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NUTRIÇÃO CLÍNICA I – Unidade I – DIETAS HOSPITALARES MODIFICAÇÕES FÍSICAS E QUÍMICAS DA DIETA ORAL Professora Mestre Viviane Mukim de Moraes As dietas hospitalares podem ser padronizadas segundo as modificações qualitativas e quantitativas da alimentação normal, assim como da consistência, temperatura, volume, valor calórico total, alterações de macronutrientes e restrições de nutrientes, com isso podem ser classificadas a partir das suas principais características, indicações e alimentos ou preparações que serão servidos. Modificações físicas 1) Volume Para classificar a dieta quanto ao seu volume considera-se a sua densidade calórica, ou seja a relação de energia contida em determinada quantidade de alimento (kcal/g). - Volume Normal: 1 kcal/g - Volume Reduzido: < 1 kcal/g, ATENÇÃO!!! Nestes casos pode ser necessário acrescentar suplementos calóricos (EX: Nutridrink sem sabor). - Volume Aumentado: > 1 kcal/g 2) Fracionamento - Normal: 5 a 6 refeições/dia - Reduzido: até 3 refeições/dia - Aumentado: até 8 refeições/dia. Muito utilizado em casos onde não se deve esforçar muito o sistema digestivo ou quando o paciente apresenta distensão abdominal. Nestes casos, é prudente aumentar o fracionamento e reduzir o volume das refeições. 3) Temperatura - Alimentos quentes: aceleram a motilidade gástrica - Alimentos frios e gelados: retardam o esvazimanto gástrico. OBS: O estômago trabalha, normalmente, com uma faixa de temperatura “ótima”, que varia entre 37°C e 42°C. Qualquer alimento fora dessa margem pode alterar o funcionamento do órgão. Ingerir alimentos muito acima ou muito abaixo dessa faixa é uma situação incomum para o órgão, que passa a produzir quantidade maior de líquidos e trabalhar mais para tentar regular sua temperatura interna. É um processo que exige muito mais energia de um organismo que já está debilitado e, para piorar, provoca contrações e distensões gástricas, podendo causar enjôos ao paciente. Entretanto há situações onde a alimentação fria será útil, por exemplo para pós-operatório de cirurgias na boca e garganta, pois anestesia e minimiza sangramento. 4) Consistência DIETAS INDICAÇÕES CARACTERÍSTICAS Livre ou normal Pacientes cuja condição clínica não exige modificação em nutrientes e consistência da dieta. Sem nenhuma restrição, deve preencher todos os requisitos de uma dieta equilibrada. Dieta rica em resíduos (fibras) Branda Pacientes com problemas mecânicos de ingestão e digestão que impeçam a utilização da dieta geral. É usada como transição para a dieta geral. É restrita em frituras e alimentos crus, exceto os de textura macia. O tecido conectivo e a celulose estão abrandados por cocção ou ação mecânica, facilitando a mastigação e a digestão. Dieta com resíduos abrandados por cozimento Pastosa Pacientes com dificuldade de mastigação e deglutição, em alguns pós-operatórios, casos neurológicos, insuficiência respiratória, diarréias. Os alimentos devem estar em forma de purê, mingau, batidos ou triturados, exigindo pouca mastigação e facilitando a deglutição. Dieta pobre em resíduos (fibras) Líquida Pacientes com dificuldade de mastigação e deglutição, em casos de afecções do trato digestório, em determinados preparos de exames, em pré e pós-operatórios. Utiliza alimentos de consistência líquida na temperatura ambiente, que produzem poucos resíduos e são de fácil digestão. Dieta muito pobre em resíduos (fibras) Líquida Restrita ou Dieta de Prova Pacientes em pré e pós- operatório; diarréia aguda; realimentação oral - É uma dieta composta principalmente de água e carboidratos, portanto ausente em fibras e conseqüentemente em resíduos, por isso seu uso prolongado pode resultar em constipação e desconforto abdominal. - É composta apenas por chás, caldos de carnes e sopas ralas, ambos coados e sem adição de gordura, sucos de frutas coados, gelatina Modificações químicas Estas alterações consistem em dietas com alto (hiper) ou baixo (hipo) teores ou ainda, ausência de nutriente específico, por exemplo, glúten, lactose. A partir dessas modificações surgiram os chamados alimentos para fins especiais (Portaria 29 – MS, 1998) que são alimentos especialmente formulados ou processados, nos quais se introduzem modificações no conteúdo dos nutrientes, adequados à utilização em dietas diferenciadas e ou opcionais, atendendo as necessidades de pessoas em condições metabólicas e fisiológicas específicas. Estes alimentos classificam-se como: ❑ Alimentos para dietas com restrição de nutrientes (carboidratos, gorduras, proteínas, sódio e alimentos destinados a fins específicos) ❑ Alimentos para ingestão controlada de nutrientes (controle de peso, praticante de atividade física, nutrição enteral, ingestão controlada de açúcares) ❑ Alimentos para grupos populacionais específicos (alimentos de transição para lactentes e crianças de 1a infância, gestantes, nutrizes, alimentos a base de cereais para alimentação infantil, fórmulas infantis para lactentes e alimentos para idosos e outros grupos populacionais). Segue alguns exemplos: DIETA HIPOLIPÍDICA São retirados da dieta as gorduras de adição como manteiga, margarina, óleo e azeite, e também os alimentos ricos em gordura, como embutidos, queijos, abacate, frituras e gema de ovo. O leite administrado é do tipo desnatado. Frutas permitidas: todas, exceto abacate. Todos os vegetais são permitidos. Indicação: Patologias hepáticas, pancreáticas e de vesícula biliar. Aplicável no controle de hipercolesterolemia, aterosclerose. Oferece alto teor de fibras insolúveis e lipídeos poliinsaturados, com restrição de lipídeos saturados. DIETA HIPOSSÓDICA Dieta de consistência normal, com restrição de sódio em sua composição e de alimentos que recebam adição de sal na sua produção. O paciente normalmente recebe 2 gramas de cloreto de sódio (sal de cozinha) por dia, podendo variar até 4 gramas por dia. Todas as frutas e vegetais são permitidos. Alimentos não permitidos: bacon, salsicha, azeitonas, apresuntado, presunto, enlatados em geral e molho de soja. A ervilha e o milho verde enlatados poderão ser utilizados com moderação, ou seja, o per capita total não poderá ser superior a 5 gramas. Indicação: Hipertensão e edema por problemas renais/cardíacos. DIETA DB OU HIPOGLICÍDICA Dieta de consistência normal, constituída principalmente de carboidratos complexos e rica em fibras solúveis. A sacarose é substituída por adoçante artificial à base do edulcorante aspartame, ciclamato e sacarina, esteviosídeo e sucralose. Todas as frutas e vegetais são permitidos. Suplementos alimentares não permitidos: ensure, sustacal, sustagem e sustain não podem ser utilizados pela presença de sacarose em sua formulação. O alimento achocolatado normalmente utilizado para substituir as farinhas não poderá ser utilizado. Indicação: Intolerância à glicose, obesidade e hipertrigliceridemia. DIETA RENAL OU HIPOPROTÉICA Dieta de consistência normal, hipossódica, hiperglicídica, hipoprotéica, com lipídeos para completar o valor calórico total/dia; com alto teor de alimentos formadores de resíduos intestinais. Oferece 2 gramas de NaCI de adição/dia. Oferece 60% de proteínas de alto valor biológico. Frutas permitidas: todas, exceto aquelas ricas em potássio, como o melão e abacate. Vegetais permitidos: todos, exceto verdes, batata, mandioca e macarrão, por ser rico em potássio. Farinhas permitidas: trigo, amido de milho, fubá, farinha de arroz ou de milho. Indicação: Utilizada como tratamento conservador em patologias onde ocorre a necessidade de diminuição dos produtos do catabolismo proteico como ureia, creatina e amônia. DIETA HAS OU HIPOSSÓDICA (HIPERTENSOS) Alimentos ricos em sódio e gorduras saturadas devem ser evitados, ao passo que os ricos em fibras e potássio (4,7g de potássio ao dia) são permitidos. Deve-se consumirfrutas (4 a 5 vezes por dia), verduras, alimentos integrais, leite desnatado e derivados (com menos de 25% de gordura), quantidade, maior quantidade de fibras, potássio, cálcio e magnésio. Substituir frituras por alimentos assados, crus ou grelhados. Os hipertensos devem reduzir a quantidade de sal na elaboração de alimentos, dando preferência aos temperos naturais como alho, cebola, limão, gengibre, alecrim, ervas, salsa, cebolinha, hortelã e manjericão. Substituir doces e derivados do açúcar por carboidratos complexos e frutas, evitar sucos industrializados dando preferência aos sucos naturais de frutas. Incluir cereais integrais na dieta. É saudável uma pessoa ingerir até 6g de sal por dia (100 mmol ou 2,4 g/dia de sódio), correspondente a quatro colheres de café (4g) rasas de sal adicionadas aos alimentos. DIETA LAXATIVA (PARA PACIENTES CONSTIPADOS) Normocalórica, normoproteica, normoglicídica, normolipídica, rica em fontes de fibras 25 a 30g por dia (insolúvel e solúvel). Ofertar frutas com casca ou bagaço; vegetais folhosos crus; frutas ricas em fibras. Substituição de alimentos pobres em fibras e refinados por alimentos ricos em fibras e laxativos, como cereais integrais, frutas laxantes in natura e salada crua. Ofertar alimentos de acordo com a consistência da dieta. Alimentos não recomendados: alimentos pobres em fibras e frutas constipantes como caju, goiaba, banana. Receita do coquetel laxativo (equivalente a uma porção servida de 250mL): mamão “formosa cru”: 60 g ou 1/3 de fatia + suco de laranja: 60 ml + aveia em flocos: 10g ou 1 colher de sopa rasa + ameixa seca 15 g ou 3 unidades sem caroço + 100ml de iogurte natural. DIETA CONSTIPANTE (PARA PACIENTES COM DIARRÉIA) Normocalórica, normoproteica, normoglicídica, normolipídica, com predominância de fibras solúveis. Ofertar líquidos e eletrólitos (água de coco, chás, sucos sem bagaço) para repor as perdas intestinais. Cereais refinados e derivados, batata inglesa, aipim e cará bem cozidos e sem molho. Cenoura e chuchu, sem casca e bem cozidos. Frutas obstipantes como banana prata, banana maçã, maçã e pera sem casca, goiaba sem casca e sem semente, sucos de goiaba, caju, limão, maçã ou outras frutas constipantes. Alimentos não recomendados: alimentos que contêm lactose (leite e derivados, manteiga, adoçante com lactose), alimentos que ricos em sacarose (doces concentrados, mel, pudins), alimentos ricos em gordura (frituras, maionese, abacate), alimentos integrais, hortaliças e frutas laxantes.
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