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Esta obra tem como objetivo analisar os direitos edu- cacionais das crianças e dos adolescentes com a premissa de compreender suas necessidades. O estudo desses di- reitos é indispensável para realizar o trabalho adequado ao desenvolvimento escolar, essencial para garantir a pro- moção das capacidades e das liberdades dos indivíduos. Para tanto, é discutida a proteção estabelecida na Constituição Federal e no Estatuto da Criança e do Ado- lescente (ECA) e são estudados os mecanismos de prote- ção assegurados pelo Conselho Tutelar e pelo Ministério Público, bem como o papel da justiça em relação ao direi- to à educação, além, é claro, da observação dos demais direitos fundamentais. Código Logístico 59551 Fundação Biblioteca Nacional ISBN 978-85-387-6677-3 9 7 8 8 5 3 8 7 6 6 7 7 3 D IR E ITO S E D U C A C IO N A IS D E C R IA N Ç A S E A D O LE SC E N TE S A N E LIZ E PA N TA LE à O P U C C IN I C A M IN H A Direitos educacionais de crianças e adolescentes Anelize Pantaleão Puccini Caminha IESDE BRASIL 2020 © 2020 – IESDE BRASIL S/A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito do autor e do detentor dos direitos autorais. Projeto de capa: IESDE BRASIL S/A. Imagem da capa: Envato Elements Todos os direitos reservados. IESDE BRASIL S/A. Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200 Batel – Curitiba – PR 0800 708 88 88 – www.iesde.com.br CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ C191d Caminha, Anelize Pantaleão Puccini Direitos educacionais de crianças e adolescentes / Anelize Pantaleão Puccini Caminha. - 1. ed. - Curitiba [PR] : IESDE, 2020. 98 p. : il. Inclui bibliografia ISBN 978-85-387-6677-3 1. Direito à educação. 2. Direito das crianças - Brasil. 3. Brasil. [Estatuto da criança e do adolescente (1990)]. I. Título. 20-65429 CDD: 379.26 CDU: 37.014.12 Anelize Pantaleão Puccini Caminha Doutoranda em Direito pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná́ (PUCPR). Mestre em Direito pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e especialista em Processo Civil pela mesma instituição. Bacharel em Direito pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Atua como professora no ensino superior há́ quatro anos. É docente em um centro universitário e em diversas especializações e cursos preparatórios. Autora de artigos científicos e livros na área, é também sócia- proprietária de um escritório de advocacia. SUMÁRIO Agora é possível acessar os vídeos do livro por meio de QR codes (códigos de barras) presentes no início de cada seção de capítulo. Acesse os vídeos automaticamente, direcionando a câmera fotográ�ca de seu smartphone ou tablet para o QR code. Em alguns dispositivos é necessário ter instalado um leitor de QR code, que pode ser adquirido gratuitamente em lojas de aplicativos. Vídeos em QR code! SUMÁRIO Agora é possível acessar os vídeos do livro por meio de QR codes (códigos de barras) presentes no início de cada seção de capítulo. Acesse os vídeos automaticamente, direcionando a câmera fotográ�ca de seu smartphone ou tablet para o QR code. Em alguns dispositivos é necessário ter instalado um leitor de QR code, que pode ser adquirido gratuitamente em lojas de aplicativos. Vídeos em QR code! 1 Evolução histórico-sociológica da infância e da adolescência 9 1.1 Evolução dos conceitos de criança e de adolescente 10 1.2 A teoria da situação irregular 14 1.3 A teoria da proteção da criança e do adolescente 18 2 Direitos fundamentais da criança e do adolescente 26 2.1 Proteção constitucional da criança e do adolescente 26 2.2 Direitos fundamentais 31 2.3 Direito à educação 35 3 Relação entre criança, adolescente, escola e família 43 3.1 Condições peculiares de desenvolvimento escolar 44 3.2 Responsabilidade da instituição de ensino 48 3.3 Responsabilidade da família 54 4 Direito ao desenvolvimento escolar 61 4.1 Direito das crianças e dos adolescentes com deficiência 61 4.2 Acessibilidade e sistema educacional inclusivo 67 4.3 Bullying e cyberbullying 72 5 Proteção da criança e do adolescente 79 5.1 Direito à profissionalização e à proteção no trabalho 79 5.2 Política de atendimento 85 5.3 Atos infracionais 87 5.4 Medidas de proteção e medidas socioeducativas 91 Esta obra tem como objetivo analisar os direitos educacionais das crianças e dos adolescentes com a premissa de compreender suas necessidades. O estudo desses direitos é indispensável para realizar o trabalho adequado ao desenvolvimento escolar. Nesse sentido, no primeiro capítulo, analisa-se a evolução dos direitos das crianças e dos adolescentes. Para tanto, foi necessário abordar a já superada teoria da situação irregular e a compreensão da atual teoria, chamada de teoria da proteção integral. Esses esclarecimentos são essenciais para que se compreenda a importância da proteção e da atenção para o desenvolvimento escolar adequado. Os direitos fundamentais da criança e do adolescente presentes no ordenamento jurídico brasileiro são tema do segundo capítulo. Evidencia-se a importância de entender a proteção estabelecida na Constituição Federal e no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) para o direito à educação, além, é claro, da observação dos demais direitos fundamentais. No terceiro capítulo, propõe-se uma reflexão sobre a relação entre a criança, o adolescente, a escola e a família. A intenção é entender quais são as obrigações e atribuições da instituição de ensino e as responsabilidades da escola e da família. Destaca-se a necessidade da verificação das condições peculiares de desenvolvimento escolar. O direito ao desenvolvimento escolar é essencial para garantir a promoção das capacidades e das liberdades dos indivíduos, por isso é objeto de análise do quarto capítulo. São abordadas as questões que envolvem a educação inclusiva e os estudantes com deficiência, principalmente após as mudanças legislativas resultantes do Estatuto da Pessoa com Deficiência (EPD). As condições necessárias para o desenvolvimento das crianças e dos adolescentes no ambiente escolar, bem como o papel da escola e da família nos casos de bullying e cyberbullying, também são assunto desse capítulo. Por fim, o quinto capítulo estuda a proteção da criança e do adolescente no trabalho e as formas como isso se efetua na legislação vigente. Os mecanismos de proteção assegurados pelo Conselho Tutelar, pelo Ministério Público e o papel da justiça são igualmente discutidos nesse capítulo. Bons estudos! APRESENTAÇÃO Evolução histórico-sociológica da infância e da adolescência 9 1 Evolução histórico-sociológica da infância e da adolescência Neste capítulo, iniciam-se os estudos sobre os direitos edu- cacionais da criança e do adolescente. Se discorrerá sobre como surgiram as garantias e proteções, e de que modo a escola e a so- ciedade devem trabalhar para protegerem a infância e a juventude. Para se atingir este objetivo, é necessário primeiramente co- nhecer os conceitos de criança e de adolescente. É importante verificar a evolução e a transformação da proteção jurídica para compreender suas garantias atuais. Será estudado efetivamente esta evolução ao longo da sociedade, iniciando com a Antiguidade, passando pela Idade Média e chegando até os dias atuais. Em seguida, será analisada a teoria da situação irregular, apli- cada no Brasil durante muitos anos até a promulgação da atual Constituição Federal (1988). Serão abordadas as quatro fases dos conceitos de criança e de adolescente e dos seus respectivos direi- tos e garantias, bem como serão debatidos os conceitos da teoria da proteção integral. Se conhecerá, por fim, a teoria aplicada atualmente, que sur- giu com a Constituição de 1988. O intuito principal é de proteção e de preservação dos direitos das crianças e dos adolescentes. Com base neste conceito,ainda, surgiu o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), importante instrumento de direitos e garantias fundamentais, que busca corroborar com os direitos fundamentais elencados na Constituição. 10 Direitos educacionais de crianças e adolescentes 1.1 Evolução dos conceitos de criança e de adolescente Vídeo Os conceitos de criança e de adolescente passaram por diversas transformações ao longo da história da humanidade. As crianças e os adolescentes nem sempre tiveram uma proteção jurídica efetiva e, em alguns momentos, nem proteção alguma. Neste contexto, é importan- te estudar a evolução do seu tratamento para melhor compreender o momento em que se vive atualmente. Na Grécia e na Roma antiga, a criança e o adolescente não possuíam qualquer proteção jurídica, pois eram considerados uma propriedade do Estado e da família e, entre os séculos XVI ao XIX, eram tratados como seres sem qualquer relevância; o alto índice de mortalidade dos jovens, por exemplo, não era encarado como uma tragédia. Do mesmo modo, a infância não era tratada com importância. Como mencionado, por muitos séculos a criança foi tratada como uma propriedade do chefe da família, devendo obedecer às suas von- tades. Não havia qualquer ilicitude em castigar de maneira imoderada que, porventura, resultasse na morte. Independentemente da idade, os filhos viviam sob a autoridade dos pais enquanto morassem na casa da família. O chefe da família era sempre o homem mais importante do clã, assim, na falta do pai, quem assumia era o avô. Como eram considerados propriedade e, não, sujei- to de direitos, os pais podiam decidir o destino dos seus filhos, inclusive sua vida e morte (AMIN; MACIEL, 2010). Durante a antiguidade, não havia qualquer distinção no tratamen- to de crianças e adolescentes. Para os gregos, só eram mantidas vivas as crianças saudáveis (AMIN; MACIEL, 2010). Na cidade de Esparta, por exemplo, as crianças eram consideradas patrimônio do Estado, por- tanto, estavam sob sua responsabilidade. Já no oriente era costume sacrificar algumas crianças por serem impuras. Na Idade Média, iniciou-se uma importante evolução no reconhe- cimento da dignidade das crianças e dos adolescentes. Embora ainda fossem considerados objeto de direito, desenvolveu-se um tratamento com respeito. Esse fato ocorreu em virtude da influência da religião cristã que cresceu durante esse período. Qual foi o papel da igreja na garantia de direitos das crianças e dos adolescentes? Atividade 1 Evolução histórico-sociológica da infância e da adolescência 11 A Igreja Católica exerceu um papel importante nesta evolução, pois foi pioneira no reconhecimento de direitos para as crianças, defendendo à dignidade e atenuando o tratamento severo dado pe- los pais aos filhos. Entretanto, também salientou o dever de respei- to, como leciona o quarto mandamento bíblico: “honrar pai e mãe” (AMIN; MACIEL, 2010). Foi justamente nesse momento que surgiu a concepção assisten- cialista. Com a influência da Igreja Católica, houve a criação de diversas entidades com o objetivo de prestar auxílio aos vulneráveis e, entre eles, às crianças que estavam em situação de marginalização. No que tange aos tratados internacionais, nota-se uma importante evolução. No século XX foram criados diversos diplomas com o obje- tivo de positivar uma especial proteção às pessoas em situações de vulnerabilidade. A Convenção para a Repressão do Tráfico de Mulheres e Crianças (1921) foi o primeiro diploma internacional que expressou a tutela de crianças e adolescentes. Em 1924, pela primeira vez, os direitos das crianças foram referen- ciados na Declaração de Genebra. Em 1948, a Declaração Universal dos Direito Humanos implementou, além de diversas garantias fundamen- tais, a proteção à maternidade e a assistência social às crianças, inde- pendentemente de suas origens biológicas. Com isso, implementou-se uma importante mudança na garantia dos direitos humanos. Em 1946, foi criado o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), agência das Nações Unidas que tem por objetivo promover a defesa dos direitos das crianças. O Unicef, vale ressaltar, é a única or- ganização destinada exclusivamente às crianças. Logo após, em 1959, foram fixados diversos princípios basilares, com a aprovação do Unicef, referentes à proteção dos direitos das crianças. No Brasil, levando em consideração a importante mudança no que tange aos direitos da criança e do adolescente na esfera mundial, po- demos verificar que a evolução do conceito e dos direitos transcorreu em quatro importantes fases: A Declaração Universal dos Direitos Humanos, proclamada na Assembleia Geral das Nações Unidas, em Paris, no dia 10 de dezembro de 1948, estabeleceu, pela primeira vez na história, a proteção aos direitos humanos. Desde então, uma série de tratados internacionais buscam expandir a sua proteção e, inclusive, diversas constituições utilizam o seu escopo como inspiração. Recomendamos a leitura integral do documento que está disponível em: https:// www.ohchr.org/EN/UDHR/ Pages/Language.aspx?LangI- D=por. Acesso em: 9 jul. 2020. Leitura Você pode conhecer mais sobre a atuação do Unicef em: https:// www.unicef.org/brazil/o-que- -fazemos. Acesso em: 9 jul. 2020. Site 12 Direitos educacionais de crianças e adolescentes A primeira fase é conhecida como a fase da indiferença absoluta, em que não havia a tutela dos direitos das crianças e adolescentes e transcorreu até o início do século XVI. Na história da colonização do Brasil, as crianças tiveram um papel essencial na catequização dos índios pelos jesuítas. Como aprendiam de modo mais simples, os filhos educavam e catequizavam os pais. Por isso, as crianças receberam atenção especial dos colonizadores (AMIN; MACIEL, 2010). Neste momento, ainda se aplicavam as Ordenações do Reino, nas quais o pai era considerado autoridade máxima na família. Assim, ele tinha autoridade para castigar o filho da forma que entendesse melhor. Logo, se o filho falecesse ou sofresse alguma lesão em decorrência do castigo, era excluída a ilicitude da conduta (AMIN; MACIEL, 2010). A segunda fase é conhecida como a fase da mera imputação penal, momento que foram implementadas punições para as condutas praticadas por crianças e adolescentes, período ocorrido entre o século XVI até o Código de Menores, de 1979. Foi neste momento que surgiu a preocupação com os infratores menores de idade e uma política repressiva que se baseava no temor das penas. Nas Ordenações Filipinas – parte das Ordenações do Reino de Portugal, utilizada como legislação no Brasil até 1870 –, aos 7 anos de idade, era alcançada a imputabilidade penal; entre 7 e 17 anos, apli- cava-se um tratamento semelhante ao do adulto com atenuação na aplicação da pena; e, dos 17 aos 21 anos, considerava-se jovens adul- tos, os quais poderiam sofrer a pena de morte natural. O crime de falsificação era uma exceção e se aplicava a pena de morte a partir dos 14 anos de idade (AMIN; MACIEL, 2010). Séculos adiante, mais precisamente em 1830, o Código Penal do Im- pério foi alterado, incluindo o exame de capacidade de discernimento para a aplicação de penas. As pessoas com menos de 14 anos foram consideradas inimputáveis. Na primeira metade do século XX, as crianças e os adolescentes co- meçaram a receber tutela do Estado. Neste momento, entrou em vigor o Código Civil de 1916 e o Decreto n. 17.943-A de 1927, conhecido como As Ordenações do Reino eram normas, ordens e decisões portuguesas que, por muitos anos, foram utilizadas pelo Brasil como até a formulação de uma legislação própria. Saiba mais Pena de morte natural: pre- vista nas Ordenações Filipinas, era a morte após a sentença por enforcamento. Inimputável: que não se pode imputar, isto é, atribuir responsabilidade. Glossário Evolução histórico-sociológica da infância e da adolescência 13 o primeiro Código de Menores do Brasil. Ressalta-se que esse diploma legal resguardavaapenas aqueles que se encontravam em situação irregular (LIMA; POLI; JOSÉ, 2017). Os menores considerados abando- nados 1 ou delinquentes 2 eram distinguidos dos demais de maneira discriminatória. Em 1948, como já mencionado, a Declaração Universal dos Direitos Humanos reconheceu a dignidade a todos os membros da família, ga- rantindo direitos iguais e inalienáveis. Foi assegurada a igualdade de tratamento perante a lei, os cuidados necessários à infância e o trata- mento igualitário aos filhos independentemente da sua origem, dentre outras garantias previstas (LIMA; POLI; JOSÉ, 2017). A terceira fase é denominada como a fase da tutela. Este momento é caracterizado pela proteção por meio de assistencialismo e práticas segregatórias de crianças e adolescentes em situação irregular, essa situação se estendeu desde a edição do Código de Menores de 1979 até a Constituição de 1988. A proteção assistencialista tinha como prática rotineira a retirada do menor do seio familiar e a sua colocação na instituição. Essas crianças e adolescentes eram segregados das demais, que permaneciam no seio familiar. A partir do Código de Menores de 1979, instalou-se a teoria da situação irregular que ainda mantinha o conceito de marginalidade. Embora considerasse a criança e o adolescente como incapazes de responder por seus atos, considerava perigosos os menores que ti- nham propensão à delinquência e, em algumas situações, inclusive, os provenientes de famílias carentes. Os menores nessas circunstân- cias eram considerados como “menores em situação irregular” (LIMA; POLI; JOSÉ, 2017, p. 324). Livro A obra Capitães de areia – clássico do escritor baiano Jorge Amado (1912-2001), publicado pela primeira vez no ano de 1937 – retrata o dia a dia de meninos de rua abandonados e marginalizados na cidade de Salvador. Ao ler a obra, é interessante notar o cotidiano das crianças e adolescentes que viviam em situação de vulnerabilidade durante o período que vigorava a teoria da situação irregular. AMADO, J. São Paulo: Companhia das Letras, 2008. O art. 26 considerava abandonado o menor: que não tinha habitação certa, nem meios de subsistência; com responsável impossibilitado ou incapaz de cumprir os seus deveres; responsáveis com prática de atos contrários à moral e aos bons costumes; aquele em estado de vadiagem, mendicidade ou libertinagem; que frequentava lugares de jogo ou de moralidade duvidosa, ou andasse em má companhia; que se encontrava em situação de crueldade, abuso, negligência, maus tratos ou exploração; empregado em ocupações proibidas ou contrarias à moral e aos bons costumes; excitado para a gatunice, mendicidade ou libertinagem; com responsável condenado por sentença irrecor- rível e encobridor ou receptador de crime cometido. 1 O art. 28 do considerava vadio o menor que: resistente a receber instrução ou entregar-se a trabalho sério e útil, vagando habitualmente pelas ruas; deixado sem causa legítima o domicilio do pai, mãe ou tutor, não tendo domicílio nem alguém por si. Os mendigos eram os que habitualmente pedem esmola para si ou para outrem. Por fim, os libertinos eram os que perseguiam ou convidavam para a prática de atos obscenos; entregam-se à prostituição em seu próprio domicílio, vivem em casa de prostituição, ou frequentam casa de tolerância; praticantes de atos obscenos ou que vivem da prostituição de outrem. 2 14 Direitos educacionais de crianças e adolescentes A quarta e atual fase é a da proteção integral, a qual considera as crianças e os adolescentes como sujeito de direitos e assegura, em conjunto com o Estado, sociedade e família, esses direitos como prioridade absoluta. Essa fase teve início com a Constituição de 1988 e perdura até os dias de hoje. A Figura 1 a seguir sintetiza a evolução dessas quatro fases. Figura 1 A evolução dos direitos da criança e do adolescente Indiferença absoluta (até o início do século XVI) Tutela (do Código de Menores de 1979 até a Constituição de 1988) Mera imputação penal (do século XVI até o Código de Menores de 1979) Proteção integral (a partir da Constituição de 1988) Fonte: Elaborada pela autora. A evolução dos direitos da criança e do adolescente é um proces- so que atravessou pelo menos quatro séculos. Após a Constituição (1988), como veremos nas seções a seguir, houve uma importante mudança com a aplicação do princípio da proteção integral. O objeti- vo é garantir a proteção plena da criança e do adolescente indepen- dentemente da situação. 1.2 A teoria da situação irregular Vídeo Para o adequado estudo da evolução histórico-sociológica dos di- reitos das crianças e dos adolescentes, é necessário primeiramente o estudo da teoria da situação irregular, a qual vigorou no Brasil durante anos e só foi superada com a atual Constituição e com a teoria da pro- teção integral. A primeira legislação sobre menores no Brasil é o Decreto n. 17.943-A, também conhecido por Código Mello Matos (BRASIL, 1927). Nessa legis- lação, foram implementadas algumas inovações no tratamento dado aos menores infratores, e as decisões passaram a ser centralizadas na figura do juiz de menores. Evolução histórico-sociológica da infância e da adolescência 15 Entretanto, ainda assim não se verificava o papel da família no de- senvolvimento da criança e do adolescente. Nesse momento, era mais importante proteger a sociedade dos infratores do que compreender o motivo pelo qual os menores seguiam o caminho da marginalidade. Este tipo de postura ficou conhecido como doutrina da situação irregular. A política de proteção era voltada para a sociedade e não para a recuperação dos menores, os quais eram retirados do seio de suas fa- mílias. Com a influência da Igreja Católica, aos poucos, esses jovens passaram a adquirir alguns direitos. Durante esse período, o objetivo principal era deter o menor, uti- lizando o regime de internações, com quebra dos vínculos familiares, para não acarretar maiores danos à sociedade. Na Constituição de 1937, houve a criação de programas de assistência social, o que ampliou a proteção às crianças e aos adolescentes infratores e desfavorecidos. Anos após, já durante a ditadura militar brasileira (1964-1985), o pro- gresso foi interrompido e muitos dos institutos utilizados para a proteção da infância e da juventude serviram para restringir ameaças e pressões recebidas. Nesta época, a maioridade foi reduzida para 16 anos. No Direito brasileiro, a teoria da situação irregular surgiu apenas de ma- neira implícita no Código de Menores, influenciado pelo juiz Mello Mattos, e foi positivada anos depois no Código de Menores de 1979. Em razão da falta, ação ou omissão dos pais ou responsáveis, o menor poderia ser privado de condições essenciais à sua subsistência. Os jovens submetidos à situação irregular estavam descritos no artigo 2º como: privado de condições essenciais à sua subsistência, saúde e ins- trução obrigatória, ainda que eventualmente, em razão de: a) falta, ação ou omissão dos pais ou responsável; b) manifesta im- possibilidade dos pais ou responsável para provê-las; II – vítima de maus tratos ou castigos imoderados impostos pelos pais ou responsável; III – em perigo moral, devido a: a) encontrar-se, de modo habitual, em ambiente contrário aos bons costumes; b) exploração em atividade contrária aos bons costumes; IV – priva- do de representação ou assistência legal, pela falta eventual dos pais ou responsável; V – Com desvio de conduta, em virtude de grave inadaptação familiar ou comunitária; VI – autor de infração penal. (BRASIL, 1979) Com base nesse excerto, verifica-se que o Código de Menores prote- gia aqueles que eram vítimas de maus-tratos e que estavam sujeitos a 16 Direitos educacionais de crianças e adolescentes perigo moral por se encontrarem em ambientes ou atividades contrárias aos bons costumes. Ainda havia a hipótese que o menor autor de infração penal apresentasse “desvio de conduta, em virtudede grave inadaptação familiar ou comunitária” (BRASIL, 1979). Outra peculiaridade desse dispositivo foi a desig- nação de um juiz de menores, ou seja, um juiz espe- cializado para este tipo de processo. Entretanto, essa prática resultou em uma segregação entre os próprios menores, pois tanto aqueles que foram abandonados quanto os que foram detidos iam para a mesma institui- ção: a Fundação Estadual do Menor (Febem). Atualmente, a Febem não existe mais, ela foi substituída por fundações esta- duais que tem como objetivo o atendimento socioeducativo da crian- ça e do adolescente. O juiz de menores atuava apenas nos casos que envolviam menores em situação de delinquência ou abandono. Nas demais questões que envolvessem crianças e adolescentes, a competência era da Vara de Família 4 , que utilizava o Código Civil como fundamento legal. Havia uma clara distinção entre as crianças e os adolescentes que estavam sob os cuidados das suas famílias e aqueles abandonados e infratores. No modelo da teoria da situação irregular, é importante ressaltar, não havia nenhuma preocupação em manter os vínculos familiares. Entendia-se que se a criança ou o adolescente chegou ao ponto de pre- cisar do amparo do Código de Menores não eram necessários esforços para verificar e tentar manter os vínculos consanguíneos. Além disso, não havia uma garantia de direitos, mas, sim, uma atua- ção nas consequências das atitudes. Portanto, essa política não era voltada à educação do menor infrator ou à proteção do menor aban- donado, ela serviria apenas para estabelecer medidas restritivas. O ob- jetivo era a proteção da sociedade perante o menor, e não do menor perante a situação em que ele se encontrava. No ano de 1964, surgiu a Política Nacional do Bem-estar do Menor (Pnbem), a qual contava com uma gestão centralizadora e verticalizada para a atuação das Febem. Entretanto, era nítida a contradição entre a prática e a técnica. Em alguns casos, a única opção para a tutela de carentes e delinquentes era a internação, que gerava, na maior parte das vezes, a segregação (AMIN, 2010). ALFATEH PAL/Shutterstock A legislação não encarava efetivamente as causas que geravam a carência ou a delinquência, mas, sim, atia-se ao binômio carência-delinquência. A atuação do Estado se restringia à consequência dos atos praticados pelos menores ou contra eles. Na justiça estadual, geralmente existe uma vara especializada em processos envolvendo conflitos familiares. 4 Quais eram as principais falhas da teoria da situação irregular? Atividade 2 Evolução histórico-sociológica da infância e da adolescência 17 Deve-se ressaltar que a cultura da internação não distinguia infrato- res de abandonados, pelo contrário, mantinham todos internados no mesmo local. Não havia outra alternativa que não fosse a internação, eram raras as situações em que o menor conseguia a colocação em uma família substituta. Em outras palavras, não havia uma política de atendimento efetivo visando libertar a criança e o adolescente da condição em que se en- contravam. Logo, suas dificuldades e necessidades não eram levadas em consideração no sentido emancipador. Não era escopo do Estado elevá-los à condição de cidadãos emancipados (SAUT, 2007). É importante ressaltar que esse modelo se deu no Brasil mesmo após os diversos tratados internacionais sobre direitos humanos, como a pró- pria Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948, que garantiu diversos direitos, inclusive a proteção da criança e do adolescente. Entre o período da Declaração Universal dos Direitos do Humanos de 1948 e a Constituição Federal de 1988, houve uma intensa mobili- zação a fim de modificar o modelo de sistema jurídico restrito aos me- nores abandonados ou em estado de delinquência. No Brasil, diversas organizações populares nacionais e a pressão de organismos interna- cionais, como o Unicef, tornaram o legislador constituinte sensível à causa (AMIN, 2010). A Declaração dos Direitos Humanos destaca o con- ceito de família como um núcleo natural e fundamental da sociedade que tem direito à proteção da sociedade e do Estado (SAUT, 2007). Importante No cenário nacional, é possível verificar diversos diplomas que contemplam a prote- ção da criança e do adolescente, como a Declaração de Genebra (1924), que, como mencionado, foi o primeiro documento que trouxe a necessidade de proteção especial à criança e ao adolescente; a Convenção Americana sobre os Direitos Humanos (1969) e as Regras Mínimas das Nações Unidas para a Administração da Justiça da Infância e da Juventude – Regras Mínimas de Beijing (1985). Salienta-se que, em decorrência desses diplomas legais, a teoria da situação irregular foi superada pela teoria da pro- teção da criança e do adolescente (AMIN, 2010). Outros importantes diplomas internacionais que tratam sobre direitos da criança e do adolescente são: Direitos das Nações Unidas para a prevenção da delinquência juve- nil – Diretrizes de Riad (1990); Regras mínimas das Nações Unidas para proteção de jovens privados de liberdade (1990); e Convenção das Nações Unidas sobre os direitos das crianças – promulgada no Brasil pelo Decreto n. 99.710, de 21 de novembro de 1990 (BRASIL, 1990). 18 Direitos educacionais de crianças e adolescentes Em decorrência dessa mudança de paradigma, houve, no Brasil, uma importante mobilização nacional chamada Movimento Nacional dos Meninos e Meninas de Rua (MNMMR), a qual realizou, no ano de 1984, o primeiro Encontro Nacional de Meninos e Meninas de Rua. A intenção era debater sobre questões relativas a crianças e adolescentes rotulados como menores abandonados ou meninos de rua (AMIN, 2010). Logo após, em 1986, a Comissão Nacional da Criança Constituin- te surgiu com o objetivo de incluir direitos infanto-juvenis e reuniu 1 milhão e 200 mil assinaturas a fim de promover a sua emenda. Com isso, a Comissão garantiu um intenso lobby para a inclusão dos respec- tivos direitos na nova Constituição (AMIN, 2010, p. 8). Após esse intenso movimento, deu-se o fim da teoria da situação irregular no Brasil, e o início da teoria da proteção da criança e do adolescente. No artigo Entre a doutrina da situação irregular e a da proteção integral: o conceito de vulnerabilidade e a aplicação de medidas socioeducativas a partir da jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, publicado na Revista Brasileira de Direito (2018), Ana Paula Motta Costa, Sofia de Souza Lima Safi e Roberta Silveira Pamplona desenvolvem uma importante análise da evolução da dou- trina da situação irregular para a teoria da proteção integral. É importante verificar que a análise se dá utilizando a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça. Acesso em: 1 jul. 2020. https://seer.imed.edu.br/index.php/revistadedireito/article/view/1947/2017. Artigo 1.3 A teoria da proteção da criança e do adolescente Vídeo No Brasil, a doutrina da proteção integral da família teve, como mar- co definitivo, a Constituição Federal de 1988. No ordenamento, está referido no artigo 227: é dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissiona- lização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convi- vência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, cruel- dade e opressão. (BRASIL, 1988) Evolução histórico-sociológica da infância e da adolescência 19 Desta maneira, foi rompido qualquer vestígio da teoria da situação irregular e, a partir de então, todo o ordenamento jurídico se estru- turou para garantir a proteção integral da criança e do adolescente. Pode-se verificar que os direitos previstos devem ser assegurados com absoluta prioridade e é necessário levar em consideração o desenvolvi- mento da criança e do adolescente. É importante ressaltar que a Constituição também garantiuimpor- tantes mudanças no que tange aos direitos humanos fundamentais. Houve a implementação dos direitos fundamentais individuais, coleti- vos e difusos. Esse movimento se deu, embora atrasado, em consonância com o cenário internacional. Em 20 de novembro de 1959, foi publicada a De- claração dos Direitos das Crianças pela Organização das Nações Unidas (ONU), documento que originou a doutrina da proteção integral no âm- bito internacional e do qual o Brasil é signatário. Na referida Convenção, a teoria da proteção integral apareceu pela primeira vez, fundada em três pilares importantes: I. reconhecimento da tutela da proteção integral, tendo em vista que a criança e o adolescente são pessoas em desenvolvimento; II. o direito à convivência familiar; e III. a obrigação das nações signatárias de assegurar os direitos da Convenção com prioridade absoluta. Em 1990, entrou em vigor o Decreto n. 99.710, que reconheceu a im- portância do documento internacional e garantiu que a Convenção so- bre os Direitos da Criança fosse executada e cumprida integralmente. Após esse importante movimento no Brasil, seguindo a imple- mentação da proteção jurídica da criança e do adolescente no cená- rio internacional, houve a promulgação do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), Lei n. 8.069, em 13 de julho de 1990. O estatuto consolidou as importantes diretrizes da Constituição, com importante proteção aos direitos humanos. Assim, foram implementados alguns importantes conceitos, dentre estes, direitos e garantias fundamentais da proteção da criança e do adolescente. Ainda, é necessário destacar que a doutrina da proteção integral é ligada diretamente ao princípio do melhor interesse da crian- ça ou do adolescente (BARROS, 2019). A Organização das Nações Unidas é uma organização intergovernamental que busca promover a cooperação internacional. A ONU tem como objetivo promover a segurança e a paz mundial, ainda, busca expandir os direitos humanos, o desenvolvimento econômico, o progresso social, entre outros. Saiba mais 20 Direitos educacionais de crianças e adolescentes Essa importante postura adotada pela Constituição, pelo Estatu- to da Criança e do Adolescente e, posteriormente, pelo Código Civil (BRASIL, 1988; 1990; 2002) prioriza sempre o melhor interesse da criança. Isto se dá perante a sua família, o Estado e a sociedade em que se encontra. Os diversos instrumentos protetivos implementados buscam priorizar a situação da criança, ou do adolescente, para que ela seja protegida. O primeiro conceito positivado na Constituição e também no Estatuto da Criança e do Adolescente (BRASIL, 1988; 1990) foi o de criança. Com base na Convenção dos Direitos das Crianças (1990), considera-se criança todo ser humano com menos de 18 anos de idade. No ECA (art. 2º), temos a divisão dos conceitos de criança e de adolescente: criança é a pessoa até 12 anos incompletos e adolescente pessoa entre 12 e 18 anos. Como disposto no artigo 3º do ECA, todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana devem ser gozados pelas crianças e ado- lescentes. É importante observar que a proteção integral não pode ser prejudicada e devem ser asseguradas todas as oportunidades e facili- dades para garantir seu pleno desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social. Salienta-se que as garantias devem ser preservadas em condições de liberdade e de dignidade. Ainda nesse artigo, os direitos e garantias da criança e do adoles- cente serão implementados sem prejuízo da proteção integral, a qual não se esgota no estatuto. Em outras palavras, qualquer outro diploma legal deverá preservar o pleno desenvolvimento e garantir a dignidade da pessoa humana (BARROS, 2019). A mudança de paradigma ensejou um novo modelo jurídico que privilegia a dignidade da pessoa, decorrente da Constituição de 1988, que deverá ser observado em todo o ordenamento jurídico brasileiro. O tratamento adequado e digno das crianças e adolescentes deve ser realizado por meio de políticas públicas. Após anos de segregação dos menores infratores e abandonados, o modelo de internação da Fundação Nacional do Bem-estar do Menor (Funabem) já estava completamente desgastado e foi substituído pelo Centro Brasileiro para a Infância e Adolescência (CBIA) em 1990 (AMIN, 2010). Ocorreu, ainda, uma mudança terminológica em consonância com a Constituição e os documentos internacionais: atualmente não se O filme Um sonho possível (2009) retrata a vida de um jovem que foi acolhi- do pela família de Leigh Anne Tuohy. A narrativa retrata os problemas que os jovens encontram para a adoção com idade avançada e a importância do acolhimento na vida de Michael Oher. Direção: John Lee Hancock. Estados Unidos: Alcon Entertainment; Fortis Films, 2009. Filme Evolução histórico-sociológica da infância e da adolescência 21 utiliza o termo menor (considerado estigmatizado), mas, sim, os termos criança e adolescente. Com base no ECA, surgiram diversas políticas públicas a fim de pri- vilegiar a proteção garantida na lei. Assim, imperou-se o princípio da municipalização, tendo em vista que os municípios estão mais próxi- mos da realidade das crianças e adolescentes. Com isso, há uma atua- ção ativa do Ministério Público, do Poder Judiciário e dos Conselhos Tutelares com o objetivo de proteção dos direitos das crianças e ado- lescentes. Há a preocupação, ainda, com os vínculos familiares, tentan- do restaurá-los sempre que possível. O surgimento do ECA rompeu com diversos paradigmas da teoria da situação irregular. Vale mencionar que o sistema atual busca cons- tantemente educar e proteger o jovem em situação de vulnerabilidade. As crianças que estão em situação de vulnerabilidade e necessitam de amparo se sujeitarão às medidas de proteção, já os adolescentes que praticarem atos infracionais estão sujeitos às medidas socioeducativas. A intervenção judicial acontecerá em determinadas hipóteses. O objetivo principal da teoria da proteção integral é assegurar os direitos fundamentais previstos na Constituição. Para tanto, deve ser levado em consideração que a infância e a juventude é um período de desenvolvimento do ser humano. Do mesmo modo, é dever da famí- lia preservar o desenvolvimento, entretanto, ressalta-se que a comu- nidade, a sociedade e o poder público possuem importante papel nessa proteção. Outra importante mudança decorrente da teo- ria da proteção integral é a atuação do Estado, pois gerou-se autorida- de estatal para garantir a proteção dos direitos, agindo como um dos protagonistas. Foram desenvol- vidas diversas políticas públicas fundamentais, sobretudo na cria- ção de órgãos e instâncias com atribuições definidas. Entretanto, é necessário enfatizar que é dever da família e do poder público priorizar a criança e o adolescente. “Qual a principal mudança que a teoria da proteção integral trouxe no tratamento da criança e do adolescente? Justifique sua resposta”. Atividade 3 Pr oS to ck St ud io /S hu tte rs to ck Todos que estiverem próximo da criança e do adolescente e verificarem alguma violação aos seus direitos fundamentais devem alertar a autoridade competente. 22 Direitos educacionais de crianças e adolescentes Conforme o artigo 4º do ECA, a garantia de prioridade absoluta compreende: a. primazia de receber proteção e socorro em quaisquer circunstâncias; b. precedência de atendimento nos serviços públicos ou de rele- vância pública; c. preferência na formulação e na execução das políticas sociais públicas; d. destinação privilegiada de recursos públicos nas áreas relaciona- das com a proteção à infância e à juventude. (BRASIL, 1990) A criança e o adolescente terão prioridade no atendimento em caso de proteção e socorro, bem como nas políticas sociais públicas. As po- líticas sociais deverão atuar de maneira prioritária no desenvolvimento infanto-juvenil e os recursos públicos terão destinação privilegiada à sua proteção efetiva. Como exemplode aplicação da garantia da prioridade absoluta, po- de-se constatar que, em situação de urgência, caso só haja um leito no hospital, entre atender um adulto ou uma criança, a criança será atendida antes. Evidentemente que, nesse caso, é necessário verificar a urgência do atendimento, se o adulto tiver um risco elevado de morte e a criança não, ele será atendido antes. O Quadro 1 elenca as principais mudanças decorrentes da evolução histórico-sociológica da infância e da adolescência: Quadro 1 Teoria da situação irregular e teoria da proteção integral: principais mudanças Código de Menores Doutrina Situação irregular Início 1927 e positivado em 1979 Atuação Agia nas consequências Família Não havia preocupação com os vínculos familiares Estatuto da Criança e do Adolescente Proteção integral Constituição Federal de 1988 Age nas causas Tentativa de manutenção dos vínculos familiares X Fonte: Elaborado pela autora. Evolução histórico-sociológica da infância e da adolescência 23 O processo de evolução dos direitos das crianças e adolescentes passou por constantes alterações ao longo dos séculos. A principal e mais importante mudança se deu com a teoria da proteção integral implementada pela Constituição. Atualmente, a proteção deve ser im- plementada sempre observando o pleno desenvolvimento e com prio- ridade absoluta. CONSIDERAÇÕES FINAIS Neste capítulo, foi possível conhecer a evolução dos conceitos de criança e de adolescente. De objeto considerado propriedade dos pais, com absoluta indiferença, passou-se para a noção de mera imputação penal dos infratores, em seguida, para a ideia de tutela assistencial e, por fim, chegou-se ao conceito atual de sujeito de direitos. Foi possível verificar que os papéis do Estado, da sociedade e, inclusive, da família mudaram. No Brasil, tivemos alguns diplomas legais referentes aos direitos da in- fância e da juventude, entretanto, nem sempre em consonância com os diplomas internacionais. Com isso, surgiu o Código de Menores de 1927, o qual centrava forças no destino dos menores infratores. Já, no ano de 1979, o Código de Menores tinha como objeto de proteção as vítimas de maus tratos e positivou efetivamente a teoria da situação irregular. A Constituição Federal de 1988 e o Estatuto da Criança e do Adolescente de 1990 trouxeram a noção de proteção integral. A teoria da proteção integral é baseada em dois importantes funda- mentos: a prioridade absoluta e o pleno desenvolvimento da criança e do adolescente. Ela envolve todas as questões em que interesses e direitos estejam envolvidos, sempre observando com prioridade o melhor inte- resse da criança e do adolescente, inclusive perante a família, o Estado e a sociedade. REFERÊNCIAS AMIN, A. R.; MACIEL, K. R. F. L. A. (coord.). Curso de Direito da Criança e do Adolescente: aspectos teóricos e práticos. 6. ed. rev. e atual. São Paulo: Editora Saraiva: 2010. BARROS, G. F. de M. Estatuto da Criança e do Adolescente: Lei 8.069/90. 13. ed. rev. atual. e ampl. Salvador: Editora JusPodivm. 2019. BRASIL, Constituição Federal (1988). Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 5 out. 1988. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao. htm. Acesso em: 22 jun. 2020. BRASIL. Convenção Americana de Direitos Humanos (1969). Disponível em: http://www. pge.sp.gov.br/centrodeestudos/bibliotecavirtual/instrumentos/sanjose.htm. Acesso em: 7 jul. 2020. 24 Direitos educacionais de crianças e adolescentes BRASIL. Declaração dos Direitos da Criança. Disponível em: https://www2.camara.leg. br/atividade-legislativa/comissoes/comissoes-permanentes/cdhm/comite-brasileiro-de- direitos-humanos-e-politica-externa/DeclDirCrian.html. Acesso em: 6 jul. 2020. BRASIL, Ministério da Justiça. Decreto n. 17.943-a de 12 de outubro de 1927. Diário Oficial da União, Poder Executivo, Brasília, DF, 12 out. 1927. Disponível em: http://www.planalto. gov.br/ccivil_03/decreto/1910-1929/D17943Aimpressao.htm. Acesso em: 20 jun. 2020. BRASIL, Ministério da Justiça. Lei n. 6.697 de 10 de outubro de 1979. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 10 out. 1979. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ ccivil_03/LEIS/1970-1979/L6697impressao.htm. Acesso em: 22 jun. 2020. BRASIL, Ministério da Justiça. Lei n. 8.069 de 13 de julho de 1990. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 16 jul. 1990. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ ccivil_03/leis/l8069.htm. Acesso em: 22 jun. 2020. BRASIL, Ministério da Justiça. Lei n. 10.406 de 10 de janeiro de 2002. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 11 jan. 2002. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ ccivil_03/leis/2002/l10406.htm. Acesso em: 6 jul. 2020. BRASIL, Ministério das Relações Exteriores. Decreto n. 37.176- de 15 de Abril de 1955. Diário Oficial da União, Poder Executivo, Brasília, DF, 15 abr. 1955. Disponível em: http://www. planalto.gov.br/ccivil_03/Atos/decretos/1955/D37176.html. Acesso em: 6 jul. 2020. BRASIL, Ministério das Relações Exteriores. Decreto n. 99.710, de 21 de novembro de 1990. Diário Oficial da União, Poder Executivo, Brasília, DF, 22 nov. 1990. Disponível em: http:// www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1990-1994/d99710.htm. Acesso em: 6 jul. 2020. COSTA, A. P. M. C.; SAFI, S. de S. L. S.; PAMPLONA, R. S. Entre a doutrina da situação irregular e a da proteção integral: o conceito de vulnerabilidade e a aplicação de medidas socioeducativas a partir da jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça. Revista Brasileira de Direito, Passo Fundo, v. 14, n. 3, p. 55-75, set./dez. 2018. ISSN 2238-0604 LIMA, R. M. de; POLI, L. M.; JOSÉ, F. S. A Evolução Histórica dos Direitos da Criança e do Adolescente: da insignificância jurídica e social ao reconhecimento de direitos e garantias fundamentais. Rev. Bras. Polít. Públicas, (Online), Brasília, v. 7, n. 2, 2017. ONU – Organização das Nações Unidas. Declaração Universal dos Direitos Humanos. Disponível em: https://www.ohchr.org/EN/UDHR/Pages/Language.aspx?LangID=por. Acesso em: 6 jul. 2020. ONU – Organização das Nações Unidas. Direitos das Nações Unidas para a prevenção da delinquência juvenil – Diretrizes de Riad, 1990. Disponível em: https://www2.camara.leg. br/atividade-legislativa/comissoes/comissoes-permanentes/cdhm/comite-brasileiro-de- direitos-humanos-e-politica-externa/PrincNacUniPrevDeliqJuv.html. Acesso em: 6 jul. 2020. ONU – Organização das Nações Unidas. Regras das Nações Unidas para a Proteção dos Menores Privados de Liberdade. In: Brasil. Ministério da Justiça. Normas e princípios das Nações Unidas sobre prevenção ao crime e justiça criminal. 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Disponível em: https://gorila. furb.br/ojs/index.php/juridica/article/viewFile/441/400. Acesso em: 22 jun. 2020. Evolução histórico-sociológica da infância e da adolescência 25 GABARITO 1. A Igreja Católica tem um importante papel na evolução dos direitos das crianças e dos adolescentes, pois iniciou a garantia de proteção à família e à dignidade ao amparar aqueles que estavamem situação de vulnerabilidade e pregar proteção aos que estão com as famílias. Isso ocorreu inclusive por meio dos 10 mandamentos bíblicos, que salientou o dever de respeito entre os entes familiares. 2. Umas das principais falhas da teoria da situação irregular era a segregação das crian- ças e adolescentes que necessitavam de acolhimento institucional, e a discriminação entre crianças e adolescentes que estavam em situação de marginalidade. 3. A principal mudança que a teoria da proteção integral trouxe para o tratamento das crianças e dos adolescentes é a de que os direitos previstos devem ser assegurados com absoluta prioridade. Portanto, é necessário levar em consideração o seu pleno desenvolvimento. 26 Direitos educacionais de crianças e adolescentes 2 Direitos fundamentais da criança e do adolescente Neste capítulo, vamos desenvolver o estudo dos direitos funda- mentais da criança e do adolescente. A Constituição Federal esta- beleceu – pela primeira vez, no ordenamento jurídico brasileiro – a especial proteção. Já o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) positivou essas garantias visando o pleno desenvolvimento. A evolução da proteção da criança e do adolescente se deu após o rompimento da doutrina da situação irregular do menor, que estava em vigor desde o Código de Menores de 1927. Com isso, verificamos o surgimento da responsabilidade em conjunto com o Estado, a sociedade e a família na proteção e na garantia do pleno desenvolvimento dos indivíduos em formação. Observamos, também, a necessidade de diálogo e de trabalho juntamente com todos os agentes envolvidos na educação da crian- ça e do adolescente, tendo em vista a sua importância para a forma- ção de novos indivíduos na sociedade. Portanto, é imprescindível a atenção plena e efetiva na sua proteção e no seu desenvolvimento. 2.1 Proteção constitucional da criança e do adolescente Vídeo A Constituição alterou significativamente o ordenamento jurídico brasileiro. Surgido após a ditadura militar, esse documento é um marco no que tange às garantias e aos direitos fundamentais no Brasil. Com ele, diversos princípios foram implementados e, entre eles, um dos mais importantes é o da dignidade da pessoa humana. Esse princípio deve ser aplicado a todos os indivíduos da sociedade, em todas esferas, e, inclusive, às crianças e aos adolescentes. Neste capítulo, toda a nossa dis- cussão é voltada ao documento constitucional atual, de 5 de outubro de 1988. Importante Direitos fundamentais da criança e do adolescente 27 O atual diploma constitucional tem um importante papel em relação aos direitos das crianças e dos adolescentes. Por meio da constituinte, em que foi determinada a forma de criação da Constituição, deu-se a positivação da teoria da proteção integral. Essa doutrina é uma im- portante conquista para o direito brasileiro, tendo em vista que já era garantida pelos diplomas internacionais. Com isso, determinou-se que é dever do Estado brasileiro, da sociedade e da família a proteção ple- na, com absoluta prioridade da criança e do adolescente, por meio da proteção constitucional. A doutrina da proteção integral substituiu a doutrina da situação irregular, a qual vigorava oficialmente desde o Código de Menores, de 1979, mas já estava subentendida no Código Mello Matos, de 1927. Além da alteração no documento, houve uma mudança de paradigma: a doutrina anterior era restrita aos menores infratores e àqueles em situação de perigo, já a Constituição de 1988 estabelece uma proteção plena a todos os indivíduos em desenvolvimento. O rompimento do antigo modelo de proteção do menor foi importante, pois absorveu os valores da Convenção dos Direitos das Crianças (UNICEF, 1990) e ampliou a atuação. De um direito restrito aos menores que neces- sitavam de atenção, tendo em vista as suas condições de vulnerabilidade e marginalidade, passou-se para a garantia de um direito da criança e do adolescente de maneira ampla, universal e exigível (AMIN, 2010). A família é considerada a base da sociedade e, portanto, há pro- teção especial do Estado, conforme disciplina o artigo 226 da Consti- tuição (BRASIL, 1988). Entretanto, por conta do superior interesse pela criança e a sua prioridade absoluta, em alguns momentos é necessária a intervenção do Estado no seio familiar. O Código Civil (2002) também determina o importante papel da família na formação do indivíduo. No artigo 227 da Constituição, podemos perceber que: é dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissiona- lização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convi- vência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, cruel- dade e opressão. (BRASIL, 1988) Com a análise desse excerto, é possível compreender que tudo que é necessário para o pleno desenvolvimento do indivíduo deve ser assegura- Qual foi a principal mudança implementada pela atual Cons- tituição na proteção da criança e do adolescente? De quem é a responsabilidade sobre isso? Atividade 1 A Assembleia Nacional Consti- tuinte é o órgão colegiado que tem a função de redigir a nova constituição. No Brasil, a última constituinte foi a de 1987. Saiba mais Neste capítulo, toda a nossa discussão é voltada ao Código Civil atual, de 10 de janeiro de 2002. Importante 28 Direitos educacionais de crianças e adolescentes do. Assim, foram elencados, de maneira particular, os direitos fundamen- tais necessários à formação da criança e do adolescente – esses direitos ainda foram positivados no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Além disso, a lei n. 8.069 põe a salvo que nenhuma criança ou ado- lescente será objeto de negligência, discriminação, exploração, violên- cia, crueldade e opressão, conforme estabelece o artigo 5º (BRASIL, 1990). Deverão ser observados os direitos e deveres individuais e cole- tivos, preservando a condição peculiar de pessoa em desenvolvimento, como determina o artigo 6º. Assim, pode-se verificar que a criança e o adolescente deverão ser protegidos em todos os sentidos. No parágrafo 4º, do artigo 227, da Constituição (BRASIL, 1988), verifi- ca-se a implicação de normas punitivas para qualquer forma de abuso, violência ou exploração sexual da criança e do adolescente. A lei infra- constitucional se encarrega de tipificar, especificamente, cada conduta que deverá ser punida. Essas tipificações estão dispostas no Código Penal, na Lei Maria da Penha (BRASIL, 1940; 2006) e em outros dispositivos legais. Na Constituição, é possível constatar diversos aspectos de proteção, como os dispostos no artigo 227, no seu parágrafo 3º: I – idade mínima de quatorze anos para admissão ao trabalho, observado o disposto no art. 7º, XXXIII; II – garantia de direitos previdenciários e trabalhistas; III – garantia de acesso do trabalhador adolescente e jovem à escola; IV – garantia de pleno e formal conhecimento da atribuição de ato infracional, igualdade na relação processual e defesa técnica por profissional habilitado, segundo dispuser a legislação tutelar específica; V – obediência aos princípios de brevidade, excepcionalidade e respeito à condição peculiar de pessoa em desenvolvimento, quando da aplicação de qualquer medida privativa da liberdade; VI – estímulo do Poder Público, através de assistência jurídica, incentivos fiscais e subsídios, nos termos da lei, ao acolhimen- to, sob a forma de guarda, de criança ou adolescente órfão ou abandonado; VII – programas de prevenção e atendimento especializado à criança, ao adolescente e ao jovem dependente de entorpecen- tes e drogas afins. (BRASIL, 1988) Observa-se que, para fins de trabalho, há proteção constitucional e proibição do trabalho infantil, com exceção apenas dos casos de menor Quando mencionamos o Estatuto da Criança e do Adolescente,nos referimos à lei n. 8.069, de 13 de julho de 1990. Importante lei infraconstitucional: qual- quer lei que não está incluída na Constituição Federal e que não possui status constitucional. Glossário Direitos fundamentais da criança e do adolescente 29 aprendiz, que deverão seguir regulamentação específica. Ainda, nas hi- póteses em que é possível o trabalho, após os 14 anos de idade, devem ser afirmados os direitos trabalhistas e previdenciários e a proteção do direito à educação, assegurando, portanto, o acesso à escola, indepen- dentemente da atividade laboral. Isso significa dizer que, nas hipóteses em que o adolescente tra- balha, deve-se garantir o acesso à educação no turno oposto, ainda que seja necessário o ensino noturno, como dispõe o artigo 208, VI, da Constituição 2 . Assim, nas situações em que o adolescente trabalha ao longo do dia e precisa frequentar a escola durante o período da noite, deve ser assegurado o acesso à educação. Nas hipóteses de ato infracional da criança e do adolescente, é possível verificar uma mudança de comportamento da legislação bra- sileira em decorrência da atual Constituição. Antes, nos casos de in- fração, o menor era submetido ao acolhimento institucional, de modo a retirá-lo da sociedade. Atualmente, devem ser assegurados o pleno conhecimento da atribuição do ato infracional, a igualdade na relação processual e a defesa técnica por profissional habilitado. Desse modo, mesmo nos casos em que é necessária a medida priva- tiva de liberdade, garante-se a obediência aos princípios da brevidade e, de suma importância, a observância e o respeito da condição pecu- liar de pessoa em desenvolvimento do infrator. No ECA, há previsão es- pecífica nesse sentido, pois dispõe de que maneira serão determinadas as medidas em relação aos atos infracionais praticados por crianças e adolescentes. Salienta-se que qualquer medida será tomada observan- do a dignidade da pessoa humana. Nas hipóteses em que é necessário o acolhimento da criança e do adolescente, o Poder Público deverá incentivar o seu cuidado sob a for- ma de guarda. O estímulo poderá ser realizado por meio de incentivos fiscais e subsídios, no formato da lei. Nos casos em que há uma dependência química de entorpecentes ou drogas, o jovem, a criança ou o adolescente receberão atendimento diferenciado em programas de prevenção. Portanto, sempre que hou- ver uma pessoa em formação nessa situação, é preciso lhe dar uma atenção especial, visando a sua proteção. A Constituição ainda estabelece, como forma de proteção da criança e do adolescente, as promoções de programas de assistência integral “Oferta de ensino noturno regular, adequado às condições do educando” (BRASIL, 1988). 2 ato infracional: conduta des- crita como crime ou contravenção penal, isto é, todos os atos consi- derados crimes ou contravenção penal pela legislação, desde que praticados por menores de 18 anos (BRASIL, 1990). Glossário da saúde, principalmente nos percentuais de recursos públicos, que serão destinados à saúde materno-infantil e aos programas de atendi- mento às pessoas com deficiência. No que tange aos jovens, o diploma constitucional estabelece que se- rão determinados por lei o Estatuto da Juventude e o Plano Nacional da Ju- ventude (BRASIL, 2013; 2018), os quais deverão ser articulados por todas as esferas do Poder Público, como disposto no artigo 227 da Constituição. Ainda, verifica-se que a Constituição (1988) e, consequentemente, todas as normas infraconstitucionais que estão no ordenamento ju- rídico brasileiro devem preservar o princípio do melhor interesse da criança e do adolescente. Desse modo, toda e qualquer decisão envol- vendo essa faixa etária sempre será determinada de modo a preservar os seus interesses da melhor forma possível. Isso se aplica, inclusive, no seio familiar e em detrimento aos interesses dos seus genitores. Esse princípio também está disposto no ECA, em seu artigo 4º: é dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educa- ção, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à digni- dade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária. (BRASIL, 1990) Como mencionado, a Constituição trouxe uma importante mudan- ça na proteção da criança e do adolescente. A doutrina da proteção integral e a inclusão de diversos direitos foram implementadas a fim de preservar a condição de pessoa em desenvolvimento. Com isso, houve a implementação de diversos direitos fundamentais da pessoa humana, incluindo-se os da criança e do adolescente, os quais serão discutidos na próxima seção. O vídeo 29 anos do ECA | Conexão, publicado pelo Canal Futura, discorre sobre os avanços e as conquistas obtidas com o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) nos últimos 29 anos. Disponível em: https:// www.youtube.com/ watch?v=Fy5nkC638oA. Acesso em: 13 jul. 2020. Vídeo ESB Professional/Shutterstock Em todas as esferas, deve ser preservado o interesse com absoluta prioridade da criança e do adolescente. 30 Direitos educacionais de crianças e adolescentes Direitos fundamentais da criança e do adolescente 31 2.2 Direitos fundamentais Vídeo São considerados direitos fundamentais aqueles inerentes a todos os seres humanos. Atualmente, estão previstos na Declaração Universal dos Direitos Humanos (ONU, 2009) e afirmados na Constituição (BRASIL, 1988). Esses direitos são oponíveis ao Estado, com a sua atuação limitada e condicionada (AMIN, 2010). Os direitos fundamentais podem ser classificados em gerações ou dimensões. Os direitos de primeira geração são os individuais e coletivos, assegurados no artigo 5º da Constituição, por exemplo, o direito à liberdade. Os direitos de segunda geração se referem aos direitos so- ciais, elencados nos artigos 6º e 7º da Constituição, como o direito à educação. Por fim, os direitos de terceira geração são os direitos difu- sos, dispostos ao longo do documento, como é o caso do direito ao meio ambiente (BRASIL, 1988). No que tange à proteção da criança e do adolescente, os direitos so- ciais são de suma importância, pois são aqueles que o Estado deve asse- gurar, tais como: o direito à vida, à educação, ao lazer, à alimentação, à saúde, à cultura, ao respeito, à dignidade e à convivência familiar e comu- nitária. É importante salientar que os direitos funda- mentais são de aplicação imediata, como estabelece o artigo 227 da Constituição. Ainda, os direitos fundamentais, assegurados na Constituição e estabelecidos no ECA, são de respon- sabilidade do Estado, da família e da sociedade. Nes- se sentido, todos possuem o encargo de proteção de seus direitos. Nas situações de afronta, devem ser encaminhadas as medidas necessárias, levando sem- pre em consideração o melhor interesse da criança e do adolescente. Os direitos fundamentais também estão dispos- tos no ECA, mais especificamente entre os artigos 7º e 69º, livro I, título II (BRASIL, 1990). Nele, estão elen- cados detalhadamente o direito à vida e à saúde, à liberdade, ao respeito e à dignidade, à convivência familiar e comunitária, à educação, à cultura, ao es- porte e ao lazer e à profissionalização e à proteção ao trabalho. Glossário oponível: “passível de se opor ou de funcionar em oposição” (HOUAISS, 2009). Livro Na obra A eficácia dos direitos fundamentais: uma teoria geral dos direitos fundamentais na perspectiva constitucional, Ingo Sarlet realiza um estudo aprofundado dos direitos fundamentais na perspectiva da atual Constituição Federal. SARLET, I. 13. ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2018. 32 Direitos educacionais de crianças e adolescentes O direito à vida pode ser considerado como o mais fundamental e absoluto de todos, pois sem ele não é possível exercer todos os de- mais. Esse direito significa viver com dignidade e não, simplesmente,sobreviver. O direito à saúde não diz respeito apenas à ausência de doenças, mas, sim, ao bem-estar físico, mental e social (AMIN, 2010). É dever da família o cuidado com a saúde da criança e do adolescente, garantindo uma vida saudável. No ECA, o direito à vida e à saúde está disposto no artigo 7º e, por meio de políticas sociais públicas, deve garantir condi- ções dignas de existência, para que sejam permitidos o nascimento e o desenvolvimento sadio e harmonioso da criança e do adolescente. O Poder Público é obrigado a garantir a tutela daqueles que ainda não nasceram e que não têm amparo suficiente, como nos casos em que a família não possui condições financeiras ou não desejam manter o filho em sua companhia. Nesse contexto, verificamos que o ECA esta- belece, em seu artigo 8º, o apoio à mulher e à gestante. Foi por meio do Sistema Único de Saúde (SUS) que o Brasil imple- mentou o acesso à política de saúde. Qualquer gestante tem acesso à nutrição adequada, à atenção humanizada à gravidez, ao atendimento pré-natal, perinatal e pós-natal, ao parto e ao puerpério (NUCCI, 2018). Ainda, nos artigos 9º e 10º do ECA, verifica-se o amparo ao aleita- mento materno, inclusive nos casos de pena privativa de liberdade, e as obrigações inerentes aos hospitais e estabelecimentos de atenção à saúde da gestante (BRASIL, 1990). Toda a proteção à gestante é deter- minada no ECA, pois é uma garantia do direito à vida do nascituro 3 . A proteção à vida também é realizada nas hipóteses de interferên- cia do Estado no seio familiar, como nas situações de castigo físico, de tratamento cruel ou degradante e de maus-tratos, conforme o artigo 13 do ECA (BRASIL, 1990). Esses casos deverão ser encaminhados ao Conselho Tutelar e poderão ser aplicadas outras providencias legais. Em relação ao direito à liberdade, ao respeito e à dignidade, verifica- -se que, conforme define o artigo 15 do ECA, a criança e o adolescente devem ser tratados como pessoas humanas em processo de desenvol- vimento. Além disso, eles devem ser entendidos como sujeitos de direi- tos civis, humanos e sociais, os quais estão garantidos na Constituição Federal (1988) e nos demais dispositivos legais. O SUS é um sistema inovador, que abrange desde o atendimento mais simples até cirurgias mais complexas. O Brasil, no que tange à saúde, pode ser considerado uma referência mundial. Você pode conhecer mais sobre isso no site do Ministério da Saúde. Disponível em: http://www.saude. gov.br/sistema-unico-de-saude. Acesso em: 13 jul. 2020. Site O ser humano concebido, que ainda está em gestação, é chamado de nascituro. O nasci- turo ainda não é considerado uma pessoa natural; contudo, a legislação brasileira adota a teoria natalista para determinar o início da personalidade jurí- dica. Portanto, existem direitos preservados ao nascituro antes do seu nascimento com vida. 3 Direitos fundamentais da criança e do adolescente 33 O direito à liberdade pode ser compreendido, conforme o artigo 16 (BRASIL, 1990), como: I. ir, vir e estar nos logradouros públicos e espaços comunitários, ressalvadas as restrições legais; II. opinião e expressão; III. crença e culto religioso; IV. brincar, praticar esportes e divertir-se; V. participar da vida familiar e comunitária, sem discriminação; VI. participar da vida política, na forma da lei; VII. buscar refúgio, auxílio e orientação. Em linhas gerais, o excerto ressalta que deve ser assegurada a li- berdade de se desenvolver de maneira plena, expandido as suas ca- pacidades individuais. O direito ao respeito, como estabelecido no ECA em seu artigo 17, é a inviolabilidade da integridade física, psíquica e moral da criança e do adolescente. Para tanto, é necessário, ainda, preservar sua imagem, sua identidade, sua autonomia de valores, suas ideias e crenças, seus espaços e seus objetos pessoais. Esse direito não é reproduzido para os maiores de 18 anos e trata- -se de uma novidade em matéria de direitos individuais (NUCCI, 2018). Pode-se verificar que o direito ao respeito é considerado de maneira ampla, visando a garantia do seu desenvolvimento, com base em seus valores e suas vontades. A criança e o adolescente têm o direito de serem criados e educados no seio da sua família, assim como elenca o artigo 19 do ECA (BRASIL, 1990), que está em consonância com o dispositivo 229 da Constituição (1988). Ambos defendem que a convivência entre pais e filhos deve ser assegurada para garantir seu pleno desenvolvimento. Ressalta-se que, apenas de modo excepcional, é possível retirar os filhos da convivência com os pais para colocá-los em uma família substituta. Com base na Constituição, no artigo 227, parágrafo 6º, os filhos serão tratados da mesma forma, independentemente da sua origem. Nessa mesma direção, o ECA, em seu artigo 20, afirma que os filhos havidos ou não do casamento ou por adoção terão os mesmos direitos e qualificações – portanto, é proibido o tratamento discriminatório. Outra importante mudança que decorre da Constituição e foi imple- mentada pelo ECA, em seu artigo 20, é a condição de igualdade entre os sexos e, no caso da família, entre o pai e a mãe, definindo que ambos exercem, em condições de igualdade, o poder familiar (BRASIL, 1990). inviolabilidade: qualidade ou caráter do que é inviolável. Glossário Qual é o papel da família na garantia dos direitos da criança e do adolescente? É possível a intervenção do Estado no seio familiar? Atividade 2 A família substituta é aquela que ficará com a guarda, tutela ou adoção da criança ou do adolescente que não tem condições de ficar com seus pais e, tampouco, com a sua família extensa, biológica. Saiba mais 34 Direitos educacionais de crianças e adolescentes Ainda, qualquer divergência será solucionada pela autoridade judiciá- ria. Na falta de qualquer um deles, poderá ser determinado o seu cumprimento por determinações jurídicas. Igualmente, visto que a responsabilidade dos genitores sobre seus descenden- tes é compartilhada, inclusive o cuidado e a educação, ambos têm o direito de transmitir as suas crenças e culturas, como esta- belece o artigo 22, parágrafo único, do ECA (BRASIL, 1990). Portanto, não é possível a interferência externa no que se refere aos costumes de cada família – desde que, obviamente, esteja sendo resguardada a dignidade da pessoa humana, principalmente dos filhos. A legislação brasileira também prevê as hipóteses de perda ou suspensão do poder familiar, elencadas de maneira clara no Código Civil (2002), dispostas a seguir. Lei Art. 1.637. Se o pai, ou a mãe, abusar de sua autoridade, faltando aos deveres a eles ineren- tes ou arruinando os bens dos filhos, cabe ao juiz, requerendo algum parente, ou o Ministério Público, adotar a medida que lhe pareça reclamada pela segurança do menor e seus haveres, até suspendendo o poder familiar, quando convenha. Parágrafo único. Suspende-se igualmente o exercício do poder familiar ao pai ou à mãe con- denados por sentença irrecorrível, em virtude de crime cuja pena exceda a dois anos de prisão. Art. 1.638. Perderá por ato judicial o poder familiar o pai ou a mãe que: I. castigar imoderadamente o filho; II. deixar o filho em abandono; III. I praticar atos contrários à moral e aos bons costumes; IV. incidir, reiteradamente, nas faltas previstas no artigo antecedente. V. entregar de forma irregular o filho a terceiros para fins de adoção. Parágrafo único. Perderá também por ato judicial o poder familiar aquele que: I. praticar contra outrem igualmente titular do mesmo poder familiar: b. homicídio, feminicídio ou lesão corporal de natureza grave ou seguida de morte, quando se tratar de crime doloso envolvendo violência doméstica e familiar ou me- nosprezo ou discriminação à condição de mulher; c. estupro ou outro crime contra a dignidade sexual sujeito à pena de reclusão IV. praticar contra filho, filha ou outro descendente: a. homicídio, feminicídio ou lesão corporal de naturezagrave ou seguida de morte, quando se tratar de crime doloso envolvendo violência doméstica e familiar ou me- nosprezo ou discriminação à condição de mulher; b. estupro, estupro de vulnerável ou outro crime contra a dignidade sexual sujeito à pena de reclusão. Go od St ud io /S hu tte rs to ck Tendo em vista o importante papel da família no desenvolvimento da criança e do adolescente, é função dos genitores garantir o sustento, a guarda e a educação dos seus filhos menores. Direitos fundamentais da criança e do adolescente 35 Entretanto, é importante salientar que não constitui motivo para a perda ou suspensão do poder familiar a falta de recursos financeiros, conforme dispõe o artigo 23 do ECA, pois não ter condições de susten- tar não significa deixar em desamparo. Nessas situações, é possível o amparo do Estado e de seus programas de assistência. Os casos em que é possível retirar o filho do poder de seus genito- res envolvem situações de grave ameaça ou violação dos direitos fun- damentais. Como exemplo, podemos citar as ocorrências elencadas na Lei Maria da Penha (BRASIL, 2006), em que há violência doméstica tanto em relação ao filho quanto em relação ao outro genitor. Diante das circunstâncias apresentadas, a retirada da criança ou do adolescente da sua família de origem será realizada apenas excep- cionalmente e em situações de extrema necessidade. O procedimento será realizado por via judicial, com a atuação do Ministério Público e garantindo o contraditório e a ampla defesa dos genitores. No que tange aos direitos fundamentais da criança e do adolescen- te, podemos verificar que o ECA estabelece a atuação do Estado no seio da família natural e na atuação da família extensa e da família substituta. Por fim, é direito fundamental da criança e do adolescente o acesso à profissionalização e à proteção no trabalho, sem- pre garantindo a condição de pessoa em desenvolvimento. Nas hipóteses de trabalho de menores de 18 anos, serão ob- servados os dispostos no ECA e na Constituição. contraditório: é o direito a contraditar a acusação no processo judicial. Consiste no direito à defesa de todos os pontos suscitados na ação. família extensa ou ampliada: “aquela que se estende para além da unidade pais e filhos ou da unidade do casal, formada por parentes próximos com os quais a criança ou adolescente convive e mantém vínculos de afinidade e afetividade” (BRASIL, 1990). Glossário Monkey Business Images/Shutterstock O direito à profissionalização da criança e do adolescente é garantido por lei. 2.3 Direito à educação Vídeo O direito à educação é considerado um direito fundamental social, conforme estabelece a Constituição, artigo 227, caput: é dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissiona- lização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convi- vência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda 36 Direitos educacionais de crianças e adolescentes forma de negligência, discriminação, exploração, violência, cruel- dade e opressão. (BRASIL, 1988) Na leitura do excerto, verifica-se que o direito fundamental à educa- ção é um dever compartilhado entre família, sociedade e Estado. Isso se dá, como já mencionado, devido à condição de pessoa em desenvol- vimento, da criança e do adolescente, e à importância da educação na sua formação como indivíduo. No ECA, o artigo 53 estabelece que, tendo em vista a importância da educação para o exercício da cidadania e para a qualificação ao traba- lho, é necessário garantir: I – igualdade de condições para o acesso e permanência na escola; II – direito de ser respeitado por seus educadores; III – direito de contestar critérios avaliativos, podendo recorrer às instâncias escolares superiores; IV – direito de organização e participação em entidades estudantis; V– acesso à escola pública e gratuita, próxima de sua residência, garantindo-se vagas no mesmo estabelecimento a irmãos que frequentem a mesma etapa ou ciclo de ensino da educação bá- sica. (BRASIL, 1990) O ECA estabelece relevantes proteções no que se refere ao direito à educação da criança e do adolescente. O acesso e a permanência na es- cola significam a obrigatoriedade do ensino gratuito em todos os níveis, incluindo o ensino fundamental. É importante, portanto, uma política pública efetiva, com foco na garantia do acesso à educação para todas as crianças e todos os adolescentes. Alguns governos utilizam a política educacional denominada pro- gressão continuada, constituída por ciclos de ensino, com o objetivo de manter o aluno na escola por meio de anos; no caso do insucesso do estudante, ele não irá reprovar, mas, sim, fazer a recuperação por meio de aulas extras (NUCCI, 2018). No que diz respeito aos educadores, o ECA afirma que o aluno não pode ser destratado pelo professor em hipótese alguma. O mesmo se aplica aos dirigentes da instituição de ensino, que devem tratar todos os alunos com dignidade e respeito. Entretanto, é importante ressaltar que o direito ao respeito é uma via de mão dupla e, por isso, os educa- dores também devem ser respeitados pelos alunos e famílias. Direitos fundamentais da criança e do adolescente 37 Na sequência, é observado o direito de contestar os critérios avaliati- vos. Esse dispositivo significa que não é permitida a discricionariedade abusiva nas avaliações escolares (NUCCI, 2018). Porém, salienta-se que isso não impede a liberdade de cátedra, assegurada aos profissionais do ensino na Lei de Diretrizes e Bases (BRASIL, 1996), apenas compreen- de a aplicação de critérios claros e lógicos nos padrões avaliativos. Além disso, é assegurada a liberdade para organização e participa- ção em entidades estudantis, ou seja, grêmios, diretórios ou centros acadêmicos. Logo, desde que compatível com as regras de convivência impostas pela instituição de ensino, é livre o funcionamento de entida- des estudantis (NUCCI, 2018). Destaca-se que o direito ao acesso à escola está disposto no inciso I e V do ECA (BRASIL, 1990); a sua promoção deve ser pública e gratuita e próxima ao local de residência do aluno. Ainda, no caso do estudante possuir irmão(s), é necessário verificar se eles estão na mesma insti- tuição de ensino, devendo garantir vaga para ambos no mesmo local. Além disso, no que tange ao direito à educação, que o Estado deve assegurar, conforme o artigo 54 do ECA: I – ensino fundamental, obrigatório e gratuito, inclusive para os que a ele não tiveram acesso na idade própria; II – progressiva extensão da obrigatoriedade e gratuidade ao en- sino médio; III – atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino; IV – atendimento em creche e pré-escola às crianças de zero a cinco anos de idade; V – acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da criação artística, segundo a capacidade de cada um; VI – oferta de ensino noturno regular, adequado às condições do adolescente trabalhador; VII – atendimento no ensino fundamental, através de programas suplementares de material didático-escolar, transporte, alimen- tação e assistência à saúde. (BRASIL, 1990) Desse modo, pode-se compreender que o Estado tem o dever de garantir, efetivamente, todas as formas de educação, desde o ensino fundamental, passando pelo ensino médio e chegando aos níveis mais elevados de ensino. Entretanto, os atendimentos em creche e pré-esco- la também são de sua responsabilidade, bem como no ensino noturno regular, visando à adaptação aos horários de trabalho do adolescente. discricionariedade: agir de maneira livre, arbitrária. Glossário No que se refere ao direito à educação, o acesso deverá ser realizado de que modo? Atividade 3 38 Direitos educacionais de crianças e adolescentes Ressalva-se, ainda, que é de responsabilidade do Estado o
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