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LÍNGUA PORTUGUESA PROF. PABLO JAMILK QUESTÕES COMENTADAS E GABARITADAS 2 LÍNGUA PORTUGUESA SUMÁRIO MORFOLOGIA........................................................................................................03 VOZES VERBAIS.....................................................................................................28 SINTAXE..................................................................................................................36 COLOCAÇÃO PRONOMINAL E EMPREGO DO PRONOME..............................67 ACENTUAÇÃO GRÁFICA.......................................................................................88 CONCORDÂNCIA....................................................................................................91 EMPREGO DO SINAL INDICATIVO E CRASE......................................................99 PONTUAÇÃO..........................................................................................................116 INTERPRETAÇÃO DE TEXTO...............................................................................126 REDAÇÃO DE CORRESPONDÊNCIAS OFICIAIS................................................139 @pablojamilk YouTube.com/pablojamilkoficial @pjamilk www.pablojamilk.com.br Facebook.com/pablojamilkoficial 3 LÍNGUA PORTUGUESA EMPREGO DAS CLASSES DE PALAVRAS ARTIGO Um embate entre instituições de ensino superior, editoras e autores é travado há anos. Com o argumento de que livros são caros e muitas vezes apenas um capítulo é necessário para o curso, alunos e professores lançam mão de cópias de partes de publicações ou de apostilas para economizar. O debate voltou à tona após policiais da Delegacia Antipirataria apreenderem, no mês passado, mais de duzentas pastas com textos para serem reproduzidos em uma universidade do Rio de Janeiro, sob a alegação de crime de direitos autorais. O operador da máquina foi detido, e a universidade, indignada, criou normas para regulamentar as cópias dentro de seus estabelecimentos. Uma alternativa legal, porém, existe há quatro anos, mas só agora começa a ser efetivada em algumas universidades: a venda de capítulos avulsos. Luciani Gomes. In: IstoÉ, 6/10/2010 (com adaptações) 01. (CESPE – Adaptada)##A inserção do artigo definido plural os imediatamente antes da palavra “policiais” (l.6) não alteraria o sentido original do período. Resposta: Errado. Comentário: como não havia artigo no texto original, o substantivo “policiais” foi empregado de maneira genérica. Caso houvesse a inserção do artigo definido plural, o entendimento seria de que o substantivo passaria à determinação, ou seja, haveria um substantivo saliente (já mencionado) no texto que passa a ser retomado pelo referente. A presença do artigo altera o sentido original do período, que era de generalização do substantivo. MORFOLOGIA Na verdade, o que hoje definimos como democracia só foi possível em sociedades de tipo capitalista, mas não necessariamente de mercado. De modo geral, a democratização das sociedades impõe limites ao mercado, assim como desigualdades sociais em geral não contribuem para a fixação de uma tradição democrática. Penso que temos de refletir um pouco a respeito do que significa democracia. Para mim, não se trata de um regime com características fixas, mas de um processo que, apesar de constituir formas institucionais, não se esgota nelas. É tempo de voltar ao filósofo Espinosa e imaginar a democracia como uma potencialidade do social, que, se de um lado exige a criação de formas e de configurações legais e institucionais, por outro não permite parar. A democratização no século XX não se limitou à extensão de direitos políticos e civis. O tema da igualdade atravessou, com maior ou menor força, as chamadas sociedades ocidentais. Renato Lessa. Democracia em debate. In: Revista Cult, n.º 137, ano 12, jul./2009, p. 57 (com adaptações). 02. (CESPE - Adaptada)##Preservam-se a correção gramatical e a coerência textual ao se optar pela determinação do substantivo “respeito” (l.6), juntando-se o artigo definido à preposição “a”, escrevendo-se ao respeito. Resposta: Errado. Comentário: a expressão “a respeito de” é uma locução prepositiva, formada por uma preposição, um substantivo e uma preposição. Ao inserir um artigo antes do substantivo “respeito”, descaracteriza-se a locução prepositiva, o que causa erro na construção do parágrafo. -------------------------- ------------------------ Costumamos olhar pouco para fora do Brasil quando tentamos compreender o que estamos vivendo. Faz muito que a 4 LÍNGUA PORTUGUESA distância entre os países desapareceu, no plano objetivo. Continuamos, porém, vivendo “isolados do mundo”, como diz uma canção, ainda que apenas na subjetividade. Se pensarmos no que está à nossa volta, na América do Sul, então, mais ainda. Mesmo quando é bem informado, o brasileiro típico se mostra mais capaz de dar notícia do que ocorre na Europa e nos Estados Unidos da América do que em qualquer de nossos vizinhos. É pena, pois estar mais informados sobre o que acontece além das fronteiras pode ajudar muito a que nos entendamos como país. Marcos Coimbra. Olhando à nossa volta. In: Correio Braziliense, 23/9/2007 (com adaptações). 03. (CESPE - Adaptada)## Preservam-se a coerência textual e a correção gramatical ao se empregar o artigo o em lugar de “como” (l. 11). Resposta: Errado. Comentário: haverá um prejuízo para a coerência da sentença, pois o artigo surge em substituição do comparativo. Na construção da sentença, essa comparação é fundamental para entender ideia ex-pressa pela sentença, que é o autoentendimento como país. Tópico 2: O Jivaro (Rubem Braga) Um Sr. Matter, que fez uma viagem de exploração à América do Sul, conta a um jornal sua conversa com um índio jivaro, desses que sabem reduzir a cabeça de um morto até ela ficar bem pequenina. Queria assistir a uma dessas operações, e o índio lhe disse que exatamente ele tinha contas a acertar com um inimigo. O Sr. Matter: - Não, não! Um homem, não. Faça isso com a cabeça de um macaco. E o índio: - Por que um macaco? Ele não me fez nenhum mal! 04. (IBFC - Adaptada) Assinale a alternativa em que o vocábulo “a”, destacado nas opções abaixo, seja exclusivamente um artigo. a) “conta a um jornal sua conversa com um índio jivaro,” b) “desses que sabem reduzir a cabeça de um morto” c) “Queria assistir a uma dessas operações” d) “ele tinha contas a acertar com um inimigo” e) “uma viagem de exploração à América do Sul” Resposta: A Comentário: o “a” que antecede o termo cabeça deve ser classificado como artigo, pois, se analisarmos o termo subsequente, perceberemos que se trata de um substantivo. Nas demais alternativas, nota-se que há o emprego da preposição “a” em razão da regência dos termos “contar” e “assistir”. A preposição nos outros casos, surge em razão de haver uma locução adverbial que, em sua formação, usualmente é introduzida por uma preposição. -------------------- -------------------- Catar feijão (João Cabral de Melo Neto) Catar feijão se limita com escrever joga-se os grãos na água do alguidar1 E as palavras na folha do papel; E depois, joga-se fora o que boiar. [...] (João Cabral de Melo Neto) 5 LÍNGUA PORTUGUESA 05. (Makiyama - Adaptada) No trecho: “E as palavras na folha do papel”, o termo destacado morfologicamente é um a) adjetivo. b) pronome. c) artigo. d) numeral. e) verbo. Resposta: C Comentário: o termo destacado é um artigo, porque determina o substantivo “palavras”, com o qual estabelece uma relação de concordância, isto é, está flexionado no feminino e no plural. ADJETIVO Tornou-se sócio de um clube da Lagoa. Sozinho, porém, nunca punha os pés lá, até que um dia se fez acompanhar pelo Lulu, bom atleta e péssimo funcionário, que o apresentara como “velho servidor do Estado” às principais beldades do bairro. Como dialogar com elas? Não conhecia futebolnem equitação, não sabia jogar baralho, não guardava nomes de artistas de cinema, ignorava os escândalos da sociedade. 06. (CESPE – Adaptada)##O termo “velho” (l. 3) constitui exemplo de adjetivo cujo sentido é alterado conforme a posição em relação ao substantivo que modifica no sintagma — velho servidor / servidor velho. Resposta: Certo. Comentário: Considerando a alternativa, é preciso entender que a posição do adjetivo restritivo é fundamental para o entendimento da sentença: quando se desloca o adjetivo, o sentido pode ser alterado. A diferença em pleito é: velho servidor (servidor de longa data); servidor velho (um servidor com idade avançada). -------------------------- ------------------------ Rememoro os Natais da Rua da União, no Re- cife... A cozinha da casa de meu avô, aque- la cozinha que era todo o mundo da velha preta Tomásia... As grandes tachas de cobre que deixavam o sono da despensa, o grande pilão de madeira, que entrava a esmagar o milho verde cozido... [25.XII.1960] BANDEIRA, Manuel. Andorinha, Andorinha. Rio de Janeiro: Editora José Olympio, 1966. (Com adaptações) 07. (CESGRANRIO – Adaptada)##O adjetivo (entre parênteses) NÃO corresponde à locução adjetiva (destacada) em a) “Nos meses do verão,” (hibernais) b) “...afastado do bulício da cidade,” (urbano) c) “Às primeiras horas da tarde,” (vespertinas) d) “...grandes tachas de cobre...” (cúpreas) e) “o grande pilão de madeira,” (lígneo) Resposta: A Comentário: “Hibernal” é adjetivo que se refere à locução adjetiva “de inverno”. -------------------------- ------------------------ A polêmica sobre o porte de armas pela população não tem consenso nem mesmo dentro da esfera jurídica, na qual há vários entendimentos como: “o cidadão tem direito a reagir em legítima defesa e não pode ter cerceado seu acesso aos instrumentos de defesa”, ou “a utilização da força é direito exclusivo do Estado ”ou “o armamento da população mostra que o Estado é incapaz de garantir a segurança pública”. Independente de quão caloroso seja o debate, as estatísticas estão corretas: mais armas potencializam a ocorrência de crimes, sobretudo em um ambiente em que essas sejam obtidas por meios clandestinos. A partir daí, qualquer 6 LÍNGUA PORTUGUESA fato corriqueiro pode tornar-se letal. O porte de arma pelo cidadão pode dar uma falsa sensação de segurança, mas na realidade é o caminho mais curto para os registros de assaltos com morte de seu portador. Internet:<http://www.serasa.com.br/ guiacontraviolencia>. Acesso em 28/9/2004 (com adaptações). 08. (CESPE - Adaptada)##No período de que faz parte, o termo “Independente” (l.6) exerce a função de adjetivo e está no singular porque se refere a “debate” (l.7). Resposta: Errado. Comentário: A palavra “independente” é, morfologicamente falando, um adjetivo. Apesar disso, na sentença, ele foi empregado com função adverbial e, por essa razão, não há que se falar em concordância, afinal, o advérbio é invariável. -------------------------- ------------------------ O que nós conhecemos como vida é apenas a camada superficial de um mundo desco-nhecido. A grande maioria dos seres vivos são bactérias e microrganismos. Os cientistas estimam que as espécies que só podem ser vistas com aparelhos especiais cheguem a 10 milhões. Ou, quem sabe, a 100 milhões. O biólogo norte-americano Craig Venter acredita que o código genético de microrganismos pode se transformar num excelente negócio no futuro. Esses seres microscópicos estão na base da cadeia alimentar e dão forma aos ciclos de carbono, nitrogênio e outros nutrientes que sustentam todo o ecossistema. Em teoria, o DNA deles pode conter a chave para gerar energia barata, desenvolver remédios e acertar as bagunças da natureza provocadas pelo avanço da civilização. Há bactérias que só vivem em locais onde existe petróleo. Quem identificá-las terá o mapa da mina para explorar o produto. Veja. 25/8/2004, p. 64-5 (com adaptações). 09. (CESPE - Adaptada)##Com o emprego do adjetivo “superficial” (l.1), em sentido conotativo, a argumentação do texto reforça a ideia de que a ciência tem tratado de maneira muito pouco aprofundada os conhecimentos sobre a totalidade dos seres vivos do planeta. Resposta: Errado. Comentário: Em primeiro lugar, o adjetivo não foi empregado conotativamente, mas sim denotativamente, pois faz alusão ao que é mais externo, mais exterior, portanto, superficial. Em segundo lugar, o sentido pretendido é o de que ainda não há conhecimento suficiente, mas não que seja por negligência da ciência. -------------------------- ------------------------ Em 1819, o poeta John Keats, um expoente do movimento romântico, escreveu: “a verdade é bela e a beleza, verdade. Isso é tudo o que precisas saber em vida; tudo o que precisas saber”. (Perdoem-me pela tradução amadora.) Aqui, podemos perguntar: qual a relação da matemática com a beleza? Matemáticos e físicos atribuem beleza a teoremas e teorias, criando uma estética da “verdade”. Os mais belos são aqueles que explicam muito com pouco. Quando possível, os teoremas e teorias mais belos são também os mais simples: dadas duas ou mais explicações para o mesmo fenômeno, vence a mais simples. Esse critério é conhecido como a lâmina de Ockham, atribuído a William de Ockham, um teólogo inglês do século XIV. Para os que creem na matemática como linguagem universal, essa estética leva à existência de uma única verdade, o que parece guardar relação com o monoteísmo judaico-cristão nas ciências. Melhor é defender a matemática como nossa invenção. Criamos uma linguagem para descrever o mundo, que não podemos deixar de achar bela. Marcelo Gleiser. Folha de S.Paulo (com adaptações) 7 LÍNGUA PORTUGUESA 10. (CESPE - Adaptada)##No trecho “monoteísmo judaico-cristão nas ciências” (l. 15), o adjetivo é grafado na sua forma mais conhecida, embora também estejam corretas as formas judaicocristão e judaico cristão. Resposta: Errado. Comentário: Como é um adjetivo composto, é preciso inserir um hífen na formação da palavra que, é preciso ressaltar, é feita por justaposição. -------------------------- ------------------------ Brasil. País do verde-amarelo. Terra do futebol, do samba amigo e das mulatas sensuais. País da violência, das riquezas minerais e da política corrupta. Terra de Ronaldinho e de Chico Buarque. Alguma mentira? Não. Nosso país é de uma diversidade e de uma adversidade espantosas. De altos e baixos e extremos radicais. Riqueza, exuberância e miséria. São tantas coisas que falar sobre ele parece ser fácil. Ou não. São tantos extremos que evitar estereótipos parece difícil. Ou não. Todos estão sujeitos aos estereótipos. A ignorância e a arrogância permeiam esse caminho. A questão não é lutar para deletá-los, mas sim lutar para desmitificá-los. 11. (CESPE - Adaptada)##O fato de a palavra “verde-amarelo” (L.1) ser grafada com hífen mostra que se trata de uma composição vocabular em que o adjetivo verde passa a ser prefixo. Resposta: Errado. Comentário: Como a palavra é composta, não há que se pensar em prefixação; afinal, esse procedimento ocorre apenas no processo de derivação. É preciso considerar que a palavra “verde” é um dos elementos da composição que já possui um morfema lexical (raiz) por si só. Eu não gosto de ninguém, ele quase respondeu, refreando-se a tempo; faz sentido, ele mesmo concluía — é o pior momento da minha vida, sem a mulher, sem o filho, sem dinheiro, e desgraçadamente sem literatura. Uma letra de tango. Ou “um maneirista da própria sombra”, como escreveu Eusébio de Mattos no Suplemento de Arte, demolindo-o até a última linha com o sadismo certeiro dos grandes críticos. Para um país sem crítica, aquele texto chegava a ser uma boa surpresa, ainda que deixasse entrever mais o prazer do ataque que o lamento sincero de um estudioso honesto, o tsc tsc tsc diante de um escritorque nunca “chegou lá” na corrida de cavalos letrados do panorama nacional — e Donetti sentiu a respiração opressa pelo rancor. O célebre homem brasileiro cordial é cordial não porque seja polido, o que ele nunca foi, mas porque nada nunca passa pelo cérebro antes de chegar à vida — é só um coração batendo forte no meio da rua, que é o seu lugar. Cristovão Tezza. Um erro emocional. Rio de Janeiro: Record, 2010, p. 91 (com adaptações). 12. (CESPE - Adaptada)##Se, em vez do adjetivo “célebre” (L.12), o autor tivesse optado pela sua forma superlativa, teria de acrescentar-lhe o sufixo -érrimo, da seguinte forma: celebérrimo. Resposta: Certo Comentário: A formação do superlativo de um adjetivo pode ser pela raiz vernácula ou pela raiz erudita. Com a vernácula, utiliza- se o sufixo –íssimo; já, com a erudita, usa- se o sufixo -érrimo. A forma célebre ficará, em seu superlativo absoluto sintético, como celebérrimo, porque a raiz latina desse adjetivo é “celeber”. 8 LÍNGUA PORTUGUESA Pesquisas constatam doses crescentes de pessimismo diante do que o futuro esteja reservando aos que habitam este mundo, com a globalização exacerbando a competitividade e colocando os Estados de bem-estar social nos corredores de espera de cumprimento da pena de morte. É preciso “investir no povo”, recomenda o Per Capita — um centro pensante, criado recentemente na Austrália —, com seus dons progressistas. Configurar um mercado no qual as empresas levem em consideração o interesse público, sejam ampliados os compromissos de proteção ao meio ambiente e tenham como objetivo o bem-estar dos indivíduos. A questão maior é saber como colocar em prática essas belezas, num momento em que as lutas sociais sofrem o assédio cada vez mais agressivo da globalização e as próprias barreiras ideológicas caem por terra. Newton Carlos. Má hora das esquerdas. In: Correio Braziliense, 20/11/2007 (com adaptações). 13. (CESPE - Adaptada)##O adjetivo “agressivo” (l.11) está empregado com valor de advérbio e corresponde, dessa forma, a agressivamente. Resposta: Errado Comentário: O adjetivo “agressivo” está no masculino e no singular. Por isso, já é possível entender que ele estabelece um vínculo de concordância com o substantivo que lhe é correlato na sentença, a palavra “assédio”. Não é possível dizer que se trata de um advérbio, porque não está vinculado a um verbo a um adjetivo ou a outro advérbio. -------------------------- ------------------------ Nicolau meteu-se na política. Em 1823, vamos achá-lo na Constituinte. Não há que dizer ao modo por que ele cumpriu os deveres do cargo. Íntegro, desinteressado, patriota, não exercia de graça essas virtudes públicas, mas à custa de muita tempestade moral. Pode- se dizer, metaforicamente, que a frequência da câmara custava-lhe sangue precioso. Não era só porque os debates lhe pareciam insuportáveis, mas também porque lhe era difícil encarar certos homens, especialmente em certos dias. Montezuma, por exemplo, parecia-lhe balofo, Vergueiro, maçudo, os Andradas, execráveis. Cada discurso, não só dos principais oradores, mas dos secundários, era para o Nicolau verdadeiro suplício. E, não obstante, firme, pontual. Nunca a votação o achou ausente; nunca o nome dele soou sem eco pela augusta sala. Qualquer que fosse o seu desespero, sabia conter-se e pôr a ideia da pátria acima do alívio próprio. Talvez aplaudisse in petto o decreto de dissolução. Não afirmo; mas há bons fundamentos para crer que o Nicolau, apesar das mostras exteriores, gostou de ver dissolvida a assembleia. E se essa conjetura é verdadeira, não menos o será esta outra: que a deportação de alguns dos chefes constituintes, declarados inimigos públicos, veio aguar-lhe aquele prazer. Nicolau, que padecera com os discursos deles, não menos padeceu com o exílio, posto lhes desse um certo relevo. Se ele também fosse exilado! Machado de Assis. Verba testamentária. In: J. Gledson. 50 contos de Machado de Assis. São Paulo: Companhia das Letras, 2007, p. 168 (com adaptações). 14. (CESPE - Adaptada)##O termo “balofo” (l.8) expressa uma característica do sujeito da oração na qual esse adjetivo é empregado. Resposta: Certo. Comentário: A oração em questão é “Montezuma, por exemplo, parecia-lhe balofo, Vergueiro, maçudo, os Andradas, execráveis”. Considerando que o sujeito do verbo parecer é o substantivo Montezuma e o verbo em pleito é um verbo relacional (de ligação), conclui-se que a função de predicativo do sujeito – atribuída ao adjetivo “balofo” – direciona-se ao sujeito da oração. 9 LÍNGUA PORTUGUESA CONJUNÇÕES Embora as conquistas obtidas a partir da Revolução Francesa tenham possibilitado a consolidação da concepção de cidadania, elas não foram suficientes para que essa condição se verificasse na prática. A mera declaração formal das liberdades nos documentos e nas legislações esboroava diante da inexorável exclusão econômica da maioria da população. Em vista disso, já no século XIX, buscaram- se os direitos sociais com ações estatais que compensassem tais desigualdades, municiando os desvalidos com direitos implantados e construídos de forma coletiva em prol da saúde, da educação, da moradia, do trabalho, do lazer e da cultura para todos. 15. (CESPE - Adaptada)##Dada a relação de concessão estabelecida entre as duas primeiras orações do texto, a palavra “Embora” (l.1) poderia, sem prejuízo do sentido ou da correção gramatical do texto, ser substituída por Conquanto. Resposta: Certo Comentário: A palavra “embora” é uma conjunção subordinativa adverbial concessiva, assim como a palavra “conquanto”. Como o verbo da oração em que a conjunção surge foi conjugado no subjuntivo, é possível afirmar que não haverá prejuízo para a correção gramatical ou para o sentido da sentença. -------------------------- ------------------------ A impunidade de políticos não decorre de foro privilegiado, mas de justiça ineficiente. Abolir o referido mecanismo produzirá efeitos desfavoráveis. É compreensível a confusão. A designação mais conhecida, “foro privilegiado”, sem dúvida, sugere a existência de condenável regalia. Não é estranho, portanto, que o Congresso tenha incluído em sua agenda positiva um esforço para eliminar essa prerrogativa constitucional. Os parlamentares estariam, com isso, oferecendo o seu quinhão para o combate à impunidade que tradicionalmente beneficia políticos de todos os matizes. Entretanto, há dois equívocos nesse raciocínio. O primeiro é imaginar que o foro especial — assegurado a autoridades como o presidente da República, governadores, prefeitos, congressistas e ministros de Estado — seja responsável pela ausência de punições na esfera jurídica. As numerosas instâncias da justiça comum favorecem a interposição de recursos, o que atrasa a caminhada processual e contribui para a impunidade. O segundo equívoco do raciocínio é imaginar que a prerrogativa de foro constitua, de fato, um privilégio. De um lado, porque não há benefício na supressão de um ou de todos os graus de jurisdição. De outro, porque o mecanismo busca assegurar um julgamento imparcial — em proveito não só do réu, mas também da sociedade. 16. (CESPE - Adaptada)##Mantêm-se as relações sintáticas originais ao se substituir o termo “Entretanto” (l. 9) por qualquer um dos seguintes: Porém, Contudo, Todavia, No entanto. Resposta: Certo Comentário: A palavra destacada é uma conjunção coordenativa adversativa, ou seja, que exprime sentido de oposição. Todos os elementos suscitados para a permuta a que a questão alude são da mesma natureza. Isso quer dizer que na troca solicitada não haveria problemas para a correção ou para o sentido da sentença. -------------------------- ------------------------ Leio que a ciência deu agora mais um passo definitivo. É claro que o definitivo da ciência é transitório, e não por deficiência da ciência (é Origem ciênciademais), que se supera a si mesma a cada dia... Não 10 LÍNGUA PORTUGUESA indaguemos para que, já que a própria ciência não o faz — o que, aliás, é a mais moderna forma de objetividade de que dispomos. Mas vamos ao definitivo transitório. Os cientistas afirmam que podem realmente construir agora a bomba limpa. Sabemos todos que as bombas atômicas fabricadas até hoje são sujas (aliás, imundas) porque, depois que explodem, deixam vagando pela atmosfera o já famoso e temido estrôncio 90. Ora, isso é desagradável: pode mesmo acontecer que o próprio país que lançou a bomba venha a sofrer, a longo prazo, as consequências mortíferas da proeza. O que é, sem dúvida, uma sujeira. Pois bem, essas bombas indisciplinadas, mal-educadas, serão em breve substituídas pelas bombas n, que cumprirão sua missão com lisura: destruirão o inimigo, sem riscos para o atacante. Trata-se, portanto, de uma fabulosa conquista, não? Ferreira Gullar. Maravilha. In: A estranha vida banal. Rio de Janeiro: José Olympio, 1989, p. 109. 17. (CESPE - Adaptada)##Mantendo-se a correção gramatical e a coerência do texto, a conjunção “e”, em “e não por deficiência da ciência” (l. 2), poderia ser substituída por mas. Resposta: Certo. Comentário: A conjunção “e”, na maior parte das vezes, indica uma soma, ou seja, é aditiva. Ocorre que, na sentença em questão, ela desempenha função adversativa, razão pela qual sua permuta pela palavra “mas” (conjunção coordenativa adversativa) não prejudicaria a correção gramatical da sentença, tampouco a coerência. -------------------------- ------------------------ Todos nós, homens e mulheres, adultos e jovens, passamos boa parte da vida tendo de optar entre o certo e o errado, entre o bem e o mal. Na realidade, entre o que consideramos bem e o que consideramos mal. Apesar da longa permanência da questão, o que se considera certo e o que se considera errado muda ao longo da história e ao redor do globo terrestre. Ainda hoje, em certos lugares, a previsão da pena de morte autoriza o Estado a matar em nome da justiça. Em outras sociedades, o direito à vida é inviolável e nem o Estado nem ninguém tem o direito de tirar a vida alheia. Tempos atrás era tido como legítimo espancarem-se mulheres e crianças, escravizarem-se povos. Hoje em dia, embora ainda se saiba de casos de espancamento de mulheres e crianças, de trabalho escravo, esses comportamentos são publicamente condenados na maior parte do mundo. Mas a opção entre o certo e o errado não se coloca apenas na esfera de temas polêmicos que atraem os holofotes da mídia. Muitas e muitas vezes é na solidão da consciência de cada um de nós, homens e mulheres, pequenos e grandes, que certo e errado se enfrentam. E a ética é o domínio desse enfrentamento. Marisa Lajolo. Entre o bem e o mal. In: Histórias sobre a ética. 5.ª ed. São Paulo: Ática, 2008 (com adaptações). 18. (CESPE - Adaptada)##Dado o fato de que nem equivale a e não, a supressão da conjunção “e”, empregada logo após “inviolável”, na linha 8, manteria a correção gramatical do texto. Resposta: Errado. Comentário: Se houvesse a supressão do termo em questão, seria necessário inserir uma vírgula em seu lugar, a fim de manter a correção gramatical da sentença, pois o termo precisaria ficar separado da sentença como um elemento deslocado. 11 LÍNGUA PORTUGUESA Durante o período de janeiro a março de 2013, foram recebidas 13.348 reclamações de beneficiários de planos de saúde referentes à garantia de atendimento. Entre as operadoras médico-hospitalares, 480 tiveram pelo menos uma reclamação e, entre as operadoras odontológicas, 29 tiveram pelo menos uma reclamação de não cumprimento dos prazos máximos estabelecidos ou de negativa de cobertura. A fiscalização do cumprimento das garantias de atendimento é uma forma eficaz de se certificar o beneficiário da assistência por ele contratada, pois leva as operadoras a ampliarem o credenciamento de prestadores e a melhorarem o seu relacionamento com o cliente. Para isso, a participação dos consumidores é de fundamental importância. Internet: <www.ans.gov.br> (com adaptações). 19. (CESPE - Adaptada)##Mantêm-se a correção gramatical do período e suas informações originais ao se substituir o termo “pois” (l. 7) por qualquer um dos seguintes: já que, uma vez que, porquanto. Resposta: Certo. Comentário: A conjunção destacada é subordinativa adverbial causal, assim como as conjunções e locuções conjuntivas destacadas para a substituição na sentença. Por essa razão, não haveria prejuízo para a correção ou para o sentido da sentença, ao realizar a permuta mencionada. -------------------------- ------------------------ As relações que as sociedades ocidentais industriais mantêm com os temas da ciência e da tecnologia não se constituem numa constante. No transcorrer da história dessas sociedades, a ciência deixa de ser entendida apenas como um tipo de conhecimento tido como válido e passa a se conjugar com as técnicas, conformando uma aplicação prática e útil desse conhecimento. Isso ocorre desde os desdobramentos da Revolução Industrial no século XIX, quando ciência e tecnologia passaram a constituir um binômio, abreviadamente ex-presso por C&T, no qual, cada vez mais, conhecimento científico e técnica se entrelaçam. A tecnologia vai-se tornando plena de ciência e esta tende a incorporar crescentemente a técnica. Já no século XX, o desenvolvimento de ciência e tecnologia passou a utilizar intensivamente grandes investimentos financeiros, tendo em vista o domínio tanto da natureza quanto das sociedades. A partir de então, e dada a intensifi- cação dos processos técnico-científicos da contemporaneidade, surgem posiciona- mentos antagônicos em relação à temáti- ca da aceleração tecnológica. Por um lado, estabelece-se uma compreensão de que o incremento de ciência e tecnologia é algo determinante, ou até mesmo fundamental para um desenvolvimento econômico e so- cial satisfatório, além de ser politicamente neutro e desprovido de normatividade. Desde outra perspectiva, desenvolvem-se reflexões sobre as incertezas e indeterminações acerca do destino das sociedades como consequência dos principais modelos e sistemas técnico- científicos contemporâneos. Questiona-se o papel da ciência e da tecnologia como fator determinante e como atividade neutra de valores. Raquel Folmer Corrêa. Tecnologia e sociedade : análise de tecnologias sociais no Brasil contemporâneo. Porto Alegre: UFRGS, 2010. Dissertação de mestrado. In: Internet: <http://www.lume.ufrgs.br> (com adaptações) 20. (CESPE - Adaptada)##Nas linhas 8 e 28, as ocorrências do vocábulo “desde” introduzem circunstâncias temporais. Resposta: Errado. 12 LÍNGUA PORTUGUESA Comentário: Na primeira ocorrência, a palavra “desde” indica uma circunstância de tempo; na segunda ocorrência, a palavra “desde” indica perspectiva (posição) e não circunstância temporal. -------------------------- ------------------------ Se considerarmos o panorama internacional, perceberemos que o Ministério Público brasileiro é singular. Em nenhum outro país, há um Ministério Público que apresente perfil institucional semelhante ao nosso ou que ostente igual conjunto de atribuições. Do ponto de vista da localização institucional, há grande diversidade de situações no que se refere aos Ministérios Públicos dos demais países da América Latina. Encontra-se, por exemplo, Ministério Público dependente do Poder Judiciário na Costa Rica, na Colômbia e, no Paraguai, e ligado ao Poder Executivo, no México e no Uruguai. Constata-se, entretanto, que, apesar da maior extensão de obrigações do Ministério Público brasileiro, a relação entre o número de integrantes da instituição e a população é uma das mais desfavoráveis no quadro latino-americano. De fato, dados recentes indicam que, no Brasil, com 4,2 promotorespara cada 100 mil habitantes, há uma situação de clara desvantagem no que diz respeito ao número relativo de integrantes. No Panamá, por exemplo, o número é de 15,3 promotores para cada cem mil habitantes; na Guatemala, de 6,9; no Paraguai, de 5,9; na Bolívia, de 4,5. Em situação semelhante ou ainda mais crítica do que o Brasil, estão, por exemplo, o Peru, com 3,0; a Argentina, com 2,9; e, por fim, o Equador, com a mais baixa relação: 2,4. É correto dizer que há nações proporcionalmente com menos promotores que o Brasil. No entanto, as atribuições do Ministério Público brasileiro são muito mais extensas do que as dos Ministérios Públicos desses países. Maria Tereza Sadek. A construção de um novo Ministério Público resolutivo. Inter- net: <https://aplicacao.mp.mg.gov.br> (com adaptações). 21. (CESPE - Adaptada)##Seriam mantidas a coerência e a correção gramatical do texto se, feitos os devidos ajustes nas iniciais maiúsculas e minúsculas, o período “É correto (...) o Brasil” (l.11-12) fosse iniciado com um vocábulo de valor conclusivo, como logo, por conseguinte, assim ou porquanto, seguido de vírgula. Resposta: Errado. Comentário: A questão não fala sobre a retirada do ponto final da sentença antecedente. Além disso, é preciso entender que as conjunções conclusivas não estabelecem relação de conclusão com a sentença antecedente, mas com toda a circunstância que era transmitida pelo texto. Portanto, a alteração mencionada causaria prejuízo para a coerência da sentença. -------------------------- ------------------------ A parte da natureza varia ao infinito. Não há, no universo, duas coisas iguais. Muitas se parecem umas às outras, mas todas entre si diversificam. Os ramos de uma só árvore, as folhas da mesma planta, os traços da polpa de um dedo humano, as partículas do mesmo pó, as raias do espectro de um só raio solar ou estelar. Tudo assim, desde os astros no céu, até os micróbios no sangue, desde as nebulosas no espaço até as gotas do rocio na relva dos prados. A regra da igualdade não consiste senão em quinhoar desigualmente aos desiguais na medida em que se desigualam. Nessa desigualdade social, proporcionada à desigualdade natural, é que se acha a verdadeira lei da igualdade. O mais são desvarios da inveja, do orgulho ou da loucura. Tratar com desigualdade a iguais, ou a desiguais com igualdade, seria desigualdade 13 LÍNGUA PORTUGUESA flagrante e não igualdade real. Essa blasfêmia contra a razão e a fé, contra a civilização e a humanidade, é a filosofia da miséria; executada, não faria senão inaugurar a organização da miséria. Se a sociedade não pode igualar os que a natureza criou desiguais, cada um, nos limites da sua energia moral, no entanto, pode reagir sobre as desigualdades nativas, pela educação, atividade e perseverança. Tal a missão do trabalho. Ruy Barbosa. Oração aos moços. Internet: <http://home.comcast.net> (com adaptações). 22. (CESPE - Adaptada)##Não haveria prejuízo para o sentido original nem para a correção gramatical do texto caso se inserisse quando ou se for imediatamente antes de “executada” (l.15). Resposta: Errado. Comentário: Para entender a questão, é preciso entender o que evoca a conjunção empregada. No caso de utilizar a palavra “quando”, ela suscitará um verbo no futuro do presente e não no futuro do pretérito, como está no texto. A única permuta possível seria pela palavra “se” pode evocar o sentido de hipótese, ou seja, o verbo no futuro do pretérito. -------------------------- ------------------------ Escrevi uma carta aos meus concidadãos, pedindo-lhes que me dissessem francamente o que consideravam que fosse política, e dispensando-os de citar Aristóteles, Maquiavelli, Spencer, Comte. (...) Não tardou que o correio começasse a entregar-me as respostas; e, como eu não pagava o porte, reconheci que há neste mundo uma infinidade de filhos de Deus ou do diabo que os carregue, que estão à espreita de um simples pretexto para comunicar as suas ideias, ainda à custa dos vinténs magros. Não publico todas as definições recebidas, porque a vida é curta, vita brevis. Faço, porém, uma escolha rigorosa, e dou algumas das principais. (...) Uma das cartas dizia simplesmente que a política é tirar o chapéu às pessoas mais velhas. Outra afirmava que a política é a obrigação de não meter o dedo no nariz. Outra, que é, estando à mesa, não enxugar os beiços no guardanapo da vizinha, nem na ponta da toalha. Um secretário de club dançante jura que a política é dar excelência às moças, e não lhes pôr alcunhas. Segundo um morador da Tijuca, a política é agradecer com um sorriso animador ao amigo que nos paga a passagem. Muitas cartas são tão longas e difusas, que quase se não pode extratar nada. Citarei dessas a de um barbeiro, que define a política como a arte de lhe pagarem as barbas, e a de um boticário para quem a verdadeira política é não comprar nada na botica da esquina. Um sectário de Comte (viver às claras) afirma que a política é berrar nos bonds, quer se trate dos negócios da gente, quer dos estranhos. Não entendi algumas cartas. A letra de outras é ilegível. Outras repetem-se. Cinco ou seis dão, como suas, opiniões achadas nos livros. Note-se que, em todo esse montão de cartas, não há uma só de deputado ou senador, contudo escrevi a todos eles pedindo uma definição. Machado de Assis. Balas de estalo. In: Obra completa, vol. 3, Rio de Janeiro: Aguilar, 1973, p. 468-9 (com adaptações). 23. (CESPE - Adaptada)##O termo “contudo” (l.27) estabelece entre as orações do período relação sintática adversativa, por isso, poderia ser corretamente substituído por qualquer um dos seguintes vocábulos: entretanto, todavia, no entanto, porém, embora, conquanto. Resposta: Errado. Comentário: O candidato deve perceber, 14 LÍNGUA PORTUGUESA nessa questão, a tentativa de o elaborador enganar alguém mais despreparado. Ao colocar uma série de conjunções, o elaborador tenta enganar o candidato, pois o último elemento do encadeamento, a palavra “conquanto”, é uma conjunção subordinativa adverbial concessiva, que não expressa o mesmo sentido das demais, que são coordenativas adversativas. Por isso, a questão está errada. -------------------------- ------------------------ A língua indígena mais conhecida dos brasileiros — conquanto esse conhecimento se limite, em regra, só a um de seus nomes, tupi — é justamente o tupi-nambá. Essa foi a língua predominante nos contatos entre portugueses e indígenas nos séculos XVI e XVII e tornou-se a língua da expansão bandeirante no sul e da ocupação da Amazônia norte. Seu uso pela população luso-brasileira, tanto no norte quanto no sul da Colônia, era tão geral, no século XVIII, que o governo português chegou a baixar decretos (cartas régias) proibindo esse uso. Uma das consequências da prolongada convivência do tupinambá com o português foi a incorporação a este último de considerável número de palavras daquele. É notável a quantidade de lugares com nomes de origem tupinambá, quase sem alteração de pronúncia, muitos deles dados pelos luso-brasileiros dos séculos passados a localidades onde nunca viveram índios tupinambás. Aryon Dall’Igna Rodrigues. Línguas brasileiras: para o conhecimento das línguas indígenas. São Paulo: Loyola, 2002 (com adaptações). 24. (CESPE - Adaptada)##A conjunção “conquanto” (l.1) introduz uma oração em que se admite um fato contrário e subordinado ao fato afirmado na oração principal. Resposta: Certo. Comentário: Por ser uma conjunção de natureza concessiva, é possível afirmar que a sentença por ele introduzida indica uma contraposição ao que se afirma na oração principal. Essa palavra encontra os elementos “embora,” “ainda que” e “mesmo que” como equivalentes semânticos. -------------------------- ------------------------ O Senado Federal aprovou em plenário, em 31/10/2012, o projeto de lei originário da Câmarados Deputados (PL n.º 2.793/2011) que tipifica como criminosas algumas condutas cometidas no meio digital, sobretudo a invasão de computadores. A imprensa tem noticiado como se fosse a primeira aprovação desse tipo no Brasil e alguns setores comemoraram como se a existência de uma lei para os crimes eletrônicos fosse tudo o que faltava para diminuir a delinquência cibernética. Sendo o Brasil um país de tradições positivistas e sendo vedada a aplicação de analogia para criar tipos penais, não resta dúvida da necessidade de aprovação da lei. Talvez com a previsão dessas condutas específicas, haja melhores resultados punitivos. A falta de estrutura na maioria das delegacias civis do país e a ausência de previsão legal que estabeleça a obrigatoriedade da guarda de logs acabam por inviabilizar a investigação dos crimes digitais, em muitos casos. Com o Marco Civil da Internet (PL n.º 2.126/2011), o legislador poderia sanar esse problema ao prever o armazenamento de tais registros, sem dar margem à violação da privacidade, evidentemente. No entanto, no último parecer ao projeto, no mês julho, o deputado relator retirou a obrigatoriedade do armazenamento dos dados pelos provedores de aplicações à Internet, os chamados provedores de conteúdo, deixando essa previsão apenas aos provedores de conexão. O fato é que os registros de conexão nem sempre são suficientes para uma eficiente coleta de provas. O certo seria obrigar também os provedores de conteúdo a fazer esse registro, o que permitiria investigar e punir não só os crimes digitais como também 15 LÍNGUA PORTUGUESA outros, tais como os de difamação, calúnia e injúria, tão comuns nas redes sociais. Rafael Fernandes Maciel. In: Consultor Jurídico, 9/11/2012. Internet: <www.conjur.com.br> (com adaptações) 25. (CESPE - Adaptada) Mantendo-se a relação de sentido estabelecida entre os períodos, a expressão “No entanto” (l.17) poderia ser substituída, corretamente, por Com tudo. Resposta: Errado. Comentário: Essa questão, além de envolver conceitos de morfologia – conjunções, utiliza conhecimentos de ortografia. A despeito de haver uma locução conjuntiva coordenativa adversativa, a permuta não é possível, pois o elemento sugerido está grafado incorretamente. A grafia correta da palavra é “contudo”, sem separação. -------------------------- ------------------------ O IDEB, indicador de qualidade educacional, combina informações sobre desempenho em exames padronizados (Prova Brasil ou SAEB) — demonstrado pelos estudantes ao final do ensino fundamental e do ensino médio — com informações sobre rendimento escolar (aprovação). Estudos e análises da qualidade educacional raramente combinam as informações produzidas por esses dois tipos de indicadores, ainda que a complementaridade entre elas seja evidente. Um sistema educacional que reprove sistematicamente seus estudantes, fazendo que grande parte deles abandone a escola antes de completar a educação básica, não é desejável, mesmo se aqueles que concluem essa etapa de ensino atingem elevadas pontuações nos exames padronizados. Por outro lado, também não se deseja um sistema em que todos os alunos concluam o ensino médio no período correto, mas aprendam muito pouco na escola. Em suma, um sistema de ensino ideal seria aquele em que crianças e adolescentes tivessem acesso à escola, não desperdiçassem tempo com repetências, não abandonassem a escola precocemente e, ao final de tudo, aprendessem. Sabe-se que, no Brasil, a questão do acesso à escola não é mais um problema, já que a quase totalidade das crianças ingressa no sistema educacional. Entretanto, as taxas de repetência dos estudantes são bastante elevadas, assim como o é a proporção de adolescentes que abandonam a escola antes mesmo de concluir a educação básica. Outro indicador preocupante é a baixa proficiência obtida pelos alunos em exames padronizados. Internet: <http://download.inep.gov.br> (com adaptações) 26. (CESPE - Adaptada) A locução “já que” (l.19) confere a noção de causa à oração em que ocorre. Resposta: Certo. Comentário: A locução conjuntiva “já que” pertence à categoria das conjunções subordinativas adverbiais causais, por isso, introduz uma noção de causa à sentença em que aparece. Se analisar a sentença em que aparece: “a questão do acesso à escola não é mais um problema, já que a quase totalidade das crianças ingressa no sistema educacional”, será possível perceber a relação de causa e consequência – a totalidade das crianças ingressar no sistema educacional é a causa de a questão do acesso à escola não ser mais um problema. 16 LÍNGUA PORTUGUESA se entre si sem conciliação possível. Um exemplo dos estragos causados pela privatização desse recurso natural é o das represas Santo Antonio e Jirau, no rio Madeira, a oeste do Amazonas, no Brasil. As duas represas têm um custo de 20 bilhões de dólares e, na sua construção, estão envolvidas a multinacional GDF-Suez e o banco espanhol Santander. A construção dessas imensas represas provocou o que Ronack Monabay, da ONG Amigos da Terra, chama de “um desarranjo global”. As obras desencadearam um êxodo interior dos índios que viviam na região. Eles foram se refugiar em outra área ocupada por garimpeiros em busca de ouro e terminaram enfrentando-se com eles. (...) Brice Lalonde, coordenador da Rio+20, cúpula da ONU para o Meio Ambiente, prometeu que a água será “uma prioridade” da reunião que será realizada no Rio de Janeiro em junho. O responsável francês destaca neste sentido o paradoxo que atravessa este recurso natural: “a água é uma espécie de jogo entre o global e o local”. E neste jogo o poder global das multinacionais se impõe sobre os poderes locais. As ONGs não perdem as esperanças e apostam na mobilização social para contrapor a influência das megacorporações. Neste contexto preciso, todos lembram o exemplo da Bolívia. Jacques Cambon, organizador do Fórum Alternativo Mundial da Água e membro da ONG Aquattac, recorda o protesto que ocorreu na cidade de Cocha-bamba: “dezenas de milhares de pessoas manifestaram-se na rua em protesto contra o aumento da tarifa da água potável imposto pela multinacional norte-americana Bechtel”. A guerra da água é silenciosa, mas existe: conflito em Barcelona causado pelo aumento das tarifas, quase guerra na Patagônia chilena por causa da construção de enormes represas e da privatização de sistemas fluviais inteiros, antagonismos em Barcelona e em PREPOSIÇÕES Guerra da água é silenciosa, mas já está em curso Quanto vale a vida? “Para começar, um bom copo de água”, responde com ironia Jerôme, um dos participantes do Fórum Mundial Alternativo de Água (FAME) que se reuniu na França, paralelamente ao muito oficial Fórum Mundial da Água (FME). Duas “cúpulas” e duas posturas radicalmente opostas que expõem até o absurdo o antagonismo entre as multinacionais privadas da água e aqueles que militam por um acesso gratuito e igual a este recurso natural cuja propriedade é objeto de uma áspera disputa nos países do Sul. Basta apontar a identidade dos organizadores do Fórum Mundial da Água para entender o que está em jogo: o Fórum oficial foi organizado pelo Conselho Mundial da Água. Este organismo foi fundado pelas multinacionais da água Suez e Veolia e pelo Fundo Monetário Internacional, incansáveis defensores da privatização da água nos países do Sul. O mercado que enxergam diante de si é colossal: um bilhão de seres humanos não têm acesso à água potável e cerca de três bilhões de seres humanos carecem de banheiro. O tema da água é estratégico e tem repercussões humanas muito profundas. Os especialistas calculam que, entre 1950 e 2025, ocorrerá uma diminuição de 71% nas reservas mundiais de água por habitante: 18 mil metros cúbicos em 1950 e 4.800 metros cúbicos em 2025. Cerca de 2.500 pessoas morrem por dia por não dispor de um acesso adequado à águapotável. A metade delas é de crianças. Comparativamente, 100% da população de Nova York recebe água potável em suas casas. A porcentagem cai para 44% nos países em via de desenvolvimento e despenca para 16% na África Subsaariana. As águas turvas dos negócios e as reivindicações límpidas da sociedade civil, que defende o princípio segundo o qual a água é um assunto público e não privado e uma gestão racional dos recursos, chocam- 17 LÍNGUA PORTUGUESA muitos países africanos pelas tarifas abusivas aplicadas pelas multinacionais. A pérola fica por conta da Coca Cola e de suas tentativas de garantir o controle em Chiapas, México, das reservas de água mais importantes do país. Jacques Cambon está convencido de que “o problema do acesso à água é um problema de democracia. Enquanto não se garantir o acesso e a gestão da água sob supervisão de uma participação cidadã haverá guerras da água em todo o mundo”. (...) A ONU apresentou na França um informe sobre o impacto da mudança climática na gestão da água: secas, inundações, transtornos nos padrões básicos de chuva, derretimento de geleiras, urbanização excessiva, globalização, hiperconsumo, crescimento demográfico e econômico. Cada um destes fatores constitui, para as Nações Unidas, os desafios iminentes que exigem respostas da humanidade. A margem de manobra é estreita. Nada indica que os tomadores de decisão estão dispostos a modificar o rumo de suas ações. A mudança climática colocou uma agenda que as multinacionais, os bancos e o sistema financeiro resistem a aceitar. Seguem destruindo, em benefício próprio e contra a humanidade. Ante a cegueira das multinacionais, a solidariedade internacional e o lançamento daquilo que se chamou na França de “um efeito mariposa” em torno da problemática da água são duas respostas possíveis para frear a seca mundial. Eduardo Febbro - De Paris Tradução: Katarina Peixoto (Adaptado de www.cartamaior.com.br) 27. (CEPERJ - Adaptada)##“Cada um destes fatores constitui, para as Nações Unidas, os desafios iminentes que exigem respostas da humanidade” (7º parágrafo). Nessa frase, a preposição “para” possui valor semântico de: a) comparação b) finalidade c) explicação d) direção e) conformidade Resposta: E Comentário: Na sentença em questão, a preposição empregada pode ser entendida com o sentido de “conforme”, o que - claramente - indica conformidade. Ainda existe outra possibilidade de entender o sentido dessa sentença, trocando a preposição “para” pela locução “de acordo com”. -------------------------- ------------------------ Todos chegarão lá RIO DE JANEIRO – O Brasil está envelhecendo. Segundo instituições oficiais calculam, 20% da população terá mais de 60 anos em 2030. É o óbvio: vive-se mais, morre-se menos e as taxas de fecundidade estão caindo – e olhe que nunca se viram tantos gêmeos em carrinhos duplos no calçadão de Ipanema. Em números absolutos, esperam-se perto de 50 milhões de idosos em 2030 – imagine o volume de Lexotan, Viagra e fraldas geriátricas que isso vai exigir. Não quer dizer que a maioria desses macróbios seguirá o padrão dos velhos de antigamente, que, mal passados dos 60, equipados com boina, cachecol, suéter e cobertor nas pernas, eram levados para tomar sol no parquinho. Como a sociedade mudou muito, creio que os velhos de 2030 se parecerão cada vez mais com meus vizinhos do Baixo Vovô, aqui no Leblon – uma rede de vôlei frequentada diariamente por sexa ou septuagenários, com músculos invejáveis e capazes de saques mortíferos. A vida para eles nunca parou. Para eles, o lema é: se não se trabalha, diverte-se. 18 LÍNGUA PORTUGUESA Por sorte, a aceitação do velho é agora maior do que nunca. Bem diferente de 1968 – apogeu de algo que me parecia fabricado, chamado “Poder Jovem” –, em que ser velho era quase uma ofensa. À idade da razão, que deveria ser a aspiração de todos, sobrepunha- se o que Nelson Rodrigues denunciava como “a razão da idade” – a juventude justificando todas as injustiças e ignomínias (como as ocorridas na China, em que velhos eram humilhados publicamente por serem velhos, durante a Revolução Cultural). Enquanto naquela mesma época o rock era praticado por jovens esbeltos, bonitos e de longas cabeleiras, para uma plateia de rapazes e moças idem, hoje, como se viu no Rock in Rio, ele é praticado por velhos carecas, gordos e tatuados, para garotos que podiam ser seus netos. Já se pode confiar em maiores de 60 anos e, um dia, todos chegarão lá. (Ruy Castro. Folha de S.Paulo. 04.10.2013. Adaptado) 28. (VUNESP – Adaptada)##A frase em que a preposição destacada estabelece uma relação de lugar é: a) (...) 20% da população terá mais de 60 anos em 2030. (1.° parágrafo) b) Em números absolutos, esperam-se perto de 50 milhões de idosos em 2030 (...) (2.° parágrafo) c) Bem diferente de 1968 – apogeu de algo que me parecia fabricado, chamado “Poder Jovem” –, em que ser velho era quase uma ofensa. (4.° parágrafo) d) (...) (como as ocorridas na China, em que velhos eram humilhados publicamente por serem velhos, durante a Revolução Cultural). (4.° parágrafo) e) Já se pode confiar em maiores de 60 anos e, um dia, todos chegarão lá. (5.° parágrafo) Resposta: D Comentário: Na letra A, a preposição indica tempo, pois se associa ao numeral que indica o ano; na letra B, a ideia transmitida é de modo; na letra C, a preposição se relaciona ao ano de 1968, portanto, o sentido é temporal. Na letra D, a preposição se relacionada ao pronome “que” para formar um adjunto adverbial de lugar - ao retomar o termo China -; na letra E, a preposição introduz o complemento do verbo “confiar”. 29. (FUMARC - Adaptada)##Assinale a alternativa em que a substituição da preposição em destaque pela dos parênteses implique erro. a) O nome do Diretor Financeiro não constou na ata. (de) b) Depois que me aposentar, pretendo ir para o exterior. (a) c) É de Robert Frost a afirmativa de que o júri consta de doze pessoas escolhidas para decidirem quem tem o melhor advogado. (em) d) Ainda não temos confirmação da organização do congresso, mas, se tudo der certo, vamos a Estocolmo nas próximas férias de julho. (para) Resposta: C Comentário: Na letra A, não há problemas para a correção gramatical, em virtude de a preposição “de” também poder funcionar como introdução de complemento do verbo constar (nesse caso, significa algo como “estar na formulação de”. Na letra B, a preposição “a” indica direção ou movimento, logo, não há prejuízo para a correção ou para o sentido. Na letra C, não é possível utilizar a preposição “em”, por razão da regência do substantivo “afirmativa”, que deve ter o seu complemento introduzido pela preposição “de”. Na letra D, a despeito da mudança de sentido, não há erro em trocar a preposição, pois as duas significam destino ou orientação. 19 LÍNGUA PORTUGUESA Note-se, em tempo, que a mudança de sentido promovida pela troca das preposições “a” por “para”, no sentido de orientação ou destino, tem a ver com a noção de permanência: utilizando a preposição “para”, não há o indicativo de retorno; utilizando a preposição “a”, há o indicativo. -------------------------- ------------------------ A figura do ancião, desde o início dos relatos das primeiras civilizações, é muito controversa e discutida. No mundo ociden- tal, o senso comum das principais culturas muitas vezes discordava dos ensinamentos das filosofias clássicas sobre as contribui- ções da velhice para a sociedade. O estudo das reais condições trazidas pelo avanço da idade gerou diversas discussões éticas sobre as percepções biossociais dos processos de mudança do corpo. Médicos, biólogos, psicó- logos e antropólogos ainda hoje não conse- guem obter consenso sobre esse fenômeno em suas respectivas áreas. Muitas culturas ocidentais descrevem o estereótipo do jovem como corajoso, deste- mido, forte e indolente. Já a figurado idoso é retratada como um peso morto, um chato em decadência corporal e mental. Percep- ção preconceituosa que foi levada ao extre- mo no século XX pelos portugueses durante a ditadura de Antônio Salazar, notório por usar a perseguição aos idosos como bandei- ra política. Atletas e artistas cotidianamen- te debatem o avanço da idade com medo e desgosto, enquanto especial istas da saúde questionam se há deterioração ou mudança adapta-tiva do corpo humano. Nas culturas orientais, assim como na maioria das filosofias clássicas, a velhice é vista de um ângulo positivo, sendo fonte de sabedoria e meta para uma vida guiada pela prudência. O sábio ancião, que perso- nifica a figura do homem calmo, austero, e que muitas vezes é capaz de prever certas situações e aconselhar, se destaca em rela- ção ao jovem cheio de energia e de hormô- nios instáveis. Porém, apesar dos filósofos apreciarem o avanço da idade, nem todos eles tinham a mesma opinião sobre a velhi- ce. O jovem Platão tinha como inspiração o velho filósofo Sócrates. Apesar de ser desfa- vorecido materialmente, Sócrates possuía muita experiência e uma sabedoria ímpar que marcou a história do pensamento. Em A República , Platão retrata uma discussão filosófica sobre a justiça ocorrida na casa do velho Céfalo, homem importante e respei- tável em Atenas, que propiciava discussões filosóficas entre os mais velhos e os jovens que contemplavam os diálogos. Na socieda- de ideal desse filósofo, os jovens muitas ve- zes eram retratados como inconsequentes e ingênuos, a exemplo de Polemarco, filho de Céfalo. Nesta sociedade ideal, crianças e adolescen- tes não recebiam diretamente o ensino da Filosofia. Por ser um conhecimento nobre e difícil, [ela] era ensinada somente para pes- soas de idade mais avançada. Dentre os filósofos clássicos, o maior crí- tico sobre a construção filosófica da ideia de “velhice” era o estoico Sêneca. Para ele, Pla- tão, Aristóteles e Epicuro construíram uma concepção mitológica da figura do velho. Os idosos que ele conheceu em Roma muitas vezes não eram tão felizes como descreviam os gregos. Muitos deles, observou Sêne- ca, pareciam tranquilos, mas no fundo não eram. A aparente tranquilidade decorria de seu cansaço e desânimo por não conseguir mais lutar por aquilo que queriam. Não bus- caram a ataraxia enquanto jovens, ou seja, a tranquilidade da alma e a ausência de per- turbações frente aos desafios impostos pela vida. Se envelhecer é uma “droga”, como afir- ma o ator Arnold Schwarzenegger, ou se [a velhice] é a “melhor idade”, como dizem muitos aposentados, esses discursos não contribuem para uma resposta definitiva para o estudo científico. Afinal, o conceito de velhice não é um fenômeno puramente biológico, mas também fruto de uma cons- trução social e psicoemocional. MEUCCI, Arthur. Rev. Filosofia : março de 2013, p. 72-3. 20 LÍNGUA PORTUGUESA 30. (FUNCAB – Adaptada)##No período: “[...] Por ser um conhecimento nobre e difícil, [ela] era ensinada somente para pessoas de idade mais avançada.” (§ 3) a preposição POR introduz a mesma circunstância que em: a) batalhar por conseguir um lugar ao sol. b) perder o emprego por incompetência. c) corresponder-se com amigos por email d) ausentar-se por algumas semanas. e) relarcear os olhos por toda a sala. Resposta: B Comentário: Na letra A, a preposição introduz o sentido de finalidade (lutar para conseguir algo); na letra B, a preposição introduz o sentido de causa, que é idêntico ao do comando da questão. Na letra C, a preposição introduz o sentido de modo. Na letra D, a preposição introduz o sentido de tempo. Na letra E, a preposição introduz sentido de lugar. 31. (IBFC - Adaptada)##Considere os versos abaixo para responder às questões 20 e 21 seguintes. I. “A esperança vem do sul” II. “vem no café que produzimos” Nos versos em análise, foram destacadas contrações de preposições. Assinale a opção que apresenta, respectivamente, os valores semânticos que elas introduzem. a) lugar e lugar b) lugar e meio c) meio e meio d) meio e tempo e) lugar e tempo Resposta: B Comentário: A contração a que o comando da questão alude está relacionada à soma das preposições “de” e “em” com o artigo definido masculino “o”. Na construção “vir do sul”, o adjunto adverbial revela a ideia de lugar, ao passo que, na construção “vir no café”, o adjunto adverbial revela a ideia de meio. 32. (Makiyama – Adaptada)##Assinale a alternativa em que a preposição destacada estabelece sentido de origem: a) Apesar do mau tempo, viajou. b) O professor sequer quis ouvir às solicitações do aluno. c) Os vitrais chegaram aqui em pedaços. d) Este xale é de seda pura. e) As crianças não gostaram do ensopado de jiló. Resposta: B Comentário: Na letra A, a preposição estabelece o sentido de concessão; na letra B, a solicitação é proveniente do aluno, logo, a preposição indica origem. Na letra C, a preposição indica o sentido de modo; na letra D, a preposição indica o sentido de material (xale de seda); na letra E, o sentido empregado é o de material também (sopa feita com / de jiló). 33. (FJG – Adaptada)##“bem como os direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam” (2º parágrafo). A preposição em destaque pode preencher corretamente a lacuna em: a) Nos conflitos com fazendeiros, índios às vezes são violentos, pois agem ___ pressão. b) Frequentemente, a juventude clama ___ direitos que não são respeitados. c) Políticos da oposição votaram ___ o nosso projeto. d) A autora divulga dados ___ a situação atual dos povos indígenas. 21 LÍNGUA PORTUGUESA Resposta: D Comentário: Na letra A, a palavra correta é “sob” e não “sobre”. Na letra B, a preposição a ser empregada é “por”. Na letra C, a preposição em questão deveria ser “em” (apesar de dever aparecer na forma contrata). Finalmente, a sentença correta será a da letra D, pois a preposição deve introduzir ideia de assunto (sobre), nesse caso a frase conteria a informação “dados sobre a situação atual”. 34. (VUNESP – Adaptada)##Em – ... cada um de nós morre um pouco quando alguém, na distância e no tempo, rasga alguma carta nossa, e não tem esse gesto de deixá-la em algum canto,... – a expressão em destaque introduz a ideia de a) posse. b) tempo. c) modo. d) causa. e) lugar. Resposta: E Comentário: A preposição “em” associada ao termo “algum canto” cria a ideia de lugar. 35. (VUNESP – Adaptada)##Assinale a alternativa em que o termo em destaque expressa circunstância de posse. a) Era razoável, e diante da testemunha abri a bolsa, não sem experimentar a sensação de violar uma intimidade. b) Hesitei: constrangia-me abrir a bolsa de uma desconhecida ausente; nada haveria nela que me dissesse respeito. c) Por isso, grande foi a minha emoção ao deparar, no assento do ônibus, com uma bolsa preta de senhora. d) Mas eu não estava preparado para achar uma bolsa, e comuniquei a descoberta ao passageiro mais próximo. e) ... e sei de um polonês que achou um piano na praia do Leblon. Resposta: B Comentário: Na letra A, a ideia transmitida é a de lugar (diante de); na letra B, a ideia transmitida é a de posse (a bolsa pertencia a uma desconhecida); na letra C, a preposição estabelece o sentido de lugar; na letra D, a preposição introduz o sentido de finalidade; na letra E, o sentido transmitido é o de assunto (saber de / sobre). PRONOMES Da utilidade dos animais Terceiro dia de aula. A professora é um amor. Na sala, estampas coloridas 1 mostram animais de todos os feitios. “É preciso querer bem a eles”, diz a professora, com um sorriso que envolve toda a fauna, protegendo-a. “Eles têm direito à vida, como nós, além disso são muito úteis. Quem não sabe que o cachorro é o maior amigo da gente? Cachorro faz muita falta. Mas 4 não é só ele não. A galinha, o peixe, a vaca... Todos ajudam.” — Aquele cabeludo ali, professora, também ajuda? — Aquele? É o iaque, um boi da ÁsiaCentral. Aquele serve de montaria e de burro de carga. Do pêlo se fazem perucas 7 bacaninhas. E a carne, dizem que é gostosa. — Mas se serve de montaria, como é que a gente vai comer ele? — Bem, primeiro serve para uma coisa, depois para outra. Vamos adiante. Este é o texugo. Se vocês quiserem pintar a 22 LÍNGUA PORTUGUESA 10 parede do quarto, escolham pincel de texugo. Parece que é ótimo. — Ele faz pincel, professora? — Quem, o texugo? Não, só fornece o pêlo. Para pincel de barba também, que o Arturzinho vai usar quando crescer. 13 Arturzinho afirmou que pretende usar barbeador elétrico. Além do mais, não gostaria de pelar o texugo, uma vez que devemos gostar dele, mas a professora já explicava a utilidade do canguru: — Bolsas, malas, maletas, tudo isso o couro do canguru dá pra gente. Não falando na carne. Canguru é utilíssimo. 16 — Vivo, fessora? — A vicunha, que vocês estão vendo aí, produz... produz é maneira de dizer, ela fornece, ou por outra, com o pêlo dela nós preparamos ponchos, mantas, cobertores etc. 19 — Depois a gente come a vicunha, né, fessora? — Daniel, não é preciso comer todos os animais. Basta retirar a lã da vicunha, que torna a crescer... — E a gente torna a cortar? Ela não tem sossego, tadinha. 22 — Vejam agora como a zebra é camarada. Trabalha no circo, e seu couro listrado serve para forro de cadeira, de almofada e para tapete. Também se aproveita a carne, sabem? — A carne também é listrada? — pergunta que desencadeia riso geral. 25 — Não riam da Betty, ela é uma garota que quer saber direito as coisas. Querida, eu nunca vi carne de zebra no açougue, mas posso garantir que não é listrada. Se fosse, não deixaria de ser comestível por causa disto. Ah, o pingüim? Este vocês já conhecem da praia do Leblon, onde costuma aparecer, trazido pela correnteza. Pensam que só serve para brincar? Estão 28 enganados. Vocês devem respeitar o bichinho. O excremento — não sabem o que é? O cocô do pinguim é um adubo maravilhoso: guano, rico em nitrato. O óleo feito com a gordura do pinguim... — A senhora disse que a gente deve respeitar. — Claro. Mas o óleo é bom. 31 — Do javali, professora, duvido que a gente lucre alguma coisa. — Pois lucra. O pêlo dá escovas de ótima qualidade. — E o castor? — Pois quando voltar a moda do chapéu para homens, o castor vai prestar muito serviço. Aliás, já presta, 34 com a pele usada para agasalhos. É o que se pode chamar um bom exemplo. — Eu, hem? — Dos chifres do rinoceronte, Belá, você pode encomendar um vaso raro para o living de sua casa. Do couro da girafa, 37 Luís Gabriel pode tirar um escudo de verdade, deixando os pêlos da cauda para Teresa fazer um bracelete genial. A tartaruga-marinha, meu Deus, é de uma utilidade que vocês não calculam. Comem- se os ovos e toma-se a sopa: uma de-lí-cia. O casco serve para fabricar pentes, cigarreiras, tanta coisa... O biguá é engraçado. 40 — Engraçado, como? Apanha peixe pra gente. — Apanha e entrega, professora? — Não é bem assim. Você bota um anel no pescoço dele, e o biguá pega o peixe mas não pode engolir. Então você tira 43 o peixe da goela do biguá. — Bobo que ele é. — Não. É útil. Ai de nós se não fossem os animais que nos ajudam de todas as maneiras. Por isso que eu digo: devemos 46 amar os animais, e não maltratá-los de 23 LÍNGUA PORTUGUESA jeito nenhum. Entendeu, Ricardo? — Entendi. A gente deve amar, respeitar, pelar e comer os animais, e aproveitar bem o pêlo, o couro e os ossos. Carlos Drummond de Andrade. De notícias & não-notícias faz-se a crônica. Rio de Janeiro: Record, 1993, p. 113-5 (com adaptações). 36. (CESPE) A frase “Vocês devem respeitar o bichinho” (L.28) permanecerá correta se o trecho sublinhado for substituído por lhe. Resposta: Errado. Comentário: a substituição não é possível, porque a palavra “lhe” é um pronome que serve para ocupar o lugar textual de termos que estão preposicionados. Como na frase o verbo é transitivo direto e não exige preposição, não se pode empregar a forma pronominal “lhe”. O correto seria empregar a forma “lo”. -------------------------- ------------------------ Todos nós, homens e mulheres, adultos e jovens, passamos boa parte da vida tendo de optar entre o certo e o errado, entre o bem e o mal. Na realidade, entre o que consideramos bem e o que consideramos mal. Apesar da longa permanência da questão, o que se considera certo e o que se considera errado muda ao longo da história e ao redor do globo terrestre. Ainda hoje, em certos lugares, a previsão da pena de morte autoriza o Estado a matar em nome da justiça. Em outras sociedades, o direito à vida é inviolável e nem o Estado nem ninguém tem o direito de tirar a vida alheia. Tempos atrás era tido como legítimo espancarem-se mulheres e crianças, escravizarem-se povos. Hoje em dia, embora ainda se saiba de casos de espancamento de mulheres e crianças, de trabalho escravo, esses comportamentos são publicamente condenados na maior parte do mundo. Mas a opção entre o certo e o errado não se coloca apenas na esfera de temas polêmicos que atraem os holofotes da mídia. Muitas e muitas vezes é na solidão da consciência de cada um de nós, homens e mulheres, pequenos e grandes, que certo e errado se enfrentam. E a ética é o domínio desse enfrentamento. Marisa Lajolo. Entre o bem e o mal. In: Histórias sobre a ética. 5.ª ed. São Paulo: Ática, 2008 (com adaptações). 37. (CESPE- Adaptada) No trecho “o que consideramos bem” (l.3), o vocábulo “que” classifica-se como pronome e exerce a função de complemento da forma verbal “consideramos”. Resposta: Gabarito: certo. Comentário: a palavra “que” é um pronome relativo, que retoma o pronome antecedente (o demonstrativo “o”) e faz a relação sintática com o verbo considerar – que é um transitivo direto. Isso obriga a identificação do pronome como complemento da forma verbal, ou seja, o pronome desempenha a função sintática de objeto direto do verbo “considerar” e a palavra “bem” funciona como predicativo do objeto direto. -------------------------- ------------------------ Estou comendo umas empanadas e bebendo um vinho, ao entardecer, em uma modesta casa em Assunção, capital do Paraguai. Há qualquer coisa de meigo por aqui. E não é só porque entendem o português e aceitam o real como moeda. Há uma simpatia pelo Brasil, apesar de nosso fantasma imperialista, que vem desde aquela maldita guerra que arrasou o país. E isso é curioso porque minha geração dizia que imperialistas eram os norte-americanos. Mas aqui dão como exemplo atual a represa de Itaipu, cujo contrato é leonino contra o Paraguai. 24 LÍNGUA PORTUGUESA Affonso Romano de Sant’Anna. Ali, no Paraguai. In: Correio Braziliense, 16/12/2007 (com adaptações) 38. (CESPE - Adaptada) Na linha 8, o pronome relativo “cujo” estabelece a relação de posse entre “represa de Itaipu” e “contrato”. Resposta: Certo. Comentário: o pronome “cujo” indica uma relação de posse sempre que empregado, como se houvesse em seu conteúdo semântico a preposição “de”, ou seja, “cujo” significa alguma coisa como “de algo”. No texto, o relacionamento é feito entre dois substantivos: represa e contrato. A interpretação evidente dessa relação é que o contrato pertence à represa. -------------------------- ------------------------ A promoção da igualdade de oportunidades e a eliminação de todas as formas de discriminação são alguns dos elementos fundamentais da Declaração dos Direitos e Princípios Fundamentais do Trabalho e da Agenda do Trabalho Decente da Organização Internacional do Trabalho (OIT). Um requisito básico para que o crescimento econômico dos países se traduza em menos pobreza e maior bem- estar e justiça social é melhorar as condições de vida das mulheres, dos negros e de outros grupos discriminados da sociedade; outro é aumentar sua possibilidade de acesso a empregos capazes de garantir uma vida digna para si próprios e para suas famílias.A pobreza está diretamente relacionada aos níveis e padrões de emprego, assim como às desigualdades e à discriminação existentes na sociedade. Além disso, as diferentes formas de discriminação estão fortemente associadas aos fenômenos de exclusão social que dão origem à pobreza e são responsáveis pelos diversos tipos de vulnerabilidade e pela criação de barreiras adicionais que impedem as pessoas e grupos discriminados de superar situações de pobreza. A erradicação da pobreza vem sendo considerada uma das maiores prioridades para a construção de sociedades mais justas, assim como vem aumentando o reconhecimento de que as causas e condições de pobreza são diferentes para homens e mulheres, negros e brancos. Por isso, estão sendo realizados esforços para que as necessidades das mulheres e negros sejam consideradas de forma explícita e efetiva nas estratégias de redução da pobreza e nas políticas de geração de emprego e renda. Internet: <www.oit.org.br> (com adaptações) 39. (CESPE - Adaptada) Em “sua possibilidade de acesso” (l.8), o termo “sua” corresponde a da sociedade Resposta: Errado. Comentário: o pronome retoma semanticamente os referentes “as mulheres”, “os negros” e “os outros grupos discriminados da sociedade”. Isso ocorre, porque o termo referente é um grupo semântico subdividido, ou seja, há mais de um elemento de referência para a formação do parágrafo. Na retomada, o pronome de 3ª pessoa recupera todos os elementos, não um particularmente. -------------------------- ------------------------ O conceito de consumo consciente não envolve apenas o que você consome, mas também como você consome um produto, de quem você o adquire e qual será o seu destino após descartá-lo. Pouco adianta usar sacolas retornáveis de uma empresa que não toma o devido cuidado em seu processo de produção, ou comprar alimentos orgânicos de um produtor que não registra devidamente 25 LÍNGUA PORTUGUESA seus empregados, mas utiliza mão de obra infantil ou escrava. Pesquisa recente promovida pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA) apontou que dois terços dos brasileiros disseram desconhecer o significado do termo consumo consciente. Dos que responderam saber o seu significado, 54% o definiram como o ato de consumir produtos ou serviços que não agridam o meio ambiente nem a saúde humana. Há diversas abordagens sobre a definição de consumo consciente. De maneira geral, todas elas passam pela prática de consumir produtos com consciência de seus impactos, buscando a sustentabilidade. O Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), por exemplo, indica que a utilização de bens e serviços precisa atender às necessidades básicas e proporcionar melhor qualidade de vida. Ao mesmo tempo, um produto ou serviço deve minimizar o uso de recursos naturais e materiais tóxicos, assim como diminuir a emissão de poluentes e a geração de resíduos. Para o MMA, o consumo consciente é uma contribuição voluntária, cotidiana e solidária do cidadão para garantir a sustentabilidade da vida no planeta. Envolve a ampliação dos impactos positivos e a diminuição dos impactos negativos no meio ambiente, na economia e nas relações sociais. Internet: <www.brasil.gov.br> (com adaptações). 40. (CESPE - Adaptada) Na linha 4, o pronome “seu” pode fazer referência tanto ao processo de produção de sacolas retornáveis quanto ao processo de produção utilizado pela empresa hipotética mencionada, de forma geral. Resposta: Certo. Comentário: nas questões de retomada, é importante observar que os pronomes necessitam de núcleos semânticos de referência, ou seja, outros pronomes, substantivos ou expressões substantivadas que sirvam para a progressão do texto. No caso do pronome “seu”, deve-se entender que ele faz uma retomada de 3ª pessoa e, na frase apresentada, há dois substantivos que poderiam receber o aporte semântico do termo processo: sacolas e empresa. Desse modo, há ambiguidade na interpretação dos elementos. -------------------------- ------------------------ I. A comunicação é uma característica inerente ao ser humano. II. As pessoas estão mergulhadas em processos comunicativos o tempo todo. III. Do sucesso no circuito comunicacional dependem a existência e a felicidade pessoal. IV. Entre os diferentes tipos de comunicação, o mais importante é a comunicação interpessoal, que diz respeito à capacidade de dialogar, à troca de informações, seja por meio do contato físico direto, seja por intermédio de dispositivos técnicos criados pelo homem com o fim de transmissão de mensagens. V. Nas sociedades orais, aquelas que não dispunham de nenhum sistema de escrita, as mensagens eram recebidas no tempo e no lugar em que eram emitidas. 41. (CESPE - Adaptada) No período que constitui a assertiva V, as duas ocorrências do pronome relativo “que” exercem funções sintáticas distintas. Resposta: Certo. Comentário: na primeira ocorrência do pronome, ele desempenha a função de sujeito do verbo dizer; na segunda ocorrência, o pronome desempenha a função de núcleo do adjunto adverbial. 26 LÍNGUA PORTUGUESA Existem muitas maneiras de se enxergar uma empresa. Uma delas é vê-la como uma máquina. E não se trata de uma analogia nova. A era industrial foi construída com base nesse paradigma, sustentado pelas teorias dos cientistas Taylor e Fayol, que acreditavam (e isso fazia sentido para a época em que viveram) que uma empresa tinha de funcionar como um infalível relógio ou como uma locomotiva, programada para cumprir, rigorosamente, seus tempos de parada e locomoção, de maneira a garantir o andamento do sistema ferroviário, sem atrasos nem acidentes. Para isso, colocaram a produtividade como principal meta, assegurada por um sistema técnico de alta eficiência. Uma empresa até pode se parecer com uma máquina, quando existe uma tarefa contínua a ser desempenhada. Nesse caso, a mecanização da tarefa, de maneira integralmente repetitiva, pode diminuir a quantidade de erros. O mesmo raciocínio continua valendo, se a empresa estiver situada em um ambiente estável, ou seja, onde os fatores externos pouco ou nada interferem no seu desempenho. Ou quando a criatividade, produto mais nobre e valioso do sistema humano, é considerada indesejável. Tornar as tarefas repetitivas para eliminar erros é, talvez, o maior equívoco em que se pode incorrer. Afinal, os erros acontecem justamente quando o indivíduo liga o piloto automático. E o piloto automático é acionado quando o trabalho a ser feito não traz significado algum para aquele que o executa. Destituído de sentido, o trabalho se transforma em tarefa enfadonha, que traz apenas aborrecimento, o que, por sua vez, gera a pressa de acabar logo com aquela tortura, na ânsia de reencontrar a alma deixada na porta de entrada da empresa, ao lado do marcador de ponto. Internet: <www.empreendedor.com.br> (com adaptações). 42. (CESPE - Adaptada) Mantendo-se a correção gramatical do texto, é correto substituir-se “colocaram a produtividade como principal meta” (l.11-12) por colocaram- lhe na situação de meta principal. Resposta: Errado. Comentário: não se pode fazer a alteração proposta, porque a expressão “a produtividade” funciona como um complemento direto do verbo “colocar”. Isso mostra que não é possível aplicar a forma pronominal “lhe”, que substitui uma expressão preposicionada. -------------------------- ------------------------ “Não é difícil governar a Itália. É inútil.” O ditador Benito Mussolini cunhou essa frase com a pretensão de jogar sobre o povo italiano todas as mazelas do país. Contudo, a história vem mostrando que a famosa frase embute uma verdade, só que em um sentido invertido. Inúteis são governantes como Mussolini e Silvio Berlusconi, o bufão de 75 anos que foi primeiro-ministro por três vezes e agora cai por absoluta incapacidade de apresentar soluções para a brutal crise econômica da Itália. O último mandato
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