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AULA 3 16 AGOSTO Abordagens metodológicas no ensino de gramática

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16/08/2023 18:05 Abordagens metodológicas no ensino de gramática
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Abordagens
metodológicas
no ensino de gramática
Profª. Aline Saddi Chaves
Descrição
Conceitos e tipos de gramática para abordagem de metodologias ativas e reflexivas de ensino de língua portuguesa.
Propósito
Refletir sobre os conceitos de gramática e conhecer metodologias de ensino de gramática desde um ponto de vista reflexivo para promover o papel
ativo do aluno no processo de ensino e aprendizagem.
Preparação
Tenha em mãos um dicionário de Linguística para consultar os termos específicos da área. Na Internet, você pode acessar o Dicionário de Termos
Linguísticos, hospedado no Portal da Língua Portuguesa.
Objetivos
Módulo 1
Conceitos e tipos de gramática e a relevância de seu ensino
Identificar conceitos e tipos de gramática.
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Módulo 2
A gramática re�exiva
Identificar os princípios metodológicos da gramática reflexiva.
Módulo 3
Metodologias ativas e ensino de língua
Relacionar as metodologias ativas com o ensino e aprendizagem de língua.
1 - Conceitos e tipos de gramática e a relevância de seu ensino
Ao �nal deste módulo, você será capaz de identi�car conceitos e tipos de gramática.
Há algum tempo, existe um embate ou polêmica entre os que defendem o ensino de gramática e aqueles que entendem que o aprendizado
da língua não depende do ensino da gramática.
Para além dessa oposição, devemos compreender que a escola tem o papel de contribuir para o desenvolvimento do domínio da língua,
especialmente a língua de prestígio social: a língua culta ou padrão.
A questão, então, é qual abordagem metodológica devemos trabalhar no ensino de língua portuguesa, particularmente, no ensino da
gramática.
Por isso, você vai estudar sobre os diferentes conceitos e tipos de gramática para, depois, conhecer a metodologia da gramática reflexiva. Ao
final, você também vai conhecer algumas propostas de ensino de língua a partir das chamadas metodologias ativas.
Introdução
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Primeiras palavras
Neste módulo, vamos conhecer os conceitos e tipos de gramática, com a finalidade de mostrar sua relevância para uma expressão oral e escrita
adequadas à norma padrão da língua portuguesa, necessárias para a inclusão social.
Inicialmente, vamos definir o conceito de gramática, de modo a desmistificar a ideia de que a gramática se limita a um manual de regras a serem
seguidas. Trabalharemos com três conceitos:
gramática internalizada ou implícita
gramática externalizada ou explícita
gramática como um princípio de classi�cação
Na sequência, vamos conhecer dois tipos de gramática:
gramática tradicional ou normativa
Iniciada na Antiguidade grega.
gramática descritiva
Possibilitada pelo desenvolvimento da Linguística no século XX.
Apesar de existirem outros tipos de gramática, vamos nos ater aos dois tipos citados, por estarem historicamente relacionados à função
pedagógica das gramáticas.
Exemplo
A gramática histórica e a comparada são tipos de gramática. Você pode pesquisar sobre elas.
De posse desses conhecimentos iniciais, vamos refletir sobre a relevância pedagógica da gramática, insistindo sobre a aquisição de uma
competência essencial para compreender e produzir textos em situações de linguagem variadas, com vistas à plena participação do aluno em
sociedade, com destaque para os gêneros textuais que os alunos não dominam.
Conceitos de gramática
Para aprofundar os conhecimentos sobre a gramática e abordar as possibilidades e limites de seu ensino, vamos iniciar fazendo uma distinção
conceitual:
gramática como uma competência propriamente linguística
gramática como objeto de ensino
gramática como um princípio de classi�cação, não restrito à gramática da língua
Gramática como competência linguística ou gramática internalizada
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O primeiro conceito é chamado de “gramática internalizada”, e diz respeito à capacidade natural de que os falantes são dotados para desenvolver
linguagem. Em outros termos, segundo esta concepção, dita “gerativista”, os falantes possuem aptidão para se comunicarem por meio de uma
língua natural.
Como explica Kenedy (2011, p. 124), a linguagem é peculiar à espécie humana, é uma competência linguística, mesmo que o indivíduo ainda não
tenha passado pela experiência da escolaridade ou educação formal. Ou seja:
capacidade natural e inconsciente de produzir e entender frases.
Segundo os estudiosos, essa é a principal capacidade mental que distingue os seres humanos dos outros seres primatas e do mundo animal como
um todo. Faz parte dos estudos desta vertente investigar de que modo funciona a gramática internalizada, e uma das hipóteses é, justamente, que
todos os falantes, excetuando-se casos patológicos, possuem uma competência linguística que os habilita, entre outras coisas, a distinguir
construções gramaticais de agramaticais, como nestes exemplos:
gramaticais
João saiu para comprar pão.
agramaticais
João comprar pão saiu para.
Tal conhecimento não é transmitido ou ensinado aos falantes, mas refere-se a uma competência, portanto, inata, para intuir sobre o que é possível e
o que não é possível dizer em sua língua materna.
Outras vertentes entendem, no entanto, que a gramática internalizada não é inata, mas adquirida socialmente, mediante a exposição da criança aos
falantes de seu meio, desde os primeiros anos de vida. Esta concepção sobre a aquisição da linguagem, dita “comportamentalista” ou
“behaviorista”, trabalha em uma perspectiva bastante distinta, ao conceber que, desde os primeiros anos de vida, o falante reage aos estímulos de
seu interlocutor.
Gramática como objeto de ensino ou gramática explícita
O segundo conceito é chamado de “gramática explícita”, e está relacionado à finalidade pedagógica da gramática, instituída há milênios, desde que
surgiram as primeiras gramáticas no Oriente e no Ocidente, com a finalidade de descrever, registrar e ensinar o funcionamento de uma língua com
base em certo padrão.
Ao longo dos séculos, tal concepção esteve associada à gramática tradicional ou normativa, que você verá mais adiante. O fato é que a gramática
explícita não tem relação com a competência linguística dos falantes, na medida em que ela é transmitida por alguém, por meio de algum
instrumento físico (o livro). Além disso, está historicamente associada à linguagem escrita.
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Gramática como sistema de classi�cação
O terceiro conceito de gramática refere-se a um “sistema de classificação”. Comumente, associamos as gramáticas a um livro físico ou digital, que
tem por finalidade explicitar o funcionamento das regras de uso de uma língua em seus variados níveis (do som à letra, suas flexões, vocábulos,
palavras e, enfim, o ordenamento dessas unidades em sentenças). Contudo, o termo “gramática” também é empregado para se referir a toda
organização de regras mais ou menos explícitas de funcionamento de dado fenômeno ou produto cultural humano.
Assim, é possível falar-se em gramática textual, gramática cinematográ�ca, gramática musical, gramática visual, entre
outras.
Como vemos, esta concepção ampla de gramática ultrapassa a ideia que temos de gramática, ao mesmo tempo em que emprega uma lógica
proveniente das gramáticas elaboradas para a classificação das regras de uso de uma língua. Essa lógica tem origem na Antiguidade, e tem relação
com o primeiro tipo de gramática, sobre o qual estudaremos a seguir.
Tipos de gramática
As primeirasgramáticas datam da era pré-cristã, sendo as mais antigas elaboradas na Índia por Yaska e Pāṇini. Para apresentar os tipos de
gramática, partiremos da tradição grega, renomada por ter fundado a gramática tradicional ou normativa, a qual resistiu aos séculos e ainda
encontra seu referente no universo dos estudos gramaticais. Em seguida, apresentaremos os tipos de gramática que se desenvolveram após o
surgimento da ciência da língua, a Linguística.
A gramática normativa ou prescritiva
O termo “gramática” origina-se do grego gramma e tekhne, respectivamente, letra e arte, resultando em “técnica das letras”. Originalmente, portanto,
o termo “gramática” tem relação com a escrita, o que explica em parte sua propensão para descrever o uso mais formal e normativo de uma língua.
Na Antiguidade grega, uma das primeiras obras de referência é a Arte da gramática (Tékhne Grammatiké), escrita por Dionísio Trácio, por volta de
170 a.C. Como explica Silva (2018):
Na época de Trácio, sua gramática era uma técnica cujo único objetivo era a análise textual para compreensão dos
clássicos gregos. À medida que ela foi tomando peso na Antiguidade, tornou-se um método de ensino para pessoas que
não falavam o grego. Com a extensão de sua fama na Idade Média, virou o ponto de partida a partir do qual escólios
foram escritos por comentadores, os quais fornecem um histórico sobre o desenvolvimento da gramática no Ocidente.
“Técnica”, “método” e “histórico” são os três elementos-chave que permitem compreender sua gramática dentro de seu
contexto de desenvolvimento.
(SILVA, 2018, p. 2)
Observa-se, desse modo, que a finalidade da gramática de Trácio não era pedagógica a priori, mas se tornou ao longo do tempo. Esta tradição
pedagógica perpetua-se até os dias de hoje, mesmo com o surgimento de outros tipos de gramática, que terminam por redefinir os métodos e
propósitos da gramática como ponto de partida para o ensino de língua.
É fundamental situar que a gramática tradicional esteve vinculada, em seu início, à filosofia grega, cujos estudiosos investigavam a relação entre os
conceitos a seguir:
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linguagem
pensamento
realidade
Platão e Aristóteles são os filósofos mais proeminentes em tais estudos, legando ao pensamento ocidental a concepção lógica de gramática, o que
significa que o estudo do funcionamento de uma língua reflete as leis do raciocínio humano.
Platão
Aristóteles
Re�exão
Pensando dessa forma, podemos compreender por que a gramática adquiriu a ideia de norma, pois, sendo a linguagem “um reflexo da organização
interna do pensamento humano” (CUNHA; COSTA; MARTELOTTA, 2011, p. 25), tal organização se manifestaria em qualquer língua natural.
Esta concepção de gramática perdura até os dias de hoje, refletindo-se na representação normativa das línguas, ou, ainda, no ideal de correção
linguística, segundo o qual falar e escrever bem significa obedecer a certos padrões considerados aceitáveis e, consequentemente, dotados de
prestígio social.
Com o surgimento da Linguística no século XX, pela obra do suíço Ferdinand de Saussure, Curso de Linguística Geral, o estudo da gramática vê-se
desestabilizado por uma concepção inédita de língua.
Para o linguista suíço, a língua é um sistema de signos convencionados em dada comunidade de falantes e estável somente em um recorte
temporal. Sem abordar a variação ou a evolução das línguas no tempo (visão histórica), Saussure fornece indícios de que a língua (langue) possui
um funcionamento próprio, sistemático e independente dos falantes, ao passo que a fala (parole) é a manifestação individual e não sistemática da
língua, e, além disso, sujeita à variação. O desenvolvimento desses estudos culminaria na gramática descritiva, o segundo tipo de gramática que
vamos estudar.
A gramática descritiva
Como seu próprio nome indica, a gramática descritiva tem por finalidade descrever a língua em seus usos reais, divergindo da gramática tradicional
ou normativa, que corresponde mais a um ideal do que ao comportamento real da língua em seus mais variados contextos e comunidades de
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falantes.
Como explica Possenti (1996, p. 64):
gramática normativa
é “um conjunto de regras que devem ser seguidas”.
gramática descritiva
é “um conjunto de regras que são seguidas”.
Neste ponto, surge o debate que coloca em lados distintos gramáticos e linguistas, sendo enunciado na seguinte citação:
Os linguistas, portanto, estão interessados no que é dito, e não no que alguns acham que deveria ser dito. Eles
descrevem a língua em todos os seus aspectos, mas não prescrevem regras de correção. É um equívoco comum achar
que há um padrão absoluto de correção que é dever de linguistas, professores, gramáticos e dicionaristas manter. A
noção de correção absoluta e imutável é alheia aos linguistas.
(CUNHA; COSTA; MARTELOTTA, 2011, p. 25)
A partir destas reflexões iniciais sobre os conceitos e tipos de gramática, vamos aprofundar nossa compreensão sobre o ensino de gramática,
abordando a relevância deste ensino em meio a posicionamentos muitas vezes controversos.
A relevância pedagógica da gramática
A relevância do ensino da gramática se justifica, primeiramente, pela complexidade do sistema verbal de uma língua. Comumente, associamos a
linguagem humana à língua, isto é, ao sistema verbal empregado por determinada comunidade de falantes. Este sistema apresenta:
sons distintivos (fonemas)
vocábulos e palavras (lexemas)
unidades mínimas de signi�cação (morfemas)
conjuntos de vocábulos e palavras que formam frases e orações (sintagmas)
Temos, então, os quatro níveis da língua:
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Os referidos níveis costumam aparecer nos mais diversos tipos de gramática e refletem a vocação das gramáticas para classificar as unidades de
uma língua, da mais simples à mais complexa, com finalidade primordialmente pedagógica.
Vejamos, então, os níveis fonológico, morfológico, lexical e sintático, a partir de alguns exemplos.
Nível fonológico
No nível fonológico, o conhecimento do sistema de sons de uma língua permite que o estudante observe o comportamento dos fonemas de sua
língua materna, tanto quanto de uma língua estrangeira.
Exemplo
Em português, o fonema [p] se distingue do fonema [b] por apenas um traço; pois, sendo ambos fonemas oclusivos (sem passagem de ar) e
bilabiais (ambos exigem o encontro dos lábios), o que os distingue é seu grau de vozeamento:
[p] é um fonema surdo, enquanto [b] é um fonema sonoro.
Temos, então, a distinção entre [pato] e [bato] por apenas um traço: o vozeamento.
Evidentemente, este traço contribui para distinguir dois signos: “pato” é um animal; “bato” é a forma conjugada do verbo “bater”, na primeira pessoa
do singular do Presente do Indicativo.
Como podemos perceber, o fonema ainda não é suficiente para haver significação. Precisamos, então, avançar nos níveis da língua.
Nível morfológico
No nível morfológico, encontramos as unidades mínimas de significação, também chamadas morfemas.
Exemplo
Observe as seguintes formas verbais: “falamos” e “calamos”. Entre as duas formas, percebemos que somente a parte inicial da palavra é distintiva.
No entanto, não se trata apenas de uma distinção fonológica, pois as sequências “fal“ e “cal“ são formas linguísticas distintivas no plano do
significado, e não somente do significante, como é o caso do fonema.
Na realidade, trata-se de radicais, ou seja, morfemas que remetem à base de toda palavra.
Seguindo o mesmo raciocínio, a parte terminal da palavra, composta pelo morfema “mos”, não é uma simples coincidência fonológica.
Trata-se de um morfema denominado “desinência verbal número-pessoal”,já que remete à primeira pessoa do plural.
E o que dizer da parte intermediária da palavra, a vogal “a”? É um fonema ou um morfema? A resposta é simples:
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“a” é fonema, mas, no âmbito das palavras “falamos” e “calamos”, também é um morfema, designado “vogal temática”, remetendo às formas
verbais de primeira conjugação, terminadas em -ar, como falar, calar, namorar, dançar etc.
E o que dizer da parte intermediária da palavra, a vogal “a”? É um fonema ou um morfema? A resposta é simples. Verifique a seguir:
Na língua portuguesa, há inúmeros morfemas, pois trata-se de uma língua flexional, diferente do inglês, por exemplo, língua sintética, em que a
conjugação do tempo presente apresenta poucas variações, ao passo que as línguas de origem latina são riquíssimas em flexões morfológicas.
Exemplo
A conjugação do verbo “ser” em latim: sum, es, est, sumus, estis, sunt.
Em francês: suis, es, est, sommes, êtes, sont.
Em português: sou, és, é, somos, sois, são.
E em inglês? Temos somente três formas para todas as pessoas do discurso: am, are, is.
O verbo “ser” conjugado nestas diferentes línguas é apenas um demonstrativo da riqueza da língua portuguesa, originária do indo-europeu.
Nível lexical
Chegamos, então, ao nível lexical, em que as formas verbais adquirem maior independência, pois já se trata de uma unidade integral da língua, ainda
que em diferentes graus.
Exemplo
A preposição “com” não encontra referente no mundo, pois depende de outras unidades da língua para fazer sentido. As preposições são, portanto,
formas dependentes. Já uma unidade lexical como “rua” é uma forma independente, na medida em que constitui uma categoria da realidade que
nos rodeia.
Temos, então, a seguinte distinção no nível lexical da língua: nem todo vocábulo é palavra, mas toda palavra é um vocábulo. Em outros termos, toda
unidade lexical é um vocábulo, pois detém certa autonomia no âmbito da sentença e nela desempenha uma função; mas nem todo vocábulo pode
ser considerado palavra, visto que esta, além de função, possui significado na realidade circundante.
Nível sintático
Atingimos, enfim, o nível sintático da língua, em que os lexemas, dependentes ou independentes, vocábulos e/ou palavras, são organizados de tal
forma que possam constituir uma sentença gramatical em língua portuguesa.
Exemplo
Veja o seguinte sintagma: “O presidente da República recepcionou seu homólogo canadense”. Vemos aí a ordem sintática padrão da língua
portuguesa, constituída por sujeito-verbo-predicado (SVO): presidente da República (sujeito), recepcionou (verbo), seu homólogo canadense (objeto
Resposta 
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direto).
Evidentemente, variações sintáticas podem ocorrer, como em “O presidente canadense foi recepcionado pelo presidente da República do Brasil”, ou
ainda, “Eu adoro chocolate” e “Chocolate, eu adoro”. As razões pelas quais as sentenças apresentam variações em seu ordenamento são inúmeras,
como a situação de fala (formal/informal), o grau de instrução dos falantes, o sexo, a idade, a origem geográfica, dentre outros fatores
sociolinguísticos.
Saiba mais
A variação linguística é um fenômeno que ocorre em todos os níveis da língua, do fonológico ao sintático. A Sociolinguística é o ramo da Linguística
que estuda a língua em seu aspecto variacionista, estabelecendo as variantes sociolinguísticas, como diferenças de pronúncia, prosódia, desvios de
oralidade, entre outras.
Apenas a título de exemplo, um falante que diga “nós vai”, em lugar de “nós vamos”, produz em seu falar uma variante dita estigmatizada, uma vez
que ocorre um desvio da norma padrão da língua portuguesa. As variantes estigmatizadas, como seu próprio nome indica, são desprestigiadas do
ponto de vista social.
A relevância social da gramática
A relevância do ensino da gramática também se justifica pela necessidade de inclusão social dos jovens aprendizes.
Se é verdade que as crianças aprendem a falar nos primeiros anos de vida, não podemos afirmar que sua linguagem seja desenvolvida a ponto de
expressar ideias complexas. Eis aqui a função primordial do ensino de gramática: dar a conhecer a complexidade e a riqueza de uma língua em sua
forma mais desenvolvida, complexa, o que vem a ser uma propriedade do regime escrito.
Essa questão é objeto de um debate que costuma dividir os defensores da norma culta e padrão da língua portuguesa, e estudiosos que defendem
que todos os falares, oriundos da língua falada ou escrita, são igualmente eficientes, na medida em que são suficientes para haver comunicação.
Esse debate costuma ser identificado a dois grupos:
gramáticos
linguistas
Vamos aprofundar tal discussão e evitar a polêmica sem fundamentos. Na realidade, vamos defender um ponto de vista intermediário, ou seja,
valorizar a norma padrão, necessária para a inclusão social, e reconhecer que a variação linguística é um fenômeno que permeia a sociedade como
um todo, uma vez que a língua também é um reflexo dos funcionamentos humanos.
É muito simples constatar que as línguas variam de uma comunidade para outra, de um
falante a outro, no interior de uma mesma família!
Também é fácil observar que há falares mais valorizados do que outros.
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Um romancista possui um domínio maior da língua em que se expressa do que alguém que não tem o hábito de escrever, e tampouco participe de
situações de linguagem mais controladas, muito ligadas ao registro formal e à escrita padrão.
Reconhecer que as línguas variam não deve ser, portanto, um assunto tabu, mas uma simples constatação.
No entanto, não é possível preconizar ou defender o ensino da variação, a não ser sensibilizar os alunos para este fenômeno que atravessa as
comunidades linguísticas desde que o homem é homem.
Chegamos, então, ao ponto crucial deste debate:
Para que serve a gramática e a norma gramatical? Ela é impositiva? Por quê?
É neste ponto do debate que gramáticos e linguistas costumam divergir, mesmo porque o gramático classifica as línguas, enquanto o linguista
descreve seu comportamento nas comunidades de uso da língua.
Neste sentido, o debate coloca em polos distintos profissionais movidos por diferentes visões sobre a língua e a linguagem, e diferentes finalidades:
A língua apresenta um padrão, geralmente aquele a ser seguido, isto é, a norma linguística.
A língua é um objeto científico, logo, um fenômeno sujeito à observação, descrição e análise.
Contudo, voltemos ao questionamento sobre a utilidade da gramática e, em particular, da norma gramatical.
Neste ponto, vamos concordar com Possenti (1996, p. 17), afirmando que:
O objetivo da escola é ensinar o português padrão, ou, talvez mais exatamente, o de criar condições para que ele seja
aprendido.
Para o linguista brasileiro, a ideia de que não é possível ensinar o português padrão, leia-se, a norma padrão da língua portuguesa, revela um
preconceito sobre a incapacidade dos alunos de aprender esta variante linguística socialmente valorizada. Na realidade, a dificuldade de aprender a
norma padrão da língua portuguesa tem mais a ver, por um lado, com a metalinguagem especializada da gramática, e, por outro, à pouca
familiaridade dos alunos com esta variante.
Diante de tais desafios, o que se pode oferecer aos alunos em termos de ensino de gramática?
Aqui, é preciso ter clareza sobre o modo real de circulação da linguagem, a saber, os gêneros textuais.
Se, por um lado, não se pode prescindir da competência gramatical para compreender e produzir textos.
Por outro, não é su�ciente dominar regras gramaticais para compreender e produzir textos de forma pro�ciente.
Perspectiva do gramático Perspectiva do linguista 
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É papel da escola desenvolver um trabalho sistemático com os gêneros textuais que o aluno não domina. De outra forma, não haveria necessidade
de um ensino gramatical explícito. É nesse sentido que o ensino de gramática não pode estar desvinculado dos gêneros textuais, que são a forma
real e concreta de emprego da linguagem, em situações mais ou menos controladas.
Conceitos e tipos de gramática
A professora Aline Saddi Chaves faz reflexões sobre a relevância do ensino-aprendizado da gramática a partir das distinções entre conceitos e tipos
de gramática. Vamos lá!

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Falta pouco para atingir seus objetivos.
Vamos praticar alguns conceitos?
Questão 1
Entre os conceitos de gramática, encontramos a noção de gramática implícita ou gramática internalizada, e o conceito de gramática explícita.
Analise as afirmativas a seguir sobre esses conceitos:
I - Os falantes de uma língua são dotados de uma faculdade mental para desenvolver a linguagem.
II - A gramática explícita está relacionada a uma finalidade pedagógica.
III - A hipótese comportamentalista da linguagem pretende explicar a aquisição da linguagem como resultado da interação da criança com o
meio que a circunda.
IV - O conhecimento implícito das regras de formação de sentenças é transmitido, não é adquirido.
V - O termo “gramática” não se limita à língua, podendo ser empregado para todo sistema de classificação de um fenômeno ou produto cultural.
Está correto apenas o que se afirma em:
Parabéns! A alternativa D está correta.
%0A%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%0A%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%2
paragraph'%3EA%20afirmativa%20IV%20%C3%A9%20a%20%C3%BAnica%20incorreta%20porque%20o%20conhecimento%20impl%C3%ADcito%20ou%
Questão 2
Sobre os tipos de gramática e a relevância do ensino de gramática, assinale a alternativa correta:
A I e II.
B I, II e III.
C III, IV e V.
D I, II, III e V.
E II, III, IV e V.
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Parabéns! A alternativa B está correta.
%0A%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%3Cp%20class%3D'c-
paragraph'%3EAs%20dificuldades%20relacionadas%20ao%20ensino%20da%20gram%C3%A1tica%20e%2C%20mais%20particularmente%2C%20da%2
se%20pela%20metalinguagem%20empregada%20nos%20livros%20de%20gram%C3%A1tica%2C%20provocando%20um%20distanciamento%20entre%
2 - A gramática re�exiva
Ao �nal deste módulo, você será capaz de identi�car os princípios metodológicos da gramática re�exiva.
Considerações preliminares
Neste módulo, vamos conhecer a concepção teórica, aplicada e metodológica da gramática reflexiva.
Trabalharemos alguns princípios básicos da gramática reflexiva, como:
A A norma padrão da língua portuguesa não deve ser objeto de ensino privilegiado da escola.
B A crença de que a norma padrão é difícil de ser ensinada tem relação com a metalinguagem empregada nos livros de gramática.
C A norma padrão deve ser ensinada para que os alunos dominem a metalinguagem gramatical.
D
A gramática tradicional, também denominada gramática normativa ou prescritiva, considera a língua principalmente em seu
aspecto variacionista.
E
A gramática descritiva surgiu na Antiguidade grega, no contexto dos estudos linguísticos que privilegiavam a descrição da língua
e suas variações.
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a relação entre o conteúdo gramatical a ser ensinado
as práticas reais de linguagem
Desse modo, vamos abordar os seguintes aspectos:
a variedade de falares (urbano/regional)
suportes (impresso/digital)
semioses (verbal/não verbal)
registros (formal/informal)
Essa abordagem evita a postura normativa.
Em seguida, vamos ilustrar a abordagem metodológica da gramática reflexiva a partir do ensino da classe dos adjetivos.
Como veremos, o conteúdo gramatical a ser ensinado, pela perspectiva reflexiva, ocupa um papel coadjuvante no ensino e aprendizagem, pois está
a serviço das atividades linguageiras de escrita e oralidade.
O ensino de gramática pela ótica reflexiva está envolvido em um processo indutivo, que permite ao aluno depreender o funcionamento do
mecanismo linguístico a partir das práticas reais e concretas assumidas pela linguagem sob a forma de gêneros textuais.
A gramática re�exiva: concepção teórica e aplicada
Desde as últimas décadas, a gramática reflexiva apresenta-se como uma abordagem metodológica inovadora para o ensino de gramática. Para
introduzir este tema, vamos utilizar como referência a obra Gramática reflexiva: texto, semântica e interação, de William Cereja e Thereza Cochar
Magalhães (2013).
Trata-se de uma gramática escolar, concebida para ser adotada em sala de aula, compartilhada por professores e alunos. Tem um propósito
diferente das gramáticas tradicionais, no sentido amplo do termo, pois as gramáticas tradicionais estão mais voltadas para um estudo sistemático
das línguas e geralmente dirigidas a estudiosos da área (o que, evidentemente, não impede que estudantes as utilizem).
É interessante notar que os referidos autores são especialistas na área e atuam como professores da educação básica.
A proposta de uma gramática reflexiva é inovadora em si pela proposta de aproximar o ensino de gramática das teorias linguísticas. Como
mencionado no subtítulo da obra, os termos “texto”, “semântica” e “interação” já denotam o claro viés desta gramática em articular o ensino de
gramática às contribuições da Linguística da fala/discurso, na medida em que os três termos indicam a relação entre:
língua/manifestação material (texto);
língua/sentido (semântica);
língua/contextos comunicativos (interação).
Considerando que sempre envolvem locutores/interlocutores, espaços e temporalidades.
Nas primeiras páginas da obra, os autores endereçam uma espécie de carta aos leitores da obra. Vamos ler este texto para introduzir a concepção
teórica e aplicada da gramática reflexiva.
Prezado estudante:
No mundo atual, caracterizado pela diversidade de linguagens e pela comunicação eletrônica, o uso adequado e eficiente da linguagem
verbal é cada vez mais necessário. Essa linguagem não se contrapõe a outras; ao contrário, hoje, as linguagens verbais e não verbais se
carta aos leitores 
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cruzam e se complementam, como ocorre na informática, no cinema, nos quadrinhos, na publicidade e até na literatura e na pintura.
Portanto, ter domínio da língua faz muita diferença. Significa estar mais preparado para interagir com outras pessoas, o que implica ter a
possibilidade de influenciar seu modo de agir e pensar, e, da mesma forma, também ser influenciado. Língua é, pois, mudança, interação,
transformação.
Durante longo tempo, acreditou-se que falar bem português era falar difícil, isto é, empregar frases de efeito, com estrutura complicada e
vocabulário culto. Hoje pensa-se de modo diferente: usar bem o português é o mesmo que saber adequá-lo às diferentes situações sociais
de que participamos.
Por exemplo, em situações formais, como numa entrevista, num discurso público, numa carta a um jornal ou numa dissertação escolar, é
indispensável o uso da variedade padrão e formal da língua. Já numa conversa com os amigos ou familiares, a língua padrão seria formal
demais e poderia contribuir para o distanciamento entre as pessoas.
A língua estudada nesta gramática é a língua portuguesa viva, isto é, a utilizada em suas variedades oral ou escrita, padrão ou não padrão,formal ou informal, regional ou urbana etc. É a língua que circula nos jornais, na tevê, nos quadrinhos, nas canções, nos textos literários, nos
anúncios publicitários, enfim, nos textos que circulam socialmente.
Esta gramática foi escrita para você, jovem ou adulto que, sem preconceitos, está sintonizado com os diferentes tipos de linguagem e deseja
aprimorar sua capacidade de uso da língua portuguesa, seja falando e escrevendo, seja ouvindo e lendo.
Um abraço,
Os Autores
(Fonte: CEREJA; MAGALHÃES, 2013, grifos nossos)
Nesta carta, endereçada ao estudante, destacamos alguns princípios de uma gramática reflexiva:
diversidade de linguagens;
comunicação eletrônica;
linguagens verbais e não verbais;
mudança, interação, transformação;
adequação da língua às situações sociais de uso da linguagem;
língua portuguesa viva;
variedade oral ou escrita; padrão, formal ou informal, regional ou urbana etc.;
textos que circulam socialmente;
sem preconceitos.
A partir dos princípios destacados, podemos observar o esforço da gramática reflexiva em levar o aluno a refletir sobre os usos reais da língua,
conduzindo-o a uma visão menos normativa e mais realista de gramática, tendo em vista que são abordados elementos de variação da língua e da
linguagem em inúmeros aspectos:
suporte de veiculação
registro oral ou escrito
tipos de semioses (verbal, não verbal)
gêneros textuais de circulação social
Os autores propõem, ainda, que o estudo da língua seja realizado “sem preconceitos”, a�rmação que retoma o debate entre
gramáticos e linguistas a que já nos referimos.
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De�nições sobre a gramática re�exiva
Vejamos agora algumas definições mais concisas de gramática reflexiva, a partir de dois teóricos, Magda Soares e Luiz Travaglia, para, em seguida,
considerarmos a perspectiva da Base Nacional Comum Curricular (BNCC).
Soares (1979 apud TRAVAGLIA, 2000, p. 142) define gramática reflexiva “como sendo uma gramática em explicitação, que surge da reflexão
com base no conhecimento intuitivo dos mecanismos da língua e será usada para o domínio consciente de uma língua que o aluno já
domina inconscientemente”.
Por essa citação, notamos que a gramática reflexiva leva em conta a competência internalizada da língua que os alunos já possuem, mas da
qual não têm “consciência”. Para tornar o aluno consciente do funcionamento da língua, propõe-se a explicitação dos mecanismos
linguísticos.
Em outras palavras, isto significa que o ensino de gramática pela perspectiva reflexiva deve conduzir o aluno à análise linguística, antes
mesmo de colocar em prática seus conhecimentos gramaticais, seja por meio de exercícios sistemáticos, seja por atividades de
compreensão e produção oral e escrita de textos.
Conforme Travaglia (2003, p. 142), a gramática reflexiva não se limita ao trabalho de reflexão a partir do que o aluno conhece ou domina. A
gramática reflexiva é também um trabalho que implica os recursos linguísticos ainda não dominados pelo aluno, a fim de leva-lo “à aquisição
de novas habilidades linguísticas, realizando, assim, um ensino produtivo e não apenas uma descrição” (TRAVAGLIA, 2003, p. 142).
Travaglia explica, portanto, que também é finalidade da gramática reflexiva levar o aluno a adquirir novas habilidades linguísticas. Essa
afirmação é importante porque revela o compromisso de tal abordagem teórica, aplicada com o ideal de tornar o aluno competente para ler e
produzir textos, orais e escritos, e não somente dominar uma variante padrão, como proposto pela gramática tradicional.
A concepção defendida por Travaglia é confirmada pela Base Nacional Comum Curricular (BNCC):
Nos anos �nais do Ensino Fundamental, os conhecimentos sobre a língua e sobre a norma padrão se articulam aos
demais eixos em que se organizam os objetivos de aprendizagem e desenvolvimento de Língua Portuguesa. As
abordagens linguística, metalinguística e re�exiva, ocorrem, desta forma, sempre a favor da prática de linguagem que
está em evidência nos eixos de leitura, escrita ou oralidade.
(BRASIL, 2016, p. 329, grifo nosso)
A respeito do ensino médio, a BNCC (BRASIL, 2016, p. 501) também insiste sobre a postura reflexiva do aluno, ao afirmar que “a atividade teórico-
reflexiva deve ser vista como um recurso para potencializar a criação, a compreensão dos modos de se expressar e participar no mundo”.
Magda Soares 
Luiz Carlos Travaglia 
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A partir desta exposição sobre os fundamentos teóricos e aplicados da gramática reflexiva, vamos conhecer sua abordagem metodológica.
Gramática re�exiva: abordagem metodológica
Iniciemos por um exemplo de abordagem da classe gramatical dos adjetivos, na Gramática Reflexiva de Cereja e Magalhães (2013), buscando
observar a concepção metodológica mobilizada nesta gramática.
Na gramática de Cereja e Magalhães (2013), o tema dos adjetivos, objeto do capítulo 10, é introduzido por três textos verbo-visuais:
- A tela A morte de Marat, pintada em 1793 pelo pintor francês Jacques-Louis David (1748-1825).
- Uma fotografia do documentário Lixo extraordinário, de 2010.
- Uma produção artística de Vik Muniz (São Paulo, 1961), de 2008, a partir de materiais recolhidos no Aterro de Jardim Gramacho.
Os três textos estabelecem entre si uma relação de intertextualidade, na medida em que a tela de Jacques-Louis David sofre uma releitura pelas
mãos do artista plástico Vik Muniz, cuja obra é, por sua vez, objeto do documentário Lixo extraordinário.
ixo extraordinário
Filme dirigido por Lucy Walker, João Jardim e Karen Harley, e coproduzido por Fernando Meirelles.
O que une os três textos não é somente a imitação da pose da figura retratada, cujo corpo pende para o lado direito, com o torso nu e um pano
branco sobre a cabeça.
Imagem 1
Nada mais do que o retrato de Marat, figura emblemática da Revolução Francesa, que fora morto a facadas em sua banheira.
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Imagem 2
Cena do documentário Lixo extraordinário, que retrata o personagem Tião, sindicalista, no maior aterro sanitário do mundo.
Imagem 3
A obra de Vik Muniz apresenta a mesma cena, com os materiais recicláveis utilizados pelo artista.
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Esta cadeia de memória dos textos e dos discursos é o pano de fundo para a apresentação do tema dos adjetivos na gramática reflexiva em
questão.
Na página seguinte, os autores apresentam dois textos jornalísticos curtos, sendo o primeiro sobre o lançamento do documentário Lixo
extraordinário, e o segundo sobre a tela de David, que era amigo de Marat e registrara a cena logo após a tragédia.
Os autores propõem, então, as primeiras atividades de interpretação, em conformidade com a proposta inicial do capítulo,
intitulada “Construindo o conceito”.
Conceptualização e método indutivo na gramática re�exiva
Nesta etapa, que chamaremos de “conceptualização”, a abordagem metodológica é realizada no sentido de levar o aluno a depreender a regra de
funcionamento dos adjetivos, pelo método indutivo:
partindo do exemplo (particular)
para a regra (geral)
Assim, na gramática reflexiva em questão, vamos notar que a definição de adjetivo só aparece após as atividades de compreensão de textos. Ou
seja, em vez de ensinar os adjetivos, enunciando inicialmente as regras, os alunos são levados, posteriormente, à definição e às regras porque,
primeiro, fazem reflexões a partir das situações de comunicação ou uso da língua.
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Até o final do capítulo, o mesmo procedimento se repete, acrescentando-se uma maior quantidade de explicações gramaticais tradicionais, com
vistas à sistematização dos adjetivos. Ainda assim, todas as explicações gramaticais são precedidas de um texto, pertencente a dado gênero
textual, como notícia, relato histórico, cartaz de filme, tirinha, anúncio publicitário.
Até o �nal do capítulo, os autores propõem as seções “O adjetivo na construção do texto” e “Semântica e discurso”, que
diferem da seção anterior (“Conceituando”) pela proposta inovadora de propor atividades inteiramente voltadas para a
interpretação de texto, com enfoque para os efeitos de sentido do texto.
Lembre-se de que, nesta atividade de interpretação de texto, buscar os efeitos de sentido está relacionado com a identificação das possibilidades de
expressão que o autor do texto optou por utilizar, em função de sua intenção ao escrever. Assim, o humor, a ironia, a ambiguidade e o duplo sentido
são alguns exemplos de efeitos de sentido do texto.
Em outra atividade, é usada uma tirinha como texto motivador para o aluno conceptualizar a função do adjetivo no interior de uma situação de
comunicação precisa.
Tais atividades requerem do aluno uma competência para ler e interpretar um dos elementos da situação de comunicação que
envolve os textos, mais especificamente a seção da revista em que os textos circularam.
Em seguida, é pedido aos alunos, coletivamente, que discutam sobre o lugar em que as palavras listadas devem aparecer nos textos.
Neste ponto, mobiliza-se a competência semântica dos alunos, relacionada ao conhecimento de mundo, sem perder de vista o tema
desenvolvido nos textos.
Em outra parte da atividade, pede-se aos alunos que discutam os critérios empregados para identificar o lugar de cada palavra. Neste
momento, está-se trabalhando a competência de aprendizagem dos alunos (o saber aprender), o que dá o tom reflexivo desta
abordagem metodológica para o ensino de gramática. O mesmo procedimento (reflexivo, indutivo) aparece em outro exercício, em
que, junto com a classe gramatical, o aluno deve refletir sobre os sentidos das palavras escolhidas.
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Pode-se dizer, a partir deste exemplo, que o ensino de gramática, na perspectiva reflexiva, relega o mecanismo linguístico (adjetivo) a um segundo
plano, pela compreensão de que a língua está a serviço da comunicação, e não o contrário.
Atenção
Isso não significa que o conhecimento gramatical não ocupe um papel importante na construção dos textos, mas que ele é uma dentre outras
competências exigidas para a comunicação.
Como explica Travaglia, o trabalho com diferentes metodologias de ensino de gramática deveria estar voltado para desenvolver a competência
comunicativa do aluno, ou seja, levar o usuário da língua a ter cada vez mais capacidade de usar um número maior “de recursos da língua de
maneira adequada à produção do(s) efeito(s) de sentido desejado(s) em situações específicas de interação comunicativa, o que inclui o uso das
diferentes variedades linguísticas em termos de dialetos e registros e variedades de modo (oral e escrito)” (TRAVAGLIA, 2000, p. 60).
Assim, a estrutura da concepção metodológica da gramática reflexiva de Cereja e Magalhães (2013) pode ser sintetizada da seguinte forma:
A gramática re�exiva
Acompanhe a professora Aline Saddi Chaves, trazendo explicações e exemplos sobre o conceito de gramática reflexiva. Vamos lá!

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Falta pouco para atingir seus objetivos.
Vamos praticar alguns conceitos?
Questão 1
Assinale a alternativa que apresenta uma afirmativa que é contrária à abordagem da gramática reflexiva e que, portanto, deveria ser evitada
numa prática de ensino de gramática mais produtiva.
Parabéns! A alternativa B está correta.
%0A%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%3Cp%20class%3D'c-
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Questão 2
Na abordagem metodológica da gramática reflexiva, os conteúdos gramaticais são trabalhados principalmente a partir
A A língua deve ser vislumbrada em sua diversidade de usos, em situações reais de comunicação e interação.
B Destaca-se a competência gramatical e apresentação inicial das regras como procedimento.
C O conhecimento gramatical é explicitado, de modo a tornar o aluno consciente do funcionamento da língua.
D Os suportes de veiculação dos textos são contemplados na gramática reflexiva.
E O ensino da gramática deve estar a favor das práticas de linguagem orais e escritas.
A de exercícios sistemáticos voltados para memorização de regras.
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Parabéns! A alternativa E está correta.
%0A%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%3Cp%20class%3D'c-
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3 - Metodologias ativas e ensino de língua
Ao �nal deste módulo, você será capaz de relacionar metodologias ativas com o ensino e aprendizagem de língua.
Primeiras palavras sobre metodologias ativas
As metodologias ativas vêm responder ao desafio da escola para se adaptar aos jovens do século XXI, ávidos por informação, entretenimento e
capacitação.
B de atividades de produção de textos para fixação das normas.
C da leitura de textos da atualidade para aplicação das regras memorizadas.
D do método dedutivo de explicações gramaticais.
E da conceptualização do conteúdo a ser ensinado.
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O formato tradicional da sala de aula, centrado na figura do professor, detentor único do conhecimento a ser transmitido, torna-se insuficiente para
lidar com o “novo” aluno. Daí a necessidade de implementar práticas pedagógicas significativas, em que o aluno desempenha um papel ativo na
construção do conhecimento, com o auxílio das novas tecnologias da informação e da comunicação digital, de forma colaborativa e cooperativa.
No ensino de língua, as metodologias ativas se apresentam como possibilidades inovadoras para trabalhar conteúdos gramaticais em consonância
com as demandas do mundo globalizado, por meio da resolução de problemas, da elaboração, execução e publicização de projetos, por meio de
jogos, e em diferentes formatos: presencial, remoto, em grupos, assumindo uma postura reflexiva e transformadora.
Metodologias ativas: contextualização e de�nição
A globalização, a Internet e a digitalização da informação e comunicação são marcas importantes do nosso tempo. O século XXI surge sob o signo
da comunicação digital, rompendo com as formas tradicionais de transmissão de informação nas mídias em sentido amplo (jornalismo, publicidade,
redes sociais).
Neste cenário de intensas trocas, econômicas e humanas, as metodologias de ensino e aprendizagem tiveram de se adaptar à realidade do mundo
globalizado e ao fato de que o conhecimento não está limitado a um espaço ou tempo determinados.
As metodologias ativas surgem neste contexto, facilitadas pelas Novas Tecnologias da Informação e da Comunicação (NTICs).
Para fazer frente a essas mudanças e, sobretudo, aos “novos” alunos, ávidos por informação, entretenimento e capacitação profissional, surgem as
metodologias ativas, que podem ser entendidas como estratégias de ensino-aprendizagem centradas no papel mais participativo do estudante.
Professor
Essas novas estratégias também redefinem o papel do professor, que não mais ocupa o centro do ensino e aprendizagem, devendo assumir a
função de mentor,facilitador, orientador educacional, mediador, coach, dentre outros termos que lhe são atribuídos a partir do advento das
metodologias ativas.
Aluno
O aluno, por sua vez, desempenha um papel ativo na aprendizagem, agora compreendida como processo, e não mais produto. Nesta
perspectiva, ele se torna protagonista do processo, abandonando o papel de simples espectador para assumir uma postura autônoma,
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colaborativa, cooperativa, a fim de resolver problemas que não mais se limitam a atividades dos livros didáticos, mas a verdadeiros desafios do
mundo globalizado.
As vantagens apresentadas pelas metodologias ativas podem ser compreendidas a partir do esquema a seguir:
Esse esquema mostra que o aluno está no centro da aprendizagem, desempenhando um papel ativo na construção do conhecimento. Pesquisas
recentes indicam que, para atingir este objetivo, é necessário dotar o aluno de competências para desenvolver a autonomia, por meio de práticas
significativas e de forma colaborativa, interagindo com o professor e os outros alunos. Tal processo requer, ainda, uma avaliação contínua da
aprendizagem, ou seja, uma avaliação formativa, à diferença do que ocorria no ensino tradicional, em que o aluno era avaliado pontualmente, por
meio da chamada avaliação somativa.
Tipos de metodologias ativas para o ensino de língua
Vamos conhecer, então, algumas metodologias ativas para, depois, vermos sua aplicação no ensino-aprendizagem de língua portuguesa.
Aprendizagem baseada em problemas (problem-based learning)
Metodologia baseada em problemas complexos a fim de incentivar a aprendizagem, por meio de debates e resolução de problemas. Nesta
metodologia ativa, a interdisciplinaridade é uma tendência forte para encontrar soluções possíveis aos problemas propostos. O papel do professor é
desenvolver o pensamento crítico e o espírito colaborativo e cooperativo dos alunos, mediando as discussões.
A aprendizagem baseada em problemas apresenta 7 etapas:
1. Entrega do problema pelo professor.
2. Leitura e compreensão do problema.
3. Geração de hipóteses, associadas aos fatos e à formulação do problema.
4. Definição dos objetivos de estudo e as estratégias de pesquisa/estudo.
5. Discussão do problema.
6. Feedback do professor.
7. Avaliação do grupo.
Instrução por pares (peer instruction)
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Nesta metodologia, os alunos estudam em pares ou em grupos, promovendo uma verdadeira interação em sala de aula, mudando o formato
tradicional e hierárquico de aprendizagem, em que o aluno raramente é convocado à participação ativa.
A instrução por pares apresenta a vantagem de desenvolver a autonomia dos alunos e a construção colaborativa do conhecimento.
Vejamos, agora, com base em Mazur (2015) as etapas desta metodologia:
1. Os alunos recebem previamente o material pedagógico, que será lido em casa.
2. Durante a aula, o professor fornece um resumo do tema do dia e propõe aos alunos uma questão conceitual de múltipla escolha.
3. Os alunos refletem sozinhos e escolhem a alternativa que julgam correta. O professor anota os resultados e pode escolher três caminhos:
Menos de 30% de respostas corretas: a compreensão inicial é ruim, então, o professor explica novamente o conceito.
As respostas corretas situam-se entre 30 e 70%: o professor pede aos alunos que se convençam entre si da validade de suas escolhas. Os alunos
escolhem outra alternativa à questão inicialmente proposta.
Mais de 70% da classe forneceu respostas corretas. Este resultado é satisfatório: o professor revela a resposta correta. Para os 30% que deram uma
resposta incorreta, o professor pode fornecer elementos para revisar o conteúdo.
Aprendizagem baseada em projetos (projetc based learning ‒ PBL)
Esta metodologia tem como ponto de partida um desafio lançado pelo professor. A partir disso, os alunos devem realizar todas as etapas do projeto,
culminando na entrega de um produto, como cartazes, maquetes, robôs, dentre outros produtos manufaturados ou digitais. O professor
desempenha a função de orientador, instigando os alunos por meio de pistas, questões, de modo a levá-los a construir, coletivamente, o
conhecimento.
Na aprendizagem baseada em projetos, encontramos as seguintes etapas:
Na pedagogia de projetos, o aluno não é mais coadjuvante, mas protagonista do processo de ensino e aprendizagem. Além disso, o PBL desenvolve
o espírito de pesquisador, aproximando os alunos da produção de conhecimento em meio acadêmico, como acontece nos programas de iniciação
científica nas universidades.
Sala de aula invertida (�ipped classroom)
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O professor assume o papel de mentor ou coach e os alunos são responsáveis pelo conhecimento de que se apropriam por meio de estudos
prévios. Os encontros presenciais são destinados a discussões e debates sobre o tema pesquisado. A sala de aula invertida é um tipo de ensino
híbrido, na medida em que mescla atividades presenciais e remotas ou virtuais.
Esta metodologia pode ser trabalhada em três etapas, conforme Soares (2020):
Preparação
Apresenta-se aos estudantes um desafio ou um tema sobre o qual eles tenham interesse. Os conteúdos são disponibilizados pelo professor, em
diferentes formatos, para serem trabalhados por meio de algumas questões que guiarão o estudante. Os estudantes podem seguir um ritmo próprio
de interação com o conteúdo, além disso, não há necessidade de que todos desenvolvam os itens propostos integralmente.
Atividade em grupo
Os estudantes são convidados a resolver problemas, em pequenos grupos, realizando alguma experiência ou produção. Nesse momento, eles
devem mobilizar os conhecimentos a que tiveram acesso e, também, se necessário, desenvolver novas pesquisas e aprofundar a aprendizagem.
Sistematização
A partir da atividade proposta, o professor atua como mediador de uma discussão dos grupos, propondo uma conclusão conjunta que integre as
conexões entre todos os temas discutidos. Essa conclusão pode ser realizada por meio da redação de um parágrafo, pela elaboração de um mapa
mental ou outra forma colaborativa de consolidar o resultado da atividade.
Uma das principais vantagens da sala de aula invertida é a de colocar o aluno no centro do processo de ensino e aprendizagem, além de romper
com o formato tradicional de transmissão de conhecimentos.
Gami�cação
Esta metodologia é baseada nos mecanismos utilizados para a criação de jogos, mas em um contexto de não jogo. A gamificação reproduz os
mesmos benefícios alcançados no ato de jogar, como: motivação, desenvolvimento cognitivo, entretenimento, alívio do estresse, socialização, entre
outros. É indicada para atividades que exigem o estímulo dos alunos.
Abordagem metodológica ativa no ensino de língua
Além das metodologias ativas que você viu até aqui, há uma variedade de outros tipos de metodologias ativas, mas vamos agora à aplicação de
abordagens metodológicas ativas de aprendizagem na área do ensino de língua portuguesa.
No ensino de língua, as metodologias ativas são particularmente produtivas para relacionar os conteúdos teóricos a práticas significativas, com o
auxílio das NTICs (novas tecnologias da informação e da comunicação).
Propomos, aqui, um exemplo de abordagem metodológica baseada na sala de aula invertida, para o trabalho com tempos e modos verbais, em
conformidade com as habilidades preconizadas pela BNCC. Inicialmente, expomos o plano de aula; na sequência, descrevemos detalhadamente as
quatro etapas desta proposta didática.
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Tipo de metodologia ativa: sala de aula invertida
Disciplina: Língua Portuguesa
Habilidade da BNCC(EF06LP05): Identificar os efeitos de sentido dos modos verbais, considerando o gênero textual e a intenção comunicativa.
Mecanismo linguístico: tempos e modos verbais
Série: 6º/ 7º ano
Objetivo: conhecer os tempos e modos verbais da língua portuguesa, com vistas a compreender seu uso e efeitos de sentido em textos que
circulam socialmente.
Avaliação: formativa; o professor avalia os alunos em todas as etapas da proposta didática.
Etapas: Contextualização (1); Pesquisa individual e em grupos (2); Sistematização (3); Avaliação (4).
Etapas da atividade
Etapa 1: Contextualização
Nesta etapa, o professor introduz os tempos e modos verbais propondo a leitura de uma crônica, com o objetivo de contextualizar o mecanismo
linguístico, dispensando, por ora, explicações gramaticais.
Festa de aniversário
Texto: Fernando Sabino
Leonora chegou-se para mim, a carinha mais limpa desse mundo:
– Engoli uma tampa de Coca-Cola.
Levantei as mãos para o céu: mais esta agora! Era uma festa de aniversário, o aniversário dela própria, que completava seis anos de idade.
Convoquei imediatamente a família:
– Disse que engoliu uma tampa de Coca-Cola.
A mãe, os tios, os avós, todos a cercavam, nervosos e inquietos. Abre a boca, minha filha.
Agora não adianta: já engoliu. Deve ter arranhado. Mas engoliu como? Quem é que engole uma tampa de cerveja? De cerveja, não: de Coca-
Cola. Pode ter ficado na garganta – urgia que tomássemos uma providência, não ficássemos ali, feito idiotas. Peguei-a no colo: vem cá,
minha filhinha, conta só para mim: você engoliu coisa nenhuma, não é isso mesmo?
– Engoli sim, papai – ela afirmava com decisão. Consultei o tio, baixinho: o que é que você acha? Ele foi buscar uma tampa de garrafa,
separou a cortiça do metal:
– O que é que você engoliu: isto... ou isto?
– Cuidado que ela engole outra – adverti.
– Isto – e ela apontou com firmeza a parte de metal.
Não tinha dúvida: pronto-socorro. Dispus a carregá-la, mas alguém sugeriu que era melhor que ela fosse andando: auxiliava a digestão.
No hospital, o médico limitou-se a apalpar-lhe a barriguinha, cético:
crônica 
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– Dói aqui, minha filha?
Quando falamos em radiografia, revelou-nos que o aparelho estava com defeito; só no pronto-socorro da cidade.
Batemos para o pronto-socorro da cidade. Outro médico nos atendeu com solicitude:
– Vamos já ver isto.
Tirada a chapa, ficamos aguardando ansiosos a revelação. Em pouco o médico regressava:
– Engoliu foi a garrafa.
– A garrafa? Exclamei. Mas era uma gracinha dele, cujo espírito passava muito ao largo da minha aflição: eu não estava para graças. Uma
tampa de garrafa! Certamente precisaria operar – não haveria de sair por si mesma.
O médico pôs-se a rir de mim.
– Não engoliu coisa alguma. O senhor pode ir descansado.
– Engoli – afirmou a menininha.
Voltei-me para ela:
– Como é que você ainda insiste, minha filha?
– Que eu engoli, engoli.
– Pensa que engoliu – emendei.
– Isso acontece – sorriu o médico. – Até com gente grande. Aqui já teve um guarda que pensou ter engolido o apito.
– Pois eu engoli mesmo – comentou ela, intransigente.
– Você não pode ter engolido – arrematei, já impaciente: – Quer saber mais do que o médico?
– Quero. Eu engoli, e depois desengoli – esclareceu ela.
Nada mais havendo a fazer, engoli em seco, despedi-me do médico e bati em retirada com toda a comitiva.
Fonte: SABINO, F. A mulher do vizinho. Rio de Janeiro, 1962. p. 211-212, grifo nosso.
Após a leitura da crônica, o professor lança o desafio: individualmente, os alunos fazem um levantamento dos verbos presentes no texto
(destacados em negrito), devendo emitir hipóteses sobre os modos e tempos aos quais os termos se referem. A partir das respostas dos alunos, o
professor anuncia a segunda etapa da atividade.
Etapa 2: Pesquisa individual e em grupos
O professor orienta os alunos a pesquisarem, individualmente, sobre tempos e modos verbais em diferentes suportes:
gramáticas escolares
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sites
aplicativos
Esta tarefa pode ser realizada remotamente. Na Internet, os alunos poderão encontrar plataformas ou aplicativos que conjugam verbos.
Em momento posterior, já em sala de aula, os alunos são reunidos em grupos e socializam os resultados de suas pesquisas. Nesta etapa, eles são
instruídos a sistematizar os tempos e modos verbais sob a forma de um mapa mental, dentre outros recursos disponibilizados pelas tecnologias
digitais. Para criar o mapa mental, eles podem acessar sites que oferecem essa funcionalidade, como Lucidchart.
A criação do mapa mental, também chamado mapa conceitual, pode ser realizada em sala de aula, se a escola dispuser de infraestrutura para tal.
Caso contrário, pode ser objeto de uma nova pesquisa individual, que será posteriormente socializada com a classe.
As vantagens desta ferramenta (mapa mental) são as possibilidades que ela oferece em termos de autonomia e engajamento dos alunos na
realização de tarefas, além de atuar diretamente na organização do pensamento, facilitando, assim, o desenvolvimento da competência gramatical.
Nesta etapa da sala de aula invertida, o aluno é responsável por construir o conhecimento, assumindo uma postura ativa, semelhante à daquele que
ensina o conteúdo.
Etapa 3: Sistematização
Na etapa de sistematização, o professor pode retornar ao texto proposto na primeira etapa e propor questões de interpretação. Esta atividade pode
ser realizada em grupos, e o professor desempenhará a função de mediador, passando pelos grupos para sanar dúvidas. Finalmente, as respostas
serão compartilhadas oralmente com a classe.
Confira algumas sugestões para a elaboração das questões:
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O professor e aluno citam todos os tempos e modos verbais presentes no texto, tal como grifado em negrito.
O professor propõe uma interação com a classe, para relacionar a forma verbal a seu uso em uma situação real de comunicação, podendo
elaborar perguntas do tipo:
a) Qual é o tempo e modo verbal utilizado pelo narrador para relatar a fala da filha, por exemplo, no enunciado “– Cuidado que ela engole
outra – adverti”? Explique por que o narrador emprega este tempo e modo verbal.
a. (Resposta: Pretérito Perfeito. Este tempo verbal é empregado pelo narrador para relatar uma fala, por meio do discurso direto.)
b) No enunciado “No hospital, o médico limitou-se a apalpar-lhe a barriguinha”, por que o verbo “limitar” está acompanhado do pronome
reflexivo “se”?
a. (Resposta: Os verbos reflexivos indicam um sujeito que realiza e recebe a ação.)
c) No enunciado “Certamente precisaria operar”, a forma verbal “precisaria operar” indica que Leonora foi operada? Explique.
a. (Resposta: A forma “precisaria operar” é formada pelo verbo “precisar” no futuro do pretérito do Indicativo, indicando uma suposição,
tendo em vista a preocupação do pai com o estado de saúde da filha.)
Os alunos são convidados, conforme a BNCC (BRASIL, 2016), a identificar os efeitos de sentido dos modos verbais, levando em conta o
gênero textual e a intenção comunicativa.
a) As formas verbais “engoliu” e “cercavam” pertencem ao tempo pretérito do Modo Indicativo. Com base nestes exemplos, explique a
diferença de sentido entre o Pretérito Perfeito e o Pretérito Imperfeito.
(Resposta: O Pretérito Perfeito indica ações pontuais, acabadas, do ponto de vista daquele que enuncia. Já o Pretérito Imperfeito é
empregado em situações do passado que são trazidas ao presente, criando um efeito de duração.)
b) Nesta crônica, há muitos verbos conjugadosno Presente do Indicativo. Em sua opinião, este tempo e modo verbal tem relação com o
gênero crônica?
(Resposta: Sim, porque a crônica é um gênero literário e jornalístico que tem por característica narrar situações do cotidiano, misturando
ficção e realidade. Para criar o efeito de sentido de um episódio recente e real, o emprego do Presente é abundante neste gênero textual.)
c) No enunciado “Que eu engoli, engoli”, por que ocorre a repetição do verbo?
(Resposta: a repetição da forma “engoli” cria um efeito de sentido no texto, pois permite à personagem afirmar com convicção que havia
engolido a tampa de garrafa.)
Etapa 4: Avaliação
A avaliação da proposta didática com tempos e modos verbais será realizada em todas as etapas anteriormente descritas. Contudo, o professor
pode propor uma tarefa de casa, como a nuvem de palavras. Essa ferramenta apresenta a vantagem de explorar os conceitos-chave do conteúdo
trabalhado, proporcionando maior facilidade de aprendizagem, por ser um recurso visual. A nuvem de palavras pode ser útil nesta etapa de
avaliação final, pois permitirá ao professor avaliar de que modo os alunos conceptualizam o mecanismo linguístico trabalhado.
Há vários sites ou aplicativos para criação de nuvens de palavras, como Mentimeter e Nuagedemots.
Resumindo
Em atividade oral 
No quadro 
Em grupos 
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Como se pode notar, o uso de metodologias ativas para o ensino de língua apresenta inúmeras vantagens para levar o aluno a desenvolver sua
competência gramatical por meio de uma abordagem que o situa no centro da aprendizagem e na qual ele desempenha um papel colaborativo,
tornando-se autônomo e responsável pela construção do conhecimento.
No entanto, sendo inúmeras as possibilidades de trabalho com as metodologias ativas, cabe ao professor assumir o papel de orientador ao longo de
todo o processo. Desse modo, o professor também renova sua prática, propondo atividades que promovem a autonomia e o engajamento dos
alunos, mas valendo-se de seus conhecimentos e sua experiência para desenvolver práticas significativas. Neste sentido, as metodologias ativas
devem enriquecer o trabalho do professor, não se limitando a atividades mecânicas e desprovidas do necessário aprofundamento que o ensino de
gramática requer para a formação dos alunos.
Metodologias ativas e ensino de língua portuguesa
Está na hora de falarmos sobre o uso de metodologias ativas no ensino-aprendizagem de língua portuguesa, destacando atividades ou práticas que
o professor pode planejar e desenvolver com seus alunos. Vamos lá!

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Falta pouco para atingir seus objetivos.
Vamos praticar alguns conceitos?
Questão 1
Assinale a alternativa que relaciona corretamente o uso de metodologias ativas com a aprendizagem.
Parabéns! A alternativa C está correta.
%0A%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%3Cp%20class%3D'c-
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se%20mais%20participativos%20e%20lidarem%20com%20situa%C3%A7%C3%B5es%20mais%20pr%C3%B3ximas%20da%20realidade.%3C%2Fp%3E%
Questão 2
Sobre as vantagens da sala de aula invertida, no processo de ensino-aprendizagem da língua portuguesa, é CORRETO afirmar que esta
metodologia ativa
A O professor atua como fonte principal do conhecimento e o aluno como um espectador privilegiado.
B O contexto das mídias digitais é um impedimento para a realização de atividades baseadas em metodologias ativas.
C Na aprendizagem baseada em projetos, os alunos podem trabalhar de forma colaborativa na construção do conhecimento.
D As avaliações são realizadas ocasionalmente quando se adotam as metodologias ativas.
E A gamificação é uma metodologia ativa que traz como benefício a disputa entre alunos e a punição dos que sabem menos.
A
privilegia a aquisição da competência gramatical a partir de atividades que se concentram no uso do livro de gramática em sala
de aula.
B baseia-se em problemas da língua portuguesa que o professor apresenta, explica e resolve durante as aulas.
C
dispensa o uso da sala de aula porque todo o aprendizado da língua portuguesa acontece fora da escola, com o professor
atuando apenas na aplicação da avaliação.
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Parabéns! A alternativa D está correta.
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paragraph'%3EA%20sala%20de%20aula%20invertida%20%C3%A9%20uma%20metodologia%20ativa%20baseada%20no%20ensino%20h%C3%ADbrido
Considerações �nais
Você teve a oportunidade de estudar sobre a gramática em uma perspectiva de ensino e aprendizagem de língua.
Iniciamos pelos conceitos e tipos de gramática, desmistificando a ideia de que a gramática é um manual de regras para o bom uso da língua escrita.
Depois, conhecemos a gramática reflexiva, uma proposta de ensino e aprendizagem de gramática baseada nas contribuições da linguística do texto
e do discurso. Nesta perspectiva, os conhecimentos gramaticais internalizados dos falantes/alunos são objeto de reflexão e explicitação por meio
de uma abordagem metodológica que tem início na conceptualização do mecanismo linguístico, etapa oportunizada pela compreensão de textos,
seguida de atividades de sistematização do conteúdo linguístico; e finalizando na exploração dos efeitos de sentido dos textos.
Finalmente, abordamos as metodologias ativas. Vimos que, no ensino de línguas, as metodologias ativas, disponíveis para o trabalho da gramática,
representam inúmeras vantagens: aliar teoria e prática, promover o aluno a protagonista do processo de construção do conhecimento, invertendo
seu papel de mero espectador para adquirir autonomia e espírito colaborativo.
Podcast
Para encerrar, a Doutora em Letras, Aline Chaves, apresenta uma síntese sobre abordagens metodológicas no ensino de gramática. Vamos ouvir!
D permite um tipo de ensino híbrido da língua portuguesa com desenvolvimento de atividades tanto na sala de aula quanto em
ambientes virtuais.
E
relega o professor a um papel secundário, pois o protagonismo do aluno no aprendizado da língua elimina o uso do material
didático e a mediação do professor.

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Leia as seguintes obras:
Manual de Linguística, organizada por Mário Eduardo Martelotta (2011), aborda temas como conceitos de gramática, Gerativismo, Linguística,
Sociolinguística, dentre outros ramos da Linguística que estudam a relação entre língua, cognição, variação e usos sociais da linguagem.
Por que (não) ensinar gramática na escola, de Sírio Possenti (1996), é uma oportunidade de se aprofundar nas discussões sobre gramática e norma
padrão, que costumam dividir gramáticos e linguistas. Estudioso da análise do discurso, Possenti coloca os “pingos nos is” deste debate, ao
assumir que a função da escola é ensinar o português padrão, servindo-se de argumentos e explicações que fogem ao senso comum.
Gramática e reflexão: por um ensino crítico em prol da competência comunicativa, artigo de Kellen Martins e Marli Pereira, publicado no portal
Filologia.org.
Assista aos seguintes vídeos:
A gramática na escola com participação do Prof. Dr. Luiz Carlos Travaglia, reprodução do programa Salto para o Futuro, da TV Escola, disponível no
canal do Instituto de Letras e Linguística (Ileel), no YouTube.
William Cereja – Gramática, breves explicações sobre gramática prescritiva, descritiva e reflexiva, a partir da apresentação da obra Gramática
Reflexiva, disponível no canal de Willian Cereja noYouTube.
Referências
BRASIL. Base Nacional Comum Curricular. 2ª versão revista. Brasília: MEC, 2016.
CEREJA, W.; MAGALHÃES, T. C. Gramática reflexiva: texto, semântica e interação. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2013.
CUNHA, A. F.; COSTA, M. A.; MARTELOTTA, M. E. Linguística. In: MARTELOTTA, M. E. (org.). Manual de Linguística. 2. ed. São Paulo: Contexto, 2011,
p. 15-30.
KENEDY, E. Gerativismo. In: MARTELOTTA, M. E. (org.). Manual de Linguística. 2. ed. São Paulo: Contexto, 2011, p. 127-140.
MARTELOTTA, M. E. Conceitos de gramática. In: MARTELOTTA, M. E. (org.). Manual de Linguística. 2. ed. São Paulo: Contexto, 2011, p. 43-70.
MAZUR, E. Peer Instruction: A revolução da aprendizagem ativa. Porto Alegre: Penso, 2015.
PAIVA, M. R. F. P. et al. Metodologias ativas de Ensino-aprendizagem: revisão integrativa. Sanare, Sobral. v. 15, n. 2, jun/dez, 2016.
POSSENTI, S. Por que (não) ensinar gramática na escola. Campinas, SP: Mercado de Letras, 1996.
SILVA, F. S. Tékhne grammatiké: alguns apontamentos. In: Revista Primordium, v.3, n.6, jul./dez. 2018.
SOARES, M. B. Ensinando comunicação em língua portuguesa no 1º grau. Sugestões metodológicas. 5ª a 8ª séries. Rio de Janeiro,
MEC/Departamento de Ensino Fundamental/FENAME, 1979.
SOARES, W. Como inverter a sala de aula no ensino a distância. Nova Escola, 03 abr. 2020.
TRAVAGLIA, L. C. Gramática e interação: uma proposta para o ensino de gramática. 9. ed. São Paulo: Cortez, 2003.
TRAVAGLIA, L. C. A sistematização do ensino de gramática em atividades de gramática reflexiva e outras. In: BASTOS, N. B. (Org.) Discutindo a
prática docente em Língua Portuguesa. São Paulo: IP – PUC/SP, 2000, p. 59‐70.
Material para download
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