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HISTÓRIA DA ARTE Priscila Farfan Barroso Catalogação na publicação: Karin Lorien Menoncin CRB-10/2147 B277h Barroso, Priscila Farfan. História da Arte / Priscila Farfan Barroso, Hudson de Souza Nogueira ; [revisão técnica: Max Elisandro dos Santos Ribeiro]. – Porto Alegre: SAGAH, 2018. 221 p. ; il. ; 22,5 cm. ISBN 978-85-9502-297-3 1. Arte – História. I. Nogueira, Hudson de Souza. II. Título. CDU 7 Revisão técnica: Max Elisandro dos Santos Ribeiro Licenciatura Plena em História Especialista em Gestão e Tutoria EaD Mestre em Educação HA_Iniciais_Impressa.indd 2 12/01/2018 17:08:09 Barroco Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Identificar as características da arte barroca no contexto europeu. � Reconhecer os tipos de manifestações artísticas produzidas no Barroco. � Descrever a arte barroca no Brasil e os seus principais artistas. Introdução Após as reformas religiosas do século XVI, a Igreja Católica retomou a valorização de suas ideias por meio do movimento da contrarreforma. Assim, as obras de arte barrocas eram consideradas mediadoras entre a humanidade e Deus. Neste capítulo, você vai entender como o período Barroco desabro- chou na Europa e chegou até o Brasil com obras de arte repletas de cores e detalhes rebuscados. Início da arte Barroca O Barroco ocorrei entre o final do século XVI e meados do século XVIII. Nesse período, a arte se desenvolveu primeiramente nas artes plásticas e depois na música, no teatro e na literatura. Barbara Borngässer (2004, p. 7) apresenta o barroco dizendo que: A metáfora do “teatro do mundo” percorre toda a chamada época barroca, que vai dos finais do século XVI até o último quartel do século XVIII. Época marcada por contradições que se entrecruzam tanto no palco quanto nos bastidores. Ser e parecer, pompa e despojamento, poder e potência são as constantes antagônicas desse período. Num mundo abalado por conflitos sociais, por lutas religiosa e todo tipo de guerras, o espetáculo gigantesco do teatro do mundo (o Barroco) propunha-se como um esteio. A auto encenação do príncipe, fosse ele papa ou rei constituía em si mesmo um programa político. O cerimonial a etiqueta deste teatro universal, funcionava como um espelho de uma ordem superior pretensamente determinada por Deus. HA_U2_C07.indd 87 12/01/2018 15:43:58 Após as reformas religiosas de XVI, que tiveram início na Alemanha e se expandiram por outros países, a Igreja Católica estabeleceu o Concílio de Trento, convocado pelo papa Paulo III, em 1542. O Concílio de Trento rea- firmava a doutrina católica e a organização da igreja, negando as mudanças doutrinais realizadas pelos reformistas e confirmando os sete sacramentos, o culto a virgem Maria e aos santos. Portanto, a Itália foi o berço da arte Barroca, tendo se disseminado por outros países europeus como a Holanda, a Bélgica, a França e a Espanha. A Igreja Católica retomou sua força e novas grandes igrejas foram edi- ficadas. A arte foi, então, usada para propagar o catolicismo e ampliar suas influências, pois uma antiga tradição afirmava que as imagens de santos, esculpidas ou pintadas, eram intermediários para uma comunicação plena dos homens com as esferas espirituais. Francastel (1973, p. 421) reforça essa questão: Maravilhoso meio de propaganda e de expressão, a arte desempenhou a partir do final do século XVI um papel considerável na resistência das multidões cristãs à difusão de uma religião por demais abstrata, ao mesmo tempo em que na resistência dos espíritos livres à difusão de uma doutrina demasiado hostil às solicitações da natureza humana. Embora tenha sido um movimento de caráter religioso, mudanças em outros setores da cultura europeia ocorreram. Diante da disputa religiosa, se deu a criação dos Estados nacionais e dos governos absolutos. Essa forma de governo propunha que cada nação se libertasse da submissão ao papa e eliminando os mosteiros, que eram considerados como medida abusiva e fortalecendo a vida espiritual. Assim, além dos católicos, conviviam no continente europeu luteranos, calvinistas, anglicanos e outras religiões, conforme você pode observar na Figura 1. Barroco88 HA_U2_C07.indd 88 12/01/2018 15:43:58 Figura 1. Mapa europeu no século XVI. Fonte: Wiki Mouse (c2017). O estilo Barroco corresponde ao absolutismo da época e chama a atenção pelo seu esplendor exuberante. Pode se dizer, que esse estilo deu continuidade ao Renascimento, já que os dois estilos tiveram um grande interesse pela arte da Antiguidade Clássica, mas há diferenças entre eles: O Renascimento é identificado com o imitativo, com as formas construídas e fechadas, próprios dos países mediterrâneos; o barroco é decorativo, de formas livres, característicos dos países do Norte da Europa. Essas duas categorias não têm necessariamente uma referência temporal, reaparecem ciclicamente ao longo da história da arte (SILVA, 1989, p. 16). O Barroco marca um período histórico e um movimento sociocultural, por meio do qual aparecem novos modos de entender o mundo, o homem e Deus. Nesse sentido, a arte Barroca faz referência à tradição clássica, e almeja ultrapassá-la com a criação de obras originais. As pinturas e esculturas barrocas são detalhistas, rebuscadas e expressam emoções do ser humano e da vida, conforme representado na Figura 2. 89Barroco HA_U2_C07.indd 89 12/01/2018 15:44:00 Figura 2. Alegoria da obra missionária dos jesuítas, Andrea Pozzo. Fonte: Pozzo (1691). O período final do Barroco, no século XVIII, é denominado de Rococó, pois apresenta algumas peculiaridades como a presença de curvas e muitos detalhes decorativos, como conchas, flores, folhas, ramos e temas ligados a mitologia grega e romana. Os temas das obras dos artistas barrocos europeus são passagens da bíblia, história da humanidade e questões da mitologia. Os artistas desse período, patrocinados pelos clero, burgueses e monarcas, valo- rizavam as cores, as sombras e a luz, representando os contrastes. As imagens aparecem de um modo dinâmico, valorizando o movimento. Tipos de artes no Barroco europeu A arquitetura barroca traz as formas clássicas (colunas, arcos, frontões, frisos) já estabelecidas em outros períodos, mas as evidencia por meio de um aspecto mais fantasioso e subjetivo, que dá a ideia de movimento e elucida as curvas em suas edificações. Nessa arte, é fundamental reconhecer a importância do uso da luz, aplicadas em fortes contrastes entre o claro iluminado e o escuro, sendo uma técnica utilizada em edifícios da época para dar mais dramaticidade à atmosfera artística. Havia uma preocupação com a integração da obra à urbanidade, de modo que suas construções eram mais espaçosas e organizadas, facilitando a circula- ção dos cidadãos. Ao mesmo tempo, esse aspecto monumental se aliava a força Barroco90 HA_U2_C07.indd 90 12/01/2018 15:44:00 visual das imagens pintadas, trazendo novas paisagens na cidade. A magnitude expressa na obra também tinha como intenção representar a autoridade papal e reforçar os aspectos defendidos pelo movimento da contrarreforma. Assim, pode-se dizer que a arquitetura Barroca é caracterizada pela cons- trução com efeitos impactantes e teatrais, com o uso de contrastes entre cheios e vazios, formas convexas e côncavas, luz e sombra, decorações e integração entre as artes e o aspecto ilusionista para compor a obra. Ressalta-se, ainda, o rebuscamento e orçamento das obras, como os da cúpula da igreja de São Lourenço, em Turim, na Itália, em que o entrelaçar de arcos, leva ao limite da forma, mas com base em regras bem definidas, conforme você pode observar na Figura 3. Figura 3. Interior da cúpula da igreja de São Lourenço, em Turim, Itália. Fonte: Eddy Galeotti/Shutterstock.com. Na França, o Barroco tem características mais sóbrias do que na Itália. Os arquitetos franceses tiveram um estilo mais comedido,quase clássico, que se impôs pouco a pouco como um estilo dominante na Europa. No palácio de Versalles, a fachada do lado do jardim revela um único fator de movimento: as três pequenas galerias sobrepostas, em dois planos, à própria fachada. O recorte do palácio foi pensado como pano de fundo para o imenso parque. Na 91Barroco HA_U2_C07.indd 91 12/01/2018 15:44:00 Áustria e na Alemanha, o Barroco foi inspirado nos exemplos franceses, e a igreja Karlskirche, em Viena, acompanha mais o estilo italiano. O Barroco espanhol é repleto de ornamentações em suas arquiteturas, temos como exemplo clássico o estilo da Igreja de São Tiago de Compostela. A pintura barroca se caracteriza por composições assimétricas, em diagonal, conferindo um estilo monumental, retorcido, realista, evidenciando todas as camadas; apresenta ainda cenas no ponto auge de sua dramaticidade; e apresenta um novo gênero de pintura aos tradicionais, o da natureza-morta, que evidencia questões da vida cotidiana, como flores, livros, peças de caça e outros. Os principais pintores italianos foram: Caravaggio (1571-1610), que não se interessava pela beleza clássica, mas procurava os seus modelos entre os vendedores, os músicos ambulantes, os ciganos, ou seja, entre as pessoas do povo. Em seus trabalhos, chama a atenção a maneira do uso da luz, como você pode observar na Figura 4. Na arte religiosa, pintou os santos como gente comum e os milagres, como eventos do cotidiano. Figura 4. A crucificação de São Pedro (Caravaggio, 1601). Fonte: FXEGS Javier Espuny/Shutterstock.com. Barroco92 HA_U2_C07.indd 92 12/01/2018 15:44:01 Outros dois pintores importantes dessa época foram: Andrea Pozzo (1642- 1709), que pintava os tetos das igrejas, em que o céu se abria e os santos e anjos convidavam os homens para a santidade, fazendo com que sua composição fosse centrífuga ao aglomerar figuras lado a lado; e Diogo Velázquez (1599 - 1660), pintor espanhol que retratava as pessoas da corte espanhola do século XVII, procurando registrar em seus quadros também os tipos populares do seus país, documentando o cotidiano do povo espanhol em um momento da história. Ele utilizava efeitos luminosos, por meio de uma contínua e gradual mudança de intensidade nas várias zonas da tela, para fazer da composição um jogo de anotações coloristas simbólicas, escondidas atrás de uma aparência de adesão ao tema. A escultura barroca, apresenta como características o predomínio das linhas curvas, os drapeados das vestes e o uso do dourado. Os gestos e o rostos dos personagens revelam emoções violentas e tingem uma dramaticidade que não era conhecida no Renascimento. Uma grande preocupação dos escultores barrocos é a de se fundirem nas outras artes. As esculturas barrocas são concebidas combinando movimentos soltos e vivos das figuras. O principal escultor dessa época foi Gianlorenzo Bernini (1598-1610), que também foi arquiteto, urbanista, decorador, teatrólogo, compositor e cenógrafo. Algumas de suas obras formam usadas como elementos decorativos das igrejas, por exemplo, o baldaquino e a cadeira de São Pedro, ambos na Basílica de São Pedro, no Vaticano. Pode-se dizer que sua obra mais famosa é o Êxtase de Santa Teresa, como explica Proença (2003, p. 107): A obra de Bernini que desperta maior emoção religiosa é o Êxtase de Santa Teresa, escultura feita para uma capela da igreja de Santa Maria della Vittorio, em Roma. O grupo escultórico reproduz, com intensa dramaticidade, o mo- mento em que Santa Teresa é visitada por um anjo que lhe fere o peito várias vezes com uma flecha. Segundo relato da própria santa, esses ferimentos, que lhe causaram profunda dor, transformaram-se na experiência mística do amor de Deus. Bernini parece registrar o momento em que o anjo segura a flecha pronto para desferir mais um golpe. E ao registrar esse momento que é pura expectativa, o artista envolve o observador emocionalmente. A produção de escultura do período se desenvolve de um gênero de com- posição grupal chamado de “sacro monte”, concebido pela igreja e difundido em outros países. É um conjunto que reproduz a Paixão de Cristo e outras cenas piedosas, com figuras policromas em atitudes realistas e dramáticas em um arranjo teatralizado, destinadas a comover o público. Desse instrumental pedagógico católico fazia parte a construção de cenários nos quais eram co- 93Barroco HA_U2_C07.indd 93 12/01/2018 15:44:01 locadas as estátuas, para criar maior ilusão de realidade, em uma concepção mais teatral. A literatura barroca foi um período caracterizado pelas oposições, contrastes e dilemas. O homem desse período buscava a salvação, mas, ao mesmo tempo, queria aproveitar os prazeres mundanos. As principais características desse período literário são: uso de recursos como antíteses, metáforas, paradoxo e sinestesia; pessimismo; linguagem muito rebuscada e obscura; e intensidade com a presença da hipérbole. Logo após a primeira parte do século XVII, a literatura deu origem à lite- ratura moderna. A herança clássica trazia padrões morais e formas estéticas, sendo que a literatura do século anterior era repleta de moral, mas, ao mesmo tempo, havia a necessidade cristã de rejeitar o tão prezado modelo clássico, por sua origem pagã, considerada uma influência enganosa e corruptora, o que explica a rejeição do classicismo em boa parte do Barroco. O conflito se estendeu para a área da educação, até então, também pesa- damente devedora dos clássicos e com as influências jesuítica, vista como primeiro e principal instrumento de reforma social. Em termos estilísticos, a literatura barroca dedicou um profundo cuidado à forma e ao virtuosismo linguístico, com o objetivo de maravilhar e convencer o leitor, o que im- plicava o uso de figuras de linguagem e outros artifícios retóricos, como a metáfora, a elipse, a antítese, o paradoxo e a hipérbole, com grande detalhe a ornamentação como partes essenciais do discurso para mostrar erudição e bom gosto. Arte Barroca no Brasil No Brasil, o Barroco aconteceu no século XVIII, o chamado “século do ouro”, e foi formado por uma complexa influência europeia, principalmente pelo Barroco Português, mas com o tempo adquiriu suas próprias características. No país essa tendência artística ocorreu na arquitetura, escultura, pintura e literatura. A maior produção artística barroca ocorreu nas cidades de Minas Gerais, ricas em jazidas de ouro. Essas cidades, além de riquezas, possuíam uma intensa vida artística e cultural. O principal artista barroco do Brasil foi o escultor e arquiteto Antônio Francisco de Lisboa, popularmente conhecido como Aleijadinho, em razão de uma doença degenerativa que deixava seu corpo progressivamente deformado. As obras possuíam forte caráter religioso e eram feitas em madeira e pedra-sabão, principais materiais utilizados pelos Barroco94 HA_U2_C07.indd 94 12/01/2018 15:44:01 artistas brasileiros no período barroco. Suas principais obras foram Os Doze Profetas (veja a Figura 5) e Os Passos da Paixão. Figura 5. Os dozes Profetas, de Aleijadinho. Fonte: Museu de Ciências da USP (c2017). Outros nomes que também se destacaram neste período foram o pintor Manuel da Costa Ataíde e o escultor carioca Mestre Valentim. Na Bahia, especialmente em Salvador, o barroco teve grande destaque nas decorações das igrejas de São Francisco de Assis e a da Ordem Terceira de São Fran- cisco. Nessa época, a primeira capital do Brasil, Salvador, foi transferida para o Rio de Janeiro. A literatura no Brasil tem início no ano de 1601, com a publicação da obra Prosopopeia, de Bento Teixeira, poema épico, com 94 estrofes, que exalta a obra de Jorge de Albuquerque Coelho, terceiro donatário da capitania de Pernambuco. Podemos destacar, ainda, o poeta Gregório de Matos Guerra, que se destacou com sua poesia lírica, religiosa, erótica e satírica. Ficou conhecido como Boca do Inferno, porque sua poesia ironizava diversos aspectos da sociedadee foi considerado o mais importante poeta barroco brasileiro. O padre Antonio Vieira também ganhou destaque com seus sermões. As principais características do barroco brasileiro são: linguagem dra- mática, racionalismo, exagero e rebuscamento, uso de figuras de linguagem, união do religioso e do profano, arte dualista, jogo de contrastes, valorização de detalhes, cultismo (jogo de palavras) e conceptismo (jogo de ideias). Ma- noel Botelho de Oliveira foi o primeiro brasileiro a publicar versos no estilo barroco, cuja obra Música do Parnaso, de 1705, obteve grande destaque. Frei Vicente de Salvador (1564-1636) foi o primeiro prosador do país, suas obras de destaque são: História do Brasil e História da Custódia do Brasil. Frei Manuel da Santa Maria de Itaparica (1704-1768) foi autor de Eutáquios e Descrição da Ilha de Itaparica. 95Barroco HA_U2_C07.indd 95 12/01/2018 15:44:01 Durante o período colonial, a igreja estava em íntima consonância com o Estado, a religião exercia influência no cotidiano de todos, por isso todo o legado barroco brasileiro permanece na arte sacra: pintura, estatuária e obra de talha para decoração de conventos e igrejas. Os negros, os mulatos, os índios e os artesãos populares, deram ao Barroco feições novas e originais, o que constituiu uma cultura genuinamente brasileira. Apesar da importância da arte barroca brasileira, boa parte do legado desse material encontra-se em mau estado de conservação e necessita de restauro, bem como outras medidas para conservação, verificando-se frequentemente perdas ou degradação de exemplares valiosos em todas modalidades artísticas. O documentário Aleijadinho: a arte de um gênio (TVBRASIL, 2014), disponível no link a seguir, apresenta a história de Aleijadinho e suas obras feitas em Minas Gerais no século XVIII. https://goo.gl/YS8a4a Barroco96 HA_U2_C07.indd 96 12/01/2018 15:44:01 https://goo.gl/YS8a4a 1. Em qual contexto surge a questão da arte no Barroco? a) Após a Idade Média, trazendo uma visão antropocêntrica. b) A partir da reforma religiosa, sendo a arte mediadora do humano e do divino. c) Após o Renascimento e se liberta da religiosidade da época. d) A partir da contrarreforma, sendo a arte mediadora do humano e do divino. e) Após a pré-história, visando a construção de figuras abstratas. 2. Sobre os temas evidenciados na arte barroca, assinale a alternativa correta. a) Apresenta conflitos banais da época representados de modo satírico. b) Mostra passagens da bíblia, histórias mitológicas e questões humanas. c) Demonstra conflitos sociais no medievo, representando a hipocrisia do clero. d) Define a autoridade dos burgueses em relação ao clero. e) Destaca conflitos entre o clero e nobreza. 3. Quanto à arquitetura barroca, é correto afirmar que: a) usa contrastes e linhas planas. b) foca-se apenas em decorações. c) usa contrastes, cheios e vazios, curvas e decorações. d) foca-se apenas em estatuárias. e) usa contrastes, abóbadas e vitrais. 4. Sobre a pintura barroca, é correto afirmar que: a) expressa figuras plácidas e serenas. b) utiliza o colorismo, composições simétricas e enfoca o drama da cena. c) expressa os questionamentos humanos por meio de figuras abstratas. d) utiliza claro e escuro, composições assimétricas e enfoca o drama da cena. e) expressa animais, anjos e deuses em tons pastéis. 5. Sobre a arte barroca no Brasil, enfatiza-se que: a) a cidade berço foi o Rio de Janeiro. b) a literatura de Gil Vicente se destacou. c) a música de Aleijadinho foi o principal destaque. d) as obras de escultura eram feitas de madeira e pedra-sabão. e) não teve influência no país. 97Barroco HA_U2_C07.indd 97 12/01/2018 15:44:02 BORNGÄSSER, B. O barroco. Königswinter: Könemann, 2004. FRANCASTEL, P. A realidade figurativa. São Paulo: Perspectiva, 1973. MUSEU DE CIÊNCIAS DA USP. Os 12 profetas. São Paulo, c2017. Disponível em: <http://200.144.182.66/aleijadinho/os-12-profetas/>. Acesso em: 05 dez. 2017. POZZO, A. Alegoria da obra missionária dos jesuítas (detalhe). [S.l.]: WahooArt, 1691. Disponível em: <http://pt.wahooart.com/@@/8XZTVM-Andrea-Pozzo--Alegoria-da- -Obra-Mission%C3%A1ria-dos-jesu%C3%ADtas-(detalhe)>. Acesso em: 05 dez. 2017. PROENÇA, G. História da arte. 16. ed. São Paulo: Ática, 2003. SILVA, R. H. D. R. F. da. Wölfflin: estrutura e forma na visualidade artística. In: WÖLFFLIN, H. Renascença e barroco. São Paulo: Perspectiva, 1989. TVBRASIL. Aleijadinho: a arte de um gênio. [S.l.]: YouTube, 2014. 1 vídeo. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=3y_HHF9N9U4>. Acesso em: 05 dez. 2017. WIKI MOUSE. O barroco. San Francisco: Fandom, c2017. Disponível em: <http://pt-br. mouse.wikia.com/wiki/1-_O_Barroco>. Acesso em: 05 dez. 2017. Barroco98 HA_U2_C07.indd 98 12/01/2018 15:44:02 http://pt.wahooart.com/ https://www.youtube.com/watch?v=3y_HHF9N9U4 http://mouse.wikia.com/wiki/1-_O_Barroco Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual da Instituição, você encontra a obra na íntegra. Conteúdo: HISTÓRIA DA ARTE Dulce América de Souza Barroco Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Examinar o contexto de surgimento e as características do Barroco na Europa. Identificar as principais obras produzidas nos campos da pintura e escultura na Europa. Sintetizar as características da arte barroca no Brasil. Introdução O termo “barroco” foi empregado pelos críticos do século XVIII para expressar seu repúdio à arte produzida entre o período de 1600 e 1750, por considerá-la grotesca, de mau gosto. Esses estudiosos defendiam que as formas das construções clássicas não deveriam ser alteradas, mas sim mantidas integralmente como adotado pelos gregos e romanos e consolidado pelos renascentistas. Desprezar as rigorosas normas da arquitetura antiga seria, para eles, uma aberração. Daí surge o termo “barroco”, como um rótulo depreciativo. A bibliografia de referência da história da arte nos fornece leituras apropriadas para o Barroco, que é constituído por um estilo coeso e, simultaneamente, híbrido. Carregado das tendências nacionais, o movi- mento chegou ao Brasil um século após seu auge europeu, produzindo um patrimônio artístico e cultural inigualável em terras brasileiras. Neste capítulo, você estudará o Barroco, bem como conhecerá os contextos históricos, sociais e artísticos nos quais esse movimento se desenvolveu inicialmente e o processo de expansão do estilo por toda a Europa. Além disso, estabelecerá conexões entre as manifestações do estilo nas principias categorias artísticas. O surgimento do Barroco na Europa e suas principais características Na história da arte, refere-se à arte produzida no século XVII até meados século XVIII (consensualmente entre 1600 e 1750) como Barroco. O termo foi utilizado pela primeira vez no fi m século XVIII e aplicava-se aos fenômenos que, de acordo com a estética classicista predominante, eram considerados extravagantes, confusos e bizarros. É importante salientar que o Classicismo (o modelo renascentista) não se incluía nesse conceito e permaneceu presente nas expressões artísticas até quase o fi m do século XIX — o estilo neoclássico atesta sua prevalência. Embora não exista consenso quanto ao significado do termo Barroco, uma das correntes o identifica como um nome originário da Península Ibérica que significa “pérola de origem irregular” (WOLFFLIN, 2000; HAUSER, 2003; BAUMGART, 1999). Essa acepção foi utilizada de maneira depreciativa para caracterizar as inovações artísticas posteriores ao Renascimento e como denúncia aos exageros cometidos pelos artistas pós-renascentistas. Segundo Vázquez (1999), o protótipo do bom gosto era a arte linear e racional dos mestres renascentistas, de modo que as obras barrocas seriam um desvio ou deformação do padrão estético instituído. Hauser(2003) atribui aos estudos de Heinrich Wöllf lin (escritor, fi- lósofo, crítico e historiador da arte suíço) a compreensão do Barroco como um estilo estético coerente, organizado ideologicamente e dotado de características próprias, as quais foram manifestadas em diferentes cate- gorias artísticas em países europeus e em suas respectivas colônias em um momento posterior. O Barroco foi uma expressão homogênea — do ponto de vista de visão de mundo — que se propagou pela Europa, assumindo grande variedade de formas nos diferentes países europeus. Englobando várias ramificações do fazer artístico, apresentou-se de maneiras distintas nas variadas esferas da cultura, sendo impossível reduzi-lo a um denominador comum. Conforme esclarece Hauser (2003, p. 442): O barroco dos círculos cortesãos e católicos não só é totalmente diferente do da classe média e das comunidades protestantes, a arte de um Bernini e de um Rubens não só descreve um mundo interior diferente do de um Rembrandt e de um Van Goyen, como até mesmo dentro dessas duas grandes tendências de estilo, novas e decisivas diferenciações se fazem sentir. Barroco2 As subdivisões mais importantes do Barroco são: o Barroco cortesão- -católico e o Barroco classicista. O Barroco cortesão-católico tem uma tendência sensualista, monumental e decorativa, é aquilo que se entende pela acepção tradicional de “barroco”. Já o Barroco classicista é um estilo mais estrito, formalmente mais rigoroso. Nessas duas tendências, os fatores sociais que determinam o Barroco geram impactos distintos e serão estudados à luz da teoria e das obras produzidas (HAUSER, 2003). O contexto do surgimento do movimento na Europa possui estreita ligação com a reação da Igreja Católica à Reforma Protestante (século XVI). A Contrar- reforma ou Reforma Católica decretou que a arte deveria inspirar os especta- dores com temas fervorosamente religiosos. De acordo com Hodge (2018, p. 23): “Entre 1545 e 1563, o Concílio de Trento determinou que a arte sacra deveria incentivar a devoção, o realismo e a exatidão, e ao atrair a atenção e empatia dos espectadores, glorificar a Igreja Católica e fortalecer a imagem do catolicismo”. No século seguinte, um estilo completamente inovador incorporou e desen- volveu os modelos do Alto Renascimento, abrindo caminhos artísticos tanto na arte sacra como nas novas variedades de arte secular, o qual foi designado de forma ampla como Barroco. Esse novo estilo ampliou a escala e o alcance da arte, desenvolvendo-se primeiro na Itália e propagando-se, em seguida, para a França, Alemanha, Holanda, Espanha e Inglaterra. O Barroco é reflexo de aspectos importantes desse período da história da civilização ocidental (século XVII), em que ocorreram mudanças que conferiram novas feições à Europa da Idade Moderna. Embora tenha sido um movimento de caráter religioso, a Reforma Protestante teve consequências que ultrapassaram os limites da fé, provocando mudanças em outros aspectos da cultura europeia. A mais significativa vertente dessas mudanças o surgimento dos Estados nacionais e dos governos absolutos, fenômeno em que cada nação conseguiu se libertar da submissão exclusiva ao papa (WOLFFLIN, 2000). Contudo, para entender os princípios do Barroco, é imperativo conhecer os trabalhos conciliados à atuação das grandes ordens religiosas (como a Companhia de Jesus) para a retomada de força da Igreja Católica na edifica- ção de grandes e novas igrejas, originalmente uma iniciativa italiana. Esses princípios serão absorvidos e adaptados às demais categorias artísticas, dentre elas: pintura, escultura, literatura e teatro. Além disso, pode-se incluir nessas categorias o urbanismo — por meio dos traçados urbanos — e o paisagismo — por meio das monumentais arquiteturas da paisagem, realizadas especialmente sob o domínio dos governos absolutos, como no caso da França. 3Barroco Conceitualmente, o afresco O juízo final, de Michelangelo (1536–1541), realizado na Capela Sistina, no Vaticano, expressa pela primeira vez o ideal da Igreja em revigorar seus princípios doutrinários, propagar e ampliar a influência do catolicismo (Figura 1). A intensidade expressiva, o movimento e o vigor das figuras fazem de Michelangelo o precursor do movimento que desabrochará plenamente no século XVII. Figura 1. O juízo final (1536–1541), Capela Sistina, Vaticano. Fonte: The Last Judgment (2015, documento on-line). Tecnicamente, o termo “Barroco” foi empregado pela primeira vez re- ferindo-se à arquitetura. Os críticos das novas arquiteturas religiosas que surgiam na Itália agrediam as tendências seiscentistas, pretendendo expô-las ao ridículo. De acordo com Gombrich (1999, p. 387): Barroco significa realmente absurdo ou grotesco, e era empregado por homens que insistiam em que as formas das construções clássicas jamais deveriam ser usadas ou combinadas a não ser do modo adotado pelos gregos Barroco4 e romanos. Desprezar as severas normas da arquitetura antiga parecia, a esses críticos, uma deplorável falta de gosto — daí terem rotulado o estilo de barroco. Uma das primeiras igrejas barrocas resultante das novas aspirações religio- sas foi a Igreja de Il Gesù (Igreja de Jesus), em Roma, projetada pelo arquiteto Giacomo Della Porta, em 1575 (Figura 2). A recém-fundada igreja da Ordem dos Jesuítas carregava a experiência inédita da nova forma e volumetria das edificações como antídoto à Reforma Protestante. O formato da igreja adota um novo e incomum plano: a ideia renascentista de construção geométrica (frequentemente redonda) e simétrica foi rejeitada e substituída por uma composição simples e engenhosa, posteriormente aceita em toda a Europa. Figura 2. Il Gesù (1575), Roma. (a) Fachada; (b) corte e planta. Fonte: (a) Church of the Gesù (2013, documento on-line); (b) Fazio (2011, p. 361). O modo de planejar as igrejas, a partir da Igreja de Jesus, tem sido lar- gamente utilizado desde então, pois combina as principais características das igrejas medievais — formato alongado, realçando o altar-mor — com as realizações do planejamento renascentista — ênfase aos interiores espaçosos, iluminados através do zimbório (cúpula). Entretanto, é na fachada que se reconhece as primeiras manifestações do estilo Barroco, que serão ampliadas e intensificadas nas edificações religiosas posteriores, especialmente na Itália. Segundo Gombrich (1999, p. 388–389): 5Barroco Nada existe nessa simples e majestosa fachada para sugerir um desafio de- liberado às regras clássicas, em nome de um capricho requintado. Mas o modo pelo qual os elementos clássicos se fundem num padrão mostra que as regras gregas e romanas, e mesmo as renascentistas, tinham ficado para trás. A característica mais impressionante nessa fachada é a duplicação de cada coluna ou pilastra, como para incutir a toda a edificação maior riqueza, variedade e solenidade. O segundo traço que notamos é o cuidado que o artista teve em evitar a repetição e monotonia, organizando as partes de maneira a formar um clímax no centro, onde a entrada principal é realçada por uma dupla moldura. Se retornarmos a construções mais antigas, compos tas de elementos semelhantes, vemos imediatamente a grande mudança no caráter. De fato, a arquitetura barroca (tanto a religiosa quanto a cortesã) incorpora os elementos da arquitetura clássica, reunindo todas as peças formais já conhe- cidas: colunas (novidade na utilização de meias colunas e pilastras), arquitrave e frisos. A distribuição dessas peças formais também emprega características clássicas, como a vasta entrada central emoldurada por colunas e ladeada por duas entradas menores. No entanto, o modo como os elementos clássicos passam a ser arranjados indica que as regras greco-romanas e renascentistas ficaram para trás. Há, por exemplo, a duplicação de pilastras (em outros casos, há duplicação de mais elementos), com objetivo de imprimir maior riqueza, solenidade e variedade de linguagem (GLANCEY, 2001) Uma importantecaracterística da Igreja de Il Gesù é a cenografia. O arqui- teto tratou a fachada de forma a evitar a repetição e a monotonia, organizando as partes de modo a conseguir um clímax no centro da composição, realçando a entrada principal por uma dupla coluna. Sobre esse aspecto cenográfico, Gombrich (1999, p. 389) observa: “Na fachada de Giacomo della Porta para a primeira igreja jesuíta tudo depende do efeito proporcionado pelo conjunto. Tudo está fundido num vasto e complexo padrão”. Uma forma recorrente na arquitetura barroca de igrejas e completamente inédita é o emprego das volutas, ausentes na arquitetura clássica. As volutas laterais realizam a conexão entre os andares inferior e superior, e são justamente essas formas curvas e espirais as responsáveis por grande parte das censuras aos construtores barrocos pelos defensores da pureza das formas clássicas. Na arqui- tetura sacra barroca, as volutas operam de modo a conferir coerência e unidade às complexas composições das fachadas (GLANCEY, 2001; GOMBRICH, 1999). O Barroco é um estilo que abusa dos ornamentos e das decorações, e os inte- riores são notadamente espetaculares, como revela o interior de Il Gesù (Figura 3). A profusão de elementos decorativos marca a estética barroca, criando um espaço cenográfico com forte apelo emocional, no qual arquitetura, a escultura e a pintura se fundem. Fazio (2011, p. 361) destaca o teto da nave central: Barroco6 Olhando para o teto da nave central, é impossível saber com certeza onde termina a arquitetura e começa a escultura ou onde termina a escultura e começa o afresco Adoração do Nome de Jesus, pintado por Giovanni Battista Gaulli, entre 1675 e 1679. Nuvens, drapeados e corpos humanos flutuam no espaço, arrebatando os visitantes com a visão do paraíso. Figura 3. (a) Interior de Il Gesù com (b) afresco do teto da nave central. Fonte: (a) Rom Il Gesu Hauptorgel (2007, documento on-line); (b) Triumph of the Name of Jesus (2015, documento on-line). O trabalho de dois importantes arquitetos e escultores italianos foi fundamental para a magnitude do Barroco em Roma. Rivais profissionais, Gian Lorenzo Bernini e Francesco Borromini competiam constantemente para conseguir os melhores projetos arquitetônicos e deixaram um legado exemplar para a compreensão do Barroco na Itália e sua influência em toda a Europa. Os artistas desenvolveram exímios projetos em Roma. Para aprofundar seus conhecimentos sobre a arquitetura e a escultura barrocas, leia o livro A história da arquitetura mundial, de Michael Fazio (2011). Comparados às formas barrocas da Itália — complexas, floreadas, extre- mamente ornadas e carregadas de apelo emocional —, os edifícios barrocos ingleses e franceses eram mais contidos, exceto nas grandes dimensões e nos 7Barroco efeitos espetaculares, resultantes da profusão artística nos seus interiores e nos espetaculares projetos de paisagismo. A consolidação das monarquias absolutistas foi fundamental para a for- mação da estética barroca, em particular na França, cujos valores eram con- sagrados por meio da arte. O Barroco passa a ser a exibição do poder e da grandeza do Estado centralizado, representado pela monumentalidade dos seus palácios, a exemplo do Palácio de Versalhes (iniciado em 1661), construído por Luís XIV (Figura 4) (JANSON; JANSON, 2009). Figura 4. (a) Palácio de Versalhes e seus (b) jardins (1661–1750), França. Fonte: Adaptada de (a) FrimuFilms/Shutterstock.com.; (b) Bartlomiej Rybacki/ Shutterstock.com. Barroco8 Ícone do Barroco cortesão, o Palácio de Versalhes foi transformado em um monumento da arquitetura, que envolveu o projeto paisagístico de André Le Nôtre e o projeto de interiores do decorador Charles Le Brun. O centro da corte francesa foi acomodado nas imensas edificações projetadas por Louis Le Vau e Jules Hardouin-Mansart (após a morte de Le Vau). A magnitude do Barroco francês encontrou em Versalhes sua maior expressão. De acordo com Janson e Janson (2009, p. 280): O projeto, de André Le Nôtre, em uma relação tão estreita com a planta do palácio que se torna uma continuação do espaço arquitetônico. Com o interior de Versalhes, pretendia-se que esses jardins formais, com terraços, fontes, cercas vivas aparadas e estátuas, constituíssem um cenário à altura das aspi- rações públicas do rei. A regularidade geométrica imposta a toda uma região nos arredores do palácio revela, de forma de ainda mais impressionante no palácio em si, o espírito do absolutismo. A partir dos exemplos apresentados, que sintetizam os contextos de surgimento e os aspectos generalizantes do movimento, pode-se afir- mar que o Barroco renovou completamente a iconografia e as formas da arte sacra, ao mesmo tempo que foi uma expressão cortesã, refletindo o Absolutismo da monarquia no fausto da decoração. Essa grandiosidade pode ser explicada pelo contexto histórico, marcado pela reação da Igreja à teologia protestante e pela ostentação das cortes que representavam o Estado absoluto. O Barroco foi uma forma de expressão propagandista, em que a arte estava diretamente comprometida com a nova realidade (Contrarreforma Católica e Absolutismo), promovendo o anúncio dos seus valores. Nas categorias artísticas (arquitetura, escultura e pintura), as obras romperam o equilíbrio entre o sentimento e a razão, com o predomínio das emoções. O Quadro 1, a seguir, apresenta os princípios caracterizantes do Barroco, estabelecendo uma comparação com os princípios renascentistas, visando à compreensão da revolução formal e conceitual barroca, sem, contudo, adentrar em critério de juízo estético em relação às distintas produções. 9Barroco Fonte: Adaptado de Strickland (2002), Janson e Janson (2009). Aspectos Estética renascentista Estética barroca Racionalidade Profundamente racional: Arte é “cosa mentale” (Leo- nardo da Vinci) Predominância das emoções Ornamentação Absolutamente dispensável, arte racional, intelectual Arte emocional e sensual, opu- lência das formas e excesso de ornamentação Intelectualização Tendência a fixar princípios rígidos Oposição ao intelecto, apelo ao emocional ou dramático Disciplina Estruturas artísticas discipli- nadas, comedidas, clássicas Momento de libertação de formas Religiosidade Interpretação idealizada das sagradas escrituras, fechada Religiosidade ligada a uma visão de mundo aberta, combinando misticismo e sensualidade Temperamento Serenidade Arrebatamento Arquitetura Baseada na geometria, lógica, simetria, simplicidade Cenográfica, populista, atraente, com efeitos especiais Ordens clássicas Utilizadas para enfatizar a estabilidade e o equilíbrio Mestres do Barroco, como Bernini e Borromini, retorciam cada coluna como um saca-rolhas Fachadas Achatadas, superfícies planas e baixas Movimentadas, fluidas, com movi- mentos ondulantes Simetria Rigorosa Assimetria, noção de espaço infinito, movimento contínuo, com o obje- tivo de tocar os sentidos e despertar as emoções Artes Individualizadas Fundem-se na unidade barroca, criando um espetáculo dinâmico, colorido e brilhante, que se traduz em exaltação Composição pictórica e escultórica Linha central imaginária Linha diagonal imaginária Quadro 1. Princípios caracterizantes Barroco10 O Barroco europeu consolidou-se como um estilo teatral condizente com a nova era, na qual o teatro, a ópera e uma opulenta vida urbana floresciam. A Igreja Católica captou rapidamente a mensagem que o teatro e a ópera enviavam: desejava-se conquistar o espírito das massas e deter o avanço do protestantismo, de modo que se deveria oferecer ao público, nos dias de culto, o equivalente da ópera e do teatro. Além da Itália, o Barroco se manifestou de formas diversas nos demais países europeus, que não se limitaram a reproduzir as obras italia- nas, mas sim desenvolveram estilos e ênfases distintas. O Quadro 2, a seguir, sintetiza as especificidades do Barroco nos países europeus. Fonte: Adaptado de Strickland (2002).Italiano Flamengo Holandês Espanhol Inglês Francês Auge 1590–1680 1600–1640 1630–1670 1625–1670 1720–1790 1670–1715 Ênfase Obras sacras Altares Retratos, naturezas- -mortas, paisagens Retratos da corte Retratos da aristocracia Paisagens clássicas e arquitetura decorativa Patronos Igreja Igreja, monarca Povo Monarcas Classe alta Monarcas Estilo Dinâmico Floreado Virtuoso Realista Contido Pretencioso Dualidades Drama, intensidade, movimento Sensualidade Acurácia visual, estudos de luz Dignidade Elegância Ordem e ornamentos Quadro 2. Estilos e ênfases do Barroco nos países europeus A arte barroca combinou a técnica avançada da Renascença com a emoção, a intensidade e a dramaticidade, fazendo do estilo Barroco o mais suntuoso e ornamentado da história da arte, como se observa por meio de suas produções escultóricas e pictóricas. A linguagem pictórica e escultórica barroca Enquanto as esculturas renascentistas apresentavam um equilíbrio entre os aspectos intelectuais e emocionais, as obras barrocas apagaram esse equi- 11Barroco líbrio, dando lugar à exaltação dos sentimentos, com formas recobertas de efeitos decorativos que expressam o movimento. Nessas obras predominam as linhas curvas, a aplicação do dourado, a movimentação e o drapeado das vestes. A expressão das fi guras também revela emoções violentas, atingindo uma dramaticidade desconhecida nas obras do Renascimento (SANTOS, 2000). A escultura barroca pode ser representada pelo nome de Gianlorenzo Bernini (1598–1680), que deixou sua marca em Roma: suas fontes, suas esculturas religiosas e o seu projeto da Basílica de São Pedro são ícones do estilo Barroco. Bernini foi escultor, arquiteto, pintor, teatrólogo, compositor, cenógrafo de teatro e um brilhante caricaturista. O Baldaquino da Basílica de São Pedro (1624–1633), em Roma, é um tipo de dossel sustentado por colunas, esculpido em bronze dourado e mármore multicolorido. Medindo 29 metros de altura, as colunas do Baldaquino se contorcem em direção à cúpula, e sua estrutura é recoberta com videiras e abelhas entalhadas e coroada por anjos (Figura 5). Figura 5. (a, b) Baldaquino da Basílica de São Pedro (1624–1633), Roma. Fonte: (a) St. Peter's Basilica (2007, documento on-line); (b) Baldachin petersdom (2012, documento on-line). Bernini era um mestre em conseguir resultados dramáticos e emocionantes na arte barroca, e suas esculturas conseguem apresentar a “[...] acumulação de energia ativa no espaço” (JANSON; JANSON, 2009, p. 256), como se pode observar no seu David (1623) (Figura 6). Em comparação ao Davi, de Barroco12 Michelangelo, o aspecto barroco da escultura de Bernini é a presença implícita de Golias: não estamos à frente de uma figura autônoma, mas de parte de um todo, de uma cenografia barroca. Toda a ação de David está dirigida para o seu adversário, e ele nos diz com clareza está o seu inimigo. É comum incluir o espaço carregado de energia entre David e seu oponente invisível no conteúdo da estátua: ele é um “espaço pertencente” à escultura. Figura 6. David (1623), Galeria Borghese, Roma. Fonte: Galleria Borghese (2017, documento on-line). O Êxtase de Santa Teresa (1645–1652) é uma escultura religiosa de Bernini que desperta grande emoção religiosa (Figura 7). Com intensa dramaticidade, o conjunto escultórico reproduz o momento em que Santa Teresa é visitada por um anjo, que lhe fere o peito várias vezes com uma flecha. “Segundo relato da própria santa, esses ferimentos que lhe causaram profunda dor, transformaram- -se na experiência mística do amor de Deus” (SANTOS, 2000, p. 107). Novamente, o escultor consegue nos envolver emocionalmente quando registra o momento em que o anjo segura a flecha, pronto para desferir mais um golpe em Santa Teresa. A expectativa despertada no observador é escul- pida em mármore, no qual Bernini imprimiu a experiência visionária, uma sensualidade real (JANSON; JANSON, 2009). 13Barroco Figura 7. O Êxtase de Santa Teresa (1645 –1652), Capela Cornaro, Santa Maria della Vittoria, Roma. Fonte: Ecstasy of Saint Teresa (2015, documento on-line). Os artistas italianos assumiram pioneirismo na instauração da nova linguagem renascentista, e, naquele período, foram fundadas academias de arte para ensinar as técnicas de representação recém-descobertas. Com o domínio da representação — logo expandido para os demais países europeus —, deve-se também aos italianos a mudança da ênfase da racio- nalidade para a emoção e do estático para o dinâmico. Em diferentes meios, os italianos representaram com excelência o fastígio do Barroco. Se, na escultura, reverencia-se Gianlorenzo Bernini, na pintura, Michelangelo Merisi, conhecido como Caravaggio (1571–1610) é o mais notável artista do Barroco italiano. Caravaggio se interessava pela beleza que encontrava em modelos inco- muns — ao contrário da beleza clássica renascentista —, descobertos entre as pessoas do povo. Eram geralmente frequentadores das tabernas, vendedores, músicos ambulantes, ciganos. Não havia, para o artista, a distinção entre beleza e aristocracia (GOMBRICH, 1999). Barroco14 O que melhor caracteriza a pintura de Caravaggio é o modo revolucionário como ele utiliza a luz, fenômeno que foi estudado e assimilado por vários outros mestres da pintura barroca. A luz, em Caravaggio, não aparece apenas como reflexo da luz natural, mas é intencionalmente criada para dirigir a aten- ção do observador: o pintor é conhecido como o criador do estilo luminista. Um exemplo referencial do emprego da luz feito por Caravaggio é o quadro A vocação de São Mateus (1596–15898) (Figura 8). Figura 8. A vocação de São Mateus (1596–1598). Fonte: Calling of Saint Matthew (2005, documento on-line). Ao analisar a Figura 9, percebe-se que a luz que ilumina a cena vem da direita, e não da janela, localizada na parede ao fundo, como seria natural. A luz dirige o olhar do observador para o grupo de pessoas sentadas ao redor da mesa. O contraste de luz e sombra amplia o efeito plástico da pintura, conferindo volume aos corpos e destacando-os do fundo: trata-se da virtuo- sidade do artista na utilização do chiaroscuro (claro-escuro). Como corrobora Strickland (2002, p. 48, grifo nosso): 15Barroco Caravaggio usa a perspectiva de modo a trazer o espectador para dentro da ação. O chiaroscuro captura as emoções e intensifica o impacto da cena por meio dos contrastes de luz e sombra. Essa encenação não tradicional, teatral, joga um único foco de luz crua sobre o tema em primeiro plano para concen- trar atenção do espectador na força do evento e na reação dos personagens. Devido ao fundo escuro adotado por Caravaggio, seu estilo foi chamado il tenebroso (estilo “das trevas”). O Barroco espanhol recebeu influências diretas do Barroco italiano, principalmente no uso expressivo da luz e sombra. A pintura espanhola, porém, conserva preocupações próprias do espírito nacional, com ênfase no domínio técnico e no realismo. Os principais pintores do Barroco espanhol são: El Greco (1541–1614), cuja característica é a verticalidade das figuras, e Diego Velázquez (1599–1660), que representa as distinções particularizantes do Barroco na Espanha. Desde muito jovem (com 24 anos), Velázquez foi admitido como pintor oficial da corte espanhola, e, a partir de então, passou o resto de sua vida pintando a aristocracia da Espanha. Soberbamente talentoso, o artista tam- bém retratava os tipos populares do seu país, documentando o dia a dia do povo naquele momento histórico. Impressionado com a obra de Caravaggio, estudou profundamente a aplicação da luz. “[...] mas, em Velázquez a luz tem uma função diferente: ela estabelece um clima mais intimista para as cenas retratadas” (SANTOS, 2000, p. 111). Além do realismo e do exímio domínio técnico, o que caracteriza a obra de Velázquez é a dignidade com a qual ele retratava seus modelos: quer pintasse o rei, quer pintasse o bobo da corte. A rígida tradição formal dos retratos danobreza foi humanizada pela pintura do artista, abordando os personagens em poses mais naturais, sem acessórios exagerados. “Apesar de ser um virtuoso na técnica, Velázquez preferia a moderação à ostentação, o realismo ao idealismo” (STRICKLAND, 2002, p. 60). A obra que exibe de forma mais magistral o estilo amadurecido de Velázquez é a imensa pintura As meninas (1656), que representa tanto o retrato de um grupo quanto uma cena do cotidiano do pintor em seu estúdio (Figura 9). Na pintura, Velázquez retrata-se a si próprio trabalhando em uma enorme tela que tem, ao centro, a Princesa Margarida. Barroco16 Figura 9. As meninas (1656), Museu do Prado, Madri. Fonte: Meninas (2012, documento on-line). A dicotomia da tela é curiosa, no espelho, ao fundo da composição, o reflexo do rei e da rainha nos colocam em dúvida se eles estariam posando para o pintor ou adentrando no aposento para admirar a cena sendo pintada, com a Princesa Margarida como modelo. Essa pintura recebeu muitas interpretações e rendeu diversas teorias, sendo considerada a obra mais analisada da pintura ocidental. Essa obra complexa estabelece um enigma sobre realidade e ilusão, criando uma relação duvidosa entre o observador, o pintor e as figuras representadas (GOMBRICH, 1999; ECO, 2004). O maior artista dentre os gênios da Idade de Ouro da pintura holandesa (Barroco holandês) foi Rembrandt van Rijn (1606–1669), estimulado desde o início de sua vida artística por Caravaggio. Suas pinturas possuem menores dimensões, são fortemente iluminadas e revelam um realismo intenso. Rem- 17Barroco brandt alcançou um enorme sucesso como pintor de retratos, e o trabalho da sua fase final se caracteriza por pinturas sérias, introspectivas, em que o sombreado implica uma extraordinária profundidade emocional. O estilo luminista de Caravaggio assume em Rembrandt uma das maiores expressões, acrescido de particularidades. “O que dirige nossa atenção nos quadros deste pintor não é propriamente o contraste entre luz e sombra, mas a gradação da claridade, os meios-tons, as penumbras que envolvem áreas de luminosidade mais intensa” (SANTOS, 2000, p. 113). Uma das obras mais conhecidas do pintor é A lição de anatomia do Doutor Tulp (1632), na qual Rembrandt parece surpreender o professor e os estudiosos em plena atividade de dissecação (Figura 10). O artista trabalha habilmente a penumbra que indefine os espaços e as gradações de luz — intensa no corpo do cadáver e amenizada nos rostos atentos e curiosos dos ouvintes. Figura 10. A lição de anatomia do Doutor Tulp (1632), Mauritshuis Museum, Amsterdam. Fonte: The Anatomy Lesson (2014, documento on-line). A técnica de Rembrandt evoluiu dos detalhes minuciosos para figuras em maiores dimensões, pintadas com grandes borrões de tinta. O efeito é uma superfície irregular, que cria um brilho ao refletir e difundir a luz, ao passo que as zonas escuras recebem uma fina camada vidrada, que realça a absorção da luz (STRICKLAND, 2002). Pintor, desenhista e gravurista extremamente Barroco18 talentoso, Rembrandt pintou cenas bíblicas e históricas em estilo Barroco, com requintes e minúcias de detalhes e iluminação dramática. Nos Países Baixos, predominam duas direções na pintura barroca: uma delas manteve como característica as linhas movimentadas e a forte expressão emocional; a outra tendência mantém aspectos mais próximos do espírito prático e austero da cultura holandesa. Ambas as vertentes são descritivas, cujos temas preferidos são as cenas da vida doméstica e social, trabalhadas com minucioso realismo. Além de Rembrandt, os principais pintores do Barroco nos Países Baixos são: Peter Paul Rubens (1577–1640), com a expressão da força das cores quentes; Frans Hals (1582–1666), com o domínio do uso de luz e sombra; Johannes Vermeer (1632–1675), representando a beleza delicada da vida cotidiana. As manifestações da arte barroca no Brasil Os colonizadores portugueses — leigos ou religiosos — foram os responsá- veis por trazer o Barroco para o Brasil. Seu desenvolvimento pleno ocorre cem anos após o surgimento do Barroco na Europa. No brasil, o período de incidência do estilo se dá no século XVIII, estendendo-se até as primeiras décadas do século XIX. O estilo se manifestou no Brasil como um híbrido de diversas tendências barrocas europeias, e as características do Barroco português dos colonizadores somam-se aos aspectos estilísticos do Barroco francês, italiano e espanhol. A combinação dos elementos característicos do Barroco das diversas origens foi acentuada pelas oficinas, que se multiplicaram no decorrer do século XVII, nas quais os mestres portugueses se unem aos filhos de europeus nascidos no Brasil e seus descendentes caboclos e mulatos, produzindo obras que trazem a marca incomparável do Barroco brasileiro (2018). Há, então, um amálgama de elementos populares e eruditos produzidos nessas confrarias artesanais, cujo resultado traz à tona outros estilos associados ao Barroco nacional, como as formas do Gótico Tardio alemão, presentes na obra de Aleijadinho (Antônio Francisco Lisboa, 1730–1814). A partir de 1760, o Barroco atinge o auge artístico no Brasil, com a particular variação rococó no Barroco mineiro. O catolicismo, no Brasil, estava intimamente relacionado com o estilo Barroco — não havia no país outro estilo a ser reproduzido para construir uma igreja católica. Os construtores tinham de se adaptar às condições geográficas brasileiras: na inexistência de pedras apropriadas para o corte e 19Barroco resistentes ao peso acumulado, o mármore tradicional das pedreiras europeias deveria ser substituído (a pedra-sabão foi utilizada em larga escala). Além disso, o clima tropical, encontrado no país, difere significativamente do clima europeu. Mudanças bruscas do tempo, chuva torrencial e altíssimas temperaturas exigiram habilidades construtivas diferentes das originais europeias (LEMES, 2012). A edificação de grande parte das obras barrocas no Brasil foi um grande laboratório de experimentação, visto que eram necessários estudos de adap- tação para construir em determinados locais. Conforme afirma Lemes (2012, p. 51): Era com base em antigos modelos que os profissionais vindos do reino e seus colaboradores (caboclos, indígenas e negros) construíam igrejas e edifícios públicos. As obras na nova terra funcionavam com protótipos para as novas construções; contudo ainda havia variações de acordo com o panorama regional. Em grande parte da América do Sul, as construções barrocas foram ori- ginadas pelos jesuítas, que adequavam os projetos a partes das edificações militares, extremamente simples e funcionais. Os edifícios portugueses que desempenhavam funções de defesa à beira-mar — como os fortes — deram origem às plantas baixas das nossas construções barrocas. Em solo brasileiro, a liberdade para edificar e propor novos traçados urbanos foi possível, pois não havia um tecido urbano pré-existente, como a morfologia das cidades medievais da Europa (OLIVEIRA, 2003), Uma particularidade das igrejas barrocas em todas as regiões do Brasil é a iconografia adotada na decoração de seus interiores. Nas igrejas europeias, particularmente portuguesas e espanholas, os elementos decorativos eram arabescos e ornatos em linhas curvilíneas assimétricas, ao passo que, no Brasil, os temas tradicionais são combinados com elementos da flora e da fauna, motivos indígenas, trançados e tramas. Lemes (2012) sugere que esse fenômeno se deve à proximidade dos indígenas ou à intenção de atrair as comunidades para os cultos. Na época colonial, a cidade de Salvador, na Bahia, assumiu protagonismo na construção de igrejas. Grande parte delas eram adaptações de modelos portugueses, cujas fachadas típicas possuem duas torres. A Figura 11, a seguir, apresenta dois modelos análogos: a Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos (século XVIII), no Pelourinho, em Salvador, e o Santuário Bom Jesus do Monte (início das obrasno século XVII) em Braga, em Portugal. Barroco20 Figura 11. (a) Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, Salvador; (b) San- tuário Bom Jesus do Monte, Portugal. Fonte: (a) Pelourinho (2007, documento on-line); (b) Treppenaufgang Bom Jesus do Monte (2009, documento on-line). No início do século XVIII, há algumas manifestações de exuberância das fachadas no barroco brasileiro, contudo, trata-se de uma exceção. Mesmo no seu período áureo, as igrejas barrocas nacionais — a exemplo das igrejas portuguesas — são marcadas pelo contraste entre a simplicidade dos exteriores e a opulência decorativa dos interiores. Esse aspecto diz respeito à virtude do recolhimento, requisito fundamental à alma cristã, pregado pelos jesuítas. “Esses primeiros 30 anos marcam a difusão no Brasil do estilo ‘nacional português’, sem grandes variações nas diversas regiões” (BARROCO BRA- SILEIRO, 2018, documento on-line). Em meados do século XVIII, inicia-se um período de estagnação na eco- nomia do Nordeste — com exceção de Pernambuco —, coincidindo com o surgimento de um novo centro de produção, localizado no Rio de Janeiro, que passa a ser capital da colônia (1763). Simultaneamente, na região de Minas Gerais, a descoberta de ouro (1695) e diamante (1730) propicia o florescimento dos maiores artistas barrocos brasileiros: Mestre Valentim (1745–1813), no Rio de Janeiro, e Aleijadinho (1730–1814), em Ouro Preto e adjacências, em Minas Gerais. (MACHADO, 1978) A riqueza da exploração do ouro trouxe prosperidade para a região de Minas Gerais, onde se desenvolveu um núcleo tardio do Barroco riquís- simo. Além do valor agregado pelo ouro, o requinte da arquitetura ali desenvolvida será referência para o Barroco nacional, que passará a ser conhecido como Barroco mineiro. A Igreja de São Francisco de Assis (1765–1812), em Ouro Preto, é um exemplar incomparável da tradição 21Barroco do Barroco mineiro (Figura 12). De acordo com Lemes (2012, p. 53–54): “[...] possui um traçado curvilíneo ablongado; as paredes externas ora são côncavas ora são convexas; as torres são embutidas no corpo da igreja que lembra, segundo os guias turísticos locais, uma caravela de cabeça para baixo, em um capricho de Aleijadinho que não esqueceu nem mesmo dos canhões nas janelas”. Figura 12. (a) Fachada e (b) detalhe da porta da Igreja de São Francisco de Assis, Ouro Preto. Fonte: (a) Façade of S. Francis Church (2016, documento on-line); (b) Porta da da Igreja de São Francisco de Assis (2015, documento on-line). Inaugura-se, então, um estilo conhecido como Rococó mineiro (a par- tir de 1760), que será a expressão mais original do Barroco brasileiro. As associações laicas patrocinavam as construções aspiradas pela extrema religiosidade popular, que se manifestavam em um espírito contido e elegante. A arquitetura era harmônica e dinâmica, em planos circulares, com graciosa decoração de pedra-sabão, a exemplo da Igreja de São Francisco de Assis. Os templos intimistas de dimensões singelas e rica decoração interior se adequaram à espiritualidade e às condições materiais da população, sendo reproduzidos nas demais cidades da região histórica de Minas Gerais (MA- CHADO, 1978; ETZEL, 1974). A Igreja de São Francisco de Assis é um exemplo primoroso desse estilo, cujo traçado, frontispício, retábulos laterais e do altar-mor, púlpitos e lavabo são de autoria de Aleijadinho. O teto da nave recebeu uma pintura ilusionista Barroco22 de um dos mais talentosos pintores barrocos, Manoel da Costa Athaide (1762–1830). No teto da igreja, Mestre Athaide elaborou uma composição em que Nossa Senhora da Porciúncula, com traços mulatos, está cercada por anjos músicos (Figura 13). Figura 13. (a, b) Teto da Igreja de São Francisco de Assis, pintado por Mestre Athaide. Fonte: (a) Mestre Ataíde - Glorificação de Nossa Senhora (2015, documento on-line); (b) Ataíde – NSPorciúncula (2011, documento on-line). Aleijadinho representa magistralmente o Rococó mineiro como enta- lhador, e seu trabalho nessa área contempla, pelo menos, quatro grandes retábulos no interior de igrejas em Minas Gerais. Na Igreja Franciscana de São João Del Rei (1774–1809), toda talha do retábulo é fortemente escultórica, não apenas decorativa (Figura 14). O conjunto realiza uma articulação de planos diagonais por meio dos elementos estruturais. A talha exuberante se apresenta em todos os altares e púlpitos com influências do Rococó. A composição é composta de um grande nicho central para estatuária, com outros menores nas laterais. Coroa o conjunto outro dossel, maior, com arremate de rocalhas, com grande arranque vertical. Os dois púlpitos, um de cada lado da nave, têm dosséis cônicos, onde se apoiam grandes estátuas (FRANCISCO LISBOA, 2014). 23Barroco Figura 14. (a) Altares central e (b) lateral da talha da Igreja Franciscana de São João Del Rei. Fonte: (a) SFrancis (2011, documento on-line); (b) Igreja de São Francisco de Assis (2015, documento on-line). O talento artístico resultante da parceria dos dois artistas mais proeminen- tes do Barroco mineiro — Manoel da Costa Athaide e Aleijadinho — ficou registrado nas esculturas de madeira policromadas no Santuário do Bom Jesus dos Matozinhos (1796–1799), em Congonhas do Campo (Figura 15). A partir de 1796, é registrada a atividade de Aleijadinho e sua oficina na elaboração das 66 estátuas que compõem o conjunto, divididas em seis capelas, que apresentam sete dos Passos da Paixão (IPHAN, 1985). Figura 15. Esculturas de madeira policromadas do Santuário do Bom Jesus dos Matozinhos, Congonhas do Campo, Minas Gerais. Fonte: Prisão de Jesus, Mãos dos Apóstolos e Subida do Calvário (2015, documento on-line). Barroco24 A maior expressão do Barroco brasileiro ocorreu no Brasil colonial, com duração de aproximadamente 300 anos. Como em todo o mundo, despindo-o de suas expressões estritamente religiosas, o estilo e suas obras consolidaram-se como uma grande arte e objeto de estudos acadêmicos universais. No Brasil, sem dúvida os estudos se atêm às cidades históricas e às realizações de Aleijadinho. O Barroco é o resultado de três séculos de atividades artísticas e construti- vas: predominantemente arquitetônicas, esculturais, pictóricas e literárias. Seu principal objetivo era captar e devolver ao povo a emoção, assimilar a devoção e retornar ao público a visão da eternidade por meio da arte. Com materiais nobres, como o ouro e o mármore, o Barroco interage com as pessoas. No Brasil, a pedra-sabão substituiu os raros mármores, contudo, os sentimentos ainda foram despertados, tocados por meio da experiência estética proporcionada por esse inigualável estilo. ANATOMY LESSON. In: WIKIPEDIA. [S. l.: s. n.], 2014. Disponível em: https://commons. wikimedia.org/wiki/File:The_Anatomy_Lesson.jpg. Acesso em: 13 set. 2019. ATAÍDE – NSPORCIÚNCULA. In: WIKIPEDIA. [S. l.: s. n.], 2011. Disponível em: https:// pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Ata%C3%ADde_-_NSPorci%C3%BAncula.jpg. Acesso em: 13 set. 2019. BALDACHIN PETERSDOM. In: WIKIPEDIA. [S. l.: s. n.], 2012. Disponível em: https:// pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Baldachin_petersdom.jpg. Acesso em: 13 set. 2019. BARROCO BRASILEIRO. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. 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História da Arte / Priscila Farfan Barroso, Hudson de Souza Nogueira ; [revisão técnica: Max Elisandro dos Santos Ribeiro]. – Porto Alegre: SAGAH, 2018. 221 p. ; il. ; 22,5 cm. ISBN 978-85-9502-297-3 1. Arte – História. I. Nogueira, Hudson de Souza. II. Título. CDU 7 Revisão técnica: Max Elisandro dos Santos Ribeiro Licenciatura Plena em História Especialista em Gestão e Tutoria EaD Mestre em Educação HA_Iniciais_Impressa.indd 2 12/01/2018 17:08:09 Maneirismo e Rococó Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Identificar as características da arte maneirista e os artistas que a representam. � Reconhecer as características do estilo Rococó e suas influências. � Descrever os tipos de manifestações artísticas do estilo Rococó e seus principais artistas. Introdução A arte Maneirista se desenvolveu em Roma, de 1520 a 1610, exata- mente na transição do Renascimento para o Barroco. Já o Rococó é um movimento artístico que surgiu no século XVIII, em Paris, e se difundiu em outros países e até no continente americano. Neste capítulo, você irá verificar que, no Maneirismo, os pintores de- formavam a realidade e, no Rococó, faziam uma decoração monumental dos ambientes, destacando suavidade, leveza e elegância. Arte Maneirista e seus artistas O Maneirismo se desenvolveu em Roma, entre 1520 e 1610. O século XVI, foi marcado por mudanças na política, cultura, economia e religião. Na política, a Itália invadiu a França, a Alemanha e a Espanha, o que gerou uma alteração no equilíbrio das forças do continente, resultando no sangrento Saque de Roma, em 1527, o que fez vários artistas e intelectuais fugirem para outros países. Em italiano, maneirismo significa “maneira”. Esse termo foi usado pelo artista maneirista italiano Giorgio Vasari (1511 - 1574), para se referir à “ma- neira” como cada artista trabalha e, assim, destacar as peculiaridades desses artistas e seu olhar para as contradições do mundo. Segundo Gustav Hocke (2005, p. 25), nesse momento “[...] o enigma da contradição se tornou algo HA_U2_C09.indd 115 12/01/2018 15:44:26 obsessivo. O homem e o universo divorciaram-se. Os olhares se perdem no labirinto insondável.”. Criaram, então, uma arte com espirais, labirintos e proporções estranhas, que são a marca inconfundível do estilo maneirista. A arte do Maneirismo acontece na transição do Renascimento ao Barroco. Com a decadência do Renascimento, os artistas passam a desenvolver suas habilidades e técnicas, adquiridas nesse período, mas buscando novos elementos para renovar a arte. Na pintura maneirista, os pintores criam um novo estilo, procurando de- formar a realidade, valorizando a arte e suas possibilidades de representação. As principais característicasda arte maneirista são: � composição com muitas figuras comprimidas em um espaço reduzido, resultando em um sentimento de grande tensão permanente transpa- recendo irreal; � luz incidindo sobre alguns objetos e figuras, produzindo sombras irreais; � os protagonistas da pintura já não mais posicionados no centro da perspectiva; � rostos melancólicos e misteriosos; � corpos representados como figuras esguias e alongadas com contrastes cromáticos fortes; � expressões fisionômicas densas, acentuando as emoções e os músculos, e fazendo contorções impróprias dos seres humanos. O Maneirismo foi um estilo muito expressivo, um movimento artístico com vestígios da arte moderna. Um desses artistas foi Giuseppe Arcimboldo, que pintava as cabeças humanas a partir da soma de materiais, vegetais e outros artefatos, conforme você pode observar na Figura 1. Hocke interpreta um pouco mais a produção desse artista: Arcimboldo é um exemplo típico de imitazione fantástica em que Praga pin- tara figuras humanas aproveitando-se de frutas, plantas, animais e de outros objetos. [...] Arcimboldo apresenta-se como mestre de uma metamorfose total. A força do ‘fantástico’ tem o direito de aproveitar tudo aquilo que é percebido pelos sentidos, de reuni-lo, de compô-lo sob nova forma. Arcimboldo não pinta coisas tiradas da fantasia, mas ele procura relacionar objetos aparentemente incompatíveis (HOCKE, 2005, p. 76). Maneirismo e Rococó116 HA_U2_C09.indd 116 12/01/2018 15:44:26 Figura 1. As quatro estações, de Arcimboldo. Fonte: Ondevivo Delivery (2013). Outro artista do período maneirista foi Doménikos Theotokópoulos, conhecido como El Greco. Ele criou seu próprio estilo, colocando, em suas pinturas, tons expressivos e dramáticos; desenhou pessoas com formas tortuosas e alongadas; uniu as tradições artísticas europeias e bizantinas; usou a dramaticidade e valo- rizou as emoções e os sentimentos; fez uso de técnicas de luminosidade, em que não possível o observador visualizar a luminosa; supervalorizou as cores; e usou temas religiosos, retratos e paisagens. Observe uma de suas obras na Figura 2. Figura 2. A agonia no jardim, de El Greco. Fonte: WahooArt (c2017). 117Maneirismo e Rococó HA_U2_C09.indd 117 12/01/2018 15:44:27 No link a seguir, veja o programa Pinceladas de arte e aprofunde seus conhecimentos sobre a obra O enterro do Conde de Orgaz, de El Grego, para compreender as peculiaridades desse artista maneirista. https://goo.gl/EgZDbq Estilo Rococó e suas características O Rococó é um movimento artístico que nasceu em Paris no século XVIII. Esse movimento surgiu na Europa e migrou para a América, lá permanecendo por até meados do século XIX. Para compreender esse movimento, você tem que saber que o reinado de Luis XIV, na França, foi autoritário e centralizador, de modo que o próprio rei impunha aos artistas da época uma feição mais clássica. Neste momento, os clientes desses artistas eram homens de negócios e banqueiros, que os incluíam na sociedade aristocrática. Portanto, como a produção artística da arte barroca muitas vezes era exa- gerada e excessiva, buscou-se um novo estilo, que fosse mais elegante e suave. Dessa forma, surge o Rococó, que se constitui como um estilo que expressa sensualidade, delicadeza, elegância e graça, além de se preocupar com os pormenores decorativos. Nesse estilo também foram produzidos quadros pequenos e estatuetas de porcelana de uso doméstico, conforme o gosto do público aristocrático, como explica Pifano (1995, p. 401): A busca do prazer e a consequente temporalidade reduzida ao instante não são observadas apenas na pintura. Encontram-se presentes em meio àquela sociedade para a qual a arte rococó é produzida, ou seja, a aristocracia e a alta burguesia. Assim, inaugura-se o reino dos salões onde a vida mundana é consagrada. Os elementos que caracterizam o rococó estão na ouriversaria, na pin- tura e no mobiliário. As cores suaves, as linhas curvas, as festas pomposas, nos interiores dos hotéis da aristocracia parisienses, os pintores retratavam, evidenciando todas as atitudes e costumes da sociedade com suas alegrias, tristezas e prazeres. Conforme Eva Baur (2008, p. 9) “A arte de cultivar e Maneirismo e Rococó118 HA_U2_C09.indd 118 12/01/2018 15:44:27 https://goo.gl/EgZDbq colocar a questão das aparências superficiais alcança uma maior concentração e complexidade no Rococó.”. O termo Rococó foi formado da palavra francesa rocaille, que significa “concha”, em razão da técnica de incrustação de conchas e pedaços de vidro para decoração de grutas artificiais. Os temas são escolhidos em função da decoração, sendo em geral assuntos sentimentais e leves. Na composição da obra, cabe as cores claras, as linhas curvas e a simetria. A novidade desse estilo em relação ao momento anterior é destacada na análise de Proença (2003, p. 115): De fato, pode-se ver no Rococó um desenvolvimento natural do Barroco. Po- rém, há entre esses dois estilos algumas características bem distintas. As cores fortes da pintura barroca, por exemplo, na pintura rococó foram substituídas por cores suaves e de tom pastel, como o verde-claro e o cor-de-rosa. Além disso, o rococó deixa de lado os excessos de linhas retorcidas que expressam as emoções humanas e busca formas mais leves e delicadas. A arte Rococó mostra a preferência por cores claras, prevalecendo o azul, o amarelo e o rosa, que irradiam grande suavidade. A elegância predomina e surge a vontade artística de atingir a perfeição. As sedas e as rendas passam a vestir as personagens dos quadros e ganham uma expressão significativa. Os artistas conseguem o efeito do veludo e a transparência dos vestidos de seda que são encontrados, principalmente, em tons pastéis. Observe um exemplo na Figura 3. 119Maneirismo e Rococó HA_U2_C09.indd 119 12/01/2018 15:44:27 Figura 3. A leitora, de Jean Fragonard. Fonte: Everett – Art/Shutterstock.com. Os escultores fazem obras de tamanhos menores e com cores luminosas, focando em souvenir para lembranças, ao mesmo tempo em que abdicam totalmente as linhas do barroco. Os materiais usados nesse momento são o gesso e a madeira, uma vez que aceitam cores mais suaves em suas superfícies, mas também são produzidas obras em mármore. Na França, o estilo Rococó foi reconhecido como patrimônio nacional. Esse estilo se difundiu com centros importantes de cultivo na Inglaterra, Áustria, Itália e Alemanha, mas perdendo um pouco algumas das características ini- ciais. Posteriormente, o estilo chegou a Península Ibérica, aos países nórdicos e eslavos e, até mesmo, na América. Em Portugal, o estilo Rococó aparece nos principais domínios artísticos: na construção das talhas douradas de certas igrejas, feitas por notáveis artistas, e nas esculturas ganítica (de granito), que decoram os edifícios. No Brasil, o estilo Rococó teve início no século XIX, nas esculturas de madeira e de pedra sabão, na pintura mural e na arquitetura. Os principais nomes da escultura do estilo rococó, são o italiano Antonio Corradini, os Maneirismo e Rococó120 HA_U2_C09.indd 120 12/01/2018 15:44:28 franceses Guillaume Coustou e Maurice Falconet e o brasileiro Antonio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, aprendiz do português José Coelho de Noronha. Para saber mais sobre os desdobramentos do estilo Rococó, leia o artigo “A moda do século XVIII e sua relação com a arte Rococó na França”, de Laura Ferrazza de Lima (2012). Manifestações artísticas do Rococó A arquitetura no estilo Rococó se deu durante o Iluminismo, entre 1700 e 1780. Esse estilo, manifestou-se principalmente na decoração dos espaços interiores, que eram revestidos de uma decoração minuciosa e muito orna- mentada, rica em detalhes em grandes ambientes, como demonstra a Figura 4. Nas grandes construções, nas salas e nos salões, investiu-se nos formatos ovais, as paredes foram cobertas com pinturas de cores suaves, luminosas e claras. O ambiente ainda
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