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Trabalho de Técnicas Cirúrgicas e Anestésicas: Fios de sutura e Anestesia Inalatória Aluna: Laura Figueredo Rodrigues CIU: 83133 Fios de sutura - características e indicações de uso: Desde o Egito antigo eram utilizados fios de sutura, sendo nessa época utilizados em couro no processo de mumificação. Já no século XVI, a técnica de estancar hemorragias com o ferro em brasa foi substituída por fios, entretanto estes não eram desinfetados. Com isso, em meados de 1800, um cirurgião britânico chamado Joseph Lister criou o ácido carbólico como forma de esterilização. Com essas descobertas e avanços na composição desses materiais, houve ao longo da história um aumento da variedade, qualidade e eficiência, como tentativa de obter um fio ideal. Essa idealização consiste em um fio que possua resistência e flexibilidade ao mesmo tempo, ou seja, quanto maior a força tênsil do fio, maior a capacidade de manter os tecidos unidos, e quanto maior a maleabilidade, melhor o processo de execução das técnicas pelo cirurgião. Além disso, o fio deve produzir pouca reação tecidual, o que ocorre quando um material estranho entra em contato com o organismo, causando um processo inflamatório de duração de 2 a 7 dias. O fio também deve possuir uma resistência à tração (força para que o fio deslize pelos tecidos) e à torção (força para a realização e fixação do nó); Também busca-se um fio que é absorvido lentamente, para que a cicatrização ocorra de modo satisfatório, com um bom custo-benefício e um armazenamento adequado para mantê-lo estéril. Entretanto, um fio não consegue abranger todas estas características ao mesmo tempo. Com isso, atualmente existem diversos tipos de acordo com a origem do material, a estrutura e permanência nos tecidos, cada tipo associado ao tecido a ser reaproximado e ao procedimento que será realizado. Em relação a origem do material existem fios biológicos e sintéticos, sendo o primeiro degradado por proteólise, já o segundo sofre degradação por hidrólise, o que faz com que ele seja menos suscetível às reações inflamatórias. Por isso, grande parte dos materiais utilizados atualmente são sintéticos, apesar de a seda ser muito utilizada. Os fios podem ser classificados quanto ao tempo de absorção, sendo absorvíveis ou não absorvíveis. Os absorvíveis possuem a capacidade de perder gradativamente a resistência à tração até serem fagocitados ou hidrolisados. Ademais, existem fios de maior e menor calibre, sendo o diâmetro capaz de determinar a força tênsil - suturas finas são mais fracas. Quanto maior o número de zeros, mais fino é o fio, sendo os fios 2.0 e 3.0 os mais utilizados na prática. Em relação a configuração de um fio - o número de camadas que o compõem, ele pode ser monofilamentado (um só filamento), sendo menos maleável e com alta memória - a tendência a voltar ao seu formato original após o manuseio, como é o caso do nylon, o que dificulta a produção dos nós e a mantê-los com tensão. Já o multifilamentado (mais de um filamento) assemelha-se a uma trança, sendo por esta razão mais propício a reações teciduais, já que permite uma maior aderência bacteriana, mais traumático e também mais maleável e com pouca memória, como é o caso do catgut. Dentre os fios absorvíveis temos o Catgut, um fio biológico, produzido através do intestino de bovinos e ovelhas, sendo multifilamentado, o que provoca uma grande reação tecidual, sendo o catgut simples com uma absorção mais rápida (2-7 dias), o que não é eficaz para procedimentos em que a cicatrização local é mais demorada, e o catgut cromado absorvido de forma mais lenta (15-20 dias), por possuir maior resistência às enzimas proteolíticas do organismo. É indicado em suturas gastrointestinais, amarraduras de vasos na tela subcutânea, cirurgias ginecológicas e urológicas. O Vicryl (60 a 90 dias) e o Dexon (90 a 120 dias) são fios sintéticos, sendo o primeiro constituído por 2 polímeros, ácido láctico e ácido glicólico, e o segundo constituído por ácido poliglicólico, ou seja, ambos multifilamentados. Com isso, são bem maleáveis, com pouco traumatismo tecidual e pouca reação tecidual, por ser sintético. Possuem maior resistência que o catgut, sendo portanto indicados para suturas em músculos, fáscia, tecido celular subcutâneo (Dexon) e cirurgias gastrointestinais, urológicas, ginecológicas, oftalmológicas e tecido celular subcutâneo(Vicryl). O Monocryl é constituído por um copolímero de poliglicaprona, ou seja, monofilamentado e sintético, com boa maleabilidade, alta resistência, pouca memória, causador de pouco traumatismo tecidual, absorção por hidrólise. boa segurança (força tênsil previsível 21 a 28 dias). Tem uma duração média de 90 a 120 dias. Este fio é indicado para utilização em tecidos de médio tempo de suporte, como o tecido celular subcutâneo e partes moles. O PDS II é constituído por polidioxanona, é monofilamentar, com absorção de até 180 dias, com uma força de tensão de duração consideravelmente longa, portanto indicado em feridas com cicatrização lenta, como suturas de tendões, cápsulas articulares e fechamento da parede abdominal. Já os fios inabsorvíveis são feitos de diversos materiais, como o poliéster, o Merselene e Sugilene são sintéticos e multifilamentados, com força tênsil elevada, desfavorável para nós, sendo cobertos de teflon como forma de diminuir sua capilaridade, pouca reação tecidual, oferece sustentação prolongada para tecidos de lenta cicatrização. Indicados para suturas em aponeuroses, tendões e vasos. Já os fios de nylon são sintéticos, monofilamentado, com alta memória, sendo necessário puxar o fio para que não haja incômodo ao paciente. O Ethilon e o Dermalon têm elevada força tênsil, elasticidade e memória, sendo necessários 3 a 4 nós, os nós, já que podem se desfazer com facilidade, reação tecidual mínima, sendo indicados em suturas de aponeuroses, tendões e vasos e em suturas de pele quando negros ou incolores. O Prolene é constituído por polipropileno, é monofilamentar, possui elevada força e é a sutura menos tromboembólica, sendo utilizado em cirurgias vasculares. Possui elevada elasticidade, adequado para sutura de tecidos com maior capacidade de alongamento como musculatura e pele. Por possuir capilaridade inibe a adesão bacteriana, podendo ser usado na presença de infecção. Pode ser utilizado em qualquer tecido. Indicado em suturas em implantes de próteses cardíacas, anastomoses vasculares e chuleios intradérmicos, por ser facilmente removível. O fio de linho é, não-absorvível natural multifilamentar, ganha mais resistência quando umedecido, possui grande efeito de capilaridade e assentamento bacteriano O fio de algodão é biológico, multifilamentado, inabsorvível, de baixo custo, com maior resistência à tensão e segurança de nós quando umedecido, sendo contra-indicado em feridas contaminadas. Já o fio de seda, multifilamento, constituído por fibras protéicas produzidas pelo bicho da seda, muito maleável, mas os nós podem se desfazer com facilidade, por causa da força tênsil pequena, com isso deve-se realizar múltiplos nós em cada ponto de uma sutura, o que aumenta a proliferação bacteriana no tecido. Indicado para suturas gastrointestinais e ligadura de vasos sanguíneos. O fio de aço é não-absorvível monofilamentar ou multifilamentar quando torcido, é o de maior força tênsil existente, possui a menor reação tecidual, pouco maleável e pouco flexível. Entretanto, pode fazer volume e causar dor, pode rasgar ou sair do tecido e possui pouca duração. Indicado para operações ortopédicas (síntese óssea) Além dos fios de sutura, existem outras alternativas, como agrafos, fitas, faixas e colas cirúrgicas. Os agrafos ou grampeadores cirúrgicos são como grampos em aço são uma opção para poupar tempo, utilizados para conter o fluxo sanguíneo de vasos e também para alinhar a área de incisão cirúrgica. Os clipes cirúrgicos garantem uma melhor hemostase, sendo utilizados para controle vascular e linfático.No encerramento da pele podem ser utilizadas fitas cirúrgicas, capazes de reduzir a formação de fibrose, deiscências, edemas e equimoses. Estas são indicadas para feridas agudas, como lacerações e incisões cirúrgicas. As tiras da fita são de polipropileno, o que garante um fechamento não invasivo, uma cicatrização uniforme, e consequentemente uma cura precoce e bem sucedida. A cola biológica consiste em uma substância líquida adesiva de uso exclusivo na pele para fechar incisões. Ela impede a entrada de microorganismos, já que no tecido ela fica viscosa e passa por um processo de polimerização, o que cria uma barreira contra os germes, e ainda promove uma cicatrização de qualidade em relação à sutura com fios. Ela deve ser aplicada em pelo menos 3 camadas, possui um tempo de espera de 50 segundos e uma duração de ação de 5 a 10 dias. Entretanto, apesar desses diversos materiais de reaproximação de tecidos, os fios ainda são a técnica de primeira escolha na prática médica. Anestesia inalatória Como eram feitos os procedimentos cirúrgicos antes do advento da anestesia? Antes da descoberta da anestesia inalatória utilizava-se desde de pancadas na cabeça até a ingestão de grandes quantidades de álcool como forma de aliviar a dor dos pacientes. Até que em 1846 ocorreu a primeira demonstração de anestesia geral pelo dentista americano Thomas Green Morton, que utilizou éter para realizar uma cirurgia de extração de um tumor na região do pescoço. Após inalar o gás, o paciente ficou inconsciente durante todo o processo sem sentir dor ou mesmo lembrar do ocorrido. Entretanto, esse gás foi substituído nos dias atuais, devido à toxicidade dele, o que causa irritação no trato respiratório e mal-estar no paciente. O primeiro substituto foi o clorofórmio, utilizado pela primeira vez em 1847, em um trabalho de parto, pelo médico inglês James Simpson. Já o óxido nitroso, descoberto por Joseph Priestley em 1773, costumava ser inalado como forma de obter uma sensação de relaxamento e felicidade, sendo utilizado como atração nas chamadas ether parties. Com isso o gás ficou conhecido como gás hilariante ou gás do riso, pois provoca contrações musculares involuntárias no rosto, simulando risos. Atualmente ele é administrado com oxigênio, possuindo efeito analgésico e sedativo. Um gás anestésico ideal caracteriza-se por possuir início de ação e tempo de despertar previsíveis, ou seja, conhecimento sobre o período necessário para que paciente, após a exposição ao gás, entre em estado anestésico e período até o paciente despertar após o procedimento. Também deve promover imobilidade, o que não é o mesmo que relaxamento muscular, por isso não deve ser utilizado em cirurgias abdominais, já que este é fundamental nesse tipo de procedimento. Além disso, deve promover cardio estabilidade e broncodilatação, sem riscos de hipertermia maligna, sem efeitos colaterais, como vômitos e náuseas, possuir biotransformação mínima ou ausente, ou seja, que entre e saia pela via respiratória e não gera metabólitos para outros sistemas, possibilidade de monitorização da concentração plasmática, apesar de só é possível estimar sua concentração, estabilidade química, fácil administração, baixo custo, não deve ser inflamável, nem irritante às vias aéreas superiores e sem cheiro. Entretanto, não é possível um gás ser totalmente perfeito, por exemplo, a maioria dos gases causa irritação às vias aéreas e possuem odor característico, por exemplo. Os anestésicos inalatórios se dividem em voláteis e gases. Os voláteis ou halogenados, são líquidos vaporizados, como o halotano, isoflurano, desflurano e sevoflurano. Já os anestésicos gasosos estão nessa mesma forma no ambiente, como é o caso do óxido nitroso. Ele é o mais comumente utilizado em diversas cirurgias, devido ao baixo custo e à baixa toxicidade. Ele apresenta baixos pontos de fusão e ebulição, é não inflamável, atóxico, pouco solúvel, incolor, com um pequeno odor e um sabor doce e agradável. Esses anestésicos possibilitam analgesia, hipnose, amnésia, imobilidade e controle autonômico (é possível aumentar a dose do anestésico e fazer controle autonômico). Eles são administrados por via respiratória, através de máscaras faciais ou através do tubo endotraqueal e ventilação mecânica na anestesia geral. O mecanismo de ação ainda não é concreto, porém existem duas teorias principais que tentam explicar como esses gases agem no organismo. A primeira é a teoria da lipossolubilidade que está relacionada com a incorporação dos anestésicos lipofílicos às membranas lipídicas das células do sistema nervoso, causando alterações metabólicas, causando o estado de anestesia. A segunda teoria é a do volume excessivo, em que os gases penetram as membranas, alteram o volume celular, bloqueiam canais iônicos, o que também leva a essas alterações metabólicas supracitadas. O gás age sobre o córtex causando amnésia e inconsciência, no tronco cerebral (termorregulação), no SRAA (potencial evocado auditivo bloqueado), no tálamo (centro de percepção da dor) e na medula espinhal suprimindo as respostas motoras nociceptivas e imobilizando o músculo esquelético. Os gases, como o óxido nitroso, agem nos receptores NMDA, competindo com o glutamato, - principal ligante desses receptores, que promove a abertura e entrada do cálcio, causando a despolarização de membrana e a liberação de neurotransmissores - bloqueando os receptores NMDA, impedindo a condução da dor. Para que esses anestésicos controlem a dor, devem atingir uma concentração adequada no sistema nervoso central, para isso deve-se fornecer uma pressão parcial inspiratória (Pi) aos pulmões através do sistema de ventilação. Depois o agente é absorvido pelo sangue, chegando rapidamente nos tecidos mais vascularizados como o cérebro. A Fração Alveolar (FA) é a concentração de anestésico nos pulmões. No início essa concentração estará maior nos pulmões, aumentando a pressão parcial, levando à difusão por diferença de pressão. O coeficiente de partição sangue/gás representa a capacidade de diluição da droga no sangue, quanto mais alta a solubilidade, mais tempo o agente leva para chegar ao sítio de ação e induzir anestesia. À medida que o pulmão vai sendo saturado de anestésico, ele vai para a circulação sanguínea e a partir dela é distribuído para os órgãos perfundidos, sendo que quase todo ele chega diretamente ao cérebro. Quanto maior este coeficiente, mais lento é o processo de passagem do composto do ar inalado para o sangue circulante, ou seja, mais devagar é a indução do efeito e a recuperação. O coeficiente de partição do óxido nitroso em sangue é maior do que no gás, portanto é necessária uma maior dose de óxido nitroso para haver anestesia.As drogas hidrossolúveis, devido à baixa solubilidade, se diluem menos nos tecidos e chegam mais rápido no cérebro. Em pacientes cardiopatas com baixo débito cardíaco, há redução na captação por outros órgãos, causando o aumento rápido na pressão parcial alveolar, gerando risco de superdosagem O efeito anestésico é atingido quando há um equilíbrio da concentração alveolar e cerebral, pois o aumento da concentração alveolar aumenta a concentração plasmática que aumenta a concentração cerebral, portanto, os três precisam estar equivalentes. A eliminação desses gases é via alveolar, ou seja, pela expiração, em sua grande maioria e um pequeno percentual dela vai ser metabolizada. Quando essa eliminação vai acontecendo, ao mesmo tempo há diminuição da concentração da droga no cérebro, até o indivíduo acordar. A administração de um segundo gás em concentração diferente do primeiro, faz com que haja a captação do gás de concentração mais elevada, resultando em aumento da fração alveolar do gás inalado em concentração menor. O óxido nitroso, por ser insolúvel no sangue e por possuir rápida absorção alveolar, ocasiona o aumento da concentração alveolar de outros anestésicos voláteis mais potentes. Com isso, os halogenadossão associados com o óxido nitroso, para induzir a anestesia mais rápido e gerar uma economia. A anestesia geral inalatória é usada principalmente em cirurgias pediátricas. Isso porque no adulto a anestesia inalatória não é eficiente contra a maior resistência à dor do sistema nervoso mais elaborado do adulto, sendo utilizada como alternativa a administração de anestesia geral endovenosa ou anestesia mista (endovenosa + inalatória). Referências: 1. FIOS de Sutura. JOURNAL OF SURGICAL AND CLINICAL RESEARCH, [S. l.], p. 7-72, 10 abr. 2017. DOI http://dx.doi.org/10.20398/jscr.v7i2.11437. Disponível em: https://www.researchgate.net/publication/314199198_Fios_de_sutura. Acesso em: 16 set. 2022. 2. FIOS DE SUTURA ABSORVÍVEIS. REVISTA CIENTÍFICA ELETRÔNICA DE MEDICINA VETERINÁRIA , [s. l.], 10 jan. 2009. Disponível em: http://faef.revista.inf.br/imagens_arquivos/arquivos_destaque/5BGFKzWkEC Cy4Qc_2013-6-21-11-10-19.pdf. Acesso em: 24 set. 2022. 3. BARROS, Mõnica et al. PRINCÍPIOS BÁSICOS EM CIRURGIA: Fios de Sutura. Acta Med Port, [s. l.], 10 fev. 2001. Disponível em: https://actamedicaportuguesa.com/revista/index.php/amp/article/download/15 60/1144. Acesso em: 25 set. 2022. 4. ANESTÉSICOS Inalatórios. Revista Brasileira de Anestesiologia, [s. l.], 2 fev. 1974. Disponível em: https://www.bjan-sba.org/article/5e498bc60aec5119028b47c4/pdf/rba-44-1-43 .pdf. Acesso em: 25 set. 2022. 5. Saraiva RA - Farmacologia dos Agentes Anestésicos Inalatórios. Rev Bras Anestesiol, 1980; 30: 113-126. 35. Saraiva RA, Katayama M - Concentração Alveolar dos Anestésicos Inalatórios. Cálculo Exponencial com base na captação. Rev Bras Anestesiol, 1983; 33: 33-37.
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