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Laísa Dinelli Schiaveto Cicatrização de Feridas, Enxertos e Retalhos LESÃO E RESPOSTA TECIDUAL Após uma lesão, os tecidos tentam restaurar a sua integridade a partir do reparo da ferida, sendo que este não será perfeito, devido à urgência de retornar à funcionalidade. Em contrapartida, a restauração é perfeita, sem a formação de cicatriz, mas isso ocorre apenas nos ossos e no fígado. Nesse sentido, existem fases de cicatrização de uma ferida, de forma que as feridas agudas conseguem completar todas as fases, enquanto as crônicas permanecem numa fase inflamatória sustentada, sem conseguir cicatrizar. FASES DA CICATRIZAÇÃO A cicatrização fisiológica compreende uma processo coordenado e dinâmico, composto por três fases: inflamação, proliferação e maturação, as quais se sobrepõem. OBS.: Em grandes feridas, como úlceras, o exsudato fibrinoso reflete a fase inflamatória; o tecido de granulação reflete a fase proliferativa; e a margem de contração ou de avanço reflete a fase de maturação. FASE INFLAMATÓRIA • Dia 0 ao dia 4. • “Para de sangrar e limpa isso”. Assim que ocorre a lesão, a hemostasia acontece e é seguida pela inflamação. Isso ocorre pela tentativa rápida de limitar o dano pela interrupção do sangramento, selagem da superfície e remoção do tecido necrótico, dos resíduos estranhos e das bactérias. Dessa forma, a fase inflamatória é caracterizada pelos seguintes processos: - Hemostasia; - Aumento da permeabilidade vascular; - Quimiotaxia; - Secreção de citocinas e de fatores de crescimento na ferida; - Ativação das células migratórias. CÉLULAS ENVOLVIDAS: plaquetas, neutrófilos e macrófagos. - Neutrófilos: são os primeiros a chegar (24- 48hrs após a lesão); removem qualquer tecido necrótico, corpo estranho ou bactéria; não são essenciais. - Macrófagos: surgem entre o 3º-5º dia; é a principal célula da fase inflamatória; maestros da cicatrização; são essenciais. Laísa Dinelli Schiaveto 1. HEMOSTASIA Assim que ocorre a lesão, ocorre vasoconstrição arteriolar e capilar intensa, seguida por vasodilatação e aumento da permeabilidade capilar. As hemácias e as plaquetas se aderem ao endotélio capilar danificado, realizando a obstrução dos vasos capilares e interrompendo a hemorragia. Essa adesão de plaquetas ocorre pela liberação entre os receptores de glicoproteína de alta afinidade e o receptor de integrina GPIIb-IIIa. Além disso, as plaquetas expressam outros receptores de integrina que medeiam a ligação direta ao colágeno e à laminina, ou a ligação indireta da fibronectina, vitronectina e outros ligantes da matriz subendotelial. Em seguida, a ativação plaquetária ocorre pela sua ligação ao colágeno tipo IV e tipo V, expostos no endotélio lesado, resultando em agregação plaquetária. Ainda, salienta-se que o contato inicial entre as plaquetas e o colágeno requer fator VIII de von Willebrand, que é uma proteína sintetizada por megacariócitos e células endoteliais. 2. AUMENTO DA PERMEABILIDADE VASCULAR Ao passo que as plaquetas se ligam ao endotélio, há alterações conformacionais nas próprias plaquetas, as quais desencadeiam as vias de transdução de sinais intracelular, levando à ativação plaquetária e liberação de proteínas. Os grânulos alfa das plaquetas são organelas de armazenamento que contêm o fator de crescimento derivado de plaquetas (PDGF), fator de crescimento transformador-b (TGF-b), fator de crescimento semelhante à insulina I (IGF-1), fibronectina, fibrinogênio, trombospondina e fator de von Willebrand. Já, os corpos densos contêm aminas vasoativas, como a serotonina, que provocam a vasodilatação e o aumento da permeabilidade vascular. Os mastócitos, aderentes à superfície endotelial, liberam histamina e serotonina, que também resultam no aumento da permeabilidade vascular e causam o extravasamento de plasma do espaço intravascular para o espaço extracelular. Além disso, à medida que as plaquetas se tornam ativadas, os fosfolipídios da membrana ativam o fator V, permitindo a sua interação com o fator X. Ainda na cascata, a atividade da protrombinase ligada à membrana é gerada e potencializa exponencialmente a produção de trombina, que, por sua vez, ativa as plaquetas e catalisa a conversão de fibrinogênio em fibrina. Logo, as bandas de fibrina aprisionam as hemácias para formar o coágulo e selar a ferida. Somado a isso, o tromboxano A2 e a prostaglandina F2a, formados a partir da degradação das membranas células na cascata do ácido aracdônico, também ajudam na agregação plaquetária e vasoconstrição. 3. QUIMIOTAXIA, SECREÇÃO DE CITOCINAS E FATORES DE CRESCIMENTO E ATIVAÇÃO DAS CÉLULAS MIGRATÓRIAS As quimiocinas vão estimular a migração de diferentes tipos de células até a lesão, sobretudo células inflamatórias. Dessa forma, a proteína quimiotática de macrófagos é induzida nos queratinócitos após a lesão, atraindo macrófagos/monócitos, linfócitos T e mastócitos. - Sua expressão é contínua nas feridas crônicas, resultando na presença prolongada de células polimorfonucleares e macrófagos, levando a uma resposta inflamatória prolongada. Além disso, temos: CXCL1: regulador quimiotático de PMNs, estando aumentado em feridas agudas e está envolvido na reepitelização. IL-8: aumentada em feridas agudas e crônicas, está envolvida na reepitelização e Laísa Dinelli Schiaveto induz a expressão de metaloproteinases da matriz pelos leucócitos, estimulando a remodelação; também, é um importante regulador quimiotático de PMNs e participa da inflamação. PROTEÍNA 10 INDUZIDA POR INTERFERON: produzida pelos queratinócitos e está elevada em feridas agudas e em estados inflamatórios crônicos; ela prejudica a cicatrização das feridas, pois aumenta a inflamação e recruta linfócitos para a ferida, além de inibir a proliferação (diminui a reepitelização e a angiogênese) e a migração de fibroblastos. FATOR DERIVADO DE CÉLULAS ESTROMAIS 1 (SDF-1): expresso por células endoteliais, miofibroblastos e queratinócitos e está envolvido na inflamação por recrutar linfócitos para as feridas e promover a angiogênese, além de aumentar a proliferação de queratinócitos, resultando na reepitelização. CÉLULAS POLIMORFONUCLEARES (PMNS) Sobre as células polimorfonucleares, sabemos que a liberação de histamina e serotonina provocam um aumento da permeabilidade do leito capilar, o que leva à expressão de fatores de complemento. Os fatores C5a e leucotrieno B4 promovem a adesão e a quimiotaxia de neutrófilos. - Neutrófilos vão aparecer em 24-48 horas. Somado a isso, na presença de trombina, as células endoteliais expostas aos leucotrienos C4 e D5 liberam o fator de agregação plaquetária, o que aumenta a adesão dos neutrófilos. A presença de IL-1 e TNF-a também aumentam essa adesão. Assim, os neutrófilos, ao iniciarem a sua migração, liberam conteúdo de seus lisossomos e enzimas, como a elastase a outros proteases, para a MEC, o que facilita ainda mais a sua migração. Nesse sentido, a intensão vasodilatação e o aumento da permeabilidade vascular resultam nos achados clínicos da inflamação: calor, rubor, tumor e dor. - O tumor ocorre devido à exposição de fibrina, que é o produto proteico da coagulação. A ação das PMNs é mediada pelas integrinas. A ativação funcional ocorre após a migração das PMNs para o local da ferida, induzindo nova expressão de antígenos de superfície celular, maior citotoxicidade ou mais produção e liberação de citocinas. Estes neutrófilos ativados removem os resíduos necróticos, corpos estranhos e bactérias e geram radicais livres de oxigênio com elétrons doados pela forma reduzida NADPH. Esses elétrons vão ser transformados em radicais livres, que são bactericidas, mas, também, tóxicos para os neutrófilos e tecidos viáveis circundantes. A migração das PMNs termina após vários dias, quando a contaminação daferida estiver controlada. Ainda, essas não sobrevivem por mais de 24 horas, sendo substituídas por células mononucleadas. Entretanto, a contaminação continuada da ferida ou a infecção secundária causam ativação do sistema complemento, que proporciona um suprimento contínuo de fatores quimiotáticos e um influxo contínuo de PMNs para a ferida. Por isso, uma fase inflamatória prolongada atrasa a cicatrização da ferida, destrói o tecido normal e leva à formação de abscesso e possível sepse. Por mais que os PMNs assumam um papel importante, eles não são fundamentais e, nas incisões estéreis, a cicatrização ocorre sem a presença de PMNs. MACRÓFAGOS Os macrófagos são fundamentais para a cicatrização de feridas, pois orquestra a liberação de citocinas e estimula muitos processos subsequentes da cicatrização. Estes são derivados da quimiotaxia dos monócitos migratórios e aparecem 24-48 horas após a lesão, podendo aparecer até o 3º-5º dia. Assim, quando os neutrófilos começam a desaparecer, os macrófagos aparecem e induzem a apoptose das PMNs. Laísa Dinelli Schiaveto - Dentre os fatores quimiotáticos dos monócitos, temos: produtos bacterianos, produtos da degradação do complemento (C5a), trombina, fibronectina, colágeno, TGF-b e PDGF-BB. Nesse sentido, a quimiotaxia do monócito ocorre como resultado da interação dos receptores de integrina da superfície celular do monócito com a fibrina e a fibronectina da MEC. - A expressão de integrinas ativadas medeiam a transformação de monócitos em macrófagos de ferida. Os resíduos bacterianos vão ativar os monócitos para liberaram radicais livres e citocinas que medeiam a angiogênese a fibroplasia. Ainda, os macrófagos de ferida produzem o óxido nitroso (NO). Além disso, os macrófagos secretam um grande número de citocinas e fatores de crescimento: TNF-a: crucial para inicial a resposta à lesão ou às bactérias; vai suprarregular as moléculas de adesão de superfície celular que promovem a interação de células imunológicas e endotélio; pode ser detectado dentro de 12 horas e atinge seu nível máximo após 72 horas; efeitos: hemostasia, aumento da permeabilidade vascular e maior proliferação endotelial, febre, aumento da produção de colagenase, reabsorção de cartilagem e osso, liberação de PDGF e produção de mais IL-1. - PROBLEMA: sua produção excessiva está relacionada com falência múltipla de órgãos e maior morbidade e mortalidade em estados de doença inflamatória. IL-1: pró-inflamatória, citocina de resposta de fase aguda; provoca ativação de linfócitos e a estimulação do hipotálamo, induzindo a resposta febril; influencia diretamente a hemostasia pela liberação de vasodilatadores e estímulo da coagulação; outros efeitos: aumento da produção de colagenase, estimulação da degradação da cartilagem e reabsorção óssea, ativação de neutrófilos, regulação de moléculas de adesão, promoção de quimiotaxia e estimula outras células a secretarem citocinas pró-inflamatórias. IL-6: envolvida no crescimento de células- tronco, ativação de células B e células T, e regulação da síntese de proteínas hepáticas de fase aguda; é um potente estimulador da proliferação de fibroblastos e está diminuída em fibroblastos envelhecidos e em feridas fetais. IL-8: é secretada principalmente por macrófagos e fibroblastos na ferida precoce, com expressão máxima nas primeiras 24 horas. INTERFERON-GAMA: é secretado pelos linfócitos T e macrófagos, sendo que seus principais efeitos são ativação de PMNs e macrófagos, e aumento da citotoxicidade. Laísa Dinelli Schiaveto FASE PROLIFERATIVA • Dia 2 ao dia 21. • “Fecha isso direito”. Tem como função melhorar o aporte sanguíneo (angiogênese), formar uma MEC (fibroplasia) e reepitelizar a ferida (reepitelização). É nessa fase que há formação de tecido de granulação, que consiste em um leito capilar, fibroblastos, macrófagos e frouxo arranjo de colágeno, fibronectina e ácido hialurônico. - A presença desse tecido indica que a ferida é enxertável. CÉLULA ENVOLVIDA: fibroblastos. - Tem como função primária a síntese de colágeno, que começa ser produzido durante a fase celular da inflamação. 1. ANGIOGÊNESE Após a lesão, as células endoteliais ativadas degradam a membrana basal das vênulas pós- capilares, possibilitando a migração de células por essa abertura. A divisão dessas células endoteliais migratórias resulta na formação de túbulo ou lúmen. A formação do tubo capilar é um processo complexo que envolve interações célula-célula e célula-matriz, moduladas pelas moléculas de adesão na superfície das células endoteliais. Além disso, a angiogênese parece ser estimulada e manipulada por diversas citocinas, sobretudo aquelas produzidas por macrófagos e plaquetas. À medida que o macrófago produz TNF- a, ele orquestra a angiogênese durante a fase inflamatória. Enquanto isso, a heparina estimula a migração das células endoteliais capilares e se liga com alta afinidade a um grupo de fatores angiogênicos. Portanto, a angiogênese resulta da interação complexa entre componentes da MEC e citocinas. 2. FIBROPLASIA Os fibroblastos são células especializadas, que se diferencial das células mesenquimais em repouso no tecido conjuntivo. Após a lesão, os fibroblastos, que normalmente estão quiescentes e esparsos, são quimioatraídos para o local inflamatório, onde se dividem e produzem os componentes da MEC. Assim, após a estimulação pelas citocinas e fatores de crescimento derivados de macrófagos e plaquetas, o fibroblasto, que normalmente está parado na fase G0, sofre replicação e proliferação. - O TGF-b, derivado de plaquetas, estimula a proliferação do fibroblasto indiretamente, pela liberação de PDGF. Entretanto, embora os fibroblastos precisem de fatores de crescimento para a proliferação, eles não precisam deles para sobreviver, pois eles podem viver de maneira quiescente em meios sem fatores de crescimento. Como já dito, os fibroblastos têm como função primária a síntese de colágeno, que começam Laísa Dinelli Schiaveto a ser produzidos durante a fase celular da inflamação. O tempo necessário para as células mesenquimais indiferenciadas se diferenciam em fibroblastos altamente especializados, que é responsável pelo atraso entre a lesão tecidual e o aparecimento do colágeno em uma ferida em cicatrização. Esse período, que leva de 3-5 dias, geralmente é denominado fase de atraso de cicatrização da ferida. Além disso, a taxa de síntese de colágeno declina após 4 semanas, acabando por equilibrar a taxa de destruição de colágeno para colagenase. Nesse momento, a ferida entra na fase de maturação do colágeno, que continua durante meses ou anos. MEC A MEC existe como um arcabouço para estabilizar a estrutura física dos tecidos, mas também desempenha um papel ativo e complexo, regulando o comportamento das células que entram em contato com ela. O tecido conjuntivo da MEC contém moléculas de proteoglicanos, que formam uma substância gelatinosa de fundo. Esse gel é altamente hidratado e possibilidade que a matriz suporte uma força compressiva enquanto torna possível uma difusão rápida de nutrientes, metabólitos e hormônios entre o sangue e as células do tecido. A matriz da ferida vai se acumulando e mudando de conformação conforme a cicatrização evolui, estando sempre equilibrada entre a deposição e degradação. Assim, seguindo a imagem acima, a matriz provisória é um arcabouço para a migração celular e é composta de fibrina, fibrinogênio, fibronectina e vitronectina. Em seguida, os GAGs são sintetizados, suportando a deposição e a remodelação da matriz. Por fim, temos o colágeno, que são as proteínas predominantes da cicatriz. 3. REEPITELIZAÇÃO A reepitelização de feridas começa horas após a lesão. No início, a ferida é rapidamente selada pela formação de coágulo e, em seguida,pela migração de células epiteliais (epidérmicas) através do defeito. Logo, os queratinócitos, localizados na camada basal da epiderme residual ou na profundidade de apêndices dérmicos revestidos de epitélio, migram para recobrir a ferida. A epitelização envolve uma sequência de alterações nos queratinócitos da ferida: separação, migração proliferação, diferenciação e estratificação. Assim, se a membrana basal estiver intacta, a epitelização ocorrerá mais rapidamente. Já, se a membrana basal não estiver intacta, ela precisa ser reparada antes do processo continuar. As células epidérmicas expressam receptores de integrina que permitem que elas interajam com proteínas da MEC, como fibronectina. As células migratórias dissecam a ferida, separada a escara dissecada do tecido viável. Além disso, as células migratórias também são fagocitárias, removendo resíduos em seu trajeto. FASE DE MATURAÇÃO OU REMODELAMENTO • Dia 21 ao dia 365. Laísa Dinelli Schiaveto • “Deixa isso bonito”. Consiste na formação de tecido cicatricial propriamente dito: contração da ferida + remodelamento do colágeno. CÉLULAS ENVOLVIDAS: miofibroblastos. - Têm estrutura e função em comum com os fibroblastos e com as células de músculo liso e expressam actina alfa de músculo liso em feixes denominados de fibras de estresse. - Por ter componente muscular, consegue realizar a contração da ferida. - Estão em abundância em doenças com fibrose excessiva, como cirrose hepática, fibrose renal e pulmonar, contratura de Dupuytren e reações desmoplásicas induzidas por neoplasia. 1. CONTRAÇÃO DA FERIDA A contração da ferida ocorre pelo movimento centrípeto de toda a espessura da pele circundante, reduzindo a quantidade de cicatriz desorganizada. • CONTRAÇÃO: processo normal e centrípeto de cicatrização da ferida. • CONTRATURA: a contratura da ferida é uma constrição física, que causa limitação funcional; sendo comum em grandes queimados. Nesse sentido, a contração parece ocorrer como resultado de uma interação complexa entre materiais extracelulares e fibroblastos. No caso, os fibroblastos não são mais os fibroblastos, mas sim, os miofibroblastos. 2. REMODELAÇÃO Nessa fase, a quantidade de fibroblastos diminui e há regressão da densa rede capilar. Logo, a resistência da ferida aumenta rapidamente em 1-6 semanas e, em seguida, parece atingir o patamar até 1 ano após a lesão. Em comparação com a pele não ferida, a resistência à tração é de apenas 30% na cicatriz. Ou seja, a força tênsil da cicatriz chega até 80% da força tênsil original, sempre sendo mais sensível que a pele original. Além disso, ocorre um aumento da força tênsil após cerca de 21 dias, que resulta principalmente das ligações cruzadas. Embora as ligações cruzadas de colágeno provoquem contração adicional da ferida e aumento na resistência, também resultam em uma cicatriz mais frágil e menos elástica que a pele normal. Ainda, a interface dermoepidérmica na ferida cicatrizada é desprovida de cristas interpapilares, que são projeções ondulantes da epiderme que penetram na derme papilar. OBS.: Nota-se que a presença de colágeno III ocorre somente durante a inflamação, depois decaindo e sendo substituído por colágeno I. Laísa Dinelli Schiaveto RESUMO: FASES DA CICATRIZAÇÃO TIPOS DE CICATRIZAÇÃO PRIMEIRA INTENÇÃO: ocorre em feridas limpas, em que é possível suturar precocemente e há um resultado com cicatriz linear. SEGUNDA INTENÇÃO: ferida aberta e irregular, com a granulação ocorrendo, que não pode ser fechada com suturas, devido ao risco de infecção, de modo que o epitélio tenham que se reparar sozinho, de dentro para fora. TERCEIRA INTENÇÃO: a ferida não pode ser suturada e a granulação vai preencher parcialmente a ferida; depois, evolui para tecido de granulação suturável. - Ex.: úlceras de pressão. FATORES QUE INFLUENCIAM NA CICATRIZAÇÃO INFECÇÃO É o principal responsável pelo atraso no fechamento de feridas, pois as bactérias prologam a fase inflamatória e interferem na epitelização, contração e deposição de colágeno. ISQUEMIA A isquemia não deixa chegar oxigênio, que é fundamental para todas as fases e, por isso, devemos desbridar. A hipóxia é prejudicial, pois o oxigênio é essencial para a infiltração de leucócitos, para a angiogênese, para a produção de fibroblastos e para a produção de colágeno. Para desbridar, deve-se ter certeza de que há fluxo para isso, então, é fundamental chegar os pulsos do local de suspeita de isquemia. DIABETES Interferem em todos os estágios do processo de cicatrização, sendo que a neuropatia juntamente com a aterosclerose resultam na isquemia tecidual, aos traumas repetidos e na infecção, justamente porque o paciente não sente dor. Além disso, é importante lembrar que o estado de hiperglicemia causa um aumento dos produtos finais de glicação avançada, induzindo a produção de citocinas inflamatórias e interferindo na síntese de colágeno, deixando a ferida estagnada na fase inflamatória. Laísa Dinelli Schiaveto RADIAÇÃO IONIZANTE A radiação ionizante queima tudo, causando uma lesão endotelial com endarterite, ou seja, acarreta em atrofia, fibrose e atraso na reparação de danos teciduais. Ou seja, o aporte sanguíneo é reduzido, não sendo suficiente para a cicatrização adequada. OUTROS FATORES IDADE AVANÇADA: pacientes idosos são mais suscetíveis de sofrer atraso na cicatrização e deiscência de feridas cirúrgicas; isso acontece porque a proliferação de queratinócitos está reduzida, assim como a derme tem menos fibroblastos, macrófagos e mastócitos, vascularização reduzida e menos colágeno e GAGs. DESNUTRIÇÃO: hipoalbuminemia < 2 g/dL. - Lembrando que albumina < 3 g/dL é indicativo de suporte nutricional. DEFICIÊNCIA DE VITAMINAS: principalmente vitamina A e vitamina C. - A deficiência de vitamina A impede a ativação de monócitos e a deposição de fibronectina, afetando a adesão celular e prejudicando os receptores TGF-b. - A deficiência de vitamina C diminui a síntese de colágeno. - DEFICIÊNCIA DE MINERAIS: principalmente zinco e ferro. - A deficiência de zinco é mais comum nas grandes queimaduras, politraumatizados graves e na cirrose hepática. DROGAS EXÓGENAS: doxorrubicina (quimioterápico) e glicocorticoides. - Os quimioterápicos diminuem a proliferação de células mesenquimatosas, o nº de células inflamatórias e a disponibilidade de fatores de crescimento. - Os glicocorticoides prejudicam a proliferação dos fibroblastos e a síntese do colágeno, resultando em uma diminuição da formação de tecido de granulação. CICATRIZAÇÃO PATOLÓGICA CICATRIZ HIPERTRÓFICA É uma cicatriz proliferativa, caracterizada pela deposição excessiva de colágeno (síntese >>> degradação). São elevadas e permanecem nos limites da ferida original e, muitas vezes, regride (autolimitada), espontaneamente, além de serem preveníveis, na maioria das vezes. São as cicatrizes patológicas mais comuns, mas apresentam menor risco de recorrência. Esse fenômeno hiperproliferativo é reversível, regredindo quando os estímulos originais (tensão da pele e fatores de crescimento) são removidos. Em geral, elas ocorrem em áreas de tensão, como superfícies flexoras, esterno e mamas. Isso ocorre, pois a tensão parece sinalizar a formação de fibroblastos ativados, resultando em deposição excessiva de colágeno. Assim, conforme as fibras musculares se contraem, as margens da ferida se reaproximam caso sejam perpendiculares ao músculo subjacente, e tendem a se afastar caso sejam paralelas, o que resulta em maior tensão e formação de cicatriz. Ocorrem devido à inflamação prolongada e reepitelização insuficiente, como nos casos de queimadura. Histologicamente, contêm principalmente colágeno dotipo III bem organizado. Somado a isso, têm feixes estirados de colágeno alinhados no mesmo plano da epiderme, enquanto, nas cicatrizes normais, os feixes de colágeno estão dispostos aleatoriamente e relaxados. Ainda, elas contêm linhas compostas de agregados de fibroblastos, pequenos vasos e fibras de colágeno em toda a derme. Laísa Dinelli Schiaveto TRATAMENTO: placa de silicone; corticoide intralesional (redução da cicatriz); laser; ressecção cirúrgica. • CICATRIZ HIPERTRÓFICA LINEAR: a hipertrofia linear inicial da cicatriz com 6 semanas a 3 meses deve ser tratada com terapia de pressão; já, após 6 meses, a terapia com silicone deve ser continuada durante o tempo necessário, caso exista maturação adicional da cicatriz; ainda, a hipertrofia continua pode ser tratada com corticoides intralesionais (triancinolona acetonida 10-40 mg/mL) injetados na derme papular, a cada 2-4 semanas até a lesão ficar plana. • CICATRIZ HIPERTRÓFICA GENERALIZADA: são aquelas cicatrizes decorrentes de queimaduras graves, trauma mecânico, infecções necrosantes, feridas que requererem mais de 2-3 semanas para cicatrizar ou feridas curadas com enxerto cutâneo; precisam de aplicação precoce de terapia de compressão e silicone, sendo que, em alguns casos, pode-se realizar injeção de corticoides localizados em áreas resistentes. QUELOIDE Também é uma cicatriz proliferativa, caracterizada pela deposição excessiva de colágeno (síntese >>> degradação). A diferença é que, por definição, os queloides crescem além das margens da ferida origem, não regridem espontaneamente, apresentam maior predisposição genética e em indivíduos negros, e possui maior risco de recorrência. Além disso, parecem ser ativados de forma irreversível por fatores como o TGF-b. Outro ponto é que os queloide não podem ser prevenidos e, com frequência, são refratários à intervenção médica e cirúrgica. Histologicamente, contêm feixes do colágeno desorganizados tipo I e tipo III. Somado a isso, assim como nas cicatrizes hipertróficas, os queloides têm feixes estirados de colágeno alinhados no mesmo plano da epiderme, enquanto, nas cicatrizes normais, os feixes de colágeno estão dispostos aleatoriamente e relaxados. Possuem abundantes feixes de colágeno, mais espessos, que formam estruturas acelulares semelhantes a nódulos na derme profunda, que apresentam escassez de células no centro. TRATAMENTO: a recorrência com monoterapia ocorre em 50-100% dos casos, por isso, deve-se realizar terapia conjunta: ressecção cirúrgica + corticoide intraoperatório (80%) OU ressecção cirúrgica + radioterapia pós-operatória precoce (67-98%). CICATRIZ HIPERTRÓFICA X QUELOIDE Laísa Dinelli Schiaveto PREVENÇÃO DE CICATRIZES HIPERTRÓFICAS E QUEILOIDES As três estratégias são: (1) alívio da tensão, (2) hidratação e oclusão e (3) uso de bandagem/ roupas de pressão. Para o alívio da tensão, deve-se utilizar uma técnica cirúrgica adequada, atraumática, sem tensão, com eversão e aposição de bordas e curativo estéril. Para reduzir as linhas de tensão, utilizamos as Linhas de Langer, que são perpendiculares à contração muscular. Ainda, as loções hidratantes e os curativos que retêm umidade (folhas e géis de silicone) podem reduzir a espessura, o desconforto e o prurido e melhorar a aparência da cicatriz. - Após a cicatrização da ferida, a água continua evaporando mais rapidamente através do tecido cicatricial, e pode levar mais de 1 ano para recuperar os níveis presentes antes do ferimento. Os produtos de silicone podem amenizar as perdas por evaporação e ajuda na hidratação do estrato córneo. OBS.: A placa de silicone deve ser usada em indivíduos que apresentam predisposição. Já, as roupas de pressão devem ser usadas de modo profilático em feridas que são amplas, como em queimaduras. Porém, ressalta-se que estas devem ser aplicadas logo que a ferida esteja fechada e o paciente consiga tolerar a pressão. Além disso, é importante evitar a exposição solar e fazer o uso de protetor solar SPF 50+ durante 1 ano do pós-operatório, pois melhora a hiperpigmentação da cicatriz e melhora a aparência clínica. FERIDAS CRÔNICAS Feridas crônicas são aquelas que não cicatrizam em até 4 semanas. Dentre elas, temos: - Úlceras venosas (principal); - Úlceras arteriais; - Úlceras diabéticas; - Úlceras por pressão. Todas as feridas crônicas podem evoluir para Úlcera de Marjolin, que é uma degeneração maligna de uma ferida crônica, que vira carcinoma espinocelular (CEC), sendo muito comum em queimados. Resumidamente, as feridas crônicas não completam adequadamente as fases cicatrização, permanecente em um estado de inflamação crônica devido ao recrutamento intenso de células, que adotam um perfil secreto pró-inflamatório. As células Laísa Dinelli Schiaveto inflamatórias, sobretudo neutrófilos e macrófagos, persistem na ferida, criando um ambiente altamente pró-oxidante e rico em proteases, com abundância de citocinas pró- inflamatórias, como a IL-1, IL-6 e TNF-a. As espécies reativas de oxigênio e proteases, como as metaloproteinases da matriz, são as influências deletérias mais significativas. Outra causa proposta para a cronicidade das feridas é a hiperproliferação de queratinócitos na periferia, resultando em inibição da migração e apoptose de fibroblastos e queratinócitos. TRATAMENTO: 1) COMPRESSÃO CLÍNICA COM CURATIVOS - CARACTERÍSTICAS: absortivos; atraumáticos; indolor; isolante; impermeável. 2) DESBRIDAMENTO: - OBJETIVO: manter a ferida limpa e sem necrose. - TIPOS: mecânico; autolítico (curativo hidrocoloide); enzimático (colagenase e papaína); cirúrgico. 3) TERAPIA POR PRESSÃO NEGATIVA: utiliza-se uma curativo à vácuo, o qual é um tratamento temporário afim de otimizar o leito da ferida. - VANTAGENS: promove tecido de granulação; aumento o fluxo sanguíneo; reduz edema, exsudato e carga bacteriana; mantém ambiente úmido; proteção mecânica; aproxima as margens da ferida. - DESVANTAGENS: mais de um tempo cirúrgico; custo elevado. - CONTRAINDICAÇÕES: malignidade; feridas infectadas ou mal desbridadas; lesões isquêmicas; estruturas nobres (grandes vasos e vísceras). 4) TERAPIA HIPERBÁRICA: a alta concentração de oxigênio estimula a angiogênese, visto que possui maior concentração de oxigênio quando comprado ao meio ambiente, sendo usada em feridas crônicas refratárias a outras terapias; custo extremamente elevado. FECHAMENTO DE FERIDAS ESCALA DE COMPLEXIDADE: Fechamento primário < Enxerto < Retalho A diferença entre enxerto e retalho é que o enxerto tira um pedaço de pele, sem vasos, e coloca em outro local, que tem que ter uma vascularização própria e boa. Já, o retalho possui seu próprio suprimento sanguíneos, podendo ser vários locais que não a pele. FECHAMENTO PRIMÁRIO No fechamento primário, uma boa técnica de sutura deve ser feita, com uma manipulação tecidual cuidadosa, evitando a desvitalização das margens cutâneas. As bordas da pele precisam estar no mesmo nível e as da ferida devem apenas se tocar. O edema pós- operacional é previsível e cria tensão adicional. Nesse sentido, minimizar a tensão é essencial para reduzir a cicatrização, o que pode ser feito por meio de suturas subdérmicas e dérmicas, sempre seguindo as Linhas de Langer. Laísa Dinelli Schiaveto ENXERTO O enxerto não contêm suprimento vascular e, por isso, a área receptora precisa estar bem vascularizada. - Superfícies desfavoráveis à enxertia devido à suprimento sanguíneo inadequado: ossos expostos, cartilagem, tensão e tecido de granulação crônico fibrótico. INTEGRAÇÃO DO ENXERTO: • EMBEBIÇÃO PLASMÁTICA: nutre o enxerto durante as primeiras 48 horas com exsudato plasmático proveniente dos capilares do leito receptor. • INOSCULAÇÃO: formação de anastomoses entre os vasos do enxerto e doreceptor (começa a se unir). • NEOVASCULARIZAÇÃO/MATURAÇÃO: crescimento de vasos a partir do leito receptor para o enxerto. Logo, a sensibilidade do enxerto é restituída por meio da reinervação que se inicia em aproximadamente 4 semanas e se completa em torno de 12-24 meses. A dor retorna primeiro e, em seguida, a palpação e a temperatura. CLASSIFICAÇÃO DO ENXERTO: • TIPO: • ESPESSURA: ENXERTO PARCIAL: utiliza-se a epiderme e a porção subjacente da derme, sendo coletada por dermátomo e a área doadora não necessita de sutura, sendo muito usado em queimados. Pode ser feito em áreas maiores, porém, tem um pior resultado estético. Quando é confeccionado em malha por meio de uma máquina e é expandido, é útil em casos de escassez de pele doadora disponível, quando o leito doador está acidentando ou distorcido ou quando o leito receptor se encontra pouco favorável. As desvantagens incluem: contratura ao longo do tempo; pigmentação irregular; pouca durabilidade quando sujeito à traumatismo. ENXERTO TOTAL: utiliza-se a epiderme e toda a derme, incluindo glândulas sudoríparas, glândulas sebáceas e folículos pilosos, sendo necessário o uso de bisturi e sutura. Geralmente, são retirados de áreas maiores em que a pele é fina e distribuída sem deformidade, como pálpebras superiores, sulco retroauricular, área supraclavicular, área sem pelos da virilha ou sulco do cotovelo. Entretanto, está menos disponível, mesmo que tenha melhor resultado estético, sobretudo em faces e áreas nobres. Laísa Dinelli Schiaveto COMPLICAÇÕES DO ENXERTO: • Hematoma (principal): coágulo forma uma barreira para o contato entre o leito e o enxerto; • Cisalhamento; • Infecção; • Vascularização insuficiente; • Comorbidades. CURATIVOS: Os curativos podem prevenir alguns fatores que impeçam a adequada aderência do enxerto. • CURATIVO COM LEVE COMPRESSÃO: minimiza o risco de acúmulo de fluídos. • CURATIVO DO TIPO BROWN: melhora a sobrevivência por meio da preservação da aderência entre o enxerto e o leito receptor, minimizando o cisalhamento e prevenindo hematoma e seroma; deve ser retirado após 5-7 dias. • DISPOSITIVO DE COMPRESSÃO ASSISTIDA À VÁCUO: pode estabilizar o enxerto. RETALHO O retalho contém o próprio suprimento sanguíneo. INDICAÇÕES: • Reparo primário não é possível; • Leito da ferida não permite o uso de enxerto; • Cobertura mais resistente, acolchoada e durável sobre áreas vitais; • Áreas nobres, proeminências ósseas e áreas de apoio. CLASSIFICAÇÃO: • COMPOSIÇÃO: SIMPLES: composto por apenas um tipo de tecido (ex.: cutâneo ou muscular). COMPOSTO: composto por mais de um tido de tecido (ex.: miocutâneo, fasciocutâneo e osteomiocutâneo). • LOCALIZAÇÃO: LOCAL: tecidos que encostam no defeito. REGIONAL: tecidos das proximidades. DISTANTE: tecido de outro local. • SUPRIMENTO SANGUÍNEO: ALEATÓRIO/RANDÔMICO: suprimento sanguíneo deriva de vasos do plexo vascular dérmico e subdérmico, supridos por artérias perfurantes. AXIAL: suprimento sanguíneo inclui um vaso nominado musculocutâneo ou septocutâneo (vasos mais importantes e conhecidos), que curva longitudinalmente ao longo do eixo do retalho e permeia a circulação cutânea sobrejacente em múltiplos pontos ao longo do retalho, a fim de promover maior extensão e segurança. PRINCIPAIS RETALHOS: • ROMBOIDE: simples (cutâneo), randômico e local; estes giram em acordo em torno de um ponto-eixo, a fim de deslocar o tecido em círculo. Laísa Dinelli Schiaveto • BILOBADO: simples (cutâneo), randômico e local. • ZETAPLASTIA: simples (cutâneo), randômico e local; consiste na transposição de dois retalhos triangulares interdigitados sem tensão, utilizando a pele lateral a fim de produzir um ganho no comprimento ao longo da direção do eixo comum do Z. • FRONTAL: simples (cutâneo), axial (artéria supratroclear) e regional. • TRAM (Transverse Rectus Abdominis Myocutaneous): composto (miocutâneo), axial (artéria epigástrica superior) e à distância. • PEITORAL MAIOR: composto (miocutâneo), axial (artéria toracoabdominal) e à distância – pediculado. • DELTOPEITORAL (BAKAMJIAN): COMPLICAÇÕES: • Comprometimento vascular. ENXERTO X RETALHO Laísa Dinelli Schiaveto QUESTÕES 1. (HFA-2018) O reparo de feridas é um fenômeno biológico de resposta dos tecidos lesados na tentativa de restaurar a função e a estrutura normais após o trauma. Acerca do processo de cicatrização de feridas, assinale a alternativa correta. a) Em uma ferida grande, como uma úlcera de pressão, a escara ou o exsudato fibrinoso refletem a fase proliferativa. b) O macrófago é a única célula verdadeiramente fundamental para a cicatrização de feridas, pois serve para orquestrar a liberação de citocinas e estimular processos subsequentes de cicatrização. c) Durante uma lesão tecidual aguda, a lesão dos vasos sanguíneos resulta em vasodilatação local intensa, seguida de vasoconstrição e parada de sangramento. d) A função primária dos fibroblastos é sintetizar colágeno, que eles começam a produzir durante a fase celular da maturação ou regeneração. 2. (SCMBH-2016) Sobre o processo de cicatrização e suas alterações, assinale a alternativa incorreta: a) A deficiência de vitamina C relaciona-se com a produção de colágeno de baixa qualidade podendo interferir na força tênsil da cicatriz. b) A radiação reduz a cicatrização em alças intestinais favorecendo a ocorrência de fístulas após suturas e anastomoses. c) A inflamação e a coagulação constituem eventos precoces da cicatrização de tecidos. d) A reposição de ácido ascórbico tem sido recomendada rotineiramente no pós-operatório com objetivo de efetivar o processo de cicatrização. 3. (AMP-2019) O diabetes melitus prejudica a cicatrização de feridas em todos os estádios do processo. Em relação a estas alterações, analise as assertivas abaixo e classifique-as em verdadeiro ou falso: (V) O diabético é propenso a isquemia e hipóxia tecidual devido a neuropatia e a aterosclerose associada. (V) A membrana basal dos capilares dos pacientes diabéticos é espessada, ocasionando perfusão reduzida no microambiente. (F) Os pacientes diabéticos possuem uma função exacerbada das plaquetas, promovendo microtromboses vasculares que leva, à hipoxia tecidual. (V) Os diabéticos são propensos a traumatismos repetidos como resultado da neuropatia periférica que acomete as funções motora e sensorial. (V) A função dos linfócitos e dos leucócitos está prejudicada no paciente diabético, levando a um aumento na degradação do colágeno e diminuição na deposição. 4. (SES-GO-2018) Na biologia da cicatrização, existem alterações nas cicatrizes relacionadas principalmente à hereditariedade. O queloide é uma lesão que se caracteriza por: a) Desordem fibroproliferativa, com a cicatriz evoluindo com hipocromia, prurido e alargamento, sendo muito comum em pacientes caucasianos e asiáticos. b) Desordem fibroproliferativa, com cicatriz evoluindo com crescimento tanto no plano horizontal como no vertical, podendo ser dolorosa e pruriginosa, violácea, com alta recidiva após retirada cirúrgica. c) Desordem fibroelástica, com a cicatriz evoluindo com crescimento no plano horizontal e vertical, podendo ser dolorosa e pruriginosa, violácea, sendo comum em asiáticos. d) Cicatriz elevada, tensa, pruriginosa, avermelhada, e às vezes, dolorosa, sem ultrapassar os limites da lesão, com tendência à regressão. 5. (UNIFESP-2020) Mulher, 41 anos de idade, portadora de carcinoma epidermoide em couro cabeludo, foi submetida a ressecção Laísa Dinelli Schiaveto tridimensional, deixando área cruenta arredondada de 5 cm de diâmetro, preservando-se o periósteo e recoberto por enxerto de pele. O cirurgião optou pela confecção decurativo de Brown sobre o enxerto. Além da cobertura, quais as funções do curativo? a) Impermeabilização e assepsia. b) Assepsia e higienização. c) Imobilização e compressão. d) Antissepsia e hemostasia. e) Hemostasia e assepsia. 6. (USP-SP-2020) Homem, 23 anos de idade, motociclista, foi vítima de colisão com automóvel. No Serviço de Emergência foi avaliado e liberado pela Cirurgia Geral e pela Ortopedia, sendo posteriormente encaminhado à cirurgia plástica que identificou ferimento descolante de terço médio da perna direita, após descartada fratura. Qual é a melhor conduta, além da limpeza com soro fisiológico e degermação? a) Ressecção e desprezo dos tecidos descolados, curativo oclusivo simples ou de pressão negativa sobre o leito cruento. b) Ressecção e emagrecimento da pele descolada, enxertia da pele emagrecida sobre o leito cruento, curativo de pressão negativa sobre enxerto. c) Ressecção de toda pele descolada e rotação de retalho local da coxa. d) Ressecção de toda pele descolada, enxerto parcial de pele de coxa contralateral e curativo de pressão negativa sobre enxerto. 7. (UNIFES0-2022) Homem, 94 anos de idade, notou aparecimento de lesão crostosa e elevada na região parietal direita, de crescimento gradativo, há 6 meses. A biópsia prévia confirmou carcinoma espinocelular superficialmente invasivo, bem diferenciado. A imagem a seguir mostra a demarcação das margens oncológicas para carcinoma espinocelular, tendo como margem profunda a ressecção da gálea aponeurótica e o periósteo. Neste caso, qual é a melhor técnica para reconstrução e cobertura do defeito? a) Retalho cutâneo microcirúrgico. b) Retalho cutâneo de transposição. c) Enxertia de pele espessura parcial. d) Enxertia de pele espessura total. 8. (PSU-MG-2021) Em relação à cicatrização, assinale a alternativa correta: a) A presença de fator de crescimento é essencial à sobrevida dos fibroblastos. b) Deve-se evitar a administração de drogas anti-inflamatórias que interferem na ação dos polimorfos nucleares (PMN), essenciais para o processo cicatricial. c) Macrófagos e plaquetas são essenciais para angiogênese. d) Os glicocorticoides aumentam a produção (síntese) de colágeno. 9. (SES-PE-2016) A terapia à vácuo das feridas tem mostrado excelentes resultados quando bem indicada. Funciona através de todos os mecanismos abaixo citados, exceto: Laísa Dinelli Schiaveto a) Aumentar o conteúdo de água (intra e extra- vascular) da ferida, tornando-a mais embebida e hidratada. b) Estimular a proliferação, migração e diferenciação celular. c) Provocar a macro e microdeformação da ferida. d) Aumentar a angiogênese. e) Aumentar a formação de tecido de granulação. 10. (UFPR-2022) Citocina fundamental na cicatrização das feridas, produzida por monócitos e linfócitos, estimula a proliferação de fibroblastos e é fator quimiotático para neutrófilos e macrófagos. O texto se refere à/ao: a) Fator de crescimento de transformação-beta (TGF-beta). b) Fator de necrose tumoral-alfa (TNF-alfa). c) Interleucina-1 (IL-1). d) Fator de crescimento epidêmico (EGF). e) Fator de crescimento derivado das plaquetas (PDGF). 11. (HAC-PR-2021) O complexo processo de cicatrização de feridas normalmente ocorre na seguinte sequência: a) Coagulação e inflamação, fibroplasia, deposição de matriz, angiogênese, epitelização, maturação do colágeno e retração da ferida. b) Coagulação e inflamação, deposição de matriz, fibroplasia, angiogênese, epitelização, maturação do colágeno e retração da ferida. c) Coagulação e inflamação, deposição de matriz, fibroplasia, angiogênese, maturação do colágeno, epitelização e retração da ferida. d) Coagulação e inflamação, deposição de matriz, angiogênese, fibroplasia, epitelização, maturação do colágeno e retração da ferida. e) Coagulação e inflamação, deposição de matriz, fibroplasia, angiogênese, epitelização, retração da ferida e maturação do colágeno. 12. (FJG-2017) A ação mais importante dos esteroides na cicatrização das feridas consiste em: a) Estimular a presença de citocinas na superfície das células. b) Inibir a resposta inflamatória e a síntese de colágeno. c) Aumentar a migração celular para a ferida. d) Causar vasoconstrição. 13. (HNMD-2019) Para prejudicar a cicatrização de uma ferida operatória, os níveis séricos de albumina devem estar abaixo de: a) 1 g/dL b) 2 g/dL c) 3 g/dL d) 4 g/dL e) 5 g/dL 14. (FMABC-2017) Na reconstrução mamária utilizando retalho do reto abdominal, qual artéria que deve ser preservada? a) Circunflexa superior profunda. b) Torácica lateral. c) Epigástrica inferior profunda. d) Epigástrica superior profunda. 15. (UNICAMP-2021) Menina, 12a, foi submetida a refinamento cirúrgico de cicatriz alargada em tórax secundária a queimadura. Realizada a excisão da cicatriz com fechamento por planos, evoluindo com o achado da figura abaixo: Laísa Dinelli Schiaveto Em relação a esta cicatriz, a conduta inicial mais apropriada é: a) A primeira alternativa terapêutica é a crioterapia, dado o fototipo da paciente. b) O diagnóstico é de queloide, portanto deve- se iniciar corticoterapia intralesional. c) Utilização de silicone tópico, associado ou não ao uso de malha, deve ser iniciada. d) Devido ao alto risco de recidiva, está indicada a re-excisão intralesional associada a radioterapia. 16. (IAMSPE-2016) O retalho toracodorsal lateral desenvolvido por Holmström e utilizado em reconstruções mamárias é um retalho: a) Cutâneo. b) Fasciocutâneo. c) Muscular. d) Musculocutâneo. e) De avanço. 17. (UNIFESP-2023) Homem, 30 anos de idade, vítima de queimadura de segundo grau superficial em toda a face por líquido aquecido. Apresenta queimadura de espessura total de pele em ambas as pálpebras inferiores. Nessa situação deve- se: a) Aguardar a epitelização por segundo intenção. b) Realizar retalho músculo cutâneo de vizinhança. c) Realiza tarsorrafia bilateral e aguardar epitelização. d) Realizar enxerto de pele total. CASO CLÍNICO 1. Você está rodando na CCP quando recebe o Sr. I.V., 56 anos, diabético mal controlado em uso de metformina, que refere lesão em couro cabeludo com crescimento progressivo há 02 anos. HIPÓTESE DIAGNÓSTICA: carcinoma espinocelular. CONDUTA: retirar com margem de 1 cm segurança. RECONSTRUÇÃO DE ESCOLHA: retalho e enxerto. PRESCRIÇÃO PÓS-OPERATÓRIA: - “Difícil Fazer Mal Cuando Preparados Estamos”. - Antibióticos à Analgesia à Anteriores à Antis (profilaxias) à Ajuda (S.O.S.). Laísa Dinelli Schiaveto COMPLICAÇÃO: rejeição do enxerto devido ao diabetes não controlado. NOVA CONDUTA: desbridamento e novo retalho.
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