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1 CBI of Miami 2 CBI of Miami DIREITOS AUTORAIS Esse material está protegido por leis de direitos autorais. Todos os direitos sobre o mesmo estão reservados. Você não tem permissão para vender, distribuir gratuitamente, ou copiar e reproduzir integral ou parcialmente esse conteúdo em sites, blogs, jornais ou quaisquer veículos de distribuição e mídia. Qualquer tipo de violação dos direitos autorais estará sujeito a ações legais. 3 CBI of Miami Comportamento Simbólico e Alfabetização II Liana Rosa Elias Olá, turma! Sejam bem-vindos ao Módulo de Comportamento Simbólico e Alfabetização II. No primeiro módulo nós pudemos entender a base teórica para o comportamento simbólico e os principais conceitos de formação de classes de estímulos equivalentes, quadros relacionais, discriminação condicional e o procedimento de Matching to Sample (MTS). Agora vamos aprofundar o conteúdo de equivalência de estímulos a partir das propriedades dos estímulos equivalentes. Sidman e Talby (1982) basearam-se em uma definição matemática de equivalência e esta traz algumas propriedades importantes: simetria, reflexividade e transitividade. A reflexividade é uma relação de identidade entre estímulos (A = A), e implica que a relação de um elemento consigo próprio seja verdadeira, ou seja, qualquer elemento é igual a si mesmo. Mas todas as relações possuem reflexividade? A resposta é não. Por exemplo, relações maior que/menor que não são reflexivas, pois nenhum elemento é maior que ele mesmo. Já a simetria é uma relação que continua válida quando a ordem dos seus termos é revertida (A = B, então B = A). Neste caso, nas relações de igualdade identificamos a simetria. Por exemplo: “se João é primo de Carlos, Carlos é primo de João”, pois os elementos estão em uma relação de igualdade. Já em relações de hierarquia ou de tamanho, não conseguimos verificar a propriedade de simetria, por exemplo: “Se uma girafa é maior que um cachorro, um cachorro não é maior que uma girafa”; ou “Se Ana é mãe de Júlia, Júlia não é mãe de Ana”, pois a relação mãe/filha envolve hierarquia entre estímulos. Quando verificamos reflexividade e simetria entre estímulos, ocorre um fenômeno típico do paradigma de equivalência, que são as relações derivadas (implicação mútua). Mas o que significa isso? Em estímulos equivalentes, ao realizarmos o treino A-B, a aprendizagem de B-A emerge sem a necessidade de treino direto. Se A = B, então B = A. Vamos a um exemplo: em um treino de nomeação, podemos apresentar o estímulo visual de uma casa (A) e fazermos o treino da nomear, reforçando a verbalização “casa” (B) na presença de A. Temos nesse exemplo, o treino A-B. Em uma situação de 4 CBI of Miami teste, eu posso perguntar para o sujeito “onde está ‘casa’(B)”? e ele me apontar a figura da casa (A). O treino B-A não foi feito, mas esse desempenho emergiu e isso aponta que a figura casa (A) e a palavra falada “casa” (B) são estímulos equivalentes, portanto, pertencem a uma mesma classe de estímulos. Já a transitividade ocorre em relações de igualdade e de maior que/menor que. Se A=B e B=C, então A=C. Por exemplo, se uma girafa (A) é maior que um cachorro (B), e um cachorro (B) é maior que uma formiga (C), então uma girafa (A) é maior que uma formiga (C). Vejamos a figura abaixo: As setas completas foram as relações treinadas diretamente. A-B é um treino de nomeação e A-C é um treino de figura-grafia. A relação B-C emerge sem que esse desempenho seja ensinado. Todas as setas tracejadas se configuram como desempenhos emergentes (relações derivadas) e ocorrem sem que haja a necessidade de treino. Com esse procedimento, podemos programar protocolos de ensino de leitura e alfabetização. Segundo deRose (1993, p. 291): “a formação de classes de equivalência implica em que a pessoa aprenda mais do que foi diretamente ensinado: o ensino direto de um conjunto de relações deve produzir desempenhos emergentes, baseados nas propriedades de reflexividade, simetria e transitividade”. Outro fenômeno importante em estímulos equivalentes é a transferência de função, e isso significa dizer que as funções de um estímulo da classe (eliciadora, discriminativa, reforçadora, etc) podem passar a ser 5 CBI of Miami apresentadas pelos demais estímulos equivalentes da mesma classe. Por exemplo, nós podemos reagir salivando (função eliciadora) ao ler um cardápio. Isso significa que a função eliciadora da comida foi transferida para o outro elemento da classe de estímulos equivalentes (palavra escrita). Isso explica por que nos comportamos diante de símbolos como se estivéssemos diante dos eventos referidos por ele. Quem nunca sentiu uma emoção ao ler um livro? Os protocolos de ensino e leitura baseiam-se, portanto, no comportamento simbólico, que envolvem os processos comportamentais de discriminação condicional e na equivalência de estímulos. Temos agora a base para compreender alguns dos protocolos de ensino de leitura e escrita através destes processos comportamentais. O repertório de um indivíduo alfabetizado envolve diversos desempenhos, e é necessário operacionalizar todos esses operantes para que possamos entender quais são os pré-requisitos importantes e como programar a maneira mais eficiente de montar os treinos diretos e quais desempenhos vão emergir a partir desse. Temos o operante generalizado (ver figura abaixo) que nos permite o “aprender a aprender”, ou seja, não é necessário que ensinemos todas as palavras para o indivíduo, pois ele vai conseguir generalizar essas relações de significado para novas situações e novos desempenhos emergentes. Alguns dos repertórios envolvidos nos processos de alfabetização envolvem: nomear palavras simples impressas (sílabas, palavras simples, palavras complexas), selecionar figura correspondente à palavra impressa, 6 CBI of Miami montar palavras a partir de letras e sílabas, ler palavras simples e complexas, ler frases e pequenos textos, escrever palavras e frases por ditado e cópia, responder por escrito ou oralmente a questões sobre histórias ouvidas ou lidas, etc. É importante entender que os nossos procedimentos se configuram na modelagem desses repertórios através de diferentes estratégias, como a discriminação condicional, o matching to sample e suas derivações (MTS-ID, MTS-resposta construída). Precisamos, antes de montar um protocolo, entender o que o aprendiz já domina em termos de repertório, o que precisa ser ensinado ou fortalecido e quais os novos desempenhos que podem emergir. Na figura abaixo vocês podem verificar uma proposta de ensino de sílabas simples, leitura combinatória e leitura com compreensão para aprendizes com autismo. A partir de apenas três situações de treino direto, foi possível verificar mais de oito desempenhos emergentes. E toda a programação dessas contingências envolvem o que nós aprendemos no nosso módulo de comportamento simbólico. Espero que tenham gostado do material que preparamos para vocês!