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- -1 PESQUISA E PRÁTICA EM EDUCAÇÃO - PROJETO O DELINEAMENTO METODOLÓGICO - -2 Olá! Ao final desta aula, o aluno será capaz de: 1. Identificar os procedimentos envolvidos no trabalho de campo; 2. diferenciar os instrumentos de coleta de dados: questionário/formulário, entrevista, observação, análise documental; 3. conhecer os procedimentos envolvidos nesta análise; 4. ser orientado a elaborar e redigir a metodologia da pesquisa de seu projeto de pesquisa, indicando os procedimentos metodológicos e técnicas que serão adotados, bem como as fontes empíricas e documentais a serem utilizadas. 1 O delineamento metodológico – coleta e análise de dados Maria Regina Bortolini “Sem pesquisa de campo ninguém tem direito a Falar” (Mao Tse Tung) A pesquisa empírica diferencia-se da pesquisa teórica porque, como vimos, seu objeto de investigação refere-se a experiências, situações, eventos que se realizam na vida concreta de sujeitos, grupos, instituições, comunidades. Isso implica que, além da análise de teorias e conceitos, ela exige tomar contato com a realidade mesma, ou seja, fazer pesquisa de campo. A pesquisa de campo é uma expressão que surge em oposição à ideia de uma pesquisa feita em laboratório (uma situação criada artificialmente, como nas pesquisas experimentais) ou no escritório (como as pesquisas teóricas). Assim, a pesquisa de campo é aquela que se realiza toda vez que a coleta de dados se dá a partir da observação de fatos/fenômenos no momento mesmo em que eles ocorrem no real ou a partir do relato de sujeitos em condições naturais, ou seja, seus próprios contextos de existência. Todo projeto de pesquisa precisa especificar como se realizará a pesquisa de campo, indicando os critérios para escolha dos participantes e/ou da instituição a serem investigados, quais as etapas de trabalho e quais os instrumentos de coleta de dados. Embora a escolha das instituições e sujeitos que estarão envolvidos na pesquisa atenda especialmente a critérios metodológicos, ela só se delineia de fato no trabalho de campo, afinal é nele que o pesquisador vai conhecer a .realidade da pesquisa - -3 Para que o trabalho de campo possa se desenvolver de modo adequado, antes de qualquer coisa é preciso . O pesquisador deve fazer uma visita à instituição ouexplorar o campo e organizar o trabalho de campo comunidade onde ele pretende realizar a pesquisa para verificar se de fato aquela realidade se presta à sua investigação (como nos estudos de caso). Mesmo quando a pesquisa tem origem na realidade a ser investigada, é necessário verificar as condições em que se dará a pesquisa (como na pesquisa ação/participante). Esse primeiro contato vai permitir também identificar os sujeitos e os procedimentos necessários para a realização da pesquisa: a quem devo solicitar autorização para realizar minhas observações? É necessário pedir liberação dos sujeitos do trabalho/estudo para as entrevistas? Em que horário podem ser feitas as entrevistas? Onde as entrevistas podem ser realizadas? Onde as entrevistas podem ser realizadas? As respostas a essas perguntas vão permitir que o pesquisador organize um plano de trabalho de campo mais ajustado às condições reais de realização da coleta de dados. O plano irá discriminar as etapas de trabalho, indicando o cronograma de atividades e os recursos necessários. A etapa subsequente é a da elaboração e testagem dos instrumentos de coleta de dados. Os instrumentos devem estar em consonância com o tipo de abordagem que se pretende dar ao objeto e precisam ser testados (aplicados a uma amostra da realidade a ser investigada) para avaliarmos sua validade e eficácia. Dependendo da abordagem (qualitativa/quantitativa) irá implicar em diferentes instrumentos de coleta de dados. São mais usuais nas pesquisas quantitativas os questionários/formulários e nas pesquisas qualitativas a observação, a entrevista e a análise de documentos. No entanto, como já vimos em PPE-Projeto, a combinação entre as duas abordagens não é só possível, como muitas vezes, recomendável. 2 Observação A observação é a técnica própria do trabalho de campo. Ela é voltada para a descrição de comportamentos, ações, práticas, eventos, fatos que somente podem ser conhecidos através de sua percepção integral através dos sentidos. Tem por objetivo identificar regularidades/recorrências, mas também discrepâncias no comportamento dos fenômenos. Realiza-se necessariamente em ato contínuo, posto que a identificação dessas regularidades/discrepâncias não podem ser feita em evento único. Mas a observação não é apenas um fenômeno físico, ela envolve certa intuição, sensibilidade, acuidade, intencionalidade. Embora em estudos exploratórios possa se verificar uma tendência a uma observação menos estruturada que se dá de forma quase espontânea, chamada de observação assistemática, na maioria das pesquisas para que a - -4 observação produza informações relevantes, é necessária a observação sistemática, ou seja, aquela que envolve a elaboração de um roteiro de variáveis a serem consideradas. Afinal, para um tema como “a relação professor- aluno”, não é possível entrar em sala de aula e observar tudo dessa relação. Mesmo que quiséssemos, não poderíamos, pois nossa percepção é seletiva, ou seja, temos a tendência a ver apenas o que está em acordo com nossas crenças e referencias culturais. O astrônomo norte-americano Carl Sagan descreve na série Cosmos, um episódio sobre o encontro dos Tlingit (povo que vive na região do Alasca) com a expedição de La Pérouse (expedição francesa) no séc. XVIII. Segundo o cientista, o povo Tlingit teve medo de olhar as caravelas porque acreditava que elas fossem manifestações do mitológico "Corvo", o qual poderia transformá-los em pedra. Somente depois que um velho membro da tribo tomou coragem, pegou uma canoa e aproximou-se das embarcações é que eles puderam compreender como elas eram. Ter um roteiro permite o pesquisador ultrapassar a sua visão particular das coisas e, como a canoa, nos levar a uma aproximação mais efetiva com o que queremos estudar. No entanto, a sua elaboração não deve obscurecer a sensibilidade e a percepção do observador a eventos/fatos não discriminados no roteiro, mas apenas garantir maior objetividade e foco na observação. O filme curandeiro da selva conta a história de um cientista que está cego em sua observação e não vê a resposta a suas inquietações embora ela esteja o tempo todo ao alcance de sua visão. Mas a observação pode ser também participante e não participante, tendo em vista maior ou menor envolvimento/participação do pesquisador no fenômeno pesquisado. Na observação não participante, o pesquisador não se envolve com o evento a ser observado, ele é um agente externo que mantém distância dos sujeitos/grupos observados. Na observação participante, o pesquisador não é um mero observador, ele participa dos eventos e estabelece uma relação mais próxima dos sujeitos da pesquisa. Há vantagens e desvantagens no uso de cada modalidade. Geralmente, faz-se uso de observação participante quando se quer obter informações que exigem maior intimidade com o universo pesquisado, quando o pesquisador precisa sentir-se como um daqueles a que está dirigindo seu estudo. A observação não participante geralmente é usada quando o pesquisador não quer que sua aproximação iniba ou condicione o comportamento dos sujeitos observados. Nesses casos, o pesquisador se coloca fisicamente ausente (fica atrás de um vidro espelhado impedindo o observado de saber que está sendo observado) ou limita ao máximo a sua movimentação/atuação no ambiente de observação (estagiária calada no fundo da sala). - -5 O registro da observação deve ser feito no momento mesmo em que ela se dá para reduzir a perda de informações decorrentes da natural perda de memória. Para isso, faz-se uso de diário de campo, caderno ou bloco onde se faz descrição densa de tudo que foi observado ou ainda a partir de gravação em vídeo, parapreservar ao máximo a dinâmica do evento (permitindo inclusive a sua revisão). 3 Entrevista O segundo instrumento mais usual nas pesquisas qualitativas é a entrevista. Define-se a entrevista em uma pesquisa, como o diálogo entre o pesquisador e o pesquisado, com a finalidade de levantar informações sobre a problemática em estudo. A entrevista deve se dar preferencialmente num encontro presencial, posto que a atitude do entrevistado (comportamento corporal, entonação de voz, etc.) também deve ser considerada na interpretação de seu discurso, no entanto, as novas tecnologias da comunicação tem permitido a realização de entrevistas mediadas por ferramentas como skipe, MSN, facebook, entre outros recursos. Essas condições são aceitáveis apenas quando o acesso pessoal aos entrevistados é operacionalmente ou economicamente inviável. As entrevistas podem ser individuais ou em grupo (grupo focal). Realiza-se a entrevista individual quando se pretende saber o que pensam os entrevistados. No entanto, quando o objeto de investigação inclui compreender a dinâmica coletiva e os processos psicolinguísticos envolvidos na elaboração das ideias/representações de um grupo, a entrevista em grupo pode ser mais produtiva. Afinal, na entrevista junto a um grupo, poderemos observar os movimentos de confronto de ideias, como o grupo articula certas concepções e sua história, certos mecanismos de controle e dominação, enfim, elementos que dificilmente emergem no comportamento de uma pessoa isolada. Mas se isso é que diferencia esse tipo de modalidade, é preciso tomar esses elementos também no momento da análise e não se prender apenas ao conteúdo das falas. Assim como as observações, as entrevistas podem ser mais ou menos estruturadas a partir de um roteiro de perguntas/temas que orientam a conversa. Dessa forma, a entrevista (individual ou em grupo) pode ser estruturada, semiestruturada, não estruturada. A entrevista estruturada é aquela onde o roteiro de perguntas é rigidamente aplicado, não sendo permitidas quaisquer alterações na formulação e ordem das perguntas. A entrevista semiestruturada é aquela orientada por um roteiro de perguntas que deve ser aplicado a todos os entrevistados, mas onde há uma maior flexibilidade na sua aplicação, podendo o entrevistado alterar a ordem ou mesmo suprimir e acrescentar uma ou outra pergunta. A entrevista não estruturada é aquela onde o entrevistado segue apenas um roteiro de temas, e as perguntas são elaboradas no momento da entrevista de acordo com a dinâmica da conversa. - -6 Na elaboração do roteiro, devem ser consideradas: as características dos entrevistados (pessoas de idade, sexo, nível de escolaridade diferente tem diferentes formas de viver e compreender uma situação), a linguagem utilizada (o vocabulário utilizado deve ser familiar ao entrevistado para facilitar a sua compreensão das perguntas), a possibilidade de contaminação das respostas (na ordenação das perguntas, devemos tomar cuidado para uma não influenciar a resposta em outra subsequente), o tempo e as condições de aplicação (depois de 20 a 30 minutos a tendência é o entrevistado se cansar e não responder com o cuidado devido, o ambiente onde se realiza a pergunta pode constranger ou não o entrevistado). O registro da entrevista deve ser feito com gravação em áudio ou vídeo, para preservar o conteúdo do discurso. Se for feita gravação apenas em áudio, deve ser feito o registro escrito da atitude e fatores intervenientes ao longo da entrevista. 4 Questionamentos e formulários São os instrumentos típicos das pesquisas quantitativas. Referem-se a um documento escrito com um conjunto de perguntas objetivas (fechadas ou abertas), geralmente de múltipla escolha, que pode ser entregue para o respondente preencher (questionário) ou aplicado por um entrevistador (formulário). Assim como o roteiro da entrevista, as perguntas devem considerar as características dos entrevistados, a linguagem utilizada, a possibilidade de contaminação das respostas, o tempo e as condições de aplicação. São os instrumentos típicos das pesquisas quantitativas. Referem-se a um documento escrito com um conjunto de perguntas objetivas (fechadas ou abertas), geralmente de múltipla escolha, que pode ser entregue para o respondente preencher (questionário) ou aplicado por um entrevistador (formulário). Assim como o roteiro da entrevista, as perguntas devem considerar as características dos entrevistados, a linguagem utilizada, a possibilidade de contaminação das respostas, o tempo e as condições de aplicação. 5 Análise de documentos Geralmente usada como técnica complementar, a análise de documentos está voltada para o levantamento de informações históricas, referentes a políticas publicas ou mesmo para a compreensão dos sentidos atribuídos a fenômenos a partir de registros escritos (documentos oficiais, cartas, diários, agendas, planos de trabalho), gravuras/desenhos, fotos, vídeos, entre outras formas de registro da experiência humana. Envolve a definição de variáveis a serem consideradas e a seleção de material pertinente. Para uma seleção e análise cuidadosa de documentos, devem ser considerados: as condições de sua produção, os autores, as finalidades de sua elaboração, suas características específicas. Consideradas as diferentes características dos documentos, muitas - -7 vezes exige conhecimento técnico específico (por exemplo: a análise de conteúdo de imagem exige conhecimentos de semiótica). 6 Análise de dados Finalizado o trabalho de campo, será necessário organizar e analisar os dados. A análise de dados está voltada para responder/explicar a problemática e as questões do estudo. Frequentemente, tem início com a “leitura” dos dados disponíveis. Após uma leitura preliminar, todo o material pesquisado deverá ser organizado de modo que seja possível desenvolver um nível mais aprofundado de análise do conteúdo das entrevistas e documentos (análise de conteúdo, análise de discurso), assim como dos registros de campo ou, no caso do uso de questionários/formulários, para o tratamento estatístico de dados levantados. A leitura/análise sucessiva de todo o material deve permitir a construção de categorias de respostas (processo de categorização). Deve ultrapassar a mera descrição dos resultados, mas buscar interpretá-los, ou seja, relacionar as categorias entre si e com as contribuições teóricas pertinentes. Embora possamos considerar que certos tipos de pesquisa se delineiam a partir do uso de certos instrumentos de coleta e análise de dados, cada objeto e condições de pesquisa serão determinantes das escolhas que o pesquisador deverá fazer. Por isso, tem sido recorrente o uso combinado de diferentes instrumentos, na busca de ampliar as fontes de informação, de modo a permitir uma compreensão melhor das problemáticas estudadas. No entanto, seja qual for o delineamento metodológico feito pelo pesquisador, é preciso conservar certa coerência entre as opções feitas de modo a garantir o uso adequado das técnicas e permitir o efetivo “diálogo” entre os conteúdos obtidos por ocasião da análise de dados. Agora revise seu projeto, pense sobre quais os meios mais adequados para obter as informações de que precisa e ... elabore o delineamento metodológico de sua pesquisa. BOM TRABALHO! O que vem na próxima aula •Padrões para formatação de TCC na Unesa; •normas técnicas para trabalhos acadêmicos segundo a ABNT. CONCLUSÃO Nesta aula, você: • identificou os procedimentos envolvidos no trabalho de campo;• - -8 • identificou os procedimentos envolvidos no trabalho de campo; • diferenciou os instrumentos de coleta de dados: questionário/formulário, entrevista, observação, análise documental; • conheceu os procedimentos envolvidos nesta análise; • • • Olá! 1 O delineamento metodológico – coleta e análise de dados 2 Observação 3 Entrevista 4 Questionamentos e formulários 5 Análise de documentos 6 Análise de dados O que vem na próxima aula CONCLUSÃO
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