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6 direitos educacionais de crianças e adolescentes

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Esta obra tem como objetivo analisar os direitos edu-
cacionais das crianças e dos adolescentes com a premissa 
de compreender suas necessidades. O estudo desses di-
reitos é indispensável para realizar o trabalho adequado 
ao desenvolvimento escolar, essencial para garantir a pro-
moção das capacidades e das liberdades dos indivíduos.
Para tanto, é discutida a proteção estabelecida na 
Constituição Federal e no Estatuto da Criança e do Ado-
lescente (ECA) e são estudados os mecanismos de prote-
ção assegurados pelo Conselho Tutelar e pelo Ministério 
Público, bem como o papel da justiça em relação ao direi-
to à educação, além, é claro, da observação dos demais 
direitos fundamentais.
Código Logístico
59551
Fundação Biblioteca Nacional
ISBN 978-85-387-6677-3
9 7 8 8 5 3 8 7 6 6 7 7 3
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Direitos educacionais 
de crianças e 
adolescentes 
Anelize Pantaleão Puccini Caminha
IESDE BRASIL
2020
© 2020 – IESDE BRASIL S/A. 
É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito do autor e do 
detentor dos direitos autorais.
Projeto de capa: IESDE BRASIL S/A. Imagem da capa: Envato Elements
Todos os direitos reservados.
IESDE BRASIL S/A. 
Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200 
Batel – Curitiba – PR 
0800 708 88 88 – www.iesde.com.br
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO 
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ
C191d
Caminha, Anelize Pantaleão Puccini
Direitos educacionais de crianças e adolescentes / Anelize Pantaleão 
Puccini Caminha. - 1. ed. - Curitiba [PR] : IESDE, 2020. 
98 p. : il.
Inclui bibliografia
ISBN 978-85-387-6677-3
1. Direito à educação. 2. Direito das crianças - Brasil. 3. Brasil. [Estatuto 
da criança e do adolescente (1990)]. I. Título.
20-65429 CDD: 379.26
CDU: 37.014.12
Anelize Pantaleão 
Puccini Caminha
Doutoranda em Direito pela Pontifícia Universidade 
Católica do Paraná́ (PUCPR). Mestre em Direito pela 
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e 
especialista em Processo Civil pela mesma instituição. 
Bacharel em Direito pela Pontifícia Universidade 
Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Atua como 
professora no ensino superior há́ quatro anos. É 
docente em um centro universitário e em diversas 
especializações e cursos preparatórios. Autora de 
artigos científicos e livros na área, é também sócia-
proprietária de um escritório de advocacia.
SUMÁRIO
Agora é possível acessar os vídeos do livro por 
meio de QR codes (códigos de barras) presentes 
no início de cada seção de capítulo.
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a câmera fotográ�ca de seu smartphone ou tablet 
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Em alguns dispositivos é necessário ter instalado 
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1 Evolução histórico-sociológica da infância e da adolescência 9
1.1 Evolução dos conceitos de criança e de adolescente 10
1.2 A teoria da situação irregular 14
1.3 A teoria da proteção da criança e do adolescente 18
2 Direitos fundamentais da criança e do adolescente 26
2.1 Proteção constitucional da criança e do adolescente 26
2.2 Direitos fundamentais 31
2.3 Direito à educação 35
3 Relação entre criança, adolescente, escola e família 43
3.1 Condições peculiares de desenvolvimento escolar 44
3.2 Responsabilidade da instituição de ensino 48
3.3 Responsabilidade da família 54
4 Direito ao desenvolvimento escolar 61
4.1 Direito das crianças e dos adolescentes com deficiência 61
4.2 Acessibilidade e sistema educacional inclusivo 67
4.3 Bullying e cyberbullying 72
5 Proteção da criança e do adolescente 79
5.1 Direito à profissionalização e à proteção no trabalho 79
5.2 Política de atendimento 85
5.3 Atos infracionais 87
5.4 Medidas de proteção e medidas socioeducativas 91
Esta obra tem como objetivo analisar os direitos educacionais das crianças 
e dos adolescentes com a premissa de compreender suas necessidades. O 
estudo desses direitos é indispensável para realizar o trabalho adequado ao 
desenvolvimento escolar.
Nesse sentido, no primeiro capítulo, analisa-se a evolução dos direitos das 
crianças e dos adolescentes. Para tanto, foi necessário abordar a já superada 
teoria da situação irregular e a compreensão da atual teoria, chamada de 
teoria da proteção integral. Esses esclarecimentos são essenciais para que se 
compreenda a importância da proteção e da atenção para o desenvolvimento 
escolar adequado. 
Os direitos fundamentais da criança e do adolescente presentes no 
ordenamento jurídico brasileiro são tema do segundo capítulo. Evidencia-se 
a importância de entender a proteção estabelecida na Constituição Federal 
e no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) para o direito à educação, 
além, é claro, da observação dos demais direitos fundamentais. 
No terceiro capítulo, propõe-se uma reflexão sobre a relação entre a 
criança, o adolescente, a escola e a família. A intenção é entender quais são 
as obrigações e atribuições da instituição de ensino e as responsabilidades 
da escola e da família. Destaca-se a necessidade da verificação das condições 
peculiares de desenvolvimento escolar.
O direito ao desenvolvimento escolar é essencial para garantir a 
promoção das capacidades e das liberdades dos indivíduos, por isso é objeto 
de análise do quarto capítulo. São abordadas as questões que envolvem a 
educação inclusiva e os estudantes com deficiência, principalmente após 
as mudanças legislativas resultantes do Estatuto da Pessoa com Deficiência 
(EPD). As condições necessárias para o desenvolvimento das crianças e dos 
adolescentes no ambiente escolar, bem como o papel da escola e da família 
nos casos de bullying e cyberbullying, também são assunto desse capítulo. 
Por fim, o quinto capítulo estuda a proteção da criança e do adolescente 
no trabalho e as formas como isso se efetua na legislação vigente. Os 
mecanismos de proteção assegurados pelo Conselho Tutelar, pelo Ministério 
Público e o papel da justiça são igualmente discutidos nesse capítulo. 
Bons estudos!
APRESENTAÇÃO
Evolução histórico-sociológica da infância e da adolescência 9
1
Evolução histórico-sociológica 
da infância e da adolescência
Neste capítulo, iniciam-se os estudos sobre os direitos edu-
cacionais da criança e do adolescente. Se discorrerá sobre como 
surgiram as garantias e proteções, e de que modo a escola e a so-
ciedade devem trabalhar para protegerem a infância e a juventude.
Para se atingir este objetivo, é necessário primeiramente co-
nhecer os conceitos de criança e de adolescente. É importante 
verificar a evolução e a transformação da proteção jurídica para 
compreender suas garantias atuais. Será estudado efetivamente 
esta evolução ao longo da sociedade, iniciando com a Antiguidade, 
passando pela Idade Média e chegando até os dias atuais.
Em seguida, será analisada a teoria da situação irregular, apli-
cada no Brasil durante muitos anos até a promulgação da atual 
Constituição Federal (1988). Serão abordadas as quatro fases dos 
conceitos de criança e de adolescente e dos seus respectivos direi-
tos e garantias, bem como serão debatidos os conceitos da teoria 
da proteção integral.
Se conhecerá, por fim, a teoria aplicada atualmente, que sur-
giu com a Constituição de 1988. O intuito principal é de proteção 
e de preservação dos direitos das crianças e dos adolescentes. 
Com base neste conceito,ainda, surgiu o Estatuto da Criança e do 
Adolescente (ECA), importante instrumento de direitos e garantias 
fundamentais, que busca corroborar com os direitos fundamentais 
elencados na Constituição.
10 Direitos educacionais de crianças e adolescentes
1.1 Evolução dos conceitos de 
criança e de adolescente Vídeo
Os conceitos de criança e de adolescente passaram por diversas 
transformações ao longo da história da humanidade. As crianças e os 
adolescentes nem sempre tiveram uma proteção jurídica efetiva e, em 
alguns momentos, nem proteção alguma. Neste contexto, é importan-
te estudar a evolução do seu tratamento para melhor compreender o 
momento em que se vive atualmente.
Na Grécia e na Roma antiga, a criança e o adolescente não possuíam 
qualquer proteção jurídica, pois eram considerados uma propriedade 
do Estado e da família e, entre os séculos XVI ao XIX, eram tratados 
como seres sem qualquer relevância; o alto índice de mortalidade dos 
jovens, por exemplo, não era encarado como uma tragédia. Do mesmo 
modo, a infância não era tratada com importância.
Como mencionado, por muitos séculos a criança foi tratada como 
uma propriedade do chefe da família, devendo obedecer às suas von-
tades. Não havia qualquer ilicitude em castigar de maneira imoderada 
que, porventura, resultasse na morte.
Independentemente da idade, os filhos viviam sob a autoridade dos 
pais enquanto morassem na casa da família. O chefe da família era 
sempre o homem mais importante do clã, assim, na falta do pai, quem 
assumia era o avô. Como eram considerados propriedade e, não, sujei-
to de direitos, os pais podiam decidir o destino dos seus filhos, inclusive 
sua vida e morte (AMIN; MACIEL, 2010).
Durante a antiguidade, não havia qualquer distinção no tratamen-
to de crianças e adolescentes. Para os gregos, só eram mantidas vivas 
as crianças saudáveis (AMIN; MACIEL, 2010). Na cidade de Esparta, por 
exemplo, as crianças eram consideradas patrimônio do Estado, por-
tanto, estavam sob sua responsabilidade. Já no oriente era costume 
sacrificar algumas crianças por serem impuras.
Na Idade Média, iniciou-se uma importante evolução no reconhe-
cimento da dignidade das crianças e dos adolescentes. Embora ainda 
fossem considerados objeto de direito, desenvolveu-se um tratamento 
com respeito. Esse fato ocorreu em virtude da influência da religião 
cristã que cresceu durante esse período.
Qual foi o papel da igreja na 
garantia de direitos das crianças 
e dos adolescentes?
Atividade 1
Evolução histórico-sociológica da infância e da adolescência 11
A Igreja Católica exerceu um papel importante nesta evolução, 
pois foi pioneira no reconhecimento de direitos para as crianças, 
defendendo à dignidade e atenuando o tratamento severo dado pe-
los pais aos filhos. Entretanto, também salientou o dever de respei-
to, como leciona o quarto mandamento bíblico: “honrar pai e mãe” 
(AMIN; MACIEL, 2010).
Foi justamente nesse momento que surgiu a concepção assisten-
cialista. Com a influência da Igreja Católica, houve a criação de diversas 
entidades com o objetivo de prestar auxílio aos vulneráveis e, entre 
eles, às crianças que estavam em situação de marginalização.
No que tange aos tratados internacionais, nota-se uma importante 
evolução. No século XX foram criados diversos diplomas com o obje-
tivo de positivar uma especial proteção às pessoas em situações de 
vulnerabilidade. A Convenção para a Repressão do Tráfico de Mulheres 
e Crianças (1921) foi o primeiro diploma internacional que expressou a 
tutela de crianças e adolescentes.
Em 1924, pela primeira vez, os direitos das crianças foram referen-
ciados na Declaração de Genebra. Em 1948, a Declaração Universal dos 
Direito Humanos implementou, além de diversas garantias fundamen-
tais, a proteção à maternidade e a assistência social às crianças, inde-
pendentemente de suas origens biológicas. Com isso, implementou-se 
uma importante mudança na garantia dos direitos humanos.
Em 1946, foi criado o Fundo das Nações Unidas para a Infância 
(Unicef), agência das Nações Unidas que tem por objetivo promover a 
defesa dos direitos das crianças. O Unicef, vale ressaltar, é a única or-
ganização destinada exclusivamente às crianças. Logo após, em 1959, 
foram fixados diversos princípios basilares, com a aprovação do Unicef, 
referentes à proteção dos direitos das crianças.
No Brasil, levando em consideração a importante mudança no que 
tange aos direitos da criança e do adolescente na esfera mundial, po-
demos verificar que a evolução do conceito e dos direitos transcorreu 
em quatro importantes fases:
A Declaração Universal dos 
Direitos Humanos, proclamada 
na Assembleia Geral das Nações 
Unidas, em Paris, no dia 10 de 
dezembro de 1948, estabeleceu, 
pela primeira vez na história, a 
proteção aos direitos humanos. 
Desde então, uma série de 
tratados internacionais buscam 
expandir a sua proteção e, 
inclusive, diversas constituições 
utilizam o seu escopo como 
inspiração. Recomendamos a 
leitura integral do documento 
que está disponível em: https://
www.ohchr.org/EN/UDHR/
Pages/Language.aspx?LangI-
D=por. Acesso em: 9 jul. 2020.
Leitura
Você pode conhecer mais sobre 
a atuação do Unicef em: https://
www.unicef.org/brazil/o-que-
-fazemos. Acesso em: 9 jul. 
2020.
Site
12 Direitos educacionais de crianças e adolescentes
A primeira fase é conhecida como a fase da indiferença absoluta, 
em que não havia a tutela dos direitos das crianças e adolescentes e 
transcorreu até o início do século XVI.
Na história da colonização do Brasil, as crianças tiveram um papel 
essencial na catequização dos índios pelos jesuítas. Como aprendiam 
de modo mais simples, os filhos educavam e catequizavam os pais. Por 
isso, as crianças receberam atenção especial dos colonizadores (AMIN; 
MACIEL, 2010).
Neste momento, ainda se aplicavam as Ordenações do Reino, nas 
quais o pai era considerado autoridade máxima na família. Assim, ele 
tinha autoridade para castigar o filho da forma que entendesse melhor. 
Logo, se o filho falecesse ou sofresse alguma lesão em decorrência do 
castigo, era excluída a ilicitude da conduta (AMIN; MACIEL, 2010).
A segunda fase é conhecida como a fase da mera imputação penal, 
momento que foram implementadas punições para as condutas 
praticadas por crianças e adolescentes, período ocorrido entre o século 
XVI até o Código de Menores, de 1979.
Foi neste momento que surgiu a preocupação com os infratores 
menores de idade e uma política repressiva que se baseava no temor 
das penas. Nas Ordenações Filipinas – parte das Ordenações do Reino 
de Portugal, utilizada como legislação no Brasil até 1870 –, aos 7 anos 
de idade, era alcançada a imputabilidade penal; entre 7 e 17 anos, apli-
cava-se um tratamento semelhante ao do adulto com atenuação na 
aplicação da pena; e, dos 17 aos 21 anos, considerava-se jovens adul-
tos, os quais poderiam sofrer a pena de morte natural. O crime de 
falsificação era uma exceção e se aplicava a pena de morte a partir dos 
14 anos de idade (AMIN; MACIEL, 2010).
Séculos adiante, mais precisamente em 1830, o Código Penal do Im-
pério foi alterado, incluindo o exame de capacidade de discernimento 
para a aplicação de penas. As pessoas com menos de 14 anos foram 
consideradas inimputáveis.
Na primeira metade do século XX, as crianças e os adolescentes co-
meçaram a receber tutela do Estado. Neste momento, entrou em vigor 
o Código Civil de 1916 e o Decreto n. 17.943-A de 1927, conhecido como 
As Ordenações do Reino eram 
normas, ordens e decisões 
portuguesas que, por muitos 
anos, foram utilizadas pelo Brasil 
como até a formulação de uma 
legislação própria. 
Saiba mais
Pena de morte natural: pre-
vista nas Ordenações Filipinas, 
era a morte após a sentença por 
enforcamento.
Inimputável: que não se 
pode imputar, isto é, atribuir 
responsabilidade.
Glossário
Evolução histórico-sociológica da infância e da adolescência 13
o primeiro Código de Menores do Brasil. Ressalta-se que esse diploma 
legal resguardavaapenas aqueles que se encontravam em situação 
irregular (LIMA; POLI; JOSÉ, 2017). Os menores considerados abando-
nados 1 ou delinquentes 2 eram distinguidos dos demais de maneira 
discriminatória.
Em 1948, como já mencionado, a Declaração Universal dos Direitos 
Humanos reconheceu a dignidade a todos os membros da família, ga-
rantindo direitos iguais e inalienáveis. Foi assegurada a igualdade de 
tratamento perante a lei, os cuidados necessários à infância e o trata-
mento igualitário aos filhos independentemente da sua origem, dentre 
outras garantias previstas (LIMA; POLI; JOSÉ, 2017).
A terceira fase é denominada como a fase da tutela. Este momento 
é caracterizado pela proteção por meio de assistencialismo e práticas 
segregatórias de crianças e adolescentes em situação irregular, essa 
situação se estendeu desde a edição do Código de Menores de 1979 até 
a Constituição de 1988. A proteção assistencialista tinha como prática 
rotineira a retirada do menor do seio familiar e a sua colocação na 
instituição. Essas crianças e adolescentes eram segregados das demais, 
que permaneciam no seio familiar.
A partir do Código de Menores de 1979, instalou-se a teoria da 
situação irregular que ainda mantinha o conceito de marginalidade. 
Embora considerasse a criança e o adolescente como incapazes de 
responder por seus atos, considerava perigosos os menores que ti-
nham propensão à delinquência e, em algumas situações, inclusive, 
os provenientes de famílias carentes. Os menores nessas circunstân-
cias eram considerados como “menores em situação irregular” (LIMA; 
POLI; JOSÉ, 2017, p. 324).
Livro
A obra Capitães de areia – clássico do escritor 
baiano Jorge Amado (1912-2001), publicado pela 
primeira vez no ano de 1937 – retrata o dia a dia 
de meninos de rua abandonados e marginalizados 
na cidade de Salvador. Ao ler a obra, é interessante 
notar o cotidiano das crianças e adolescentes que 
viviam em situação de vulnerabilidade durante o 
período que vigorava a teoria da situação irregular.
AMADO, J. São Paulo: Companhia das Letras, 2008.
O art. 26 considerava 
abandonado o menor: que 
não tinha habitação certa, nem 
meios de subsistência; com 
responsável impossibilitado 
ou incapaz de cumprir os seus 
deveres; responsáveis com 
prática de atos contrários à 
moral e aos bons costumes; 
aquele em estado de vadiagem, 
mendicidade ou libertinagem; 
que frequentava lugares de jogo 
ou de moralidade duvidosa, ou 
andasse em má companhia; que 
se encontrava em situação de 
crueldade, abuso, negligência, 
maus tratos ou exploração; 
empregado em ocupações 
proibidas ou contrarias à moral 
e aos bons costumes; excitado 
para a gatunice, mendicidade ou 
libertinagem; com responsável 
condenado por sentença irrecor-
rível e encobridor ou receptador 
de crime cometido.
1
O art. 28 do considerava vadio o 
menor que: resistente a receber 
instrução ou entregar-se a 
trabalho sério e útil, vagando 
habitualmente pelas ruas; 
deixado sem causa legítima 
o domicilio do pai, mãe ou 
tutor, não tendo domicílio nem 
alguém por si. Os mendigos 
eram os que habitualmente 
pedem esmola para si ou para 
outrem. Por fim, os libertinos 
eram os que perseguiam ou 
convidavam para a prática de 
atos obscenos; entregam-se 
à prostituição em seu próprio 
domicílio, vivem em casa de 
prostituição, ou frequentam casa 
de tolerância; praticantes de 
atos obscenos ou que vivem da 
prostituição de outrem.
2
14 Direitos educacionais de crianças e adolescentes
A quarta e atual fase é a da proteção integral, a qual considera 
as crianças e os adolescentes como sujeito de direitos e assegura, 
em conjunto com o Estado, sociedade e família, esses direitos como 
prioridade absoluta. Essa fase teve início com a Constituição de 1988 e 
perdura até os dias de hoje. 
A Figura 1 a seguir sintetiza a evolução dessas quatro fases.
Figura 1
A evolução dos direitos da criança e do adolescente
Indiferença absoluta
(até o início do século XVI)
Tutela
(do Código de 
Menores de 1979 até a 
Constituição de 1988)
Mera imputação penal 
(do século XVI até o 
Código de Menores de 
1979)
Proteção integral
(a partir da Constituição 
de 1988)
Fonte: Elaborada pela autora.
A evolução dos direitos da criança e do adolescente é um proces-
so que atravessou pelo menos quatro séculos. Após a Constituição 
(1988), como veremos nas seções a seguir, houve uma importante 
mudança com a aplicação do princípio da proteção integral. O objeti-
vo é garantir a proteção plena da criança e do adolescente indepen-
dentemente da situação.
1.2 A teoria da situação irregular
Vídeo Para o adequado estudo da evolução histórico-sociológica dos di-
reitos das crianças e dos adolescentes, é necessário primeiramente o 
estudo da teoria da situação irregular, a qual vigorou no Brasil durante 
anos e só foi superada com a atual Constituição e com a teoria da pro-
teção integral.
A primeira legislação sobre menores no Brasil é o Decreto n. 17.943-A, 
também conhecido por Código Mello Matos (BRASIL, 1927). Nessa legis-
lação, foram implementadas algumas inovações no tratamento dado 
aos menores infratores, e as decisões passaram a ser centralizadas na 
figura do juiz de menores.
Evolução histórico-sociológica da infância e da adolescência 15
Entretanto, ainda assim não se verificava o papel da família no de-
senvolvimento da criança e do adolescente. Nesse momento, era mais 
importante proteger a sociedade dos infratores do que compreender o 
motivo pelo qual os menores seguiam o caminho da marginalidade. Este 
tipo de postura ficou conhecido como doutrina da situação irregular.
A política de proteção era voltada para a sociedade e não para a 
recuperação dos menores, os quais eram retirados do seio de suas fa-
mílias. Com a influência da Igreja Católica, aos poucos, esses jovens 
passaram a adquirir alguns direitos.
Durante esse período, o objetivo principal era deter o menor, uti-
lizando o regime de internações, com quebra dos vínculos familiares, 
para não acarretar maiores danos à sociedade. Na Constituição de 1937, 
houve a criação de programas de assistência social, o que ampliou a 
proteção às crianças e aos adolescentes infratores e desfavorecidos.
Anos após, já durante a ditadura militar brasileira (1964-1985), o pro-
gresso foi interrompido e muitos dos institutos utilizados para a proteção 
da infância e da juventude serviram para restringir ameaças e pressões 
recebidas. Nesta época, a maioridade foi reduzida para 16 anos.
No Direito brasileiro, a teoria da situação irregular surgiu apenas de ma-
neira implícita no Código de Menores, influenciado pelo juiz Mello Mattos, 
e foi positivada anos depois no Código de Menores de 1979.
Em razão da falta, ação ou omissão dos pais ou responsáveis, o menor 
poderia ser privado de condições essenciais à sua subsistência. Os jovens 
submetidos à situação irregular estavam descritos no artigo 2º como:
privado de condições essenciais à sua subsistência, saúde e ins-
trução obrigatória, ainda que eventualmente, em razão de: a) 
falta, ação ou omissão dos pais ou responsável; b) manifesta im-
possibilidade dos pais ou responsável para provê-las; II – vítima 
de maus tratos ou castigos imoderados impostos pelos pais ou 
responsável; III – em perigo moral, devido a: a) encontrar-se, de 
modo habitual, em ambiente contrário aos bons costumes; b) 
exploração em atividade contrária aos bons costumes; IV – priva-
do de representação ou assistência legal, pela falta eventual dos 
pais ou responsável; V – Com desvio de conduta, em virtude de 
grave inadaptação familiar ou comunitária; VI – autor de infração 
penal. (BRASIL, 1979)
Com base nesse excerto, verifica-se que o Código de Menores prote-
gia aqueles que eram vítimas de maus-tratos e que estavam sujeitos a 
16 Direitos educacionais de crianças e adolescentes
perigo moral por se encontrarem em ambientes ou atividades 
contrárias aos bons costumes. Ainda havia a hipótese que 
o menor autor de infração penal apresentasse “desvio de 
conduta, em virtudede grave inadaptação familiar ou 
comunitária” (BRASIL, 1979).
Outra peculiaridade desse dispositivo foi a desig-
nação de um juiz de menores, ou seja, um juiz espe-
cializado para este tipo de processo. Entretanto, essa 
prática resultou em uma segregação entre os próprios 
menores, pois tanto aqueles que foram abandonados 
quanto os que foram detidos iam para a mesma institui-
ção: a Fundação Estadual do Menor (Febem). Atualmente, 
a Febem não existe mais, ela foi substituída por fundações esta-
duais que tem como objetivo o atendimento socioeducativo da crian-
ça e do adolescente.
O juiz de menores atuava apenas nos casos que envolviam menores 
em situação de delinquência ou abandono. Nas demais questões que 
envolvessem crianças e adolescentes, a competência era da Vara de 
Família 4 , que utilizava o Código Civil como fundamento legal. Havia 
uma clara distinção entre as crianças e os adolescentes que estavam 
sob os cuidados das suas famílias e aqueles abandonados e infratores.
No modelo da teoria da situação irregular, é importante ressaltar, 
não havia nenhuma preocupação em manter os vínculos familiares. 
Entendia-se que se a criança ou o adolescente chegou ao ponto de pre-
cisar do amparo do Código de Menores não eram necessários esforços 
para verificar e tentar manter os vínculos consanguíneos.
Além disso, não havia uma garantia de direitos, mas, sim, uma atua-
ção nas consequências das atitudes. Portanto, essa política não era 
voltada à educação do menor infrator ou à proteção do menor aban-
donado, ela serviria apenas para estabelecer medidas restritivas. O ob-
jetivo era a proteção da sociedade perante o menor, e não do menor 
perante a situação em que ele se encontrava.
No ano de 1964, surgiu a Política Nacional do Bem-estar do Menor 
(Pnbem), a qual contava com uma gestão centralizadora e verticalizada 
para a atuação das Febem. Entretanto, era nítida a contradição entre 
a prática e a técnica. Em alguns casos, a única opção para a tutela de 
carentes e delinquentes era a internação, que gerava, na maior parte 
das vezes, a segregação (AMIN, 2010).
ALFATEH PAL/Shutterstock
A legislação 
não encarava efetivamente 
as causas que geravam a 
carência ou a delinquência, 
mas, sim, atia-se ao binômio 
carência-delinquência. A 
atuação do Estado se restringia 
à consequência dos atos 
praticados pelos menores ou 
contra eles.
Na justiça estadual, geralmente 
existe uma vara especializada 
em processos envolvendo 
conflitos familiares.
4
Quais eram as principais falhas 
da teoria da situação irregular?
Atividade 2
Evolução histórico-sociológica da infância e da adolescência 17
Deve-se ressaltar que a cultura da internação não distinguia infrato-
res de abandonados, pelo contrário, mantinham todos internados no 
mesmo local. Não havia outra alternativa que não fosse a internação, 
eram raras as situações em que o menor conseguia a colocação em 
uma família substituta. 
Em outras palavras, não havia uma política de atendimento efetivo 
visando libertar a criança e o adolescente da condição em que se en-
contravam. Logo, suas dificuldades e necessidades não eram levadas 
em consideração no sentido emancipador. Não era escopo do Estado 
elevá-los à condição de cidadãos emancipados (SAUT, 2007).
É importante ressaltar que esse modelo se deu no Brasil mesmo após 
os diversos tratados internacionais sobre direitos humanos, como a pró-
pria Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948, que garantiu 
diversos direitos, inclusive a proteção da criança e do adolescente.
Entre o período da Declaração Universal dos Direitos do Humanos 
de 1948 e a Constituição Federal de 1988, houve uma intensa mobili-
zação a fim de modificar o modelo de sistema jurídico restrito aos me-
nores abandonados ou em estado de delinquência. No Brasil, diversas 
organizações populares nacionais e a pressão de organismos interna-
cionais, como o Unicef, tornaram o legislador constituinte sensível à 
causa (AMIN, 2010). A Declaração dos Direitos Humanos destaca o con-
ceito de família como um núcleo natural e fundamental da sociedade 
que tem direito à proteção da sociedade e do Estado (SAUT, 2007).
Importante
No cenário nacional, é possível verificar diversos diplomas que contemplam a prote-
ção da criança e do adolescente, como a Declaração de Genebra (1924), que, como 
mencionado, foi o primeiro documento que trouxe a necessidade de proteção especial 
à criança e ao adolescente; a Convenção Americana sobre os Direitos Humanos (1969) 
e as Regras Mínimas das Nações Unidas para a Administração da Justiça da Infância e 
da Juventude – Regras Mínimas de Beijing (1985). Salienta-se que, em decorrência 
desses diplomas legais, a teoria da situação irregular foi superada pela teoria da pro-
teção da criança e do adolescente (AMIN, 2010).
Outros importantes diplomas internacionais que tratam sobre direitos da criança e do 
adolescente são: Direitos das Nações Unidas para a prevenção da delinquência juve-
nil – Diretrizes de Riad (1990); Regras mínimas das Nações Unidas para proteção de 
jovens privados de liberdade (1990); e Convenção das Nações Unidas sobre os direitos 
das crianças – promulgada no Brasil pelo Decreto n. 99.710, de 21 de novembro de 
1990 (BRASIL, 1990).
18 Direitos educacionais de crianças e adolescentes
Em decorrência dessa mudança de paradigma, houve, no Brasil, 
uma importante mobilização nacional chamada Movimento Nacional dos 
Meninos e Meninas de Rua (MNMMR), a qual realizou, no ano de 1984, o 
primeiro Encontro Nacional de Meninos e Meninas de Rua. A intenção 
era debater sobre questões relativas a crianças e adolescentes rotulados 
como menores abandonados ou meninos de rua (AMIN, 2010).
Logo após, em 1986, a Comissão Nacional da Criança Constituin-
te surgiu com o objetivo de incluir direitos infanto-juvenis e reuniu 
1 milhão e 200 mil assinaturas a fim de promover a sua emenda. Com 
isso, a Comissão garantiu um intenso lobby para a inclusão dos respec-
tivos direitos na nova Constituição (AMIN, 2010, p. 8). Após esse intenso 
movimento, deu-se o fim da teoria da situação irregular no Brasil, e o 
início da teoria da proteção da criança e do adolescente.
No artigo Entre a doutrina da situação irregular e a da proteção integral: o 
conceito de vulnerabilidade e a aplicação de medidas socioeducativas a partir da 
jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, publicado na Revista Brasileira 
de Direito (2018), Ana Paula Motta Costa, Sofia de Souza Lima Safi e Roberta 
Silveira Pamplona desenvolvem uma importante análise da evolução da dou-
trina da situação irregular para a teoria da proteção integral. É importante 
verificar que a análise se dá utilizando a jurisprudência do Superior Tribunal 
de Justiça.
Acesso em: 1 jul. 2020. 
https://seer.imed.edu.br/index.php/revistadedireito/article/view/1947/2017.
Artigo
1.3 A teoria da proteção da criança 
e do adolescente 
Vídeo No Brasil, a doutrina da proteção integral da família teve, como mar-
co definitivo, a Constituição Federal de 1988. No ordenamento, está 
referido no artigo 227:
é dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, 
ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à 
vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissiona-
lização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convi-
vência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda 
forma de negligência, discriminação, exploração, violência, cruel-
dade e opressão. (BRASIL, 1988)
Evolução histórico-sociológica da infância e da adolescência 19
Desta maneira, foi rompido qualquer vestígio da teoria da situação 
irregular e, a partir de então, todo o ordenamento jurídico se estru-
turou para garantir a proteção integral da criança e do adolescente. 
Pode-se verificar que os direitos previstos devem ser assegurados com 
absoluta prioridade e é necessário levar em consideração o desenvolvi-
mento da criança e do adolescente.
É importante ressaltar que a Constituição também garantiuimpor-
tantes mudanças no que tange aos direitos humanos fundamentais. 
Houve a implementação dos direitos fundamentais individuais, coleti-
vos e difusos.
Esse movimento se deu, embora atrasado, em consonância com o 
cenário internacional. Em 20 de novembro de 1959, foi publicada a De-
claração dos Direitos das Crianças pela Organização das Nações Unidas 
(ONU), documento que originou a doutrina da proteção integral no âm-
bito internacional e do qual o Brasil é signatário.
Na referida Convenção, a teoria da proteção integral apareceu pela 
primeira vez, fundada em três pilares importantes:
I. reconhecimento da tutela da proteção integral, tendo em vista 
que a criança e o adolescente são pessoas em desenvolvimento;
II. o direito à convivência familiar; e
III. a obrigação das nações signatárias de assegurar os direitos da 
Convenção com prioridade absoluta.
Em 1990, entrou em vigor o Decreto n. 99.710, que reconheceu a im-
portância do documento internacional e garantiu que a Convenção so-
bre os Direitos da Criança fosse executada e cumprida integralmente.
Após esse importante movimento no Brasil, seguindo a imple-
mentação da proteção jurídica da criança e do adolescente no cená-
rio internacional, houve a promulgação do Estatuto da Criança e do 
Adolescente (ECA), Lei n. 8.069, em 13 de julho de 1990. O estatuto 
consolidou as importantes diretrizes da Constituição, com importante 
proteção aos direitos humanos.
Assim, foram implementados alguns importantes conceitos, dentre 
estes, direitos e garantias fundamentais da proteção da criança e do 
adolescente. Ainda, é necessário destacar que a doutrina da proteção 
integral é ligada diretamente ao princípio do melhor interesse da crian-
ça ou do adolescente (BARROS, 2019).
A Organização das Nações 
Unidas é uma organização 
intergovernamental que 
busca promover a cooperação 
internacional. A ONU tem como 
objetivo promover a segurança 
e a paz mundial, ainda, busca 
expandir os direitos humanos, o 
desenvolvimento econômico, o 
progresso social, entre outros. 
Saiba mais
20 Direitos educacionais de crianças e adolescentes
Essa importante postura adotada pela Constituição, pelo Estatu-
to da Criança e do Adolescente e, posteriormente, pelo Código Civil 
(BRASIL, 1988; 1990; 2002) prioriza sempre o melhor interesse da 
criança. Isto se dá perante a sua família, o Estado e a sociedade em 
que se encontra. Os diversos instrumentos protetivos implementados 
buscam priorizar a situação da criança, ou do adolescente, para que 
ela seja protegida.
O primeiro conceito positivado na Constituição e também no Estatuto 
da Criança e do Adolescente (BRASIL, 1988; 1990) foi o de criança. Com 
base na Convenção dos Direitos das Crianças (1990), considera-se criança 
todo ser humano com menos de 18 anos de idade. No ECA (art. 2º), temos 
a divisão dos conceitos de criança e de adolescente: criança é a pessoa até 
12 anos incompletos e adolescente pessoa entre 12 e 18 anos.
Como disposto no artigo 3º do ECA, todos os direitos fundamentais 
inerentes à pessoa humana devem ser gozados pelas crianças e ado-
lescentes. É importante observar que a proteção integral não pode ser 
prejudicada e devem ser asseguradas todas as oportunidades e facili-
dades para garantir seu pleno desenvolvimento físico, mental, moral, 
espiritual e social. Salienta-se que as garantias devem ser preservadas 
em condições de liberdade e de dignidade.
Ainda nesse artigo, os direitos e garantias da criança e do adoles-
cente serão implementados sem prejuízo da proteção integral, a qual 
não se esgota no estatuto. Em outras palavras, qualquer outro diploma 
legal deverá preservar o pleno desenvolvimento e garantir a dignidade 
da pessoa humana (BARROS, 2019).
A mudança de paradigma ensejou um novo modelo jurídico que 
privilegia a dignidade da pessoa, decorrente da Constituição de 1988, 
que deverá ser observado em todo o ordenamento jurídico brasileiro. 
O tratamento adequado e digno das crianças e adolescentes deve ser 
realizado por meio de políticas públicas.
Após anos de segregação dos menores infratores e abandonados, 
o modelo de internação da Fundação Nacional do Bem-estar do Menor 
(Funabem) já estava completamente desgastado e foi substituído pelo 
Centro Brasileiro para a Infância e Adolescência (CBIA) em 1990 (AMIN, 
2010). Ocorreu, ainda, uma mudança terminológica em consonância 
com a Constituição e os documentos internacionais: atualmente não se 
O filme Um sonho possível 
(2009) retrata a vida de 
um jovem que foi acolhi-
do pela família de Leigh 
Anne Tuohy. A narrativa 
retrata os problemas 
que os jovens encontram 
para a adoção com idade 
avançada e a importância 
do acolhimento na vida 
de Michael Oher.
Direção: John Lee Hancock. Estados 
Unidos: Alcon Entertainment; Fortis 
Films, 2009.
Filme
Evolução histórico-sociológica da infância e da adolescência 21
utiliza o termo menor (considerado estigmatizado), mas, sim, os termos 
criança e adolescente.
Com base no ECA, surgiram diversas políticas públicas a fim de pri-
vilegiar a proteção garantida na lei. Assim, imperou-se o princípio da 
municipalização, tendo em vista que os municípios estão mais próxi-
mos da realidade das crianças e adolescentes. Com isso, há uma atua-
ção ativa do Ministério Público, do Poder Judiciário e dos Conselhos 
Tutelares com o objetivo de proteção dos direitos das crianças e ado-
lescentes. Há a preocupação, ainda, com os vínculos familiares, tentan-
do restaurá-los sempre que possível.
O surgimento do ECA rompeu com diversos paradigmas da teoria 
da situação irregular. Vale mencionar que o sistema atual busca cons-
tantemente educar e proteger o jovem em situação de vulnerabilidade. 
As crianças que estão em situação de vulnerabilidade e necessitam de 
amparo se sujeitarão às medidas de proteção, já os adolescentes que 
praticarem atos infracionais estão sujeitos às medidas socioeducativas. 
A intervenção judicial acontecerá em determinadas hipóteses.
O objetivo principal da teoria da proteção integral é assegurar os 
direitos fundamentais previstos na Constituição. Para tanto, deve ser 
levado em consideração que a infância e a juventude é um período de 
desenvolvimento do ser humano. Do mesmo modo, é dever da famí-
lia preservar o desenvolvimento, entretanto, ressalta-se que a comu-
nidade, a sociedade e o poder público possuem importante papel 
nessa proteção.
Outra importante mudança decorrente da teo-
ria da proteção integral é a atuação 
do Estado, pois gerou-se autorida-
de estatal para garantir a proteção 
dos direitos, agindo como um dos 
protagonistas. Foram desenvol-
vidas diversas políticas públicas 
fundamentais, sobretudo na cria-
ção de órgãos e instâncias com 
atribuições definidas. Entretanto, é 
necessário enfatizar que é dever da 
família e do poder público priorizar 
a criança e o adolescente.
“Qual a principal mudança que 
a teoria da proteção integral 
trouxe no tratamento da criança 
e do adolescente? Justifique sua 
resposta”.
Atividade 3
Pr
oS
to
ck
St
ud
io
/S
hu
tte
rs
to
ck
Todos que estiverem próximo da criança e do adolescente e verificarem 
alguma violação aos seus direitos fundamentais devem alertar a autoridade 
competente.
22 Direitos educacionais de crianças e adolescentes
Conforme o artigo 4º do ECA, a garantia de prioridade absoluta 
compreende:
a. primazia de receber proteção e socorro em quaisquer 
circunstâncias;
b. precedência de atendimento nos serviços públicos ou de rele-
vância pública;
c. preferência na formulação e na execução das políticas sociais 
públicas;
d. destinação privilegiada de recursos públicos nas áreas relaciona-
das com a proteção à infância e à juventude. (BRASIL, 1990)
A criança e o adolescente terão prioridade no atendimento em caso 
de proteção e socorro, bem como nas políticas sociais públicas. As po-
líticas sociais deverão atuar de maneira prioritária no desenvolvimento 
infanto-juvenil e os recursos públicos terão destinação privilegiada à 
sua proteção efetiva.
Como exemplode aplicação da garantia da prioridade absoluta, po-
de-se constatar que, em situação de urgência, caso só haja um leito 
no hospital, entre atender um adulto ou uma criança, a criança será 
atendida antes. Evidentemente que, nesse caso, é necessário verificar 
a urgência do atendimento, se o adulto tiver um risco elevado de morte 
e a criança não, ele será atendido antes.
O Quadro 1 elenca as principais mudanças decorrentes da evolução 
histórico-sociológica da infância e da adolescência:
Quadro 1
Teoria da situação irregular e teoria da proteção integral: principais mudanças
Código de Menores
Doutrina Situação irregular
Início 1927 e positivado em 1979
Atuação Agia nas consequências
Família
Não havia preocupação com 
os vínculos familiares
Estatuto da Criança e do Adolescente
Proteção integral
Constituição Federal de 1988
Age nas causas
Tentativa de manutenção dos vínculos 
familiares
X
Fonte: Elaborado pela autora.
Evolução histórico-sociológica da infância e da adolescência 23
O processo de evolução dos direitos das crianças e adolescentes 
passou por constantes alterações ao longo dos séculos. A principal e 
mais importante mudança se deu com a teoria da proteção integral 
implementada pela Constituição. Atualmente, a proteção deve ser im-
plementada sempre observando o pleno desenvolvimento e com prio-
ridade absoluta.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Neste capítulo, foi possível conhecer a evolução dos conceitos de 
criança e de adolescente. De objeto considerado propriedade dos pais, 
com absoluta indiferença, passou-se para a noção de mera imputação 
penal dos infratores, em seguida, para a ideia de tutela assistencial e, por 
fim, chegou-se ao conceito atual de sujeito de direitos. Foi possível verificar 
que os papéis do Estado, da sociedade e, inclusive, da família mudaram.
No Brasil, tivemos alguns diplomas legais referentes aos direitos da in-
fância e da juventude, entretanto, nem sempre em consonância com os 
diplomas internacionais. Com isso, surgiu o Código de Menores de 1927, 
o qual centrava forças no destino dos menores infratores. Já, no ano de 
1979, o Código de Menores tinha como objeto de proteção as vítimas 
de maus tratos e positivou efetivamente a teoria da situação irregular. 
A Constituição Federal de 1988 e o Estatuto da Criança e do Adolescente de 
1990 trouxeram a noção de proteção integral.
A teoria da proteção integral é baseada em dois importantes funda-
mentos: a prioridade absoluta e o pleno desenvolvimento da criança e do 
adolescente. Ela envolve todas as questões em que interesses e direitos 
estejam envolvidos, sempre observando com prioridade o melhor inte-
resse da criança e do adolescente, inclusive perante a família, o Estado e 
a sociedade.
REFERÊNCIAS
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aspectos teóricos e práticos. 6. ed. rev. e atual. São Paulo: Editora Saraiva: 2010.
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24 Direitos educacionais de crianças e adolescentes
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SAUT, R. D. O direito da criança e do adolescente e sua proteção pela rede de garantias. 
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Evolução histórico-sociológica da infância e da adolescência 25
GABARITO
1. A Igreja Católica tem um importante papel na evolução dos direitos das crianças e dos 
adolescentes, pois iniciou a garantia de proteção à família e à dignidade ao amparar 
aqueles que estavamem situação de vulnerabilidade e pregar proteção aos que estão 
com as famílias. Isso ocorreu inclusive por meio dos 10 mandamentos bíblicos, que 
salientou o dever de respeito entre os entes familiares.
2. Umas das principais falhas da teoria da situação irregular era a segregação das crian-
ças e adolescentes que necessitavam de acolhimento institucional, e a discriminação 
entre crianças e adolescentes que estavam em situação de marginalidade.
3. A principal mudança que a teoria da proteção integral trouxe para o tratamento das 
crianças e dos adolescentes é a de que os direitos previstos devem ser assegurados 
com absoluta prioridade. Portanto, é necessário levar em consideração o seu pleno 
desenvolvimento.
26 Direitos educacionais de crianças e adolescentes
2
Direitos fundamentais da 
criança e do adolescente
Neste capítulo, vamos desenvolver o estudo dos direitos funda-
mentais da criança e do adolescente. A Constituição Federal esta-
beleceu – pela primeira vez, no ordenamento jurídico brasileiro – a 
especial proteção. Já o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) 
positivou essas garantias visando o pleno desenvolvimento.
A evolução da proteção da criança e do adolescente se deu 
após o rompimento da doutrina da situação irregular do menor, 
que estava em vigor desde o Código de Menores de 1927. Com 
isso, verificamos o surgimento da responsabilidade em conjunto 
com o Estado, a sociedade e a família na proteção e na garantia do 
pleno desenvolvimento dos indivíduos em formação.
Observamos, também, a necessidade de diálogo e de trabalho 
juntamente com todos os agentes envolvidos na educação da crian-
ça e do adolescente, tendo em vista a sua importância para a forma-
ção de novos indivíduos na sociedade. Portanto, é imprescindível a 
atenção plena e efetiva na sua proteção e no seu desenvolvimento.
2.1 Proteção constitucional da 
criança e do adolescente 
Vídeo
A Constituição alterou significativamente o ordenamento jurídico 
brasileiro. Surgido após a ditadura militar, esse documento é um marco 
no que tange às garantias e aos direitos fundamentais no Brasil. Com 
ele, diversos princípios foram implementados e, entre eles, um dos 
mais importantes é o da dignidade da pessoa humana. Esse princípio 
deve ser aplicado a todos os indivíduos da sociedade, em todas esferas, 
e, inclusive, às crianças e aos adolescentes.
Neste capítulo, toda a nossa dis-
cussão é voltada ao documento 
constitucional atual, de 5 de 
outubro de 1988.
Importante
Direitos fundamentais da criança e do adolescente 27
O atual diploma constitucional tem um importante papel em relação 
aos direitos das crianças e dos adolescentes. Por meio da constituinte, 
em que foi determinada a forma de criação da Constituição, deu-se 
a positivação da teoria da proteção integral. Essa doutrina é uma im-
portante conquista para o direito brasileiro, tendo em vista que já era 
garantida pelos diplomas internacionais. Com isso, determinou-se que 
é dever do Estado brasileiro, da sociedade e da família a proteção ple-
na, com absoluta prioridade da criança e do adolescente, por meio da 
proteção constitucional.
A doutrina da proteção integral substituiu a doutrina da situação 
irregular, a qual vigorava oficialmente desde o Código de Menores, de 
1979, mas já estava subentendida no Código Mello Matos, de 1927. 
Além da alteração no documento, houve uma mudança de paradigma: 
a doutrina anterior era restrita aos menores infratores e àqueles em 
situação de perigo, já a Constituição de 1988 estabelece uma proteção 
plena a todos os indivíduos em desenvolvimento.
O rompimento do antigo modelo de proteção do menor foi importante, 
pois absorveu os valores da Convenção dos Direitos das Crianças (UNICEF, 
1990) e ampliou a atuação. De um direito restrito aos menores que neces-
sitavam de atenção, tendo em vista as suas condições de vulnerabilidade 
e marginalidade, passou-se para a garantia de um direito da criança e do 
adolescente de maneira ampla, universal e exigível (AMIN, 2010).
A família é considerada a base da sociedade e, portanto, há pro-
teção especial do Estado, conforme disciplina o artigo 226 da Consti-
tuição (BRASIL, 1988). Entretanto, por conta do superior interesse pela 
criança e a sua prioridade absoluta, em alguns momentos é necessária 
a intervenção do Estado no seio familiar. O Código Civil (2002) também 
determina o importante papel da família na formação do indivíduo.
No artigo 227 da Constituição, podemos perceber que:
é dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, 
ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à 
vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissiona-
lização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convi-
vência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda 
forma de negligência, discriminação, exploração, violência, cruel-
dade e opressão. (BRASIL, 1988)
Com a análise desse excerto, é possível compreender que tudo que é 
necessário para o pleno desenvolvimento do indivíduo deve ser assegura-
Qual foi a principal mudança 
implementada pela atual Cons-
tituição na proteção da criança 
e do adolescente? De quem é a 
responsabilidade sobre isso?
Atividade 1
A Assembleia Nacional Consti-
tuinte é o órgão colegiado que 
tem a função de redigir a nova 
constituição. No Brasil, a última 
constituinte foi a de 1987.
Saiba mais
Neste capítulo, toda a nossa 
discussão é voltada ao Código 
Civil atual, de 10 de janeiro de 
2002.
Importante
28 Direitos educacionais de crianças e adolescentes
do. Assim, foram elencados, de maneira particular, os direitos fundamen-
tais necessários à formação da criança e do adolescente – esses direitos 
ainda foram positivados no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).
Além disso, a lei n. 8.069 põe a salvo que nenhuma criança ou ado-
lescente será objeto de negligência, discriminação, exploração, violên-
cia, crueldade e opressão, conforme estabelece o artigo 5º (BRASIL, 
1990). Deverão ser observados os direitos e deveres individuais e cole-
tivos, preservando a condição peculiar de pessoa em desenvolvimento, 
como determina o artigo 6º. Assim, pode-se verificar que a criança e o 
adolescente deverão ser protegidos em todos os sentidos.
No parágrafo 4º, do artigo 227, da Constituição (BRASIL, 1988), verifi-
ca-se a implicação de normas punitivas para qualquer forma de abuso, 
violência ou exploração sexual da criança e do adolescente. A lei infra-
constitucional se encarrega de tipificar, especificamente, cada conduta 
que deverá ser punida. Essas tipificações estão dispostas no Código Penal, 
na Lei Maria da Penha (BRASIL, 1940; 2006) e em outros dispositivos legais.
Na Constituição, é possível constatar diversos aspectos de proteção, 
como os dispostos no artigo 227, no seu parágrafo 3º:
I – idade mínima de quatorze anos para admissão ao trabalho, 
observado o disposto no art. 7º, XXXIII;
II – garantia de direitos previdenciários e trabalhistas;
III – garantia de acesso do trabalhador adolescente e jovem à 
escola;
IV – garantia de pleno e formal conhecimento da atribuição de 
ato infracional, igualdade na relação processual e defesa técnica 
por profissional habilitado, segundo dispuser a legislação tutelar 
específica;
V – obediência aos princípios de brevidade, excepcionalidade 
e respeito à condição peculiar de pessoa em desenvolvimento, 
quando da aplicação de qualquer medida privativa da liberdade;
VI – estímulo do Poder Público, através de assistência jurídica, 
incentivos fiscais e subsídios, nos termos da lei, ao acolhimen-
to, sob a forma de guarda, de criança ou adolescente órfão ou 
abandonado;
VII – programas de prevenção e atendimento especializado à 
criança, ao adolescente e ao jovem dependente de entorpecen-
tes e drogas afins. (BRASIL, 1988)
Observa-se que, para fins de trabalho, há proteção constitucional e 
proibição do trabalho infantil, com exceção apenas dos casos de menor 
Quando mencionamos o Estatuto 
da Criança e do Adolescente,nos 
referimos à lei n. 8.069, de 13 de 
julho de 1990.
Importante
lei infraconstitucional: qual-
quer lei que não está incluída na 
Constituição Federal e que não 
possui status constitucional. 
Glossário
Direitos fundamentais da criança e do adolescente 29
aprendiz, que deverão seguir regulamentação específica. Ainda, nas hi-
póteses em que é possível o trabalho, após os 14 anos de idade, devem 
ser afirmados os direitos trabalhistas e previdenciários e a proteção do 
direito à educação, assegurando, portanto, o acesso à escola, indepen-
dentemente da atividade laboral.
Isso significa dizer que, nas hipóteses em que o adolescente tra-
balha, deve-se garantir o acesso à educação no turno oposto, ainda 
que seja necessário o ensino noturno, como dispõe o artigo 208, VI, da 
Constituição 2 . Assim, nas situações em que o adolescente trabalha ao 
longo do dia e precisa frequentar a escola durante o período da noite, 
deve ser assegurado o acesso à educação.
Nas hipóteses de ato infracional da criança e do adolescente, é 
possível verificar uma mudança de comportamento da legislação bra-
sileira em decorrência da atual Constituição. Antes, nos casos de in-
fração, o menor era submetido ao acolhimento institucional, de modo 
a retirá-lo da sociedade. Atualmente, devem ser assegurados o pleno 
conhecimento da atribuição do ato infracional, a igualdade na relação 
processual e a defesa técnica por profissional habilitado.
Desse modo, mesmo nos casos em que é necessária a medida priva-
tiva de liberdade, garante-se a obediência aos princípios da brevidade 
e, de suma importância, a observância e o respeito da condição pecu-
liar de pessoa em desenvolvimento do infrator. No ECA, há previsão es-
pecífica nesse sentido, pois dispõe de que maneira serão determinadas 
as medidas em relação aos atos infracionais praticados por crianças e 
adolescentes. Salienta-se que qualquer medida será tomada observan-
do a dignidade da pessoa humana.
Nas hipóteses em que é necessário o acolhimento da criança e do 
adolescente, o Poder Público deverá incentivar o seu cuidado sob a for-
ma de guarda. O estímulo poderá ser realizado por meio de incentivos 
fiscais e subsídios, no formato da lei.
Nos casos em que há uma dependência química de entorpecentes 
ou drogas, o jovem, a criança ou o adolescente receberão atendimento 
diferenciado em programas de prevenção. Portanto, sempre que hou-
ver uma pessoa em formação nessa situação, é preciso lhe dar uma 
atenção especial, visando a sua proteção.
A Constituição ainda estabelece, como forma de proteção da criança 
e do adolescente, as promoções de programas de assistência integral 
“Oferta de ensino noturno 
regular, adequado às condições 
do educando” (BRASIL, 1988).
2
ato infracional: conduta des-
crita como crime ou contravenção 
penal, isto é, todos os atos consi-
derados crimes ou contravenção 
penal pela legislação, desde que 
praticados por menores de 18 
anos (BRASIL, 1990).
Glossário
da saúde, principalmente nos percentuais de recursos públicos, que 
serão destinados à saúde materno-infantil e aos programas de atendi-
mento às pessoas com deficiência.
No que tange aos jovens, o diploma constitucional estabelece que se-
rão determinados por lei o Estatuto da Juventude e o Plano Nacional da Ju-
ventude (BRASIL, 2013; 2018), os quais deverão ser articulados por todas 
as esferas do Poder Público, como disposto no artigo 227 da Constituição.
Ainda, verifica-se que a Constituição (1988) e, consequentemente, 
todas as normas infraconstitucionais que estão no ordenamento ju-
rídico brasileiro devem preservar o princípio do melhor interesse da 
criança e do adolescente. Desse modo, toda e qualquer decisão envol-
vendo essa faixa etária sempre será determinada de modo a preservar 
os seus interesses da melhor forma possível. Isso se aplica, inclusive, 
no seio familiar e em detrimento aos interesses dos seus genitores.
Esse princípio também está disposto no ECA, em seu artigo 4º:
é dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do 
poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação 
dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educa-
ção, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à digni-
dade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e 
comunitária. (BRASIL, 1990)
Como mencionado, a Constituição trouxe uma importante mudan-
ça na proteção da criança e do adolescente. A doutrina da proteção 
integral e a inclusão de diversos direitos foram implementadas a fim de 
preservar a condição de pessoa em desenvolvimento.
Com isso, houve a implementação de 
diversos direitos fundamentais da 
pessoa humana, incluindo-se os 
da criança e do adolescente, 
os quais serão discutidos na 
próxima seção.
O vídeo 29 anos do ECA | 
Conexão, publicado pelo 
Canal Futura, discorre 
sobre os avanços e as 
conquistas obtidas com 
o Estatuto da Criança e 
do Adolescente (ECA) nos 
últimos 29 anos. 
Disponível em: https://
www.youtube.com/
watch?v=Fy5nkC638oA. Acesso 
em: 13 jul. 2020. 
Vídeo
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Em todas as esferas, deve ser 
preservado o interesse com absoluta 
prioridade da criança e do adolescente.
30 Direitos educacionais de crianças e adolescentes
Direitos fundamentais da criança e do adolescente 31
2.2 Direitos fundamentais 
Vídeo São considerados direitos fundamentais aqueles inerentes a todos 
os seres humanos. Atualmente, estão previstos na Declaração Universal 
dos Direitos Humanos (ONU, 2009) e afirmados na Constituição (BRASIL, 
1988). Esses direitos são oponíveis ao Estado, com a 
sua atuação limitada e condicionada (AMIN, 2010).
Os direitos fundamentais podem ser classificados 
em gerações ou dimensões. Os direitos de primeira 
geração são os individuais e coletivos, assegurados 
no artigo 5º da Constituição, por exemplo, o direito à 
liberdade. Os direitos de segunda geração se referem aos direitos so-
ciais, elencados nos artigos 6º e 7º da Constituição, como o direito à 
educação. Por fim, os direitos de terceira geração são os direitos difu-
sos, dispostos ao longo do documento, como é o caso do direito ao 
meio ambiente (BRASIL, 1988).
No que tange à proteção da criança e do adolescente, os direitos so-
ciais são de suma importância, pois são aqueles que o Estado deve asse-
gurar, tais como: o direito à vida, à educação, ao lazer, à alimentação, à 
saúde, à cultura, ao respeito, à dignidade e à convivência familiar e comu-
nitária. É importante salientar que os direitos funda-
mentais são de aplicação imediata, como estabelece o 
artigo 227 da Constituição.
Ainda, os direitos fundamentais, assegurados na 
Constituição e estabelecidos no ECA, são de respon-
sabilidade do Estado, da família e da sociedade. Nes-
se sentido, todos possuem o encargo de proteção de 
seus direitos. Nas situações de afronta, devem ser 
encaminhadas as medidas necessárias, levando sem-
pre em consideração o melhor interesse da criança e 
do adolescente.
Os direitos fundamentais também estão dispos-
tos no ECA, mais especificamente entre os artigos 7º 
e 69º, livro I, título II (BRASIL, 1990). Nele, estão elen-
cados detalhadamente o direito à vida e à saúde, à 
liberdade, ao respeito e à dignidade, à convivência 
familiar e comunitária, à educação, à cultura, ao es-
porte e ao lazer e à profissionalização e à proteção 
ao trabalho.
Glossário
oponível: “passível de se opor 
ou de funcionar em oposição” 
(HOUAISS, 2009).
Livro
Na obra A eficácia dos 
direitos fundamentais: 
uma teoria geral dos 
direitos fundamentais na 
perspectiva constitucional, 
Ingo Sarlet realiza um 
estudo aprofundado dos 
direitos fundamentais 
na perspectiva da atual 
Constituição Federal.
SARLET, I. 13. ed. Porto Alegre: 
Livraria do Advogado, 2018.
32 Direitos educacionais de crianças e adolescentes
O direito à vida pode ser considerado como o mais fundamental 
e absoluto de todos, pois sem ele não é possível exercer todos os de-
mais. Esse direito significa viver com dignidade e não, simplesmente,sobreviver. 
O direito à saúde não diz respeito apenas à ausência de doenças, 
mas, sim, ao bem-estar físico, mental e social (AMIN, 2010). É dever da 
família o cuidado com a saúde da criança e do adolescente, garantindo 
uma vida saudável. No ECA, o direito à vida e à saúde está disposto no 
artigo 7º e, por meio de políticas sociais públicas, deve garantir condi-
ções dignas de existência, para que sejam permitidos o nascimento e 
o desenvolvimento sadio e harmonioso da criança e do adolescente.
O Poder Público é obrigado a garantir a tutela daqueles que ainda 
não nasceram e que não têm amparo suficiente, como nos casos em 
que a família não possui condições financeiras ou não desejam manter 
o filho em sua companhia. Nesse contexto, verificamos que o ECA esta-
belece, em seu artigo 8º, o apoio à mulher e à gestante.
Foi por meio do Sistema Único de Saúde (SUS) que o Brasil imple-
mentou o acesso à política de saúde. Qualquer gestante tem acesso à 
nutrição adequada, à atenção humanizada à gravidez, ao atendimento 
pré-natal, perinatal e pós-natal, ao parto e ao puerpério (NUCCI, 2018).
Ainda, nos artigos 9º e 10º do ECA, verifica-se o amparo ao aleita-
mento materno, inclusive nos casos de pena privativa de liberdade, e 
as obrigações inerentes aos hospitais e estabelecimentos de atenção à 
saúde da gestante (BRASIL, 1990). Toda a proteção à gestante é deter-
minada no ECA, pois é uma garantia do direito à vida do nascituro 3 .
A proteção à vida também é realizada nas hipóteses de interferên-
cia do Estado no seio familiar, como nas situações de castigo físico, de 
tratamento cruel ou degradante e de maus-tratos, conforme o artigo 
13 do ECA (BRASIL, 1990). Esses casos deverão ser encaminhados ao 
Conselho Tutelar e poderão ser aplicadas outras providencias legais.
Em relação ao direito à liberdade, ao respeito e à dignidade, verifica-
-se que, conforme define o artigo 15 do ECA, a criança e o adolescente 
devem ser tratados como pessoas humanas em processo de desenvol-
vimento. Além disso, eles devem ser entendidos como sujeitos de direi-
tos civis, humanos e sociais, os quais estão garantidos na Constituição 
Federal (1988) e nos demais dispositivos legais.
O SUS é um sistema 
inovador, que abrange 
desde o atendimento 
mais simples até cirurgias 
mais complexas. O Brasil, 
no que tange à saúde, 
pode ser considerado 
uma referência mundial. 
Você pode conhecer mais 
sobre isso no site do 
Ministério da Saúde. 
Disponível em: http://www.saude.
gov.br/sistema-unico-de-saude. 
Acesso em: 13 jul. 2020.
Site
O ser humano concebido, 
que ainda está em gestação, 
é chamado de nascituro. O nasci-
turo ainda não é considerado 
uma pessoa natural; contudo, 
a legislação brasileira adota a 
teoria natalista para determinar 
o início da personalidade jurí-
dica. Portanto, existem direitos 
preservados ao nascituro antes 
do seu nascimento com vida.
3
Direitos fundamentais da criança e do adolescente 33
O direito à liberdade pode ser compreendido, conforme o artigo 16 
(BRASIL, 1990), como:
I. ir, vir e estar nos logradouros públicos e espaços comunitários, 
ressalvadas as restrições legais;
II. opinião e expressão;
III. crença e culto religioso;
IV. brincar, praticar esportes e divertir-se;
V. participar da vida familiar e comunitária, sem discriminação;
VI. participar da vida política, na forma da lei;
VII. buscar refúgio, auxílio e orientação. 
Em linhas gerais, o excerto ressalta que deve ser assegurada a li-
berdade de se desenvolver de maneira plena, expandido as suas ca-
pacidades individuais.
O direito ao respeito, como estabelecido no ECA em seu artigo 17, 
é a inviolabilidade da integridade física, psíquica e moral da criança e 
do adolescente. Para tanto, é necessário, ainda, preservar sua imagem, 
sua identidade, sua autonomia de valores, suas ideias e crenças, seus 
espaços e seus objetos pessoais.
Esse direito não é reproduzido para os maiores de 18 anos e trata-
-se de uma novidade em matéria de direitos individuais (NUCCI, 2018). 
Pode-se verificar que o direito ao respeito é considerado de maneira 
ampla, visando a garantia do seu desenvolvimento, com base em seus 
valores e suas vontades.
A criança e o adolescente têm o direito de serem criados e educados 
no seio da sua família, assim como elenca o artigo 19 do ECA (BRASIL, 
1990), que está em consonância com o dispositivo 229 da Constituição 
(1988). Ambos defendem que a convivência entre pais e filhos deve ser 
assegurada para garantir seu pleno desenvolvimento. Ressalta-se que, 
apenas de modo excepcional, é possível retirar os filhos da convivência 
com os pais para colocá-los em uma família substituta.
Com base na Constituição, no artigo 227, parágrafo 6º, os filhos 
serão tratados da mesma forma, independentemente da sua origem. 
Nessa mesma direção, o ECA, em seu artigo 20, afirma que os filhos 
havidos ou não do casamento ou por adoção terão os mesmos direitos 
e qualificações – portanto, é proibido o tratamento discriminatório.
Outra importante mudança que decorre da Constituição e foi imple-
mentada pelo ECA, em seu artigo 20, é a condição de igualdade entre os 
sexos e, no caso da família, entre o pai e a mãe, definindo que ambos 
exercem, em condições de igualdade, o poder familiar (BRASIL, 1990).
inviolabilidade: qualidade ou 
caráter do que é inviolável.
Glossário
Qual é o papel da família na 
garantia dos direitos da criança 
e do adolescente? É possível a 
intervenção do Estado no seio 
familiar?
Atividade 2
A família substituta é aquela 
que ficará com a guarda, tutela 
ou adoção da criança ou do 
adolescente que não tem 
condições de ficar com seus pais 
e, tampouco, com a sua família 
extensa, biológica.
Saiba mais
34 Direitos educacionais de crianças e adolescentes
Ainda, qualquer divergência será solucionada pela autoridade judiciá-
ria. Na falta de qualquer um deles, poderá ser determinado o seu 
cumprimento por determinações jurídicas. Igualmente, visto 
que a responsabilidade dos genitores sobre seus descenden-
tes é compartilhada, inclusive o cuidado e a educação, ambos 
têm o direito de transmitir as suas crenças e culturas, como esta-
belece o artigo 22, parágrafo único, do ECA (BRASIL, 1990). Portanto, 
não é possível a interferência externa no que se refere aos costumes 
de cada família – desde que, obviamente, esteja sendo resguardada 
a dignidade da pessoa humana, principalmente dos filhos.
A legislação brasileira também prevê as hipóteses de perda 
ou suspensão do poder familiar, elencadas de maneira clara no 
Código Civil (2002), dispostas a seguir.
Lei
Art. 1.637. Se o pai, ou a mãe, abusar de sua autoridade, faltando aos deveres a eles ineren-
tes ou arruinando os bens dos filhos, cabe ao juiz, requerendo algum parente, ou o Ministério 
Público, adotar a medida que lhe pareça reclamada pela segurança do menor e seus haveres, 
até suspendendo o poder familiar, quando convenha.
Parágrafo único. Suspende-se igualmente o exercício do poder familiar ao pai ou à mãe con-
denados por sentença irrecorrível, em virtude de crime cuja pena exceda a dois anos de prisão.
Art. 1.638. Perderá por ato judicial o poder familiar o pai ou a mãe que:
I. castigar imoderadamente o filho;
II. deixar o filho em abandono;
III. I praticar atos contrários à moral e aos bons costumes;
IV. incidir, reiteradamente, nas faltas previstas no artigo antecedente.
V. entregar de forma irregular o filho a terceiros para fins de adoção. 
Parágrafo único. Perderá também por ato judicial o poder familiar aquele que:
I. praticar contra outrem igualmente titular do mesmo poder familiar: 
b. homicídio, feminicídio ou lesão corporal de natureza grave ou seguida de morte, 
quando se tratar de crime doloso envolvendo violência doméstica e familiar ou me-
nosprezo ou discriminação à condição de mulher; 
c. estupro ou outro crime contra a dignidade sexual sujeito à pena de reclusão
IV. praticar contra filho, filha ou outro descendente:
a. homicídio, feminicídio ou lesão corporal de naturezagrave ou seguida de morte, 
quando se tratar de crime doloso envolvendo violência doméstica e familiar ou me-
nosprezo ou discriminação à condição de mulher; 
b. estupro, estupro de vulnerável ou outro crime contra a dignidade sexual sujeito à 
pena de reclusão. 
Go
od
St
ud
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hu
tte
rs
to
ck
Tendo em vista o importante 
papel da família no 
desenvolvimento da criança e 
do adolescente, é função dos 
genitores garantir o sustento, a 
guarda e a educação dos seus 
filhos menores.
Direitos fundamentais da criança e do adolescente 35
Entretanto, é importante salientar que não constitui motivo para a 
perda ou suspensão do poder familiar a falta de recursos financeiros, 
conforme dispõe o artigo 23 do ECA, pois não ter condições de susten-
tar não significa deixar em desamparo. Nessas situações, é possível o 
amparo do Estado e de seus programas de assistência.
Os casos em que é possível retirar o filho do poder de seus genito-
res envolvem situações de grave ameaça ou violação dos direitos fun-
damentais. Como exemplo, podemos citar as ocorrências elencadas na 
Lei Maria da Penha (BRASIL, 2006), em que há violência doméstica tanto 
em relação ao filho quanto em relação ao outro genitor.
Diante das circunstâncias apresentadas, a retirada da criança ou 
do adolescente da sua família de origem será realizada apenas excep-
cionalmente e em situações de extrema necessidade. O procedimento 
será realizado por via judicial, com a atuação do Ministério Público e 
garantindo o contraditório e a ampla defesa dos genitores.
No que tange aos direitos fundamentais da criança e do adolescen-
te, podemos verificar que o ECA estabelece a atuação do Estado no 
seio da família natural e na atuação da família extensa e da 
família substituta.
Por fim, é direito fundamental da criança e do adolescente 
o acesso à profissionalização e à proteção no trabalho, sem-
pre garantindo a condição de pessoa em desenvolvimento. 
Nas hipóteses de trabalho de menores de 18 anos, serão ob-
servados os dispostos no ECA e na Constituição.
contraditório: é o direito 
a contraditar a acusação no 
processo judicial. Consiste no 
direito à defesa de todos os 
pontos suscitados na ação.
família extensa ou ampliada: 
“aquela que se estende para 
além da unidade pais e filhos ou 
da unidade do casal, formada por 
parentes próximos com os quais a 
criança ou adolescente convive e 
mantém vínculos de afinidade e 
afetividade” (BRASIL, 1990). 
Glossário
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O direito à profissionalização 
da criança e do adolescente é 
garantido por lei.
2.3 Direito à educação
Vídeo O direito à educação é considerado um direito fundamental social, 
conforme estabelece a Constituição, artigo 227, caput:
é dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, 
ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à 
vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissiona-
lização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convi-
vência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda 
36 Direitos educacionais de crianças e adolescentes
forma de negligência, discriminação, exploração, violência, cruel-
dade e opressão. (BRASIL, 1988)
Na leitura do excerto, verifica-se que o direito fundamental à educa-
ção é um dever compartilhado entre família, sociedade e Estado. Isso 
se dá, como já mencionado, devido à condição de pessoa em desenvol-
vimento, da criança e do adolescente, e à importância da educação na 
sua formação como indivíduo.
No ECA, o artigo 53 estabelece que, tendo em vista a importância da 
educação para o exercício da cidadania e para a qualificação ao traba-
lho, é necessário garantir:
I – igualdade de condições para o acesso e permanência na 
escola;
II – direito de ser respeitado por seus educadores;
III – direito de contestar critérios avaliativos, podendo recorrer às 
instâncias escolares superiores;
IV – direito de organização e participação em entidades 
estudantis;
V– acesso à escola pública e gratuita, próxima de sua residência, 
garantindo-se vagas no mesmo estabelecimento a irmãos que 
frequentem a mesma etapa ou ciclo de ensino da educação bá-
sica. (BRASIL, 1990)
O ECA estabelece relevantes proteções no que se refere ao direito à 
educação da criança e do adolescente. O acesso e a permanência na es-
cola significam a obrigatoriedade do ensino gratuito em todos os níveis, 
incluindo o ensino fundamental. É importante, portanto, uma política 
pública efetiva, com foco na garantia do acesso à educação para todas 
as crianças e todos os adolescentes.
Alguns governos utilizam a política educacional denominada pro-
gressão continuada, constituída por ciclos de ensino, com o objetivo de 
manter o aluno na escola por meio de anos; no caso do insucesso do 
estudante, ele não irá reprovar, mas, sim, fazer a recuperação por meio 
de aulas extras (NUCCI, 2018).
No que diz respeito aos educadores, o ECA afirma que o aluno não 
pode ser destratado pelo professor em hipótese alguma. O mesmo se 
aplica aos dirigentes da instituição de ensino, que devem tratar todos 
os alunos com dignidade e respeito. Entretanto, é importante ressaltar 
que o direito ao respeito é uma via de mão dupla e, por isso, os educa-
dores também devem ser respeitados pelos alunos e famílias.
Direitos fundamentais da criança e do adolescente 37
Na sequência, é observado o direito de contestar os critérios avaliati-
vos. Esse dispositivo significa que não é permitida a discricionariedade 
abusiva nas avaliações escolares (NUCCI, 2018). Porém, salienta-se que 
isso não impede a liberdade de cátedra, assegurada aos profissionais 
do ensino na Lei de Diretrizes e Bases (BRASIL, 1996), apenas compreen-
de a aplicação de critérios claros e lógicos nos padrões avaliativos.
Além disso, é assegurada a liberdade para organização e participa-
ção em entidades estudantis, ou seja, grêmios, diretórios ou centros 
acadêmicos. Logo, desde que compatível com as regras de convivência 
impostas pela instituição de ensino, é livre o funcionamento de entida-
des estudantis (NUCCI, 2018).
Destaca-se que o direito ao acesso à escola está disposto no inciso 
I e V do ECA (BRASIL, 1990); a sua promoção deve ser pública e gratuita 
e próxima ao local de residência do aluno. Ainda, no caso do estudante 
possuir irmão(s), é necessário verificar se eles estão na mesma insti-
tuição de ensino, devendo garantir vaga para ambos no mesmo local. 
Além disso, no que tange ao direito à educação, que o Estado deve 
assegurar, conforme o artigo 54 do ECA:
I – ensino fundamental, obrigatório e gratuito, inclusive para os 
que a ele não tiveram acesso na idade própria;
II – progressiva extensão da obrigatoriedade e gratuidade ao en-
sino médio;
III – atendimento educacional especializado aos portadores de 
deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino;
IV – atendimento em creche e pré-escola às crianças de zero a 
cinco anos de idade;
V – acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da 
criação artística, segundo a capacidade de cada um;
VI – oferta de ensino noturno regular, adequado às condições do 
adolescente trabalhador;
VII – atendimento no ensino fundamental, através de programas 
suplementares de material didático-escolar, transporte, alimen-
tação e assistência à saúde. (BRASIL, 1990)
Desse modo, pode-se compreender que o Estado tem o dever de 
garantir, efetivamente, todas as formas de educação, desde o ensino 
fundamental, passando pelo ensino médio e chegando aos níveis mais 
elevados de ensino. Entretanto, os atendimentos em creche e pré-esco-
la também são de sua responsabilidade, bem como no ensino noturno 
regular, visando à adaptação aos horários de trabalho do adolescente.
discricionariedade: agir de 
maneira livre, arbitrária. 
Glossário
No que se refere ao direito à 
educação, o acesso deverá ser 
realizado de que modo?
Atividade 3
38 Direitos educacionais de crianças e adolescentes
Ressalva-se, ainda, que é de responsabilidade do Estado o

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