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Texto retirado do livro Transporte Público Urbano Autores: Antônio Clóvis Coca Pinto Ferras e Isaac Guillermo Espinosa Torres Capitulo 16 – Custos e Tarifas 16.7 Compensação tarifária A tarifa, como visto, pode ser determinada pela relação entre o custo por quilômetro percorrido e o índice de passageiros por quilômetro. Como os valores desses parâmetros podem variar de uma empresa para outra, a tarifa justa, em geral, resulta diferente para as diversas empresas que operam em uma mesma cidade. Como a tarifa a ser adotada deve ser calculada para o sistema como um todo, é necessário criar um mecanismo para proporcionar justiça econômica na remuneração das empresas operadoras, isto é, fazer com que o valor da rentabilidade do capital resulte o mesmo para todas elas. A solução para o problema é a implantação de uma câmara de compensação tarifária. O princípio do funcionamento da compensação tarifária é que as empresas que arrecadam mais do que os estudos econômicos apontam como justo devem repassar a parte excedente para as outras, que arrecadam menos do que o justo. Para determinar o valor mensal a ser devolvido à câmara de compensação, ou recebido da mesma, basta multiplicar o número mensal de passageiros equivalentes de cada empresa pela diferença entre o valor da tarifa em vigor (a princípio calculado com base nos dados do sistema como um todo) e o valor da tarifa calculado para a empresa, ou seja: VEMi =PMEi ×(TVI−TEMi) em que VEMi: valor a ser devolvido/recebido pela empresa i (R$/mês), PMEi: número mensal de passageiros equivalentes da empresa i (pass/mês), TVI: tarifa em vigor (R$/pass) e TEMi: tarifa calculada para a empresa i (R$/ mês). Se o valor de VEMi resultar positivo, significa que a empresa arrecadou mais do que deveria e, portanto, deve devolver a diferença à câmara de compensação; se negativo, recebeu menos do que deveria e deve receber a diferença da câmara de compensação. O controle da arrecadação e as transferências de dinheiro podem ser realizados mediante a constituição de uma câmara de compensação tarifária composta pelas próprias empresas operadoras, sob a supervisão do órgão do governo responsável pela gestão do sistema de transporte público. Outra possibilidade é o depósito de toda a arrecadação em uma única conta bancária de responsabilidade do órgão gestor, que faz a distribuição correta do dinheiro às empresas operadoras. Qualquer que seja a forma de compensação tarifária adotada, o sistema facilita a introdução de subsídio ao transporte público urbano, mediante a introdução de recursos extras na câmara de compensação. Também torna-se mais fácil fazer arredondamento no valor da tarifa, pois a diferença pode ficar como superávit ou déficit na câmara de compensação, para posterior compensação no próximo reajuste. 16.8 Formas de tarifação No espaço Há, basicamente, três maneiras de cobrar pelas viagens no transporte público urbano em função da distância percorrida: tarifa única, tarifa zonal e tarifa por seções. No sistema de tarifa única, o preço da passagem independe da distância percorrida. É o sistema mais simples e socialmente mais justo, sendo, por isso, utilizado na maioria das cidades do mundo. No caso mais comum do emprego da tarifa zonal, a cidade é dividida em zonas mais ou menos concêntricas (três ou mais), com a região central no centro, e o valor da tarifa é estabelecido em função do número de zonas cruzadas na viagem: uma, duas, três, etc. A tarifa zonal é empregada em poucas cidades, como, por exemplo, em Hannover e Stuttgart, na Alemanha. O sistema de tarifa por seções também é pouco utilizado. Um exemplo do emprego desse tipo de tarifação é o metrô de Caracas, Venezuela, no qual as linhas são divididas em seções e o valor da tarifa, estabelecido em função do número de seções percorridas. Nesse sistema, o bilhete é colocado no validador das catracas na entrada e, também, na saída das estações, para controle do pagamento. No tempo Para distribuir melhor a demanda no tempo, reduzindo a concentração nos períodos de pico, algumas cidades têm utilizado valores distintos para a tarifa do transporte público conforme o período do dia: menor nos períodos de menor movimento em relação aos períodos de pico. É como se houvesse um desconto para o uso do sistema fora dos horários de pico, com o objetivo de incentivar os usuários a mudarem seus horários de viagem. Com isso melhoram-se a qualidade do transporte, em razão da menor lotação de veículos e locais de embarque nos picos, e a eficiência, devido à necessidade de menos veículos extras para cobrir os períodos de pico. Essa estratégia de tarifação exige o emprego de tecnologias modernas de bilhetagem. Um exemplo do emprego dessa forma de tarifação ocorre no metrô da cidade de Santiago, Chile. Teoricamente, o sistema de cobrança com valores diferentes no tempo também constitui um incentivo às empresas para modificarem os seus horários de trabalho. Contudo, não se têm notícias do resultado disso na prática. Por quantidade Também é comum a concessão de desconto na tarifa quando é adquirida uma passagem que permite realizar múltiplas viagens. Além da vantagem econômica, o usuário ganha a comodidade de reduzir o número de vezes que necessita comprar a passagem. Para a empresa, as vantagens são o recebi- mento antecipado do dinheiro e a economia advinda da menor quantidade de passagens (bilhetes ou cartões) utilizadas e do menor número de operações de venda de passagem o que pode significar economia de infraestrutura e de recursos humanos. Outra forma de tarifação também muito utilizada é a passagem com validade no tempo: um dia, uma semana, um mês ou um ano. Nesse caso, o usuário também ganha em comodidade e pode obter significativa vantagem econômica se realiza um grande número de viagens. Para a empresa, as vantagens são as mesmas citadas no caso da passagem com viagens múltiplas. 16.9 Importância do valor correto da tarifa A rentabilidade do serviço de transporte público urbano é bastante sensível a pequenas variações no valor da tarifa. Para se ter ideia dessa grande sensibilidade, considere o seguinte exemplo: empresa operadora com capital de R$ 20 milhões (ônibus, garagem, etc.) transportando 4 milhões de passageiros por mês, gasto mensal com pessoal = R$ 2 milhões, demais custos (exceção dos custos de capital) = R$ 1,8 milhão. Considerando como justa uma rentabilidade do capital de 1% ao mês (12,7% ao ano), resultam os seguintes valores: remuneração mensal do capital da empresa (lucro justo) = R$ 0,2 milhão, receita mensal = custo mensal = R$ 4 milhões e tarifa = R$1,00/pass. Observe o que ocorre com a rentabilidade quando se altera o valor da tarifa um pouco para mais ou para menos: tarifa = R$ 1,05 (5% superior), rentabilidade = 2,0% ao mês (lucro da empresa igual ao dobro do justo); tarifa = R$ 1,10 (10% superior), rentabilidade = 3% ao mês (lucro da empresa igual ao triplo do justo); tarifa = R$ 0,95 (5% inferior), rentabilidade = 0% (prejuízo mensal da empresa = 0,2 milhão); tarifa = R$ 0,90 (10% inferior), rentabilidade = 1% (prejuízo mensal da empresa = R$ 0,4 milhão). 16.10 Valores dos custos do transporte público Custos de implantação e operação Os valores dos custos de implantação e operação dos modos de transporte público urbano variam significativamente de cidade para cidade. As diferenças tecnológicas, estruturais e de tamanho entre os sistemas, bem como as variações de salários, encargos sociais e carga tributária entre os países, explicam o fato. Apesar disso, é possível estabelecer faixas de valores para o custo de implantaçãodos principais modos de transporte público urbano, conforme mostrado na Figura 16.5. Nessa figura, também são assinaladas as faixas de demanda normalmente atendidas pelos diferentes modos. Na Figura 16.6 são mostrados os custos operacionais (incluindo a amortização do investimento) dos diversos modos de transporte público urbano, para diferentes demandas. Esses números constituem valores médios observados em alguns cidades, e devem, portanto, ser vistos como meras indicações. Custos de aquisição e características técnicas dos ônibus Na Tabela 16.1 são relacionados os custos de aquisição aproximados dos principais tipos de ônibus urbanos, algumas características técnicas e econômicas desses veículos e alguns parâmetros de desempenho relevantes. 16.11 Financiamento do transporte público Em geral, as fontes de financiamento dos serviços de transporte público urbano são: tarifa paga pelos usuários, recursos orçamentários do governo, publicidade no sistema e recursos governamentais não- orçamentários. A principal fonte de financiamento do transporte público urbano tem sido a tarifa, ou seja, o pagamento direto dos usuários pelas viagens. Os recursos orçamentários do governo normalmente são utilizados na pavimentação e na conservação das vias por onde passam os veículos de transporte público, na implantação de faixas exclusivas, na sinalização dos locais de parada, na colocação de abrigos e bancos nas paradas principais, na construção de estações (terminais), na capacitação de pessoal, na implantação de modos de transporte de grande capacidade, etc. Em algumas cidades, recursos orçamentários são utilizados para subsidiar o sistema. De forma direta, com repasse de recursos para as empresas operadoras, ou de forma indireta, com a absorção de parte dos custos pelo governo, como, por exemplo, os custos de investimento dos sistemas metroviários, etc. Outra fonte de recursos que vem sendo cada vez mais explorada é a veiculação de propaganda nos veículos (parte interna e externa), nas estações (terminais), nos pontos de parada, nos folhetos informativos aos usuários, etc. Em geral, essa fonte de recursos é diretamente utilizada na implantação de abrigos e bancos nas paradas, na elaboração de material de divulgação de informações para os usuários, etc. Outra forma de financiamento do transporte público urbano no Brasil são os recursos não- orçamentários do governo federal. É o sistema denominado vale-transporte, por meio do qual o trabalhador recebe da empresa as passagens para utilizar o sistema, sendo descontado do seu pagamento uma parte do valor gasto no transporte, até o limite máximo de 6% do salário bruto. O restante do valor é pago pela empresa e declarado oficialmente como despesa na contabilidade e, portanto, abatido do imposto de renda que deve ser pago ao governo federal. Em cidades brasileiras e de outros países da América Latina, por exemplo, os custos diretos do transporte coletivo urbano por ônibus são totalmente pagos pelos usuários por intermédio da tarifa. Ao poder público cabe a responsabilidade pelos investimentos em estudos, obras, colocação de abrigos, etc. Em muitas cidades de distintos países, a tarifa é subsidiada com recursos dos impostos pagos pela população. Já em outras, são criadas taxas específicas para ajudar no financiamento do serviço, complementando a arrecadação auferida com a tarifa paga pelos usuários. Em alguns países, optou-se pela eliminação ou redução de tributos para as empresas operadoras de transporte público urbano. O objetivo é fazer com que a tarifa seja baixa e a qualidade do serviço, adequada, de maneira a beneficiar os usuários cativos, que são geralmente os mais pobres, e atrair usuários do transporte individual (automóvel, motocicleta, etc.) para o transporte público coletivo. Entre as principais fontes complementares de financiamento do transporte coletivo urbano utilizadas podem ser citadas: l Taxa sobre combustíveis, em particular sobre a gasolina, como em Montreal, Canadá, Lyon, França, etc. l Taxa sobre a licença dos automóveis, como em Montreal, Canadá. l Taxas sobre os prédios, como em Montreal, Canadá, e Boston, Estados Unidos. l Taxas sobre as vendas, como em Los Angeles, Estados Unidos. l Taxas sobre as folhas de pagamento das empresas, como na França. l Taxas sobre os estacionamentos, como em Lyon, França. l Taxas sobre as multas de trânsito, como em Lyon, França. l Taxas sobre a propriedade dos terrenos urbanos. Algumas cidades onde o transporte coletivo é subsidiado e a respectiva parcela do custo é paga pelos usuários são: Boston (73%), Toronto (33%), Montreal (33%), Paris (33%), Roma (10%), Amsterdã (25%), Atenas (27%), Bruxelas (33%), Estolcomo (34%), Viena (40%) e Frankfurt (45%). Um fato importante a destacar é que os descontos concedidos para alguns grupos de usuários, como, por exemplo, gratuidade ou desconto para os idosos, desconto para os estudantes, etc., são pagos, quase sempre, pelos outros usuários do sistema. Questões: 1. Existe relação entre o mecanismo de compensação tarifária com o financiamento do transporte publico que comumente ocorre no Brasil? Justifique. 2. Quais as formas de tarifação? Comente sobre cada uma delas. 3. Considerar os dados apresentados na Tabela16.1. Comparar quantitativamente os desempenhos dos tipos de ônibus em termos percentuais de custo /capacidade / numero de passageiros.
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