com adaptações). 22. (CESPE - Adaptada)##Não haveria prejuízo para o sentido original nem para a correção gramatical do texto caso se inserisse quando ou se for imediatamente antes de “executada” (l.15). Resposta: Errado. Comentário: Para entender a questão, é preciso entender o que evoca a conjunção empregada. No caso de utilizar a palavra “quando”, ela suscitará um verbo no futuro do presente e não no futuro do pretérito, como está no texto. A única permuta possível seria pela palavra “se” pode evocar o sentido de hipótese, ou seja, o verbo no futuro do pretérito. -------------------------- ------------------------ Escrevi uma carta aos meus concidadãos, pedindo-lhes que me dissessem francamente o que consideravam que fosse política, e dispensando-os de citar Aristóteles, Maquiavelli, Spencer, Comte. (...) Não tardou que o correio começasse a entregar-me as respostas; e, como eu não pagava o porte, reconheci que há neste mundo uma infinidade de filhos de Deus ou do diabo que os carregue, que estão à espreita de um simples pretexto para comunicar as suas ideias, ainda à custa dos vinténs magros. Não publico todas as definições recebidas, porque a vida é curta, vita brevis. Faço, porém, uma escolha rigorosa, e dou algumas das principais. (...) Uma das cartas dizia simplesmente que a política é tirar o chapéu às pessoas mais velhas. Outra afirmava que a política é a obrigação de não meter o dedo no nariz. Outra, que é, estando à mesa, não enxugar os beiços no guardanapo da vizinha, nem na ponta da toalha. Um secretário de club dançante jura que a política é dar excelência às moças, e não lhes pôr alcunhas. Segundo um morador da Tijuca, a política é agradecer com um sorriso animador ao amigo que nos paga a passagem. Muitas cartas são tão longas e difusas, que quase se não pode extratar nada. Citarei dessas a de um barbeiro, que define a política como a arte de lhe pagarem as barbas, e a de um boticário para quem a verdadeira política é não comprar nada na botica da esquina. Um sectário de Comte (viver às claras) afirma que a política é berrar nos bonds, quer se trate dos negócios da gente, quer dos estranhos. Não entendi algumas cartas. A letra de outras é ilegível. Outras repetem-se. Cinco ou seis dão, como suas, opiniões achadas nos livros. Note-se que, em todo esse montão de cartas, não há uma só de deputado ou senador, contudo escrevi a todos eles pedindo uma definição. Machado de Assis. Balas de estalo. In: Obra completa, vol. 3, Rio de Janeiro: Aguilar, 1973, p. 468-9 (com adaptações). 23. (CESPE - Adaptada)##O termo “contudo” (l.27) estabelece entre as orações do período relação sintática adversativa, por isso, poderia ser corretamente substituído por qualquer um dos seguintes vocábulos: entretanto, todavia, no entanto, porém, embora, conquanto. Resposta: Errado. Comentário: O candidato deve perceber, 14 LÍNGUA PORTUGUESA nessa questão, a tentativa de o elaborador enganar alguém mais despreparado. Ao colocar uma série de conjunções, o elaborador tenta enganar o candidato, pois o último elemento do encadeamento, a palavra “conquanto”, é uma conjunção subordinativa adverbial concessiva, que não expressa o mesmo sentido das demais, que são coordenativas adversativas. Por isso, a questão está errada. -------------------------- ------------------------ A língua indígena mais conhecida dos brasileiros — conquanto esse conhecimento se limite, em regra, só a um de seus nomes, tupi — é justamente o tupi-nambá. Essa foi a língua predominante nos contatos entre portugueses e indígenas nos séculos XVI e XVII e tornou-se a língua da expansão bandeirante no sul e da ocupação da Amazônia norte. Seu uso pela população luso-brasileira, tanto no norte quanto no sul da Colônia, era tão geral, no século XVIII, que o governo português chegou a baixar decretos (cartas régias) proibindo esse uso. Uma das consequências da prolongada convivência do tupinambá com o português foi a incorporação a este último de considerável número de palavras daquele. É notável a quantidade de lugares com nomes de origem tupinambá, quase sem alteração de pronúncia, muitos deles dados pelos luso-brasileiros dos séculos passados a localidades onde nunca viveram índios tupinambás. Aryon Dall’Igna Rodrigues. Línguas brasileiras: para o conhecimento das línguas indígenas. São Paulo: Loyola, 2002 (com adaptações). 24. (CESPE - Adaptada)##A conjunção “conquanto” (l.1) introduz uma oração em que se admite um fato contrário e subordinado ao fato afirmado na oração principal. Resposta: Certo. Comentário: Por ser uma conjunção de natureza concessiva, é possível afirmar que a sentença por ele introduzida indica uma contraposição ao que se afirma na oração principal. Essa palavra encontra os elementos “embora,” “ainda que” e “mesmo que” como equivalentes semânticos. -------------------------- ------------------------ O Senado Federal aprovou em plenário, em 31/10/2012, o projeto de lei originário da Câmarados Deputados (PL n.º 2.793/2011) que tipifica como criminosas algumas condutas cometidas no meio digital, sobretudo a invasão de computadores. A imprensa tem noticiado como se fosse a primeira aprovação desse tipo no Brasil e alguns setores comemoraram como se a existência de uma lei para os crimes eletrônicos fosse tudo o que faltava para diminuir a delinquência cibernética. Sendo o Brasil um país de tradições positivistas e sendo vedada a aplicação de analogia para criar tipos penais, não resta dúvida da necessidade de aprovação da lei. Talvez com a previsão dessas condutas específicas, haja melhores resultados punitivos. A falta de estrutura na maioria das delegacias civis do país e a ausência de previsão legal que estabeleça a obrigatoriedade da guarda de logs acabam por inviabilizar a investigação dos crimes digitais, em muitos casos. Com o Marco Civil da Internet (PL n.º 2.126/2011), o legislador poderia sanar esse problema ao prever o armazenamento de tais registros, sem dar margem à violação da privacidade, evidentemente. No entanto, no último parecer ao projeto, no mês julho, o deputado relator retirou a obrigatoriedade do armazenamento dos dados pelos provedores de aplicações à Internet, os chamados provedores de conteúdo, deixando essa previsão apenas aos provedores de conexão. O fato é que os registros de conexão nem sempre são suficientes para uma eficiente coleta de provas. O certo seria obrigar também os provedores de conteúdo a fazer esse registro, o que permitiria investigar e punir não só os crimes digitais como também 15 LÍNGUA PORTUGUESA outros, tais como os de difamação, calúnia e injúria, tão comuns nas redes sociais. Rafael Fernandes Maciel. In: Consultor Jurídico, 9/11/2012. Internet: <www.conjur.com.br> (com adaptações) 25. (CESPE - Adaptada) Mantendo-se a relação de sentido estabelecida entre os períodos, a expressão “No entanto” (l.17) poderia ser substituída, corretamente, por Com tudo. Resposta: Errado. Comentário: Essa questão, além de envolver conceitos de morfologia – conjunções, utiliza conhecimentos de ortografia. A despeito de haver uma locução conjuntiva coordenativa adversativa, a permuta não é possível, pois o elemento sugerido está grafado incorretamente. A grafia correta da palavra é “contudo”, sem separação. -------------------------- ------------------------ O IDEB, indicador de qualidade educacional, combina informações sobre desempenho em exames padronizados (Prova Brasil ou SAEB) — demonstrado pelos estudantes ao final do ensino fundamental e do ensino médio — com informações sobre rendimento escolar (aprovação). Estudos e análises da qualidade educacional raramente combinam as informações produzidas por esses dois tipos de indicadores, ainda que a complementaridade entre elas seja evidente. Um sistema educacional que reprove sistematicamente seus estudantes, fazendo que grande parte deles abandone a escola antes de completar a educação básica, não é desejável, mesmo se aqueles que concluem essa etapa de ensino atingem elevadas pontuações nos exames padronizados. Por outro lado, também não se deseja um sistema em que todos os alunos concluam o ensino médio no período correto, mas aprendam muito pouco na escola. Em suma, um sistema de ensino ideal seria aquele em que crianças e adolescentes tivessem acesso à escola, não desperdiçassem tempo com repetências, não abandonassem a escola precocemente e, ao final de tudo, aprendessem. Sabe-se que, no Brasil, a questão do acesso à escola não é mais um problema, já que a quase totalidade das crianças ingressa no sistema educacional. Entretanto, as taxas de repetência dos estudantes são bastante elevadas, assim como o é a proporção de adolescentes que abandonam a escola antes mesmo de concluir a educação básica. Outro indicador preocupante é a baixa proficiência obtida pelos alunos em exames padronizados. Internet: <http://download.inep.gov.br> (com adaptações) 26. (CESPE - Adaptada) A locução “já que” (l.19) confere a noção de causa à oração em que ocorre. Resposta: Certo. Comentário: A locução conjuntiva “já que” pertence à categoria das conjunções subordinativas adverbiais causais, por isso, introduz uma noção de causa à sentença em que aparece. Se analisar a sentença em que aparece: “a questão do acesso à escola não é mais um problema, já que a quase totalidade das crianças ingressa no sistema educacional”, será possível perceber a relação de causa e consequência – a totalidade das crianças ingressar no sistema educacional é a causa de a questão do acesso à escola não ser mais um problema. 16 LÍNGUA PORTUGUESA se entre si sem conciliação possível. Um exemplo dos estragos causados pela privatização desse recurso natural é o das represas Santo Antonio e Jirau, no rio Madeira, a oeste do Amazonas, no Brasil. As duas represas têm um custo de 20 bilhões de dólares e, na sua construção, estão envolvidas a multinacional GDF-Suez e o banco espanhol Santander. A construção dessas imensas represas provocou o que Ronack Monabay, da ONG Amigos da Terra, chama de “um desarranjo global”. As obras desencadearam um êxodo interior dos índios que viviam na região. Eles foram se refugiar em outra área ocupada por garimpeiros em busca de ouro e terminaram enfrentando-se com eles. (...) Brice Lalonde, coordenador da Rio+20, cúpula da ONU para o Meio Ambiente, prometeu que a água será “uma prioridade” da reunião que será realizada no Rio de Janeiro em junho. O responsável francês destaca neste sentido o paradoxo que atravessa este recurso natural: “a água é uma espécie de jogo entre o global e o local”. E neste jogo o poder global das multinacionais se impõe sobre os poderes locais. As ONGs não perdem as esperanças e apostam na mobilização social para contrapor a influência das megacorporações. Neste contexto preciso, todos lembram o exemplo da Bolívia. Jacques Cambon, organizador do Fórum Alternativo Mundial da Água e membro da ONG Aquattac, recorda o protesto que ocorreu na cidade de Cocha-bamba: “dezenas de milhares de pessoas manifestaram-se na rua em protesto contra o aumento da tarifa da água potável imposto pela multinacional norte-americana Bechtel”. A guerra da água é silenciosa, mas existe: conflito em Barcelona causado pelo aumento das tarifas, quase guerra na Patagônia chilena por causa da construção de enormes represas e da privatização de sistemas fluviais inteiros, antagonismos em Barcelona e em PREPOSIÇÕES Guerra da água é silenciosa, mas já está em curso Quanto vale a vida? “Para começar, um bom copo de água”, responde com ironia Jerôme, um dos participantes do Fórum Mundial Alternativo de Água (FAME) que se reuniu na França, paralelamente ao muito oficial Fórum Mundial da Água (FME). Duas “cúpulas” e duas posturas radicalmente opostas que expõem até o absurdo o antagonismo entre as multinacionais privadas da água e aqueles que militam por um acesso gratuito e igual a este recurso natural cuja propriedade é objeto de uma áspera disputa nos países do Sul. Basta apontar a identidade dos organizadores do Fórum Mundial da Água para entender o que está em jogo: o Fórum oficial foi organizado pelo Conselho Mundial da Água. Este organismo foi fundado pelas multinacionais da água Suez e Veolia e pelo Fundo Monetário Internacional, incansáveis defensores da privatização da água nos países do Sul. O mercado que enxergam diante de si é colossal: um bilhão de seres humanos não têm acesso à água potável e cerca de três bilhões de seres humanos carecem de banheiro. O tema da água é estratégico e tem repercussões humanas muito profundas. Os especialistas calculam que, entre 1950 e 2025, ocorrerá uma diminuição de 71% nas reservas mundiais de água por habitante: 18 mil metros cúbicos em 1950 e 4.800 metros cúbicos em 2025. Cerca de 2.500 pessoas morrem por dia por não dispor de um acesso adequado à águapotável. A metade delas é de crianças. Comparativamente, 100% da população de Nova York recebe água potável em suas casas. A porcentagem cai para 44% nos países em via de desenvolvimento e despenca para 16% na África Subsaariana. As águas turvas dos negócios e as reivindicações límpidas da sociedade civil, que defende o princípio segundo o qual a água é um assunto público e não privado e uma gestão racional dos recursos, chocam- 17 LÍNGUA PORTUGUESA muitos países africanos pelas tarifas abusivas aplicadas pelas multinacionais. A pérola fica por conta da Coca Cola e de suas tentativas de garantir o controle em Chiapas, México, das reservas de água mais importantes do país. Jacques Cambon está convencido de que “o problema do acesso à água é um problema de democracia. Enquanto não se garantir o acesso e a gestão da água sob supervisão de uma participação cidadã haverá guerras da água em todo o mundo”. (...) A ONU apresentou na França um informe sobre o impacto da mudança climática na gestão da água: secas, inundações, transtornos nos padrões básicos de chuva, derretimento de geleiras, urbanização excessiva, globalização, hiperconsumo, crescimento demográfico e econômico. Cada um destes fatores constitui, para as Nações Unidas, os desafios iminentes que exigem respostas da humanidade. A margem de manobra é estreita. Nada indica que os tomadores de decisão estão dispostos a modificar o rumo de suas ações. A mudança climática colocou uma agenda que as multinacionais, os bancos e o sistema financeiro resistem a aceitar. Seguem destruindo, em benefício próprio e contra a humanidade. Ante a cegueira das multinacionais, a solidariedade internacional e o lançamento daquilo que se chamou na França de “um efeito mariposa” em torno da problemática da água são duas respostas possíveis para frear a seca mundial. Eduardo Febbro - De Paris Tradução: Katarina Peixoto (Adaptado de www.cartamaior.com.br) 27. (CEPERJ - Adaptada)##“Cada um destes fatores constitui, para as Nações Unidas, os desafios iminentes que exigem respostas da humanidade” (7º parágrafo). Nessa frase, a preposição “para” possui valor semântico de: a) comparação b) finalidade c) explicação d) direção e) conformidade Resposta: E Comentário: Na sentença em questão, a preposição empregada pode ser entendida com o sentido de “conforme”, o que - claramente - indica conformidade. Ainda existe outra possibilidade de entender o sentido dessa sentença, trocando a preposição “para” pela locução “de acordo com”. -------------------------- ------------------------ Todos chegarão lá RIO DE JANEIRO – O Brasil está envelhecendo. Segundo instituições oficiais calculam, 20% da população terá mais de 60 anos em 2030. É o óbvio: vive-se mais, morre-se menos e as taxas de fecundidade estão caindo – e olhe que nunca se viram tantos gêmeos em carrinhos duplos no calçadão de Ipanema. Em números absolutos, esperam-se perto de 50 milhões de idosos em 2030 – imagine o volume de Lexotan, Viagra e fraldas geriátricas que isso vai exigir. Não quer dizer que a maioria desses macróbios seguirá o padrão dos velhos de antigamente, que, mal passados dos 60, equipados com boina, cachecol, suéter e cobertor nas pernas, eram levados para tomar sol no parquinho. Como a sociedade mudou muito, creio que os velhos de 2030 se parecerão cada vez mais com meus vizinhos do Baixo Vovô, aqui no Leblon – uma rede de vôlei frequentada diariamente por sexa ou septuagenários, com músculos invejáveis e capazes de saques mortíferos. A vida para eles nunca parou. Para eles, o lema é: se não se trabalha, diverte-se. 18 LÍNGUA PORTUGUESA Por sorte, a aceitação do velho é agora maior do que nunca. Bem diferente de 1968 – apogeu de algo que me parecia fabricado, chamado “Poder Jovem” –, em que ser velho era quase uma ofensa. À idade da razão, que deveria ser a aspiração de todos, sobrepunha- se o que Nelson Rodrigues denunciava como “a razão da idade” – a juventude justificando todas as injustiças e ignomínias (como as ocorridas na China, em que velhos eram humilhados publicamente por serem velhos, durante a Revolução Cultural). Enquanto naquela mesma época o rock era praticado por jovens esbeltos, bonitos e de longas cabeleiras, para uma plateia de rapazes e moças idem, hoje, como se viu no Rock in Rio, ele é praticado por velhos carecas, gordos e tatuados, para garotos que podiam ser seus netos. Já se pode confiar em maiores de 60 anos e, um dia, todos chegarão lá. (Ruy Castro. Folha de S.Paulo. 04.10.2013. Adaptado) 28. (VUNESP – Adaptada)##A frase em que a preposição destacada estabelece uma relação de lugar é: a) (...) 20% da população terá mais de 60 anos em 2030. (1.° parágrafo) b) Em números absolutos, esperam-se perto de 50 milhões de idosos em 2030 (...) (2.° parágrafo) c) Bem diferente de 1968 – apogeu de algo que me parecia fabricado, chamado “Poder Jovem” –, em que ser velho era quase uma ofensa. (4.° parágrafo) d) (...) (como as ocorridas na China, em que velhos eram humilhados publicamente por serem velhos, durante a Revolução Cultural). (4.° parágrafo) e) Já se pode confiar em maiores de 60 anos e, um dia, todos chegarão lá. (5.° parágrafo) Resposta: D Comentário: Na letra A, a preposição indica tempo, pois se associa ao numeral que indica o ano; na letra B, a ideia transmitida é de modo; na letra C, a preposição se relaciona ao ano de 1968, portanto, o sentido é temporal. Na letra D, a preposição se relacionada ao pronome “que” para formar um adjunto adverbial de lugar - ao retomar o termo China -; na letra E, a preposição introduz o complemento do verbo “confiar”. 29. (FUMARC - Adaptada)##Assinale a alternativa em que a substituição da preposição em destaque pela dos parênteses implique erro. a) O nome do Diretor Financeiro não constou na ata. (de) b) Depois que me aposentar, pretendo ir para o exterior. (a) c) É de Robert Frost a afirmativa de que o júri consta de doze pessoas escolhidas para decidirem quem tem o melhor advogado. (em) d) Ainda não temos confirmação da organização do congresso, mas, se tudo der certo, vamos a Estocolmo nas próximas férias de julho. (para) Resposta: C Comentário: Na letra A, não há problemas para a correção gramatical, em virtude de a preposição “de” também poder funcionar como introdução de complemento do verbo constar (nesse caso, significa algo como “estar na formulação de”. Na letra B, a preposição “a” indica direção ou movimento, logo, não há prejuízo para a correção ou para o sentido. Na letra C, não é possível utilizar a preposição “em”, por razão da regência do substantivo “afirmativa”, que deve ter o seu complemento introduzido pela preposição “de”. Na letra D, a despeito da mudança de sentido, não há erro em trocar a preposição, pois as duas significam destino ou orientação. 19 LÍNGUA PORTUGUESA Note-se, em tempo, que a mudança de sentido promovida pela troca das preposições “a” por “para”, no sentido de orientação ou destino, tem a ver com a noção de permanência: utilizando a preposição “para”, não há o indicativo de retorno; utilizando a preposição “a”, há o indicativo. -------------------------- ------------------------ A figura do ancião, desde o início dos relatos das primeiras civilizações, é muito controversa e discutida. No mundo ociden- tal, o senso comum das principais culturas muitas vezes discordava dos ensinamentos das filosofias clássicas sobre as contribui- ções da velhice para a sociedade. O estudo das reais condições trazidas pelo avanço da idade gerou diversas discussões éticas sobre as percepções biossociais dos processos de mudança do corpo. Médicos, biólogos, psicó- logos e antropólogos ainda hoje não conse- guem obter consenso sobre esse fenômeno em suas respectivas áreas. Muitas culturas ocidentais descrevem o estereótipo do jovem como corajoso, deste- mido, forte e indolente. Já a figurado idoso é retratada como um peso morto, um chato em decadência corporal e mental. Percep- ção preconceituosa que foi levada ao extre- mo no século XX pelos portugueses durante a ditadura de Antônio Salazar, notório por usar a perseguição aos idosos como bandei- ra política. Atletas e artistas cotidianamen- te debatem o avanço da idade com medo e desgosto, enquanto especial istas da saúde questionam se há deterioração ou mudança adapta-tiva do corpo humano. Nas culturas orientais, assim como na maioria das filosofias clássicas, a velhice é vista de um ângulo positivo, sendo fonte de sabedoria e meta para uma vida guiada pela prudência. O sábio ancião, que perso- nifica a figura do homem calmo, austero, e que muitas vezes é capaz de prever certas situações e aconselhar, se destaca em rela- ção ao jovem cheio de energia e de hormô- nios instáveis. Porém, apesar dos filósofos apreciarem o avanço da idade, nem todos eles tinham a mesma opinião sobre a velhi- ce. O jovem Platão tinha como inspiração o velho filósofo Sócrates. Apesar de ser desfa- vorecido materialmente, Sócrates possuía muita experiência e uma sabedoria ímpar que marcou a história do pensamento. Em A República , Platão retrata uma discussão filosófica sobre a justiça ocorrida na casa do velho Céfalo, homem importante e respei- tável em Atenas, que propiciava discussões filosóficas entre os mais velhos e os jovens que contemplavam os diálogos. Na socieda- de ideal desse filósofo, os jovens muitas ve- zes eram retratados como inconsequentes e ingênuos, a exemplo de Polemarco, filho de Céfalo. Nesta sociedade ideal, crianças e adolescen- tes não recebiam diretamente o ensino da Filosofia. Por ser um conhecimento nobre e difícil, [ela] era ensinada somente para pes- soas de idade mais avançada. Dentre os filósofos clássicos, o maior crí- tico sobre a construção filosófica da ideia de “velhice” era o estoico Sêneca. Para ele, Pla- tão, Aristóteles e Epicuro construíram uma concepção mitológica da figura do velho. Os idosos que ele conheceu em Roma muitas vezes não eram tão felizes como descreviam os gregos. Muitos deles, observou Sêne- ca, pareciam tranquilos, mas no fundo não eram. A aparente tranquilidade decorria de seu cansaço e desânimo por não conseguir mais lutar por aquilo que queriam. Não bus- caram a ataraxia enquanto jovens, ou seja, a tranquilidade da alma e a ausência de per- turbações frente aos desafios impostos pela vida. Se envelhecer é uma “droga”, como afir- ma o ator Arnold Schwarzenegger, ou se [a velhice] é a “melhor idade”, como dizem muitos aposentados, esses discursos não contribuem para uma resposta definitiva para o estudo científico. Afinal, o conceito de velhice não é um fenômeno puramente biológico, mas também fruto de uma cons- trução social e psicoemocional. MEUCCI, Arthur. Rev. Filosofia : março de 2013, p. 72-3. 20 LÍNGUA PORTUGUESA 30. (FUNCAB – Adaptada)##No período: “[...] Por ser um conhecimento nobre e difícil, [ela] era ensinada somente para pessoas de idade mais avançada.” (§ 3) a preposição POR introduz a mesma circunstância que em: a) batalhar por conseguir um lugar ao sol. b) perder o emprego por incompetência. c) corresponder-se com amigos por email d) ausentar-se por algumas semanas. e) relarcear os olhos por toda a sala. Resposta: B Comentário: Na letra A, a preposição introduz o sentido de finalidade (lutar para conseguir algo); na letra B, a preposição introduz o sentido de causa, que é idêntico ao do comando da questão. Na letra C, a preposição introduz o sentido de modo. Na letra D, a preposição introduz o sentido de tempo. Na letra E, a preposição introduz sentido de lugar. 31. (IBFC - Adaptada)##Considere os versos abaixo para responder às questões 20 e 21 seguintes. I. “A esperança vem do sul” II. “vem no café que produzimos” Nos versos em análise, foram destacadas contrações de preposições. Assinale a opção que apresenta, respectivamente, os valores semânticos que elas introduzem. a) lugar e lugar b) lugar e meio c) meio e meio d) meio e tempo e) lugar e tempo Resposta: B Comentário: A contração a que o comando da questão alude está relacionada à soma das preposições “de” e “em” com o artigo definido masculino “o”. Na construção “vir do sul”, o adjunto adverbial revela a ideia de lugar, ao passo que, na construção “vir no café”, o adjunto adverbial revela a ideia de meio. 32. (Makiyama – Adaptada)##Assinale a alternativa em que a preposição destacada estabelece sentido de origem: a) Apesar do mau tempo, viajou. b) O professor sequer quis ouvir às solicitações do aluno. c) Os vitrais chegaram aqui em pedaços. d) Este xale é de seda pura. e) As crianças não gostaram do ensopado de jiló. Resposta: B Comentário: Na letra A, a preposição estabelece o sentido de concessão; na letra B, a solicitação é proveniente do aluno, logo, a preposição indica origem. Na letra C, a preposição indica o sentido de modo; na letra D, a preposição indica o sentido de material (xale de seda); na letra E, o sentido empregado é o de material também (sopa feita com / de jiló). 33. (FJG – Adaptada)##“bem como os direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam” (2º parágrafo). A preposição em destaque pode preencher corretamente a lacuna em: a) Nos conflitos com fazendeiros, índios às vezes são violentos, pois agem ___ pressão. b) Frequentemente, a juventude clama ___ direitos que não são respeitados. c) Políticos da oposição votaram ___ o nosso projeto. d) A autora divulga dados ___ a situação atual dos povos indígenas. 21 LÍNGUA PORTUGUESA Resposta: D Comentário: Na letra A, a palavra correta é “sob” e não “sobre”. Na letra B, a preposição a ser empregada é “por”. Na letra C, a preposição em questão deveria ser “em” (apesar de dever aparecer na forma contrata). Finalmente, a sentença correta será a da letra D, pois a preposição deve introduzir ideia de assunto (sobre), nesse caso a frase conteria a informação “dados sobre a situação atual”. 34. (VUNESP – Adaptada)##Em – ... cada um de nós morre um pouco quando alguém, na distância e no tempo, rasga alguma carta nossa, e não tem esse gesto de deixá-la em algum canto,... – a expressão em destaque introduz a ideia de a) posse. b) tempo. c) modo. d) causa. e) lugar. Resposta: E Comentário: A preposição “em” associada ao termo “algum canto” cria a ideia de lugar. 35. (VUNESP – Adaptada)##Assinale a alternativa em que o termo em destaque expressa circunstância de posse. a) Era razoável, e diante da testemunha abri a bolsa, não sem experimentar a sensação de violar uma intimidade. b) Hesitei: constrangia-me abrir a bolsa de uma desconhecida ausente; nada haveria nela que me dissesse respeito. c) Por isso, grande foi a minha emoção ao deparar, no assento do ônibus, com uma bolsa preta de senhora. d) Mas eu não estava preparado para achar uma bolsa, e comuniquei a descoberta ao passageiro mais próximo. e) ... e sei de um polonês que achou um piano na praia do Leblon. Resposta: B Comentário: Na letra A, a ideia transmitida é a de lugar (diante de); na letra B, a ideia transmitida é a de posse (a bolsa pertencia a uma desconhecida); na letra C, a preposição estabelece o sentido de lugar; na letra D, a preposição introduz o sentido de finalidade; na letra E, o sentido transmitido é o de assunto (saber de / sobre). PRONOMES Da utilidade dos animais Terceiro dia de aula. A professora é um amor. Na sala, estampas coloridas 1 mostram animais de todos os feitios. “É preciso querer bem a eles”, diz a professora, com um sorriso que envolve toda a fauna, protegendo-a. “Eles têm direito à vida, como nós, além disso são muito úteis. Quem não sabe que o cachorro é o maior amigo da gente? Cachorro faz muita falta. Mas 4 não é só ele não. A galinha, o peixe, a vaca... Todos ajudam.” — Aquele cabeludo ali, professora, também ajuda? — Aquele? É o iaque, um boi da ÁsiaCentral. Aquele serve de montaria e de burro de carga. Do pêlo se fazem perucas 7 bacaninhas. E a carne, dizem que é gostosa. — Mas se serve de montaria, como é que a gente vai comer ele? — Bem, primeiro serve para uma coisa, depois para outra. Vamos adiante. Este é o texugo. Se vocês quiserem pintar a 22 LÍNGUA PORTUGUESA 10 parede do quarto, escolham pincel de texugo. Parece que é ótimo. — Ele faz pincel, professora? — Quem, o texugo? Não, só fornece o pêlo. Para pincel de barba também, que o Arturzinho vai usar quando crescer. 13 Arturzinho afirmou que pretende usar barbeador elétrico. Além do mais, não gostaria de pelar o texugo, uma vez que devemos gostar dele, mas a professora já explicava a utilidade do canguru: — Bolsas, malas, maletas, tudo isso o couro do canguru dá pra gente. Não falando na carne. Canguru é utilíssimo. 16 — Vivo, fessora? — A vicunha, que vocês estão vendo aí, produz... produz é maneira de dizer, ela fornece, ou por outra, com o pêlo dela nós preparamos ponchos, mantas, cobertores etc. 19 — Depois a gente come a vicunha, né, fessora? — Daniel, não é preciso comer todos os animais. Basta retirar a lã da vicunha, que torna a crescer... — E a gente torna a cortar? Ela não tem sossego, tadinha. 22 — Vejam agora como a zebra é camarada. Trabalha no circo, e seu couro listrado serve para forro de cadeira, de almofada e para tapete. Também se aproveita a carne, sabem? — A carne também é listrada? — pergunta que desencadeia riso geral. 25 — Não riam da Betty, ela é uma garota que quer saber direito as coisas. Querida, eu nunca vi carne de zebra no açougue, mas posso garantir que não é listrada. Se fosse, não deixaria de ser comestível por causa disto. Ah, o pingüim? Este vocês já conhecem da praia do Leblon, onde costuma aparecer, trazido pela correnteza. Pensam que só serve para brincar? Estão 28 enganados. Vocês devem respeitar o bichinho. O excremento — não sabem o que é? O cocô do pinguim é um adubo maravilhoso: guano, rico em nitrato. O óleo feito com a gordura do pinguim... — A senhora disse que a gente deve respeitar. — Claro. Mas o óleo é bom. 31 — Do javali, professora, duvido que a gente lucre alguma coisa. — Pois lucra. O pêlo dá escovas de ótima qualidade. — E o castor? — Pois quando voltar a moda do chapéu para homens, o castor vai prestar muito serviço. Aliás, já presta, 34 com a pele usada para agasalhos. É o que se pode chamar um bom exemplo. — Eu, hem? — Dos chifres do rinoceronte, Belá, você pode encomendar um vaso raro para o living de sua casa. Do couro da girafa, 37 Luís Gabriel pode tirar um escudo de verdade, deixando os pêlos da cauda para Teresa fazer um bracelete genial. A tartaruga-marinha, meu Deus, é de uma utilidade que vocês não calculam. Comem- se os ovos e toma-se a sopa: uma de-lí-cia. O casco serve para fabricar pentes, cigarreiras, tanta coisa... O biguá é engraçado. 40 — Engraçado, como? Apanha peixe pra gente. — Apanha e entrega, professora? — Não é bem assim. Você bota um anel no pescoço dele, e o biguá pega o peixe mas não pode engolir. Então você tira 43 o peixe da goela do biguá. — Bobo que ele é. — Não. É útil. Ai de nós se não fossem os animais que nos ajudam de todas as maneiras. Por isso que eu digo: devemos 46 amar os animais, e não maltratá-los de 23 LÍNGUA PORTUGUESA jeito nenhum. Entendeu, Ricardo? — Entendi. A gente deve amar, respeitar, pelar e comer os animais, e aproveitar bem o pêlo, o couro e os ossos. Carlos Drummond de Andrade. De notícias & não-notícias faz-se a crônica. Rio de Janeiro: Record, 1993, p. 113-5 (com adaptações). 36. (CESPE) A frase “Vocês devem respeitar o bichinho” (L.28) permanecerá correta se o trecho sublinhado for substituído por lhe. Resposta: Errado. Comentário: a substituição não é possível, porque a palavra “lhe” é um pronome que serve para ocupar o lugar textual de termos que estão preposicionados. Como na frase o verbo é transitivo direto e não exige preposição, não se pode empregar a forma pronominal “lhe”. O correto seria empregar a forma “lo”. -------------------------- ------------------------ Todos nós, homens e mulheres, adultos e jovens, passamos boa parte da vida tendo de optar entre o certo e o errado, entre o bem e o mal. Na realidade, entre o que consideramos bem e o que consideramos mal. Apesar da longa permanência da questão, o que se considera certo e o que se considera errado muda ao longo da história e ao redor do globo terrestre. Ainda hoje, em certos lugares, a previsão da pena de morte autoriza o Estado a matar em nome da justiça. Em outras sociedades, o direito à vida é inviolável e nem o Estado nem ninguém tem o direito de tirar a vida alheia. Tempos atrás era tido como legítimo espancarem-se mulheres e crianças, escravizarem-se povos. Hoje em dia, embora ainda se saiba de casos de espancamento de mulheres e crianças, de trabalho escravo, esses comportamentos são publicamente condenados na maior parte do mundo. Mas a opção entre o certo e o errado não se coloca apenas na esfera de temas polêmicos que atraem os holofotes da mídia. Muitas e muitas vezes é na solidão da consciência de cada um de nós, homens e mulheres, pequenos e grandes, que certo e errado se enfrentam. E a ética é o domínio desse enfrentamento. Marisa Lajolo. Entre o bem e o mal. In: Histórias sobre a ética. 5.ª ed. São Paulo: Ática, 2008 (com adaptações). 37. (CESPE- Adaptada) No trecho “o que consideramos bem” (l.3), o vocábulo “que” classifica-se como pronome e exerce a função de complemento da forma verbal “consideramos”. Resposta: Gabarito: certo. Comentário: a palavra “que” é um pronome relativo, que retoma o pronome antecedente (o demonstrativo “o”) e faz a relação sintática com o verbo considerar – que é um transitivo direto. Isso obriga a identificação do pronome como complemento da forma verbal, ou seja, o pronome desempenha a função sintática de objeto direto do verbo “considerar” e a palavra “bem” funciona como predicativo do objeto direto. -------------------------- ------------------------ Estou comendo umas empanadas e bebendo um vinho, ao entardecer, em uma modesta casa em Assunção, capital do Paraguai. Há qualquer coisa de meigo por aqui. E não é só porque entendem o português e aceitam o real como moeda. Há uma simpatia pelo Brasil, apesar de nosso fantasma imperialista, que vem desde aquela maldita guerra que arrasou o país. E isso é curioso porque minha geração dizia que imperialistas eram os norte-americanos. Mas aqui dão como exemplo atual a represa de Itaipu, cujo contrato é leonino contra o Paraguai. 24 LÍNGUA PORTUGUESA Affonso Romano de Sant’Anna. Ali, no Paraguai. In: Correio Braziliense, 16/12/2007 (com adaptações) 38. (CESPE - Adaptada) Na linha 8, o pronome relativo “cujo” estabelece a relação de posse entre “represa de Itaipu” e “contrato”. Resposta: Certo. Comentário: o pronome “cujo” indica uma relação de posse sempre que empregado, como se houvesse em seu conteúdo semântico a preposição “de”, ou seja, “cujo” significa alguma coisa como “de algo”. No texto, o relacionamento é feito entre dois substantivos: represa e contrato. A interpretação evidente dessa relação é que o contrato pertence à represa. -------------------------- ------------------------ A promoção da igualdade de oportunidades e a eliminação de todas as formas de discriminação são alguns dos elementos fundamentais da Declaração dos Direitos e Princípios Fundamentais do Trabalho e da Agenda do Trabalho Decente da Organização Internacional do Trabalho (OIT). Um requisito básico para que o crescimento econômico dos países se traduza em menos pobreza e maior bem- estar e justiça social é melhorar as condições de vida das mulheres, dos negros e de outros grupos discriminados da sociedade; outro é aumentar sua possibilidade de acesso a empregos capazes de garantir uma vida digna para si próprios e para suas famílias.A pobreza está diretamente relacionada aos níveis e padrões de emprego, assim como às desigualdades e à discriminação existentes na sociedade. Além disso, as diferentes formas de discriminação estão fortemente associadas aos fenômenos de exclusão social que dão origem à pobreza e são responsáveis pelos diversos tipos de vulnerabilidade e pela criação de barreiras adicionais que impedem as pessoas e grupos discriminados de superar situações de pobreza. A erradicação da pobreza vem sendo considerada uma das maiores prioridades para a construção de sociedades mais justas, assim como vem aumentando o reconhecimento de que as causas e condições de pobreza são diferentes para homens e mulheres, negros e brancos. Por isso, estão sendo realizados esforços para que as necessidades das mulheres e negros sejam consideradas de forma explícita e efetiva nas estratégias de redução da pobreza e nas políticas de geração de emprego e renda. Internet: <www.oit.org.br> (com adaptações) 39. (CESPE - Adaptada) Em “sua possibilidade de acesso” (l.8), o termo “sua” corresponde a da sociedade Resposta: Errado. Comentário: o pronome retoma semanticamente os referentes “as mulheres”, “os negros” e “os outros grupos discriminados da sociedade”. Isso ocorre, porque o termo referente é um grupo semântico subdividido, ou seja, há mais de um elemento de referência para a formação do parágrafo. Na retomada, o pronome de 3ª pessoa recupera todos os elementos, não um particularmente. -------------------------- ------------------------ O conceito de consumo consciente não envolve apenas o que você consome, mas também como você consome um produto, de quem você o adquire e qual será o seu destino após descartá-lo. Pouco adianta usar sacolas retornáveis de uma empresa que não toma o devido cuidado em seu processo de produção, ou comprar alimentos orgânicos de um produtor que não registra devidamente 25 LÍNGUA PORTUGUESA seus empregados, mas utiliza mão de obra infantil ou escrava. Pesquisa recente promovida pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA) apontou que dois terços dos brasileiros disseram desconhecer o significado do termo consumo consciente. Dos que responderam saber o seu significado, 54% o definiram como o ato de consumir produtos ou serviços que não agridam o meio ambiente nem a saúde humana. Há diversas abordagens sobre a definição de consumo consciente. De maneira geral, todas elas passam pela prática de consumir produtos com consciência de seus impactos, buscando a sustentabilidade. O Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), por exemplo, indica que a utilização de bens e serviços precisa atender às necessidades básicas e proporcionar melhor qualidade de vida. Ao mesmo tempo, um produto ou serviço deve minimizar o uso de recursos naturais e materiais tóxicos, assim como diminuir a emissão de poluentes e a geração de resíduos. Para o MMA, o consumo consciente é uma contribuição voluntária, cotidiana e solidária do cidadão para garantir a sustentabilidade da vida no planeta. Envolve a ampliação dos impactos positivos e a diminuição dos impactos negativos no meio ambiente, na economia e nas relações sociais. Internet: <www.brasil.gov.br> (com adaptações). 40. (CESPE - Adaptada) Na linha 4, o pronome “seu” pode fazer referência tanto ao processo de produção de sacolas retornáveis quanto ao processo de produção utilizado pela empresa hipotética mencionada, de forma geral. Resposta: Certo. Comentário: nas questões de retomada, é importante observar que os pronomes necessitam de núcleos semânticos de referência, ou seja, outros pronomes, substantivos ou expressões substantivadas que sirvam para a progressão do texto. No caso do pronome “seu”, deve-se entender que ele faz uma retomada de 3ª pessoa e, na frase apresentada, há dois substantivos que poderiam receber o aporte semântico do termo processo: sacolas e empresa. Desse modo, há ambiguidade na interpretação dos elementos. -------------------------- ------------------------ I. A comunicação é uma característica inerente ao ser humano. II. As pessoas estão mergulhadas em processos comunicativos o tempo todo. III. Do sucesso no circuito comunicacional dependem a existência e a felicidade pessoal. IV. Entre os diferentes tipos de comunicação, o mais importante é a comunicação interpessoal, que diz respeito à capacidade de dialogar, à troca de informações, seja por meio do contato físico direto, seja por intermédio de dispositivos técnicos criados pelo homem com o fim de transmissão de mensagens. V. Nas sociedades orais, aquelas que não dispunham de nenhum sistema de escrita, as mensagens eram recebidas no tempo e no lugar em que eram emitidas. 41. (CESPE - Adaptada) No período que constitui a assertiva V, as duas ocorrências do pronome relativo “que” exercem funções sintáticas distintas. Resposta: Certo. Comentário: na primeira ocorrência do pronome, ele desempenha a função de sujeito do verbo dizer; na segunda ocorrência, o pronome desempenha a função de núcleo do adjunto adverbial. 26 LÍNGUA PORTUGUESA Existem muitas maneiras de se enxergar uma empresa. Uma delas é vê-la como uma máquina. E não se trata de uma analogia nova. A era industrial foi construída com base nesse paradigma, sustentado pelas teorias dos cientistas Taylor e Fayol, que acreditavam (e isso fazia sentido para a época em que viveram) que uma empresa tinha de funcionar como um infalível relógio ou como uma locomotiva, programada para cumprir, rigorosamente, seus tempos de parada e locomoção, de maneira a garantir o andamento do sistema ferroviário, sem atrasos nem acidentes. Para isso, colocaram a produtividade como principal meta, assegurada por um sistema técnico de alta eficiência. Uma empresa até pode se parecer com uma máquina, quando existe uma tarefa contínua a ser desempenhada. Nesse caso, a mecanização da tarefa, de maneira integralmente repetitiva, pode diminuir a quantidade de erros. O mesmo raciocínio continua valendo, se a empresa estiver situada em um ambiente estável, ou seja, onde os fatores externos pouco ou nada interferem no seu desempenho. Ou quando a criatividade, produto mais nobre e valioso do sistema humano, é considerada indesejável. Tornar as tarefas repetitivas para eliminar erros é, talvez, o maior equívoco em que se pode incorrer. Afinal, os erros acontecem justamente quando o indivíduo liga o piloto automático. E o piloto automático é acionado quando o trabalho a ser feito não traz significado algum para aquele que o executa. Destituído de sentido, o trabalho se transforma em tarefa enfadonha, que traz apenas aborrecimento, o que, por sua vez, gera a pressa de acabar logo com aquela tortura, na ânsia de reencontrar a alma deixada na porta de entrada da empresa, ao lado do marcador de ponto. Internet: <www.empreendedor.com.br> (com adaptações). 42. (CESPE - Adaptada) Mantendo-se a correção gramatical do texto, é correto substituir-se “colocaram a produtividade como principal meta” (l.11-12) por colocaram- lhe na situação de meta principal. Resposta: Errado. Comentário: não se pode fazer a alteração proposta, porque a expressão “a produtividade” funciona como um complemento direto do verbo “colocar”. Isso mostra que não é possível aplicar a forma pronominal “lhe”, que substitui uma expressão preposicionada. -------------------------- ------------------------ “Não é difícil governar a Itália. É inútil.” O ditador Benito Mussolini cunhou essa frase com a pretensão de jogar sobre o povo italiano todas as mazelas do país. Contudo, a história vem mostrando que a famosa frase embute uma verdade, só que em um sentido invertido. Inúteis são governantes como Mussolini e Silvio Berlusconi, o bufão de 75 anos que foi primeiro-ministro por três vezes e agora cai por absoluta incapacidade de apresentar soluções para a brutal crise econômica da Itália. O último mandatode Berlusconi começou em 2008 e, desde então, ele parecia viver uma realidade paralela. Passou o tempo administrando denúncias — de fraude fiscal a sexo pago com belas garotas. Mas foi a economia que acabou com a sua condição de primeiro-ministro com mais tempo no poder italiano depois da Segunda Guerra Mundial. Sem respaldo político para adotar medidas de austeridade essenciais para impedir a quebradeira da Itália, a terceira maior economia da zona do euro, Berlusconi anunciou, no dia 8 de novembro, sua intenção de renúncia. Só não marcou a data. Como condicionou a saída à aprovação de um pacote de reformas econômicas, ele acabou provocando mais incertezas quanto ao futuro da economia italiana. Luiza Villaméa. A queda do bufão. In: IstoÉ, 16/11/2011 (com adaptações). 27 LÍNGUA PORTUGUESA 43. (CESPE – Adaptada) Nos períodos “o bufão de 75 anos que foi primeiro-ministro por três vezes” (l.5) e “Mas foi a economia que acabou com a sua condição de primeiro- ministro” (l.11), os elementos sublinhados têm, ambos, a função de restringir o sentido das expressões que os antecedem, a saber, “o bufão de 75 anos” e “a economia”, respectivamente Resposta: Errado. Comentário: O primeiro termo sublinhado é um pronome relativo e, de fato, retoma e restringe o referente. O segundo termo não é um pronome, mas sim uma partícula expletiva, ou seja, é uma expressão que não é necessária para a sentença e pode ser retirada sem prejuízo da correção ou do sentido. A forma final da sentença sem a expressão expletiva seria: mas a economia acabou com a sua condição de primeiro- ministro. SUBSTANTIVOS 44. (FUNCAB – Adaptada)##O substantivo REBANHO é coletivo, por indicar uma multiplicidade de seres da mesma espécie, embora esteja no singular. Assinale a opção em que o elemento entre parênteses está corretamente relacionado como substantivo coletivo. a) Armada (armas de fogo) b) Cáfila (soldados) c) Nuvem (insetos) d) Réstia (aves em voo) e) Fauna (plantas de uma região) Resposta: C Comentário: Armada é o coletivo de navios de guerra; cáfila é o coletivo de camelos; nuvem é o coletivo de insetos (a única correta); réstia é o coletivo de cebolas e alhos; fauna é o coletivo de animais de uma região. 45. (CESGRANRIO - Adaptada)##A palavra b é o substantivo ligado à ação do verbo atender. Qual verbo tem o substantivo ligado à sua ação com a mesma terminação (-mento)? a) Escrever b) Ferver c) Pretender d) Querer e) Crescer Resposta: E Comentário: Para responder a essa questão, basta tentar derivar todas as palavras com o sufixo em questão: crescimento (correto); escrevimento (errado); fervimento (errado); pretendimento (errado); queremento (errado. 46. (NCE – UFRJ)##Assinale a alternativa em que a relação entre verbo/ substantivo cognatos é INADEQUADA: a) sobreviver / sobrevivência; b) perceber / percepção; c) resolver / resposta; d) gerar / geração; e) interagir / interação. Resposta: C Comentário: Na letra C, o substantivo correto para a derivação do verbo deve ser “resolução”. As demais formas estão corretas. 47. (FGV)##Celular é um adjetivo que se transformou em substantivo masculino, em função da elipse do vocábulo telefone, que antecedia esse adjetivo. O caso em que houve o mesmo é: a) o micro-ondas b) o caixa 28 LÍNGUA PORTUGUESA c) o Municipal d) o público e) o lança-perfume Resposta: C Comentário: Dentre todos os termos mencionados, o único que tem sufixação adjetival (que forma um adjetivo) é o da letra C. Observem-se casos semelhantes: policial, estadual, colegial, matricial. O que ocorre na questão é uma derivação imprópria, causada pela anteposição do artigo a um adjetivo, com o fito de transformá-lo em substantivo. 48. (FGV)##Assinale alternativa em que a forma verbal sublinhada funciona como substantivo. a)“Estenderam-se na praia para descansar” b) “Ficamos meio cegos, incapazes de perceber seja o que for acima da mediocridade” c) “Então eles, os heróis, chegaram a uma ilha deserta chamada Tinis, ao alvorecer” d) “Em terra de gente que lê sem ler...” Resposta: C Comentário: A despeito da alternativa C, todos os termos destacados são verbos. A palavra “alvorecer”, originalmente um verbo, ao receber o artigo na anteposição, transforma-se em um substantivo. 49. (EEAR - Adaptada)##Em qual alternativa não é possível identificar se o ser ao qual o substantivo em destaque se refere é masculino ou feminino? a) A agente de turismo me garantiu que o hotel é excelente. b) A cliente reclamou do péssimo atendimento ao gerente do banco. c) O público aplaudiu muito a intérprete quando o espetáculo terminou. d) Depois de várias ameaças anônimas, a testemunha passou a receber proteção policial. Resposta: D Comentário: As palavras “agente”, “cliente” e “intérprete” são substantivos comuns-de- dois gêneros. Como a palavra “testemunha” é um substantivo sobrecomum, não há como saber o gênero do referente dessa palavra. [14 de fevereiro] Conheci ontem o que é celebridade. Estava comprando gazetas a um homem que as vende na calçada da Rua de S. José, esquina do Largo da Carioca, quando vi chegar uma mulher simples e dizer ao vendedor com voz descansada: − Me dá uma folha que traz o retrato desse homem que briga lá fora. − Quem? − Me esqueceu o nome dele. Leitor obtuso, se não percebeste que “esse homem que briga lá fora” é nada menos que o nosso Antônio Conselheiro, crê-me que és ainda mais obtuso do que pareces. A mulher provavelmente não sabe ler, ouviu falar da seita de Canudos, com muito pormenor misterioso, muita auréola, muita lenda, disseram-lhe que algum jornal dera o retrato do Messias do sertão, e foi comprá-lo, ignorando que nas ruas só se vendem as folhas do dia. Não sabe o nome do Messias; é “esse homem que briga lá fora”. A celebridade, caro e tapado leitor, é isto mesmo. O nome de Antônio Conselheiro acabará por entrar na memória desta mulher anônima, e não sairá mais. Ela levava uma pequena, naturalmente filha; um dia contará a história à filha, depois à neta, à porta da estalagem, ou no quarto em que residirem. VOZES VERBAIS 29 LÍNGUA PORTUGUESA (Machado de Assis, Crônica publicada em A semana, 1897. In Obra completa, vol.III, Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1997, p. 763) 01. (FCC – Adaptada) ## ... um dia contará a história à filha, depois à neta. Transpondo para a voz passiva a frase acima, a forma verbal obtida corretamente é: a) seriam contadas. b) haverá de ser contada. c) haveria de ser contada. d) poderiam ser contadas. e) será contada. Resposta: E Comentário: Para fazer a transposição de uma sentença da voz ativa para a voz passiva analítica, basta colocar o verbo principal (o de ação) no particípio e o verbo auxiliar (ser) com as flexões de tempo e modo que o principal possuía na voz ativa. No caso em questão, a transformação será a seguinte: A história será contada à filha, depois à neta. -------------------------- ------------------------ O termo groupthinking foi cunhado, na década de cinquenta, pelo sociólogo William H. Whyte, para explicar como grupos se tornavam reféns de sua própria coesão, tomando decisões temerárias e causando grandes fracassos. Os manuais de gestão definem groupthinking como um processo mental coletivo que ocorre quando os grupos são uniformes, seus indivíduos pensam da mesma forma e o desejo de coesão supera a motivação para avaliar alternativas diferentes das usuais. Os sintomas são conhecidos: uma ilusão de invulnerabilidade, que gera otimismo e pode levar a riscos; um esforço coletivo para neutralizar visões contrárias às teses dominantes; uma crença absoluta na moralidade das ações dos membros do grupo; e uma visão distorcida dos inimigos, comumente vistos como iludidos, fracos ou simplesmente estúpidos. Tão antigas como o conceito são as receitas para contrapor a patologia: primeiro, é preciso estimular o pensamento críticoe as visões alternativas à visão dominante; segundo, é necessário adotar sistemas transparentes de governança e procedimentos de auditoria; terceiro, é desejável renovar constantemente o grupo, de forma a oxigenar as discussões e o processo de tomada de decisão. Thomaz Wood Jr. O perigo do groupthinking. In: Carta Capital, 13/5/2009, p. 51 (com adaptações). 02. (CESPE – Adaptada) ## Por estar empregada como uma forma de voz passiva, a locução verbal “foi cunhado” corresponde a cunhou-se e por esta forma pode ser substituída, sem prejuízo para a coerência ou para a correção gramatical do texto. Resposta: Errado. Comentário: Ao colocar a forma sugerida pela questão, haveria problema para o sentido original da sentença, o que causaria prejuízo para a coerência do período. Isso ocorreria em razão de o sentido assumido ser o reflexivo e não o passivo. -------------------------- ------------------------ QUANDO A INFELICIDADE DA PERGUNTA É A RESPOSTA O que é o desenvolvimento sustentável? Não sabemos, felizmente. Como disse certa vez o psicanalista francês André Green, “a infelicidade da pergunta é a resposta”. E essa não é uma pergunta qualquer. É a pergunta. Com o Livro aprendemos que a revelação se dá pela História. E, mesmo a da humanidade, tem seus momentos definidores. Os próximos muitos anos são um desses momentos decisivos da história. Sabemos que estamos consumindo de uma 30 LÍNGUA PORTUGUESA forma insustentável os recursos que a natureza nos oferece e renova(a). E que, com o crescimento da população e a desejável elevação dos padrões de consumo de bilhões de pessoas, essa tendência será fortemente acelerada. O rumo atual é insustentável! Pode causar estranheza tal assertividade. Afinal, não apenas não sabemos com clareza o significado(d) do conceito de desenvolvimento sustentável, como também não sabemos medir a noção de sustentabilidade com precisão. Há muitos esforços importantes sendo despendidos(c) para nos aproximarmos de melhores mensurações da ideia de sustentabilidade. A medição do Produto Interno Bruto dos países está sob implacável crítica por suas grandes fragilidades, e a forma insuficiente e equivocada de as contas nacionais considerarem os recursos naturais é uma das razões mais importantes. Também a Comissão de Estatística das Nações Unidas tem promovido a elaboração(b) de uma família de indicadores de desenvolvimento sustentável pelas instituições nacionais de estatística. E muitos indicadores sintéticos e outras formas de avaliar a sustentabilidade do desenvolvimento atual estão sendo aprimorados. Esses esforços têm dado origem a ferramentas importantes e úteis. As pesquisas científicas, assim como as estatísticas e indicadores, sugerem cenários com forte tendência à degradação da capacidade da natureza de renovar serviços fundamentais à qualidade da vida humana (clima, água doce, solos férteis, biodiversidade, etc.) em velocidade condizente com as taxas previstas para sua utilização. Essa é a crise ambiental do século XXI em sua dimensão conhecida. Somos, contudo, muito ignorantes sobre a realidade natural do planeta e há um risco acima do aceitável de estarmos gerando processos irreversíveis que trariam no futuro consequências potencialmente catastróficas para a civilização e a espécie humana. Para qualquer mentalidade racional, o princípio da precaução é o imperativo aplicável. É importante lembrar que esse processo é insustentável para a civilização e para a biodiversidade do nosso tempo, mas não para a natureza. Na escala de tempo do planeta, contada em milhões e de milhões de anos, a humanidade é impotente para gerar dano significativo à natureza. Não sabemos o que é o desenvolvimento sustentável e tampouco temos claro o que significa desenvolvimento. A identidade entre crescimento econômico e desenvolvimento é o produto de uma época histórica, que, como todas as demais, será superada. Desenvolvimento, como observou notavelmente Jean Claude Carriérre, é etimologicamente inequívoco em várias línguas. Desenvolver não significa apenas “ampliar, crescer” e, sim, “des(fazer) o que está envolvido; ou, em espanhol, des(arrollar) o que está arrollado; ou ainda, em francês ou inglês, development/développement, isto é, desenvelopar”. Desenvolvimento, para a sabedoria da linguagem, é um processo de libertação de um potencial contido, aprisionado pelas circunstâncias da história. Finalmente, sustentável é muito mais do que simplesmente duradouro. E significa mais, até, do que compromisso com as futuras gerações. Sustentável diz respeito ao tempo. A consciência humana também diz respeito ao tempo e o que distingue o homem é a consciência. Chegou o momento de a humanidade deixar a adolescência, reconhecer a existência de limites(e) e ampliar as fronteiras de sua relação com o tempo, isto é, assumir um pouco mais conscientemente a sua história em um tempo mais longo. A questão do desenvolvimento sustentável confunde-se com a questão da consciência humana. A pergunta: “O 31 LÍNGUA PORTUGUESA que é o desenvolvimento sustentável?” é também a pergunta “Quem é o Homem?” A resposta para a pergunta sobre o que é o desenvolvimento sustentável é também a resposta sobre quem será o homem que o homem construirá. (Sérgio Besserman, Jornal O Globo, 15/08/2010, com adaptações) 03. (CEPERJ – Adaptada) ## Não ocorre mudança de voz verbal em: a) “ ... os recursos que a natureza nos oferece e renova ... “ /os recursos que nos são oferecidos e renovados pela natureza ... b) “Também a Comissão de Estatística das Nações Unidas tem promovido a elaboração ... “ / Também a Comissão de Estatística das Nações Unidas promove a elaboração ... b) “Há muitos esforços importantes sendo despendidos ... “ / Despendem-se muitos esforços importantes ... c) “Afinal, não apenas não sabemos com clareza o significado ...” / Afinal, não apenas não se sabe com clareza o significado ... d) “ ... reconhecer a existência de limites ...” / a existência de limites ser reconhecida ... Resposta: B Comentário: Para identificar a voz passiva nas alternativas, basta procurar por uma forma no particípio acompanhada do verbo “ser” ou a palavra “se” associada a formas verbais (diretas ou bitransitivas). Na letra b, a diferença entre as formas verbais é a seguinte: “tem promovido” é uma forma do presente composto do indicativo, enquanto “promove” é uma forma do presente simples do indicativo. -------------------------- ------------------------ TEXTO − DO CAMPO PARA A CIDADE Gomes, 2002 Até 1940, os migrantes se dirigiam predominantemente para a cidade do Rio de Janeiro, então Distrito Federal, e também para a cidade e o estado de São Paulo, e eram em grande parte oriundos de Minas Gerais e do Nordeste. Desde então, seriam os estados dessa região os principais responsáveis pela expulsão de populações, que se dirigiriam primeiro para São Paulo e, após 1950-60, também para o Paraná, Goiás, Mato Grosso e Rondônia. Estabeleceram-se assim novos polos de atração de migrantes e novas áreas de expansão das fronteiras agrícolas, o que se acentuou após a instauração do regime militar em 1964. (...) Os anos 1970 assinalaram um ponto de inflexão extremamente significativo em nosso perfil demográfico, na medida em que começou a se inverter a relação entre população rural e urbana, ficando está cada vez mais concentrada no que passava a ser, genérica e simbolicamente, denominado como Sul ou Sul Maravilha, numa alusão às possibilidades reais ou sonhadas que a região oferecia. Toda essa situação passaria a produzir desdobramentos econômicos e sociais graves, que seriam identificados e avaliados, cada vez mais, como negativos para o país. De um lado, o que se verificava era o esvaziamento e o empobrecimento do campo; de outro, com o inchamento das grandes cidades, um agravamento dos problemas de habitação, educação, saúde e segurança. Mais recentemente,os deslocamentos não se fizeram tanto de áreas rurais para urbanas, mas sim entre áreas urbanas e, nesse caso, não mais tendo como destino preferencial as cidades metropolitanas, e sim aquelas de médio porte, que se tornaram polos de atração de fluxos migratórios. (....) Todas essas transformações desenham um novo mapa e um novo perfil para a população brasileira. Somos, na virada do século XX para o XXI, um novo Brasil urbano, inclusive com uma diferenciação bem menor entre campo e cidade. Nosso povo deixou de ser jovem e começou a envelhecer. Sem dúvida, é hora de o Brasil amadurecer. 32 LÍNGUA PORTUGUESA 04. (FDC – Adaptada) ## “Toda essa situação passaria a produzir desdobramentos econômicos e sociais graves”. Esse segmento do texto pode ser reescrito, conservando- se o seu sentido, de várias formas distintas; a frase em que a modificação proposta conserva esse sentido original é: a) Desdobramentos econômicos e sociais graves passariam a ser produzidos por toda essa situação. b) Graves desdobramentos sociais e econômicos viriam a ser produzidos por toda essa situação. c) Graves desdobramentos econômicos e sociais seriam modificados por toda essa situação. d) Toda essa situação seria levada a produzir graves desdobramentos econômicos e sociais. e) Toda essa situação chegaria a produzir desdobramentos econômicos e sociais graves. Resposta: A Comentário: O sentido original da sentença somente será preservado se houver uma transposição da sentença para a voz passiva. A expressão “passariam a ser produzidos” é a forma passiva de “passaria a produzir”. -------------------------- ------------------------ Imagine que um poder absoluto ou um texto sagrado declarem que quem roubar ou assaltar será enforcado (ou terá a mão cortada). Nesse caso, puxar a corda, afiar a faca ou assistir à execução seria simples, pois a responsabilidade moral do veredicto não estaria conosco. Nas sociedades tradicionais, em que a punição é decidida por uma autoridade superior a todos, as execuções podem ser públicas: a coletividade festeja o soberano que se encarregou da justiça − que alívio! A coisa é mais complicada na modernidade, em que os cidadãos comuns (como você e eu) são a fonte de toda autoridade jurídica e moral. Hoje, no mundo ocidental, se alguém é executado, o braço que mata é, em última instância, o dos cidadãos − o nosso. Mesmo que o condenado seja indiscutivelmente culpado, pairam mil dúvidas. Matar um condenado à morte não é mais uma festa, pois é difícil celebrar o triunfo de uma moral tecida de perplexidade. As execuções acontecem em lugares fechados, diante de poucas testemunhas: há uma espécie de vergonha. Essa discrição é apresentada como um progresso: os povos civilizados não executam seus condenados nas praças. Mas o dito progresso é, de fato, um corolário da incerteza ética de nossa cultura. Reprimimos em nós desejos e fantasias que nos parecem ameaçar o convívio social. Logo, frustrados, zelamos pela prisão daqueles que não se impõem as mesmas renúncias. Mas a coisa muda quando a pena é radical, pois há o risco de que a morte do culpado sirva para nos dar a ilusão de liquidar, com ela, o que há de pior em nós. Nesse caso, a execução do condenado é usada para limpar nossa alma. Em geral, a justiça sumária é isto: uma pressa em suprimir desejos inconfessáveis de quem faz justiça. Como psicanalista, apenas gostaria que a morte dos culpados não servisse para exorcizar nossas piores fantasias − isso, sobretudo, porque o exorcismo seria ilusório. Contudo é possível que haja crimes hediondos nos quais não reconhecemos nada de nossos desejos reprimidos. Contardo Calligaris. Terra de ninguém − 101 crônicas. São Paulo: Publifolha, 2004, p. 94-6 (com adaptações). 05. (CESPE – Adaptada) ## Mantendo-se a correção gramatical e a coerência do texto, a oração “se alguém é executado”, que expressa uma hipótese, poderia ser escrita 33 LÍNGUA PORTUGUESA como caso se execute alguém, mas não, como se caso alguém se execute. Resposta: Certo. Comentário: A primeira forma (caso se execute alguém) é uma forma de voz passiva sintética, a qual preserva o sentido da sua relativa analítica anteriormente colocada. A construção “se caso alguém se execute”, além de possui sentido reflexivo, possui uma construção viciosa (a colocação de duas conjunções da mesma natureza – se e caso). -------------------------- ------------------------ Assim como os antigos moralistas escreviam máximas, deu-me vontade de escrever o que se poderia chamar de mínimas, ou seja, alguma coisa que, ajustada às limitações do meu engenho, traduzisse um tipo de experiência vivida, que não chega a alcançar a sabedoria mas que, de qualquer modo, é resultado de viver. Andei reunindo pedacinhos de papel em que estas anotações vadias foram feitas e ofereço-as ao leitor, sem que pretenda convencê-lo do que penso nem convidá-lo a repensar suas ideias. São palavras que, de modo canhestro, aspiram a enveredar pelo avesso das coisas, admitindo-se que elas tenham um avesso, nem sempre perceptível mas às vezes curioso ou surpreendente. C.D.A. (Carlos Drummond de Andrade. O avesso das coisas [aforismos]. 5.ed. Rio de Janeiro: Record, 2007, p. 3) 06. (FCC – Adaptada) ## ...em que estas anotações vadias foram feitas... Observando o contexto em que a frase acima foi empregada, a sua transposição para a voz ativa produz corretamente a seguinte forma verbal: a) fizeram-se. b) tinha feito. c) fiz. d) faziam. e) poderia fazer. Resposta: C Comentário: Pelo contexto, entende-se que o referente para o agente da passiva é a primeira pessoa do singular, logo, na transposição da sentença para a voz ativa, o verbo deverá ser conjugado mantendo o referente de pessoa e número. O verbo principal é “fazer” e deve receber a forma do pretérito perfeito do indicativo. A frase resultante será: “em que fiz estas anotações vadias”. -------------------------- ------------------------ No artigo 68 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, dispôs a Carta Magna de 1988: “Aos remanescentes das comunidades dos quilombos que estejam ocupando suas terras é reconhecida a propriedade definitiva, devendo o Estado emitir-lhes os títulos respectivos.” Era o reconhecimento de um direito. Restava regulamentar a forma pela qual esse direito seria garantido. Em novembro de 2003, o presidente da República assinou o Decreto n.º 4.877, que estabelece, em seu artigo 2.º: “Consideram-se remanescentes das comunidades dos quilombos, para os fins deste decreto, os grupos étnico-raciais, segundo critérios de autoatribuição, com trajetória histórica própria, dotados de relações territoriais específicas, com presunção de ancestralidade negra relacionada com a resistência à opressão histórica sofrida.” E, logo em seguida, o parágrafo primeiro do mesmo artigo reafirma e esclarece: “Para os fins deste decreto, a caracterização dos remanescentes das comunidades dos quilombos será atestada mediante autodefinição da própria comunidade.” Essa regulamentação resultou naquilo que o professor Denis Rosenfield descreveu como “ressemantização da palavra 34 LÍNGUA PORTUGUESA quilombo”; segundo ele, “o quilombo já não significaria um povoado formado por escravos negros (...), mas uma identidade cultural.” O Estado de S.Paulo, 29/11/2010 (com adaptações). 07. (CESPE – Adaptada) ## Prejudica- se a correção gramatical do período ao se substituir ‘Consideram-se’ por São considerados. Resposta: Errado. Comentário: Não há prejuízo para a correção gramatical da sentença, pois a mudança em questão trata-se apenas de uma alteração de forma passiva: da sintética para a analítica. Uma vez que a relação de concordância está correta, essa sentença se mantém correta. -------------------------- ------------------------ Convocada por D. Pedro em junho de 1822, a constituinte só seria instalada um ano maistarde, no dia 3 de maio de 1823, mas acabaria dissolvida seis meses depois, em 12 de novembro. Os membros da constituinte eram escolhidos por meio dos mesmos critérios estabelecidos para a eleição dos deputados às cortes de Lisboa. Os eleitores eram apenas os homens livres, com mais de vinte anos e que residissem por, pelo menos, um ano na localidade em que viviam, e proprietários de terra. Cabia a eles escolher um colégio eleitoral, que, por sua vez, indicava os deputados de cada região. Estes tinham de saber ler e escrever, possuir bens e virtudes. Em uma época em que a taxa de analfabetismo alcançava 99% da população, só um entre cem brasileiros era elegível. Os nascidos em Portugal tinham de estar residindo por, pelo menos, doze anos no Brasil. Do total de cem deputados eleitos, só 89 tomaram posse. Era a elite intelectual e política do Brasil, composta de magistrados, membros do clero, fazendeiros, senhores de engenho, altos funcionários, militares e professores. Desse grupo, sairiam mais tarde 33 senadores, 28 ministros de Estado, dezoito presidentes de província, sete membros do primeiro conselho de Estado e quatro regentes do Império. O local das reuniões era a antiga cadeia pública, que, em 1808, havia sido remodelada pelo vice-rei conde dos Arcos para abrigar parte da corte portuguesa de D. João. No dia da abertura dos trabalhos, D. Pedro chegou ao prédio em uma carruagem puxada por oito mulas. Discursou de cabeça descoberta, o que, por si só, sinalizava alguma concessão ao novo poder constituído nas urnas. A coroa e o cetro, símbolos do seu poder, também foram deixados sobre uma mesa. Laurentino Gomes. 1822. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2010, p. 213-16 (com adaptações). 08. (CESPE – Adaptada) ## Empregando-se a voz ativa e mantendo-se os tempos verbais empregados, o trecho “O local das reuniões era a antiga cadeia pública, que, em 1808, havia sido remodelada pelo vice-rei conde dos Arcos” seria, corretamente, reescrito da seguinte forma: O local das reuniões era a antiga cadeia pública, que, em 1808, o vice- rei conde dos Arcos remodelou. Resposta: Errado. Comentário: Para manter exatamente a correlação de tempos e modos verbais, seria necessário manter a forma de pretérito- mais-que-perfeito (remodelara), ou um pretérito-mais-que-perfeito composto do indicativo (havia remodelado). -------------------------- ------------------------ Na mídia em geral, nos discursos políticos, em mensagens publicitárias, na fala de diferentes atores sociais, enfim, nos diversos contextos em que a comunicação se 35 LÍNGUA PORTUGUESA faz presente, deparamo-nos repetidas vezes com a palavra cidadania. Esse largo uso, porém, não torna seu significado evidente. Ao contrário, o fato de admitir vários empregos deprecia seu valor conceitual, isto é, sua capacidade de nos fazer compreender certa ordem de eventos. Assim, pode-se dizer que, contemporaneamente, a palavra cidadania atende bastante bem a um dos usos possíveis da linguagem, a comunicação, mas caminha em sentido inverso quando se trata da cognição, do uso cognitivo da linguagem. Por que, então, a palavra cidadania é constantemente evocada, se o seu significado é tão pouco esclarecido? Uma resposta possível a essa indagação começaria por reconhecer que há considerável avanço da agenda igualitária no mundo e, decorrente disso, a valorização sem precedentes da ideia de direitos. De fato, tornou-se impossível conceber formas contemporâneas de interação entre indivíduos ou grupos sem que a referência a direitos esteja pressuposta ou mesmo vocalizada. Direitos, por isso, sustentam uma espécie de argumentação pública permanente, a partir da qual os atores sociais agenciam suas identidades e tentam ampliar o escopo da política de modo a abarcar suas questões. Tais atores constroem-se, portanto, em público, pressionando o sistema político a reconhecer direitos que julgam possuir e a incorporá-los à agenda governamental. (Maria Alice Rezende de Carvalho. “Cidadania e direitos”. In: Agenda brasileira: temas de uma sociedade em mudança. André Botelho e Lilia Moritz Schwarcz (orgs.). São Paulo: Companhia das Letras, 2011, p. 104) 09. (FCC – Adaptada) ## Direitos, por isso, sustentam uma espécie de argumentação pública permanente [...] Transpondo a frase acima para a voz passiva, a forma verbal obtida é: a) sustentam-se. b) é sustentada. c) foi sustentada. d) sustentara-se. e) haviam sido sustentadas. Resposta: B Comentário: O sujeito paciente da sentença é “uma espécie de argumentação pública permanente”; o tempo do verbo é o presente simples do indicativo. Logo, a forma será “uma espécie de argumentação pública permanente é sustentada por direitos. A POLÍCIA E A VIOLÊNCIA NA ESCOLA Miriam Abramovay e Paulo Gentili Em alguns países, a presença da polícia dentro das escolas tem sido uma das respostas mais recorrentes para enfrentar a violência das sociedades contemporâneas. A proposta parece ser a maneira mais elementar de oferecer proteção às crianças e aos jovens, as principais vítimas da violência. Muros altos, grades imensas, seguranças armados ou policiais patrulhando o interior das escolas parecem brindar aquilo que desejamos para nossos filhos: segurança e amparo. Todavia, os efeitos positivos desse tipo de iniciativa nunca foram demonstrados. Conforme evidenciam pesquisas e experiências no campo da segurança pública, o ataque aos efeitos da violência costuma não diminuir sua existência. Precisamos compreender a origem e as razões da violência no interior do espaço escolar para pensar soluções que não contribuam para aprofundá-las. Nesse sentido, quando as próprias tarefas de segurança dentro das instituições educacionais são transferidas para pessoas 36 LÍNGUA PORTUGUESA exteriores a elas, cria-se a percepção de que os adultos que ali trabalham são incapazes ou carecem de poder suficiente para resolver os problemas que emergem. Instala-se a ideia de que a visibilidade de uma arma ou a presença policial tem mais potência que o diálogo ou os mecanismos de intervenção que a própria escola pode definir. A medida contribui para aprofundar um vácuo de poder já existente nas relações educacionais, criando um clima de desconfiança entre os que convivem no ambiente escolar. A presença da polícia no contexto escolar será marcada por ambiguidades e tensões. Estabelecer os limites da intervenção do agente policial é sempre complexo num espaço que se define por uma especificidade que a polícia desconhece. Nenhuma formação educacional foi oferecida aos policiais que estarão agora dentro das escolas, o que constitui enorme risco. As pesquisas sobre juventude evidenciam um grave problema nas relações entre a polícia e os jovens, particularmente quando eles são pobres, com uma reação de desconfiança e desrespeito promovendo um conflito latente que costuma explodir em situações de alta tensão entre os jovens e a polícia. Reproduzir essa lógica no interior da escola não é recomendável. A política repressiva não é o caminho para tornar as escolas mais seguras. A escola deve ser um local de proteção e protegido, e a presença da polícia pode ser uma fonte de novos problemas. Devemos contribuir para que as escolas solucionem seus problemas cotidianos com a principal riqueza que elas têm: sua comunidade de alunos, docentes, diretivos e funcionários. Programas de Convivência Escolar e outras alternativas têm demonstrado um enorme potencial para enfrentar a dimensão educacional da violência social. O potencial da escola está na ostentação do saber, do conhecimento, do diálogo e da criatividade. Não das armas. 10. (FEMPERJ – Adaptada) A frase abaixo que apresenta voz verbal diferente das demais é: a) “Programas de Convivência Escolar e outras alternativas têm demonstrado um enorme potencial...”. b) “A presença da polícia no contexto escolar será marcada por ambiguidadese tensões”. c) “Instala-se a ideia de que a visibilidade de uma arma ou a presença policial...”. d) “...quando as próprias tarefas de segurança dentro das instituições educacionais são transferidas para pessoas exteriores a elas...”. e) “Todavia, os efeitos positivos desse tipo de iniciativa nunca foram demonstrados”. Resposta: A Comentário: A sentença da letra “a” – a resposta correta – possui voz ativa (ocorre que o verbo está em um tempo composto). As demais sentenças apresentam formas verbais de voz passiva (em “c”, sintética; nas demais, analítica). Freud, o peixeiro e os excluídos Há anos compro peixe na mesma feira com o mesmo peixeiro. Disse a ele outro dia: Quando crescer, quero ser peixeiro. Devolveu a provocação: "Boa escolha, professor. É a profissão do id." Fiquei uma semana intrigado. Enfim, um peixeiro freudiano no Rio de Janeiro! Um analista excêntrico que tem por hobby limpar escamas! Na feira seguinte, perguntei: Ok, peixeiro é a profissão do id. Mas como assim? "O professor não conhece a Bíblia? Cristo precisava de apóstolos, chamou os pescadores e disse: Ide e pregai o evangelho a toda criatura!". Um sujeito bem intencionado quer dizer uma coisa, o freguês entende outra. SINTAXE 37 LÍNGUA PORTUGUESA Quando dizemos "direitos humanos", por exemplo, o que entendem os peixeiros, torneiros mecânicos, políticos profissionais, investigadores de polícia, personal trainings e membros de outras profissões? Não sabemos, mas deveríamos. A luta social não acontece só na "política" - partidos, parlamentos, sindicatos etc. Aconte-ce também no interior da linguagem. Os desentendimentos por causa das palavras são, às vezes, desentendimentos sociais. Não se sabe, por exemplo, quem inventou a palavra "excluídos" para designar pobres. Os movimentos sociais incorporaram a palavrinha sem refletir. A criança que não tem escola - está "excluída" da escola. O trabalhador que não tem emprego - está "excluído" do emprego. A palavra designa um fato real, mas o que quer dizer? Que a sociedade tem um lado de dentro e outro de fora. Como se fosse um trem correndo pela Baixada Fluminense (digamos): nós que estamos dentro olhamos pela janela e vemos as casas e pessoas que estão de fora. Acontece que a sociedade não é um trem que corre pela Baixada. A sociedade é o trem e as pessoas que vemos pela janela do trem. A sociedade não tem lado de fora. O que está fora da sociedade seria desumano, pois ela nada mais é que a relação entre os humanos. Não formamos sociedade com os cães, os mosquitos, os micos-leões-dourados. A única possibilidade de um ser humano ser excluído dela é deixar de ser humano. Até mesmo a nossa relação com a natureza e os bichos se faz por meio da sociedade. O leitor já viu onde quero chegar. Chamar alguém de "excluído" é lhe retirar a condição de humano. Ora, os movimentos sociais, que lutam para estender os direitos humanos a todas as pessoas, querem precisamente o contrário: querem humanizar ricos e pobres, negros e brancos, homens de bem e criminosos, bonitos e feios. Como é então que usam, e abusam, da palavra "excluídos"? Como é que admitem que a sociedade tem um lado de dentro (onde estão os incluídos) e um lado de fora (onde estão os "excluídos")? Como é que se deixam enredar por esse pântano de palavras, a ponto de negar com a boca o que fazem com o coração? Alguém os enredou. Quem foi? Talvez o Polvo de Vieira. "O polvo, escurecendo- se a si, tira a vista aos outros, e a primeira traição e roubo que faz é a luz, para que não se distinga as cores". Não é inocente chamar os explorados de nossa sociedade de "excluídos". Primeiro, porque, sutilmente, se está negando aos pobres a humanidade que os outros teriam. Segundo porque se está desvinculando a pobreza ("exclusão") da riqueza ("inclusão"). Por esse modo de pensar, aparentemente inocente, os ricos nada têm a ver com os pobres. Estes são problema do governo, "que devia dar escola, saúde e segurança aos excluídos" e dos políticos "que só sabem roubar". Temos até hoje feira de trabalhadores: centenas de homens fortes acocorados esperando o "gato" selecionar os que vão trabalhar. O salário obedece à lei da oferta e procura: sobe se os acocorados forem poucos, desce se forem muitos. Como lidar com o número crescente de pessoas que nascem, vivem e morrem sem trabalho? O Brasil inventou várias "soluções" para esse problema do desenvolvimento. Uma delas foi o padrão popular de acumulação: o Se Virar. Os que se viram não estão excluídos de nada. Pertencem a um padrão de acumulação que compete há cem anos com o padrão capitalista. Na minha feira, há muitos vendedores de limão. Alguns vendem outras coisas. São "excluídos"? Produzem mais-valia como qualquer outro proletário. Desejam roupas, tênis, bailes, prestígio, mulheres de revista, adrenalina, alucinação. Têm desejos e compram a sua satisfação possuindo a imagem (ou a simulação) dos objetos do 38 LÍNGUA PORTUGUESA desejo. Se tiverem competência e sorte, se tornarão vendedores de objetos (como limão) ou de sensações (como cocaína). Alguns abraçarão a profissão do Ide. De um jeito ou de outro, todos estão incluídos. (Adaptação do texto de SANTOS, Joel Rufino dos. Jornal do Brasil, domingo, 11/03/2001.) 01. (FGV - Adaptada) ## A sociedade não tem lado de fora. O que está fora da sociedade seria desumano, pois ela nada mais é que a relação entre os humanos. A respeito do uso do vocábulo pois no fragmento acima, pode-se afirmar que se trata de: a) uma conjunção subordinativa que estabelece conexão entre as orações introduzindo valor de explicação. b) uma preposição que estabelece conexão entre períodos coordenativos introduzindo valor de consequência. c) uma conjunção coordenativa que estabelece conexão entre as orações introduzindo valor de alternância. d) um pronome relativo que introduz a oração relativa explicativa, retomando a expressão sociedade. e) uma conjunção coordenativa que estabelece conexão entre as orações introduzindo valor de explicação. Resposta: E Comentário: É preciso considerar que a palavra “pois” pode ser classificada de dois modos básicos: conjunção coordenativa conclusiva e conjunção coordenativa explicativa. Como, para possuir sentido conclusivo, seria necessário surgir após uma forma verbal, entende-se que o caso em questão se trata de uma conjunção com valor explicativo. Freud, o peixeiro e os excluídos Há anos compro peixe na mesma feira com o mesmo peixeiro. Disse a ele outro dia: Quando crescer, quero ser peixeiro. Devolveu a provocação: "Boa escolha, professor. É a profissão do id." Fiquei uma semana intrigado. Enfim, um peixeiro freudiano no Rio de Janeiro! Um analista excêntrico que tem por hobby limpar escamas! Na feira seguinte, perguntei: Ok, peixeiro é a profissão do id. Mas como assim? "O professor não conhece a Bíblia? Cristo precisava de apóstolos, chamou os pescadores e disse: Ide e pregai o evangelho a toda criatura!". Um sujeito bem intencionado quer dizer uma coisa, o freguês entende outra. Quando dizemos "direitos humanos", por exemplo, o que entendem os peixeiros, torneiros mecânicos, políticos profissionais, investigadores de polícia, personal trainings e membros de outras profissões? Não sabemos, mas deveríamos. A luta social não acontece só na "política" - partidos, parlamentos, sindicatos etc. Acontece também no interior da linguagem. Os desentendimentos por causa das palavras são, às vezes, desentendimentos sociais. Não se sabe, por exemplo, quem inventou a palavra "excluídos" para designar pobres. Os movimentos sociais incorporaram a palavrinha sem refletir. A criança que não tem escola - está "excluída" da escola. O trabalhador que não tem emprego - está "excluído" do emprego. A palavra designa um fato real, mas o que quer dizer? Que a sociedade tem um lado de dentro e outro de fora. Como se fosse um trem correndo pela Baixada Fluminense(digamos): nós que estamos dentro olhamos pela janela e vemos as casas e pessoas que estão de fora. Acontece que a sociedade não é um trem que corre pela Baixada. A sociedade é o trem e as pessoas que vemos pela janela do trem. A sociedade não tem lado de fora. O 39 LÍNGUA PORTUGUESA que está fora da sociedade seria desumano, pois ela nada mais é que a relação entre os humanos. Não formamos sociedade com os cães, os mosquitos, os micos-leões-dourados. A única possibilidade de um ser humano ser excluído dela é deixar de ser humano. Até mesmo a nossa relação com a natureza e os bichos se faz por meio da sociedade. O leitor já viu onde quero chegar. Chamar alguém de "excluído" é lhe retirar a condição de humano. Ora, os movimentos sociais, que lutam para estender os direitos humanos a todas as pessoas, querem precisamente o contrário: querem humanizar ricos e pobres, negros e brancos, homens de bem e criminosos, bonitos e feios. Como é então que usam, e abusam, da palavra "excluídos"? Como é que admitem que a sociedade tem um lado de dentro (onde estão os incluídos) e um lado de fora (onde estão os "excluídos")? Como é que se deixam enredar por esse pântano de palavras, a ponto de negar com a boca o que fazem com o coração? Alguém os enredou. Quem foi? Talvez o Polvo de Vieira. "O polvo, escurecendo- se a si, tira a vista aos outros, e a primeira traição e roubo que faz é a luz, para que não se distinga as cores". Não é inocente chamar os explorados de nossa sociedade de "excluídos". Primeiro, porque, sutilmente, se está negando aos pobres a humanidade que os outros teriam. Segundo porque se está desvinculando a pobreza ("exclusão") da riqueza ("inclusão"). Por esse modo de pensar, aparentemente inocente, os ricos nada têm a ver com os pobres. Estes são problema do governo, "que devia dar escola, saúde e segurança aos excluídos" e dos políticos "que só sabem roubar". Temos até hoje feira de trabalhadores: centenas de homens fortes acocorados esperando o "gato" selecionar os que vão trabalhar. O salário obedece à lei da oferta e procura: sobe se os acocorados forem poucos, desce se forem muitos. Como lidar com o número crescente de pessoas que nascem, vivem e morrem sem trabalho? O Brasil inventou várias "soluções" para esse problema do desenvolvimento. Uma delas foi o padrão popular de acumulação: o Se Virar. Os que se viram não estão excluídos de nada. Pertencem a um padrão de acumulação que compete há cem anos com o padrão capitalista. Na minha feira, há muitos vendedores de limão. Alguns vendem outras coisas. São "excluídos"? Produzem maisvalia como qualquer outro proletário. Desejam roupas, tênis, bailes, prestígio, mulheres de revista, adrenalina, alucinação. Têm desejos e compram a sua satisfação possuindo a imagem (ou a simulação) dos objetos do desejo. Se tiverem competência e sorte, se tornarão vendedores de objetos (como limão) ou de sensações (como cocaína). Alguns abraçarão a profissão do Ide. De um jeito ou de outro, todos estão incluídos. (Adaptação do texto de SANTOS, Joel Rufino dos. Jornal do Brasil, domingo, 11/03/2001.) 02. (FGV- Adaptada) ## Não se sabe, por exemplo, quem inventou a palavra "excluídos" para designar pobres. De acordo com a descrição sintática tradicional, a oração sublinhada deve ser analisada como: a) objeto direto indeterminado do verbo saber, que é impessoal. b) sujeito oracional do verbo saber, que está na voz passiva sintética. b) adjunto adverbial de finalidade em relação à ideia de designar algo. c) sujeito indeterminado do verbo inventar, que não admite determinação do sujeito. d) complemento nominal oracional da expressão por exemplo. 40 LÍNGUA PORTUGUESA O verbo saber é transitivo direto e se encontra apassivado pelo pronome “se”, ou seja, esse é um caso de voz passiva sintética. Como há o verbo e a partícula apassivadora, resta identificar o sujeito paciente dessa forma verbal. Se o leitor perguntar “o que se sabe?”, concluirá que a resposta é “quem inventou a palavra ‘excluídos’”, que se trata de uma oração introduzida pela palavra “quem” (com valor de conjunção integrante). Logo, trata-se de uma oração subordinada substantiva subjetiva (que é o sujeito oracional) paciente. De um modo geral, o conflito ou a contradição que atravessam a separação entre o público e o privado podem ser resumidos na pergunta que sempre atormentou os moralistas antigos e os modernos: os fins justificam os meios? Um dos divisores de água que a modernidade traçou entre a ética e a política foi dado pela baliza posta por essa pergunta. No caso da ética, a resposta é negativa: os meios precisam estar de acordo com a natureza dos fins e, portanto, para fins éticos os meios precisam ser éticos também. (...) No caso da política, ao contrário, a resposta tende a ser positiva e estabelece uma diferença de natureza entre meios e fins, exigindo-se, porém, que haja alguma proporção (ou racionalidade) entre eles. A idéia que parece prevalecer é a de que, na política, todos os meios são bons e lícitos desde que o fim seja bom para a coletividade. Marilena Chaui. Público, privado, de spotismo. In: Ética, Adauto Novaes (org.). São Paulo: Companhia das Letras, Secretaria Municipal de Cultura, 5.ª impressão, 1997, p. 353-4 (com adaptações). 03. (CESPE – Adaptada) ## Em "exigindo- se", a eliminação do pronome enclítico "se" prejudicaria o sentido e a correção gramatical do período, porque a oração ficaria sem sujeito. Resposta: Errado Comentário: Não haveria problema para a correção gramatical, pois a eliminação da palavra “se” faria com que o verbo tivesse uma mudança em seu sujeito, sintaticamente falando, o sujeito seria oculto. -------------------------- ------------------------ O avanço da publicidade na Internet Desde 2003, os gastos em publicidade na Internet quase triplicaram no Brasil. A expansão se deve à elevação do número de usuários, das conexões em banda larga e do tempo de conexão. Por mês, os brasileiros passam, em média, 22 horas e 43 minutos na rede. Apesar do crescimento, a Internet só detém 2% do mercado publicitário do país. Veja, 4/7/2007 (com adaptações). 04. (CESPE - Adaptada) ## O fato de os termos "do número", "das conexões" e "do tempo" iniciarem-se com a mesma preposição indica que esses termos são complementos de "elevação". Resposta: Errado Comentário: O termo “do número” está subordinado ao elemento “elevação” como um complemento nominal; já, os elementos “das conexões” e “do tempo” estão subordinados ao termo número como adjuntos adnominais. ÉTICA E TRIBUTO No amplo debate sobre as questões tributárias fala-se com freqüência de ética ou moralidade tributária, ainda que não se tenha absoluta clareza quanto à real extensão desse conceito. Nada diferente do que ocorre em relação à acepção da ética em outros domínios da política e da economia. A propósito, Norberto Bobbio, em "Elogio da serenidade e outros escritos morais", já observara que "nenhuma questão moral, proposta em qualquer campo, encontrou até hoje solução definitiva". 41 LÍNGUA PORTUGUESA A despeito de sua natureza relativamente controversa, a ética tributária, ao menos conforme admite o senso comum, vincula-se à concepção e à prática de regras justas e razoáveis em matéria tributária. Aponta para questões, não raro conflitantes, que envolvem as limitações do poder de tributar, os direitos dos contribuintes, o dever fundamental de pagar impostos, o equilíbrio concorrencial, a prevenção das guerras fiscais, etc. Encerra, portanto, questões concernentes às relações entre o fisco e o contribuinte, entre os contribuintes e entre os fiscos. No Brasil, o debate sobre ética tributária só recentemente ganhou vulto em decorrência do aumento da carga tributária, da expansão da "indústria de liminares", do visível aperfeiçoamento da administração fiscal, da estabilidade econômica e da crescente inserçãodo país na economia globalizada. Na maioria dos países desenvolvidos, com cultura tributária mais amadurecida, esse debate é mais limitado, porque praticamente restrito a discussões sobre a pressão fiscal e a competição fiscal nociva (harmfull tax competition). Ainda não se enxerga horizonte visível para fixação de padrões éticos no campo tributário brasileiro, porque essa meta demanda uma ampla reestruturação de relacionamentos entre os fiscos e os contribuintes. O cidadão brasileiro, ao menos no plano cultural, não inclui o pagamento de impostos entre os deveres fundamentais. Não causa estranheza o empresário afirmar, sem nenhum sentimento de culpa, que deixou de pagar os impostos porque a "crise" o obrigou a optar entre o recolhimento de impostos e o pagamento aos fornecedores e empregados. Dito de outra forma, o pagamento de impostos ainda não é um valor definitivamente incorporado à vida nacional. (...) A evasão tributária é explicável por várias razões. A mais conhecida é o propósito ilícito de auferir vantagens em relação aos demais contribuintes. Essa é a razão que socorre o homo oeconomicus, que pensa em sua conveniência econômica e não reconhece nenhum dever moral de conduta. No seu entender, é lícito tudo que o beneficia. Entre outras razões explicativas da evasão, destacam-se: a ignorância frente à matéria tributária, muitas vezes reforçada por uma legislação complexa e ambígua; a impunidade que privilegia os que não pagam impostos; a falta de percepção quanto ao uso do dinheiro público ou sua malversação, em prejuízo do exercício pleno da cidadania fiscal; a utilização imprópria de recursos judiciais; a existência de uma relação desequilibrada nas relações entre o fisco e o contribuinte. Estudos da Secretaria da Receita Federal, com base no recolhimento da CPMF, mostram que um terço dos pagamentos realizados por intermédio de instituições financeiras foi tributado apenas por aquela contribuição, o que significa dizer que foram objeto de evasão, elisão ou isenção fiscais. Trata-se de percentual elevado, porém bem inferior a uma muito propalada estimativa de sonegação no Brasil ("para cada real arrecadado corresponde um real sonegado"). O combate à evasão fiscal é um dos pilares básicos sobre os quais se assenta a ética tributária. Nada produz mais distorções concorrenciais ou injustiça na arrecadação de impostos que a evasão fiscal, inclusive quando comparada com outras supostas "imperfeições" do sistema tributário, como a incidência em cascata. Ao fim e ao cabo, não é demais lembrar que inexiste igualdade na ilegalidade. Ao contrário do que alguns propagam, evasão fiscal não é um problema adstrito à administração tributária, a ser debelado pela ação fiscalizadora. A própria concepção dos tributos já traz em si os riscos de sonegação. Tributos muito vulneráveis à evasão, 42 LÍNGUA PORTUGUESA especialmente em países sem forte tradição tributária, são altamente perniciosos, porque sendo a sonegação uma conduta oportunista ela inevitavelmente ocorrerá e, em conseqüência, acarretará toda sorte de desequilíbrios no mercado e deficiências no erário. (...) No âmbito da administração tributária, o enfrentamento da evasão fiscal exige um contínuo aperfeiçoamento, que passa, entre recursos, pela aplicação de procedimentos de inteligência fiscal e pelo uso intensivo das novas tecnologias de informação e comunicação. Tudo, entretanto, será inócuo se resultar em impunidade, o que requer celeridade nas execuções fiscais e nos julgamentos de recursos e impugnações administrativas, extrema parcimônia na concessão de anistias e remissões, e articulação entre órgãos de fiscalização. Ninguém põe dúvida quanto à legalidade da elisão fiscal, entendida como um ato ou negócio jurídico destinado a reduzir ou eliminar o ônus tributário, mediante utilização de "brechas fiscais" (fiscal loopholes), sem ofensa à lei e anteriormente à ocorrência do fato gerador. Não há, portanto, como confundi-la com evasão fiscal, de natureza francamente ilegal. Tampouco pode alguém cogitar de restrições ao legítimo direito de autoorganiza-ção do contribuinte. A questão é de outra natureza. Deve a legislação brasileira, à semelhança do que ocorre em vários países desenvolvidos, estabelecer uma norma geral antielisão? A prática do planejamento fiscal não poderá, em certos casos, resultar em ofensa aos princípios constitucionais da igualdade, solidariedade e justiça, favorecendo os que dispõem de mais recursos e mais informações? A elisão fiscal não poderá assumir um caráter de segregação entre os que podem fazer uso dela e os que não podem e, por isso mesmo, acabam, obliquamente, sendo onerados por um inusitado "imposto sobre os tolos"? As respostas a essas questões não são simples, ademais de controversas. A matéria não foi ainda suficientemente pacificada entre os tributaristas. Entretanto, por mais fortes que sejam os argumentos dos que se opõem a uma norma geral antielisão é inequívoco que a prática do planejamento fiscal fixa um divisor entre contribuintes de primeira e segunda classes, em detrimento de um desejado tratamento igualitário. (...) As isenções complementam o quadro dos institutos que comprometem a igualdade tributária. Freqüentemente, elas resultam de pressões exercidas por grupos de interesses, alimentadas por financiamentos de campanhas, e têm pouca ou nenhuma fundamentação econômica ou social. No Brasil, não se percebe claramente que a sociedade finda pagando mais impostos justamente para compensar os que não pagam em virtude da fruição de benefícios fiscais. Esses benefícios, todavia, assim como as despesas, não são órfãos. Removê-los implica uma verdadeira batalha política. É evidente que essa crítica não se aplica a incentivos transitórios e específicos para regiões ou pessoas pobres, nem ao ajustamento dos impostos à capacidade econômica dos contribuintes. (...) A ética tributária guarda relação, também, com a percepção externa das administrações tributárias. É importante que os contribuintes percebam que a política tributária é justa, a administração fiscal é proba, sensível e confiável, e os recursos arrecadados são corretamente aplicados. (...) A confiança do contribuinte na administração fiscal presume, desde logo, a existência de servidores probos - não apenas honestos ou que pareçam honestos, mas sobretudo exemplares. A autoridade que se confere ao servidor fiscal impõe 43 LÍNGUA PORTUGUESA responsabilidade e exemplaridade. A instituição de corregedorias, com autonomia funcional e mandato, é peça indispensável para consecução de padrões de honestidade nas administrações tributárias. (...) A ética tributária, por último, reclama a observância de relações de cooperação entre as administrações tributárias, como a troca de informações e, no plano internacional, as convenções para prevenir a bitributação. Militam em direção oposta a esse entendimento a utilização de instrumentos de "guerra fiscal" e a constituição de paraísos fiscais. Inúmeros estudos mostram que a guerra fiscal, particularmente no caso brasileiro, em nada aproveitou ao desenvolvimento das regiões mais pobres. Quando muito, serviu para acumulação de riquezas de certas elites, não necessariamente residentes nessas regiões. Não nos esqueçamos de que as guerras fiscais são quase tão velhas quanto a pobreza dessas regiões. (...) Robert Wagner, quando prefeito de Nova York, cunhou uma frase que se tornou célebre na literatura tributária: "Os impostos são o preço da civilização; não existem impostos na selva." No Brasil, a consolidação de uma ética tributária constitui requisito crítico para o desenvolvimento, para a segurança dos investimentos, para o equilíbrio concorrencial e para a justiça fiscal. (Everardo Maciel. www.braudel.org.br) 05. (FGV - Adaptada) ## "No Brasil, o debate sobre ética tributária só recentemente ganhou vultoem decorrência do aumento da carga tributária, da expansão da 'indústria de liminares', do visível aperfeiçoamento da administração fiscal, da estabilidade econômica e da crescente inserção do país na economia globalizada." No trecho grifado do excerto acima, em relação às ocorrências de complemento nominal, é correto afirmar que há: a) quatro casos. b) cinco casos. c) oito casos. d) seis casos. e) dois casos. Resposta: E Comentário: Os dois casos de complementação nominal são: “da administração fiscal” (complemento de “aperfeiçoamento”) e “do país” (complemento de “inserção”). 06. (FGV – Adaptada) ## "É importante que os contribuintes percebam que a política tributária é justa, que a política tributária é justa, sensível e confiável, e os recursos arrecadados são corretamente aplicados." A respeito da estrutura sintática do período acima, é correto afirmar que há: a) cinco orações subordinadas e duas coordenadas entre si. b) quatro orações subordinadas e três coordenadas entre si. c) quatro orações subordinadas e duas coordenadas entre si. d) cinco orações subordinadas e três coordenadas entre si. e) três orações subordinadas e somente uma coordenada. Resposta: B Comentário: As orações subordinadas são: - que os contribuintes percebam (oração subordinada substantiva subjetiva); - que a política tributária é justa (oração subordinada substantiva objetiva direta); 44 LÍNGUA PORTUGUESA - que a política tributária é justa (oração subordinada substantiva objetiva direta); - os recursos arrecadados são corretamente aplicados (oração subordinada substan-tiva objetiva direta, com elipse da conjunção integrante). As orações coordenadas são: - a política tributária é justa (oração coordenada assindética); - a política tributária é justa, sensível e confiável (oração coordenada assindética); - e os recursos arrecadados são corretamente aplicados (oração coordenada sindéti-ca aditiva). Pode parecer estranho, a primeiro plano, colocar esses elementos nessa disposição analítica, mas o que ocorre é um processo de período misto, em que as orações podem ser, ao mesmo tempo, coordenadas a umas e subordinadas a outras. O nome desse fenômeno é “princípio da oração equipolente”. -------------------------- ------------------------ Lei de Responsabilidade Fiscal, correlação entre metas e riscos fiscais e o impacto dos déficits públicos para as gerações futuras É certo que o advento da Lei Complementar nº 101, de 4 de maio de 2000, representou um avanço significativo nas relações entre o Estado fiscal e o cidadão. Mais que isso, ao enfatizar a necessidade da accountability, atribuiu caráter de essencialidade à gestão das finanças públicas na conduta racional do Estado moderno, reforçando a idéia de uma ética do interesse público, voltada para o regramento fiscal como meio para o melhor desempenho das funções constitucionais do Estado. (...) Percebe-se que os dois temas [a correlação entre metas e riscos fiscais e o impacto dos déficits públicos sobre as futuras gerações] se vinculam à função prospectiva da noção de responsabilidade fiscal. Enquanto o primeiro, normalmente, se adstringe a situações futuras próximas, o segundo vincula-se a situações futuras a longo prazo. Portanto, além de a responsabilidade fiscal cumprir o papel de proporcionar recursos de imediato a fim de que o Estado realize as funções a que constitucionalmente está vinculado, busca controlar a situação orçamentária a fim de não comprometer nem o futuro imediato, muito menos o futuro mais distante. (...) O estudo das relações entre déficits fiscais e seus efeitos nas gerações futuras, ao menos na economia, não é novo. Economistas clássicos e contemporâneos - dentre eles David Ricardo, Martin Feldstein, James Buchanan e Keynes - trataram do assunto sob perspectivas diferentes. A reflexão jurídica sobre o assunto, contudo, não se tem mostrado tão farta quanto aquela encontrada na economia. Isso se deve, talvez, à associação feita ao tema dos efeitos na utilização de recursos entre gerações especificamente no campo ambiental - fortalecida, principalmente, após a década de 70, quando o movimento ambientalista passou a formular um discurso jurídico mais sólido, angariando adeptos das mais variadas formações, em diversas partes do planeta. Não pode, no entanto, a noção jurídica de efeitos entre gerações se restringir à temática ambientalista. Obviamente, ela possui contornos bem definidos naquela área, uma vez que a própria ética ambientalista se funda na distribuição de recursos entre gerações, alicerce para a sobrevivência da própria humanidade. Mas a alocação de recursos públicos através do equilíbrio orçamentário também se mostra indispensável para que as gerações futuras não sejam privadas de 45 LÍNGUA PORTUGUESA políticas públicas propostas para serem minimamente efetivas, por falta de disponibilização orçamentária suficiente. Isso leva a crer que um dos objetivos da idéia de responsabilidade fiscal é preservar a capacidade de financiamento de políticas públicas para as futuras gerações. Do mesmo modo que a ética ambientalista tem enfatizado que os recursos ambientais não são inesgotáveis, colocando-se a possibilidade de as gerações presentes virem a exauri-los, privando as futuras gerações da própria existência, não é menos razoável pensar que os recursos públicos, também exauríveis, podem vir a comprometer o desenvolvimento humano e a existência de grupos menos favorecidos, carentes da ação estatal que vise a minorar as desigualdades. Percebe-se que os gastos públicos normalmente beneficiam muito mais as gerações atuais que as gerações futuras. Entre outros fatores, isso se deve ao fato de que as decisões políticas tendem a visualizar um período estreito de tempo a fim de se concretizarem. Natural - mas não ideal - que assim seja. Tomadores de decisões políticas freqüentemente ficam adstritos ao período de seus mandatos, uma vez que percebem que os efeitos de suas decisões são sentidos mais a curto que a longo prazo. Acrescente- se a isso o fato de que muitos eleitores ignoram completamente a complexidade das decisões, não percebendo ou relevando o limitado escopo de tais decisões, não se prolongando no tempo e beneficiando, primordialmente, as gerações atuais. Pode-se argumentar, a contrário, com três situações. A primeira delas é de que não se pode estabelecer uma relação tão rígida no sentido de que déficits públicos terão o efeito prolongado a ser sentido pelas gerações futuras. Um exemplo disso seria o famoso "erro de Malthus".Ao afirmar que a produção de alimentos cresce em progressão aritmética, enquanto o aumento da população se dá em progressão geométrica, Malthus não levou em consideração a evolução tecnológica como transformadora da capacidade de produção de alimentos, pressupondo mesmo uma sociedade estanque. Nesse sentido, seria possível afirmar que poderiam surgir novas formas de alocação de recursos que eliminariam os déficits, não necessariamente impondo ônus adicionais às gerações futuras. Esse raciocínio baseia-se, contudo, numa falsa comparação. Primeiramente, porque a alocação de novos recursos nada tem a ver, em princípio, com o impacto tecnológico. O avanço deste não acarreta necessariamente impacto positivo daquela. Um segundo fator diz respeito ao argumento de que a existência de déficits públicos pode promover o desenvolvimento nacional, o que a experiência brasileira não parece confirmar. O terceiro argumento contra a idéia de que déficits imporiam ônus às gerações futuras é o de que não se sabe qual será a postura das futuras gerações quanto aos bens materiais. Uma vez que uma postura antimaterialista, já existente na contemporaneidade, pode se disseminar para uma grande parte da população dentro de um Estado, pode-se facilmente defender que futuras gerações se preocuparão pouco com a alocação de recursospúblicos e sua utilização através de políticas públicas, importando-se mais com, v.g., valores espirituais, em detrimento dos valores materiais. A fraqueza dessa tese está no fato de ser ela, meramente, uma suposição. Destarte, não há nenhum dado seguro para afirmar que determinadas gerações futuras serão anti-materialistas ou que se importarão pouco com alocação de recursos destinados à promoção de políticas públicas. Esquecer-se das gerações futuras, tendo em vista a possibilidade de estas se tornarem antimaterialistas, é um exercício 46 LÍNGUA PORTUGUESA de mera futurologia, exercício irresponsável, instituidor de compromissos que poderão ou não ser honrados pelas gerações futuras. Portanto, a necessidade de as gerações atuais preservarem recursos para as gerações futuras também se dá no que tange aos recursos públicos. A Lei de Responsabilidade Fiscal, ao impor o regramento das contas públicas, racionalizando-as, compromete- se com esse objetivo, ao propugnar que o controle orçamentário repercutirá a curto prazo - incidindo sobre as gerações atuais - e a longo prazo - resguardando a viabilidade fiscal do Estado para as gerações futuras. (...) A função da responsabilidade fiscal, como já dito, é de mero meio. É o conceito instrumento essencial para a atuação do Estado moderno. Não mais se concebe uma atuação estatal efetiva sem uma apurada reflexão sobre os gastos públicos, seus limites e sua aplicação. As alternativas atuais para a construção de uma economia sólida e menos suscetível passam necessariamente pelo controle de gastos públicos. Alguns países desenvolvidos, tendo em vista essa perspectiva, buscaram limitar gastos e muitas vezes editaram leis para esse fim. É impossível, na atualidade, visualizar qualquer Estado que se proponha ao desenvolvimento sem um minucioso projeto de controle de gastos públicos. Imprescindível é, pois, que toda a reflexão sobre a necessidade de um conceito de responsabilidade fiscal não seja perdida da vista dos administradores públicos, assim como dos cidadãos. Somente assim, com a atuação de todos os atores sociais, poder-se-á buscar o controle de gastos públicos, visando a fomentar um crescimento econômico sustentado e garantidor, principalmente, dos direitos e garantias fundamentais dispostos na Constituição Federal de 1988. (Gilmar Ferreira Mendes, com adaptações. Disponível em: <http://www.mt.tr f1.gov.br/ judice/jud7/impacto.htm>) 07. (FGV – Adaptada) ## No trecho "não necessariamente impondo ônus adicionais às gerações futuras", o termo grifado exerce a função sintática de: a) adjunto adverbial. b) adjunto adnominal. c) complemento nominal. d) sujeito. e) objeto indireto. Resposta: E Comentário: O verbo “impor” é bitransitivo, ou seja, exige dois complementos distintos. Na sentença em questão, o termo “ônus adicionais” funciona como objeto direto; o termo destacado “às gerações futuras” desempenha função de objeto indireto, haja vista sua introdução por uma preposição. -------------------------- ------------------------ Lei de Responsabilidade Fiscal, correlação entre metas e riscos fiscais e o impacto dos déficits públicos para as gerações futuras É certo que o advento da Lei Complementar nº 101, de 4 de maio de 2000, representou um avanço significativo nas relações entre o Estado fiscal e o cidadão. Mais que isso, ao enfatizar a necessidade da accountability, atribuiu caráter de essencialidade à gestão das finanças públicas na conduta racional do Estado moderno, reforçando a idéia de uma ética do interesse público, voltada para o regramento fiscal como meio para o melhor desempenho das funções constitucionais do Estado. (...) Percebe-se que os dois temas [a correlação entre metas e riscos fiscais e o impacto dos déficits públicos sobre as futuras gerações] se vinculam à função prospectiva da noção de responsabilidade fiscal. Enquanto o primeiro, normalmente, se adstringe a situações futuras próximas, 47 LÍNGUA PORTUGUESA o segundo vincula-se a situações futuras a longo prazo. Portanto, além de a responsabilidade fiscal cumprir o papel de proporcionar recursos de imediato a fim de que o Estado realize as funções a que constitucionalmente está vinculado, busca controlar a situação orçamentária a fim de não comprometer nem o futuro imediato, muito menos o futuro mais distante. (...) O estudo das relações entre déficits fiscais e seus efeitos nas gerações futuras, ao menos na economia, não é novo. Economistas clássicos e contemporâneos - dentre eles David Ricardo, Martin Feldstein, James Buchanan e Keynes - trataram do assunto sob perspectivas diferentes. A reflexão jurídica sobre o assunto, contudo, não se tem mostrado tão farta quanto aquela encontrada na economia. Isso se deve, talvez, à associação feita ao tema dos efeitos na utilização de recursos entre gerações especificamente no campo ambiental - fortalecida, principalmente, após a década de 70, quando o movimento ambientalista passou a formular um discurso jurídico mais sólido, angariando adeptos das mais variadas formações, em diversas partes do planeta. Não pode, no entanto, a noção jurídica de efeitos entre gerações se restringir à temática ambientalista. Obviamente, ela possui contornos bem definidos naquela área, uma vez que a própria ética ambientalista se funda na distribuição de recursos entre gerações, alicerce para a sobrevivência da própria humanidade. Mas a alocação de recursos públicos através do equilíbrio orçamentário também se mostra indispensável para que as gerações futuras não sejam privadas de políticas públicas propostas para serem minimamente efetivas, por falta de disponibilização orçamentária suficiente. Isso leva a crer que um dos objetivos da idéia de responsabilidade fiscal é preservar a capacidade de financiamento de políticas públicas para as futuras gerações. Do mesmo modo que a ética ambientalista tem enfatizado que os recursos ambientais não são inesgotáveis, colocando-se a possibilidade de as gerações presentes virem a exauri-los, privando as futuras gerações da própria existência, não é menos razoável pensar que os recursos públicos, também exauríveis, podem vir a comprometer o desenvolvimento humano e a existência de grupos menos favorecidos, carentes da ação estatal que vise a minorar as desigualdades. Percebe-se que os gastos públicos normalmente beneficiam muito mais as gerações atuais que as gerações futuras. Entre outros fatores, isso se deve ao fato de que as decisões políticas tendem a visualizar um período estreito de tempo a fim de se concretizarem. Natural - mas não ideal - que assim seja. Tomadores de decisões políticas freqüentemente ficam adstritos ao período de seus mandatos, uma vez que percebem que os efeitos de suas decisões são sentidos mais a curto que a longo prazo. Acrescente- se a isso o fato de que muitos eleitores ignoram completamente a complexidade das decisões, não percebendo ou relevando o limitado escopo de tais decisões, não se prolongando no tempo e beneficiando, primordialmente, as gerações atuais. Pode-se argumentar, a contrário, com três situações. A primeira delas é de que não se pode estabelecer uma relação tão rígida no sentido de que déficits públicos terão o efeito prolongado a ser sentido pelas gerações futuras. Um exemplo disso seria o famoso "erro de Malthus".Ao afirmar que a produção de alimentos cresce em progressão aritmética, enquanto o aumento da população se dá em progressão geométrica, Malthus não levou em consideração a evolução tecnológica como transformadora da capacidade de 48 LÍNGUA PORTUGUESA produção de alimentos, pressupondo mesmo uma sociedade estanque. Nesse sentido, seria possível afirmar que poderiam surgir novas formas de alocação de recursos que eliminariam os déficits, não necessariamente impondo ônus adicionais às gerações futuras. Esse raciocínio baseia-se, contudo, numa falsa comparação.Primeiramente, porque a alocação de novos recursos nada tem a ver, em princípio, com o impacto tecnológico. O avanço deste não acarreta necessariamente impacto positivo daquela. Um segundo fator diz respeito ao argumento de que a existência de déficits públicos pode promover o desenvolvimento nacional, o que a experiência brasileira não parece confirmar. O terceiro argumento contra a idéia de que déficits imporiam ônus às gerações futuras é o de que não se sabe qual será a postura das futuras gerações quanto aos bens materiais. Uma vez que uma postura antimaterialista, já existente na contemporaneidade, pode se disseminar para uma grande parte da população dentro de um Estado, pode-se facilmente defender que futuras gerações se preocuparão pouco com a alocação de recursos públicos e sua utilização através de políticas públicas, importando-se mais com, v.g., valores espirituais, em detrimento dos valores materiais. A fraqueza dessa tese está no fato de ser ela, meramente, uma suposição. Destarte, não há nenhum dado seguro para afirmar que determinadas gerações futuras serão anti-materialistas ou que se importarão pouco com alocação de recursos destinados à promoção de políticas públicas. Esquecer-se das gerações futuras, tendo em vista a possibilidade de estas se tornarem antimaterialistas, é um exercício de mera futurologia, exercício irresponsável, instituidor de compromissos que poderão ou não ser honrados pelas gerações futuras. Portanto, a necessidade de as gerações atuais preservarem recursos para as gerações futuras também se dá no que tange aos recursos públicos. A Lei de Responsabilidade Fiscal, ao impor o regramento das contas públicas, racionalizando-as, compromete- se com esse objetivo, ao propugnar que o controle orçamentário repercutirá a curto prazo - incidindo sobre as gerações atuais - e a longo prazo - resguardando a viabilidade fiscal do Estado para as gerações futuras. (...) A função da responsabilidade fiscal, como já dito, é de mero meio. É o conceito instrumento essencial para a atuação do Estado moderno. Não mais se concebe uma atuação estatal efetiva sem uma apurada reflexão sobre os gastos públicos, seus limites e sua aplicação. As alternativas atuais para a construção de uma economia sólida e menos suscetível passam necessariamente pelo controle de gastos públicos. Alguns países desenvolvidos, tendo em vista essa perspectiva, buscaram limitar gastos e muitas vezes editaram leis para esse fim. É impossível, na atualidade, visualizar qualquer Estado que se proponha ao desenvolvimento sem um minucioso projeto de controle de gastos públicos. Imprescindível é, pois, que toda a reflexão sobre a necessidade de um conceito de responsabilidade fiscal não seja perdida da vista dos administradores públicos, assim como dos cidadãos. Somente assim, com a atuação de todos os atores sociais, poder-se-á buscar o controle de gastos públicos, visando a fomentar um crescimento econômico sustentado e garantidor, principalmente, dos direitos e garantias fundamentais dispostos na Constituição Federal de 1988. (Gilmar Ferreira Mendes, com adaptações. Disponível em: <http://www.mt.tr f1.gov.br/ judice/jud7/impacto.htm>) 49 LÍNGUA PORTUGUESA 08. (FVG – Adaptada) ## Assinale a alternativa em que o termo desempenhe função sintática idêntica à de da Lei Complementar n° 101 a) sobre as futuras gerações b) dos déficits públicos c) a situações futuras próximas d) de recursos públicos e) a evolução tecnológica Resposta: B Comentário: A função em questão é a de complemento nominal. O termo destacado funciona como complemento do substantivo “advento”; o elemento da alternativa correta desempenha a função de complemento do substantivo “impacto”. -------------------------- ------------------------ Breve histórico A idéia de criação de um Tribunal de Contas surgiu, pela primeira vez no Brasil, em 23 de junho de 1826, com a iniciativa de Felisberto Caldeira Brandt, Visconde de Barbacena, e de José Inácio Borges, que apresentaram projeto de lei nesse sentido ao Senado do Império. As discussões em torno da criação de um Tribunal de Contas durariam quase um século, polarizadas entre aqueles que defendiam a sua necessidade - para quem as contas públicas deviam ser examinadas por órgão independente - e aqueles que a combatiam, por entenderem que as contas públicas podiam continuar sendo controladas por aqueles mesmos que as realizavam. Originariamente o Tribunal teve competência para exame, revisão e julgamento de todas as operações relacionadas com a receita e a despesa da União. A fiscalização fazia-se pelo sistema de registro prévio. A Constituição de 1891 institucionalizou o Tribunal e conferiu-lhe competências para liquidar as contas da receita e da despesa e verificar a sua legalidade, antes de serem prestadas ao Congresso Nacional. Pela Constituição de 1934, o Tribunal recebeu, entre outras, as seguintes atribuições: proceder ao acompanhamento da execução orçamentária, registrar previamente as despesas e os contratos, julgar as contas dos responsáveis por bens e dinheiro públicos, assim como apresentar parecer prévio sobre as contas do Presidente da República, para posterior encaminhamento à Câmara dos Deputados. Com exceção do parecer prévio sobre as contas presidenciais, todas as demais atribuições do Tribunal foram mantidas pela Carta de 1937. A Constituição de 1946 acresceu um novo encargo às competências da Corte de Contas: julgar a legalidade das concessões de aposentadorias, reformas e pensões. A Constituição de 1967, ratificada pela Emenda Constitucional n.º 1, de 1969, retirou do Tribunal o exame e o julgamento prévio dos atos e dos contratos geradores de despesas, sem prejuízo da competência para apontar falhas e irregularidades que, se não sanadas, seriam, então, objeto de representação ao Congresso Nacional. Eliminou-se, também, o julgamento da legalidade de concessões de aposentadorias, reformas e pensões, ficando a cargo do Tribunal, tão-somente, a apreciação da legalidade para fins de registro. O processo de fiscalização financeira e orçamentária passou por completa reforma nessa etapa. Como inovação, deu-se incumbência à Corte de Contas para o exercício de auditoria financeira e orçamentária sobre as contas das unidades dos três poderes da União, instituindo-se, desde então, os sistemas de controle externo, a cargo do Congresso Nacional, com auxilio da Corte de Contas, e de controle interno, este exercido pelo Poder Executivo e destinado a criar condições para um controle externo eficaz. Finalmente, com a Constituição de 1988, o Tribunal de Contas da União (TCU) teve a sua jurisdição e a sua competência substancialmente ampliadas. Recebeu 50 LÍNGUA PORTUGUESA poderes para, no auxílio ao Congresso Nacional, exercer a fiscalização contábil, financeira, orçamentária, operacional e patrimonial da União e das entidades da administração direta e indireta, quanto à legalidade, à legitimidade e à economicidade, e a fiscalização da aplicação das subvenções e da renúncia de receitas. Qualquer pessoa física ou jurídica, pública ou privada, que utilize, arrecade, guarde, gerencie ou administre dinheiros, bens e valores públicos ou pelos quais a União responda, ou que, em nome desta, assuma obrigações de natureza pecuniária tem o dever de prestar contas ao TCU. Conheça o TCU. Internet:<http://www. tcu.gov.br>. Acesso em 10/4/2005 (com adaptações). 09. (CESPE – Adaptada) ## O emprego da vírgula antes de "que" justifica-se pelo valor restritivo da oração adjetiva que esse pronome introduz. Resposta: Errado Comentário: É preciso ressaltar que uma oração adjetiva somente possuirá valor restritivo quando não estiver separada da sentença, do contrário, o valor será explicativo. Na frase em questão, a vírgula possui valor explicativo. -------------------------- ------------------------ A EMBRAPAvirou símbolo de excelência na administração pública. Em mais uma década, terá sido a responsável pela melhoria do padrão nutricional dos brasileiros, por meio de um programa para a produção de alimentos mais saudáveis. Os componentes de nossa dieta básica - arroz, feijão, milho, soja - estão sendo pesquisados para que adquiram teores mais elevados de vitaminas, proteínas e aminoácidos. Do projeto, há poucos anos surgiu a cenoura com mais procaroteno (que ajuda no combate à cegueira), já incorporada ao mercado. A presidente interina da EMBRAPA, Marisa Barbosa, acentua que outros resultados positivos serão alcançados nos próximos anos. Com isso, o índice de subnutrição e doenças dela resultantes serão gradativamente reduzidos. Alimentos denominados funcionais, proteicamente enriquecidos, estão sendo pesquisados para combater a diabetes e o envelhecimento. Nada a ver com transformação genética. A EMBRAPA tem 2.220 pesquisadores, sendo 1.100 com doutorado. Jornal do Brasil (Informe JB), 15/3/2004, p. A6 (com adaptações). 10. (CESPE – Adaptada) ## Na linha referênciada em vermelho, as palavras "subnutrição" e "doenças" estão exercendo a função de complemento da palavra "índice". Reposta: Errado Comentário: A palavra “subnutrição” desempenha função de complemento do substantivo “índice” (que é um dos núcleos do sujeito), mas a palavra “doenças” é núcleo do sujeito composto. O sujeito do verbo “ser” é “o índice de subnutrição e doenças dela resultantes”. -------------------------- ------------------------ Algum pessimista argumentará que, qualquer que seja o tratamento que eu dê ao tema anunciado pelo título acima, não passarei de comentários tautológicos, já que a morte por si mesma é banal, não necessitando de que se sublinhem essa condição. De fato, como única verdadeira certeza que temos na vida, a morte é banal, acontece a toda hora e, mais cedo ou mais tarde, chegará para todos. Mas, embora saiba não estar dizendo novidades, pois eu mesmo já falei neste assunto várias vezes e em várias ocasiões, acho que, entre nós, a morte está ficando banal em demasia. Nas grandes cidades brasileiras a começar pelas duas maiores, mata-se praticamente como se tratasse de algo 51 LÍNGUA PORTUGUESA inerente à existência urbana. Não creio estar apenas reprisando um bordão de velho, quando digo que a vida humana cada vez tem menos valor - e não só para bandidos, que assassinam mesmo sem necessidade alguma, mas para nós, outros, que só faltamos dar de ombros, quando sabemos de uma nova morte violenta, entre as dezenas que se noticiam todos os dias nos jornais. Em biologia, sabe-se que a repetição exaustiva de um estímulo acaba por atenuar fortemente, ou mesmo eliminar, seu efeito. Sem dúvida, isto acontece conosco. De tanto sabermos de barbaridades, já não mais nos chocamos. A morte violenta não nos sitia somente nos noticiários. Ela está em todas as partes, nas balas perdidas que vêm atingindo tanta gente no Rio de Janeiro e que são mesmo objeto de fornidas coleções em alguns bairros, nos jogos eletrônicos que fascinam nossos filhos e netos e nos enlatados americanos com que somos bombardeados pela televisão. Desde criança, vemos mortes violentas às dúzias. E, o que é pior, mortes desacompanhadas de tudo que ela traz na vida real. O personagem toma um tiro, bate as botas e nada mais acontece. Não há luto, não há orfandade, não há viuvez, não há nem sequer dor. O assassinato e a morte são quase iguais a outros atos corriqueiros da vida cotidiana. Sabemos também que, embora não esteja na lei, a pena de morte, pública e privadamente decretada, há muito tempo existe no Brasil. De vez em quando aparece uma reportagem, mostrando como pistoleiros cobram quantias que não dão nem para um bom jantar, num bom restaurante, para matar alguém que não conhecem e que nunca fez mal. Encher a cara, pegar o carro e matar um desafeto é a melhor maneira de cometer homicídio no Brasil. O matador paga fiança, é solto, responde o processo em liberdade e, se eventualmente for condenado, poderá, caso se trate de réu primário, cumprir a pena também em liberdade. A polícia mata ("executa", palavra com que certa imprensa parece querer nobilitar o assassinato) e não mata somente o bandido, mas também o cidadão que está por perto. Comerciantes contratam "justiceiros", que tomam a si o encargo de eliminar quem quer que pareça uma ameaça. Viajar de ônibus passou a ser uma aventura cotidiana, pois raro é o dia que um ou mais não são assaltados, com direito a tiroteio. Hospitais, berçários, asilos de velhos e clínicas matam em níveis reminiscentes do nazismo. Morre- se de fome nas cidades e no campo, e por aí vamos. Enfim, mata-se escandalosamente em toda parte e ficamos nós, os sobreviventes, como que anestesiados. Para muitos, infelizmente, o problema só se torna grave quando a vítima lhes é próxima. Enquanto acontece somente com os outros, não merece muita atenção. Isso não pode deixar de ser visto como uma gravíssima deformação, de que precisamos tomar consciência e nos livrarmos a qualquer custo. A morte é o fim natural da vida, mas não é natural que se alastre dessa forma monstruosa e que, embotados, abúlicos e acomodados, não façamos nada para mudar a situação em que tão aviltantemente existimos. Não somos bichos, somos cidadãos, e se não zelarmos até ferozmente pelos nossos direitos, dentro em breve não teremos mais direito nenhum, nem mesmo à vida. João Ubaldo Ribeiro. Manchete, 16/11/96, p. 97.2 11. (CESPE - Adaptada) ## Considerando o período "O personagem toma um tiro, bate as botas e nada mais acontece.", assinale a opção correta. a) O período é composto por coordenação, mas apenas uma oração é coordenada sindética. b) "O personagem" é o sujeito das três orações. 52 LÍNGUA PORTUGUESA c) O nível de linguagem é coloquial, culto. d) Há apenas artigos definidos exercendo a função de adjuntos adnominais. e) As três formas verbais são de predicação transitiva direta. Resposta: A Comentário: De fato, o período é composto por coordenação, visto que uma oração coordenada é aquela que apresenta sua estrutura sintática completa e é apenas colocada ao lado de outra, com a qual estabelece uma relação de sentido. Para que uma oração seja sindética, ela deve possuir um síndeto (uma conjunção) coordenativo. Apenas a sentença “e nada mais acontece” é introduzida por uma conjunção, a palavra “e”. -------------------------- ------------------------ O termo groupthinking foi cunhado, na década de cinquenta, pelo sociólogo William H. Whyte, para explicar como grupos se tornavam reféns de sua própria coesão, tomando decisões temerárias e causando grandes fracassos. Os manuais de gestão defi-nem groupthinking como um processo mental coletivo que ocorre quando os grupos são uniformes, seus indivíduos pensam da mesma forma e o desejo de coesão supera a motivação para avaliar alternativas diferentes das usuais. Os sintomas são conhecidos: uma ilusão de invulnerabilidade, que gera otimismo e pode levar a riscos; um esforço coletivo para neutralizar visões contrárias às teses dominantes; uma crença absoluta na moralidade das ações dos membros do grupo; e uma visão distorcida dos inimigos, comumente vistos como iludidos, fracos ou simplesmente estúpidos. Tão antigas como o conceito são as receitas para contrapor a patologia: primeiro, é preciso estimular o pensamento crítico e as visões alternativas à visão dominante; segundo, é necessário adotar sistemas transparentes de governança e procedimentos de auditoria; terceiro, é desejável renovar constantemente o grupo, de forma a oxigenar as discussões e o processo de tomada de decisão. Thomaz Wood Jr. O perigo do groupthinking. In: Carta Capital, 13/5/2009, p. 51 (com adaptações). 12. (CESPE – Adaptada) ## Na linha 4, preservam-se a correção gramatical e a coerência textual ao se inserir uma vírgula imediatamenteapós o vocábulo "coletivo", mesmo que, com isso, as informações possam ser tomadas como uma explicação - e não como uma caracterização - da expressão "processo mental coletivo". Resposta: Certo Comentário: A inserção da vírgula após a palavra “coletivo” gera uma alteração de ordem sintática, a qual fará a oração se transformar em uma oração subordinada adjetiva explicativa. Isso se nota ao analisar a presença do pronome relativo e uma base verbal na sentença. 13. (ESAF - Adaptada) ## Em relação ao texto, assinale a opção correta. Há alguma esperança de que a diminuição do desmatamento no Brasil possa se manter e não seja apenas, e mais uma vez, o reflexo da redução das atividades econômicas causada pela crise global. Mas as notícias ruins agora vêm de outras frentes. As emissões de gases que provocam o efeito estufa pela indústria cresceram 77% entre 1994 e 2007, segundo estimativas do Ministério do Meio Ambiente a partir de dados do IBGE e da Empresa de Pesquisa Energética. Para piorar, as fontes de energia se tornaram mais "sujas", com o aumento de 122% do CO2 lançado na atmosfera, percentual muito acima dos 71% da ampliação da geração no período. Assim, enquanto as emissões por desmatamento 53 LÍNGUA PORTUGUESA tendem a se reduzir para algo entre 55% e 60% do total, as da indústria e do uso de combustíveis fósseis ganham mais força. (Editorial, Valor Econômico, 1/9/2009) a) Em "possa se manter" o pronome "se" indica sujeito indeterminado. b) O termo "causada" está no singular e no feminino porque concorda com "esperança". c) O termo "enquanto" confere ao período uma relação de consequência. d) Em "se tornaram" o pronome "se" indica voz passiva. e) O segmento "que provocam o efeito estufa pela indústria" constitui oração subordinada adjetiva restritiva. Resposta: E Comentário: a) como o verbo “manter” é transitivo direto, a palavra “se” indica uma voz passiva sintética. b) a palavra “causada” concorda com o substantivo “redução”. c) a palavra “enquanto” dá sentido de proporção. d) na formação em questão, a palavra “se” é parte integrante do verbo. e) como a oração introduzida pelo pronome relativo não está isolada por vírgulas na sentença, entende-se que possui natureza restritiva. -------------------------- ------------------------ A economia brasileira, há alguns anos, apresentava fortes barreiras protecionistas, e controles cambiais provocavam a valorização artificial do câmbio comercial, havendo ágio expressivo no mercado livre. A realidade hoje é outra. As barreiras tarifárias foram muito reduzidas, a taxa de câmbio é flutuante e não há diferença significativa entre o mercado oficial e o paralelo. Os modelos econométricos disponíveis, por menos precisos que sejam, são unânimes em apontar para uma desvalorização do real acima do seu equilíbrio de longo prazo, e não o contrário. Logo, onde está o problema? Por que gastar escassos recursos públicos - pois não se faz política industrial sem eles - para poupar divisas quando o mercado já está bem sinalizado nesta direção? Pode até haver outras razões para justificar a política proposta. Mas economia de divisas não é uma delas. (Adaptado de Cláudio Haddad) 14. (ESAF – Adapatada) ## Assinale a opção em que as duas expressões exercem a mesma função sintática no texto. a) "controles cambiais" = "fortes barreiras protecionistas" b) "a valorização artificial do câmbio comercial" = "A economia brasileira" c) "há alguns anos" = "hoje" d) "a taxa de câmbio" = "diferença significativa" e) "escassos recursos públicos" = "o mercado" Resposta: C Comentário: Em “a”, os termos são classificados como sujeito (do verbo provocar) e objeto direto (do verbo apresentar). Em “b” os termos são classificados como objeto direto (do verbo provocar) e sujeito (do verbo apresentar). Em “c” os dois termos são adjuntos adverbiais. -------------------------- ------------------------ Da impunidade O homem ainda não encontrou uma forma de organização social que dispense regras de conduta, princípios de valor, discriminação objetiva de direitos e deveres comuns. Todos nós reconhecemos que, em qualquer atividade humana, a inexistência 54 LÍNGUA PORTUGUESA de parâmetros normativos implica o estado de barbárie, no qual prevalece a mais dura e irracional das justificativas: a lei do mais forte, também conhecida, não por acaso, como "a lei da selva". É nessa condição que vivem os animais, relacionando-se sob o exclusivo impulso dos instintos. Mas o homo sapiens afirmou-se como tal exatamente quando estabeleceu critérios de controle dos impulsos primitivos. Variando de cultura para cultura, as regras de convívio existem para dar base e estabilidade às relações entre os homens. Não decorrem, aliás, apenas de iniciativas reconhecidas simplesmente como humanas: podem apresentar-se como manifestações da vontade divina, como valores supremos, por vezes apresentados como eternos. Os dez mandamentos ditados por Deus a Moisés são um exemplo claro de que a religião toma para si a tarefa de orientar a conduta humana por meio de princípios fundamentais. No caso da lei mosaica, um desses princípios é o da interdição: "Não matarás", "Não cobiçarás a mulher do próximo" etc. Ou seja: está suposto nesses mandamentos que o ponto de partida para a boa conduta é o reconhecimento daquilo que não pode ser permitido, daquilo que representa o limite de nossa vontade e de nossas ações. Nas sociedades modernas, os textos constitucionais e os regulamentos de todo tipo multiplicam-se e sofisticam-se, mas permanece como sustentação delas a idéia de que os direitos e os deveres dizem respeito a todos e têm por finalidade o bem comum. Para garantia do cumprimento dos princípios, instituem-se as sanções para quem os ignore. A penalidade aplicada ao indivíduo transgressor é a garantia da validade social da norma transgredida. Por isso, a impunidade, uma vez manifesta, quebra inteiramente a relação de equilíbrio entre direitos e deveres comuns, e passa a constituir um exemplo de delito vantajoso: aquele em que o sujeito pode tirar proveito pessoal de uma regra exatamente por tê-la infringido. Abuso de poder, corrupção, tráfico de influências, quando não seguidos de punição exemplar, tornam-se estímulos para uma prática delituosa generalizada. Um dos maiores desafios da nossa sociedade é o de não permitir a proliferação desses casos. Se o ideal da civilização é permitir que todos os indivíduos vivam e convivam sob os mesmos princípios éticos acordados, a quebra desse acordo é a negação mesma desse ideal da humanidade. (Inácio Leal Pontes) 15. (FCC – Adaptada) ## Expressa uma finalidade a oração subordinada adverbial sublinhado em: a) (...) a religião toma para si a tarefa de orientar a conduta humana. b) (...) o sujeito pode tirar proveito pessoal de uma regra por tê-la infringido. c) (...) o ponto de partida para a boa conduta é o reconhecimento daquilo que não pode ser permitido. d) (...) as regras de convívio existem para dar base e estabilidade às relações entre os homens. e) (...) o ideal da civilização é permitir que todos os indivíduos vivam sob os mesmos princípios éticos acordados. Resposta: D Comentário: Só há duas orações subordinadas adverbiais na questão: a da letra “b”, que se trata de uma oração subordinada adverbial causal reduzida de infinitivo e a da letra “d”, que se trata de uma oração subordinada adverbial final reduzida de infinitivo. 55 LÍNGUA PORTUGUESA Da impunidade O homem ainda não encontrou uma forma de organização social que dispense regras de conduta, princípios de valor, discriminação objetiva de direitos e deveres comuns. Todos nós reconhecemos que, em qualquer atividade humana, a inexistência de parâmetros normativos implica o estado de barbárie, no qual prevalece a mais dura e irracional das justificativas: a lei do mais forte, também conhecida, não por acaso, como"a lei da selva". É nessa condição que vivem os animais, relacionando-se sob o exclusivo impulso dos instintos. Mas o homo sapiens afirmou-se como tal exatamente quando estabeleceu critérios de controle dos impulsos primitivos. Variando de cultura para cultura, as regras de convívio existem para dar base e estabilidade às relações entre os homens. Não decorrem, aliás, apenas de iniciativas reconhecidas simplesmente como humanas: podem apresentar-se como manifestações da vontade divina, como valores supremos, por vezes apresentados como eternos. Os dez mandamentos ditados por Deus a Moisés são um exemplo claro de que a religião toma para si a tarefa de orientar a conduta humana por meio de princípios fundamentais. No caso da lei mosaica, um desses princípios é o da interdição: "Não matarás", "Não cobiçarás a mulher do próximo" etc. Ou seja: está suposto nesses mandamentos que o ponto de partida para a boa conduta é o reconhecimento daquilo que não pode ser permitido, daquilo que representa o limite de nossa vontade e de nossas ações. Nas sociedades modernas, os textos constitucionais e os regulamentos de todo tipo multiplicam-se e sofisticam-se, mas permanece como sustentação delas a idéia de que os direitos e os deveres dizem respeito a todos e têm por finalidade o bem comum. Para garantia do cumprimento dos princípios, instituem-se as sanções para quem os ignore. A penalidade aplicada ao indivíduo transgressor é a garantia da validade social da norma transgredida. Por isso, a impunidade, uma vez manifesta, quebra inteiramente a relação de equilíbrio entre direitos e deveres comuns, e passa a constituir um exemplo de delito vantajoso: aquele em que o sujeito pode tirar proveito pessoal de uma regra exatamente por tê-la infringido. Abuso de poder, corrupção, tráfico de influências, quando não seguidos de punição exemplar, tornam-se estímulos para uma prática delituosa generalizada. Um dos maiores desafios da nossa sociedade é o de não permitir a proliferação desses casos. Se o ideal da civilização é permitir que todos os indivíduos vivam e convivam sob os mesmos princípios éticos acordados, a quebra desse acordo é a negação mesma desse ideal da humanidade. (Inácio Leal Pontes) 16. (FCC – Adaptada) ## Não decorrem, aliás, apenas de iniciativas reconhecidas simplesmente como humanas (...). O elemento sublinhado na frase acima poderá permanecer o mesmo, caso substituamos Não decorrem por a) Não advêm. b) Não implicam. c) Não têm origem. d) Não se devem. e) Não se atribuem. Resposta: A Comentário: Como o termo destacado possui função de adjunto adverbial, o único verbo que atenderia à condição de manter as relações sintáticas (mantendo também a regência) é o verbo “advir”. 56 LÍNGUA PORTUGUESA 17. (FCC - Adaptada) ## O termo sublinhado constitui o sujeito da seguinte construção: a) Não se encontrou uma forma definitiva de organização social. b) É nessa condição que vivem os animais. c) Tais delitos acabam tornando-se estímulos para a banalização das transgressões. d) Ocorre isso por conta das reiteradas situações de impunidade. e) Deve-se reconhecer na interdição um princípio da lei mosaica. Resposta: D Comentário: Em “a” o termo destacado funciona como partícula apassivadora. Em “b” o termo destacado funciona como núcleo do adjunto adverbial. Em “c”o termo destacado funciona com núcleo do predicativo do sujeito. Em “d” a palavra “isso” é sujeito do verbo “Ocorrer”. Em “e” o termo destacado é núcleo do adjunto adverbial. -------------------------- ------------------------ Constituição à brasileira Vinte anos. Congresso superlotado, emoção quase palpável, o presidente da Constituinte, deputado Ulysses Guimarães, 71, muito à vontade, no auge da glória, expressão de felicidade no rosto altivo, termina vigoroso discurso. De pé, ergue os longos braços para exibir um livro de 292 páginas, capa verde-amarela, 245 artigos e 70 disposições transitórias, que chama de Constituição Cidadã, porque acha que recuperará como cidadãos milhões de brasileiros. "Mudar para vencer! Muda, Brasil!", grita entusiasmado. Foram 20 meses de muito poder, palco iluminado, pressão, choques, trabalho extenuante, abertura à participação popular. Esperava muito da Carta, seu maior feito. E também a Presidência da República. De outubro a dezembro de 1988, em ambiente nacional de sinistrose e medo de hiperinflação, funcionou o chamado "pacto social", reunindo governo, empresários, trabalhadores e, no fim, políticos. Espaço de diálogo e negociação. Deu certo. Os entendimentos foram essenciais para amenizar o impacto inicial da Constituição. A convocação da Assembléia Nacional Constituinte ganhara força na reta final da ditadura. Tancredo Neves, candidato a presidente, prometera fazê-lo. Hábil, usava o compromisso para se desvencilhar de questões embaraçosas. Seu eventual mandato seria de quatro, cinco ou seis anos? "Será o que a Constituinte fixar." Um dia, na intimidade, perguntei: "Seis anos, doutor Tancredo?". "Muito", respondeu. "Quatro?". "Pouco." Indispensável, mas também fonte de instabilidade, a Constituinte podia quase tudo. Quando foi instalada, fevereiro de 1987, o presidente Sarney me disse que, apesar de tema conjuntural, a duração de seu mandato ocuparia o centro das atenções. Tinha certeza de que iam politizar o assunto. Coisas da política, do poder e da paixão. Havia forte enxame de moscas azuis no Congresso Nacional, muitos presidenciáveis. Difícil governar com inflação alta, economia em baixa e um suprapoder em cima. No Palácio do Planalto, inesgotável romaria de parlamentares, parte de nariz empinado, salto 15 ou mais, exalando poder e importância. A questão do mandato realmente pegou fogo. Em 15/11/1987, um domingo, a Comissão de Sistematização votou quatro anos para Sarney. A terra tremeu no Plano Piloto. Final da manhã, telefonema do general Ivan de Souza Mendes, ministro-chefe do SNI. Está ansioso e preocupado. Pede que eu vá depressa ao Palácio da Alvorada, residência presidencial. Meia hora depois, encontro lá o presidente Sarney, os ministros militares e muitos civis. Dia tenso, perigoso. Grande 57 LÍNGUA PORTUGUESA atividade, agitação, nervosismo. O presidente ouvia muito e falava pouco. Agüentou firme. Não arredou pé do compromisso democrático. Começo da noite, li nota à imprensa, em que ele reafirmava o respeito a todas as decisões que vies-sem a ser adotadas pela Constituinte. Inclusive eleições em 1988. No final do processo, acirrada disputa da duração do mandato e do sistema de go- verno. Deu presidencialismo e cinco anos. Mas a alma parlamentarista ficou, como mostra, por exemplo, o instituto das medidas provisórias, inspirado no parlamentarismo italiano. Abundante remessa de matérias polêmicas para a legislação infraconstitucional permitiu aprovar o texto definitivo em 23/9/1988. Conforme pesquisa do jurista Saulo Ramos, precisava de 289 leis de concreção, sendo 41 complementares. A nova Carta serviu bem ao país? Críticos dizem que é irrealista, rica em contradi- ções e ambigüidades, economicamente desequilibrada e anacrônica, excessiva em matérias e detalhamentos, mas repleta de lacunas. Que provocou o maior desastre fiscal da história brasileira, induzindo a disparada do déficit público, da dívida interna e da carga tributária. Afirmam que as imperfeições sufocaram o Congresso. Citam o advento de 56 emendas, 69 leis complementares, além de milhares de propostas de emenda rejeitadas ou em tramitação. Também exuberante demanda de interpretações ao STF e implacável bombardeio de medidas provisórias. Aspas para Sarney: "Logo, logo se viu que a Constituição Cidadã criava mais direi- tos que obrigações, mais despesas que fontes de recursos. Um dos efeitos danosos foi a ne- cessidade de emendá-la continuamente. A cada emenda, o governo se torna refém da parte menos nobredo Congresso." Ela fez bem à nação? Politicamente, sim. Completou a transição, é profundamente democrática, assegurou o Estado de Direito. Tem muitas virtudes. A mais abrangente de todas, trouxe avanços notáveis em campos como o dos direitos e das garantias individuais, liberdades públicas, meio ambiente, fortalecimento do Ministério Público, regras de administração pública, planejamento e Orçamento, nas cláusulas pétreas. Seu coração, feito de democracia, de cidadania e de esperança, não perdeu a iden- tidade. (Ronaldo Costa Couto. Folha de São Paulo, 7 de outubro de 2008.) 18. (FGV – Adaptada) ## "Que provocou o maior desastre fiscal da história bra-sileira, induzindo a disparada do déficit público, da dívida interna e da carga tributária." No trecho acima, em relação às ocorrências de complemento nominal, é correto afirmar que há: a) três. b) quatro. c) duas. d) uma. e) zero. Resposta: E Comentário: As expressões “da história brasileira”, “do déficit público”, “da dívida inter-na” e “da carga tributária” são classificados como adjuntos adnominais dos termos com os quais se relacionam. 58 LÍNGUA PORTUGUESA 19. (FGV – Adaptada) ## No texto, meu, mermão e véi funcionam como: a) apostos. b) vocativos. c) sujeitos. d) predicativos. e) adjuntos adnominais. Comentário: Como os elementos em questão indicam interpelação ao interlocutor, devem ser classificados como vocativos. -------------------------- ------------------------ Terra, território e diversidade cultural O voto do ministro Carlos Ayres Britto sobre a reserva Raposa/Serra do Sol evidencia a oportunidade de deixarmos para trás os resquícios de uma mentalidade colonial e termos um avanço histórico, rumo a uma política contemporânea que contemple o diálogo produtivo entre as diversas etnias e culturas que compõem um país de dimensões continentais como o Brasil. O voto deixa claro, ainda, que o respeito ao espírito e à letra da Consti-tuição de 1988 é o caminho. O relator trouxe à luz o direito inalienável e imprescritível dos índios de viver nas terras que tradicionalmente ocupam e de acordo com suas próprias culturas. Trouxe, também, o valor de sua contribuição na formação da nacionalidade brasileira. O ministro mostrou que a afirmação das culturas dos primeiros enriquece a vida de todos nós. Basta lembrar o quanto sua relação positiva com a natureza tem ajudado na existência da floresta e da megadiversidade brasileira como um todo. Quem convive com eles sabe que os indígenas cooperam com as Forças Armadas para proteger a floresta de usos ilegais e ajudam no monitoramento das fronteiras. Dois pontos, entre vários outros relevantes abordados pelo voto do ministro, merecem destaque por suas implicações para a cultura brasileira. Em primeiro lugar, a distinção entre terra e território, que expressa a maneira sofisticada e inovadora por meio da qual a Constituição de 1988 solucionou juridicamente a relação entre as sociedades indígenas e o ambiente em que vivem. É sabido que a terra não pertence aos índios; antes, são eles que pertencem à terra. Por isso mesmo, a Carta Magna, reconhecendo a anterioridade dessa relação ao regime de propriedade, concedeu-lhes o usufruto das terras que ocupam, atribuiu o pertencimento delas à União e conferiu ao Estado o dever de zelar pela sua integridade. A Constituição de 1988 selou a convivência harmoniosa entre duas culturas, uma que reconhece e outra que não reconhece a apropriação da terra pelos homens. O segundo ponto refere-se à relação entre terra e cultura, que concerne à continuidade do território ou sua fragmentação em ilhas. Quem conhece a questão indígena no Brasil sabe que o rompimento da integridade territorial implica a morte do modo de vida e, portanto, da cultura e do modo de ser do índio. Se, em séculos passados, acreditou- se que os índios eram um arcaísmo, não é mais possível nem tolerável sustentar 59 LÍNGUA PORTUGUESA tal ponto de vista no século 21. Não só porque no mundo todo cresce a convicção da importância dos povos tradicionais para o futuro da humanidade, precisamente em virtude de sua relação específica com a terra e a natureza, mas também porque a sociedade do conhecimento, acelerada construção, não pode prescindir da diversidade cultural para seu próprio desenvolvimento. Na era da globalização, da cibernetização dos conhecimentos, das informações e dos saberes, não faz mais sentido opor o tradicional ao moderno, como se este último fosse melhor e mais avançado que o primeiro. Com efeito, proliferam na cultura contemporânea, de modo cada vez mais intenso, os exemplos de processos, procedimentos e produtos que recombinam o moderno e o tradicional em novas configurações. Se a China e a Índia hoje surgem no cenário internacional de modo surpreendente, é porque sabem articular inovadoramente a cultura ocidental moderna com seus antiqüíssi-mos modos de pensar e agir, demonstrando que o desenvolvimento não se dá mais em termos lineares e que o futuro não se desenha desprezando e recalcando o passado. Por isso, o Brasil - cuja singularidade se caracteriza tanto por sua megadiversidade biológica quanto por sua grande sociodiversidade e rica diversidade cultural -, precisa urgentemente reavaliar esse patrimônio. Temos trabalhado com os povos indígenas no Ministério da Cultura e promovido a diversidade cultural como valor e expressão de uma democracia mais plena, em que cenas como a defesa da advogada indígena Joênia Batista de Carvalho Wapichna se tornem mais que exceções históricas. A soberania não se constrói com fantasmas nem paranóias, mas com a atualização de nossas forças e nossos potenciais. O ministro Ayres Britto tem razão ao sublinhar que não precisamos de outro instrumento jurídico além da Constituição de 1988. (Juca Ferreira e Sérgio Mamberti. Folha de São Paulo, 9 de setembro de 2008) 20. (FGV – Adaptada) ## Assinale a alternativa em que o termo ou a oração não exerça função sintática idêntica à de Quem convive com eles. a) que a terra não pertence aos índios. b) sustentar tal ponto de vista no século 21. c) a convicção da importância dos povos tradicionais para o futuro da humanidade. d) que os índios eram um arcaísmo. e) rompimento da integridade territorial. Resposta: D Comentário: A função a oração destacada no comando da questão é a de sujeito. A única sentença que não desempenha essa função é a da letra “d”, que desempenha a função de objeto do verbo “acreditar” (que está com o sujeito indeterminado). -------------------------- ------------------------ Terra, território e diversidade cultural O voto do ministro Carlos Ayres Britto sobre a reserva Raposa/Serra do Sol eviden- cia a oportunidade de deixarmos para trás os resquícios de uma mentalidade colonial e termos um avanço histórico, rumo a uma política contemporânea que contemple o diálogo produtivo entre as diversas etnias e culturas que compõem um país de dimensões continen-tais como o Brasil. O voto deixa claro, ainda, que o respeito ao espírito e à letra da Constituição de 1988 é o caminho. O relator trouxe à luz o direito inalienável e imprescritível dos índios de viver nas terras que tradicionalmente ocupam e de acordo com suas próprias culturas. Trouxe, também, o valor de sua contribuição na formação da nacionalidade brasileira. 60 LÍNGUA PORTUGUESA O ministro mostrou que a afirmação das culturas dos primeiros enriquece a vida de todos nós. Basta lembrar o quanto sua relação positiva com a natureza tem ajudado na existência da floresta e da megadiversidade brasileira como um todo. Quem convive com eles sabe que os indígenas cooperam com as Forças Armadas para proteger a floresta de usos ilegais e ajudam no monitoramento das fronteiras. Dois pontos, entre vários outros relevantes abordados pelo voto do ministro, merecem destaque por suas implicações para a cultura brasileira. Em primeirolugar, a distinção entre terra e território, que expressa a maneira sofisticada e inovadora por meio da qual a Constituição de 1988 solucionou juridicamente a relação entre as sociedades indígenas e o ambiente em que vivem. É sabido que a terra não pertence aos índios; antes, são eles que pertencem à terra. Por isso mesmo, a Carta Magna, reconhecendo a anterioridade dessa relação ao regime de propriedade, concedeu-lhes o usufruto das terras que ocupam, atribuiu o pertencimento delas à União e conferiu ao Estado o dever de zelar pela sua integridade. A Constituição de 1988 selou a convivência harmoniosa entre duas culturas, uma que reconhece e outra que não reconhece a apropriação da terra pelos homens. O segundo ponto refere-se à relação entre terra e cultura, que concerne à continui- dade do território ou sua fragmentação em ilhas. Quem conhece a questão indígena no Brasil sabe que o rompimento da integridade territorial implica a morte do modo de vida e, portanto, da cultura e do modo de ser do índio. Se, em séculos passados, acreditou-se que os índios eram um arcaísmo, não é mais possível nem tolerável sustentar tal ponto de vista no século 21. Não só porque no mundo todo cresce a convicção da importância dos povos tradicionais para o futuro da humanidade, precisamente em virtude de sua relação específica com a terra e a natureza, mas também porque a sociedade do conhecimento, acelerada construção, não pode prescindir da diversidade cultural para seu próprio desenvolvimento. Na era da globalização, da cibernetização dos conhecimentos, das informações e dos saberes, não faz mais sentido opor o tradicional ao moderno, como se este último fosse melhor e mais avançado que o primeiro. Com efeito, proliferam na cultura contemporânea, de modo cada vez mais intenso, os exemplos de processos, procedimentos e produtos que recombinam o moderno e o tradicional em novas configurações. Se a China e a Índia hoje surgem no cenário internacional de modo surpreendente, é porque sabem articular inovadoramente a cultura ocidental moderna com seus antiqüíssimos modos de pensar e agir, demonstrando que o desenvolvimento não se dá mais em termos lineares e que o futuro não se desenha desprezando e recalcando o passado. Por isso, o Brasil - cuja singularidade se caracteriza tanto por sua megadiversidade biológica quanto por sua grande sociodiversidade e rica diversidade cultural -, precisa urgentemente reavaliar esse patrimônio. Temos trabalhado com os povos indígenas no Ministério da Cultura e promovido a diversidade cultural como valor e expressão de uma democracia mais plena, em que cenas como a defesa da advogada indígena Joênia Batista de Carvalho Wapichna se tornem mais que exceções históricas. A soberania não se constrói com fantasmas nem paranóias, mas com a atualização de nossas forças e nossos potenciais. O ministro Ayres Britto tem razão ao sublinhar que não precisamos de outro instrumento jurídico além da Constituição de 1988. (Juca Ferreira e Sérgio Mamberti. Folha de São Paulo, 9 de setembro de 2008) 61 LÍNGUA PORTUGUESA 21. (FGV - Adaptada) ## No texto, à União exerce a função sintática de: a) adjunto adverbial. b) objeto indireto. c) adjunto adnominal. d) complemento nominal. e) agente da passiva. Resposta: B Comentário: O verbo ao qual se relaciona esse termo é o verbo “atribuir”, que é britransitivo, ou seja, possui duas naturezas de complemento. Nesse caso, fica evidente que se trata de um objeto indireto por duas razões: a presença da preposição proveniente do verbo e o fato de o objeto direto estar evidente (o pertencimento delas). -------------------------- ------------------------ Desafios do crescimento econômico A crise do sistema financeiro internacional, que ameaça lançar o mundo numa profunda recessão, revela a importância do papel do governo no funcionamento da economia em diferentes dimensões, sobretudo na promoção de uma melhor operação dos mercados, da estabilidade e do crescimento econômico. Entretanto, após algumas décadas de excessivo crescimento dos gastos governamentais e da crise financeira que se abateu sobre inúmeros governos, particularmente em países da América Latina, a eficiência da ação pública começou a ser questionada. Novamente vigoravam ideias de que as economias deveriam ser liberalizadas da ação governamental, de que, quanto menos governo, melhor e de que o setor privado por si só resolveria todos os problemas. Na realidade, o que se notou foi uma grande confusão. Em vez de defendermos um governo eficiente, comprometido com o crescimento econômico, acabamos por tentar excluir o governo das funções econômicas, esquecendo seu importante papel. Era muito comum a ideia de que a privatização e a liberalização dos mercados seriam condições eficientes para que os países entrassem numa rota de crescimento econômico. Entretanto, a realidade mostrou que essa bandeira não tem sustentação. A crise fi-nanceira que estamos atravessando - e não sabemos ainda suas reais conseqüências sobre a economia mundial - realça um fato inconteste: faltou a presença do governo, mediante uma regulação mais ativa do mercado financeiro. Recente estudo promovido pela Comissão para o Crescimento Econômico, cujo objetivo primordial é entender o fenômeno do desenvolvimento com base na experiência mais exitosa dos países durante as décadas de 1950 a 1980, transmite informações relevantes para o entendimento do momento que vivemos, ainda que seu objetivo seja totalmente dis-tinto. Em primeiro lugar, não estão em xeque as inegáveis e insubstituíveis virtudes que os mercados possuem quando funcionam de maneira mais livre, sem interferências externas, na alocação dos recursos. Entretanto, não podemos esquecer que as ações tomadas pelos diversos agentes econômicos se baseiam em perspectivas de retornos privados e, portanto, na ânsia de obter tais retornos, mercados como o financeiro podem gerar instabilidades. O papel da regulação, tarefa que deve ser executada por autoridades governamentais, não pode ser esquecido. Por outro lado, apesar da virtude dos mercados, não se pode esquecer que eles não são garantia para a promoção de desenvolvimento econômico ou a melhor distribuição de renda. O relatório da comissão enfatiza o papel do governo no processo de desenvolvimen- 62 LÍNGUA PORTUGUESA to econômico, mostrando inicialmente que o processo de desenvolvimento é um fenômeno complexo e difícil de ser entendido. "Não damos aos formuladores de políticas públicas uma receita ou uma estratégia de crescimento. Isso porque não existe uma única receita a seguir." Mais adiante, afirma: "Não conhecemos as condições suficientes para o crescimen-to. Podemos caracterizar as economias bem- sucedidas do pós-guerra, mas não podemos apontar com segurança os fatores que selaram seu êxito nem os fatores sem os quais elas poderiam ter sido exitosas." Certamente essas frases devem nos deixar algo perplexos, especialmente quando ouvimos as certezas que dominam a maioria dos analistas econômicos espalhados pelo mundo, em especial quando tratam de fornecer fórmulas prontas para o crescimento dos países. A comissão reconhece que a dificuldade do entendimento sobre o fenômeno do crescimento dificulta a ação governamental na definição das estratégias a serem seguidas. A recomendação dada é a de que o governo "não deve ficar inerte, por temor de malograr; os governos devem testar diversos programas e devem ser rápidos em aprender quando dão errado. Se dão um passo errado, devem tentar um plano diferente, e não submergir na ina-ção ou recuar." Outra recomendação dada pela comissão se relaciona com a tentativa de adoção de receitas prontas de outros países: "Os planos de ação ruins de hoje em geral são os bons planos de ontem, mas aplicados por tempo demasiado." Em suma, a comissão defende um governo crível, comprometido como crescimento e eficiente. Um governo forte, capaz de realizar investimentos na área de educação, saúde e infra-estrutura a fim de elevar a rentabilidade dos investimentos privados. É com uma ação eficiente do governo e do setor privado que certamente poderemos promover o desenvolvimento dos países. (Carlos Luque. Folha de São Paulo, 30 de setembro de 2008.) 22. (FGV – Adaptada) ## Assinale a alternativa em que o termo indicado, no texto, não exerça função sintática de sujeito. a) a presença do governo b) os fatores c) ideias d) O papel da regulação e) a ideia Resposta: B Comentário: O termo da letra “a” é sujeito do verbo “faltar”; o termo da letra “b” é objeto do verbo “apontar”; o termo da letra “c” é sujeito do verbo “vigorar”; o ter-mo da letra “d” é sujeito do verbo “esquecer”; e o termo da letra “e” é sujeito do verbo “ser”. -------------------------- ------------------------ Maldades contra Machado Entre os terríveis efeitos da crise econômica global está o de prejudicar as festividades relativas ao centenário da morte de Machado de Assis, ocorrido na segunda- feira 29 de setembro, quando os mercados desabaram no mundo inteiro. Não é a primeira vez, nem a segunda, que Machado de Assis se vê atropelado pelos eventos da economia. A primeira humilhação mais fundamental teve a ver com o patrimônio que deixou para seus herdeiros. Em julho de 1898, temendo por sua saúde, escreveu um testamento, deixando para Carolina, sua esposa, entre outros bens, 7.000 contos em títulos da dívida pública do empréstimo nacional de 1895. Esses títulos entraram 63 LÍNGUA PORTUGUESA em moratória pouco antes da data desse testamento. Em 1906, com a morte de Carolina, Machado escreveu um novo testamento, declarando possuir não mais 7, mas 12 apólices do empréstimo de 1895, ou seja, as sete originais mais títulos novos que recebeu pelos juros e principal não pagos. A moratória perdurou até 1910, quando a nova herdeira, a menina Laura, filha de sua sobrinha, começou a receber juros. Em 1914, uma nova moratória interrompe os pa- gamentos até 1927, e novamente em 1931. Depois de alguns pagamentos em 1934, veio um "calote" completo em 1937. Nos 40 anos entre 1895 e 1935, menos de 18% do empréstimo foi amortizado, e os juros foram pagos apenas em 12 anos. O Estado a que Machado serviu e honrou ao longo de sua vida devastou-lhe a herança, a pecuniária ao menos, com essa sucessão de "calotes". E, a partir de 1943, quando os pagamentos foram retomados, a inflação funcionou como uma crueldade superveniente, pois os títulos não tinham correção monetária. Como se não bastasse a desfeita, ou para tentar uma compensação, em 1987, resolvemos homenagear Machado de Assis em uma cédula de mil cruzados. A cédula foi colocada em circulação em 29 de setembro de 1987, exatos 79 anos da morte do escritor, e nesse dia valia pouco menos de US$ 20. Em 16 de janeiro de 1989, em conseqüência do Plano Verão e da mudança do padrão monetário, Machado recebe um vergonhoso carimbo triangular cortando- lhe três zeros: a cédula agora correspondia a um cruzado novo, que nascia valendo cerca de US$ 1, conforme a cotação oficial. No "paralelo" valia bem menos. Em 31 de outubro de 1990, depois de três anos de militância, a cédula com Machado deixa de circular por valer menos de um centavo de dólar. Só se pode imaginar o que Machado diria disso tudo. (Gustavo Franco. Folha de São Paulo, 4 de outubro de 2008.) 23. (FGV – Adaptada) ## "Em julho de 1898, temendo por sua saúde, escreveu um testamento, deixando para Carolina, sua esposa, entre outros bens, 7.000 contos em títulos da dívida pública do empréstimo nacional de 1895." No período acima, a oração destacada tem valor: a) condicional. b) concessivo. c) causal. d) consecutivo. e) conformativo. Resposta: C Comentário: A sentença possui sentido de causa em relação à sua oração principal. Trata-se de uma oração subordinada adverbial causal reduzida de gerúndio, a qual po-deria ser desenvolvida da seguinte maneira: já que temia por sua saúde. -------------------------- ------------------------ Cidadania e Responsabilidade Social do Contador como agente da conscientização tributária das empresas e da sociedade Entende-se que a arrecadação incidente sobre os diversos setores produtivos é necessária para a manutenção da máquina governamental, para a sustentação do Estado em suas atribuições sociais e para aplicação na melhoria da qualidade de vida da população. É imprescindível que a tributação seja suportável e mais bem distribuída e que contribuam com justiça e se beneficiem dessa contribuição. 64 LÍNGUA PORTUGUESA A conjuntura atual exige maior qualificação em todas as áreas do conhecimento; assim, a profissão contábil deve despertar para a conscientização tributária. Conceitos como parceria e corresponsabilidade no sistema tributário somente podem ser efetivados se a sociedade como um todo estiver mais esclarecida e comprometida. Apresentar alguns fatores como a falta de conscientização tributária e participação cidadã pode representar um alerta, mas não é o suficiente. Ao analisar o progresso da humanidade, percebe-se que o desenvolvimento social e econômico foi possível porque o homem sistematizou formas de organização entre os po-vos. A necessidade de organização fez com que o Estado se tornasse o elemento direcionador desse processo. E, como forma de se autofinanciar, criou o tributo a fim de possibilitar as condições mínimas de sobrevivência para a sociedade civil. E, como partícipe e ponto referencial de controle, exatidão e confiança, surgiu o profissional contábil. O contador - aqui citado na forma masculina sem querer suscitar questões de gênero - não pode mais ser visto como o profissional dos números, e sim um profissional que agrega valor, espírito investigativo, consciência crítica e sensibilidade ética. Se a atual conjuntura exige maior qualificação profissional, o conhecimento contábil deve transcender o processo específico e visualizar questões globais pertinentes ao novo mundo do trabalho, que exige criatividade, perfil de empreender e habilidade de aprender, principalmente nas relações sociais. Sendo assim, alguns conceitos tornam- se essenciais para estabelecer a relação entre Estado, sociedade, empresa e o contador. O Estado tem por missão suprir as necessidades básicas da população; assim, sua eficiência e transparência tornam-se mister do processo. Entre a sociedade, a empresa e o Estado, está o profissional contábil, que, por sua vez, é o elo entre Fisco e contribuinte. É de fundamental importância que esse profissional aprimore seu entendimento tributário, percebendo sua necessidade. Ratifica-se, assim, o conceito de que a conscientização tributária pode representar um ponto de partida para a formação cidadã como uma das formas eficazes de atender às demandas sociais, com maior controle sobre a coisa pública. É dever do Estado manter as necessidades básicas da população; e, para isso, são impostas obrigações. Os contribuintes, porém, não possuem apenas deveres, mas também plenos direitos. Se o Fisco aqui referenciando-se o estadual - é por demais significativo para o funcionamento da máquina administrativa, sua eficiência e transparência tornam-se mister do processo. Nesse sentido, se a evasão tributária é uma doença social, seu combate ou tra-tamento não pode ficar restrito aos seus agentes; é necessário o envolvimento de toda a sociedade. Entretanto, interesses diversos sempre deixaram a sociedade à margem do proces-so, como se ela não precisasse participar de forma efetiva das decisões econômicas e, em contrapartida, contribuir de forma direta e irrestrita para a própria sustentação. (...) (Merlo, Roberto Aurélio; Pertuzatti, Elizandra. Disponível em <www.rep. educacaofiscal.com.br/material/fisco_ contador.pdf>. Com adaptações) 24. (FGV – Adaptada)## Ao analisar o progresso da humanidade, percebe-se que o desenvolvimento social e econômico foi possível porque o homem sis-tematizou formas de organização entre os povos. A oração sublinhada no período acima tem valor a) causal. b) concessivo. 65 LÍNGUA PORTUGUESA c) comparativo. s) temporal. d) consecutivo. Resposta: D Comentário: Quando a banca inquire sobre “valor” de uma oração, quer saber qual seria sua classificação sintático-semântica. Nesse caso, há uma oração subordinada adverbial temporal reduzida de infinitivo, a qual poderia ser desenvolvida da seguinte maneira: Quando se analisa o progresso da humanidade. -------------------------- ------------------------ Cidadania e Responsabilidade Social do Contador como agente da conscientização tributária das empresas e da sociedade Entende-se que a arrecadação incidente sobre os diversos setores produtivos é necessária para a manutenção da máquina governamental, para a sustentação do Estado em suas atribuições sociais e para aplicação na melhoria da qualidade de vida da população.(ª) É imprescindível que a tributação seja suportável (b) e mais bem distribuída e que contribuam com justiça e se beneficiem dessa contribuição. A conjuntura atual exige maior qualificação em todas as áreas do conhecimento; assim, a profissão contábil deve despertar para a conscientização tributária. Conceitos como parceria e corresponsabilidade no sistema tributário somente podem ser efetivados se a sociedade como um todo estiver mais esclarecida e comprometida. Apresentar alguns fatores como a falta de conscientização tributária e participação cidadã pode representar um alerta, mas não é o suficiente. Ao analisar o progresso da humanidade, percebe-se que o desenvolvimento social e econômico foi possível porque o homem sistematizou formas de organização entre os povos. A necessidade de organização fez com que o Estado se tornasse o elemento direcionador desse processo. E, como forma de se autofinanciar, criou o tributo a fim de possibilitar as condições mínimas de sobrevivência para a sociedade civil. E, como partícipe e ponto referencial de controle, exatidão e confiança, surgiu o profissional contábil. O contador - aqui citado na forma masculina sem querer suscitar questões de gênero - não pode mais ser visto como o profissional dos números, e sim um profissional que agrega valor, espírito investigativo, consciência crítica e sensibilidade ética. Se a atual conjuntura exige maior qualificação profissional, o conhecimento contábil deve transcender o processo específico e visualizar questões globais pertinentes ao novo mundo do trabalho, que exige criatividade, perfil de empreender e habilidade de aprender, principalmente nas relações sociais. Sendo assim, alguns conceitos tornam- se essenciais para estabelecer a relação entre Estado, sociedade, empresa e o contador. O Estado tem por missão suprir as necessidades básicas da população; assim, sua eficiência e transparência tornam-se mister do processo. Entre a sociedade, a empresa e o Estado, está o profissional contábil, que, por sua vez, é o elo entre Fisco e contribuinte. É de fundamental importância que esse profissional aprimore seu entendimento tributário(d), percebendo sua necessidade. Ratifica-se, assim, o conceito de que a conscientização tributária pode representar um ponto de partida para a formação cidadã como uma das formas eficazes de atender às demandas sociais, com maior controle sobre a coisa pública. É dever do Estado manter as necessidades básicas da população(c); e, para isso, são impostas obrigações. Os contribuintes, porém, não possuem apenas deveres, mas também plenos direitos. 66 LÍNGUA PORTUGUESA Se o Fisco - aqui referenciando-se o estadual - é por demais significativo para o funcionamento da máquina administrativa, sua eficiência e transparência tornam-se mister do processo. Nesse sentido, se a evasão tributária é uma doença social, seu combate ou tra-tamento não pode ficar restrito aos seus agentes; é necessário o envolvimento de toda a sociedade. Entretanto, interesses diversos sempre deixaram a sociedade à margem do proces-so, como se ela não precisasse participar de forma efetiva das decisões econômicas(e) e, em contrapartida, contribuir de forma direta e irrestrita para a própria sustentação. (...) (Merlo, Roberto Aurélio; Pertuzatti, Elizandra. Disponível em <www.rep. educacaofiscal.com.br/material/fisco_ contador.pdf>. Com adaptações) 25. (FGV – Adaptada) ## Assinale a alternativa em que a oração desempenhe função sintática DISTINTA da de que o desenvolvimento social e econômico foi possível . a) que a arrecadação incidente sobre os diversos setores produtivos é necessária para a manutenção da máquina governamental, para a sustentação do Estado em suas atri- buições sociais e para aplicação na melhoria da qualidade de vida da população b) que a tributação seja suportável c) manter as necessidades básicas da população d) que esse profissional aprimore seu entendimento tributário e) participar de forma efetiva das decisões econômicas Resposta: E Comentário: À exceção da letra “e” todas as orações do exercício são subordinadas subs- tantivas subjetivas (com função de sujeito de suas orações principais). A senten-ça da letra “e” é uma oração subordinada substantiva que funciona como complemento do verbo “precisar”. -------------------------- ------------------------ Os incentivos existem em três tipos de sabores básicos: econômico, social e moral. É muito comum que um único esquema de incentivos inclua as três variedades. Tomemos a campa-nha antitabagista dos últimos anos. O acréscimo da "taxa do pecado" de $ 3 em cada maço é um forte incentivo econômico contra a compra de cigarros. A proibição do fumo em res-taurantes e bares é um poderoso incentivo social. E a afirmação do governo americano de que os terroristas angariam fundos com a venda de cigarros no mercado negro atua como um incentivo moral bastante estridente. LEVITT, Steven D., DUBNER, Stephen J. Freakonomics. O lado oculto e inesperado de tudo que nos afeta. Tradução Regina Lyra. Rio de Janeiro: Elsevier, 2005, p. 23. 26. (FEPESE - Adaptada) ## No período "É muito comum que um único esquema de incentivos inclua as três variedades.", a segunda oração, que está sublinhada, exerce a função de: a) sujeito da oração principal. b) adjunto adnominal de "comum". c) objeto direto da oração principal. d) complemento nominal de "comum". e) predicativo do sujeito da oração principal. Resposta: A Comentário: Analisando sintaticamente, temos: “É” (verbo ser, de ligação), “muito” (adjunto adverbial de intensidade), “comum” (núcleo do predicativo do sujeito). A oração subsequente desepenha função de sujeito 67 LÍNGUA PORTUGUESA do verbo “ser”, pois – ao in-quirir sobre aquilo que é muito comum – a resposta será: que um único esque-ma de incentivos inclua as três variedades. A questão baseia-se na história em quadrinhos de Hagar. 01. (VUNESP - Adaptada) ##A frase de Hagar, no segundo quadrinho, deve-se iniciar com a) Por quê sinto-me. b) Por quê o sinto. c) Porque me sinto. d) Porquê sinto. e) Por que me sinto. Resposta: E Comentário: como se trata de uma sentença interrogativa, deve-se empregar a locução adverbial interrogativa "Por que" para iniciar o questionamento. Além disso, convém lembrar que, de acordo com as regras de próclise, o pronome "me" deve ser empregado antes do verbo, em razão da atração do termo adverbial. -------------------------- ------------------------ Da solidão Há muitas pessoas que sofrem do mal da solidão. Basta que em redor delas se arme o silêncio, que não se manifeste aos seus olhos nenhuma presença humana, para que delas se apodere imensa angústia: como se o peso do céu desabasse sobre a sua cabeça, como se dos horizontes se levantasse o anúncio do fim do mundo. No entanto, haverána terra verdadeira solidão? Tudo é vivo e tudo fala, em redor de nós, embora com vida e voz que não são humanas, mas que podemos aprender a escutar, porque muitas vezes essa lingua- gem secreta ajuda a esclarecer o nosso próprio mistério. Pintores e fotógrafos andam em volta dos objetos à procura de ângulos, jogos de luz, eloquência de formas, para revelarem aquilo que lhes parece não o mais estático dos seus aspectos, mas o mais comunicá- vel, o mais rico de sugestões, o mais capaz de transmitir aquilo que excede os limites físicos desses objetos, constituindo, de certo modo, seu espírito e sua alma. Façamo-nos também desse modo videntes: olhemos devagar para a cor das paredes, o desenho das cadeiras, a transparência das vidraças, os dóceis panos tecidos sem maiores pretensões. Não procuremos neles a beleza que arrebata logo o olhar: muitas vezes seu aspecto – como o das criaturas humanas – é inábil e desajeitado. Amemos nessas humildes coisas a carga de experiências que representam, a repercussão, nelas sensível, de tanto trabalho e história humana. Concentradas em sua essência, só se revelam quando nossos sentidos estão aptos para as desco- brirem. Em silêncio, nos oferecerão sua múltipla companhia, generosa e quase invisível. (Adaptado de Cecília Meireles, Escolha o seu sonho) Solidão? Muitos de nós tememos a solidão, julgamos invencível a solidão, atribuímos à solidão os mais terríveis contornos, mas nunca estamos absolutamente sós no mundo. COLOCAÇÃO PRONOMINAL E EMPREGO DOS PRONOMES 68 LÍNGUA PORTUGUESA 02. (FCC - Adaptada) ##Evitam-se as viciosas repetições da frase acima substituindo- se os elementos sublinhados, na ordem dada, por: a) lhe tememos - a julgamos invencível - a atribuímos b) tememo-la - julgamo-la invencível - atribuímo-la c) tememos a ela - lhe julgamos invencível - lhe atribuímos d) a tememos - julgamo-la invencível - atribuímos-lhe e) a tememos - julgamos invencível a ela - lhe atribuímos Resposta: D Comentário: Como a questão envolve o emprego dos pronomes oblíquos, no primeiro caso, a colocação é facultativa (próclise ou ênclise) em razão de haver sujeito expresso - nós - próximo ao verbo; no segundo caso, opta-se pela ênclise, pois não se pode iniciar sentença em Língua Portuguesa com pronome oblíquo átono; no terceiro caso, a situação é semelhante à anterior: início de sentença. Além disso, é necessário observar as formas pronominais que foram empregadas no texto - as duas primeiras ("a" e "la") são formas diretas, ou seja, são empregadas em lugar de termos que não estão preposicionados; a última forma "lhe" é uma forma pronominal que é empregada para substituir termos preposicionados. -------------------------- ------------------------ Se nunca foi fácil traçar a linha divisória entre arte erudita e arte popular, agora é mais difícil levar a cabo essa tarefa ociosa. Indiferente à palha seca da controvérsia, a arte segue o seu caminho. A vertente é uma só e é nela que se dá o encontro das águas. Pouco importam as fontes de onde procedem. Purificadoras e purificadas, seu caráter lustral as universaliza. Caetano Veloso, por exemplo. Quem ousaria classificá-lo? Em princípio, a arte deveria permanecer ao relento. Maldito, o poeta não era aceito. Na escala de valores, popular, mais que um adjetivo, era um estigma. Daí o escândalo do sarau de d. Nair de Tefé. Primei-ra-dama, ela própria artista, afrontou a conspícua Velha República. Em pleno palácio do Catete, ouviu- se por sua iniciativa o "Cor-ta-jaca", de Chiquinha Gonzaga. Delirante sucesso na rua, a música era aplaudida em cena aberta e assobiada em botequins. Viajou a Portugal e lá arrebatou a plateia. Mas no Catete só podia ser insânia. A maturidade de Caetano Veloso coincide com o amadurecimento cultural que lhe proporciona o reconhecimento nacional. Caducas as classificações, sua arte aniquila toda e qualquer discriminação. Exaltada aqui dentro, repercute lá fora. A música lhe dá dimensão internacional. O que ele é, porém, é universal. A poesia de fato nunca esteve divorciada da expressão popular. Manuel Bandeira tirava o chapéu, respeitoso, para Si-nhô, Pixinguinha, Noel. Dos poetas, foi dos mais musicais, Manuel. E musicado. Arranhava o seu violão. Saiu extasiado da casa em que ouviu João Gilberto e sua recente batida bossa-novista. Fui testemunha ocular e auditiva. Tudo isso vem a propósito da fusão que Caetano Veloso hoje encarna. Metabolizada, a grande arte canta nesse legítimo poeta do Brasil. (Adaptado de Otto Lara Resende. "Poeta do encontro". Bom dia para nascer. São Paulo, Cia. das Letras, 2011, p. 281-282) 03. (FCC - Adaptada) ##A substituição do termo destacado por um pronome, com as ne-cessárias alterações, foi efetuada de modo correto em: a) traçar a linha divisória = traçar-lhe b) arrebatou a plateia = lhe arrebatou c) levar a cabo essa tarefa ociosa = levá-la a cabo 69 LÍNGUA PORTUGUESA d) segue o seu caminho = segue-no e) Arranhava o seu violão = lhe arranhava Resposta: C Comentário: na alternativa "a", o erro está em empregar o termo "lhe", pois é uma forma "indireta" ou seja, pressupõe que seu referente (o termo que ele substitui) seja preposicionado; na alternativa "b", o erro é o mesmo; na alternativa "c", há correção gramatical, visto que se trata da forma direta (sem preposição) correta para a situação. Além disso, a forma "la" foi empregada, em vista de o verbo terminar em "r". Na alternativa "d", o erro está na forma como se empregou o pronome "o": não há razão para colocar a letra "n", pois não há som nasal na terminação do verbo; na alternativa "e", o erro está no emprego da forma indireta "lhe", quando o correto seria a forma direta "o". -------------------------- ------------------------ Lei de Responsabilidade Fiscal, correlação entre metas e riscos fiscais e o impacto dos déficits públicos para as gerações futuras É certo que o advento da Lei Complementar nº 101, de 4 de maio de 2000, representou um avanço significativo nas relações entre o Estado fiscal e o cidadão. Mais que isso, ao enfatizar a necessidade da accountability, atribuiu caráter de essencialidade à gestão das finanças públicas na conduta racional do Estado moderno, reforçando a idéia de uma ética do interesse público, voltada para o regramento fiscal como meio para o melhor desempenho das funções constitucionais do Estado. (...) Percebe-se que os dois temas [a correlação entre metas e riscos fiscais e o impacto dos déficits públicos sobre as futuras gerações] se vinculam à função prospectiva da noção de responsabilidade fiscal. Enquanto o primeiro, normalmente, se adstringe a situações futuras próximas, o segundo vincula-se a situações futuras a longo prazo. Portanto, além de a responsabilidade fiscal cumprir o papel de proporcionar recursos de imediato a fim de que o Estado realize as funções a que constitucionalmente está vinculado, busca controlar a situação orçamentária a fim de não comprometer nem o futuro imediato, muito menos o futuro mais distante. (...) O estudo das relações entre déficits fiscais e seus efeitos nas gerações futuras, ao menos na economia, não é novo. Economistas clássicos e contemporâneos - dentre eles David Ricardo, Martin Feldstein, James Buchanan e Keynes - trataram do assunto sob perspectivas diferentes. A reflexão jurídica sobre o assunto, contudo, não se tem mos-trado tão farta quanto aquela encontrada na economia. Isso se deve, talvez, à associação feita ao tema dos efeitos na utilização de recursos entre gerações especificamente no campo ambiental - fortalecida, principalmente, após a década de 70, quando o movimento ambientalista passou a formular um discurso jurídico mais sólido, angariando adeptos das mais variadas formações, em diversas partes do planeta. Não pode, no entanto, a noção jurídica de efeitos entre gerações se restringir à temática ambientalista.Obviamente, ela possui contornos bem definidos naquela área, uma vez que a própria ética ambientalista se funda na distribuição de recursos entre gerações, alicerce para a sobrevivência da própria humanidade. Mas a alocação de recursos públicos através do equilíbrio orçamentário também se mostra indispensável para que as gerações futuras não sejam privadas de políticas públicas propostas para serem minimamente efetivas, por falta de disponibilização orçamentária suficiente. 70 LÍNGUA PORTUGUESA Isso leva a crer que um dos objetivos da idéia de responsabilidade fiscal é preservar a capacidade de financiamento de políticas públicas para as futuras gerações. Do mesmo modo que a ética ambientalista tem enfatizado que os recursos ambientais não são inesgotáveis, colocando-se a possibilidade de as gerações presentes virem a exauri-los, privando as futuras gerações da própria existência, não é menos razoável pensar que os recursos públicos, também exauríveis, podem vir a comprometer o desenvolvimento humano e a existência de grupos menos favorecidos, carentes da ação estatal que vise a minorar as desigualdades. Percebe-se que os gastos públicos normalmente beneficiam muito mais as gerações atuais que as gerações futuras. Entre outros fatores, isso se deve ao fato de que as decisões políticas tendem a visualizar um período estreito de tempo a fim de se concretizarem. Natural - mas não ideal - que assim seja. Tomadores de decisões políticas frequentemente ficam adstritos ao período de seus mandatos, uma vez que percebem que os efeitos de suas decisões são sentidos mais a curto que a longo prazo. Acrescente- se a isso o fato de que muitos eleitores ignoram completamente a complexidade das decisões, não percebendo ou relevando o limitado escopo de tais decisões, não se prolongando no tempo e beneficiando, primordialmente, as gerações atuais. Pode-se argumentar, a contrário, com três situações. A primeira delas é de que não se pode estabelecer uma relação tão rígida no sentido de que déficits públicos terão o efeito prolongado a ser sentido pelas gerações futuras. Um exemplo disso seria o famoso "erro de Malthus". Ao afirmar que a produção de alimentos cresce em progressão aritmética, enquanto o aumento da população se dá em progressão geométrica, Malthus não levou em consideração a evolução tecnológica como transformadora da capacidade de produção de alimentos, pressupondo mesmo uma sociedade estanque. Nesse sentido, seria possível afirmar que poderiam surgir novas formas de alocação de recursos que eliminariam os déficits, não necessariamente impondo ônus adicionais às gerações futuras. Esse raciocínio baseia-se, contudo, numa falsa comparação. Primeiramente, porque a alocação de novos recursos nada tem a ver, em princípio, com o impacto tecnológico. O avanço deste não acarreta necessariamente impacto positivo daquela. Um segundo fator diz respeito ao argumento de que a existência de déficits públicos pode promover o desenvolvimento nacional, o que a experiência brasileira não parece confirmar. O terceiro argumento contra a ideia de que déficits imporiam ônus às gerações futuras é o de que não se sabe qual será a postura das futuras gerações quanto aos bens materiais. Uma vez que uma postura antimaterialista, já existente na contemporaneidade, pode se disseminar para uma grande parte da população dentro de um Estado, pode-se facilmente defender que futuras gerações se preocuparão pouco com a alocação de recursos públicos e sua utilização através de políticas públicas, importando-se mais com, v.g., valores espirituais, em detrimento dos valores materiais. A fraqueza dessa tese está no fato de ser ela, meramente, uma suposição. Destarte, não há nenhum dado seguro para afirmar que determinadas gerações futuras serão antimaterialistas ou que se importarão pouco com alocação de recursos destinados à promoção de políticas públicas. Esquecer-se das gerações futuras, tendo em vista a possibilidade de estas se tornarem antimaterialistas, é um exercício de mera futurologia, exercício irresponsável, 71 LÍNGUA PORTUGUESA instituidor de compromissos que poderão ou não ser honrados pelas gerações futuras. Portanto, a necessidade de as gerações atuais preservarem recursos para as gerações futuras também se dá no que tange aos recursos públicos. A Lei de Responsabilidade Fiscal, ao impor o regramento das contas públicas, racionalizando-as, compromete- se com esse objetivo, ao propugnar que o controle orçamentário repercutirá a curto prazo - incidindo sobre as gerações atuais - e a longo prazo - resguardando a viabilidade fiscal do Estado para as gerações futuras. (...) A função da responsabilidade fiscal, como já dito, é de mero meio. É o conceito instrumento essencial para a atuação do Estado moderno. Não mais se concebe uma atuação estatal efetiva sem uma apu- rada reflexão sobre os gastos públicos, seus limites e sua aplicação. As alternativas atuais para a construção de uma economia sólida e menos suscetível passam necessariamente pelo controle de gastos públicos. Alguns países desenvolvidos, tendo em vista essa perspectiva, buscaram limitar gastos e muitas vezes editaram leis para esse fim. É impossível, na atualidade, visualizar qualquer Estado que se proponha ao desenvolvimento sem um minucioso projeto de controle de gastos públicos. Imprescindível é, pois, que toda a reflexão sobre a necessidade de um conceito de responsabilidade fiscal não seja perdida da vista dos administradores públicos, assim como dos cidadãos. Somente assim, com a atuação de todos os atores sociais, poder- se-á buscar o controle de gastos públicos, visando a fomentar um crescimento econômico sustentado e garantidor, principalmente, dos direitos e garantias fundamentais dispostos na Constituição Federal de 1988. (Gilmar Ferreira Mendes, com adaptações. Disponível em: <http://www.mt.tr f1.gov.br/ judice/jud7/impacto.htm>) 04. (FGV - Adaptada) ## Em "exauri-los" e "poder-se-á", construiu-se corretamente a junção do pronome à forma verbal. Assinale a alternativa em que isso não ocorreu. a) cancelaríamos + as = cancelá-las-íamos b) permitireis + os = permiti-los-eis c) fizestes + lhes = fizeste-lhes d) encontraram + os = encontraram-nos e) aprenderás.+ as = aprendê-las-ás Resposta: C Comentário: a retirada do "s" na alternativa "c" modifica a pessoa em que foi conjugado o verbo da segunda do plural (vós) para a segunda do singular (tu). -------------------------- ------------------------ Para que a intervenção governamental se justifique é preciso, primeiro, que se prove a existência de uma distorção que faça com que o mercado não aloque eficientemente os recursos. Segundo, que se pondere as alternativas para corrigir aquela distorção à luz de seus custos e benefícios. Pode-se concluir pela adoção de medidas corretivas, e de que tipo devem ser, somente após esta análise. Dada a realidade brasileira, é provável que essas tendam a ser muito mais relativas à natureza da política econômica do que da política industrial. Esta última ainda precisa ser muito melhor embasada. (Adaptado de Cláudio Haddad) 05. (ESAF - Adaptada) ## Quanto à norma culta, em relação aos termos grifados, assinale a opção correta. a) Todas as ocorrências de "se" admitem mudança de colocação. b) Em "se justifique", a próclise do "se" está em desacordo com a norma culta. c) Em "se prove", a norma culta admite a ênclise do "se". 72 LÍNGUA PORTUGUESA d) Em "se pondere", a próclise do "se" é facultativa. e) Em "Pode-se", a ênclise do "se" justifica- se por ser início de oração. Resposta: E Comentário: a alternativa "a" está incorreta, porque apenas o primeiro item possui colocação facultativa, em vista de haver sujeito expresso próximo ao verbo. Nas demais ocorrências, identifica-se próclise obrigatória (por atração da conjunção subordinativa integrante "que") e êncliseobrigatória (para o caso de início de sentença - no último elemento). O motivo da ênclise pelo início de sentença é o que garante a alternativa "e" como resposta correta. -------------------------- ------------------------ Na verdade, o que hoje definimos como democracia só foi possível em sociedades de tipo capitalista, mas não necessariamente de mercado. De modo geral, a democratização das sociedades impõe limites ao mercado, assim como desigualdades sociais em geral não contribuem para a fixação de uma tradição democrática. Penso que temos de refletir um pouco a respeito do que significa democracia. Para mim, não se trata de um regime com características fixas, mas de um processo que, apesar de constituir formas institucionais, não se esgota nelas. É tempo de voltar ao filósofo Espinosa e imaginar a democracia como uma potencialidade do social, que, se de um lado exige a criação de formas e de configurações legais e institucionais, por outro não permite parar. A democratização no século XX não se limitou à extensão de direitos políticos e civis. O tema da igualdade atravessou, com maior ou menor força, as chamadas socieda- des ocidentais. Renato Lessa. Democracia em debate. In: Revista Cult, n.º 137, ano 12, jul./2009, p. 57 (com adaptações). 06. (CESPE - Adaptada) ## Pela acepção usada no texto, o emprego da forma verbal pronominal "se limitou" exige a presença da preposição a no complemento verbal; a substituição pela forma não-pronominal - não limitou a extensão -, sem uso da preposição, preservaria a correção gramatical, mas mudaria o efeito da ideia de "demo-cratização". Resposta: Certo Comentário: O fato de deixar de empregar o pronome gera uma mudança de sentido. Em não se limitou a, há uma ideia reflexiva, o que não ocorre com a forma "não limitou a", que apresenta uma ação sobre o termo "a extensão", que passaria à função de objeto direto do verbo limitar. -------------------------- ------------------------ A visão do sujeito indivíduo - indivisível - pressupõe um caráter singular, único, racional e pensante em cada um de nós. Mas não há como pensar que existimos previamente a nossas relações sociais: nós nos fazemos em teias e tensões relacionais que conformarão nossas capacidades, de acordo com a sociedade em que vivemos. A sociologia trabalha com a concepção dessa relação entre o que é "meu" e o que é "nosso". A pergunta que propõe é: como nos fazemos e nos refazemos em nossas relações com as instituições e nas relações que estabelecemos com os outros? Não há, assim, uma visão de homem como uma unidade fechada em si mesma, como Homo clausus. Estaríamos envolvidos, constante-mente, em tramas complexas de internalização do "exterior" e, também, de rejeição ou negociação próprias e singulares do "exterior". As experiências que o homem vai adquirindo na relação com os outros são as que determinarão as suas aptidões, os seus gostos, as suas formas de agir. Flávia Schilling. Perspectivas sociológicas. Educação & psicologia. In: Revista Educação, vol. 1, p. 47 (com adaptações). 73 LÍNGUA PORTUGUESA 07. (CESPE – Adaptada) ## Na linha 2, para se evitar a sequência "nós nos", o pronome átono poderia ser colocado depois da forma verbal "fazemos", sem que a correção gramatical do trecho fosse prejudicada, prescindindo-se de outras alterações gráficas. Resposta: Errado Comentário: Caso se procedesse tal modificação, haveria uma problema de correção gramatical. Como a forma verbal terminou com a letra "s", e haverá ênclise do pronome átono, é preciso retirar a letra em questão, o que resultaria a forma "fazemo- nos". 08. (FCC – Adaptada) ##O único segmento grifado que NÃO está empregado em confor- midade com o padrão culto escrito é: a) Não é muito agradável estar com aqueles meus primos, porque eles falam ininter- ruptamente de si. b) Esse é o tipo de questão que você terá de resolver com nós mesmos. c) A fim de não encontrá-lo no consultório, deixei para ir no dia seguinte. d) Ele preencheu o formulário de modo inadequado, é onde o coordenador chamou sua atenção. e) Cabelos cacheados e sedosos moldam- lhe o rosto afilado e claro. Resposta: D Comentário: Na alternativa "a", o pronome foi corretamente empregado, pois sucede uma preposição essencial. Na alternativa "b", a forma oblíqua está correta, pois está sucedida da palavra "mesmos". Na alternativa "c", o verbo está no infinitivo e está antecedido da palavra "não", o que justifica a colocação pronominal facultativa. Na alternativa "d", houve incorreção do emprego do pronome, em vista de o termo "onde" só poder ser empregado para fazer menção a lugar e, na sentença em questão, faz referência ao modo como foi preenchido o formulário. Na alternativa "e", o pronome "átono" serve de adjunto adnominal do substantivo "rosto", a forma "lhe" foi corretamente empregada, por se tratar de uma forma indireta, o correspondente a "dele" ou "dela". -------------------------- ------------------------ Rousseau defendia que o que, de fato, distingue os animais do ser humano é algo que ele denominou perfectibilidade. O nome é um neologismo um tanto inusitado, mas seu significado é por ele esclarecido: a perfectibilidade é a capacidade que o homem tem de aperfeiçoar-se. Atualizando um pouco a distinção, poder-se-ia dizer que é como se os animais viessem com um software instalado, de fábrica, o qual os condiciona e limita durante toda a existência. Já os humanos seriam, nesse sentido, ilimitados, porque são seres que se aperfeiçoam, desenvolvem cultura, fazem história. Enquanto um pombo morreria de fome diante de um pedaço de carne, ou um felino, frente a um punhado de grãos, pois são programados por natureza a alimentar- se diversamente, o homem é um ser que supera determinações naturais. Não sendo condicionado por natureza, o homem é capaz de vivenciar novas experiências, de inventar ar-tefatos que lhe possibilitem, por exemplo, voar ou explorar o mundo subaquático, quando não foi dotado por natureza para voar e permanecer sob a água. Diante disso, Rousseau defende que o homem é o único animal a possuir liberdade, porque ele pode fazer escolhas que vão contra seus instintos ou determinações naturais. Lília Pinheiro. Homem, o ser tecnológico. In: Filosofia, Ciência&Vida. Ano III, n.º 27, p. 27-8 (com adaptações). 74 LÍNGUA PORTUGUESA 09. (CESPE – Adaptada) ## A substituição de "poder-se-ia dizer" pela forma menos for- mal poderia se dizer preservaria a correção gramatical do texto, desde que fosse respeitada a obrigatoriedade de não se usar hífen, para se reconhecer que o pronome se está antes do verbo dizer, e não depois do verbo poderia. Resposta: Certo Comentário: A regra em questão está relacionada ao fenômeno de próclise para com o verbo "dizer", ou seja, há duas regras envolvidas nesse processo: como se trata de uma locução verbal em que o verbo princi- pal (poderia) está conjugado no futuro do pretérito do indicativo, a indicação inicial é a de que haja uma mesóclise. Como o verbo dizer está empregado no infinitivo e compõe a locução como verbo principal, é aceitável uma próclise também. Cabe ressaltar ainda que a questão faz referência a um hífen que não poderia ser empregado. De fato, não se pode empregar tal recurso, pois formaria uma ênclise em relação ao verbo auxiliar, o que não seria possível em razão da conjugação do verbo. -------------------------- ------------------------ No Brasil, a tradição política no tocante à representação gira em torno de três ideias fundamentais. A primeira é a do mandato livre e independente, isto é, os representantes, ao serem eleitos, não têm nenhuma obrigação, necessariamente, para com as reivindicações e os interesses de seus eleitores. O representante deve exercer seu papel com base no exercício autônomo de sua atividade, na medida em que é ele quem tem a capacidade de discernimento para deliberarsobre os verdadeiros interesses dos seus constituintes. A segunda ideia é a de que os representantes devem exprimir interesses gerais, e não interesses locais ou regionais. Os interesses nacionais seriam os únicos e legítimos a serem representados. A terceira ideia refere-se ao princípio de que o sistema democrático representati- vo deve basear-se no governo da maioria. Praticamente todas as leis eleitorais que vigoraram no Brasil buscaram a formação de maiorias compactas que pudessem governar. Gilberto Bercovici. A origem do sistema eleitoral proporcional no Brasil. In: Estudos Eleitorais, TSE, vol. 5, n.º 2, 2010, p. 53. Internet: <www.tse.gov.br> (com adaptações) . 10. (CESPE- Adaptada) ## Em "deve basear- se", a colocação do pronome "se" antes da forma verbal "deve" atenderia à prescrição gramatical. Resposta: Certo Comentário: Na sentença, há uma locução verbal cujo sujeito está expresso. Isso permite uma série de posições para o pronome oblíquo átono, inclusive a próclise em relação ao verbo auxiliar, o que resultaria em "se deve basear". -------------------------- ------------------------ Um cenário polêmico é embasado no desencadeamento de um estrondo- so processo de exclusão, diretamente proporcional ao avanço tecnológico, cuja projeção futura indica que a automação do trabalho exigirá cada vez menos trabalhadores implicados tanto na produção propriamente dita quanto no controle da produção. Baseando-se unicamente nessa perspectiva, pode-se supor que a sociedade tecnológica seria caracterizada por um contexto no qual o trabalho passaria a ser uma necessidade exclusiva da classe trabalhadora. O capital, podendo optar por um investimento de porte em automação, em informática e em tecnologia de ponta, cada vez mais barata e acessível, não mais teria seu funcionamento embasado exclusivamente na exploração dos trabalhadores, cada vez mais exigentes quanto ao valor de sua força de trabalho. Embora não se possa falar de 75 LÍNGUA PORTUGUESA supressão do trabalho assalariado, a verdade é que a posição do trabalhador se enfraquece, tendo em vista que o trabalho humano tende a tornar-se cada vez menos necessário para o funciona-mento do sistema produtivo. Gilberto Lacerda Santos. Formação para o trabalho e alfabetização informática. In: Linhas Crí-ticas, v. 6, n.º 11, jul/dez, 2000 (com adaptações). 11. (CESPE – Adaptada) ## Mantém- se a noção de voz passiva, assim como a correção gramatical, ao se substituir "seria caracterizada" por caracterizaria-se. Resposta: Errado Comentário: A noção de voz passiva seria mantida, porém haveria um problema para a correção gramatical: o verbo conjugado no futuro do pretérito do indicativo exige que o pronome átono seja empregado no caso de mesóclise. Isso quer dizer que a forma correta deveria ser "caracterizar-se-ia". -------------------------- ------------------------ A recuperação econômica dos países desenvolvidos começou perigosamente a perder fôlego. A reação dos indicadores de atividade na zona do euro, que já não eram robustos ou mesmo convincentes, é agora algo semelhante à paralisia. Os Estados Unidos da América cresceram a uma taxa superior a 3% em 12 meses, mas a maioria dos analistas aposta que a economia americana perderá força no segundo semestre. O corte de 125 mil empregos em junho indica que a esperança de gradual retomada do crescimento do mercado de trabalho no curto prazo era prematura e não deverá se concretizar. As razões para esse estancamento encontram- se no comportamento do polo dinâmico da economia mundial, os países emergentes, cujo desenvolvimento econômico começou a desacelerar − ainda que a partir de taxas exuberantes de expansão. Valor Econômico, Editorial, 6/7/2010 (com adaptações). 12. (CESPE – Adaptada) ## O deslocamento do pronome "se" para imediatamente após a forma verbal "concretizar" − não deverá concretizar-se − não prejudicaria a correção gramatical do texto. Resposta: Certo Comentário: Não há prejuízo para a correção gramatical, pois, no caso em questão, seria formada a ênclise do pronome oblíquo átono em relação a uma forma de infinitivo impessoal, fato que respeita a regra de colocação pronominal. -------------------------- ------------------------ WikiLeaks contra o Império A diplomacia americana levará tempo para se recuperar da pancada que levou da WikiLeaks. Tudo indica que 250 mil documentos secretos foram copiados por um jovem soldado em um CD enquanto fingia ouvir Lady Gaga. Um vexame para um país que gasta US$ 75 bilhões anuais com sistema de segurança que agrupa repartições e emprega mais de 1 milhão de pessoas, das quais 854 mil têm acesso a informações sigilosas. A WikiLeaks não obteve documentos que circulam nas camadas mais secretas da máquina, mas produziu aquilo que o historiador e jornalista Timothy Garton Ash considerou "sonho dos pesquisadores, pesadelo para os diplomatas". As mensagens mostram que mesmo coisas conhecidas têm aspectos escandalosos. A conexão corrupta e narcotraficante do governo do Afeganistão já é antiga, mas ninguém imaginaria que o presidente Karzai chegasse a Washington com um assessor carregando US$ 52 milhões na bagagem. A falta de modos dos homens da Casa de Windsor é proverbial, mas o príncipe 76 LÍNGUA PORTUGUESA Edward dizendo bobagens para estranhos no Quirguistão incomodou a embaixadora americana. O trabalho da WikiLeaks teve virtudes. Expôs a dimensão do perigo representado pelos estoques de urânio enriquecido nas mãos de governos e governantes instáveis. Se aos 68 anos o líbio Muammar Gaddafi faz- se escoltar por uma "voluptuosa" ucraniana, parabéns. O perigo está na quantidade de material nuclear que ele guarda consigo. Os telegramas relacionados com o Brasil revelaram a boa qualidade dos relatórios dos diplomatas americanos. O embaixador Clifford Sobel narrou a inconfidência do ministro Nelson Jobim a respeito de um tumor na cabeça do presidente boliviano Evo Morales. Seu papel era comunicar. O de Jobim era não contar. A vergonha americana pede que se relembre o trabalho de 10 mil ingleses, entre eles alguns dos maiores matemáticos do século, que trabalharam em Bletchley Park durante a Segunda Guerra, quebrando os códigos alemães. O serviço dessa turma influenciou a ocasião do desembarque na Normandia e permitiu o êxito dos soviéticos na batalha de Kursk. Terminada a guerra, Winston Churchill mandou apagar todos os vestígios da operação, mantendo o episódio sob um manto de segredo. Ele só foi quebrado, oficialmente, nos anos 70. Com a palavra Catherine Caughey, que tinha 20 anos quando trabalhou em Bletchley Park: "Minha grande tristeza foi ver que meu amado marido morreu em 1975 sem saber o que eu fiz durante a guerra". Alan Turing, um dos matemáticos do parque, matou-se em 1954. Mesmo condenado pela Justiça por conta de sua ho-mossexualidade, nunca falou do caso. (Ele comeu uma maçã envenena-da. Conta a lenda que, em sua homenagem, esse é o símbolo da Apple.) (Elio Gaspari, WikiLeaks contra o Império. Folha de S.Paulo. Adaptado) 13. (VUNESP – Adaptada) ## Assinale a alternativa cujo emprego do pronome está em conformidade com a norma padrão da língua. a) Não autorizam-nos a ler os comentários sigilosos. b) Nos falaram que a diplomacia americana está abalada. c) Ninguém o informou sobre o caso WikiLeaks. d) Conformado, se rendeu às punições. e) Todos querem que combata-se a corrupção. Resposta: C Comentário: Na alternativa "a", o erro está em formar a ênclise pronominal em uma sentença na qual há uma palavra negativa (que é atrativa para o pronome oblíquo), o correto seria "Não nos autorizam". Na al-ternativa "b", o erro está em iniciar a sentença com pronome oblíquo átono, o que não se deve fazer, segundo as regras de colocação pronominal. Na letra "c", não há erro, pois o pronome oblíquo está próximo à ao pronome indefinido, que é uma palavraatrativa. Na letra "d", há forma oblíqua (se) está iniciando a sentença (note a vírgula que a antecede). Na alternativa "e", o pronome oblíquo deveria estar próximo à conjunção subordinativa integrante "que". -------------------------- ------------------------ O sêmen em busca de uma ética O moço israelense está morto. Todavia, ele ainda pode gerar uma vida. Seus pais estão de posse de seu sêmen e querem a autorização da justiça de Israel para terem um neto. A Ciência permite, mas a lei não endossa. A notícia está na Folha de S.Paulo de 10.02.11. ( ... ) As leis de Israel, segundo uma boa 77 LÍNGUA PORTUGUESA parte dos seus juízes, dizem que a in- seminação não poderá ser efetuada. Não há qualquer documento que o morto tenha deixado escrito dizendo que gostaria de ter um filho após sua morte e com uma mulher escolhida pelos pais. Mas os pais argumentam que, se o filho era um doador de órgãos, por qual razão o que é expelido por um órgão do seu corpo também não poderia ser utilizado em favor da vida? Com efeito, nem todos os juízes pendem para o mesmo lado. Assim, eis que os magistrados não poderão ficar somente com o código nas mãos. ( ... ) O que os magistrados enfrentarão será um problema típico de filosofia prática, ou seja, de ética. Eles estarão enredados na decisão sobre se o ethos* do povo, os costumes e hábitos, pedem ou não para que a lei mude. *ethos: conjunto dos costumes e hábitos fundamentais, no âmbito do comportamento (instituições, afazeres etc.) e da cultura (valores, ideias ou crenças), característicos de uma determi-nada coletividade, época ou região. (Filosofia: Conhecimento Prático, n.o 29, 2011. Adaptado) 14. (VUNESP – Adaptada) ## Considere as informações textuais e as versões da frase: A Ciência permite, mas a lei não endossa. I. A Ciência permite a inseminação, mas a lei não a endossa. II. A Ciência permite que seja feita a inseminação, mas a lei não endossa-a. III. A Ciência permite que se realize a inseminação, mas a lei não lhe endossa. De acordo com a norma padrão, está correto apenas o contido em: a) I. b) II. c) III. d) I e II. e) I e III. Resposta: A Comentário: A opção I está correta, porque o advérbio "não" é uma palavra que atrai o pronome oblíquo átono para perto de si, ou seja, gera próclise. A opção II está incorreta, pois o pronome foi empregado encliticamente em um caso de próclise obrigatória. A opção III está incorreta, porque a forma pronominal foi mal empregada: o complemento do verbo endossar deve ser direto, e a forma empregada é uma forma indireta (lhe). -------------------------- ------------------------ Lição de bom senso O Ministério da Educação (MEC) contornou com habilidade e bom senso a polêmica gerada em torno do veto, pelo Conselho Nacional de Educação (CNE), de um livro do escritor Monteiro Lobato, sob o pretexto de que contém expressões racistas. A alternativa encontrada pelo ministro foi a de acrescentar um esclarecimento de que, em 1933, quando a obra foi publicada pela primeira vez, o país tinha hábitos diferentes e algumas expressões não eram consideradas ofensivas, como ocorre hoje. É importante que esse tipo de decisão sirva de parâmetro para situações semelhantes, em contraposição a tentações apressadas de recorrer à censura. O caso mais recente de tentativas de restringir a livre circulação de ideias envolve a obra Caçadas de Pedrinho, na qual a turma do Sítio do Pica-Pau Amarelo sai em busca de uma onça-pintada. Ocorre que, ao longo de quase oito décadas de carreira do livro, o Brasil não conseguiu se livrar de excessos na vigilância do politicamente correto, nem de intolerâncias como o racismo. Ainda assim, já não convive hoje com hábitos como o 78 LÍNGUA PORTUGUESA de caça a animais em extinção e avançou nas políticas para a educação das relações étnico-raciais. Assim como em qualquer outra manifestação artística, portanto, o livro que esteve sob ameaça de censura precisa ter seu conteúdo contextualizado. Se a personagem Tia Nastácia chegou a ser associada a estereótipos hoje vistos como racistas, é importante que os educadores se preocupem em deixar claro para os alunos alguns aspectos que hoje chamam a atenção apenas pelo fato de o país ter evoluído sob o ponto de vista de costumes e de direitos humanos. No Brasil de hoje, não há mais espaço para a impunidade em relação a atos como o racismo. Isso não significa, porém, que seja preciso revolver o passado, muito menos sem levar em conta as circunstâncias da época. (Editorial Zero Hora, 18/10/2010) 15. (FCC - Adaptada) ## O pronome se pode se deslocar sintaticamente, sem provocar erro gramatical, na afirmativa: a) não conseguiu livrar-se, porque é próclise ao verbo no infinitivo. b) não se conseguiu livrar, porque é próclise ao advérbio. c) não se conseguiu livrar, porque é ênclise ao auxiliar. d) não conseguiu livrar se, porque é próclise ao verbo principal. e)não conseguiu livrar-se, porque é ênclise ao verbo no infinitivo. Resposta: E -------------------------- ------------------------ Ensino que ensine Jogar com as ambiguidades, cultivar o improviso, juntar o que se pretende irreconciliável e dividir o que se supõe unitário, usar falta de método como método, tratar enigmas como soluções e o inesperado como caminho − são traços da cultura do povo brasileiro. Estratégias de sobrevivên- cia? Por que não também manancial de grandes feitos, tanto na prática como no pensamento? A orientação de nosso ensino costuma ser o oposto dessa fecundidade indisciplinada: dogmas confundidos com idéias, informações sobrepostas a capacitações, insistência em métodos “corretos” e em respostas “certas”, ditadura da falta de imaginação. Nega-se voz aos talentos, difusos e frustrados, da nação. Essa contradição nunca foi tema do nosso debate nacional. Entre nós, educação é assunto para economistas e engenheiros, não para educadores, como se o alvo fosse construir escolas, não construir pessoas. Preconizo revolução na orientação do ensino brasileiro. Nada tem a ver com falta de rigor ou com modismo pedagógico. E exige professorado formado, equipado e remunerado para cumprir essa tarefa libertadora. Em matemática, por exemplo, em vez de enfoque nas soluções únicas, atenção para as formulações alternativas, as soluções múltiplas ou inexistentes e a descoberta de problemas, tão importante quanto o encontro de soluções. Em leitura e escrita, análise de textos com a preocupação de aprofundar, não de suprimir possibilidades de interpretação; defesa, crítica e revisão de ideias; obrigação de escrever todos os dias, formulando e reformulando sem fim. Em ciência, o despertar para a dialética entre explicações e experimentos e para os mistérios da relação entre os nexos de causa e efeito e sua representação matemática. Em história, e em todas as disciplinas, as transformações analisadas de pontos de vista contrastantes. Isso é educação. O resto é perda de tempo. (...) Quem lutará para que a educação no Brasil se eduque? (Roberto Mangabeira Unger, Folha de S. Paulo, 09/01/2007) 79 LÍNGUA PORTUGUESA 16. (FCC – Adaptada) ## Nosso sistema de ensino tem falhas estruturais; para revolucionar nosso sistema de ensino, seria preciso despir nosso sistema de ensino dos dogmas que norteiam nosso sistema de ensino. Evitam-se as viciosas repetições do trecho acima substituindo-se os segmentos sub- linhados, respectivamente, por a) revolucioná-lo − despi-lo − o norteiam b) o revolucionar − despi-lo − lhe norteiam c) revolucionar-lhe − despir-lhe − o norteiam d) revolucioná-lo − despir-lhe − norteiam- no e) o revolucionar − despir-lhe − o norteiam Resposta: A Comentário: Ao mencionar a ideia de substituição, a questão aborda emprego dos pronomes átonos e suas regras de colocação. A forma verbal "revolucionar" está no infinitivo impessoal e exige a colocação do pro-nome na forma enclítica (após o verbo),considerando que termina em "r", é preciso utilizar a forma "lo" - porque o referente está no masculino. O mesmo ocorre com o verbo despir, cuja forma correta será "despi-lo". O verbo "despir" segue a mesma premissa, a forma correta é "o norteiam", pois seu antecedente é um pronome relativo, que exerce atração do pronome oblíquo átono. Vale também mencionar a razão de utilizar apenas as formas diretas ("lo", "lo" e "o"): os três verbos empregados são transitivos diretos. -------------------------- ------------------------ Compreende-se que a festa, representando tal paroxismo de vida e rom-pendo de um modo tão violento com as pequenas preocupações da exis-tência cotidiana, surja ao indivíduo como outro mundo, em que ele se sente amparado e transformado por forças que o ultrapassam. A sua atividade diária, colheita, caça, pesca, ou criação de gado, limita-se a preencher o seu tempo e a prover as suas necessidades imediatas. É certo que ele lhe dedica atenção, paciência, habilidade, mas, mais profunda-mente, vive na recordação de uma festa e na expectativa de outra, pois a festa figura para ele, para a sua memória e para o seu desejo o tempo das emoções intensas e da metamorfose do seu ser. Roger Caillois. O homem e o sagrado. Lisboa: Edições 70, 1988, p. 96-7 (com adaptações). 17. (CESPE – Adaptada) ## A correção gramatical do texto seria mantida caso o elemento “se” nas linhas 1 e 2 fosse anteposto e posposto às respectivas formas verbais — Se compreende e sente-se. Resposta: Errado Comentário: Haveria erro na primeira forma, pois a anteposição do pronome átono causaria erro gramatical. Isso se justifica pelo fato de não ser possível iniciar uma sentença em Língua Portuguesa com pronome oblíquo átono. A segunda forma não prejudicaria a correção gramatical, pois se trata de sujeito expresso próximo ao verbo, o que gera colocação facultativa. -------------------------- ------------------------ Fundada por Ptolomeu Filadelfo, no início do século III a.C., a biblioteca de Alexandria representa uma epígrafe perfeita para a discussão sobre a materialidade da comunicação. As escavações para a localização da biblioteca, sem dúvida um dos maiores tesouros da Antiguidade, atraíram inúmeras gerações de arqueólogos. Inutilmente. Tratava-se então de uma biblioteca imaginária, cujos livros talvez nunca tivessem existido? Persistiam, contudo, numerosas fontes clássicas que descreviam o lugar em que se encontravam centenas de milhares de rolos. E eis a solução do enigma. O acervo da biblioteca de 80 LÍNGUA PORTUGUESA Alexandria era composto por rolos e não por livros — pressuposição por certo ingênua, ou seja, atribuição anacrônica de nossa materialidade para épocas diversas. Em vez de um conjunto de salas com estantes dispostas paralelamente e enfeixadas em um edifício próprio, a biblioteca de Alexandria consistia em uma série infinita de estantes escavadas nas paredes da tumba de Ramsés. Ora, mas não era essa a melhor forma de colecionar rolos, preservando-os contra as intempéries? Os arqueólogos que passaram anos sem encontrar a biblioteca de Alexandria sempre a tiveram diante dos olhos, mesmo ao alcance das mãos. No entanto, jamais poderiam localizá-la, já que não levaram em consideração a materialidade dos meios de comunicação dominante na época: eles, na verdade, procuravam uma biblioteca estruturada para colecionar livros e não rolos. Quantas bibliotecas de Alexandria permanecem ignoradas devido à negligência com a materialidade dos meios de comunicação? O conceito de materialidade da comunicação supõe a reconstrução da materialidade específica mediante a qual os valores de uma cultura são, de um lado, produzidos e, de outro, transmitidos. Tal materialidade envolve tanto o meio de comunicação quanto as instituições responsáveis pela reprodução da cultura e, em um sentido amplo, inclui as relações entre meio de comunicação, instituições e hábitos mentais de uma época determinada. Vejamos: para o entendimento de uma forma particular de comunicação — por exemplo, o teatro na Grécia clássica ou na Inglaterra elizabetana; o romance nos séculos XVIII e XIX; o cinema e a televisão no século XX; o computador em nossos dias —, o estudioso deve reconstruir tanto as condições históricas quanto a materialidade do meio de comunicação. Assim, no teatro, a voz e o corpo do ator constituem uma materialidade muito diferente da que será criada pelo advento e difusão da imprensa, pois os tipos impressos tendem, ao contrário, a excluir o corpo do circuito comunicativo. Já os meios audiovisuais e informáticos promovem um certo retorno do corpo, mas sob o signo da virtualidade. Compreender, portanto, como tais materialidades influem na elaboração do ato comunicativo é fundamental para se entender como chegam a interferir na própria ordenação da sociedade. João C. de C. Rocha. A matéria da materialidade: como localizar a biblioteca de Alexandria? In: João C. de C. Rocha (Org.). Interseções: a materialidade da comunicação. Rio de Janeiro: Imago; EDUERJ, 1998, p. 12, 14-15 (com adaptações). 18. (CESPE – Adaptada) ## O trecho “jamais poderiam localizá-la” poderia ser corretamente reescrito da seguinte forma: jamais a poderiam localizar. Resposta: Certo Comentário: A forma sugerida é justificada pelo fato de a palavra "jamais" ser um advérbio. Como há uma locução verbal na sentença, o deslocamento é possível para realizar uma próclise em relação ao verbo auxiliar da locução. -------------------------- ------------------------ Os livros de história sempre tiveram dificuldade em falar de mulheres que não respeitam os padrões de gênero, e em nenhuma área essa limitação é tão evidente como na guerra e no que se refere ao manejo de armas. No entanto, da Antiguidade aos tempos modernos a história é fértil em relatos protagonizados por guerreiras. Com efeito, a sucessão política regularmente coloca uma mulher no trono, por mais desagradável que essa verdade soe. Sendo as guerras insensíveis ao gênero e ocorrendo até mesmo quando uma mulher dirige o país, os livros de história são obrigados a 81 LÍNGUA PORTUGUESA registrar certo número de guerreiras levadas, consequentemente, a se comportar como qualquer Churchill, Stálin ou Roosevelt. Semíramis de Nínive, fundadora do Império Assírio, e Boadiceia, que liderou uma das mais sangrentas revoltas contra os romanos, são dois exemplos. Esta última, aliás, tem uma estátua à margem do Tâmisa, em frente ao Big Ben, em Londres. Não deixemos de cumprimentá-la caso estejamos passando por ali. Em compensação, os livros de história são, em geral, bastante discretos sobre as guerreiras que atuam como simples soldados, integrando os regimentos e participando das batalhas contra exércitos inimigos em condições idênticas às dos homens. Essas mulheres, contudo, sempre existiram. Praticamente nenhuma guerra foi travada sem alguma participação feminina. (Adaptado de Stieg Larsson. A rainha do castelo de ar. São Paulo: Cia. das Letras, 2009. p. 7-8) 19. (FCC – Adaptada) ## Levando-se em conta as alterações necessárias, o termo destacado foi corretamente substituído por um pronome em: a) coloca uma mulher no trono = coloca-na no trono b) dirige o país = lhe dirige c) integrando os regimentos = integrando- lhes d) liderou uma das mais sangrentas revoltas = liderou-na e) registrar certo número de guerreiras = registrá-lo Resposta: E Comentário: Na alternativa "a", a forma correta não leva "n", pois o verbo não termina em som nasal. Na alternativa "b", a forma pronominal esta errada, pois o verbo dirigir é transitivo direto. Na alternativa "c" o verbo "integrar" tem um complemento direto, a forma "lhe" não pode ser empregada. Na alternativa "d", não se devem empregar a letra "n", pois o verbo não termina em som nasal. A letra "e" está correta, pois o verbo é transitivo direto e termina em "r",logo, a forma correta do pronome é "lo". -------------------------- ------------------------ O Ministério Público Federal impetrou mandado de segurança contra a decisão do juízo singular que, em sessão plenária do tribunal do júri, indeferiu pedido do impetrante para que às testemunhas indígenas fosse feita a pergunta sobre em qual idioma elas se expressariam melhor, restando incólume a decisão do mesmo juízo de perguntar a cada testemunha se ela se expressaria em português e, caso positiva a resposta, colher-se-ia o depoimento nesse idioma, sem prejuízo do auxílio do intérprete. No caso relatado, estava em jogo, na sessão plenária do tribunal do júri, o direito linguístico das testemunhas indígenas de se expressarem em sua própria língua, ainda que essas mesmas pessoas possuíssem o domínio da língua da sociedade envolvente, que, no caso, é a portuguesa. É que, conforme escreveu Pavese, só fala sem sotaque aquele que é nativo. Se, para o aspecto exterior da linguagem, que é a sua expressão, já é difícil, para aquele que fala, falar com a propriedade devida, com razão mais forte a dificuldade se impõe para o raciocínio adequado que deve balizar um depoimento testemunhal, pouco importando se se trata de testemunha ou de acusado. No que interessa a este estudo, entre os modelos normativos que reconhecem direitos linguísticos, o modelo de direitos humanos significa a existência de norma na Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 1948, da Organização das Nações Unidas, que provê um regime de tolerância linguística, garantia essa que não suporta direitos linguísticos de forma específica, isto é, 82 LÍNGUA PORTUGUESA protegem-se, imediatamente, outros direitos fundamentais, tais como direito de liberdade de expressão, de reunião, de associação, de privacidade e do devido processo legal, e apenas mediatamente o direito linguístico; já o modelo dos povos indígenas tem por base legal a Convenção n.o 169 da Organização Internacional do Trabalho, que prevê a proteção imediata de direitos de desenvolvimento da personalidade, tais como oportunidade econômica, educação e saúde, e, mediatamente, de direitos linguísticos. A questão jurídica aqui tratada pode enquadrar-se tanto em um modelo quanto em outro, já que pode ser ela referida ao direito de liberdade de expressão na própria língua e também ao direito do indígena de falar sua própria língua por força do seu direito ao desenvolvimento de sua personalidade. Mas há mais. A Constituição Federal de 1988 (CF) positivou, expressamente, norma específica que protege as línguas indígenas, reconhecendo-as e indo, portanto, mais além do que as normas internacionais de direitos humanos. Essa proteção tem a ver com a ideia maior da própria cultura, que se compõe das relações entre as pessoas com base na linguagem. Paulo Thadeu Gomes da Silva. Direito linguístico: a propósito de uma decisão judicial. In: Revista Internacional de Direito e Cidadania, n.º 9, p. 183-7, fev./2011. Internet: <http://6ccr.pgr.mpf.gov.br> (com adaptações). 20. (CESPE – Adaptada) ## A posposição do pronome “se” ao verbo em “colher-se-ia” — colheria-se — comprometeria a correção gramatical do trecho. Resposta: Certo Comentário: Haveria erro gramatical na posposição em questão, pois o verbo está empregado no futuro do pretérito do indicativo. De acordo com as regras de colocação pronominal, é preciso colocar o pronome no meio da forma verbal, ou seja, uma mesóclise. -------------------------- ------------------------ A economia solidária vem-se apresentando como uma alternativa inovadora de geração de trabalho e renda e uma resposta favorável às demandas de inclusão social no país. Ela compreende uma diversidade de práticas econômicas e sociais organizadas sob a forma de cooperativas, associações, clubes de troca, empresas de autogestão e redes de cooperação — que realizam atividades de produção de bens, prestação de serviços, finanças, trocas, comércio justo e consumo solidário. A Secretaria Nacional de Economia Solidária, do Ministério do Trabalho e Emprego, desde sua criação, em 2003, vem elaborando mecanismos de formação, fomento e educação para o fortalecimento da economia solidária no Brasil. Além da divulgação e da promoção de ações nessa direção, desde 2007 a Secretaria tem realizado chamadas públicas a fim de apoiar os empreendimentos econômicos alternativos. Internet:<http://por tal .mte.gov.br/ imprensa> (com adaptações). 21. (CESPE – Adaptada) ## No trecho “A economia solidária vem-se apresentando”, o deslocamento do pronome pessoal oblíquo para depois do verbo principal da locução não prejudicaria a correção gramatical do texto: vem apresentando-se. Resposta: Certo Comentário: Não há erro, porque a forma verbal no gerúndio, a menos que precedida da preposição "em", exige colocação pronominal enclítica. 83 LÍNGUA PORTUGUESA 22. (VUNESP – Adaptada) A colocação do pronome em destaque está de acordo com o português padrão na frase: a) Muitos dos efeitos colaterais listados nas bulas dos remédios não manifestam-se na maioria dos pacientes. b) O efeito ocorre sobretudo quando teme- se uma doença ou o tratamento a ser enfrentado. c) Ao orientar o paciente, deve-se ter o cuidado de ouvi-lo com atenção, mantendo o contato visual. d) O neurologista Magnus Heier tem dedicado-se ao estudo do efeito nocebo. e) É possível que experimente-se o efeito colateral da quimioterapia antes que a sessão aconteça. Resposta: C Comentário: A alternativa "a" está errada, porque a palavra "não" atrai o pronome oblíquo átono. A alternativa "b" está errada, pois a palavra "quando" é uma conjunção subordinativa, o que atrai o pronome átono. A alternativa "c" está correta, pois se trata de um início de sentença (ênclise obrigatória). A alternativa "d" está errada, pois a forma verbal no particípio não admite a ênclise. A alternativa "e" está errada, pois a palavra "que" é uma conjunção integrante, o que atrai o pronome átono. -------------------------- ------------------------ Todos nós, homens e mulheres, adultos e jovens, passamos boa parte da vida tendo de optar entre o certo e o errado, entre o bem e o mal. Na realidade, entre o que consideramos bem e o que consideramos mal. Apesar da longa permanência da questão, o que se considera certo e o que se considera errado muda ao longo da história e ao redor do globo terrestre. Ainda hoje, em certos lugares, a previsão da pena de morte autoriza o Estado a matar em nome da justiça. Em outras sociedades, o direito à vida é inviolável e nem o Estado nem ninguém tem o direito de tirar a vida alheia. Tempos atrás era tido como legítimo espancarem-se mulheres e crianças, escravizarem-se povos. Hoje em dia, embora ainda se saiba de casos de espancamento de mulheres e crianças, de trabalho escravo, esses comportamentos são publicamente condenados na maior parte do mundo. Mas a opção entre o certo e o errado não se coloca apenas na esfera de temas polêmicos que atraem os holofotes da mídia. Muitas e muitas vezes é na solidão da consciência de cada um de nós, homens e mulheres, pequenos e grandes, que certo e errado se enfrentam. E a ética é o domínio desse enfrentamento. Marisa Lajolo. Entre o bem e o mal. In: Histórias sobre a ética. 5.ª ed. São Paulo: Ática, 2008 (com adaptações). 23. (CESPE – Adaptada) ## Devido à presença do advérbio “apenas”, o pronome “se” poderia ser deslocado para imediatamente após a forma verbal “coloca”, da seguinte forma: coloca-se. Resposta: Errado Comentário: A mudança em questão não é possível, porque o advérbio negativo "não" está presente na sentença, o que atrai o pronome oblíquo átono. Essa é uma regra de próclise obrigatória. -------------------------- ------------------------ O processo penal moderno, tal como praticado atualmente nos países ocidentais, deixa de centrar-se na finalidade meramentepunitiva para centrar-se, antes, na finalidade investigativa. O que se quer dizer é que, abandonado o sistema inquisitório, em que o órgão julgador cuidava também de obter 84 LÍNGUA PORTUGUESA a prova da responsabilidade do acusado (que consistia, a maior parte das vezes, na sua confissão), o que se pretende no sistema acusatório é submeter ao órgão julgador provas suficientes ao esclarecimento da verdade. Evidentemente, no primeiro sistema, a complexidade do ato decisório haveria de ser bem menor, uma vez que a condenação está atrelada à confissão do acusado. Problemas de consciência não os haveria de ter o julgador pela decisão em si, porque o seu veredito era baseado na contundência probatória do meio de prova “mais importante” — a confissão. Um dos motivos pelos quais se pôs em causa esse sistema foi justamente a questão do controle da obtenção da prova: a confissão, exigida como prova plena para a condenação, era o mais das vezes obtida por meio de coações morais e físicas. Esse fato revelou a necessidade, para que haja condenação, de se proceder à reconstituição histórica dos fatos, de modo que se investigue o que se passou na verdade e se a prática do ato ilícito pode ser atribuída ao arguido, ou seja, a necessidade de se restabelecer, tanto quanto possível, a verdade dos fatos, para a solução justa do litígio. Sendo esse o fim a que se destina o processo, é mediante a instrução que se busca a mais perfeita representação possível dessa verdade. Getúlio Marcos Pereira Neves. Valoração da prova e livre convicção do juiz. In: Jus Navigandi, Teresina, ano 9, n.º 401, ago./2004 (com adaptações). 24. (CESPE – Adaptada) ## Seriam mantidas a correção gramatical e a coesão do texto, caso o pronome “os”, em “não os haveria de ter”, fosse deslocado para imediatamente depois da forma verbal “ter”, escrevendo-se tê-los. Resposta: Certo Comentário: O que justifica a possibilidade de deslocar o pronome para após a forma verbal "ter" é o fato de haver um infinitivo impessoal. Trata-se de uma locução verbal com o verbo principal no infinitivo. -------------------------- ------------------------ Marilena Chaui, filósofa brasileira, afirma que, para a classe dominante brasileira (os “liberais”), democracia é o regime da lei e da ordem. Para a filósofa, no entanto, a democracia é “o único regime político no qual os conflitos são considerados o princípio mesmo de seu funcionamento”: impedir a expressão dos conflitos sociais seria destruir a democracia. O filósofo francês Jacques Rancière critica a ideia de democracia que tem estruturado nossa vida social — regida por uma ordem policial, segundo ele —, devido ao fato de ela se distanciar do que seria sua razão de ser: a instituição da política. Estamos acomodados por acreditar que a política é isso que está aí: variadas formas de acordo social a partir das disputas entre interesses, resolvidas por um conjunto de ações e normas institucionais. Essa ideia empobrecida do que seja a política está, para o autor, mais próxima da ideia de polícia, já que diz respeito ao controle e à vigilância dos comportamentos humanos e à sua distribuição nas diferentes porções do território, cumprindo funções consideradas mais ou menos adequadas à ordem vigente. Estamos geralmente tão hipnotizados pela “necessidade de um compromisso para se alcançar o bem comum” e pela opinião de que “as instituições sociais já estão fazendo todo o possível para isso”, que não conseguimos perceber nossa contribuição na legitimação dessa política policial que administra alguns corpos e torna invisí-veis outros. O conceito de política trabalhado pelo autor traz como princípio a igualdade. Uma igualdade que não está lá como sonho a ser alcançado um dia, mas que é uma potencialidade que “só ganha realidade 85 LÍNGUA PORTUGUESA se é atualizada no aqui e agora”. E essa atualização se dá por ações que irão construir a possibilidade de os “não contados” serem levados em conta, serem considerados nesse princípio básico e radical de igualdade. Para além dos movimentos sociais, existem os ainda-sem-nome e ain-da-sem-movimento. Diz o autor que a política é a reivindicação da parte daqueles que não têm parte; política se faz reivindicando “o que não é nosso” pelo sistema de direitos dominantes, criando, assim, um campo de contestação. Em uma sociedade em que os que não têm parte são a mai-or parte, é preciso fazer política. Marco Antonio Sampaio Malagodi. Geografias do dissenso: sobre conflitos, justiça ambiental e cartografia social no Brasil. In: Espaço e economia: Revista Brasileira de Geografia Econômica. jan./2012. Internet: <http://espacoeconomia.revues. org/136> (com adaptações). 25. (CESPE – Adaptada) ## A correção do texto seria mantida caso o pronome “se”, em vez de anteceder, passasse a ocupar a posição imediatamente posterior ao verbo: devido ao fato de ela distanciar-se. Resposta: Certo Comentário: Como o verbo "distanciar" possui seu sujeito expresso (a forma "ela"), a colocação do pronome oblíquo se torna facultativa: tanto a próclise quanto a ênclise estariam corretas. -------------------------- ------------------------ Sonhei ter sonhado Que havia sonhado. Em sonho lembrei-me De um sonho passado: O de ter sonhado Que estava sonhando. Sonhei ter sonhado... Ter sonhado o quê? Que havia sonhado Estar com você. Estar? Ter estado, Que é tempo passado. Um sonho presente Um dia sonhei. Chorei de repente, Pois vi, despertado, Que tinha sonhado. (Poesia Completa, Rio de Janeiro: Aguilar, 1968.) 26. (FUNRIO – Adaptada) ## No terceiro verso, o poeta empregou corretamente um pronome oblíquo em posição enclítica. Identifique nas frases abaixo a única alternativa que caracteriza um desvio na colocação do pronome oblíquo segundo as normas da língua padrão. a) De modo algum me deixarei enganar por suas palavras. b) Você sabe que sempre me dediquei ao estudo das figuras de linguagem. c) Pensei que eles convidariam-me para a festa de formatura. d) A funcionária saiu do posto de atendimento deixando-me sem saber a resposta. e) Só depois de muito tempo entendi o que as pessoas me queriam dizer. Resposta: C Comentário: Na alternativa "a" a correção é garantida pelo fato de a expressão "de 86 LÍNGUA PORTUGUESA modo algum" ser uma expressão negativa, isso atrai o pronome átono. Na alternativa "b", a palavra "sempre" é um advérbio, o que atrai o pronome átono. Na alternativa "c", há um erro, pois o verbo está no futuro do pretérito do indicativo, o que exigiria uma mesóclise (convidar-me-iam). Na alternativa "d", o verbo no gerúndio exige a ênclise. Na alternativa "e", o sujeito da locução verbal está expresso, o que caracteriza colocação pronominal facultativa. 27. (CETRO – Adaptada) ## Assinale a alternativa que apresenta erro em relação à colocação pronominal. a) Entregaram-me os papéis atrasados. b) Não me deixaram ver os documentos. c) Farão-me uma proposta ao meio-dia. d) Alguém me entregou os papéis atrasados. e) Avistou-o, ao longe, e não conseguiu alcançá-lo. Resposta: C Comentário: Na alternativa "a", o pronome está enclítico por se tratar de início de sentença. Na alternativa "b", o pronome está proclítico em razão do advérbio negativo. Na alternativa "c", há um erro de colocação, pois o verbo está no futuro do presente (a forma correta seria "Far-me-ão"). Na alternativa "d", o pronome está proclítico em razão do pronome indefinido "alguém". Na alternativa "e" o pronome está enclítico em razão de ser início de sentença. 28. (CETRO – Adaptada) ## Em relação à colocação pronominal e de acordo com a norma-padrão da Língua Portuguesa, assinale a alternativa correta. a) Dispusemo-nos a ajudar a família enlutada no que fosse preciso. b) Não coloco-me à disposição porque não estarei na empresa amanhã. C) Me tratou mal desde o primeiro momento, mas não tenho mágoas. d) Há muitas diferenças entreeu e você. e) É importante ressaltar que deve- se elaborar uma ata com todos os apontamentos discutidos em reunião. Resposta: A Comentário: A alternativa "a" está correta, porque a ênclise é justificada pelo fato de ser início de sentença. Na alternativa "b", o erro está na ênclise do pronome (o advérbio "não" é atrativo). Na alternativa "c", a próclise está incorreta, por se tratar de início de sentença. Na alternativa "d", o erro não é de colocação, mas de emprego do pronome: após preposição essencial, deve-se usar uma forma oblíqua (o correto seria entre "mim" e você). Na alternativa "e", o erro está na ênclise do pronome, considerando que há uma conjunção integrante na sentença, o que atrai a forma oblíqua. 29. (CETRO – Adaptada) ## De acordo com a norma-padrão da Língua Portuguesa, assinale a alternativa correta em relação à colocação pronominal. a) Agradeceu-me sorrindo pela gentileza. b) Me entregou os papéis fora do envelope. c) Encontraria-me mais disposto se não estivesse doente. d) Não trata-me com desrespeito. Resposta: A Comentário: A alternativa "a" está correta, pois se trata de início de sentença. A alternativa "b" está incorreta, porque, em início de sentença, deve ser empregada a ênclise pronominal. A alternativa "c" está incorreta, porque, com futuro do pretérito do 87 LÍNGUA PORTUGUESA indicativo, deve ser empregada a mesóclise pronominal. A alternativa "d" está incorreta, porque o advérbio de negação atrai a forma pronominal. -------------------------- ------------------------ Texto I O jivaro Um sr. Matter, que fez uma viagem de exploração à América do Sul, conta a um jornal sua conversa com um índio jivaro, desses que sabem reduzir a cabeça de um morto até ela ficar bem pequenina. Queria assistir a uma dessas operações, e o índio lhe disse que exatamente ele tinha contas a acertar com um inimigo. O Sr. Matter: − Não, não! Um homem, não. Faça isso com a cabeça de um macaco. E o índio: − Por que um macaco? Ele não me fez nenhum mal! (Rubem Braga, Recado de primavera) -------------------------- ------------------------ Texto II Anedota búlgara Era uma vez um czar naturalista que caçava homens. Quando lhe disseram que também se caçam borboletas [e andorinhas ficou muito espantado e achou uma barbaridade. (Carlos Drummond de Andrade, Alguma poesia) 30. (FCC – Adaptada) ## O czar caçava homens, não ocorrendo ao czar que, em vez de homens, se caçassem andorinhas e borboletas, parecendo-lhe uma barba- ridade levar andorinhas e borboletas à morte. Evitam-se as repetições viciosas da frase acima substituindo-se, de forma correta, os elementos sublinhados por, respecti- vamente, a) não o ocorrendo - de tais - levá-las. b) não ocorrendo-lhe - dos mesmos - levar- lhes. c) lhe não ocorrendo - destes - as levar-lhes. d) não ocorrendo-o - dos cujos - as levarem. e) não lhe ocorrendo - destes - levá-las. Resposta: E Comentário: A primeira forma deve ser "não lhe ocorrendo", pois o pronome é atraído pelo advérbio. Além disso, a forma "lhe" substitui corretamente o termo "ao czar". A segunda forma deve ser o termo "destes", porque o pronome demonstrativo retoma o último referente "homens". A terceira forma deve ser "levá-las", pois o referente é o termo "andorinhas e borboletas". Como o verbo possui complemento direto e termina em "r", o correto é empregar a forma "las". 31. (CESGRANRIO – Adaptada) ## Substituindo-se o complemento verbal destacado pelo pronome oblíquo correspondente, observa-se um caso de próclise obrigatória em: a) “aquelas que acolheram os princípios do Estado Democrático de Direito” b) Em 2008, escrevi um artigo para celebrar os 60 anos da declaração” c) “fabricam os espaços da literatura, do econômico, do político” d) “A vigilância deve adquirir aquela solidez própria da turba enfurecida” e) “Mas as transformações econômicas das sociedades modernas suscitaram o bloqueio” 88 LÍNGUA PORTUGUESA Resposta: A Comentário: A próclise será obrigatória na alternativa "a", porque o complemento do verbo "acolher" será repre-sentado pela forma "os", a qual será atraída pelo pronome relativo "que", presente na sentença. 01. (CESPE - Adaptada)## O emprego de acento gráfico em “autóctones” (L.4) e “alóc-tones” (L.5) justifica-se por serem ambas palavras proparoxítonas. Resposta: Certo. Comentário: A separação silábica deve ser feita da seguinte maneira: au-tóc-to-nes e a-lóc-to-nes. Desse modo, percebe-se que há o padrão de proparoxítona. O que exige a acentuação. -------------------------- ------------------------ O Teach for America consegue atrair os mais talentosos alunos para a docência oferecendo-lhes algo bem concreto. Depois de dois anos no papel de professor de escola pública — tempo mínimo de estada no programa —, esses jovens ingressam quase que automaticamente em algumas das maiores empresas americanas, com as quais o Teach for America estabeleceu uma produtiva parceria. Para as empresas, recrutar gente que passou por lá significa encurtar o complicado processo de busca por bons profissionais. Pela estreita peneira do programa só passam os realmente capazes. Para se ter uma ideia, apenas os alunos de ótimo boletim têm direito à inscrição e, ainda assim, 85% deles ficam de fora. É essa rigorosa seleção que atrai os próprios estudantes. Sobreviver a ela é um sinal claro de excelência, algo que faz todo mundo querer ostentar um carimbo do Teach for America no currículo. 02. (CESPE - Adaptada)## Em razão do contexto, o acento gráfico empregado na forma verbal “têm” (L.8) é obrigatório. Resposta: Certo. Comentário: Antes do verbo há um pronome relativo. A regra de concordância exige que, quando o pronome relativo desempenhar a função de sujeito da sentença – o que o corre, evidentemente na questão – é necessário fazer a concordância do verbo com o antecedente do pronome relativo (ou com seu referente, melhor dizendo)##. Portanto, o acento na forma verbal é obrigatório, a fim de indicar que se trata de uma forma plural do verbo “ter”. 03. (CESPE - Adaptada)## As palavras “municípios”, “famílias”, “frequência” e “convivência” recebem acento gráfico com base na mesma regra gramatical. Resposta: Certo. Comentário: Todas as palavras são paroxítonas terminadas em ditongo. Segue a separação: mu-ni-cí-pios, fa-mí-lias, fre- quên-cia, con-vi-vên-cia. 04. (CESPE - Adaptada)## Os vocábulos “público”, “químicos” e “métodos” são acentuados de acordo com a mesma regra de acentuação gráfica. Resposta: Certo. Comentários: As três palavras são proparoxítonas e, por regra, devem ser acentuadas. Eis a separação: pú-bli-co, quí- mi-cos, mé-to-dos. 05. (CESPE - Adaptada)## As palavras “Penitenciário”, “carcerária” e “Judiciário” recebem acento gráfico com base na mesma regra gramatical. Resposta: Certo. ACENTUAÇÃO GRÁFICA 89 LÍNGUA PORTUGUESA Comentário: As três palavras são paroxítonas terminadas em ditongo. Veja a separação: pe-ni-ten-ci-á-rio, car-ce-rá-ria, ju-di-ci-á- rio. Portanto, o acento é obrigatório nos três casos. 06. (CESPE - Adaptada)## O emprego do acento nas palavras “ciência” e “transitório” justifica-se com base na mesma regra de acentuação. Resposta: Certo. Comentário: As duas palavras são paroxítonas terminadas em ditongo. Veja a separação: ci-ên-cia, tran-si-tó-rio. Isso obriga a colocação do acento agudo. 07. (CESPE - Adaptada)## A ocorrência de hiato justifica o emprego do acento agudo nas vogais i e u nas palavras “construída” e “conteúdos”. Resposta: Certo. Comentário: Quando as letras “i” e “u”, sozinhas ou seguidas das letras “s”, formarem hiato com a vogal anterior, serão acentuadas, salvo os casos de exceção. No contexto, percebe-se que as duas palavras possuem as letras mencionadas como alvo da tonicidade e formam hiato com a vogal antecedente: cons-tru-í-das, con-te-ú-dos. 08. (CESPE - Adaptada)## Pela mesma regra de acentuação gráfica, justifica-seo acento gráfico nos vocábulos “países”, “possível” e “difícil”. Resposta: Errado. Comentário: A palavra “países” é acentuada, porque o “i” forma hiato com a vogal antecedente. A palavra “possível” é acentuada, porque se trata de uma paroxítona terminada em “l”. A palavra “difícil” é acentuada, porque se trata de uma pa-roxítona terminada em “l”. Como há uma palavra com regra dissonante, é preciso assinalar que a questão está errada. 09. (CESPE - Adaptada)## Os acentos gráficos empregados em “Agência” e em “Saúde” têm a mesma justificativa. Resposta: Errado. Comentário: “Agência” é uma paroxítona terminada em ditongo, essa é a razão de seu acento. “Saúde” possui um hiato com a letra “u”, essa é a razão de ser acentuada. Como visto, não recebem acento pelo mesmo motivo. 10. (CESPE - Adaptada)## As palavras “municípios” e “bancários” recebem acento gráfico com base na mesma regra de acentuação. Resposta: Certo. Comentário: As duas palavras são paroxítonas terminadas em ditongo. Veja a separação: mu-ni-cí-pios, ban-cá-rios. 11. (CESPE - Adaptada)## Os termos “Três” e “Vã” são acentuados em decorrência de igual justificativa gramatical. Resposta: Questão anulada. Comentário: Apesar de a questão ter sido anulada pela banca examinadora, vale a pena observar o que ela trouxe: em tese, é possível dizer que as duas palavras seriam acentuadas pelo mesmo motivo – o fato de serem dois monossílabos tônicos. Ocorre que o diacrítico “~” (til)## é empregado para indicar nasalidade, não sendo necessária a regra de tonicidade preconizada para outras palavras. Isso faria com que a resposta fosse considerada incorreta. Por isso, a banca anulou a questão. 90 LÍNGUA PORTUGUESA 12. (CESPE - Adaptada)## As palavras “transmissível” e “tecnológico” são acentuadas em decorrência de mesma regra gramatical. Resposta: Errado. Comentário: A palavra “transmissível” é acentuada, porque é uma paroxítona terminada em “l”. A palavra “tecnológico” é acentuada, porque se trata de um proparoxítona. Regras diferentes, questão errada. 13. (CESPE - Adaptada)## As palavras “indivíduos”, “vulneráveis”, “incidência” e “neurônios”, contidas no texto, apresentam acento gráfico com base na mesma regra. Resposta: Certo. Comentário: Mesmo sem o texto é possível responder a esta questão. Veja que todas as palavras colocadas no texto são paroxítonas terminadas em ditongo, o que obriga o acento agudo em razão das regras de acentuação gráfica. Atente para a separação: in-di-ví- duos, vul-ne-rá-veis, in-ci-dên-cia, neu-rô- nios. 14. (CESPE - Adaptada)## As palavras “conteúdo”, “calúnia” e “injúria” são acentuadas de acordo com a mesma regra de acentuação gráfica. Resposta: Errado. Comentário: A palavra “conteúdo” tem acento por possuir a vogal “u” formando hiato com a vogal antecedente. A palavra “calúnia” tem acento por ser uma paroxítona terminada em ditongo. A palavra “injúria” recebe acento por ser uma paroxítona terminada em ditongo. Como uma delas possui a regra dissonante, não é possível considerar a questão correta. 15. (CESPE - Adaptada)## A mesma regra de acentuação justifica o emprego do acento agudo nas palavras “dicionário” e “possíveis”. Resposta: Certo. Comentário: As duas palavras são paroxítonas terminadas em ditongo. Veja a separação: di-cio-ná-rio, pos-sí-veis. 16. (CESPE - Adaptada)## As formas “patrimônio” e “polícia” são acentuadas em decorrência da mesma regra de acentuação. Resposta: Certo. Comentário: As duas palavras são paroxítonas terminadas em ditongo. Veja a separação: pa-tri-mô-nio, po-lí-cia. 17. (CESPE - Adaptada)## As palavras “conteúdo”, “calúnia” e “injúria” são acentuadas de acordo com a mesma regra de acentuação gráfica. Resposta: Errado. Comentário: A palavra “conteúdo” é acentuada, porque a letra “u” forma hiato com a vogal antecedente. A palavra “calúnia” é acentuada por ser uma paroxítona terminada em ditongo. A palavra “injúria” também é uma paroxítona terminada em ditongo. Desse modo, como há uma regra diferente, é preciso considerar a questão errada. 18. (CEPERJ - Adaptada)## A palavra “conteúdo” recebe acentuação pela mesma razão de: a) juízo b) espírito c) jornalístico d) mínimo e) disponíveis 91 LÍNGUA PORTUGUESA Resposta: A Comentário: Como se trata da regra relacionada ao hiato tônico com “i” ou “u”, é possível dizer que apenas a letra “a” está correta, pois a palavra “juízo” possui acento por possuir um hiato tônico com a letra “i”. 19.(CEFET)## Empregou-se um vocábulo fora do novo acordo ortográfico em: a) saída – vírus – pincéis b) rainha – juiz – raízes c) abdômen – vêem – sótão d) consistência – exceção – Piauí e) marcá-los – redimi-los – preenchê-los Resposta: C Comentário: De acordo com os princípios do Novo Acordo Ortográfico, não são mais acentuadas palavras paroxítonas com “e” ou “o” duplicados. Na sentença em questão, o termo “veem” deveria ser escrito sem acento. 20. (FCC)## Segundo os preceitos da gramática normativa do português do Brasil, a única palavra dentre as citadas abaixo que NÃO deve ser pronunciada com o acento tônico recaindo em posição idêntica àquela em que recai na palavra avaro é: a) mister. b) filantropo. c) gratuito. d) maquinaria. e) ibero. Resposta: A Comentário: A palavra “avaro” é uma paroxítona, ou seja, a sílaba tônica é a penúltima. A única palavra que não deve ser pronunciada desse modo é “mister”, porque se trata de uma oxítona. A ANS vai mudar a metodologia de análise de processos de consumidores contra as operadoras de planos de saúde com o objetivo de acelerar os trâmites das ações. Uma das novas medidas adotadas será a apreciação coletiva de processos abertos a partir de queixas dos usuários. Os processos serão julgados de forma conjunta, reunindo várias queixas, organizadas e agrupadas por temas e por operadora. Segundo a ANS, atualmente, 8.791 processos de reclamações de consumidores sobre o atendimento dos planos de saúde estão em tramitação na agência. Entre os principais motivos que levaram às queixas estão a negativa de cobertura, os reajustes de mensalidades e a mudança de operadora. No Brasil, cerca de 48,6 milhões de pessoas têm planos de saúde com cobertura de assistência médica e 18,4 milhões têm planos exclusivamente odontológicos. Valor Econômico, 22/3/2013. 01. (CESPE - Adaptada) ## Prejudica-se a correção gramatical do período ao se substituir “acelerar” (l.2) por acelerarem. Resposta: Certo Comentário: O verbo “acelerar” foi empregado no infinitivo impessoal, ou seja, não há um sujeito expresso na oração para esse elemento, portanto, não pode ser passada para o plural. Se houvesse a alteração para o plural, a referência seria o termo que serve de complemento para o verbo (trâmites), o que acarretaria prejuízo para a semântica da sentença. CONCORDÂNCIA 92 LÍNGUA PORTUGUESA 02. (CESPE - Adaptada) ## Os vocábulos “organizadas” e “agrupadas”, (linhas 6 e 7), estão no feminino plural porque concordam com “queixas” (l.6). Resposta: Certo. Comentário: Na sentença se lê: “Os processos serão julgados de forma conjunta, reunindo várias queixas, organizadas e agrupadas por temas e por operadora”. Os dois adjetivos (organizadas e agrupadas) devem concordar com o substantivo a que se referem, que, no caso, é a palavra “queixas”. -------------------------- ------------------------ Trecho de entrevista concedida por Lígia Giovanella (LG) à revista Veja (VJ). 1 VJ – Por que o Brasil investe pouco? LG – Temos limites nas nossas políticas econômicas, além de disputas sociais e políticas que atrapalham a discussão sobre a quantidade de recursos. Sabemos que um Sistema Único de Saúde (SUS) de qualidade e com oferta universal de serviços aumentaria a disposição da classe média em contribuir com o pagamento de impostos que financiam o sistema. Atualmente, há baixa disposição porque a classe média não utiliza o serviço e porqueos serviços não são completamente universalizados. 10 VJ – O SUS corre o risco de se tornar inviável? O que precisa ser feito para que não ocorra um colapso no sistema público? 13 LG – Não acredito que haja risco iminente de colapso do SUS, mas as escolhas que fizermos a partir de agora podem levar à construção de diferentes tipos de sistema, a exemplo de uma política mais direcionada a parcelas mais pobres da população ou um sistema sem acesso universal. O SUS terá de responder às mudanças sociais. Com a melhoria da situação econômica de uma parcela da sociedade, precisará atender a expectativas da nova classe média baixa. VJ – Além de aumentar o investimento, o que mais é importante? LG – Outro desafio é estabelecer prioridades para o modelo assistencial. Atualmente, a cobertura de atenção básica, por meio do programa Saúde da Família, alcança apenas 50% da população. É preciso que haja uma ampliação sustentada, de modo a atingir 80% da população. Já estamos em um momento avançado no SUS, em que é necessário dar à população garantias explícitas de que os serviços irão funcionar. Além disso, o Brasil precisa intensificar a formação de médicos especializados em medicina de família e comunidade. Natalia Cuminale. Desafios brasileiros. Brasil precisa dobrar gasto em saúde, diz es-pecialista. Internet: <http://veja.abril. com.br> (com adaptações). 03. (CESPE) A flexão no plural da forma verbal “atrapalham” (l.3) deve-se ao emprego de “limites” (l.2). Resposta: Errado. Comentário: A flexão do verbo no plural se dá em razão de a palavra de referência para o pronome que desempenha a função de sujeito do verbo ser o termo “disputas”. A regra de concordância com o pronome relativo orienta que a concordância do verbo – quando o pronome relativo desempenha a função de sujeito – deve ser com o referente do pronome que, no texto em questão, era uma palavra no plural. 04. (CESPE - Adaptada) ## Sem provocar erro gramatical, a forma verbal “aumentaria” (l.3) poderia ser flexionada no plural, passando a concordar com o antecedente “serviços” (l.3). Resposta: Errado. Comentário: O núcleo do sujeito está no singular, isso impede a flexão para o plural. Na ex-pressão “um Sistema Único de Saúde (SUS) de qualidade e com oferta universal de serviços” o termo a que pertence o termo 93 LÍNGUA PORTUGUESA “serviços” desempenha a fun-ção sintática de complemento nominal da palavra “oferta”, ou seja, não indica relação de concordância para o verbo posterior. -------------------------- ------------------------ Durante o período de janeiro a março de 2013, foram recebidas 13.348 reclamações de beneficiários de planos de saúde referentes à garantia de atendimento. Entre as operadoras médico-hospitalares, 480 tiveram pelo menos uma reclamação e, entre as operadoras odontológicas, 29 tiveram pelo menos uma reclamação de não cumprimento dos prazos máximos estabelecidos ou de negativa de cobertura. A fiscalização do cumprimento das garantias de atendimento é uma forma eficaz de se certificar o beneficiário da assistência por ele contratada, pois leva as operadoras a ampliarem o credenciamento de prestadores e a melhorarem o seu relacionamento com o cliente. Para isso, a participação dos consumidores é de fundamental importância. Internet:<www.ans.gov.br> (com adaptações) 05. (CESPE - Adaptada) ## Mantém-se a correção gramatical do período ao se substituir “é” (l.9) por são, desde que também se substitua “leva” (l.10) por levam. Resposta: Errado. Comentário: O sujeito do verbo “ser”possui como núcleo a palavra “fiscalização” – palavra no singular – que também serve como referente para o sujeito oculto do verbo “levar”. Isso faz com que as duas formas verbais devam permanecer no singular. De acordo com as regras de concordância, o verbo deve se adequar ao núcleo de seu sujeito. Entre os fatores que contribuem para a perda de qualidade de vida estão as péssimas condições de habitação e transporte no espaço urbano, que atingem sobremaneira a população empobrecida. A urbanização irresponsável causada pelo processo de industrialização e pela ausência de reforma agrária faz com que o direito de moradia e o de locomoção, ainda que direitos originários de necessidades humanas básicas, expressos na Constituição, sejam sistematicamente ignorados, o que compromete o descanso, o bem-estar e a paz dos trabalhadores nas grandes cidades. Em vista disso, os trabalhadores não podem sequer recompor diariamente suas forças. Temos observado que os empregados dos postos de trabalho de pior remuneração são os que moram mais distantes dos locais de trabalho e cotidianamente saem de casa duas ou três horas antes da jornada, gastando o mesmo tempo para retornarem às suas casas. Causa-nos indignação constatar que esses empregados consomem o equivalente à metade do tempo remunerado (e mal remunerado) para o deslocamento de suas casas até o trabalho e em péssimas condições de transporte, sempre em pé nos ônibus superlotados, ou esperando em longas filas. Às vezes, ainda somos hipócritas, receitando para esses trabalhadores fórmulas para melhorarem de vida. Sugerimos que voltem a estudar para ocuparem postos mais qualificados e com melhor remuneração, mas, no fundo, sabemos que é impossível, para eles, dispor de tempo para cuidar da formação profissional perdida. Por outro lado, a classe média pode até se dar ao luxo de ter mais de um emprego, porque tem o seu próprio transporte, mesmo vivendo na ilusão de que, se trabalhar muito, poderá ganhar mais e acumular dinheiro, para, um dia, enfim, poder curtir a vida. Só que, para muitos, esse dia não chega; as doenças modernas chegam primeiro. 94 LÍNGUA PORTUGUESA Cabe aqui acrescentar outras necessidades humanas que têm sido sistematicamente relegadas a segundo plano. São elas os valores culturais, que incluem os saberes, as paisagens naturais, os costumes e as tradições populares. A urbanização acelerada em todo o mundo foi a responsável pela perda da qualidade de vida de muitos trabalhadores, apesar de aparentemente ter criado melhores condições de vida para parte da população. Delze dos Santos Laureano. O meio ambiente e o trabalho: a dignidade humana neste espaço. Internet: <www.ecodebate. com.br> (com adaptações). 06. (CESPE - Adaptada) ## O verbo “sejam” (l.5) tem como referente a expressão “direitos originários de necessidades humanas básicas” (l.5), o que justifica sua flexão no plural. Resposta: Errado Comentário: O referente em questão não pode ser o termo destacado na questão, pois ele está isolado por vírgulas. Na verdade, o referente para o sujeito é o termo composto “o direito de moradia e o de locomoção”. Isso é o que faz o verbo ser flexionado no plural. Como o sujeito é composto e anteposto ao verbo, o plural é obrigatório. 07. (CESPE) ##A alteração do vocábulo “distantes” (l.10) para “distante” manteria a correção e o sentido do texto. Resposta: Certo. Comentário: Essa é uma questão que focaliza a concordância nominal. A flexão do vocábulo para o singular indicaria um transição de classe gramatical. Da maneira como foi empregada, a palavra se apresenta como um adjetivo, por isso, está flexionada no plural. Se estivesse no singular, poder-se- ia classificá-la como um advérbio de lugar. Por isso, permanece no singular. Os efeitos da seca espalham-se no campo e são visíveis nos incontáveis animais mortos por onde passam as rodovias sertanejas. Uma cena trágica e recorrente. Foi assim por todo o século XX, com momentos de extrema gravidade: no começo da década de 30 e em dois períodos da década de 50. Situação semelhante àquela que vemos hoje no Semiárido, com apenas uma diferença: nas secas passadas, além dos animais mortos, havia as levas de flagelados fugindo para São Paulo ou sobrevivendo de saques nas feiras livres ou no comércio das cidades do interior. No mais, a reprodução é fiel na morteem massa dos animais, com tremenda repercussão na economia. Balanço da Secretaria de Agricultura de Pernambuco mostra que, em 600 propriedades do Agreste e do Sertão, a estiagem já havia provocado a morte de 168.356 animais. Neste momento, seguramente, o número cresceu, o que é um escândalo. Principalmente quando se sabe que a mortandade reduziu a produção de leite em 72% e causou prejuízos reais da ordem de R$ 1,5 bilhão. Editorial. Jornal do Commercio (PE), 11/4/2013 (com adaptações). 08. (CESPE) ## Na expressão “R$ 1,5 bilhão” (l.18), devido ao fato de “1,5” corresponder a mais de um inteiro, seria gramaticalmente correto substituir “bilhão” por bilhões. Resposta: Errado. Comentário: A concordância deve ser realizada com o numeral que representa o valor inteiro, ou seja, com a ideia do numeral “1”. O fato de haver a fração representada no numeral não exige concordância com o valor segmentado. -------------------------- ------------------------ Dependerá da adesão dos demais ministros o êxito de um apelo feito pelo presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), para que seja extinta a prática de 95 LÍNGUA PORTUGUESA esconder os nomes de investigados em inquéritos criminais na mais alta corte do país. Ele defende que o STF deve livrar-se do costume de manter identidades em segredo, ou estará contrariando todos os esforços em busca de maior transparência. Enfatiza o ministro que o bom senso recomenda a mudança, mesmo que alguns dos integrantes do Supremo defendam a manutenção do procedimento adotado em 2010. É ultrapassado o entendimento de que, ao não identificar os investigados, o STF estaria protegendo pessoas que, no desfecho dos processos, poderiam vir a ser absolvidas ou ter seus casos arquivados. Por essa norma, os investigados são identificados apenas pelas iniciais, como se o STF estivesse, de alguma forma, resguardando acusados de algum delito. Assegura o presidente que a presunção de inocência não justifica o que define como “opacidade que prevalece no âmbito dos processos criminais no Supremo”. Reverter essa restrição significa, segundo a argumentação do ministro, ser transparente não só para a justiça, mas também para toda a sociedade. Zero Hora, 8/4/2013. 09. (CESPE - Adaptada) ## A substituição de “vir a ser” (l.8-9) por virem a serem prejudicaria a correção gramatical do período. Resposta: Certo. Comentário: Na locução verbal em questão, apenas o verbo auxiliar deve ser empregado no plural, ou seja, a forma correta é “virem a ser”. Isso ocorre, porque o verbo principal “ser” está antecedido de uma preposição, o que impossibilita sua flexão. Além disso, a regra geral de concordância com locuções verbais ensina que o verbo auxiliar serve para receber as flexões de tempo, modo, número e pessoa, a fim de indicar como se dá a concordância do verbo. O respeito às diferentes manifestações culturais é fundamental, ainda mais em um país como o Brasil, que apresenta tradições e costumes muito variados em todo o seu 4 território. Essa diversidade é valorizada e preservada por ações da Secretaria da Identidade e da Diversidade Cultural (SID), criada em 2003 e ligada ao Ministério da Cultura. Cidadãos de áreas rurais que estejam ligados a atividades culturais e estudantes universitários de todas as regiões do Brasil, por exemplo, são beneficiados por um dos 10 projetos da SID: as Redes Culturais. Essas redes abrangem associações e grupos culturais para divulgar e preservar suas manifestações de cunho artístico. O projeto é guiado por 13 parcerias entre órgãos representativos do Estado brasileiro e as entidades culturais. A Rede Cultural da Terra realiza oficinas de capacitação, cultura digital e atividades ligadas às artes plásticas, cênicas e visuais, à literatura, à música e ao artesanato. Além disso, mapeia a memória cultural dos trabalhadores do campo. A Rede Cultural dos Estudantes promove eventos e mostras culturais e artísticas e apoia a criação de Centros Universitários de Cultura e Arte. Culturas populares e indígenas são outro foco de atenção das políticas de diversidade, havendo editais públicos de premiação de atividades realizadas ou em andamento, o que 25 democratiza o acesso a recursos públicos. O papel da cultura na humanização do tratamento psiquiátrico no Brasil é discutido em seminários da SID. Além 28 disso, iniciativas artísticas inovadoras nesse segmento são premiadas com recursos do Edital Loucos pela Diversidade. Tais ações contribuem para a inclusão e socializam o direito à 31 criação e à produção cultural. 96 LÍNGUA PORTUGUESA A participação de toda a sociedade civil na discussão de qualquer política cultural se dá em reuniões da SID com 34 grupos de trabalho e em seminários, oficinas e fóruns, nos quais são apresentadas as demandas da população. Com base nesses encontros é que podem ser planejadas e desenvolvidas 37 ações que permitam o acesso dos cidadãos à cultura e a promoção de suas manifestações, independentemente de cor, sexo, idade, etnia e orientação sexual. Identidade e diversidade. Internet: <www.brasil.gov.br/sobre/cultura/>(com adaptações). 10. (CESPE - Adaptada) ## A correção gramatical do texto seria mantida caso as formas verbais “promove” e “apoia” (l.13) fossem flexionadas no plural, para concordar com o termo mais próximo, “dos Estudantes” (l.12). Resposta: Errado. Comentário: As formas verbais estão no plural, porque concordam com o referente para o núcleo do sujeito, que se trata da palavra “Rede”. A possibilidade suscitada pela questão diz respeito à regra de concordância com sujeito formado por “ex- pressão partitiva seguida de nome no plural”. Ocorre que, na sentença, não há expressão partitiva, logo, haveria erro gramatical se a concordância mencionada fosse realizada. 11. (CESGRANRIO – Adaptada) ## Na abordagem da concordância verbal, as gramáticas apresentam casos em que o verbo fica invariável, por ser considerado “impessoal”. O exemplo do texto em que o verbo grifado encontra-se no singular por ser impessoal é: a) “Será árduo garimpar os números da família, amigos, contatos profissionais.” b) “Eu os buscarei, é óbvio.” c) “Há alguns anos...” d) “Vejo motoristas de táxi...” e) “A maioria dos chefes sente-se no direito...” Resposta: C Comentário: Em “a”, o sujeito do verbo “ser” é oracional (garimpar...); em “b”, o sujeito é o pronome “eu”; em “c” o verbo é impessoal, pois se trata do verbo “haver” na acepção de “tempo transcorrido”; em “d” o sujeito é oculto; em “e”, o sujeito é a expressão “A maioria dos chefes”. 12. (UFMT – Adaptada) ## Uma das características de um texto de ordem prática, como ordens de serviço e ofício, é o respeito à concordância nominal preconizada pela norma culta da língua. Assinale a alternativa que NÃO apresenta concordância adequada. a) A empresa está determinada a oferecer alojamento e alimentação apropriados. b) O sinal para que os funcionários se dirijam ao refeitório soa exatamente ao meio-dia e meia. c) A coordenadora do RH está meia sobrecarregada de tantos contratos novos. c) É proibida a entrada de estranhos ao compartimento de máquinas. Resposta: C Comentário: A palavra “meio” é um advérbio, logo, trata-se de uma palavra invariável. Isso quer dizer não é possível fazer a flexão desse elemento. A forma correta seria “A coordenadora do RH está MEIO sobrecarregada de tantos contratos novos”. 97 LÍNGUA PORTUGUESA 13. (VUNESP – Adaptada) ## Considerando as regras de concordância nominal e verbal, de acordo com a norma-padrão da língua portuguesa, assinale a alternativa correta. a) A comunicação e a confiança dos filhos serão aumentadas se os pais responderem às perguntas feitas por eles com clareza e simplicidade. b) A comunicação e a confiança dos filhos será aumentadas se os pais responderem às perguntas feitas por eles com clareza e simplicidade. c) A comunicação e a confiançados filhos será aumentada se os pais responderem às perguntas feitas por eles com clareza e simplicidade. d) A comunicação e a confiança dos filhos serão aumentada se os pais responderem às perguntas feitas por eles com clareza e simplicidade. e) A comunicação e a confiança dos filhos serão aumentadas se os pais responderem às perguntas feita por eles com clareza e simplicidade. Resposta: A Comentário: Como o sujeito da sentença é composto e está anteposto ao verbo (A comunicação e a confiança dos filhos), a forma verbal deve ser empregada no plural, o que resultará em “serão aumentadas”. Além disso, a palavra “feitas” deve concordar com o substantivo “perguntas”, a fim de manter a correção gramatical. 14. (VUNESP – Adaptada) ## Assinale a alternativa correta quanto à concordân-cia verbal e nominal. a) Muito frequente, o desrespeito às leis e o consumo de álcool antes de dirigir tem provocado cada vez mais acidentes de trânsito. b) Com a nova lei seca e o aumento da fiscalização, espera-se que diminua os acidentes provocados por motoristas embriagados. c) Com a nova lei seca, tem sido intensificado a apreensão de carteiras de motorista e a condenação de condutores embriagados que se envolvem em acidentes. d) Insatisfeitos, alguns juristas têm reclamado do fato de, segundo eles, a nova lei possuir alguns conceitos pouco precisos. d) A fiscalização passa a ser considerado de fundamental importância para que a nova lei seca possa cumprir o seu papel. Resposta: D Comentário: Em “A”, o verbo “ter” deve receber o acento circunflexo para concordar com o sujeito composto (o desrespeito às leis e o consumo de álcool); em “B”, o verbo “diminuir” deve ser empregado no plural para concordar com o núcleo do sujeito (acidentes); em “C”, a forma correta seria “têm sido intensificadas”, a fim de concordar com o sujeito composto, que possui dois núcleos femininos; em “D”, a concordância está correta; em “E”, o termo “considerado” deveria ser empregado no feminino para concordar com a expressão “A fiscalização”. 15. (FCC – Adaptada) ## A concordância verbal está correta em: a) Haviam pessoas que não se importavam com seus vizinhos de viagem, falavam alto ao celular. b) Os usuários pareciam gostarem daquela bagunça: o som alto, mesmo de qualidade duvidosa. c) Já fazem meses que entro no ônibus, no mesmo horário, com as mesmas pessoas que sempre falam ao celular. d) Sempre havia pessoas que não se importavam em expor sua vida particular, pareciam até se divertir. e) Sempre vai existir passageiros que se incomodem com o som alto e com músicas de gosto duvidoso. 98 LÍNGUA PORTUGUESA Resposta: D Comentário: Em “A”, o verbo deve ser empregado no singular, pois se trata de um verbo impessoal; em “B”, uma das formas de “pareciam gostarem” deveria ser empregada no singular. Isso ocorre em razão de, no emprego do verbo “parecer” com outro verbo no infinitivo, a regra exigir que uma das formas apenas ceda à concordância, ou seja, se houver um sujeito no plural, apenas um dos verbos pode ser flexionado. Em “C”, o verbo “fazer” é impessoal (pois se trata de tempo transcorrido) e deve ser empregado no singular. Em “D”, a concordância está correta, pois o verbo “haver” foi empregado de forma impessoal (no sentido de “existir”). Em “E”, o verbo deveria ser empregado no plural, pois o sujeito possui como núcleo um substantivo no plural (passageiros). 16. (FCC – Adaptada) ## Considere: Já ...... muitas pessoas no ônibus. Dali ...... pouco o falatório ao telefone aborreceria muitos dos passageiros. Eles já estavam ...... incomodados pelo provável barulho. ...... dias que enfrentavam esse problema, sendo- lhes ...... as reclamações pela possibilidade de desentendimento. Portanto, ...... de suportar o desconforto. Preenchem, corretamente, as lacunas do texto: a) havia - a - meio - Fazia - proibidas - haviam b) haviam - a - meia - Fazia - proibido - havia c) haviam - há - meio - Faziam - proibidas - haviam d) havia - há - meia - Fazia - proibido - haviam e) havia - a - meio - Fazia - proibidas - havia Resposta: A 17. (FCC – Adaptada) ## As normas de concordância estão plenamente respeitadas na frase: a) Lentes que refratam as ondas eletromagnéticas emitidas pelo calor permite divisar com clareza o movimento de corpos em meio ao breu da noite. b) Cada um dos órgãos sensoriais que nos ligam ao mundo têm uma função específica. c) A maior parte das ondas sonoras que perpassa o nosso caminho (celulares, rádios, TVs etc. ) é inaudível para os ouvidos humanos. d) Apenas alguns poucos animais, como o cão, consegue escutar sons como as ondas hertzianas. e) As vibrações sonoras que o morcego é capaz de perceber se situa fora do alcance do ouvido humano. Resposta: Comentário: Em “A”, o verbo deveria ser flexionado para o plural, em vista de o núcleo do sujeito ser a palavra “Lentes”. Em “B”, o sujeito é formado pela expressão “Cada um”, nesse caso o verbo deve ficar no singular. Em “C”, o sujeito é formado por uma expressão partitiva (a maior parte de) seguida de um substantivo no plural (os órgãos sensoriais), nesse caso há dupla possibilidade de concordância. Em “D”, o núcleo do sujeito do verbo “conseguir” está no plural (animais), logo, o verbo deve ir ao plural. Em “E”, o sujeito do verbo “situar” está no plural (As vibrações sonoras), logo, o verbo deve ir para o plural. -------------------------- ------------------------ Há evidências de que a oferta de medicação domiciliar pelas operadoras de planos de sa-úde traz efeito positivo aos beneficiários: todas as normas da ANS primam pela pesquisa baseada em evidências científicas nacionais e internacionais e 99 LÍNGUA PORTUGUESA buscam a qualidade da sa-úde oferecida aos beneficiários dos planos de saúde, bem como o equilíbrio do setor. 18. (CESPE - Adaptada) ## A forma verbal “traz” está no singular porque con-corda com o núcleo de seu sujeito: “a oferta”. Resposta: Certo. Comentário: Na sentença, o verbo “trazer” possui como sujeito a expressão “a oferta de medicação domiciliar pelas operadoras de plano de saúde”, cujo sujeito é o substantivo “oferta”, que está no singular. Diante disso, faz-se a concordância no singular. Os fragmentos que constituem os itens seguintes foram adaptados de trechos de notícias do sítio da OIT na Internet. Julgue- os no que se refere à correção gramatical. 19. (CESPE – Adaptada) ## Antes da crise mundial, as diferenças entre homens e mulheres, no que diz respeito ao desemprego e à relação emprego-população, havia se atenuado. Nas economias avançadas, a crise parece haver afetado aos homens nos setores que dependem do comércio mais do que as mulheres, que trabalham em saúde e educação. Nos países em desenvolvimen-to, as mulheres foram particularmente afetadas nos setores relacionados ao comércio. Resposta: Errado. Comentário: Nesse parágrafo, o verbo “haver” deveria ser empregado no plural, uma vez que funciona como o auxiliar do verbo “atenuar”, que está apassivado na sentença. Como o sujeito paciente da sentença está no plural, a correção prescreve a concordância no plural. -------------------------- ------------------------ Julgue se os trechos abaixo, adaptados de O Globo de 17/7/2012, estão corretos e adequa-dos à língua escrita formal. 20. (CESPE – Adaptada) ## Viemos informar que o Ministério Público Eleitoral, até a semana passada, haviam pedido a impugnação de 349 candidaturas — não apenas com base na Ficha Limpa —, das quais 316 para vereador, 23 para vice-prefeito e dez para prefeito. Resposta: Errado. Comentário: Nesse parágrafo, o verbo “haver” deveria ser empregado no singular, porque seu sujeito está no singular (a expressão Ministério Público Eleitoral). A experiência cultural das sociedades, em nossa época, é cada vez mais moldada e "globalizada" pela transmissão e difusão das formas significativas, visuais ediscursivas, via meios de comunicação de massa. Conquanto o desenvolvimento dos meios de comunicação tenha tornado absolutamente frágeis os limites que separavam o público do privado, assiste-se hoje a uma nova tendência de politização e visibilidade do privado, com a estruturação de novas relações familiares, bem como à privatização do público. Faz- se necessário frisar que o imaginário social acompanha lentamente essa evolução, nem sempre aceitando o rompimento dos costumes fortemente arraigados. Vera Lúcia Pires. A identidade do sujeito feminino: uma leitura das desigualdades. In: M. I. Ghilardi-Lucena (Org.). Representações do feminino. PUC: Átomo, 2003, p. 209 (com adaptações). 01. (CESPE – Adaptada) ## Na linha 4, o uso do sinal indicativo da crase em "à privatização" mostra que o conectivo "bem como" introduz um segundo complemento ao verbo assistir. EMPREGO DO SINAL INDICATIVO DE CRASE 100 LÍNGUA PORTUGUESA Resposta: Certo Comentário: Como a expressão “bem como” se trata de uma locução conjuntiva aditiva, entende-se que ela estabelece uma relação de soma na sentença. Além disso, basta verificar a presença da preposição introduzindo o primeiro complemento do verbo assistir, para compreender que se trata de um verbo transitivo indireto. Para manter o paralelismo, deve-se empregar outra preposição “a”, o que gera o acento grave. 02. (ESAF – Adaptada) ## O texto abaixo foi transcrito com adaptações. Assinale a opção que manteve o emprego correto do sinal indicativo de crase. Interessa à (1) todo o País, por sua importância para à (2) produção, à (3) criação de empregos e o desenvolvimento, a agenda levada ao Congresso pelo presidente da Confederação Nacional da Indústria − CNI. Ao apresentar uma lista de 131 projetos considerados favoráveis ou prejudiciais ao setor, ele cobrou dos parlamentares, como de costume, atenção urgente às (4) questões de grande relevância para à (5) economia, especialmente numa fase de crise internacional. (Editorial, O Estado de S. Paulo, 29/3/2012) a) 1 b) 2 c) 3 d) 4 e) 5 Resposta: D Comentário: Em “A”, não deve haver o acento grave, pois o “a” antecede um pronome indefinido. Em “B”, não deve haver acento grave, pois a preposição “para” já foi aplicada, o que dispensa a preposição “a”. Em “C”, o acento grave não deve ser empregado, pois o “a” é apenas um artigo antecedendo um substanti-vo nuclear de um sujeito. Em “D”, o acento grave foi corretamente empregado, pois se trata de um complemento do termo “atenção”, o qual foi introduzido pela preposição. Em “E”, não se emprega o acento grave, pois a preposição para já foi empregada. -------------------------- ------------------------ Ismael odiava beijos em público. Era uma coisa que o deixava perturbado desde a infância na casa dos seus pais. Mas vibrava de alegria ao ficar sabendo de eventual repressão a algum beijoqueiro. A notícia que ouviu pelo rádio, na casa de um vizinho, sobre o jogador de vôlei que havia sido repreendido por um membro da organização do Mundial de Clubes de Vôlei por beijar em público sua mulher, após a conquista de um título, deixou-o simplesmente eufórico. Os amigos ficavam espantados diante dessa insólita situação, mesmo porque, aos 17 anos, poderia facilmente arrumar uma namorada - e beijá-la à vontade, se fosse o caso. Não era o caso, ele achava o beijo em público uma conduta afrontosa. Jurava para si próprio que jamais casal algum se beijaria perto dele. Mas como evitar que isso acontecesse? Não poderia, claro, recorrer à violência, conforme conselho recebido de alguns professores que elogiavam essa sua ideia sobre o beijo. Eles evitavam atos de violência. Teria de recorrer a algum meio eficiente, mas não agressivo para expressar a sua repulsa. E aí lhe ocorreu: a tosse! Uma forma fácil de advertir pessoas inconvenientes. Naquele mesmo dia fez a primeira experiência. Avistou, na escola, um jovem casal se beijando. Colocou-se atrás dos jovens e começou a tossir escandalosamente - até que eles pararam. O rapaz, depois de uma breve reclamação, levantou-se e saiu resmungando. 101 LÍNGUA PORTUGUESA Mas a moça, que, aliás, já conhecia, Sofia, moradora da sua rua, olhou-o até com simpatia. Ele estranhou. Deu as costas e foi embora. À noite, estava sozinho em casa, quando alguém bateu à porta. Abriu, era Sofia. Sorrindo, ela lhe estendeu um frasco: era xarope contra a tosse. Num impulso, ele puxou-a para si e deu-lhe um doce e apaixonado beijo. O primeiro e decisivo beijo de sua vida. Estão namorando (e beijando muito). Quanto ao xarope, deu-o a um amigo. Descobriu o que é bom para a tosse, ao menos para a tosse que nasce da neurose: é o beijo. Grande, grande remédio! (Moacyr Scliar, Folha de S.Paulo, 16.11.09. Adaptado) 03. (VUNESP – Adaptada) ## Na questão, assinale a alternativa que preenche, correta e respectivamente, os espaços das frases. Com as amigas, Sofia começou_________ falar sobre algumas atitudes__________não gostava. a) à ... que b) a ... de que c) à ... com que d) à ... de que e) a ... com que Resposta: B Comentário: Não se deve empregar o acento grave no “a” em razão de estar diante de um verbo. Além disso, a forma correta deve ser com uma preposição “de” proveniente do verbo “gostar”. A forma resultante é “atitudes de que não gostava”. -------------------------- ------------------------ O ABCerrado e a Matomática (“matemática do mato”), metodologias criadas por um professor da UnB, apoiam- se em dois princípios: o da elevação da autoestima de alunos e professores e o do envolvimento com o meio ambiente para a construção, de forma lúdica e interdisciplinar, da cidadania e do respeito mútuo. “Fazemos a aproximação por meio de elementos do contexto onde as crianças estão inseridas. As atividades de leitura, interpretação e escrita associam-se ao tema do cerrado na forma de poesias, música, desenho, pintura e jogos”, explica uma professora da Faculdade de Educação da UnB. Atualmente, a universidade trabalha para expandir a aplicação do ABCerrado na rede de ensino do DF. “Ainda prevalece uma visão conservadora sobre o que é educação”, conta a professora. “A natureza possui uma dimensão formadora. Isso subverte a forma de se tratar a relação entre o ser humano e o meio ambiente no cerne de um processo educativo. Não se trata de educar o ser humano para o domínio e a apropriação da natureza, mas de educar a humanidade para ser capaz de trocar e de aprender com ela”, completa. João Campos. O ABC do cerrado. In: Revista Darcy, jun./2012 (com adaptações) 04. (CESPE – Adaptada) ## Sem prejuízo da correção gramatical do texto, o período ‘As atividades (...) jogos’ (l.4-5) poderia ser reescrito da seguinte maneira: Às atividades de leitura, interpretação e escrita associa- se o tema do cerrado na forma de poesias, música, desenho, pintura e jogos. Resposta: Certo Comentário: Para essa questão, basta perceber que o termo em questão, ao receber o acento indicativo de crase, passa a desempenhar a função de objeto indireto do verbo associar. Como o termo possuía um artigo no início, o acréscimo da preposição gera um caso de crase. 102 LÍNGUA PORTUGUESA Ao apresentar a perspectiva local como inferior à perspectiva global, como incapaz de entender, de explicar e, em última análise, de tirar proveito da complexidade do mundo contemporâneo, a concepção global atualmente dominante tem como objetivo fortalecer a instauração de um único código unificador de comportamento humano, e abre o caminho para a realização do sonho definitivo de economias globais de escala. Como resultado deste processo, o "modelo econômico" alcança sua perfeição, que não é somente descrever o mundo, mas efetivamente governá-lo. E esta é a essência mesma do paradigma moderno de desenvolvimento e de progresso, cujo estágio supremo de perfeição a globalização representa. Fica claro quea escala não poderia ser melhor ou maior do que sendo global e é somente neste nível que a sua primazia e universalidade são finalmente afirmadas, junto com a certeza de que jamais poderia surgir alguma alternativa viável ao sistema ideologicamente dominante fundado no livre mercado, dada a ausência de qualquer cultura ou sistema de pensamento alternativo. Se virmos o fenômeno da globalização sob esta luz, creio que não poderemos escapar da conclusão de que o processo é totalmente coerente com as premissas da ideologia econômica que têm se afirmado como a forma dominante de representação do mundo ao longo dos últimos 100 anos, aproximadamente. A globalização não é, portanto, um acontecimento acidental ou um excesso extravagante, mas uma extensão simples e lógica de um "argumento". Parece realmente muito difícil conceber um resultado final que fizesse mais sentido e fosse mais coerente com as bases ideológicas sobre as quais está fundado. Em suma, a globalização representa a realização acabada e a perfeição do projeto de modernidade e de seu paradigma de progresso. G. Muzio. A globalização como o estágio de perfeição do paradigma moderno: uma estratégia possível para sobreviver à coerência do processo. Trad. Luís Cláudio Amarante. In: Francisco de Oliveira e Maria Célia Paoli (Org.). Os sentidos da democracia. Políticas do dissenso e hegemonia global. 2.ª ed. Petrópolis - RJ: Vozes; Brasília: NEDIC, 1999, p. 138-9 (com adaptações). 05. (CESPE – Adaptada) ## Mantém a correção gramatical do texto a seguinte reescrita do trecho "e abre o caminho para a realização": e deixa aberto o caminho à realização. Resposta: Certo Comentário: A correção gramatical será mantida pois ainda haverá uma preposição indicando finalidade (a preposição “a”), ocorre que, nesse caso, haverá a necessidade de inserir o acento grave. -------------------------- ------------------------ A moralidade pública consiste em uma esfera de que todos os seres humanos participam, na medida em que cada sistema moral, a fim de revelar sua unilateralidade, precisa ser confrontado com outros. Segue- se a necessidade de que todos os seres humanos sejam incluídos no seu âmbito. Sob esse aspecto, a moral pública é uma moral cosmopolita, pois estabelece regras de convivência e direitos que asseguram que os homens possam ser morais. É nesse sentido que os direitos do homem, tais como em geral têm sido enunciados a partir do século XVIII, estipulam condições mínimas do exercício da moralidade. Por certo, cada um não deixará de aferrar-se à sua moral; deve, entretanto, aprender a conviver com outras, reconhecer a unilateralidade de seu ponto de vista. E com isso obedece à sua pró- pria moral de uma maneira especialíssima, 103 LÍNGUA PORTUGUESA tomando os impeditivos categóricos dela como um momento particular do exercício humano de julgar moralmente. José Arthur Gianotti. Moralidade pública e moralidade privada. In: Ética, Adauto Novaes (org.). São Paulo: Compa-nhia das Letras, Secretaria Municipal de Cultura, 5.ª impressão, 1997, p. 244 (com adaptações). 06. (CESPE – Adaptada) ## Caso o sinal indicativo de crase nas ocorrências "aferrar-se à sua moral" e "obedece à sua própria moral" seja retirado, os períodos permanecem gramaticalmente corretos, uma vez que os verbos "aferrar" e "obedecer" apresentam transitividade indireta e o elemento que se mantém é a preposição necessária à regência. Resposta: Certo Comentário: O que justifica essa questão é uma regra de crase facultativa. Como os pronomes possessivos femininos não exigem que se anteponha um artigo, ainda permanece correta a sentença sem os acentos graves que estavam no período original. -------------------------- ------------------------ Em uma iniciativa inédita, dez grandes corporações assinaram um compromisso com o Fórum Econômico Mundial para divulgar regularmente o volume de suas emissões de gases poluentes. Com isso, elas se antecipam aos governos que ainda estão aguardando a entrada em vigor do protocolo de Kyoto. Pelo acordo, denominado Registro Mundial de Gases que Causam o Efeito Estufa, as multinacionais passam a informar o seu grau de poluição do meio ambiente, atendendo a expectativas de acionistas, que cobram mais transparência sobre o tema. Juntas, essas empresas são responsáveis pela emissão de 800 milhões de toneladas de dióxido de carbono por ano, o que representa cerca de 5% das emissões mundiais. O Globo, 23/1/2004, p. 30 (com adaptações). 07. (CESPE – Adaptada) ## Caso se optasse por às expectativas em lugar de "a expectativas", o período em que se encontra essa expressão continuaria atendendo às exigências da norma culta escrita. Resposta: Certo Comentário: A correção gramatical seria mantida, pois o verbo “atender” passaria a ter transitividade indireta e, nesse caso, o acento grave deveria ser empregado, como resultado da soma entre preposição e artigo. -------------------------- ------------------------ Em uma iniciativa inédita, dez grandes corporações assinaram um compromisso com o Fórum Econômico Mundial para divulgar regularmente o volume de suas emissões de gases poluentes. Com isso, elas se antecipam aos governos que ainda estão aguardando a entrada em vigor do protocolo de Kyoto. Pelo acordo, denominado Registro Mundial de Gases que Causam o Efeito Estufa, as multinacionais passam a informar o seu grau de poluição do meio ambiente, atendendo a expectativas de acionistas, que cobram mais transparência sobre o tema. Juntas, essas empresas são responsáveis pela emissão de 800 milhões de toneladas de dióxido de carbono por ano, o que representa cerca de 5% das emissões mundiais. O Globo, 23/1/2004, p. 30 (com adaptações). 08. (CESPE – Adaptada) ## Serão respeitadas as regras gramaticais se for utilizado o sinal indicativo de crase no "a" que precede "informar". Resposta: Errado. Comentário: De acordo com a prescrição gramatical, não é possível utilizar acento grave indicativo de crase antes de formas verbais. 104 LÍNGUA PORTUGUESA As categorias da ética A vida humana se caracteriza por ser fundamentalmente ética. Os conceitos éticos "bom" e "mau" podem ser predicados a todos os atos humanos, e somente a estes. Isso não ocorre com os animais brutos. Um animal que ataca e come o outro não é considerado maldoso, não há violência entre eles. Mesmo os atos de caráter técnico podem ser qualificados eticamente. Esses atos sempre servem para a expansão ou limitação do ser humano. Sob a perspectiva ética, o que importa nas ações técnicas não é a sua trama lógica, adequada ou eficiente para obter resultados, mas sim a qualificação ética desses resultados. A eficiência técnica segue regras técnicas, relativas aos meios, e não normas éticas, relativas aos fins. A energia nuclear pode ser empregada para o bem ou para o mal. Na verdade, ela é investigada, apurada e criada para algum resultado, que lhe confere validade. Não vale por si mesma, do ponto de vista ético. Pode valer pela sua eventual utilidade, como meio; mas o uso de energia nuclear, para ser considerado bom ou mau, deve referir-se aos fins humanos a que se destina. Vê-se, pois, que o plano ético permeia todas as ações humanas. Isso ocorre porque o homem é um ser livre, vocacionado para o exercício da liberdade, de modo consciente. Sem liberdade não há ética. A liberdade supõe a operação sobre alternativas; ela se concretiza mediante a escolha, a decisão, a consciência do que se faz. Isso implica refugir à determinação unilinear necessária, à determinação meramente causal. É a afirmação da contingência, da multiplicidade. Diante da multiplicidade de caminhos a nossa disposição, ava-liamos e escolhemos. Na verdade, somos obrigados a escolher. Somos obrigados a exercer a liberdade. Assim, a decisão supõe a possibilidade e, paradoxalmente, a necessidade de estimar as coisas e as ações humanas para atenderas nossas demandas; supõe a avaliação de múltiplos fatores que perfazem uma situação humana complexa. Aí, portanto, temos também compreendida a esfera do valor. Não há liberdade sem valoração. Essa esfera, entretanto, é muito ampla, pois envolve não só o mundo da ética, mas também o da utilidade, da estética, da religião etc. Sob o ângulo especificamente ético, não haverá escolha, exercício da liberdade, definição ética quando não houver avaliação, preferência a respeito das ações humanas. Eis por que na base da ética, como dissemos, encontram-se necessariamente a liberdade e a valoração; a ética só se põe no mundo da liberdade, da escolha entre ações humanas avaliadas. A escolha, a decisão, que é manifestação de nossa liberdade, só é possível tendo por fundamento o mundo axiológico, tanto quanto este tem por condição de possibilidade a liberdade. Não se pode estimar sem alternativas possíveis. Na medida em que se escolhe, se avalia para obter a consciência do que é preferido. Ao escolher um caminho, pondera- se que, de algum modo ou sob algum prisma, é o melhor em relação a outro; o caminho escolhido mata outras possibilidades. Na escolha não pode haver indiferença. Ela está dirigida à ação, à exteriorização, à tomada de posição. Isto significa que a escolha, a decisão, nos leva à determinação normativa ou imperativa de uma via em detrimento de outra. O mundo oferece resistências e determinações necessárias e, por meio destas, as ações éticas se realizam precisamente enquanto as contrariam. As ações éticas brilham justamente quando se opõem às tendências "naturais" do homem. Assim, a liberdade não só se contrapõe 105 LÍNGUA PORTUGUESA à necessidade, como sua negação, mas também existe em função desta. Não há liberdade sem necessidade. Não há ética sem impulsão, sem desejo. A melhor prova da liberdade é o esforço de superação da necessidade, afirmando-a e negando-a dialeticamente, a um só tempo. Então, o mundo ético só é possível no meio social, no bojo das determinações sociais. O fenômeno ético não é um acontecimento individual, existente apenas no plano da consciência pessoal. Isso porque o ente singular do homem só se manifesta, como ser autêntico, em suas relações universais com a sociedade e com a natureza. Esse fenômeno é resultante de relações sociais e históricas, compreendendo também o mundo das necessidades, da natureza. A ética só existe no seio da comunidade humana. Os homens ou grupos de homens que controlam a produção e os meios de circulação econômica dos bens possuem maior liberdade do que aqueles que não têm o poder desse controle. Por aí se vê também que a liberdade e a ética não se reduzem a fenômenos meramente subjetivos; elas têm sempre dimensões sociais, históricas e objetivas. Há, assim, um grande esforço, um esforço ético-político para se obter uma distribuição igualitária dos direitos entre os homens, quer dentro das comunidades, quer entre as comunidades. Na verdade existe uma ética sobre a ética, uma metaética. A metaética é utópica, crítica, subversiva e transcende as condições mais imediatas da vida social. No entanto, ela precisa ser possível no mundo dos fatos sociais, sob pena de se perder como uma utopia de meros sonhos. (Adaptado de ALVES, Alaôr Caffé. In: www. centrodebate.org) 09. (FGV – Adaptada) ## Dos trechos transcritos do texto, assinale aquele em que se poderia empregar opcionalmente o acento indicativo de crase. a) Preferência a respeito das ações humanas. b) Diante da multiplicidade de caminhos a nossa disposição. c) Na verdade, somos obrigados a escolher. d) Podem ser predicados a todos os atos humanos. e) Não se reduzem a fenômenos meramente subjetivos. Resposta: B Comentário: Em “A”, não se emprega acento grave, pois o termo subsequente à preposição é um substantivo masculino. Em “B”, o emprego do acento é facultativo, pois há um pronome possessivo feminino na locução “a nossa disposição”. Em “C”, não se emprega o acento grave em razão de o termo subsequente à preposição ser um verbo. Em “D”, não se emprega o acento grave em razão de o termo subsequente à preposição ser um pronome indefinido. Em “E”, não se emprega o acento grave, pois – além de o substantivo ser masculino – está no plural e não há anteposição de artigo em relação ao substantivo. -------------------------- ------------------------ Desenvolvimento, ambiente e saúde No documento Nosso Futuro Comum, preparado, em 1987, pela Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento das Nações Unidas, ficou estabelecido, pela primeira vez, novo enfoque global da problemática ecológica, isto é, o das inter-relações entre as dimensões físicas, econômicas, políticas e socioculturais. Desde então, vêm se impondo, entre especialistas ou não, a compreensão sistêmica do ecossistema hipercomplexo em que vivemos e a necessidade de uma mudança nos comportamentos predatórios 106 LÍNGUA PORTUGUESA e irresponsáveis, individuais e coletivos, a fim de permitir um desenvolvimento sustentável, capaz de atender às necessidades do presente, sem comprometer a vida futura sobre a Terra. O desenvolvimento, como processo de incorporação sistemática de conhecimentos, técnicas e recursos na construção do crescimento qualitativo e quantitativo das sociedades organizadas, tem sido reconhecido como ferramenta eficaz para a obtenção de uma vida melhor e mais duradoura. No entanto, esse desenvolvimento pode conspirar contra o objetivo comum, quando se baseia em valores, premissas e processos que interferem negativamente nos ecossistemas e, em consequência, na saúde individual e coletiva. Paulo Marchiori Buss. Ética e ambiente. In: Desafios éticos, p. 70-1 (com adaptações). 10. (CESPE – Adaptada) ## O emprego do sinal indicativo de crase em "às necessidades" é obrigatório; a omissão desse sinal provocaria erro gramatical por desrespeitar as regras de regência estabelecidas pelo padrão culto da linguagem. Resposta: Errado Comentário: O acento grave não é obrigatório, pois o verbo “atender” não pode possuir mais de uma regência, o que não prejudica a correção gramatical da sentença. 11. (ESAF – Adaptada) ## Assinale a opção que preenche corretamente as lacunas. Os defensores de sistemas de iniciativa privada apontam _1_ ineficiência e__2___rigidez geralmente associadas _3_ burocracias governamentais (economias estatais) e sugerem que _4_ competição, longe de ser perdulária, age como um incentivo _5_ eficiência e ao espírito empreendedor, conduzindo _6_ queda de preços e _7_ produtos e serviços de melhor qualidade. (Adaptado de Enciclopédia Compacta de Conhecimentos Gerais - Isto É- p.204 e 205) a) à / a / as / a / à / à / a b) à / à / às / a / a / a / a c) a / à / as / à / a / a / à d) a / a / às / a / à / à / a d) a / a / as / à / à / à / à Resposta: D Comentário: Em “1” e “2”, não há acento grave, pois são dois artigos que antecedem substantivos e não há emprego de preposição. Em “3”, o acento grave se faz necessário em razão da combinação da preposição proveniente do termo “associadas” com o artigo plural que antecede o substantivo “burocracias”. Em “4”, não há acento grave, porque há apenas o artigo determinando o substantivo “competição”. Em “5”, o acento deve ser empregado pois há a preposição proveniente do substantivo “incentivo” associada ao artigo determinando o substantivo “eficiência”. Em “6”, o acento deve ser empregado em razão de haver uma preposição proveniente do verbo “conduzir” somada ao artigo definido antecedendo o substantivo “queda”. Em “7”, não se emprega a preposição, pois há apenas a preposição diante de um substantivo masculino. 12. (ESAF – Adaptada) ## Assinale a opção incorreta quanto à presença ou ausência do acento grave indicador de crase. a) Modelo de publicidade da TV aberta terá que ser adaptado à era digital. b) Compras ficarão à mão, bastando um clique no controle remoto.c) As emissoras guardam a sete chaves seus testes de comerciais interativos, pois à que 107 LÍNGUA PORTUGUESA chegar mais perto do que o consumidor deseja vai obter mais ganhos com a interatividade plena da TV digital. c) Os primeiros conversores aptos à interatividade plena (envio de dados às emissoras) devem chegar às lojas neste semestre. d) Como as emissoras vão adaptar a forma de fazer propaganda, hoje baseada em audiência, a uma nova realidade, que vai permitir a interação? (Com base em "Interatividade com sistema digital muda propaganda na TV", FSP, 6/1/2007, B4.) Resposta: C Comentário: O erro está na letra “C”, pois – na construção da sentença – o termo que ante-cede o pronome “que” é apenas um pronome demonstrativo, ou seja, não há preposição na sentença. Para confirmar esse fato, basta trocar a palavra “a” pelo pronome “aquela”. 13. (ESAF – Adaptada) ## Assinale a opção em que o uso do sinal indicativo de crase está correto. a) As propostas de reforma que vêm sendo discutidas desde 1997 têm também previsto à introdução de um outro imposto, de caráter seletivo, sobre certos bens e serviços. b) Várias delas têm incluído, ainda, imposto sobre vendas à varejo. c) À sua função não é tanto complementar a capacidade de arrecadação do imposto sobre valor adicionado, mas redistribuir à competência para tributar o valor adicionado dentro da federação. d) Função semelhante à desempenhada, em algumas propostas, pelo IVA dual, que envolve a coexistência de dois impostos sobre valor adicionado, um federal e outro estadual. e) Muitos passaram a lutar pela possibilidade de levar a frente à reforma tributária, nas li- nhas propostas no final de 1997. É hora de vencer o desalento e voltar as negociações. Resposta: D Comentário: Precisamos entender, nessa questão, o motivo de não haver acento grave nas demais alternativas: a) Não se emprega o acento grave, pois não há necessidade de preposição, tendo em vista que o verbo “prever” é transitivo direto. b) No adjunto adverbial “a varejo”, não há acento grave em razão de o núcleo do adjunto ser um substantivo masculino. c) Não há acento grave na construção “A sua função”, pois ela desempenha a função de sujeito do verbo “ser”. Como não pode haver sujeito introduzido por preposição, de acordo com os princípios gramaticais, não ocorre crase. d) Acento empregado corretamente. e) Não se emprega acento grave na expressão “a reforma tributária”, pois ela de-sempenha o papel de objeto direto do verbo “levar”, nesse caso, não há exigência de preposição e somente o artigo figura no trecho. -------------------------- ------------------------ Os sistemas de inteligência são uma realidade concreta na máquina governamental contemporânea, necessários para a manutenção do poder e da capacidade estatal. Entretanto, representam também uma fonte permanente de risco. Se, por um lado, são úteis para que o Estado compreenda seu ambiente e seja capaz de avaliar atuais ou potenciais adversários, podem, por outro, tornar-se ameaçadores e perigosos para os próprios cidadãos se forem pouco regulados e controlados. 108 LÍNGUA PORTUGUESA Assim, os dilemas inerentes à convivência entre democracias e serviços de inteligência exigem a criação de mecanismos eficientes de vigilância e de avaliação desse tipo de atividade pelos cidadãos e(ou) seus representantes. Tais dilemas decorrem, por exemplo, da tensão entre a necessidade de segredo governamental e o princípio do acesso público à informação ou, ainda, do fato de não se poder reduzir a segurança estatal à segurança individual, e vice-versa. Vale lembrar que esses dilemas se manifestam, com intensidades variadas, também nos países mais ricos e democráticos do mundo. Marco Cepik e Christiano Ambros. Os serviços de inteligência no Brasil. In: Ciência Hoje, vol. 45, n.º 265, nov./2009. Internet: <cienciahoje.uol.com.br> (com adaptações). 14. (CESPE – Adaptada) ## O uso do sinal indicativo de crase no trecho "os di-lemas inerentes à convivência" não é obrigatório. Resposta: Errado Comentário: O adjetivo “inerente” exige o emprego da preposição “a” para introduzir um complemento nominal. Como o substantivo “convivência” está determinado pelo artigo, o acento grave é obrigatório. -------------------------- ------------------------ A visão do sujeito indivíduo - indivisível - pressupõe um caráter singular, único, racional e pensante em cada um de nós. Mas não há como pensar que existimos previamente a nossas relações sociais: nós nos fazemos em teias e tensões relacionais que conformarão nossas capacidades, de acordo com a sociedade em que vivemos. A sociologia trabalha com a concepção dessa relação entre o que é "meu" e o que é "nosso". A pergunta que propõe é: como nos fazemos e nos refazemos em nossas relações com as instituições e nas relações que estabelecemos com os outros? Não há, assim, uma visão de homem como uma unidade fechada em si mesma, como Homo clausus. Estaríamos envolvidos, constantemente, em tramas complexas de internalização do "exterior" e, também, de rejeição ou negociação próprias e singulares do "exterior". As experiências que o homem vai adquirindo na relação com os outros são as que determinarão as suas aptidões, os seus gostos, as suas formas de agir. Flávia Schilling. Perspectivas sociológicas. Educação & psicologia. In: Revista Educação, vol. 1, p. 47 (com adaptações). 15. (CESPE – Adaptada) ## A inserção do sinal indicativo de crase em "existi-mos previamente a nossas relações sociais" preservaria a correção gramatical e a coerência do texto, tornando determinado o termo "relações". Resposta: Errado Comentário: A sentença ficaria incorreta, pois o artigo a ser empregado deve estar no plural, a fim de estabelecer uma relação de concordância nominal com o núcleo da expressão, que é a palavra “relações”. Na construção em questão, não houve o emprego do artigo, o que inviabiliza a presença do acento grave. -------------------------- ------------------------ Da impunidade O homem ainda não encontrou uma forma de organização social que dispense regras de conduta, princípios de valor, discriminação objetiva de direitos e deveres comuns. Todos nós reconhecemos que, em qualquer atividade humana, a inexistência de parâmetros normativos implica o estado de barbárie, no qual prevalece a mais dura e irracional das justificativas: a lei do mais forte, também conhecida, não por acaso, como "a lei da selva". É nessa condição que vivem os animais, relacionando-se sob o exclusivo impulso dos instintos. Mas o homo 109 LÍNGUA PORTUGUESA sapiens afirmou-se como tal exatamente quando estabeleceu critérios de controle dos impulsos primitivos. Variando de cultura para cultura, as regras de convívio existem para dar base e estabilidade às relações entre os homens. Não decorrem, aliás, apenas de iniciativas reconhecidas simplesmente como humanas: podem apresentar-se como manifestações da vontade divina, como valores supremos, por vezes apresentados como eternos. Os dez mandamentos ditados por Deus a Moisés são um exemplo claro de que a religião toma para si a tarefa de orientar a conduta humana por meio de princípios fundamentais. No caso da lei mosaica, um desses princípios é o da interdição: "Não matarás", "Não cobiçarás a mulher do próximo" etc. Ou seja: está suposto nesses mandamentos que o ponto de partida para a boa conduta é o reconhecimento daquilo que não pode ser permitido, daquilo que representa o limite de nossa vontade e de nossas ações. Nas sociedades modernas, os textos constitucionais e os regulamentos de todo tipo multiplicam-se e sofisticam-se, mas permanece como sustentação delas a ideia de que os direitos e os deveres dizem respeito a todos e têm por finalidade o bem comum. Para garantia do cumprimento dos princípios, instituem-se as sanções para quem os ignore. A penalidade aplicada ao indivíduotransgressor é a garantia da validade social da norma transgredida. Por isso, a impunidade, uma vez manifesta, quebra inteiramente a relação de equilíbrio entre direitos e deveres comuns, e passa a constituir um exemplo de delito vantajoso: aquele em que o sujeito pode tirar proveito pessoal de uma regra exatamente por tê-la infringido. Abuso de poder, corrupção, tráfico de influências, quando não seguidos de punição exemplar, tornam-se estímulos para uma prática delituosa generalizada. Um dos maiores desafios da nossa sociedade é o de não permitir a proliferação desses casos. Se o ideal da civilização é permitir que todos os indivíduos vivam e convivam sob os mesmos princípios éticos acordados, a quebra desse acordo é a negação mesma desse ideal da humanidade. (Inácio Leal Pontes) 16. (FCC – Adaptada) ## NÃO se justificam as ocorrências do sinal de crase em: a) Não me reporto à impunidade de um caso particular, mas àquela que se generaliza e dissemina a descrença na justiça dos homens. b) É difícil admitir que vivem à solta tantos delinquentes, sobretudo quando se sabe que pessoas inocentes são levadas à barra dos tribunais. c) O autor do texto faz menção à uma série de princípios de interdição, à qual teria proveniência na vontade divina. d) Assiste-se hoje à multiplicação de casos de impunidade, à descabida proliferação de maus exemplos de conduta social. e) Quem dá crédito à ação da justiça não pode deixar de trabalhar para que não se fur-tem às sanções os mais poderosos. Resposta: C Comentário: Não se emprega acento grave diante de palavra indefinida, como o artigo “uma” é indefinido, o acento foi erroneamente empregado. Além disso, não há exigência de preposição para anteceder o pronome relativo na sentença, portanto, não ocorre crase na sentença. -------------------------- ------------------------ Terra, território e diversidade cultural O voto do ministro Carlos Ayres Britto sobre a reserva Raposa/Serra do Sol evidencia a oportunidade de deixarmos para trás os resquícios de uma mentalidade colonial e termos um avanço histórico, 110 LÍNGUA PORTUGUESA rumo a uma política contemporânea que contemple o diálogo produtivo entre as diversas etnias e culturas que compõem um país de dimensões continentais como o Brasil. O voto deixa claro, ainda, que o respeito ao espírito e à letra da Constituição de 1988 é o caminho. O relator trouxe à luz o direito inalienável e imprescritível dos índios de viver nas terras que tradicionalmente ocupam e de acordo com suas próprias culturas. Trouxe, também, o valor de sua contribuição na formação da nacionalidade brasileira. O ministro mostrou que a afirmação das culturas dos primeiros enriquece a vida de todos nós. Basta lembrar o quanto sua relação positiva com a natureza tem ajudado na existência da floresta e da megadiversidade brasileira como um todo. Quem convive com eles sabe que os indígenas cooperam com as Forças Armadas para proteger a floresta de usos ilegais e ajudam no monitoramento das fronteiras. Dois pontos, entre vários outros relevantes abordados pelo voto do ministro, merecem destaque por suas implicações para a cultura brasileira. Em primeiro lugar, a distinção entre terra e território, que expressa a maneira sofisticada e inovadora por meio da qual a Constituição de 1988 solucionou juridicamente a relação entre as sociedades indígenas e o ambiente em que vivem. É sabido que a terra não pertence aos índios; antes, são eles que pertencem à terra. Por isso mesmo, a Carta Magna, reconhecendo a anterioridade dessa relação ao regime de propriedade, concedeu-lhes o usufruto das terras que ocupam, atribuiu o pertencimento delas à União e conferiu ao Estado o dever de zelar pela sua integridade. A Constituição de 1988 selou a convivência harmoniosa entre duas culturas, uma que reconhece e outra que não reconhece a apropriação da terra pelos homens. O segundo ponto refere-se à relação entre terra e cultura, que concerne à continuidade do território ou sua fragmentação em ilhas. Quem conhece a questão indígena no Brasil sabe que o rompimento da integridade territorial implica a morte do modo de vida e, portanto, da cultura e do modo de ser do índio. Se, em séculos passados, acreditou-se que os índios eram um arcaísmo, não é mais possível nem tolerável sustentar tal ponto de vista no século 21. Não só porque no mundo todo cresce a convicção da importância dos povos tradicionais para o futuro da humanidade, precisamente em virtude de sua relação específica com a terra e a natureza, mas também porque a sociedade do conhecimento, acelerada construção, não pode prescindir da diversidade cultural para seu próprio desenvolvimento. Na era da globalização, da cibernetização dos conhecimentos, das informações e dos saberes, não faz mais sentido opor o tradicional ao moderno, como se este último fosse melhor e mais avançado que o primeiro. Com efeito, proliferam na cultura contemporânea, de modo cada vez mais intenso, os exemplos de processos, procedimentos e produtos que recombinam o moderno e o tradicional em novas configurações. Se a China e a Índia hoje surgem no cenário internacional de modo surpreendente, é porque sabem articular inovadoramente a cultura ocidental moderna com seus antiquíssimos modos de pensar e agir, demonstrando que o desenvolvimento não se dá mais em termos lineares e que o futuro não se desenha desprezando e recalcando o passado. Por isso, o Brasil - cuja singularidade se caracteriza tanto por sua megadiversidade biológica quanto por sua grande sociodiversidade e rica diversidade cultural -, precisa urgentemente reavaliar esse patrimônio. Temos trabalhado com os 111 LÍNGUA PORTUGUESA povos indígenas no Ministério da Cultura e promovido a diversidade cultural como valor e expressão de uma democracia mais plena, em que cenas como a defesa da advogada indígena Joênia Batista de Carvalho Wapichna se tornem mais que exceções históricas. A soberania não se constrói com fantasmas nem paranoias, mas com a atualização de nossas forças e nossos potenciais. O ministro Ayres Britto tem razão ao sublinhar que não precisamos de outro instrumento jurídico além da Constituição de 1988. (Juca Ferreira e Sérgio Mamberti. Folha de São Paulo, 9 de setembro de 2008) 17. (FGV – Adaptada) ## "É sabido que a terra não pertence aos índios; antes, são eles que pertencem à terra." No período acima, utilizou-se corretamente o acento indicativo de crase antes da palavra terra. Assinale a alternativa em que isso não tenha ocorrido. a) Voltarei à terra natal. b) A sonda espacial retornará em breve à Terra. c) Quando chegamos à terra, ainda sentíamos em nosso corpo o balanço do mar. d) Eu me referia à terra dos meus antepassados. e) Havendo descuido, a areia será misturada à terra. Resposta: C Comentário: Quando a palavra “terra” for empregada no sentido de “solo”, não será empregado o acento grave indicativo de crase. É o que ocorre na alternativa “C”. 18. (FGV – Adaptada) ## Assinale a alternativa em que se tenha optado corretamente por utilizar ou não o acento grave indicativo de crase. a) Vou à Brasília dos meus sonhos. b) Nosso expediente é de segunda à sexta. c) Pretendo viajar a Paraíba. d) Ele gosta de bife à cavalo. e) Ele tem dinheiro à valer. Resposta: A Comentário: Em “A”, o acento foi corretamente empregado, porque o topônimo “Brasília” está determinado por um artigo definido e porque há a necessidade da preposição “a” pela regência do verbo “ir”. Em “B”, para manter o paralelismo, é preciso retirar o acento grave, uma vez que não há artigo antes do termo “segunda”. Em “C”, deveria haver o acento, pois o topônimo “Paraíba” exige a presença do artigo definido feminino. Em “D”, não há acento grave, pois – na locução adverbial em questão – o núcleo é masculino. Como não se trata da expressão “à moda de”, o acento grave não deve ser empregado.Em “E”, não deve haver o acento grave, pois não se emprega tal acento diante de verbos. -------------------------- ------------------------ Corrupção, ética e transformação social Em toda História do Brasil, talvez nunca tenhamos visto um momento em que notícias de corrupção tenham sido tão banais nos meios de comunicação, e tão discutidas por grande parte da população. Em qualquer lugar (mesmo que seja um ônibus, por exemplo), sempre há alguém falando sobre a crise na saúde, a crise na educação e, inclusive, a crise ética na política brasileira. 112 LÍNGUA PORTUGUESA Contudo, é preciso notar também que, muitas vezes, enquanto cidadãos, nós mesmos raramente decidimos fazer alguma coisa pela transformação da realidade - isso, quando fazemos algo. Certo comodismo nos toma de assalto e reveste toda a nossa fala de uma moral vazia, estéril, que se reduz à crítica que não busca alterar a realidade. Afinal de contas, em época de eleições, como a que estamos prestes a vivenciar, nós notamos nas propagandas políticas dos partidos a presença dos mesmos políticos e das mesmas propostas políticas, as mesmas já prometidas nas eleições anteriores, e que jamais foram executadas. Logicamente há as exceções de certos governantes que fazem por onde efetivar suas promessas, mas esses, infelizmente, continuam sendo uma minoria em todo o Brasil. Numa outra perspectiva, é interessante perceber também quão contraditória consiste ser a distância entre o que nós criticamos em nossos políticos e as ações que nós reproduzimos em nosso cotidiano. De uma forma ou de outra, reproduzimos a corrupção que nós percebemos na administração pública nacional quando empregamos o chamado jeitinho brasileiro, em que o peso de um sobrenome ou o peso da influência do status social passa a ser um dos elementos determinantes para a obtenção de certos fins. É nesse sentido que podemos apontar aqui um grave problema social brasileiro, uma das principais bases para se buscar o fim da corrupção política no Brasil: a existência de uma ética baseada em uma falta de ética. Como poderemos superar essa incongruência? Com certeza, a Educação pode ser a saída ideal. Mas tem de ser uma Educação voltada para desenvolver nas crianças, nos jovens e até mesmo nos universitários - independentemente de frequentarem instituições públicas ou privadas - uma preocupação para com o bem público, isto é, para com a sociedade. Uma Educação que os leve a superar uma concepção de mundo utilitarista, segundo a qual toda sociedade humana não passa de um somatório de indivíduos e seus interesses pessoais, que tão bem se acomoda ao jeitinho brasileiro, será o primeiro passo para se desenvolver uma sociedade mais justa, uma sociedade em que a preocupação com o público, com o coletivo, será a forma ideal para buscar a felicidade individual, que tanto preocupa certos conservadores. Para tanto, sabemos que é preciso não uma "educação política", mas sim uma educação politizada. Uma educação que reconheça que a solução para a corrupção centra-se em conceber a política não apenas como um instrumento para se alcançar um determinado fim, consolidando-se, portanto, numa mera razão instrumental. Uma educação na qual a própria política, a partir do momento em que buscar ser de fato um meio para se alcançar o bem de todos - como ao que se propõe o nosso modelo democrático -, vai estruturar uma ética que localizará no comodismo e no jeitinho brasileiro as raízes de nosso analfabetismo político, substituindo-os por outras formas de ação social ao longo da construção de uma cultura cívica diferente. (adaptado de MOREIRA, Moisés S. In www. mundojovem.com.br:) 19. (FGV – Adaptada) ## Ao substituir a expressão sublinhada no fragmento "se reduz à crítica que não busca alterar a realidade", assinale a alternativa em que o acento indicativo de crase deve ser empregado. a) se reduz a mesma crítica. b) se reduz a certa crítica. c) se reduz a qualquer crítica. d) se reduz a alguma crítica. e) se reduz a toda crítica. 113 LÍNGUA PORTUGUESA Resposta: A Comentário: O acento deve ser empregado em “A”, porque antes do substantivo “crítica” há um pronome demonstrativo “mesma” – o que permite o emprego do acento. Em todos os outros casos, há pronomes indefinidos, o que inviabiliza a inserção do acento grave. -------------------------- ------------------------ O jeitinho brasileiro e o homem cordial O jeitinho caracteriza-se como ferramenta típica de indivíduos de pouca influência social. Em nada se relaciona com um sentimento revolucionário, pois aqui não há o ânimo de se mudar o status quo. O que se busca é obter um rápido favor para si, às escondidas e sem chamar a atenção; por isso, o jeitinho pode ser também definido como "molejo", "jogo de cintura", habilidade de se "dar bem" em uma situação "apertada". Sérgio Buarque de Holanda, em O Homem Cordial, fala sobre o brasileiro e uma característica presente no seu modo de ser: a cordialidade. Porém, cordial, ao contrário do que muitas pessoas pensam, vem da palavra latina cor, cordis, que significa coração. Portanto, o homem cordial não é uma pessoa gentil, mas aquele que age movido pela emoção no lugar da razão, não vê distinção entre o privado e o público, detesta formalidades, põe de lado a ética e a civilidade. Em termos antropológicos, o jeitinho pode ser atribuído a um suposto caráter emocional do brasileiro, descrito como "o homem cordial" pelo antropólogo. No livro Raízes do Brasil, esse autor afirma que o indivíduo brasileiro teria desenvolvido uma histórica propensão à informalidade. Deve- se isso ao fato de as instituições brasileiras terem sido concebidas de forma coercitiva e unilateral, não havendo diálogo entre governantes e governados, mas apenas a imposição de uma lei e de uma ordem consideradas artificiais, quando não inconvenientes aos interesses das elites políticas e econômicas de então. Daí a grande tendência fratricida observada na época do Brasil Império, que é bem ilustrada pelos episódios conhecidos como Guerra dos Farrapos e Confederação do Equador. Na vida cotidiana, tornava-se comum ignorar as leis em favor das amizades. Desmoralizadas, incapazes de se impor, as leis não tinham tanto valor quanto, por exemplo, a palavra de um "bom" amigo. Além disso, o fato de afastar as leis e seus castigos típicos era uma prova de boa-vontade e um gesto de confiança, o que favorecia boas relações de comércio e tráfico de influência. De acordo com testemunhos de comerciantes holandeses, era impossível fazer negócio com um brasileiro antes de fazer amizade com ele. Um adágio da época dizia que "aos inimigos, as leis; aos amigos, tudo". A informalidade era - e ainda é - uma forma de se preservar o indivíduo. Sérgio Buarque avisa, no entanto, que esta "cordialidade" não deve ser entendida como caráter pacífico. O brasileiro é capaz de guerrear e até mesmo destruir; no entanto, suas razões animosas serão sempre cordiais, ou seja, emocionais. (In: www.wikipedia.org - com adaptações.) 20. (FGV – Adaptada) Assinale a alternativa que completa corretamente as lacunas do fragmento a seguir: O texto refere-se ______ teses antropológicas, cujos temas interessam ______ todos que se dispuserem ______ investigar a história do jeitinho brasileiro. a) as - à - à. b) às - a - à. c) às - a - a. d) as - à - a. e) às - à - a. 114 LÍNGUA PORTUGUESA Resposta: C Comentário: Na primeira lacuna, deve haver a expressão “às” em razão da regência do verbo e da presença do artigo definido feminino. Não há acento grave para o item da segunda lacuna, pois o termo subsequente é um pronome indefinido. Não há acento grave no item da terceira lacuna, pois o termo subsequente é um verbo. -------------------------- ------------------------ A preocupação com a herança que deixaremos as (1) gerações futuras está cada vez mais em voga. Ao longo da nossahistória, crescemos em número e modificamos quase todo o planeta. Graças aos avanços científicos, tomamos consciência de que nossa sobrevivência na Terra está fortemente ligada a(2) sobrevivência das outras espécies e que nossos atos, relacionados a(3) alterações no planeta, podem colocar em risco nossa própria sobrevivência. Contudo, aliado ao desenvolvimento científico, temos o crescimento econômico que nem sempre esteve preocupado com questões ambientais. O que se almeja é o desenvolvimento sustentável, que é aquele viável economicamente, justo socialmente e correto ambientalmente, levando em consideração não só as(4) nossas necessidades atuais, mas também as(5) das gerações futuras, tanto nas comunidades em que vivemos quanto no planeta como um todo. (Adaptado de A. P. FOLTZ, A Crise Ambiental e o Desenvolvimento Sustentável: o crescimento econômico e o meio ambiente. Disponível em http://www.iuspedia.com. br.22 jan. 2008) 21. (ESAF – Adaptada)## Para que o texto acima respeite as regras gramaticais do padrão culto da Língua Portuguesa, é obrigatória a inserção do sinal indicativo de crase em a) 1, 2 e 3 b) 1 e 2 c) 1, 3 e 5 d) 2 e 4 e) 3, 4 e 5 Resposta: B Comentário: Em “1”, o verbo “deixar” (na acepção de legar) é bitransitivo e, na frase em que aparece, o objeto indireto é a expressão “às gerações futuras”, por isso necessita de acento grave. Em “2”, a regência nominal exige que se coloque a preposição “a” para introduzir o complemento do termo “ligada”. Como o termo subsequente é um substantivo feminino, deve-se empregar o acento grave indicativo de crase. -------------------------- ------------------------ A propósito de uma aranha Fiquei observando a aranha que construía sua teia, com os fios que saem dela como um fruto que brota e se alonga de sua casca. A aranha quer viver, e trabalha nessa armadilha caprichosa e artística que surpreenderá os insetos e os enredará para morrer. Tua morte, minha vida - diz uma frase antiga, resumindo a lei primeira da natureza. A frase pode soar amarga em nossos ouvidos delicados, enquanto comemos nosso franguinho. Sua morte, vida nossa. Os vegetarianos não fiquem aliviados, achando que, além de terem hábitos mais saudáveis, não dependem da morte alheia para viver. É verdade que a alface, a cenoura, a batata, o arroz, o espinafre, a banana, a laranja não costumam gritar quando arrancados da terra, decepados do caule, cortados e processados na cozinha. Mas por que não imaginar que estavam muito bem em suas raízes, e se deleitavam com o calor do sol, com a água refrescante da chuva, com os sopros do vento? Sua morte, vida nossa. 115 LÍNGUA PORTUGUESA Mas voltemos à aranha. Ela não aprendeu arquitetura ou geometria, nada sabe sobre paralelas e losangos; vive da ciência aplicada e laboriosa dos fios quase invisíveis que não perdoam o incauto. Uma vez preso na teia, o inseto que há pouco voava debate-se inutilmente, enquanto a aranha caminha com leveza em sua direção, percorrendo resoluta o labirinto de malhas familiares. Se alguém salvar esse inseto, num gesto de misericórdia, e se dispuser a salvar todos os outros que caírem na armadilha, a aranha morrerá de fome. Em outras palavras: a boa alma tomará partido entre duas mortes. A cada pequena cena, a natureza nos fala de sua primeira lei: a lei da necessidade. O engenho da aranha, a eficácia da teia, o voo do inseto desprevenido compõem uma trama de vida e morte, da qual igualmente participamos todos nós, os bichos pensantes. Que necessidade tem alguém de ser cronista? - podem vocês me perguntar. O que leva alguém a escrever sobre teias e aranhas? Minha resposta é crua como a natureza: os cronistas também comem. E como não sabem fazer teias, tecem palavras, e acabam atendendo a necessidade de quem gosta de ler. A pequena aranha, com sua pequena teia, leva a gente a pensar na vida, no trabalho, na morte. A natureza está a todo momento explicando suas verdades para nós. Se eu soubesse a origem e o fim dessas verdades todas, acredite, leitor, esta crônica teria um melhor arremate. (Virgílio Covarim) 22. (FCC – Adaptada) ## Justifica-se o uso do sinal de crase apenas em: a) As aranhas tecem à toda hora, seja para construir, seja para reforçar a teia. b) Os vegetais também ficam à desfrutar o sol, a chuva, o vento. c) A aranha assiste pacientemente à luta do inseto para livrar-se da teia. d) A conclusão à que aspira o cronista seria a explicação da vida e da morte. e) Os vegetarianos levam à sério a ideia de que não matam nada para comer. Resposta: C Comentário: Como o verbo “assistir” (na acepção de “ver”) é transitivo indireto, seu complemento deve ser preposicionado. Além disso, o núcleo do complemento é um substantivo determinado por um artigo definido feminino. As razões para não haver acento grave nos demais itens são: a) Não se emprega acento grave diante de pronome indefinido. b) Não se emprega acento grave diante de verbos. c) Item correto. d) Não há artigo feminino diante do pronome relativo. e) Não se emprega acento grave diante de substantivo masculino. 23. (ESAF – Adaptada) ## Assinale a opção que preenche as lacunas de forma gramaticalmente correta. No que diz respeito ____ taxa de inflação, ainda que os resultados estejam longe da meta (mais de 7% ante ____ meta de 4%), é preciso reconhecer que diante dos acontecimentos de 2001 não se trata de um mau resultado. Todos sabemos que os "choques de oferta" não se prestam ____ ser controlados facilmente pela manipulação da taxa de juros e que frequentemente, quando ocorre um choque é melhor encontrar um caminho mais longo para retornar ____ meta do que forçar uma volta rápida com maiores custos em matéria de crescimento. (Antonio Delfim Netto) a) à - a - a - à b) a - à - à - a 116 LÍNGUA PORTUGUESA c) à - a - à - a d) a - a - a - a e) a - a - à – a Resposta: A Comentário: A justificativa para o acento grave (ou não) dos itens é a seguinte: 1 – Exigência da preposição “a” somada ao artigo que determina o substantivo “taxa”. 2 – Não se emprega o acento porque já há uma preposição na expressão (ante). 3 – Não se emprega acento grave diante de verbos. 4 - Exigência da preposição “a” somada ao artigo que determina o substantivo “meta”. -------------------------- ------------------------ Os anos noventa presenciaram uma radical transformação do pensamento diplomático brasileiro aplicado às relações econômicas internacionais do Brasil. Essa mudança não produziu, todavia, um consenso linear ao longo da década. Alguns traços caracterizam o novo período em seu conjunto, mas a evolução não se fez sem repercussões sobre a sociedade e sem que suas forças acabassem por reagir. Três tempos curtos marcam o período. Durante o governo de Fernando Collor de Mello, entre 1990 e 1992, procedeu-se à demolição instantânea dos conceitos que haviam alimentado durante décadas os impulsos da diplomacia: o nacional-desenvolvimentismo e sua carga política e ideológica cederam à vontade de abrir a economia e o mercado, de forma irracional e reativa, à onda de globalização e de neoliberalismo que penetrava o país vinda de fora. Ao substituí-lo na presidência, Itamar Franco recuou momentaneamente aos parâmetros anteriores do Estado desenvolvimentista, sem, contudo, bloquear a consciência da necessidade de se prosseguir com as adaptações aos novos tempos. A ascensão à Presidência da República de Fernando Henrique Cardoso, em 1995, levou à reposição das disposições ideológicas e políticas do governo de Fernando Collor, vale dizer, ao desprezo pelo projeto nacional de desenvolvimento e à resignação diante da nova divisão do trabalho inerente à forma globalizante do capitalismo, mas seu estilo de diplomacia democrática deu alento a pressões que vinham de segmentos sociais e que acabaram por condicionar o pensamento e o processo decisório. Amado LuizCervo. Internet: <www.martin- keil.net> (com adaptações). 24. (CESPE – Adaptada) ## O emprego do sinal indicativo de crase em "à onda" justifica- se pela regência de "abrir" e pela presença de artigo definido feminino singular. Resposta: Certo Comentário: Na acepção empregada, há dois complementos de naturezas distintas para o verbo “abrir”. Nesse caso, o objeto direto é “a economia e o mercado” e o objeto indireto (introduzido pela preposição) é a expressão “à” onda. Logo, a redação do item traz correta justificativa. ONU pede ampliação de programas sociais do Brasil SÃO PAULO – Os programas adotados no governo federal ainda não são suficientes para lidar com problemas de desigualdade, reforma agrária, moradia, educação e trabalho escravo, informou ontem a Organização das Nações Unidas (ONU). Comitê da entidade pelos direitos econômicos e sociais pede uma revisão do Bolsa-Família, uma maior eficiência do programa e sua “universalização”. Por fim, constata: a cultura da violência e da impunidade reina no País. PONTUAÇÃO 117 LÍNGUA PORTUGUESA A ONU sugere que o Brasil amplie o Bolsa-Família para camadas da população que não recebem os benefícios, incluindo os indígenas. E cobra a “revisão” dos mecanismos de acompanhamento do programa para garantir acesso de todas as famílias pobres, aumentando ainda a renda distribuída. Há duas semanas, o comitê sabatinou membros do governo em Genebra, na Suíça. O documento com as sugestões é resultado da avaliação dos peritos do comitê que inclui o exame de dados passados pelo governo e por cinco relatórios alternativos apresentados por organizações não-governamentais (ONGs). Os peritos reconhecem os avanços no combate à pobreza, mas insistem que a injustiça social prevalece. Um dos pontos considerados como críticos é a diferença de expectativa de vida e de pobreza entre brancos e negros. A sugestão da ONU é que o governo tome medidas “mais focadas”. Na visão do órgão, a exclusão é decorrente da alta proporção de pessoas sem qualquer forma de segurança social, muitos por estarem no setor informal da economia. (w w w.estadao.com.br/nacional /not_ nac377078,0.htm. 26.05.2009. Adaptado) 01. (VUNESP – Adaptada) Eliminando- se o sinal de dois-pontos do trecho – Por fim, constata: a cultura da violência e da impunidade reina no País. – obtém-se: a) Por fim, constata de que a cultura da violência e da impunidade reina no País. b) Por fim, constata que a cultura da violência e da impunidade reina no País. c) Por fim, constata em que a cultura da violência e da impunidade reina no País. d) Por fim, constata a que a cultura da violência e da impunidade reina no País. e) Por fim, constata para que a cultura da violência e da impunidade reina no País. Resposta: B Comentário: Ao eliminar o sinal de dois- pontos da sentença, é preciso reconhecer que a função exercida pelo termo introduzido pela palavra “que” é de objeto direto. Essa é a razão pela qual todas as ocorrências das preposições, sucedendo a palavra “que”, estão incorretas. 02. (IESES – Adaptada) Sobre pontuação, assinale a única alternativa INCORRETA de acordo com a norma padrão: a) Materiais escritos, vídeos, mapas mentais tudo pode ser utilizado para aprender. b) Eu não trouxe o livro; nem ela, o caderno. c) Os novos produtos foram cotados, e o catálogo já está disponível. d) As alterações, hoje, já não são mais tão visíveis. Resposta: A Comentário: Na alternativa “a” falta uma vírgula para isolar o terceiro núcleo do sujeito composto – a expressão “mapas mentais”. A vírgula da alternativa “b” foi empregada para omitir o verbo da segunda oração. A vírgula da alternativa “c” foi empregada porque o sujeito das duas orações é distinto. A vírgula da alternativa “d” foi empregada para isolar um adjunto adverbia intercalado na sentença. 03. (ESAF –Adaptada) Em relação ao texto, assinale a opção incorreta a respeito dos sinais de pontuação. O governo, de janeiro a maio deste ano, arrecadou R$ 937 milhões adicionais por meio do Programa de Integração Social - PIS. Em dezembro do ano passado, a alíquota da contribuição subiu de 0,65% para 1,65%. O aumento foi concedido para compensar 118 LÍNGUA PORTUGUESA possíveis perdas de arrecadação com o fim da cumulatividade - incidência da contribuição em todas as etapas da fabricação do mesmo produto -, que foi aprovado no final do ano passado. (Sílvia Mugnatto, Folha de S.Paulo, 01/09/2003) a) As vírgulas da linha 1 se justificam por isolar um complemento circunstancial intercalado entre o sujeito e o predicado do período. b) Eliminando-se o travessão, “PIS” poderia estar entre parênteses, sem prejuízo gramatical para o período. c) Se a expressão “Em dezembro do ano passado” estivesse no final do período (com minúscula) não haveria exigência de isolá-la antecedendo-a com uma vírgula. d) Os travessões da linha 3 poderiam ser substituídos por parênteses e o período se manteria gramaticalmente correto. e) A vírgula após o travessão da linha 3 justifica-se para isolar a subsequente oração de caráter restritivo. Resposta: E Comentário: A vírgula não possui função restritiva e, na oração em que aparece, introduz sentença de caráter explicativo, haja vista tratar-se de uma oração subordinada adjetiva restritiva. -------------------------- ------------------------ Estava no Brasil A cooperação foi similar à da Operação Condor, só que estritamente dentro da lei e a favor da democracia. No último fim de semana, a Polícia Federal deteve em Foz do Iguaçu, no Paraná, o general paraguaio Lino Oviedo, havia meses foragido, e cuja prisão preventiva com fins de extradição tinha sido pedida pelo Paraguai. No apartamento no qual se escondia, foram encontrados um revólver calibre 38, dez telefones celulares e uma peruca. Oviedo, que já comandou uma tentativa de golpe em 1996, é acusado de tramar o assassinato do vice presidente de seu país, Luis María Argaña, no ano passado. Preso, ele poderá ser extraditado para o Paraguai, onde goza de grande simpatia popular e nenhuma do governo. Com sua fama de golpista, Oviedo é o principal suspeito de ter planejado a última quartelada para derrubar o governo do presidente Luis González Macchi, há um mês. É um abacaxi para os paraguaios. Se livre e clandestino, é um incômodo para o governo; dentro de uma prisão no Paraguai, Oviedo é um perigo ainda maior, pois estará mais próximo e à vista de seus seguidores. O governo brasileiro não podia deixar de prender o general paraguaio. Um dos compromissos dos países-membros do MERCOSUL é a adesão ao regime democrático. Dar cobertura a golpistas, como Oviedo, não é um alento à democracia. O destino do general no Brasil está nas mãos do Supremo Tribunal Federal, responsável por julgar o pedido de extradição. Veja, 21/6/2000 (com adaptações). 04. (CESPE –Adaptada) Se uma vírgula fosse inserida imediatamente após “apartamento”, as relações semânticas e sintáticas do período do texto seriam mantidas inalteradas. Gabarito: Errado. Comentário: Haveria sensível alteração na semântica e na sintaxe da passagem do texto, pois o pronome relativo após a palavra “apartamento” introduz uma oração subordinada adjetiva restritiva que, com uma vírgula, passaria a ser explicativa. 119 LÍNGUA PORTUGUESA O respeito às diferentes manifestações culturais é fundamental, ainda mais em um país como o Brasil, que apresenta tradições e costumes muito variados em todo o seu território. Essa diversidade é valorizada e preservada por ações da Secretaria da Identidade e da Diversidade Cultural (SID), criada em 2003 e ligada ao Ministério da Cultura. Cidadãos de áreas rurais que estejam ligados a atividades culturais e estudantes universitários de todas as regiões do Brasil, por exemplo, são beneficiados por um dos projetos da SID: as Redes Culturais. Essas redes abrangem associações e grupos culturais para divulgar e preservar suasmanifestações de cunho artístico. O projeto é guiado por parcerias entre órgãos representativos do Estado brasileiro e as entidades culturais. A Rede Cultural da Terra realiza oficinas de capacitação, cultura digital e atividades ligadas às artes plásticas, cênicas e visuais, à literatura, à música e ao artesanato. Além disso, mapeia a memória cultural dos trabalhadores do campo. A Rede Cultural dos Estudantes promove eventos e mostras culturais e artísticas e apoia a criação de Centros Universitários de Cultura e Arte. Culturas populares e indígenas são outro foco de atenção das políticas de diversidade, havendo editais públicos de premiação de atividades realizadas ou em andamento, o que democratiza o acesso a recursos públicos. O papel da cultura na humanização do tratamento psiquiátrico no Brasil é discutido em seminários da SID. Além disso, iniciativas artísticas inovadoras nesse segmento são premiadas com recursos do Edital Loucos pela Diversidade. Tais ações contribuem para a inclusão e socializam o direito à criação e à produção cultural. A participação de toda a sociedade civil na discussão de qualquer política cultural se dá em reuniões da SID com grupos de trabalho e em seminários, oficinas e fóruns, nos quais são apresentadas as demandas da população. Com base nesses encontros é que podem ser planejadas e desenvolvidas ações que permitam o acesso dos cidadãos à cultura e a promoção de suas manifestações, independentemente de cor, sexo, idade, etnia e orientação sexual. Identidade e diversidade. Internet: <www. brasil.gov.br/sobre/cultura/> (com adaptações). 05. (CESPE –Adaptada) A retirada da vírgula após “Brasil” manteria a correção gramatical e os sentidos do texto, visto que, nesse caso, o emprego desse sinal de pontuação é facultativo. Gabarito: Errado. Comentário: O emprego da vírgula não é facultativo, pois encerra uma oração subordinada adjetiva explicativa. Sua retirada alteraria os sentidos do texto, apesar de manter a correção gramatical. A sentença passaria a ser de caráter restritivo. 06. (ESAF –Adaptada) Assinale a opção que justifica corretamente o emprego de vírgulas no trecho abaixo. É neste admirável e desconcertante mundo novo que se encontram os desafios da modernidade, a mudança de paradigmas culturais, a substituição de atividades profissionais, as transformações em diversas áreas do conhecimento e os contrastes cada vez mais acentuados entre as gerações de seres humanos. (Adaptado de Zero Hora (RS), 31/12/2013) 120 LÍNGUA PORTUGUESA As vírgulas a) isolam elementos de mesma função sintática componentes de uma enumeração. b) separam termos que funcionam como apostos. c) isolam adjuntos adverbiais deslocados de sua posição tradicional. d) separam orações coordenadas assindéticas. e) isolam orações intercaladas na oração principal. Resposta: A Comentário: As vírgulas separam os diversos núcleos do sujeito paciente composto do verbo “encontrar”. Como são elementos coordenados em uma enumeração, as vírgulas são obrigatórias. -------------------------- ------------------------ No Brasil, duas grandes concepções de segurança pública opõem-se desde a reabertura democrática até o presente: uma centrada na ideia de combate, outra, na de prestação de serviço público. A primeira concebe a missão institucional das polícias em termos bélicos, atribuindo-lhes o papel de combater os criminosos, que são convertidos em inimigos internos. A política de segurança é, então, formulada como estratégia de guerra, e, na guerra, medidas excepcionais se justificam. Instaura-se, adotando-se essa concepção, uma política de segurança de emergência e um direito penal do inimigo. Esse modelo é reminiscente do regime militar e, há décadas, tem sido naturalizado, não obstante sua incompatibilidade com a ordem constitucional brasileira. Nesses anos, o inimigo interno anterior — o comunista — foi substituído pelo traficante, como elemento de justificação do recrudescimento das estratégias bélicas de controle social. A segunda concepção está centrada na ideia de que a segurança é um serviço público a ser prestado pelo Estado e cujo destinatário é o cidadão. Não há, nesse caso, mais inimigo a combater, mas cidadão para servir. A polícia democrática não discrimina, não faz distinções arbitrárias: trata os barracos nas favelas como domicílios invioláveis, respeita os direitos individuais, independentemente de classe, etnia e orientação sexual, não só se atendo aos limites inerentes ao estado democrático de direito, mas entendendo que seu principal papel é promovê-lo. A concepção democrática estimula a participação popular na gestão da segurança pública, valoriza arranjos participativos e incrementa a transparência das instituições policiais. O combate militar é, então, substituído pela prevenção, pela integração com políticas sociais, por medidas administrativas de redução dos riscos e pela ênfase na investigação criminal. A decisão de usar a força passa por considerar não apenas os objetivos específicos a serem alcançados pelas ações policiais, mas também, e fundamentalmente, a segurança e o bem- estar da população envolvida. Cláudio Pereira de Souza Neto. A segurança pública na Constituição Federal de 1988: conceituação constitucionalmente adequada, competências federativas e órgãos de execução das políticas. Internet: <www.oab.org.br> (com adaptações). 07. (CESPE –Adaptada) O emprego da vírgula logo após “criminosos” justifica-se por isolar oração de caráter explicativo. Gabarito: Certo. Comentário: Para concluir o que se afirma na questão, basta reconhecer a presença do pronome relativo (antecedido de vírgula) e do verbo, o que compõe uma oração subordinada adjetiva explicativa. A oração em questão apresenta uma consideração a respeito da palavra “criminosos”. 121 LÍNGUA PORTUGUESA 08. (CONSULPAM – Adaptada) Assinale o item com pontuação CORRETA. a) Para cozinhar batatas, lave-as muito bem, faça alguns furinhos, leve, ao micro- ondas por dois minutos, vire-as para outro lado e deixe por mais dois minutos. b) Para caramelizar o açúcar, numa jarra refratária, coloque, 200 g de açúcar e adicione 3 colheres de sopa de água. Deixe, de cinco a sete minutos em potência alta (100%) sem mexer, até que doure. c) Aqueça sua bolsa de água quente ou seu pacote de gel para dor de cabeça no micro- ondas, contanto que não haja metal na embalagem. d) Ficarão, crocantes e deliciosos, os seus amendoins, no forno micro-ondas, em dois ou três minutos, em potência máxima. Retire, dê uma mexidinha, coloque mais 1 minuto e meio, mexa, e faça de novo até torrar. Resposta: C Comentário: Em “a” a vírgula após o verbo “levar” é dispensável. Em “b” a vírgula após o verbo “colocar” deve ser retirada – pois separa o verbo de seu complemento -, além disso, uma vírgula deve ser inserida após o termo “minutos”, a fim de isolar adjunto adverbial de corpo extenso. Em “c” não há erros de pontuação, pois a vírgula enfatiza uma oração subordinada adverbial condicional. Em “d” as vírgulas que isolam o predicativo do sujeito não devem ser empregadas, pois a posição desse termo está na ordem direta da sentença. -------------------------- ------------------------ Entenda para que serve mandar um jipe- robô para Marte Quem diria? A velha e dilapidada NASA, que nem possui mais meios próprios de mandar pessoas para o espaço, acaba de mostrar que ainda tem espírito épico. A prova é o pouso perfeito do jipe- robô Curiosity em uma cratera de Marte recentemente. A saga de verdade começa agora, contudo. O Curiosity é, disparado, o artefato mais complexo que terráqueos já conseguiram botar no chão de outro planeta. Com dezessete câmeras, é a primeira sonda interplanetária capaz de fazer imagens em alta definição. Pode percorrer até dois quilômetros por dia. Trata-se de um laboratório sobre rodas, equipado, entre outras coisas, com canhãolaser para pulverizar pedaços de rocha e sistemas que medem parâmetros do clima marciano, como velocidade do vento, temperatura e umidade... A lista é grande. Tudo para tentar determinar se, afinal de contas, Marte já foi hospitaleiro para formas de vida – ou quem sabe até ainda o seja. Hoje se sabe que o subsolo marciano, em especial nas calotas polares, abriga enorme quantidade de água congelada. E há pistas de que água salgada pode escorrer pela superfície do planeta durante o verão marciano, quando, em certos lugares, a temperatura fica entre –25 ºC e 25ºC. Mesmo na melhor das hipóteses, são condições não muito amigáveis para a vida como a conhecemos. Mas os cientistas têm dois motivos para não serem tão pessimistas, ambos baseados no que se conhece a respeito dos seres vivos na própria Terra. O primeiro é que a vida parece ser um fenômeno tão teimoso, ao menos na sua forma microscópica, que aguenta todo tipo de ambiente inóspito, das pressões esmagadoras do leito marinho ao calor e às substâncias tóxicas dos gêiseres. Além disso, se o nosso planeta for um exemplo representativo da evolução da vida Cosmos afora, isso significa que a vida aparece relativamente rápido quando um planeta se forma — no caso da Terra, mais ou menos meio bilhão de anos depois que ela surgiu (hoje o planeta tem 4,5 bilhões de anos). 122 LÍNGUA PORTUGUESA Ou seja, teria havido tempo, na fase “molhada” do passado de Marte, para que ao menos alguns micróbios aparecessem antes de serem destruídos pela deterioração do ambiente marciano. Será que algum deles não deu um jeito de se esconder no subsolo e ainda está lá, segurando as pontas? Reinaldo José Lopes. In: Revista Serafina, 26/8/2012. Internet: <folha.com> (com adaptações). 09. (CESPE –Adaptada) Nos trechos “Além disso, se o nosso planeta for um exemplo representativo da evolução da vida Cosmos afora, isso significa que (...)” e “teria havido tempo, na fase ‘molhada’ do passado de Marte, para que ao menos alguns micróbios aparecessem”, as vírgulas são empregadas pelo mesmo motivo: isolar termos com a mesma função gramatical. Gabarito: Errado. Comentário: A primeira sentença (se o nosso planeta...) é uma oração subordinada adverbial condicional, que se encontra intercalada no período em que aparece. A segunda (na fase ‘molhada’...) é um adjunto adverbial de tempo. Logo, entende-se que não desempenham a mesma função sintática. 10. (VUNESP – Adaptada) Assinale a alternativa em que a frase do texto permanece correta, de acordo com a norma-padrão da língua portuguesa, após o acréscimo das vírgulas. a) As empresas de telecomunicações que fornecem acesso, poderão continuar vendendo, velocidades diferentes. b) Mas terão de oferecer, a conexão contratada independentemente do conteúdo acessado pelo internauta e não poderão vender pacotes restritos. c) O Marco Civil garante, a inviolabilidade e o sigilo, das comunicações. d) O conteúdo poderá ser acessado apenas, mediante, ordem judicial. e) Ressalte-se, ainda, que a exclusão de conteúdo só poderá ser ordenada pela Justiça. Resposta: E Comentário: Em “a”, a vírgula separou sujeito e verbo. Em “b”, a vírgula separa o verbo “oferecer” de seu complemento. Em “c” a vírgula separa o verbo “garantir” do seu objeto. Em “d” a vírgula está intercalando uma preposição acidental (procedimento incorreto). Em “e” as vírgulas isolam um adjunto adverbial na sentença (procedimento possível). -------------------------- ------------------------ Ele não descobriu a América Oficialmente, o título de “descobridor da América” pertence ao navegante genovês Cristóvão Colombo, mas ele não foi o primeiro estrangeiro a chegar ao chamado Novo Mundo. Além disso, o próprio Colombo nunca se deu conta de que a terra que encontrou era um continente até então desconhecido. A arqueologia já revelou vestígios da passagem dos vikings pelo continente por volta do ano 1000. LeifEricson, explorador que viveu na região da Islândia, chegou às margens do atual estado de Maine, no norte dos Estados Unidos da América (EUA), no ano 1003. Em 1010, foi a vez de outro aventureiro nórdico, BjarnKarlsefni, aportar nos arredores de LongIsland, na região de Nova York. Além disso, alguns pesquisadores defendem que um almirante chinês chamado Zeng He teria cruzado o Pacífico e desembarcado, em 1421, no que hoje é a costa oeste dos EUA. Polêmicas à parte, Cristóvão Colombo jamais se deu conta de que havia descoberto um novo continente. A leitura de suas anotações de bordo ou de suas cartas deixa claro que ele 123 LÍNGUA PORTUGUESA acreditou até a morte que tinha chegado à China ou ao Japão, ou seja, às “Índias”. É o que o navegador escreveu, por exemplo, em uma carta de março de 1493. Mesmo nos momentos em que se apresenta como um “descobridor”, Colombo se refere aos arredores de um continente que o célebre Marco Polo – do qual foi leitor assíduo – já havia descrito. Em outubro de 1492, depois de seu primeiro encontro com nativos americanos, o explorador fez a seguinte anotação em seu diário de bordo: “Resolvi descer à terra firme e ir à cidade de Guisay entregar as cartas de Vossas Altezas ao Grande Khan”. Guisay é uma cidade real chinesa que Marco Polo visitara. Nesse mesmo documento, Colombo escreveu que, segundo o que os índios haviam informado, ele estava a caminho do Japão. Os nativos tinham apontado, na verdade, para Cuba. Suas certezas foram parcialmente abaladas nas viagens seguintes, mas o navegador nunca chegou a pensar que aportara em um novo continente. Sua quarta viagem o teria levado, segundo escreveu, à província de “Mago”, “ fronteiriça à de Catayo”, ambas na China. Somente nos últimos anos de sua vida o genovês considerou a possibilidade de ter descoberto terras realmente virgens. Mas foi necessário certo tempo para que a existência de um novo continente começasse a ser aceita pelos europeus. Américo Vespúcio foi um dos primeiros a apresentar um mapa com quatro continentes. Mais tarde, em 1507, a nova terra seria batizada em homenagem ao explorador italiano. Um ano depois da morte de Colombo, que passou a vida sem entender bem o que havia encontrado. Antouaine Roullet. In: Revista História Viva. Internet: <www2.uol.com.br/historiaviva> (com adaptações). 11) (CESPE –Adaptada) No período “Nesse mesmo documento, Colombo escreveu que, segundo o que os índios haviam informado, ele estava a caminho do Japão”, a primeira vírgula foi empregada para isolar termo com valor adverbial e as demais, para isolar uma oração de valor temporal intercalada. Gabarito: Errado. Comentário: O emprego da primeira vírgula está corretamente descrito, porém, as vírgulas que isolam o segmento “segundo o que os índios haviam informado” foram empregadas para isolar oração subordinada adverbial conformativa. -------------------------- ------------------------ “Passe lá no RH!”. Não são poucas as vezes em que os colaboradores de uma empresa recebem essa orientação. Não são poucos os chefes que não sabem como tratar um tema que envolve seus subordinados, ou não têm coragem de fazê-lo, e empurram a responsabilidade para seus colegas da área de recursos humanos. Promover ou comunicar um aumento de salário é com o chefe mesmo; resolver conflitos, comunicar uma demissão, selecionar pessoas, identificar necessidades de treinamento é “lá com o RH”. Em pleno século XXI, ainda existem empresas cujos executivos não sabem quem são os reais responsáveis pela gestão de seu capital humano. Os responsáveis pela gestão de pessoas em uma organização são os gestores, e não a área de RH. Gente é o ativo mais importante nas organizações: é o propulsor que as move e lhes dá vida. Portanto, os aspectos que envolvem a gestão de pessoas têm de ser tratados como parte de uma política de valorização desse ativo, na qual gestores e RH são vasos comunicantes, trabalhando em conjunto, cada um desempenhando seu