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AULA 1 Campanario_2002_-_Tecnologia_Inovacao_e_Sociedade

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Está en: 
OEI - Programación- CTS+I - Sala de lectura – 
http://www.oei.es/salactsi/milton.htm 
 
Tecnologia, Inovação e Sociedade 
Prof. Milton de Abreu Campanário 
 
Setembro de 2002 
Esse trabalho foi especialmente desenvolvido para a apresentação do autor no 
seminário VI Módulo de la Cátedra CTS I Colombia, llamado “Innovación 
Tecnológica, Economia y Sociedad”, patrocinado pela Organización de Estados 
Iberoamericanos para la Educación, la Ciencia y la Cultura (OEI) y el Instituto 
Colombiano para el Desarrollo de la Ciencia y la Tecnologia de Colombia 
(Colciencias), em Setembro de 2002. 
Apresentação 
Atualmente é impossível entender o funcionamento das economias capitalistas sem 
considerar o progresso técnico. Mais do que nunca, o entendimento de como a 
tecnologia afeta a economia é vital para a compreensão do crescimento da riqueza 
dos países e dinâmica das sociedades contemporâneas. Os processos de 
globalização trazem inúmeros desafios relacionados diretamente a este tema. O 
esforço tecnológico possui várias dimensões críticas e, ao analisar a origem e a 
natureza das inovações, muitos autores concluem que as inovações transformam 
não apenas a economia, mas afetam profundamente toda a sociedade. Elas 
modificam a realidade econômica e social, além de aumentarem a capacidade de 
acumulação de riqueza e geração de renda. O presente texto apresenta, de forma 
sumária, as principais contribuições da teoria econômica para o entendimento da 
inovação tecnológica e sua relação com a dinâmica de crescimento econômico e 
seus efeitos sobre a sociedade. O trabalho realça a importância dos Sistemas 
Nacionais de Inovação como conceito fundamental para o entendimento da 
inovação tecnológica nas sociedades contemporâneas. 
Dentro desse conceito, é desenvolvido um modelo para atuação dos Institutos de 
Pesquisa Tecnológica. Objetiva-se aproximar tais instituições das demandas por 
inovação das empresas e mesmo do setor público. Tal proposta advém da 
necessidade de revisar conceitos e práticas num ambiente em profunda 
transformação. De fato, com o vigoroso processo de transformação de base 
tecnológica em curso, promovido principalmente pela abertura de sua estrutura 
produtiva à competição internacional e pela revisão do papel das instituições 
públicas de fomento e de execução de desenvolvimento tecnológico, torna-se 
imperioso rever modelos e formas de gestão da tecnologia empregada pelas 
entidades públicas e empresas. Isso implica em também revisar a estrutura de 
fomento e de oferta de tecnologia e serviços associados, particularmente aquela de 
origem de doméstica, de institutos e universidades. 
I. Economia e Inovação Tecnológica 
Para os economistas, a produção da riqueza de uma sociedade depende de 
inúmeros de fatores. Ela é determinada, fundamentalmente, pela disponibilidade de 
recursos naturais, estoque de capital disponível (máquinas, equipamentos, 
instalações, etc.) e volume e grau de qualificação de sua mão de obra. Para as 
teorias mais tradicionais da economia, a tecnologia estabelece como estes fatores 
poderão ser combinados para a produção de bens e serviços. De fato, para os 
modelos mais conhecidos de desenvolvimento econômico, como o famoso trabalho 
de Robert Solow, a tecnologia é um fator exógeno ao desenvolvimento, estando 
relacionado à simples e natural evolução dos mercados, que respondem ao 
crescimento da poupança e do investimento. Já para os autores schumpeterianos, 
essa visão neoclássica reduz a importância que a tecnologia efetivamente tem 
como motivadora do desenvolvimento, sendo considerada uma variável endógena 
na economia. De fato, para a escola de pensamento schumpeteriana, tecnologia é 
a principal arma dos empresários e do próprio governo para a promoção de 
competitividade e progresso social. 
Enfoques Econômicos Tradicionais 
Todos reconhecem que existem diferentes origens para a inovação tecnológica. No 
entanto, na literatura econômica tradicional há duas abordagens principais que 
procuram tratar do assunto. Na década dos 40, considerava-se que as inovações 
seguiam um modelo linear conhecido como “science push”. As atividades de 
pesquisa davam lugar a desenvolvimentos tecnológicos que por sua vez levavam à 
produção industrial e posterior comercialização dos produtos da inovação. Na 
década dos anos 60, foi proposto o modelo “demand pull”. Neste, o processo 
inovativo iniciava-se da percepção de uma necessidade ou demanda do mercado. 
Estas duas abordagens, no entanto, tem sérios problemas. Na primeira abordagem, 
os processos de crescimento, variações na distribuição de renda, preços relativos, 
entre outros, distorcem a direção do processo de geração de conhecimento, 
distanciando-o da inovação. Nada garantiria que o conhecimento caminharia para 
inovações e que estas estariam relacionadas com os dados ou sinalizações do 
mercado. Abstrai-se a existência de fortes incertezas no processo de geração de 
conhecimento. Ademais, muitas frentes de conhecimento (multidisciplinaridade) são 
exigidas para alcançar-se uma verdadeira inovação, o que tornaria o processo 
aleatório. A crítica argumenta que existiria uma estrutura muito mais complexa 
entre o ambiente econômico e a direção da mudança tecnológica. 
A segunda abordagem remete a outras críticas. As mudanças tecnológicas seriam 
passivas e reagiriam mecanicamente às mudanças de mercado. Implicitamente 
assume-se que existe um vasto leque de possibilidades tecnológicas aguardando 
um uso específico. Isso conduz a um segundo problema. Negligencia-se a 
mudança nas capacidades inovadoras que ocorrem no decorrer do tempo, dentro 
de um longo processo cumulativo de conhecimento. Indiretamente não fica claro 
quando e porque algumas tecnologias se desenvolvem e outras não. Esses são 
fatores que a interpretação demand pull parece não considerar. 
O modelo mais aceito atualmente é o chamado “chain-linked” divulgado pela 
OECD, em que as repetidas interações e retroalimentações que caracterizam o 
processo de inovação são representadas em torno da atividade de “design”, ou 
projeto, tomada como a atividade aglutinante da nova tecnologia. Para esse 
enfoque, derivado da literatura neoschumpeteriana, uma inovação científica e 
tecnológica consiste, basicamente, na transformação de uma idéia em produto 
novo ou aperfeiçoado, introduzido com sucesso no mercado. O processo de 
inovação tecnológica é complexo e requer a interação de um conjunto de 
instituições e de competências. A rede de instituições dos setores público e 
privado, cujas atividades e interações iniciam, importam, modificam e difundem 
novas tecnologias pode ser descrita como o Sistema Nacional de Inovação. Esse 
enfoque será visto mais à frente. 
A Abordagem de Schumpeter 
As abordagens tradicionais incorporam importantes contribuições para o 
entendimento da tecnologia como fator que interfere na estrutura dos mercados. 
Uma representação dessa contribuição pode ser visualizada através do Fluxo 
Circular da Renda, representado no diagrama a seguir. 
Diagrama 1: Fluxo Circular da Renda 
 
Por esse esquema analítico, os mercados de bens e serviços e de fatores de 
produção caminham para um equilíbrio de fluxos de recursos, com padrões pré-
definidos de consumo, gastos de governo, alocação de recursos ou fatores 
produtivos e tecnologia. Esse fluxo é um padrão não dinâmico de produção e 
distribuição da renda. Não existem incertezas ou riscos, estando o comportamento 
dos agentes rotinizado. Schumpeter denomina esses fluxos de NORMA. A 
inovação tecnológica é uma quebra dessa norma pois ela interfere na dinâmica de 
geração de renda das empresas, afetando diretamente a estrutura dos processos 
produtivos, a rentabilidade das operações e a aceitabilidade de produtos pelo 
mercado. A rigor essa norma é quebrada pela importância que o empresário 
deposita na inovação tecnológica como meio de atingir maiores ganhos em seu 
empreendimento. 
As inovações geram fenômenos dinâmicos na economia, tanto nosseus aspectos 
macro quanto microeconômicos. No plano macroeconômico, as inovações para 
serem efetivadas demandam a aplicação de recursos para investimentos 
produtivos. A implementação de novos processos de produção exige a realização 
de investimentos na esfera da produção. Portanto, uma nova onda de inovações 
gera uma onda de investimentos em tecnologia que ocorrem ao longo do tempo. 
Também é verdade que esse comportamento dos investimentos tecnológicos não é 
linear, mas sim oscilante, embora haja uma tendência de crescimento no longo 
prazo. 
A partir dos investimentos inicia-se um conjunto de movimentos que são 
caracterizados como o efeito multiplicador (keynesiano). Isto é, o investimento gera 
demanda para outros setores, aumenta o volume de emprego, aumenta a massa 
de salários - o que gera aumento de demanda por bens de consumo -, aumenta a 
demanda por crédito e aumenta o nível de renda da economia. Então, as inovações 
desempenham o papel de mola propulsora do fenômeno do desenvolvimento com 
crescimento econômico. É verdade que ao longo desse ciclo de prosperidade a 
taxa de juros tende a subir como decorrência do aumento de solicitação de crédito, 
mas mesmo assim os investimentos ocorrem em volume elevado porque as 
perspectivas de ganho líquido trazidas pelas inovações são bem superiores. 
Tal como descrito, a inovação no fundo justifica as decisões de investir e iniciam 
uma fase de prosperidade dos ciclos econômicos. É dessa forma que as grandes 
inovações, que constituem novos paradigmas, transformam toda a realidade 
econômica e social. Quando arrefecer o dinamismo dessa onda de inovações, a 
realidade não será a mesma. Novos produtos surgiram, modificaram-se os padrões 
de produção e de consumo, são diferentes as necessidades de qualificação da 
mão-de-obra, as instituições também se modificaram etc. Nunca, após todo esse 
movimento, quando o paradigma se tornar maduro, a economia volta para o seu 
ponto de origem, anterior às inovações. Esse é um processo de constante 
transformação que não permite a volta ao passado. 
Em termos microeconômicos, o bloco de inovações define um novo paradigma 
tecnológico que termina por se constituir em um padrão tecnológico que gera 
imposições para as empresas. Embora as empresas sempre tenham autonomia 
para definir suas estratégias tecnológicas, existem alguns elementos externos às 
empresas que reduzem o número de alternativas competitivas viáveis. Esse ponto 
será retomado mais a frente. 
Por que uma empresa inova? Como já assinalado, a inovação de produto ou de 
processo permite que a empresa inovadora se diferencie das demais. Sendo mais 
produtiva, produzindo com menores custos, ou detendo produtos inovadores, a 
empresa consegue se apropriar de lucros gerados a partir dessa diferenciação. 
Funciona como uma espécie de renda de monopólio. Assim, a geração de 
assimetrias é um fenômeno natural quando se observa o processo de concorrência 
entre as empresas. Na concorrência as empresas buscam a sua diferenciação em 
relação a seus concorrentes, procurando a obtenção de lucros extraordinários. 
A contribuição schumpeteriana está associada à idéia de que a empresa inovadora 
é que se apropria desses ganhos extraordinários. Com isto, ela abre um caminho 
que pode ser seguido por outros competidores. A empresa que inova mostra que é 
possível a diferenciação e que isto aumenta o seu potencial de acumulação. É por 
esta razão que as empresas defendem o respeito às leis de patentes que procuram 
proteger os interesses dos inovadores. Também é por esta razão que as empresas 
guardam segredos industriais; são formas de tentar prolongar os efeitos da 
inovação e a renda de monopólio. 
A empresa inovadora, com maiores recursos advindos dos ganhos das inovações, 
passa a deter maior fôlego financeiro para a viabilização de outros projetos de P&D 
(pesquisa e desenvolvimento), podendo se lançar até em estratégias mais 
ousadas, mais ofensivas, na realização de atividades tecnológicas. 
Outras empresas que não foram as primeiras inovadoras tentam seguir o caminho 
destas, procurando não ficar muito defasadas em relação às líderes. Nesse 
sentido, podem buscar aprender com as estratégias de liderança, e a partir daí, 
com grande esforço inovador, procuram responder ao movimento das líderes, 
tentando acompanhar sua trajetória, porém promovendo diferenciações nos 
produtos e processos inovadores. Na medida em que nessa disputa pela liderança 
as empresas estiverem difundindo tecnologias e na medida em que conseguirem 
reduzir as assimetrias que existem entre elas, os lucros extraordinários tendem a 
cair. Ou seja, assim como a inovação gera lucros extraordinários, a difusão tende a 
anula-los. Por essa mesma razão, as empresas mais inovadoras não podem nunca 
parar de inovar, pensando que sua posição de liderança é duradoura. 
Dessa forma, a busca por inovação é permanente. Ela é inerente ao processo de 
concorrência entre as empresas e de acumulação de capital. Uma economia 
capitalista dinâmica e mais desenvolvida tem na inovação um de seus principais 
mecanismos de funcionamento. A forma de concorrência mais importante entre as 
empresas dessas economias é pela inovação, pela diferenciação possibilitada pela 
incorporação de progresso técnico, seja no campo das tecnologias de produto ou 
de processo de produção. 
Inovações Incrementais, Radicais e de Paradigma 
Mesmo que a estabilidade e a rotina sejam objetivos fixados pelos agentes 
econômicos “normais”, o capitalismo é marcado por mudanças bruscas na forma de 
produzir, comercializar, distribuir os bens e nos padrões de consumo. Qual seria de 
fato a motivação para os agentes transgredirem a rotina? Por que os mercados 
ficam instáveis? Por que os ciclos econômicos acontecem? Resposta de 
Schumpeter: a busca por mais lucros e pela diferenciação de desempenho das 
entidades econômicas ou de governo encontra na tecnologia a sua principal fonte. 
Essas mudanças podem ser incrementais ou radicais (descontínuas), 
dependendo do setor econômico considerado. Por vezes, tais mudanças tem um 
impacto tão abrangente e profundo que alteram o próprio sentido em que a 
sociedade se organiza. Quando isso ocorre, estamos falando de mudanças de 
paradigma. Em qualquer caso, as mudanças tecnológicas não afetam apenas a 
economia. Elas provocam transformações, por vezes profundas, nas instituições e 
na maneira que os homens controlam o próprio processo produtivo. Para muitos 
autores a inovação tecnológica é um dos elementos mais críticos de mudança tanto 
nas relações de produção como nas relações sociais e institucionais. 
Inovar não é simplesmente criar algo tecnologicamente novo. (1) Inovar implica em 
dar um destino econômico para uma nova idéia, que pode ser, ou não, resultado de 
um invento genuíno. A invenção somente assume maior relevância econômica 
quando se transforma em inovação. Segundo a literatura econômica, existem 
várias formas de inovação, sendo as principais: produto, processo, abertura de 
novos mercados e criação de novas formas de comercialização de produtos. 
Em muitas situações, as inovações de produto exigem que os consumidores sejam 
(re)educados para que os novos bens possam ser consumidos de maneira efetiva. 
Outra conseqüência das inovações tecnológicas (incrementais ou radicais) é 
modificar a forma segundo com qual o produto de uma economia pode ser obtido. 
As inovações de processo afetam a forma como os agentes combinam os fatores 
de produção. O processo que marca o desenvolvimento econômico é a realização 
de novas combinações. Dessa forma, se os fatores de produção encontram-se 
plenamente empregados em seus usos habituais, realizar novas combinações 
significa retira-los de seus antigos usos/empregos para a realização das novas 
combinações. Da mesma forma a abertura de novos mercados e criação de novas 
formas de comercialização de produtos também pode ser resultado do progresso 
técnico. 
No entanto, nem todas as inovação tem a força de transformara realidade 
econômica e social. Uma inovação isolada não tem condições de gerar grandes 
impactos sobre a estrutura econômica e social. No mundo moderno podemos tomar 
as inovações baseadas na microeletrônica como exemplo de uma inovação 
revolucionária que detém a força de transformar a realidade econômica e social. O 
surgimento de inovações nas duas últimas décadas, sobretudo as ligadas ao 
surgimento e introdução dos semi-condutores e circuitos integrados, revolucionou 
de maneira radical todos os setores da economia. Este exemplo fidedigno de 
inovação tecnológica encontra-se associada a emergência do advento de um novo 
e extremamente poderoso paradigma baseado no que se convencionou chamar de 
“tecnologia da informação”. Paradigma este que se define exatamente pelo poder 
de penetrar, por capilaridade, em todos os segmentos produtivos e de consumo 
das sociedades modernas, particularmente após o advento da internet e dos novos 
meios de telecomunicações. 
O paradigma tecnológico tende a predominar sobre as formas mais antigas de 
produção e/ou sobre uma geração mais madura de produtos. É possível que um 
paradigma tecnológico tenha convivência com outro paradigma, porém a tendência 
é de um predominar sobre o outro. Em termos de mercado, isto se traduz em 
mercados com diferentes ritmos de crescimento e dinamismo. Em termos sociais, 
um novo paradigma pode mudar de forma substancial os mercados, a localização 
de sistemas produtivos, o padrão de reprodução da força de trabalho, as condições 
de vida da população. As instituições, de uma forma geral, sofrem profundas 
transformações. 
II. Determinantes da Inovação 
Nesse processo de busca permanente por inovações, as empresas trabalham com 
determinações externas e internas à própria empresa. Entre as determinações 
externas mais importantes destacam-se: o ambiente econômico, o paradigma 
tecnológico e o setor de atividade industrial ao qual a empresa pertence. Entre as 
determinações internas encontram-se a trajetória da empresa e sua estratégia. 
Cada um desses elementos será brevemente analisado a seguir. 
Fatores Externos 
O Ambiente Econômico é o grande cenário no qual a empresa se encontra e se 
movimenta. Porém esse ambiente também encontra-se em permanente 
movimento, ele não é estático e isto exige que a empresa tenha uma percepção 
desse ambiente e que promova a adequação de seu posicionamento segundo as 
mudanças do ambiente econômico, externo à empresa. Num plano mais geral, está 
o ambiente macroeconômico, o qual é extremamente relevante pois a inovação 
envolve decisões de investimento, de longo prazo. Assim, um ambiente 
macroeconômico que gera incertezas nos agentes econômicos, tende a reprimir as 
decisões relativas ao desenvolvimento tecnológico que sejam mais ambiciosas, que 
envolvam volumes mais elevados de recursos. O Brasil, nas duas últimas décadas 
do século passado conviveu com uma situação desse tipo; seja pela falta de 
estabilidade macroeconômica, seja pelas incertezas macroeconômicas, mesmo 
após a estabilização monetária, o ambiente foi desfavorável a programas de 
pesquisa e desenvolvimento (P&D) mais ambiciosos. O ambiente macroeconômico 
geral também pode indicar direções para o progresso técnico. Por exemplo, um 
superaquecimento da economia com elevação significativa dos salários, pode 
induzir ao desenvolvimento tecnológico poupador de mão-de-obra. Portanto, esse 
ambiente influencia a oportunidade e a direção dos investimentos em P&D. 
A Organização Industrial e dos mercados é outro elemento relevante a 
considerar. Se a empresa inova para se diferenciar das demais e assim obter um 
lucro extraordinário, depreende-se que quanto mais estímulos à concorrência entre 
empresas, maior é o estímulo à busca de inovações. Foi uma relação desse tipo 
que justificou, no início da década de 1990, a abertura da economia brasileira como 
um elemento de uma política industrial. A idéia era de que submetida a uma maior 
pressão competitiva as empresas instaladas no Brasil assumiriam estratégias 
tecnológicas mais ambiciosas e modernas, melhorando a competitividade do 
aparelho produtivo industrial brasileiro. 
Supondo um ambiente macroeconômico favorável, a empresa quando decide pelo 
seu programa de P&D leva em consideração, entre outros fatores, as tendências 
futuras quanto ao sucesso das alternativas tecnológicas. Em outros termos, a 
empresa defronta-se com algumas alternativas tecnológicas, a maior parte delas 
definidas por um Paradigma Tecnológico, que apresenta um conjunto de 
oportunidades para inovação. Em um paradigma que se encontra no início de sua 
instalação e difusão, as oportunidades tecnológicas são maiores do que em um 
paradigma maduro. Assim, os novos paradigmas, também por serem um padrão 
tecnológico, apresentam maiores perspectivas de desenvolvimento no futuro e 
apresentam as melhores alternativas de sucesso. 
É verdade que um novo paradigma convive com um velho, sendo possível a 
qualquer empresa decidir por permanecer trabalhando no âmbito do velho 
paradigma. Entretanto, como o novo tende a prevalecer sobre o velho, o novo 
paradigma apresenta melhores condições de evolução ao longo do tempo. Assim, 
as empresas que buscam manter e reproduzir as condições de liderança de 
mercado sempre procuram incorporar novas tecnologias que se encontram 
atualizadas em relação aos paradigmas vigentes. Então, os paradigmas 
tecnológicos reduzem o número de alternativas tecnológicas relevantes para a 
empresa. 
Os Setores de Atividade industrial também impõem alguns determinantes 
externas para o comportamento das empresas. Pavitt, através de um estudo 
empírico, identificou quatro padrões setoriais de inovação. O primeiro deles pode 
ser denominado de setores receptores de progresso técnico, pois são setores 
industriais nos quais as principais inovações foram geradas fora desses mesmos 
setores, sobretudo na indústria de máquinas e equipamentos e de insumos. Um 
exemplo, é a indústria têxtil em que os teares e as fibras, grosso modo, definem o 
padrão tecnológico da indústria. Estando a tecnologia incorporada em outras 
mercadorias é mais livre o acesso às tecnologias. 
Um segundo tipo de padrão de inovação é constituído por setores intensivos em 
escala, nos quais é necessário o domínio de um conjunto de conhecimentos 
relativamente amplo, abrangendo a tecnologia de processo e a tecnologia de 
produtos. As inovações são tanto de processos, objetivando a redução de custos 
de produção, quanto de produtos, principalmente nos segmentos em que a 
diferenciação e a produção de produtos especiais são aspectos relevantes na 
concorrência. Nestes setores as inovações são geradas tanto internamente às 
empresas como em cooperação com fornecedores, principalmente de bens de 
capital. Estes mercados são mais concentrados tanto pela escala de plantas e de 
empresas quanto pelas economias de escala derivadas do aprendizado 
tecnológico. 
Um terceiro grupo de setores é constituído pelas indústrias produtoras de máquinas 
e equipamentos e de instrumentação, consideradas como ofertantes 
especializados. Neste segmento deter tecnologia de produto é estratégico, pois o 
principal fator de concorrência nesses mercados é a performance dos produtos. Por 
serem ofertantes especializados não exigem escalas tão elevadas quanto em bens 
de consumo, admitindo a participação de empresas de pequeno e médio porte, 
porém muito capacitadas tecnologicamente nos seus segmentos de mercado. As 
inovações são geradas internamente às empresas e em cooperação com seus 
grandes clientes. 
Por fim estão os setores baseados em ciência, cujo desenvolvimento tecnológico é 
de fronteira, utilizando-se também os conhecimentos científicos que se encontram 
na fronteira das ciências básicas. São exemplos os complexos químico e eletro-
eletrônico. As inovações relevantes buscam o lançamento de novos produtos e 
novos processos de produção que reduzem os custos. Geralmente são grandes 
empresas, com escala de faturamento, queinvestem elevados volumes de 
recursos em pesquisa e desenvolvimento. Alguns dessas empresas se envolvem 
com programas de pesquisa científica orientada que exigem longo prazo de 
maturação. Para amortizar esses investimentos elevados, é necessário que as 
empresas estejam presentes em mercados globais. 
Essa tipologia permite algumas conclusões importantes para serem consideradas 
na definição de estratégias empresariais e mesmo de desenvolvimento nacional: 
• mostra que os setores de atuação das empresas impõem determinados 
comportamentos empresariais; 
• mostra que os setores também guardam assimetrias entre si, revelando a 
importância da dimensão setorial para uma consideração analítica; 
• indica que não apenas os setores industriais são diferentes como existe uma 
certa hierarquia entre eles na medida em que alguns setores geram e 
transmitem conhecimento técnico e outros são receptores de progresso 
técnico. 
Fatores Internos 
A Trajetória da Empresa, em última instância, significa o conjunto de capacitações 
que ela adquiriu ao longo de sua história. O progresso técnico é um processo 
cumulativo que é construído ao longo do tempo pela capacitação da empresa. As 
decisões que a empresa tomou no passado em relação ao seu desenvolvimento 
tecnológico definem um conjunto específico de conhecimentos que a empresa 
detém no presente e é seu comportamento no presente que irá definir as suas 
possibilidades no futuro. 
Desta forma, a empresa vive um processo evolutivo que resulta de suas decisões 
próprias, correspondendo ao que se poderia chamar de evolução natural e de 
estímulos ou pressões geradas no ambiente externo à empresa. O paralelo com a 
biologia é muito claro, e este pensamento constitui o cerne da teoria evolucionista 
da firma que tem em Nelson & Winter o marco teórico mais importante. A empresa 
mesmo que deseje alcançar patamares tecnológicos superiores e que pretenda 
desenvolver tecnologias que estejam no centro do novo paradigma pode não ter 
condições para fazê-lo na medida em que sua trajetória passada limita e condiciona 
suas opções no presente. A capacitação tecnológica obtida pela empresa ao longo 
de sua trajetória lhe concede uma característica específica, que a diferencia de 
todas as outras empresas. 
As opções da empresa em relação a seus objetivos e metas constituem a sua 
Estratégia Tecnológica.. Freeman, estudando o tema das estratégias 
empresariais, encontrou seis tipos diferentes. O mais inovador é o tipo de empresa 
que sempre objetiva manter a liderança técnica e econômica no seu mercado; 
portanto, investe pesadamente em pesquisa e desenvolvimento e a tecnologia é 
um de seus principais fatores de concorrência. Outra estratégia é a defensiva que 
também é muito inovadora, porém busca aprender com a estratégia da empresa 
ofensiva e busca diferenciar a sua tecnologia em relação à ofensiva. Empresas 
com esses dois tipos de estratégia compõem aquelas que são verdadeiramente 
inovadoras. 
As demais estratégias implicam numa boa capacidade de produzir, isto é, as 
empresas devem possuir capacitação em engenharia de produção, porém ou 
licenciam ou copiam ou ainda dependem de desenhos e projetos desenvolvidos 
pelas empresas que demandam seus produtos. Este conjunto de empresas 
normalmente fica defasado em relação às duas primeiras estratégias, contudo as 
vantagens competitivas destas empresas estão em produzir com vantagens de 
custos e não com tecnologia avançada. As vantagens de custos podem estar nos 
baixos salários, na disponibilidade de matérias-primas e insumos com baixos 
custos, ou na proteção de mercado que permite a convivência de custos mais 
elevados com baixo investimento em desenvolvimento tecnológico. 
Existem outros dois tipos de estratégias, as que não privilegiam a tecnologia no 
conjunto da estratégia empresarial, e as oportunistas que sobrevivem em função da 
exploração de um nicho de mercado, mesmo que sem privilegiar a variável 
tecnológica. Nota-se que as duas primeiras estratégias implicam em grande 
capacidade de inovação. As duas seguintes (que licenciam tecnologia ou que 
dependem de projetos de outras empresas) exigem boa capacidade de manufatura, 
de produção. E as duas finais não concedem importância para a tecnologia, sendo 
o tipo de empresa que enfrenta dificuldade de sobrevivência, são aquelas 
empresas que surgem e desaparecem com muita facilidade. 
Portanto, somente as empresas com capacitação suficiente para inovar e com 
capacitação produtiva é que apresentam possibilidades de sobrevivência. Mesmo 
assim, são as empresas que definem estratégias ofensivas e defensivas aquelas 
que verdadeiramente disputam a liderança dos mercados. As demais se contentam 
em permanecer defasadas. 
É evidente que a probabilidade de sobrevivência e liderança das empresas 
depende do grau de maturidade do progresso técnico nos respectivos setores 
industriais. Aqueles setores que apresentam paradigmas tecnológicos maduros, 
demonstram maior tolerância com as empresas menos inovadoras, porém com 
capacitação produtiva. Os setores que convivem com novos paradigmas, nos quais 
é acelerado o ritmo de incorporação de novos produtos e novos processos, exigem 
que as empresas adotem estratégias mais ousadas, mais intensivas em P&D para 
que sejam competitivas em seus mercados. 
Resumindo, são destacados os seguintes pontos, relevantes para a análise 
posterior e para a discussão sobre a inovação tecnológica: 
• as grandes inovações, que redefinem o paradigma tecnológico, são 
responsáveis por uma onda de investimentos que caracterizam um período 
de prosperidade da economia 
• esse período transforma toda a realidade econômica e social, aumenta o 
nível de renda e gera acumulação de riqueza 
• as inovações são responsáveis pela obtenção de lucros extraordinários para 
as empresas, as quais aumentam o seu potencial de crescimento ao longo 
do tempo 
• a difusão, sem novas grandes inovações, tende a reduzir os lucros 
extraordinários, reduzindo o dinamismo econômico 
• as empresas estão permanentemente buscando inovações, caracterizando o 
processo de concorrência como um processo de disputa em torno de 
inovações 
• nesse processo as empresas dependem do ambiente econômico, do caminho 
do paradigma vigente e do setor de atividade industrial. As empresas se 
defrontam com restrições e condicionantes externos ao longo do processo 
de busca permanente de inovações 
• as empresas também se defrontam com determinantes internos, como a sua 
trajetória tecnológica e a estratégia da empresa 
• a trajetória da empresa define um conjunto de capacitações que tipificam 
cada empresa, determinando as possibilidades quanto ao futuro 
• as estratégias empresariais podem tentar alterar a trajetória da empresa, 
assim como o ambiente externo pode induzir e estimular a busca por 
inovações. 
III. Sistemas Nacionais de Inovação 
Sob a ótica econômica, uma inovação se consubstancia em um novo processo de 
produção setorial ou sistêmico, produzindo ganhos extraordinários de produtividade 
e de penetração de mercado. No caso de inovação de produto, os inovadores se 
apropriam de uma espécie de renda de monopólio, derivada da sua originalidade. 
Assim, tanto a inovação de processo quanto de produto geram ganhos monetários 
aos seus proprietários e esta é a razão mais básica para a busca permanente de 
inovações. Mas os ganhos da inovação tecnológica não se restringem ao mercado 
de bens e serviços. Também são evidentes os impactos sociais da inovação. O seu 
alcance depende fundamentalmente de variáveis institucionais. De fato, a geração 
de inovações tecnológicas carrega consigo algumas especificidades que justificam 
tal presença das instituições, merecendo destaque as seguintes: 
• Processo cumulativo: o conhecimento científico e tecnológico é cumulativo 
e multidisciplinar. A complexidade do sistema de conhecimento para gerar 
invenções, que possam ser traduzidas em procedimentos tecnológicos 
incorporáveis pela economia,envolve um longo tempo de maturação, o que 
torna os investimentos em inovação uma atividade pouco atraente para o 
empresário. Sendo assim, a inovação depende de instituições e empresas 
as mais diversas, o que torna o processo de sua produção forçosamente 
cooperativo, demandando articulações institucionais complexas, por vezes 
de natureza internacional. 
• Externalidades: tanto na área científica como tecnológica o conhecimento 
tende a ser difundido de forma rápida e, por vezes, incontrolável. A 
existência de complexos sistemas legais de propriedade intelectual justifica-
se exatamente para proteger o gerador de conhecimento dos investimentos 
feitos. Em outros casos, quando a descoberta afeta diretamente interesses 
coletivos, como no setor de saúde, o controle de patentes pode tornar-se 
indesejável. 
• Poder Competitivo. O domínio de conhecimentos tecnológicos gera uma 
diferenciação para o seu detentor de poder competitivo. De fato, sendo as 
inovações uma poderosa arma para a competição nos mercados, o agente 
inovador irá usufruir de grandes vantagens competitivas, com poder de 
destruir ou transformar totalmente as estruturas de mercado. Nesse 
contexto é que Schumpeter cunhou a expressão “destruição criadora”. 
Evidencia-se, também, que esse conceito está presente em áreas onde a 
atuação dos mercados é subsidiária, como na indústria de armamentos, 
saúde pública, educação de massa, meio ambiente, entre outros. Nesses 
ramos, o conhecimento tecnológico gera poder de Estado e todas as 
conseqüências institucionais daí derivadas. 
• Incertezas: A conhecimento científico e tecnológico carrega grandes 
incertezas, tornando os investimentos em sua geração altamente arriscado, 
o que explica, em grande parte, a forte presença do Estado e de instituições 
públicas no setor. A participação do Estado e de empresas no esforço 
tecnológico, dentro de modelos institucionais diversos, pode ser designado 
como “Sistema Nacional de Inovação”. 
Não existe uma definição exata do termo Sistema Nacional de Inovação - SINI, pois 
abrange um conjunto de conceitos. Freeman foi quem primeiro apontou para a 
importância desse enfoque para o entendimento do processo de inovação 
tecnológica. Segundo este autor, trata-se de reconhecer a importância de uma rede 
de instituições públicas e privadas, dentro de uma economia. Esta rede dinâmica 
permitiria financiar e executar as atividades inovadoras (projetos). Estas traduzem 
os resultados de P&D em inovações e interferem na difusão de novas tecnologias. 
De uma forma mais específica, o sistema de inovação compreende as agências 
públicas de fomento, suporte, apoio e execução de P&D; as universidades e os 
institutos de pesquisa que exercem P&D e formam capital humano para ser 
empregado no setor produtivo; as empresas que investem em P&D e na aplicação 
de novas tecnologias; os programas públicos direcionados a subsidiar a adoção de 
tecnologia; as leis e regulamentações que definem os direitos de propriedade 
intelectual, entre outras instituições. Portanto, o sucesso das empresas na 
competição não depende exclusivamente do seu esforço em pesquisa e 
desenvolvimento e de outras atividades técnicas. Dependem do modo em que os 
recursos disponíveis são gerenciados e organizados na sociedade. Seja no âmbito 
da público ou privado. E essa forma de gerenciar e organizar a inovação tem 
características próprias em cada país considerado, tal qual descrito por Freeman e 
outros autores. De forma esquemática, pode-se vislumbrar diferentes “camadas” 
que analiticamente devem ser consideradas nessa grande articulação, conforme o 
Quadro abaixo. 
Dimensões Críticas do Esforço Tecnológico 
Desenvolvimento Econômico 
Condicionantes Macroeconômicos 
Grau de Abertura Econômica 
Legislação e Regulamentação 
Incertezas Técnicas 
Paradigma Tecnológico 
Leis de Patentes 
Estratégias Empresariais 
Incertezas de Mercado 
Estrutura e Organização de Mercado 
Institucional e Financeira 
Flutuações de mercado 
Estruturas Industriais 
Condições Sociais 
Educação/Ensino 
Treinamento e Reciclagem de RH 
Distribuição de Renda 
Outros 
As condições objetivas de articulação dessas diferentes dimensões pode gerar uma 
gama de situações bastante diferenciada, dependendo do país considerado. No 
entanto, a busca de padrões nessa diversidade de situações pode ser feita à partir 
da análise dos modelos de oferta e demanda/parceria, a seguir discutidos. 
O Modelo de Oferta 
Dentro de uma visão mais geral preconizada pelos organismos internacionais que 
atuam na área de ciência e tecnologia, a grande diretriz é elevar os gastos totais 
em C&T e, ao mesmo tempo, aumentar a participação privada no segmento - em 
termos de gastos e execução dos programas. Essa meta deve respeitar, contudo, 
as chamadas diretrizes estratégicas nacionais (promover o desenvolvimento 
sustentado, reduzir as desigualdades inter-regionais, aumentar a autonomia para o 
crescimento econômico) e os grandes objetivos (ampliar a capacidade de inovação 
e reestruturação produtiva, ampliar a capacitação profissional, criar ambiente macro 
sustentável, fortalecer a posição dos países nas negociações internacionais, 
fomentar setores de ciência e tecnologia prioritários, entre outras). Para que tais 
diretrizes possam ocorrer torna-se necessário que os Sistemas Nacionais de 
Inovação provoquem mudanças no modelo institucional, com papéis redefinidos 
para os agentes relevantes do sistema de C&T e de inovação. 
É interessante ressaltar que, via de regra nos países latino americanos, o apoio ao 
segmento tecnológico teve, e ainda tem, como ênfase, as atividades ligadas à 
pesquisa básica e formação de recursos humanos de alta qualificação, financiados, 
basicamente, com recursos públicos. Dados atuais do setor de C&T também 
destacam que esses países possuem, via de regra, um relativamente bem 
desenvolvido sistema nacional de ciência e tecnologia – SCT carecendo, contudo, 
em contraste com países desenvolvidos, de um Sistema Nacional de Inovação – 
SINI. Verifica-se que faltam estruturas de financiamento, comercialização, 
certificação, políticas públicas e relacionamento internacional que possibilitem o 
sistema produtivo colocar, no mercado, produtos, processos, projetos e serviços 
inovadores, de forma a aumentar a produtividade interna e competitividade externa. 
Constata-se que esta distância entre o sistema de C&T e a inovação tecnológica é 
resultado de um modelo de oferta de C&T (supply push) pois a infra-estrutura de 
C&T, inclusive de políticas públicas de geração de conhecimento científico e 
tecnológico, está voltada fundamentalmente para a formação de uma estrutura de 
oferta, relativamente distante das demandas de mercado e sociais. O diagrama 
procura representar, de maneira esquemática, as inter-relações básicas do modelo 
que ainda perdura na nossa estrutura de C&T. 
Diagrama 2: Modelo de Oferta de C&T 
 
Observa-se pelo diagrama que a tônica é dada à capacitação em recursos 
humanos e pesquisa básica em detrimento da transferência para o uso produtivo, 
sem destaque institucional para o sistema de inovação. Além disso, salienta-se a 
importância dos gastos diretos públicos e incentivos diretos da esfera fiscal. Assim 
chama a atenção a inexistência de intermediações financeiras no segmento e 
também a ausência do empresariado no que tange a investimentos na área 
tecnológica e de P&D; por outro lado, os dados mais atuais evidenciam que tem 
ocorrido um aumento, embora discreto, da participação dos gastos do setor privado 
no total de gastos em C&T fato que permite projetar um crescente interesse por 
parte do setor financeiro em promover novas formas de atuação junto ao setor de 
C&T. 
O Modelo de Demanda (ou Parceria) 
A grande demanda por aumento de competitividade das empresas e os graves 
problemas sociais por que passam as nossas economias mostra que há um grande 
espaço para do sistema de ciência e tecnologia em voltar-se mais para esfera da 
demanda. Se adequadamentemodelados e oficialmente instruídos, novos 
mecanismos de gestão e fomento de C&T poderão promover, de forma mais 
eficiente, a interação entre os sistemas de tecnologia e conduzir a efetivação de um 
sistema mais eficiente de inovação. 
Diagrama 3: Modelo de Demanda 
 
Nesse esquema de demanda ou de parceria, a ênfase é dada à capacitação 
tecnológica para o seu uso no seio do setor produtivo. Em outros termos, a 
concepção, o desenvolvimento, os testes em instância piloto e a aplicação 
inovadora de tecnologia no processo produtivo das empresas são etapas 
concebidas de comum acordo entre o usuário final e o gerador de conhecimento, 
unindo centros de P&D e empresas. A transferência é feita já na primeira fase de 
concepção do projeto, com todos os arranjos técnicos e de propriedade intelectual 
previstos previamente. Atenua-se, assim, o problema da posterior e incerta 
transferência de conhecimento verificado no modelo de oferta, onde acredita-se 
que o conhecimento será inicialmente gerado (normalmente em instituições 
públicas de pesquisa) e posteriormente transferido ao setor produtivo. 
Dadas as característica básicas da atividade de C&T (incerteza, existência de 
externalidades, prazo de maturação dos investimentos, etc.) há um natural 
distanciamento do setor dos mecanismos de financiamento de risco, o que exige 
forte presença do Estado para garantir o devido incentivo às iniciativas de 
inovação. No entanto, constata-se que há espaço para atuação de mecanismos 
mais diversificados e dinâmicos no segmento de C&T. Uma averiguação tanto do 
potencial de uso do poder de crédito das instituições financeiras públicas e do 
próprio poder de compra do Estado, bem como da forte influência das seguradoras, 
tal qual demonstrado pela experiência internacional, facilmente demonstra que 
muito poderia ser ganho como pela própria atitude de mudança dos organismos de 
fomento locais. Mas o essencial é o direcionamento estrutural do fomento para as 
empresas e destas para os centros de pesquisa. Somente quando a inovação 
requer mais formação de pessoal e instalações laboratoriais, o fomento deve ir 
diretamente para os centros ou institutos. 
Outra importante característica a ser destacada é o distanciamento dos programas 
de inovação relacionados diretamente à área de C&T no âmbito das instituições 
financeiras, de uma forma geral. Existe a possibilidade de incorporar o 
conhecimento científico e tecnológico nas operações de crédito, inserindo 
mecanismos sistemáticos para financiamento de projetos e aporte de recursos. 
Cabe destacar que pouco ou nada tem sido feito para a incorporação dessas 
agências de financiamento ao sistema nacional de inovação, a despeito do enorme 
potencial que existe. Basta notar, as possibilidades abertas para a área de crédito 
agrícola e para os setores de saneamento e habitação popular, só para ficar nas 
áreas mais evidentes, onde existe uma forte presença de fontes de recursos 
financeiros de organismos oficiais internacionais. 
IV. Um Modelo de Gestão da Inovação para os Institutos de Pesquisa 
Os institutos públicos de pesquisa tem contribuído de forma sistemática para a 
inovação tecnológica, muito embora sua atuação tenha sido exercida por meio do 
sistema dominante de oferta de C&T, analisado acima. O grande desafio constitui-
se em buscar a efetiva parceria junto ao setor produtivo. Isso envolve não só uma 
nova postura, mas também a reforma de práticas operacionais extremamente 
complexas, particularmente aquelas mais diretamente dependentes da área pública 
governamental. 
Como visto, o conhecimento tecnológico tem um caráter cumulativo e 
multidisciplinar. Empresas, instituições e até países que tiveram a oportunidade de 
desenvolver uma base de conhecimento sólida tem melhores condições de 
enfrentar e usufruir das mudanças revolucionárias da tecnologia. Mas sempre é 
necessário que o conhecimento tecnológico seja desenvolvido junto ao setor 
produtivo, com o risco de, caso contrário, não servir para a sociedade. Essa 
característica do desenvolvimento tecnológico envolve uma ampla gama de 
agentes de fomento, de geração de inovação e de difusão do conhecimento, além 
do usuário final e dos benefícios sociais difusos. Uma possível forma de classifica-
los é a seguinte: 
• financiador (fomento) do processo de geração de tecnologia; 
• produtor ou executor de conhecimentos tecnológicos; 
• incorporador da tecnologia em seus produtos e serviços; 
• consumidor ou usuário final desses produtos e serviços; 
• sistema de gestão de transferência de tecnologia. 
Entre os agentes deve haver a possibilidade de ajustes no percurso dos contratos, 
garantindo agilidade e flexibilidade na definição de objetivos, metodologias, 
processo de trabalho e formas de comercialização. Dado o alto grau de risco dos 
projetos, a parceria exige que estes contratos sejam permanentemente 
arquitetados, visando à satisfação dos agentes envolvidos, cada um colocando-se 
sempre na condição de cliente preferencial dos demais. 
O que precisa ser levado em consideração é a extrema complexidade do processo 
de inovação, que não se restringe ao envolvimento de um único agente para cada 
função acima descrita. Assim, para o fomento podem existir vários agentes, 
simultaneamente ou para cada fase do projeto. O mesmo para cada outra função: 
equipes de desenvolvimento de diferentes instituições e competências, várias 
empresas inovadoras, formando consórcios (particularmente quando os projetos 
tem grande envergadura financeira e alto risco) e diferentes usuários finais. 
Apesar dessa complexidade, torna-se possível apresentar uma arquitetura de 
parceria entre o agente executor da tecnologia, aqui representado por um instituto 
de pesquisas, e o agente incorporador, uma empresa qualquer. Essa arquitetura é 
esquematicamente desenhada no Diagrama 4: Gestão da Inovação Tecnológica. 
Para o Triângulo de Geração, existe a lógica de fundar-se no conhecimento dos 
pesquisadores e técnicos, apoiados nas estruturas laboratoriais e de pesquisa. O 
fundamento é a quantificação e classificação dos fenômenos investigados e o 
objetivo é a geração de conhecimento. Sobre essas bases, a prospecção e a 
viabilidade (que podem constituir-se em instâncias formais ou informais dentro das 
organizações) tornam possível o desenvolvimento de P&D e a inovação. 
Diagrama 4: Gestão da Inovação Tecnológica 
 
Vista sob uma ótica isolada, a lógica de P&D, no seio da instituição executora, 
depende fundamentalmente da sua competência em recursos humanos, sem que 
necessariamente a inovação ocorra, pois essa depende da transferência efetiva da 
tecnologia e do conhecimento para a sua reprodução na empresa incorporadora. 
Sob esse a tópico, vale lembrar que, quando o agente de fomento atua somente do 
lado do executor (modelo de oferta), P&D depende de complexos e incertos 
modelos de transferência tecnológica ao setor produtivo. O que aqui se apregoa é 
exatamente o modelo de parceria onde todo o processo de conhecimento que leva 
à inovação tem que fluir com estreita conexão com a entidade incorporadora de 
tecnologia, atendendo no fim da linha, o consumidor final. Essa arquitetura requer 
que o agente financeiro atue preferencialmente do lado do incorporador, cabendo o 
fomento, eventualmente a fundo perdido, atuar nas camadas mais altas do 
executor, isso é, na formação de recursos humanos e na estruturação do sistema 
de Tecnologia Industrial Básica. O Desenho dessa arquitetura é apresentado 
abaixo. 
Seguindo o desenho de uma ampulheta, o triângulo do incorporador da tecnologia 
deve captar, do executor, os processos de inovação, seguindo uma lógica 
fundamental de atender ao consumidor/cliente final, dentro de estratégias definidas 
de diferenciação de produto ou de processo (custos). Essa vinculação da inovação 
aos interesses da demanda final é uma condicionante fundamental para o aporte 
de fomento em inovação, que deve redundar em produtos mais baratos ou de 
melhor qualidade.A gestão do processo de inovação requer, dessa forma, uma forte parceria 
tecnológica, envolvendo diferentes agentes num processo interativo de construção 
de meios e fins comuns. Os principais resultados dessa ação são obter sinergia 
técnica, financeira e comercial e reduzir riscos ou “custos de transação” associados 
à transferência de tecnologia (e à inovação) entre entidades que desempenham 
diferentes papéis na estrutura de conhecimento da sociedade. A distância que 
separa o pesquisador e seus laboratórios do consumidor final, que em última 
instância é o beneficiário do processo de inovação, deve ser reduzida não só com 
técnicas de gestão mais apuradas tecnicamente mas sobretudo através da 
mudança do modelo de fomento, com destaque para o papel de todos os agentes 
na construção de parcerias, com ênfase para a demanda. 
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Notas 
(1) Antes de prosseguir é importante conhecer a diferenciação entre (i) invenção, (ii) 
inovação e (iii) difusão. A invenção é a criação do novo. Pode ser um novo produto 
ou uma nova forma de produzir p. ex. Nem sempre uma invenção será posta em 
uso pois ela deve se submeter ao econômico. Uma inovação é a aplicação de uma 
invenção que seja economicamente viável. A difusão é o espraiamento da inovação 
para o setor produtivo.

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