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1. Referencial Teórico Dentre as 17 metas para a promoção do desenvolvimento sustentável elaboradas pela Organização das Nações Unidas (ONU, 2013), está a redução das desigualdades. Segundo o organismo internacional, para que os países possam crescer de maneira sustentável, a prosperidade deve estar disponível para todos, independente “do gênero, da raça, da crença religiosa ou do nível socioeconômico”.Tal entendimento vai de encontro com a forma como a academia pensa hoje a distribuição de seus excedentes. No pensamento econômico, a desigualdade como objeto de análise começa já com os clássicos. Destaque para David Ricardo (1817) e sua “teoria da renda da terra”, ainda no século XIX. Entretanto, nesse primeiro momento, o foco está na distribuição funcional da renda, ou seja, os economistas estavam interessados em entender a contribuição dos diferentes fatores de produção (terra, capital e trabalho) no processo produtivo. Desta forma, deixam em segundo plano desigualdades relacionadas à renda e à riqueza(CARVALHO, 2021) Segundo Carvalho (2021), é apenas a partir de meados do século XX que o estudo da desigualdade se volta mais fortemente para a distribuição da renda e da riqueza entre indivíduos. Esse movimento se dá, principalmente, pela ascensão de abordagens mais analíticas e empíricas que buscavam superar limitações teóricas e de medição técnica nas ciências econômicas. Essa guinada em direção à análise empírica foi influenciada por contextos históricos, inovações metodológicas e avanços tecnológicos. Ademais, debates dentro do campo da justiça social protagonizados por pensadores como John Rawls, Robert Nozick e Amartya Sen aproximam o pensamento econômico da moralidade (CARVALHO, 2021). Para um dos mais influentes filósofos da justiça social do século XX, Jonh Rawls, por exemplo, a desigualdade só é moralmente aceitável quando são estabelecidos dois princípios, o da diferença e o da oportunidade justa. Este primeiro ocorre quando a sociedade opta por promover ou manter uma situação de desigualdade benéfica a grupos mais vulneráveis. É também chamado de princípio maximin, haja vista a ideia central de maximizar o mínimo. Em relação ao segundo princípio, a desigualdade é tolerável entre “postos e posições”, entretanto, as barreiras para sair de uma condição menos favorável para uma mais favorável devem ser possíveis de serem superadas pelos indivíduos da maneira mais uniforme possível. Exemplos desses dois princípios, na prática, são as leis de cotas nas universidades e nos concursos públicos federais. (RAWLS, 1981;OUTRO AUTOR) Desta forma, com ferramentas metodológicas e tecnológicas mais apropriadas, maior disponibilidade de dados e com motivação moral, há um aumento de interesse por parte da academia sobre as desigualdades de renda entre os indivíduos e seus efeitos no bem-estar social e econômico (Carvalho, 2021). Resende et al (2011), por exemplo, desenvolvem um modelo econométrico capaz de dimensionar o efeito da desigualdade em dez tipos de crimes em cidades brasileiras com mais de 100 mil habitantes. A correlação é positiva em todos os tipos de crimes, mas ainda maiores nos classificados como “ contra patrimônio”. Estes, por sinal, são a grande maioria dos praticados nas grandes cidades. O resultado vai de de encontro com estudos internacionais ( RUFRANCOS HG et al ,2013; BLAU et al,1982; NADANOVSKY et al, 2009) A partir daqui a ideia é: - discorrer muito rapidamente o efeito da desigualdade de renda sobre crescimento econômico - com isso, discutir como uma má distribuição de investimentos em capital humano é um dos determinantes da desigualdade de renda - passar a discutir como o país pensa, em termos de políticas públicas, a relação entre qualidade e desigualdade na educação Referências RUFRANCOS, H.; POWER, M. Income Inequality and Crime: A Review and Explanation of the Time?series Evidence. Sociology and Criminology-Open Access, v. 01, n. 01, 2013. BLAU, J. R.; BLAU, P. M. The Cost of Inequality: Metropolitan Structure and Violent Crime. American Sociological Review, v. 47, n. 1, p. 114, fev. 1982. RESENDE, J. P. DE; ANDRADE, M. V. Crime social, castigo social: desigualdade de renda e taxas de criminalidade nos grandes municípios brasileiros. Estudos Econômicos (São Paulo), v. 41, p. 173–195, 1 mar. 2011. RAWLS, J. Uma teoria da justiça. Brasília: Editora Universidade De Brasília, 1981. CARVALHO, A. R. D.; SOUZA, L. R. D. A evolução conceitual da desigualdade e da pobreza no pensamento econômico. Brazilian Journal of Political Economy, v. 41, n. 2, p. 402–425, abr. 2021. NADANOVSKY, P.; CUNHA-CRUZ, J. The relative contribution of income inequality and imprisonment to the variation in homicide rates among Developed (OECD), South and Central American countries. Social Science & Medicine, v. 69, n. 9, p. 1343–1350, nov. 2009.
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