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Conteudista: Prof. Me. Bruno Pinheiro Ribeiro Revisão Textual: Prof.a Dra. Selma Aparecida Cesarin Objetivos da Unidade: Estimular o interesse pelas Linguagens Cênicas; Apresentar a diversidade das Linguagens Cênicas; Observar possíveis formas de relação com as Linguagens Cênicas; Re�etir sobre os cruzamentos entre Processos Educacionais e as Linguagens Cênicas. Material Teórico Material Complementar Referências Linguagens da Cena Introdução Nossa jornada nesta Disciplina será um pouco diferente das experiências tradicionais. O foco de nosso trabalho serão as análises de algumas Obras de Arte apresentadas por meio de vídeos. Essa estrutura tem como objetivo chamar a atenção para dois aspectos fundamentais: a diversidade e a singularidade das Linguagens Artísticas. A partir da diversidade, podemos observar como o conceito de Obra de Arte é vasto e complexo, e como ele se mantém em contato com as formas sociais. No âmbito da singularidade, a Disciplina aposta no contato com as Linguagens Artísticas a partir de suas características próprias, de suas constituições e problematizações. Esse conjunto vasto e plural de obras e suas respectivas análises imanentes visam à composição de um Quadro de Referências amplo, pautado pelas possibilidades de contato com a Arte. Sendo assim, espera-se que as experiências estéticas sejam estímulos para debates, re�exões, experimentos e outras tantas formas de conhecer e aprender. O objetivo central da Disciplina se dará, portanto, no contato com as obras e em suas análises realizadas por vídeo. No entanto, algumas considerações, observações e apontamentos 1 / 3 Material Teórico importantes serão produzidos no formato escrito e desenvolvidos no interior das Unidades. Comecemos com as Linguagens da Cena. Algumas De�nições De�nir o campo das Linguagens da Cena é sempre uma tarefa de difícil realização, devido à sua natureza múltipla e complexa. Desse modo, o interesse da Unidade aponta para algumas formulações que tornam justamente a di�culdade de de�nições estritas, tentando entender a cena como uma manifestação de ordem multifacetada e em constante reelaboração. O teórico Patrice Pavis nos dá algumas pistas: - PAVIS, 2008, p. 27 “As artes da cena estão ligadas à apresentação direta, não adiada ou apreendida por um meio de comunicação, do produto artístico. O equivalente inglês (performing arts) dá bem a ideia fundamental destas artes da cena: elas são "performadas", criadas diretamente, hic et nunc, par a um público que assiste (a) a representação: o teatro falado, cantado, dançado ou mimicado (gestual), o balé, a pantomima, a ópera são os exemplos mais conhecidos. Pouco importa a forma do palco, e a relação palco-plateia (relação teatral); o que conta é a imediatidade da comunicação com o público por intermédio dos performers (atores, dançarinos, cantores, mímicos etc.).” Como destacado por Pavis, as Artes Cênicas se caracterizam pela plasticidade formal e têm como elemento comum a imediaticidade de sua relação com o público mediada pelos performers. Essa relação tem alguns desdobramentos interessantes. A partir do momento que a Linguagem Cênica se estrutura por meio do contato no mesmo espaço e no mesmo tempo entre artistas e plateia, desenvolve-se um tipo de relação na qual estão previstos papéis especí�cos e distintos para essa reunião: aqueles e aquelas que fazem a Arte e aqueles e aquelas que assistem as apresentações. Esse pressuposto tornou-se ponto de tensão, debate e experimentos das mais variadas ordens ao longo das Artes da Cena e, não sendo o nosso propósito esgotar esse ponto, �cam algumas questões para a re�exão: Quais sentidos são mobilizados, a partir do momento em que eu me relaciono com uma Obra de Arte, ao mesmo tempo em que eu me relaciono com o seu produtor?; Tendo em vista que as Apresentações Cênicas se dão em espaços especí�cos, de que forma o deslocamento até esses espaços se constitui como parte da fruição com a obra?; De que maneira o Ato da Apresentação afeta os sentidos e as signi�cações?; Numa época de disseminação irrestrita de telas, plataformas e formas de relação virtuais, o que pode signi�car a presença de um artista e seu corpo no mesmo espaço e tempo que o seu?; Esse Estatuto que distribui os papéis de quem faz e de quem assiste se realiza de maneira completa? Essa distinção implica alguma coisa? Será que em alguma medida e em certos instantes, esses papéis se invertem? Ou mesmo será que em certos instantes os papéis desaparecem? Além das especulações em torno da qualidade relacional envolvendo artistas e público, há outro ponto destacado por Pavis: “Pouco importa a forma do palco” (2008, p. 27). O que observamos nas Práticas Cênicas é que sua variedade abre espaço para que suas realizações aconteçam em muitos lugares, como palcos, praças, casas, Escolas, Fábricas, ruas, parques etc. O destaque de Pavis nos chama a atenção para o fato de que as Linguagens Cênicas não acontecem exclusivamente nos edifícios que tradicionalmente são destinados a elas, sua diversidade linguística compreende um uso alargado de espaços. Sendo assim, sua vocação é de relação complexa e profunda com a cidade. Além da variedade espacial, há a variedade de modalidades das Artes Cênicas, Teatro e Dança, que são as categorias mais conhecidas, mas também se con�guram nesse escopo: performances, happenings, instalações, site speci�c etc. E mesmo nas categorias mais tradicionais, há variedades e fusões, como: dança-teatro, teatro gestual, teatro de bonecos, teatro de máscaras etc. e inúmeros estilos de dança e teatro. Em todos esses casos, há sempre o encontro dos corpos e suas inúmeras relações naquele espaço-tempo. Relações Entre Educação e Linguagens Cênicas As relações entre a Educação e as Linguagens Cênicas são inúmeras, recheadas de possibilidades de experimentação e desdobramentos. Nesta Unidade, destacaremos alguns aspectos de duas formas de contato com as Artes da Cena no interior do Processo Educativo. Experimentando as Linguagens em Sala de Aula Num primeiro momento, é possível imaginar que sejam muitas as barreiras para que sejam experimentadas Práticas Cênicas numa sala de aula. É uma maneira consequente de entender a complexidade e a dinâmica das Linguagens, com suas especi�cidades e conhecimentos próprios. No entanto, também são possíveis estratégias de aproximação e tentativas de apropriação das Linguagens em sua riqueza e multiplicidade. Um dos pontos fundamentais das Linguagens da Cena é que elas são produzidas pelo corpo. O engajamento corporal na prática cênica é um dos elementos mais importantes de seu desenvolvimento, e sua introdução no ambiente escolar pode revelar coisas interessantes: O treinamento corporal, destacado por Fernandes, impulsiona um tipo de prática que tem como horizonte a consciência corporal, ou seja, a experimentação do corpo em sala de aula trabalha no sentido de aguçar a percepção sobre aquilo que nos concerne de maneira mais decisiva, nosso próprio corpo. Estudar e conhecer sobre o próprio corpo é saber de si, encontrar suas potências e limites, perceber suas questões e descobrir possibilidades até então adormecidas. Mas o treinamento corporal não diz respeito apenas a uma leitura e a um desenvolvimento individual. Quem trabalha com o corpo trabalha no espaço e em contato com outros corpos. Desse modo, esse tipo de experimentação é de ordem coletiva e diz respeito a inúmeras negociações e articulações entre os indivíduos que fazem parte da prática. Outro exemplo interessante de atividade que aproxima e cria relação entre a sala de aula e as Linguagens Cênicas é o Jogo Teatral. Sobre ele, Koudela e Santana dizem o seguinte: - FERNANDES, 2006, p. 122 “O treinamento corporal busca desenvolver as diferentes nuances destas qualidades dinâmicas no aluno, além de suas preferências cotidianas. Por oscilarem num continuum entre dois pólos reciprocamente in�uentes (...) o estudo corporal de cada fator implica em perceber suas duas vertentes e as gradações entre elas. Quanto mais se explora, por exemplo, o peso forte, mais fácil é perceber e experienciar o peso leve (...) Uma qualidade naturalmente in�uencia a outra, numa constante transformação e gradual habilidade para realizar e identi�car cada variação.” Koudela e Santana apresentam um panorama importante a respeito do Jogo Teatral e nos mostram como sua estrutura permite um tipo de consciência que se faz de modo relacional e simbólico. Esses dois elementos experimentados pela experiência lúdica são fundamentais para o desenvolvimento da Aprendizagem. Por ser relacional, o Jogo Teatral pressupõe em sua dinâmica a interação entre as pessoas. É preciso que suas regras sejam combinadas e respeitadas por quem pratica o jogo e, nesse sentido, desenvolve-se um acordo, uma necessidade de realizar as ações em consonância com o que foi atribuído ao coletivo. Forja-se, portanto, um campo ético, no qual as regras do jogo são os elementos comuns aos quais todos podem recorrer e nos quais se �ar. - KOUDELA; SANTANA, 2005, p. 149-50 “No jogo teatral, pelo processo de construção da forma estética, a criança estabelece com seus pares uma relação de trabalho em que a fonte da imaginação criadora – o jogo simbólico – é combinada com a prática e a consciência da regra de jogo, a qual interfere no exercício artístico coletivo. O jogo teatral passa necessariamente pelo estabelecimento de acordo de grupo, por meio de regras livremente consentidas entre os parceiros. O jogo teatral é um jogo de construção com a linguagem artística. Na prática com o jogo teatral, o jogo de regras é princípio organizador do grupo de jogadores para a atividade teatral. O trabalho com a linguagem desempenha a função de construção de conteúdos, por intermédio da forma estética.” Evidentemente, cada um vai se vincular às regras de uma maneira, e cada qual vai desenvolver-se no interior do jogo a partir de sua singularidade, de seu conjunto de características e de seus desejos. Mas todas essas questões não se dão de modo exclusivo. A todo momento, elas estão articuladas às questões do outro, com o desenvolvimento e a percepção do jogo do outro, ou seja, a instância relacional é a base do jogo teatral. É por meio dela que o jogo se desenrola e que cada indivíduo vai se descobrindo. O outro aspecto ressaltado é a dimensão simbólica do jogo teatral. Koudela e Santana destacam a “imaginação criadora” como parte constitutiva do “exercício artístico coletivo”. Criar aparece aqui não como um evento excepcional e extraordinário, ao contrário ele é parte da prática coletiva, está vinculado à dinâmica do próprio jogo e tem relação íntima com as referências estéticas e extraestéticas dos participantes. A propriedade simbólica é, portanto, desenvolvida no interior do próprio jogo e a partir do contato entre os participantes e suas experiências. Esmiuçar as faculdades simbólicas é de suma importância para os Processos de Desenvolvimento e Aprendizagem. A simbolização é fundamental para a compreensão dos fenômenos para além de suas instâncias mais imediatas e super�ciais. Por meio da imaginação, é possível vislumbrar perspectivas que, às vezes, estão encobertas e que às vezes passam despercebidas por um olhar mais apressado. Imaginar é desenvolver a capacidade de abstração e sua possibilidade plástica de criar outros mundos, enxergar outros horizontes. Possibilidades de Fruição Além das possibilidades descritas acima – que se dão pela introdução das Artes Cênicas a partir de experimentações do corpo discente – é possível entender a relação com as Linguagens da Cena por meio da fruição, ou seja, é importante que o Corpo Escolar tome contato com apresentações das mais variadas experiências cênicas. E, nesse sentido, há dois movimentos primordiais que os processos pedagógicos podem engradar: ir aos espaços onde ocorrem as Apresentações Cênicas (Teatros, Museus, Casas de Espetáculos, Circos, Praças, Ruas etc.) e ou trazer os artistas e suas respectivas obras para o espaço da Escola. No primeiro caso, é possível estabelecer parcerias com os artistas, de modo que sejam viabilizados ingressos e meios de locomoção para o corpo docente e o discente. Nesse caso, além do interesse pela Obra, é importante destacar, no processo pedagógico, o sentido de ir ao espaço da Apresentação: o que signi�ca, por exemplo, assistir uma dança num espaço como um Teatro Municipal? Como se estruturam os espaços tradicionais de apresentações cênicas? Os estudantes costumam frequentar esses espaços? Seus familiares tem o hábito desse tipo de frequência? Quais os detalhes que chamam a atenção dos estudantes nesses ambientes que, em tese, são reservados às Experiências Cênicas? Como se sentem alunos e alunas diante do vazio de um palco ou completamente preenchido por grandiosos cenários? Nesse sentido, é interessante experimentar Formas Cênicas variadas, para que não se cristalize um único modo de conceber e experimentar a cena. Há Experimentos Cênicos que não usam uma separação tão marcada entre público e artistas, fazendo com que uns e outros usufruam por vezes do mesmo espaço. Desse modo, como se relacionam os estudantes ao, por exemplo, estarem muito próximos dos artistas? Que tipo de relação é constituída diante de tamanha proximidade? Há outros experimentos que utilizam o espaço público como local de Apresentação. Nessas circunstâncias, como os estudantes percebem o espaço de realização do Ato Cênico? Depois da apresentação, aquele espaço volta ao seu lugar de “normalidade” ou ele se ressigni�ca devido à experiência cênica? Como enxergamos os espaços da cidade? São apenas espaços de transitoriedade ou neles estão contidas memórias, relações, possibilidades e imaginações? Por outro lado, quando são os artistas que se deslocam para o espaço da Escola e a transformam em espaço de apresentação, é interessante pôr em re�exão e debate com a Comunidade Escolar o sentido dessa transformação. O que se modi�ca a partir do momento que um Pátio de Escola vira um palco? O que se altera quando um canto especí�co da Escola vira espaço de imaginação cênica e se transforma em alguma outra coisa? A Escola pode, e deve, portanto, ser um espaço polissêmico, aberto a múltiplas signi�cações, no qual uma quadra, um pátio, uma sala podem ser muito mais do que suas determinações mais imediatas. Para �nalizar nossa Unidade, vale à pena ressaltar as possibilidades relacionais com as obras. Nos vídeos, algumas dessas questões serão detalhadas e trabalhadas de maneira mais vertical. No entanto, vale a pena algumas indicações iniciais. A maneira mais imediata e comum de se relacionar com uma obra é estabelecer parâmetros de contato com seu conteúdo. Desse modo, ao assistir uma Peça de Teatro, por exemplo, é possível depreender junto com o corpo discente qual a temática da peça, como o assunto se desenvolveu, como a trama destrinchou as questões apresentadas etc. Nesse caso, esses conteúdos podem ser relacionados a outros trabalhados em sala de aula, estabelecendo pontos de contato, explicitando a abordagem da Obra sobre os problemas, organizando Seminários para que os alunos comentem as questões etc. Essas são iniciativas extremamente produtivas e ampliam o repertório dos estudantes, promovendo, assim, um adensamento das re�exões e o consequente desenvolvimento do conhecimento. Mas há também uma maneira menos usual de trabalhar com as Obras, que é se conectando com suas instâncias formais. Não são só os conteúdos que nos atravessam quando nos relacionamos com uma Obra, também são mobilizados nossos sentidos, e tal mobilização se dá por meio da Estética. A Estética organiza formalmente uma Obra de modo que nossos sentidos, sensações, memórias, percepções etc. sejam afetados. Desse modo, por exemplo, quando eu assisto uma Dança, a Obra aparece para mim em seus conteúdos expressos em ato, mas também em múltiplas possibilidades sensoriais. As cores me fazem lembrar de algo, o gesto da bailarina me faz sentir algo, a música tocada mexe comigo de certa maneira etc. Esse conjunto de experiências sensoriais produz leituras, interpretações e, sobretudo, conhecimento. Logo, ao trabalhar com as Linguagens Cênicas, é importante conversar com os estudantes sobre o sentido dessa experiência: como cada um se sentiu ao assistir in loco a Apresentação? Que tipo de memórias foram ativadas? Quais imagens permaneceram mesmo depois do término do Espetáculo? Quais as sensações experimentadas a partir das ações dos artistas em cena? Como se vê, são muitas as possibilidades de trabalho a partir do contato com as Linguagens Cênicas e que, a seu modo, essa relação não é um detalhe ou um anexo ao processo de conhecimento, mas é, ela própria, uma forma so�sticada de conhecer. Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Vídeos A Dama do Mar de Bob Wilson 2 / 3 Material Complementar A DAMA DO MAR de Bob Wilson https://www.youtube.com/watch?v=q3s2mRjOEN4 PIPA 2017 | Eleonora Fabião Palco Digital: "Beleza", por Grace Passô PIPA 2017 | Eleonora Fabião Palco Digital: "Beleza", por Grace Passô https://www.youtube.com/watch?v=eTopPxuz5q0 https://www.youtube.com/watch?v=RuIwaHmFO7w Performance Ismael Ivo Performance Ismael Ivo https://www.youtube.com/watch?v=kcAeUljVMJw FERNANDES, C. O Corpo em Movimento – O Sistema Laban/Bartenie� na Formação e Pesquisa em Artes Cênicas. 2. ed. São Paulo: AnnaBlume, 2006. KOUDELA, I. D.; SANTANA, A. P. de. Abordagens Metodológicas do Teatro na Educação. Ciências Humanas em Revista, São Luís, v. 3, n. 2, dez. 2005. PAVIS, P. Dicionário de teatro. Tradução sob a direção de J. Guinsburg e Maria Lúcia Pereira. 3. ed. São Paulo: Perspectiva, 2008. 3 / 3 Referências
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