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O balanço hídrico é definido como o pro- cesso de observação e registro da quanti- dade de líquidos administrada e eliminada pelo indivíduo no período de 24 horas, objetivando a verificação de perdas e/ou ganhos de líquidos e eletrólitos. A moni- toração e o registro preciso do volume infundido e eliminado, acompanhados do peso diário, fornecem parâmetros funda- mentais para o diagnóstico e o tratamento do paciente crítico.1,2 O peso corporal é composto por 55 a 65% de água, variando com a idade, o sexo e a quantidade de gordura corporal.3 A água corporal exerce funções importan- tes, como o transporte de oxigênio e nu- trientes para as células e a remoção dos produtos de degradação. A manutenção da quantidade adequada de líquidos e de seus elementos no organismo é essen- cial à vida. Portanto, o balanço hídrico, em conjunto com outros sinais clínicos, é fundamental para o monitoramento da hidratação e de outras funções orgânicas de pacientes críticos, que são mais susce- tíveis a alterações do equilíbrio hidroele- trolítico. fUndamentos do baLanço hídrico A água é um importante elemento regu- lador e componente básico das diversas reações metabólicas que ocorrem no orga- nismo.3,4 Os eletrólitos têm na água cor- poral seu solvente, sendo esta, portanto, seu principal veículo. A diferença entre a ingesta e a excreção desse solvente é conhecida como balanço hídrico e balan- ço hidroeletrolítico, quando são avaliados alguns dos seus solutos dispersos em seu meio.3 Em situação de homeostase, o orga- nismo mantém esse processo equilibrado por meio da ação de hormônios hipofisá- rios e do mecanismo de feedback com o sistema renal e com outros sistemas de perdas.3,4 O controle do balanço hídrico envolve a interação entre os estímulos osmótico e volêmico. Pequenas variações na pressão osmótica ativam os neurô- nios – os osmorreceptores – localizados no hipotálamo anterior, que estimulam a secreção do hormônio antidiurético (ADH).4 O ADH aumenta a reabsorção de água nos túbulos coletores renais, além de ativar o centro da sede, aumentando a ingesta hídrica. Em situações em que a pressão osmótica diminui, ocorre a su- pressão da secreção do ADH, propiciando o aumento da excreção renal de água, a urina diluída. Estímulos não osmóticos, como ba rorregulação, reflexo nasofarín- geo, estímulo nauseoso, hipoglicemia, mediadores químicos e fatores ambien- tais tam bém atuam na excreção do ADH. Distúrbios na secreção ou na ação do ADH, por defeitos no receptor, uso de medicações ou agentes que interferem no 17 BAlAnço HíDrico: importânciA e precisão sueli Dias de Araujo enfermagem em terapia intensiva 197 mecanismo fisiológico ou a destruição da hipófise posterior por tumores ou trauma, podem resultar na deficiência de ADH.5,6 A eliminação de líquidos é deno- minada perda sensível ou mensurável (p. ex., diurese, drenagens de sondas) e per- da insensível ou não mensurável (p. ex., sudorese e respiração). As perdas de lí- quidos podem ocorrer por meio da pele, dos rins, do intestino e dos pulmões. As alterações patológicas desse equilíbrio causam acúmulo ou perda excessiva de água e, consequentemente, de eletrólitos. No organismo, tais fatores podem gerar anomalias decorrentes do aumento ou da diminuição dos elementos nela dissolvi- dos. Os mecanismos que regulam o equi- líbrio hidroeletrolítico são imperceptíveis e transcorrem sem que haja a necessidade de intervenção externa direta.2 No paciente crítico, essas variações, ainda que discretas, podem causar alte- rações ou distúrbios no funcionamento de diversos órgãos. No indivíduo sadio, o equilíbrio entre a ingesta e as perdas é regulado pela ação hormonal. A quanti- dade de água corporal é distribuída nos espaços intracelular e extracelular, que são separados pela membrana celular. Os líquidos se movem entre os compar- timentos por osmose, um processo que regula a água e os eletrólitos para que sua distribuição e composição nos es- paços permaneçam estáveis. A osmose depende da pressão osmótica nos te- cidos do paciente, ou seja, depende da relação entre a concentração de íons na solução extracelular e a concentração de íons no fluido celular. Essa pressão capta a água através de membranas permeá- veis, tais como as membranas celulares. Em resposta à pressão osmótica, o fluido pode mover -se para dentro ou para fora da célula. A água passa de uma área de menor concentração de íons (solução hi- potônica) para uma área de maior con- centração de íons (solução hipertônica). As soluções parenterais são classificadas, em sua tonicidade, de acordo com a do plasma sanguíneo normal.7 O espaço intracelular é o maior com- partimento orgânico e detém dois terços da água corporal total. A água corporal contém muitos produtos químicos dissol- vidos, os eletrólitos, como sódio (Na+), potássio (K+), cloreto (Cl–), bicarbona- to (HCO3–), cálcio (Ca++) e magnésio (Mg++), dispersos nos espaços intrace- lular e extracelular de acordo com suas cargas, positivas e negativas, criando um equilíbrio entre os meios.6,8,9 O espaço extracelular é dividido em espaço vascular (vasos sanguíneos) e es- paço intersticial (as lacunas entre as célu- las). O espaço intersticial contém o fluido, e o vascular contém plasma, o componen- te sanguíneo aquoso. A membrana que divide esses espaços é semipermeável, permitindo a troca osmótica. A concen- tração de eletrólitos em ambos os lados da membrana é um fator importante na circulação dos eletrólitos entre o sangue e o fluido intersticial.9,10 A regulação do balanço hídrico de- pende de mecanismos hipotalâmicos de controle da sede, da ação do ADH, da capacidade do organismo em reter ou ex- cretar água, da função renal e das perdas ocasionadas pela respiração e transpiração. O balanço hídrico é importante, pois uma alteração de 2% no líquido extracelular é suficiente para desencadear a sensação de sede e a liberação do hormônio antidiu- rético. Nesse processo, a angiotensina II, que é estimulada por fatores associados a hipovolemia e baixa pressão sanguínea, atua na regulação da sede com o objetivo de repor o volume e a pressão normais. O ressecamento da mucosa oral e das mem- branas do esôfago é outro fator que pode estimular a sensação de sede e levar a um aumento da ingestão de líquidos.7 O principal mecanismo pelo qual o corpo mantém um equilíbrio entre a in- gestão e a excreção de água é, precisa- mente, a regulação renal. A função renal 198 Viana, Whitaker & cols. ajusta a excreção de água e eletrólitos, de forma a manter o equilíbrio eletrolítico. Outra forma de perder água, em menor quantidade, é pelas fezes, em sua forma pastosa. Essa perda torna -se grave em caso de diarreia intensa, que pode resul- tar em desidratação grave e eventual mor- te.10 Perdas insensíveis ocorrem por meio da respiração, da libertação de vapor de água e através da pele, por difusão. Esta última ocorre mesmo na ausência de glân- dulas sudoríparas, sendo minimizada pela camada de células cutâneas e gordura da pele (um exemplo clássico ocorre em ca- sos de queimaduras extensas, quando a camada de células da derme é destruída). A sudorese é uma perda variável, por de- pender do nível de atividade física e da temperatura ambiente. controLe hídrico O balanço dos fluidos corporais é afetado por idade, dieta, atividade física, condi- ções climáticas, estresse e condições clíni- cas do paciente. Em geral, o corpo mantém um equilíbrio entre o fluido ingerido e o excretado. Para isso, o organismo está constantemente fazendo ajustes, a fim de manter esse equilíbrio (homeostase). Em um período de 24 horas, a quantidade de fluido consumido deve ser igual ao mon- tante excretado. Se a entrada de líquidos é maior do que a perda, ocorre edema. Se a perda for maior do que a ingestão, ocor- re desidratação. O monitoramento desse balanço é essencial para avaliar o estado clínico do paciente e direcionaras inter- venções de enfermagem.11 A avaliação da hidratação do pacien- te crítico é baseada em três elementos principais: avaliação clínica, análise das anotações do balanço hídrico e análise bioquímica do sangue. A avaliação clínica inicia -se pelo exame físico e das funções fisiológicas. Da mesma forma, a análise dos dados do balanço hídrico fornece in- formações fundamentais sobre o funcio- namento orgânico de pacientes críticos. Assim, o impresso de controle diário deve conter os principais registros, como sinais vitais, volume de infusões e volume e tipos de perdas, além do peso diário. A análise bioquímica do sangue complementa essa avaliação, por meio do acompanhamento diário da dosagem sérica de elementos, como sódio, potássio, ureia e creatinina, entre outros. imPortância do baLanço hídrico A mensuração precisa dos volumes in- fundidos e dos eliminados, em pacientes críticos, é essencial para um diagnósti- co precoce, permitindo uma intervenção rápida na correção de qualquer desequi- líbrio apresentado. Os pacientes inter- nados em UTIs costumam ter alterações do equilíbrio hidroeletrolítico, devido à perda da capacidade normal de regulação homeostática, seja pela gravidade de sua patologia de base, seja por procedimen- tos terapêuticos adotados (p. ex., repo- sição volêmica e/ou uso de drogas e/ou sedação), que, muitas vezes, interferem nos mecanismos normais de adaptação. Ante essas situações, o balanço hídrico é o melhor parâmetro para a avaliação da hidratação. Nas alterações metabólicas e/ou físi- cas, há uma maior probabilidade da ocor- rência de desequilíbrios na concentração de líquidos corporais, sendo necessário um controle rigoroso da infusão e da in- gesta, assim como da eliminação, para prevenir, detectar e tratar precocemente anormalidades capazes de alterar ainda mais os valores hidroeletrolíticos, deterio- rando de forma mais pronunciada o esta- do clínico do paciente. O balanço hidroeletrolítico está rela- cionado aos mecanismos homeostáticos, que mantêm a composição e o volume enfermagem em terapia intensiva 199 do fluido corporal dentro dos parâmetros considerados normais, sendo regulado pelo trato gastrintestinal, pelos rins e pelo cérebro, por meio da ação hormonal e de mecanismos de feedback, que mantêm o conteúdo de água do organismo, sem gor- dura, regularmente constante. A quanti- dade da entrada de líquidos, por todas as vias, é aproximadamente equivalente à quantidade perdida. As variáveis fisioló- gicas que colocam em risco esse equilíbrio são compensadas pela resposta homeos- tática, que, invariavelmente, protege o volume extracelular, mesmo à custa do agravamento de outras alterações eletro- líticas.12 Os distúrbios do volume hídrico po- dem refletir aumento ou diminuição do volume hídrico corporal total ou uma alteração na distribuição do volume de líquidos. O balanço positivo ocorre quan- do o volume recebido é maior do que as perdas ocorridas dentro de um intervalo de tempo considerado. Com o balanço ne- gativo ocorre o oposto, pois os volumes de líquidos infundidos terão valores menores do que as perdas dentro de determinado período. As avaliações dos resultados do balanço hídrico (positivo -negativo) deve- rão levar em consideração o estado geral do paciente, suas necessidades e sua pa- tologia. Além disso, constitui o melhor parâmetro para manutenção da hidrata- ção e da função renal satisfatória, indi- cando possíveis complicações no estado clínico, o aparecimento de outras patolo- gias associadas, assim como uma melhora clínica. medidas e registro do baLanço hídrico O registro rigoroso dos ganhos e das per- das é fundamental para a recuperação do paciente na unidade de terapia intensiva. Além de ser um dado importante para a equipe de saúde realizar a avaliação, o diagnóstico e a terapêutica do paciente crítico, é parte integrante do prontuário, sendo o registro dos dados da competên- cia da equipe de enfermagem.1,13 O impresso de registro do balanço hídrico é um documento com valor legal e importante fonte de dados para pesquisas e processos de auditorias em saúde. A pre- cisão dos valores anotados, assim como a dos valores aritméticos obtidos a partir desses dados, é fundamental para a ava- liação e o ajuste da terapêutica instituída, de forma a manter o equilíbrio hidroele- trolítico, prevenir complicações cardio- vasculares e renais, além de ser crucial para o cálculo do peso variável e do gasto energético do paciente crítico.14,15 O registro deve ser realizado em im- presso próprio, padronizado pela institui- ção, ou eletronicamente, segundo rotina da unidade, de forma legível, completa e sem rasuras. As medidas relacionadas à entrada de líquidos (ganhos) e à saída de fluidos corporais (perdas) do paciente são processadas para o cálculo do balanço hídrico (soma algébrica dos valores me- didos), considerando -se os ganhos como valores positivos e as perdas como nega- tivos.12 As medidas podem ser quantifi- cadas em gramas, quilogramas, mililitros ou litros, devendo a unidade utilizada ser registrada ao lado do valor. O balanço hídrico é mensurado em intervalos determinados, segundo a roti- na do serviço, tendo como valor final o intervalo de 24 horas, sendo seus valores, parciais e totais, anotados em campos pró- prios da folha de controle. Cabe ressaltar que a periodicidade das medidas pode ser ajustada segundo a evolução clínica do paciente. Esse aspecto é importante, par- ticularmente na avaliação de resultados imediatos de intervenções terapêuticas, como o uso de diuréticos e expansões vo- lêmicas, entre outros. O registro deve ser legível e ordena- do, em colunas predeterminadas e identi- ficadas como solução infundida ou fluido 200 Viana, Whitaker & cols. eliminado, separadas em ganhos e perdas, com medidas precisas de volumes. Todo volume administrado, por via endoveno- sa, intramuscular, subcutânea, gástrica, oral (o volume realmente infundido ou aceito pelo paciente) e/ou por sondas, deve ser anotado em colunas separadas e identificado na parte destinada aos ga- nhos. Todas as perdas mensuráveis, como urina, volumes de drenagens, fezes líqui- das (pesar fraldas) ou ostomias, devem ser precisamente registradas como perdas em colunas distintas. tiPos e formas de registros De acordo com o Ministério da Saúde, prontuário médico: é um conjunto de documentos padroni- zados, ordenados e concisos, destinados ao registro de cuidados médicos e pa- ramédicos prestados ao paciente pelo hospital.16 O prontuário médico é constituído de um conjunto de documentos padroni- zados, contendo informações geradas a partir de fatos, acontecimentos e situações sobre a saúde do paciente e a assistência prestada a ele, de caráter legal, sigiloso e científico, que possibilita a comunicação entre membros da equipe multiprofis- sional e a continuidade da assistência prestada ao indivíduo.16 O Artigo 1º da Resolução n°1.638/ 2002 do Conselho Federal de Medicina de- fine prontuário médico como documento único constituído de um con- junto de informações, sinais e imagens registradas, geradas a partir de fatos, acontecimentos e situações sobre a saúde do paciente e a assistência a ele presta- da, diagnóstico definitivo e tratamento efetuado.17 O registro dos dados deve ser pre- ciso e pode ser realizado na forma im- pressa ou eletrônica. A forma impressa ocorre em uma folha padronizada pela instituição, contendo colunas distintas para registro das infusões e das perdas, agrupadas em ganhos e perdas, e, para os sinais vitais, linhas dividindo os horários. Mesmo sendo suscetível a falhas, devido a omissão de dados ou anotações incomple- tas, ainda é o sistema mais utilizados nas instituições. O prontuário eletrônico do pacien- te (PEP) é definido como um conjunto de informações relativas ao paciente, ar- mazenadas em formato digital, cujo ob- jetivo principal é permitir qualidade deatendimento, veracidade da informação e assistência médica em lugares e cenários distintos.17 A padronização e a organiza- ção dos dados relativos a cada paciente otimizam a assistência prestada.18 O PEP traz a vantagem de reunir e arquivar todas as informações por meio de uma ferramenta de acesso rápido e eficiente, com melhor qualidade e con- fiabilidade nas consultas sobre os fatos ocorridos, fornecendo dados exatos para auditorias e levantamentos.18 Também permite introduzir rapidamente os dados, contribuindo para a redução de erros e a padronização dos planos de cuidados de enfermagem. A integração de dados de di- ferentes sistemas possibilita uma redução na necessidade de transcrições manuais, que implicam risco significativo de erros. A capacidade de implantar mecanismos de controle de acesso, sistemas de audi- toria e assinaturas digitais assegura níveis de segurança maiores do que os equiva- lentes em papel. O formato eletrônico está regulamentado e aprovado, porém envolve uma série de critérios e regras, como, por exemplo: integridade, confi- dencialidade, disponibilidade, legalidade, autenticidade, auditibilidade e assinatura eletrônica.19 O PEP viabiliza o controle do balan- ço hídrico com menor possibilidade de er- ros, devido a: enfermagem em terapia intensiva 201 • Acesso facilitado e maior disponibilida- de de dados; • Maior qualidade da informação, sem ambiguidade; • Integração de dados, eletronicamente, dentro da própria instituição e entre instituições; • Geração de relatórios personalizados • Facilidade de atualização de dados, pesquisas e cálculos; • Extração de informações a partir dos registros existentes; • Segurança dos dados; • Redução ou eliminação do arquivamen- to de papéis; • Maior comodidade no atendimento, tanto para o paciente quanto para o profissional; • Diminuição de custos hospitalares ex- cessivos com papéis; • Informações em tempo hábil para todos os setores; • Eliminação das perdas dos prontuá- rios; • Eliminação da duplicidade de informa- ções. A desvantagem imediata do PEP é a necessidade da implementação de softwa- re adequado e a qualificação ou o conhe- cimento prévio da equipe em informática para a utilização do recurso.19 asPectos Práticos da monitoração do baLanço hídrico Como já destacado, a fidedignidade dos dados do balanço hídrico é tão importan- te quanto a acurácia da avaliação clíni- ca. Assim, alguns tópicos são apontados e algumas estratégias de implementação das medidas e controle são sugeridas a seguir. Recipientes medidores: as medidas de ganhos e perdas hídricas devem ser re- alizadas por meio do uso de recipientes medidores padronizados. Isso implica a utilização de copos de igual capacidade para mensurar ingestas hídricas orais e cálices graduados para mensurar perdas como urina e líquidos drenados. Em geral, os recipientes coletores de urina e drena- gens são graduados. Porém, a mensura- ção por meio dessa graduação fornece uma estimativa, e não um valor preciso. Recomenda -se que as medidas de perdas parciais sejam realizadas pela mensura- ção dos volumes em recipientes gradua- dos, antes do descarte. Rotina não é sinônimo de quali‑ dade: frequentemente, o balanço hídrico é realizado em intervalos preestabeleci- dos, conforme as rotinas da unidade ou da instituição. Contudo, o enfermeiro tem respaldo e condições legais, éticas e cien- tíficas para alterar a periodicidade do mo- nitoramento do balanço hídrico, segundo sua avaliação das condições de saúde/ doença dos pacientes críticos sob sua res- ponsabilidade. O foco da qualidade assis- tencial é o paciente. Medidas de infusões endovenosas: em relação aos líquidos infundidos por via endovenosa, por gravidade, é recomendá- vel a utilização de escalas volumétrico- -horárias aderidas no próprio recipiente. Ainda que sejam sujeitas a erros de me- didas, são alternativas válidas quando se objetiva o controle horário de infusões. As infusões gravitacionais são influenciadas, principalmente, pelo controle manual da pinça do equipo infusor, pela altura do recipiente em relação à veia, pelo cali- bre da veia e pela viscosidade da solução. Também deverão ter as medidas realiza- das em intervalos parciais. Na utilização de bombas infusoras (seja para infusões endovenosas ou administração de volu- mes por via gastroenteral), é importante que sejam registrados os volumes infun- didos/administrados, em intervalos par- ciais, e que o equipamento seja “zerado” ao término de um período completo (6, 8 ou 12 horas) de monitoração. 202 Viana, Whitaker & cols. Medidas de volume urinário em micções espontâneas: na assistência a pa- cientes críticos, é muito comum a utilização de sondagem vesical como instrumento de controle do volume urinário. Entretanto, reconhece -se que é um procedimento que implica riscos aos pacientes e que nem sempre é utilizado. Naqueles que não são submetidos à sondagem vesical, o controle de volume urinário pode ser realizado por meio de medidas simples. Situação 1: o paciente tem controle mic- cional – a urina é coletada com auxílio de cadeira higiênica, urinol ou comadre20 – o volume de urina deverá ser mensurado, em recipiente graduado, antes do descarte. Situação 2: o paciente não tem con- trole miccional – a urina é retida em fral- da descartável – o controle do volume de urina deve ser realizado pela pesagem das fraldas. Ou seja, o peso de tara da balança (o “zero”) deve ser o peso da fralda nova, sem uso. O peso da fralda utilizada será o peso indicado na balança, convertido na relação de 1 g = 1 mL. Avaliação ponderal (peso do pa‑ ciente): o peso do paciente, medido em quilogramas, é uma das medidas mais im- portantes na assistência a pacientes críti- cos, não apenas pelo monitoramento do balanço hídrico, mas também como fun- damentação da terapêutica com agentes farmacológicos.21 Reconhece -se que afe- rir o peso de pacientes críticos não é uma prática comum. O principal aspecto nega- tivo dessa medida reside no fato da au- sência de leitos eletrônicos, que permitem a aferição do peso, nas UTIs nacionais. Contudo, nas UTIs que dispõem desses equipamentos, com frequência os dados ponderais não são adequadamente aferi- dos e utilizados no controle do balanço hídrico. Para que essa prática de enferma- gem torne -se comum e, consequentemen- te, seja traduzida em dados importantes, que produzam impacto positivo sobre os resultados da assistência, alguns aspectos devem ser considerados. 1º Ponto – Na admissão, o peso deve ser conhecido e registrado. 2º Ponto – As aferições ponderais deverão seguir a padronização esta- belecida. Isto é, o leito eletrônico ou a maca -balança deverão ter o peso de tara aferidos com o mesmo tipo de vestimentas e lençóis a serem utilizados pelo paciente. Adicionalmente, a aferição do peso diário deverá seguir os mesmos horários e con- dições. Restrição hídrica: diversas interven- ções diagnósticas e/ou terapêuticas, assim como desequilíbrios orgânicos, causam retenção hídrica ou hipervolemia em pa- cientes críticos. Com base nisso, o enfer- meiro intensivista pode minimizar essas ocorrências a partir de estratégias de res- trição hídrica, mais especificamente volê- mica, utilizando -se de diluições mínimas em infusões endovenosas. De forma mais prática, isso implica o conhecimento e a aplicação de volumes mínimos de solven- tes em soluções de uso frequente, como antibióticos ou drogas de ação hemodinâ- mica. Para tanto, o enfermeiro deve conhe- cer os limites de segurança nas diluições e administração das soluções, de forma que o paciente não receba sobrecarga volêmica sem que esta tenha sido objetivo terapêu- tico. Sinais e sintomas sistêmicos de desequilíbrios hídricos: o monitoramen- to do balanço hídrico não se restringe aos números de perdas e ganhos. Outros as- pectos importantes a serem monitorados pelo enfermeiro e acompanhadospela equipe de enfermagem são listados no Quadro 17.1. imPLicações Para a assistência de enfermagem Florence Nightingale, durante a Guerra da Crimeia, relatava que a documentação das informações referentes aos pacientes é de suma importância para a continui- enfermagem em terapia intensiva 203 Sinais de perda de líquidos • Aumento da FC • Pulso filiforme, irregular • Redução da PA • Redução da PVC • Aumento da FR • Aumento da profundidade ventilatória • Redução do volume urinário • Inquietação, irritabilidade, confusão • Pele seca, sem firmeza, mal perfundi‑ da, com alterações da coloração • Mucosas ressecadas • Transpiração excessiva fc, frequência cardíaca; pA, pressão arterial; pVc, pressão venosa central; fr, frequência respiratória. Sinais de ganho de líquidos • Aumento da FC • Aumento da PA • Aumento da PVC • Aumento da FR • Congestão/edema pulmonar • Volume urinário pode estar reduzido ou aumentado • Inquietação, irritabilidade, confusão • Edema gravitacional • Pele intumescida e úmida qUadro 17.1 sinAis e sintomAs sistêmicos De DesequilíBrios HíDricos24 dade dos cuidados prestados ao doente, principalmente para a assistência de en- fermagem.22 Nightingale, ao observar a importância dos registros de saúde, afir- mava: Na tentativa de chegar à verdade, eu tenho buscado, em todos os locais, infor- mações; mas, em raras ocasiões eu tenho obtido os registros hospitalares possíveis de serem usados para comparações. Estes registros poderiam nos mostrar como o dinheiro tem sido usado, o quê de bom foi realmente feito com ele.22 A adequação e a fidedignidade dos registros dos dados referentes ao controle hídrico diário dos pacientes críticos permi- tem o levantamento dos diagnósticos de enfermagem, a formulação e a implemen- tação dos planos de cuidados, a avaliação da efetividade dos cuidados prestados e, consequentemente, a avaliação do ge- renciamento das unidades em relação a recursos humanos e materiais, instrumen- talizando os processos de auditorias de prestação de serviços à saúde. Dados que não são adequadamente mensurados e re- gistrados não podem ser utilizados para demonstrar o desempenho da enferma- gem, o custo do cuidado de enfermagem e a evidência da melhor prática. Utilizando -se a taxonomia de diag- nósticos de enfermagem da North American Nursing Diagnosis Association – International (NANDA -I) e os dados obtidos com os registros do balanço hí- drico, identificam -se alguns diagnósticos de enfermagem relacionados e as inter- venções de enfermagem mais indicadas23 (Quadro 17.2). considerações finais É da competência da equipe de enferma- gem garantir o balanço hídrico dos pa- cientes críticos sob seus cuidados. Esses parâmetros são fundamentais para o dire- cionamento da elaboração dos planos de cuidados pelo enfermeiro. A monitoração desses dados deverá seguir a rotina e as condições oferecidas pela instituição. Para que sejam reali- 204 Viana, Whitaker & cols. zadas fidedignamente, as medições de peso e volumétricas requerem que apa- ratos adequados sejam fornecidos pela entidade. Mesmo sendo de grande importân- cia para definir a terapia indicada ao pa- ciente da UTI, o balanço hídrico é pouco valorizado, investindo -se pouco na tecno- logia dos controles desses dados. O trei- namento da equipe, tanto para a forma impressa quanto para a digitalizada, re- quer uma capacitação periódica, frisando constantemente a importância do registro preciso dos valores. agradecimento À Dra. Margarete Marques Lino, pela ami- zade, apoio e orientação. referências 1. Cama AG, Delgado DM. Balance líquido acumulado en los enfermos ingresados en la UCI:es realmente fiable? Enferm Intensiva. 2003;14(4):148-55. 2. Grandjean AC, Reimers KJ, Buyckx ME. Hydration: issues for the 21st Century. Nutr Rev. 2003;61(8):261-71. Problema, sinal ou sintoma mucosa oral ressecada elevação da pA edema Diminuição do volume urinário Alterações laboratoriais/funções renais perdas gastrintestinais alteradas turgor da pele diminuído mucosa ressecada Diagnóstico de enfermagem Volume de líquidos deficiente Volume de líquidos excessivo risco de desequilíbrio no volume de líquidos risco de volume de líquidos deficiente Intervenções de enfermagem controle rigoroso do débito urinário controle de fc, pA, pVc controle rigoroso da ingesta hídrica Aumento da frequência da higiene oral Aplicação de lubrificante oral controle dos sinais vitais a cada hora mensuração diária do peso controle rigoroso do débito urinário controle rigoroso da ingesta hídrica Avaliar sinais de sobrecarga volêmica controle rigoroso do débito urinário controle de fc, pA, pVc controle rigoroso da ingesta hídrica controle das perdas gastrintestinais estimadas monitorar sinais de sobrecarga volêmica controle do balanço hídrico a cada hora controle de fc, pA, pVc Aumento da frequência da higiene oral controle rigoroso do débito urinário controle rigoroso da ingesta hídrica qUadro 17.2 proBlemAs, DiAGnósticos e interVenções De enfermAGem frequentemente iDentificADos e inDicADos em DesequilíBrios HíDricos fc, frequência cardíaca; pA, pressão arterial; pVc, pressão venosa central. enfermagem em terapia intensiva 205 3. 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