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AULA 6 ELABORAÇÃO, GESTÃO E AVALIAÇÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS Prof. Raphael Hardy Fioravanti 2 TEMA 1 – OS INDICADORES Indicadores são ferramentas fundamentais para o desenvolvimento e acompanhamento de políticas públicas, pois nos permitem estabelecer elementos de identificação da realidade dada e também de comparação entre status situacionais. Qualquer avaliação e/ou monitoramento de programas e de suas ações precisam estar baseadas na análise de indicadores. Os indicadores precisam ser formulados de forma a permitir que os seus resultados sejam medidos. Ou seja, a atenção à sua formulação é crucial para que permitam sua real utilização e que faça sentido ao que se pretende acompanhar. E fazer isto não é uma tarefa fácil. Pelo contrário, se a sua formulação ou identificação não for correta, o acompanhamento da política pública será ineficaz. Políticas públicas que formam programas que sejam abrangentes, compostos por muitos objetivos, ou que não tenham os seus objetivos construídos de forma precisas, poderão ter dificuldades na escolha dos indicadores que possam monitorar seus resultados. A nossa realidade tende sempre a ser interpretada de acordo com as preferências, os valores e os conhecimentos dos atores políticos que a descrevem. Assim, a interpretação pode sofrer com inferências de impressões pessoais dos envolvidos. Desta forma, precisamos fazer uso de indicadores que nos ajudem a diminuir a subjetividade e a imprecisão da interpretação. Então, como devemos construir ou escolher os indicadores para uma determinada política pública? Para a correta interpretação da realidade dada, precisamos ter o suporte de dados, preferencialmente estatísticos, que possibilitem o reconhecimento do problema tratado pela política pública e consequências das ações da referida política pública. Por vezes, nem sempre dados estatísticos podem ser usados de forma isolados e, para ter noção dos reais resultados de uma determinada política pública, precisamos fazer uso de estudos qualitativos. E o segredo para os estudos qualitativos é também de se estabelecer um processo metodológico que seja perene e adequado para captação dos dados que deseja obter. Tememos aqui como conceito, então, que indicadores são informações direcionadas para o processo avaliativo, de estudo, de análise, de formulação e de gestão de políticas públicas. São informações escritas ou verbais obtidas por meio do monitoramento de determinadas tarefas ou atividades. Os indicadores 3 poderão nortear as correções que necessitam ser realizadas para que os objetivos que foram traçados sejam alcançados. Como já descrevemos, os indicadores estarão presentes desde o início do processo de formulação das políticas públicas. Eles poderão ser utilizados para as seguintes ações: 1. Avaliação diagnóstica: estudar os problemas e necessidades e ajudar a definir as prioridades. 2. Avaliação de desenho de formulação: auxiliar na proposição, mapeamento e testagem do modelo conceitual lógico da proposta. 3. Monitoramento e avaliação do processo: acompanhar a gestão da política pública, apontando as entregas, prazos e pontos críticos. 4. Avaliação de resultados e impactos: análise dos resultados diretos e indiretos provocados pela política pública e as suas relações causais. As fontes de informação ou indicadores poderão ter duas fontes distintas: primárias ou secundárias. Fontes primárias são aquelas que são construídas diretamente pelos responsáveis pela política pública, obtendo as informações e as organizando de forma direta junto aos beneficiários das políticas públicas e responsáveis pela sua implementação. Devem ser coletadas de forma cientificamente metodológica, a partir de conceitos amplamente aceitos pela academia da área de conhecimento que trata o tipo de informação levantada. Já as fontes secundárias são aquelas que vêm de fontes que não estão diretamente ligadas à política pública em específico, mas que podem colaborar para o seu monitoramento. Em geral, são informações estatísticas amplas da sociedade. Podemos indicar as seguintes fontes secundárias de informações: • IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística: é o órgão responsável pelo Censo brasileiro, que traz os dados geográficos e estatísticos do Brasil. É a principal fonte secundária de indicadores que podemos utilizar disponível em: <https://www.ibge.gov.br/>. Acesso em: 4 nov. 2022. • ANATEL – Agência Nacional de Telecomunicações: pode nos fornecer informações relevantes sobre a disponibilidade de acesso a informações digitais por parte de uma determinada região ou população. Disponível em: <https://www.gov.br/anatel/pt-br>. Acesso em: 4 nov. 2022. 4 • MEC – Ministério de Educação: é o órgão público federal responsável pela política nacional de educação; Educação Infantil; educação em geral, compreendendo Ensino Fundamental, Ensino Médio, Ensino Superior, ensino de jovens e adultos, educação profissional, educação especial e educação à distância, exceto ensino militar; avaliação, informação e pesquisa educacional; pesquisa e extensão universitária; e magistério. Assim sendo, concentra informações fundamentais na área da educação e também da cultura. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/>. Acesso em: 4 nov. 2022. • ANEEL – Agência Nacional de Energia Elétrica: é uma autarquia sob regime especial, vinculada ao Ministério de Minas e Energia, com sede e foro no Distrito Federal. Por ser uma agência reguladora, possui informações fundamentais sobre a produção e distribuição de energia elétrica. Disponível em: <https://www.gov.br/aneel/pt-br>. Acesso em: 4 nov. 2022. • DATASUS – É o departamento de informática do Sistema Único de Saúde do Brasil. Trata-se de um órgão da Secretaria de Gestão Estratégica e Participativa do Ministério da Saúde, com a responsabilidade de coletar, processar e disseminar informações sobre saúde. Disponível em: <https://datasus.saude.gov.br/>. Acesso em: 4 nov. 2022. • SICONFI – Sistema de Informações Contábeis e Fiscais do Setor Público Brasileiro: é uma ferramenta da Secretaria do Tesouro Nacional que é destinada ao recebimento de informações contábeis, financeiras e de estatísticas fiscais oriundas de um universo que compreende 5.570 municípios, 26 estados, o Distrito Federal e a União. Disponível em: <https://siconfi.tesouro.gov.br/siconfi/index.jsf>. Acesso em: 4 nov. 2022. • Banco Central do Brasil: é possível ter acesso às principais informações financeiras e econômicas do Brasil. Disponível em: <https://www.bcb.gov.br/>. Acesso em: 4 nov. 2022. • INPE – Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais é um instituto federal brasileiro dedicado à pesquisa e exploração espacial. É o órgão responsável, por exemplo, pelo controle do desmatamento em território brasileiro. Disponível em: <https://www.gov.br/inpe/pt-br>. Acesso em: 4 nov. 2022. • TSE – Tribunal Superior Eleitoral: reúne informações sobre o sistema 5 eleitoral brasileiro. Possui informações, por exemplo, o número de eleitores por região, bem como as suas subdivisões demográficas. Disponível em: <https://www.tse.jus.br/>. Acesso em: 4 nov. 2022. • ANM – Agência Nacional de Mineração: reúne todas as informações sobre a exploração do solo e minerais no Brasil. Disponível em: <https://www.gov.br/anm/pt-br>. Acesso em: 4 nov. 2022. • MTP – Ministério do Trabalho e Previdência: reúne as informações sobre a ocupação da população brasileira. Disponível em: <https://www.gov.br/trabalho-e-previdencia/pt-br>. Acesso em: 4 nov. 2022. • PNUD – Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento: é o órgão da Organização das Nações Unidas que tem por mandato promover o desenvolvimento e erradicar a pobreza no mundo <https://www.undp.org/pt/brazil>. Acesso em: 4 nov. 2022. • IPEA – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada: é uma fundaçãopública federal vinculada ao Ministério da Economia. Suas atividades de pesquisa fornecem suporte técnico e institucional às ações do governo para a formulação e reformulação de políticas públicas e programas de desenvolvimento. Disponível em: <https://www.ipea.gov.br/>. Acesso em: 4 nov. 2022. TEMA 2 – MODELO PRÁTICO PARA CRIAÇÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS Para auxiliar a organização de uma política pública, sugerimos um modelo prático, que ajudará a organizar as informações fundamentais para a formulação de uma política pública. Nem todas as seções que indicamos precisam ser usadas, pois depende dos objetivos e formatação de cada política pública. 2.1 Resumo O resumo do projeto de uma política pública é um componente importante dessa proposta. Ele deve permitir que os envolvidos em seu desenvolvimento/aprovação/implementação construam uma visão geral do projeto, entenda seu sentido, método de ação, seu financiamento e a linha programática em que ele se enquadra. Geralmente, o resumo do projeto é a última coisa a ser escrita. Desta 6 forma, é preciso buscar no documento completo apenas aquilo que é muito importante. Não se esqueça também de incluir um índice no seu projeto, que ajude a localizar cada uma de suas partes. Sugerimos também que esse resumo não tenha mais do que duas páginas. 2.2 Justificativa É importante que você reflita sobre sua organização (a proponente), as questões sociais/econômicas existentes na região e as pessoas com o qual o projeto pretende trabalhar. É importante que você justifique e contextualize a criação do projeto de política pública, demonstrando sua compreensão das realidades geográfica, política e organizacional em que o projeto será inserido. 2.3 Desenvolvimento É onde deverão estar descritas as metas, objetivos e todas as ações necessárias para implementação do projeto de política pública. Quanto mais detalhado, melhor será para compreensão da complexidade da proposta. É aqui também que precisam estar descritos os resultados esperados com a implementação do projeto. 2.4 Base de sustentação É a construção da argumentação que dá sustentação à justificativa e à estrutura de ações proposta. Podem estar baseadas em experiência anteriores ou proposições cientificamente construídas. Por exemplo, se for uma política pública com foco na alfabetização, é preciso apontar os resultados já obtidos e esperados com a metodologia que será utilizada. Se há a necessidade de uma intervenção, como será a relação com o Conselho Municipal de Direitos da Criança e do Adolescente se for uma nova proposta de lei, como dialoga com as demais leis e regulamentações já existentes e porque está propondo dessa forma e não de outra. 2.5 Equipe técnica Desenho das caraterísticas e conhecimentos fundamentais para a implementação e condução da política pública. Tão importante quanto a sustentação teórica e identificar as necessidades de pessoal para a correta 7 condução da proposta a fim de se obter os resultados esperados. 2.6 Avaliação de resultados Identificação dos indicadores quantitativos e qualitativos, de acordo com os objetivos traçados e quais serão as formas de obtenção das informações, metodologias utilizadas e periodicidade. 2.7 Cronograma para as ações Apresentar todos os tempos e ações necessárias para que a proposta de política pública ocorra de forma satisfatória, atendendo os objetivos que foram anteriormente definidos. Cronograma de ações poderão sofrer adaptações de acordo com as necessidades e imprevisibilidades que podem ocorrer durante o desenvolvimento. TEMA 3 – CUIDADOS FUNDAMENTAIS 3.1 Resumo Cuidado para que o texto não se torne uma “colcha de retalhos”, com textos extraídos de partes do projeto, sem a devida contextualização e fluidez no texto. Recomendamos que seja feita a reescrita. 3.2 Justificativa Procure, sempre que possível, embasar a justificativa com base em números estatísticos e fatos comprovados. Não elabore justificativas sem embasamento. Se isto for feito, fragiliza o trabalho como um todo e pode inviabilizar a iniciativa no momento da proposta ou mesmo no futuro. 3.3 Desenvolvimento Presta atenção em fazer a correta correlação entre as metas, os objetivos e as ações. Não tenha ações que não atendam os objetivos traçados. Não crie objetivos que não possam ser claramente identificáveis como relevantes para a proposta da política pública. 8 3.4 Base de sustentação Preste atenção se a proposta está de acordo com a legislação vigente e se não contra ao que já está estabelecido na Constituição Federal, principalmente que são pétreas. Investigue e traga para a base de sustentação todas as políticas públicas que vem de encontro à proposta, bem como estudo de casos nacionais e internacionais que sejam similares a proposta em questão. Também verifique os custos e faça o levantamento de qual é o custo per capita da proposta da política pública. Quanto menor for, a tendência de considerar que a política pública procura a economicidade ou tem grande capacidade de capilaridade e ampliação do público-alvo a ser atendido. 3.5 Equipe técnica Não tende a direcionar as necessidades às pessoas. Procure desenhar a base curricular necessária independentemente do corpo de profissionais que está imediatamente à sua disposição. 3.6 Avaliação de resultados Selecione muito bem os indicadores que serão utilizados e seja sempre transparente com os resultados, mesmo que eles não sejam positivos. O aprendizado com as dificuldades com uma política pública poderá tornar políticas públicas futuras muito mais eficientes. 3.7 Cronograma para as ações Cria cronograma baseada em quantidade de dias ou meses e não com datas fechadas. Processos burocráticos podem atrasar o processo de apreciação e a provação de políticas públicas. Se for utilizar datas fechadas para as ações, elas poderão se tornar obsoletas e gerar retrabalho. É claro que poderá haver exceções para essa recomendação. TEMA 4 – POLÍTICAS PÚBLICAS E RESPONSABILIDADE SOCIAL Nas últimas duas décadas, tem-se ampliado o número de estudos no mundo que apontam a importância do vínculo de políticas públicas com os conceitos de responsabilidade social, dada a importância cada vez maior das 9 redes sociais para os atendimentos social e econômicos de uma sociedade cada vez mais integrada e globalizada. Assumir uma posição socialmente responsável vai diretamente ao encontro do objetivo mais primordial de um gestor público, que é a construção do bem comum. Tal é a sua importância que no ano de 2010, foi lançada mundialmente a norma de qualidade ISO 26000, que apresenta orientações sobre conceitos, princípios, práticas e temas da responsabilidade social para todos os tipos de organizações. Essa norma tem como foco contribuir para que o desempenho das organizações seja compatível com o desenvolvimento sustentável da sociedade, provocando e direcionando as mais diferentes organizações irem além das obrigações descritas na lei e buscando, efetivamente e de forma ativa o desenvolvimento sustentável, com respeito das minorias, a diversidade, a cultura local. Observem que essa ISO não pretende colocar-se como um marco legal, e nem poderia. A norma ISO 26000 não fornece orientações destinadas a abordar questões que devem ser discutidas e resolvidas no âmbito das instituições políticas da sociedade. Já responsabilidade do Estado, no caso do Estado brasileiro, proteger os direitos humanos e garantir o bem-estar da sociedade. Organizações governamentais (empresas públicas, autarquias etc.) podem fazer uso dessa norma como orientação para a adoção de práticas socialmente responsáveis. Sendo aceita pela quase por unanimidade pela maioria dos países, ela aponta para a necessidade das organizações, privadas ou públicas, que precisam assumir um novo papel social, atentando-separa os seus comportamentos e desenhos de suas atividades, mesmo as mais singelas e cotidianas, cientes de um novo papel social relevante para a transformação social e ambiental. Isto quer dizer que no desenho de suas ações de gestão será necessário adotar critérios de responsabilidade social, formalizando políticas, práticas e sistemas de gestão nas áreas da economia, social e ambiental, atentos à transparência de informações sobre os resultados que são obtidos nessas áreas permitir a vigilância e participação externa. Podemos dizer que organizações que exercem sua responsabilidade social quando procuram realmente atender as expectativas dos diferentes atores sociais com os quais se relacionam, sejam fornecedores, executores, comunidades, beneficiários ou o meio ambiente em si. Estar atento às questões de 10 responsabilidade social e inseri-los nas propostas de políticas públicas, além de ampliar os benefícios a sociedade, permite a ampliação do mapeamento de fontes de financiamento, principalmente de origem privada e/ou internacional, diminuindo ou mesmo desonerando o órgão público para implementação e manutenção da proposta. Ao mesmo tempo, quando estamos falando de políticas públicas criadas com fins de estabelecer regulamentações, considerar os elementos de responsabilidade social em sua proposta, estabelece padrões mínimos legais, salvaguardas às corretas condições de execução dos trabalhos, transparência, combate às ações que promovem ou facilitam o surgimento de corrupção, respeito à equidade de gênero e proteção ao meio ambiente, entre outras possibilidades. Isto quer dizer que o Estado pode assumir os seguintes papéis em relação responsabilidade social: regulador, facilitador, aliado e/ou apoiador. 1. Estado como regulador da responsabilidade social: o setor público deve ajudar a estabelecer os padrões mínimos de atuação das empresas perante a legislação vigente, aplicando as penalidades e outras sanções. 2. Estado como facilitador da responsabilidade social: geração de legislação que facilite a atuação das empresas, criando, por exemplo, incentivos por meio da criação de leis. Também promovendo a capacitação, conscientização e pesquisa nos temas tratados pela responsabilidade social. 3. Estado como aliado com relação à responsabilidade social: fazer a combinação de recursos públicos e privados, ou de outros atores, apara promover a alavancagem das habilidades e recursos necessários para tratar os pontos de atenção da responsabilidade social. 4. Estado como apoiador da responsabilidade social: geração de apoio político para as práticas de responsabilidade social criados pelo mercado, gerando o reconhecimento, indicadores, diretrizes e normas não governamentais, bem como sendo liderança pelo exemplo, com práticas de contratação públicas atentas aos apontamentos da responsabilidade social. Um dos pontos mais importantes em que o Estado pode participar com relação à responsabilidade social, diz respeito à formulação de políticas no processo de compras públicas, criando critérios e orientações que sejam estabelecidos com o propósito de potencializar e acionar, por exemplo, pequenas 11 e médias empresas por meio da utilização de compras públicas para incentivar nelas as práticas de empresas socialmente responsáveis. A ideia seria, por exemplo, dar a possibilidade de utilização do acesso às compras e contratações públicas por métodos de mercado que incentivam as empresas a cumprirem determinados padrões ditados pelas normas de responsabilidade social. Ou seja, em vez da regulamentação através de leis, poderiam ser utilizados incentivos para influenciar a oferta e a demanda. Podemos utilizar as compras públicas como um meio de estimular o mercado a atuar de forma responsável, estando os critérios de contratação alinhadas com o conjunto de mecanismos e incentivos e como dizem ações fiscais para empresas que implementam ações de responsabilidade social. É claro que isso deve ser feito de forma a não afetar a acessibilidade, a geração de concorrência, a transparência, a economicidade e a qualidade dos produtos e serviços a serem adquiridos pelo Estado. Será um desafio para os gestores públicos promover a sinergia entre as regulamentações previstas na Lei n. 8.666 com as diretrizes recomendadas pela ISO 26000, bem como permitir o surgimento de uma cadeia de fornecimento que estimula empresas de todos os portes na aplicação da responsabilidade social e ambiental. O gestor público, então, tendo em mente os princípios da responsabilidade social deverá decidir a maneira de o que deve ser comprado, como deve ser comprado de quem deve ser comprado, respeitando a legislação vigente. Sobre responsabilidade social, recomendamos o estudo dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável e, sempre que possível, correlacionar os objetivos da proposta da política pública com tais objetivos. Saiba mais Acesse o link disponível em: <https://odsbrasil.gov.br/>. Acesso em: 2 out. 2022. TEMA 5 – TEMAS DE ATENÇÃO EM POLÍTICAS PÚBLICAS Assim como os aspectos apresentados pela responsabilidade social, principalmente pelos pontos indicados pelos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, há uma série de pontos e focos que temos identificado como sendo primordiais na criação de políticas públicas. São temas que dado a sua diversidade e as novas necessidades de uma sociedade globalizada, dinâmica, 12 com recursos cada vez mais escassos, surgem como relevantes para os gestores públicos. Em uma sociedade em constante mudança, identificamos que dados as evoluções econômicas ambientais, tecnológicas culturais, religiosas, entre outras, promovem o surgimento de problemas cada vez mais complexos com inúmeros fatores que devem ser considerados para a sua resolução. São as mais diversas, por exemplo, as novas descobertas científicas que estão promovendo o prolongamento da vida humana, criando uma população cada vez mais idosas com uma série de novas necessidades, as novas dinâmicas de relacionamento social, que estão gerando nos necessidades e profissões, a justa sedimentação da importância das mulheres como força de trabalho em todas as áreas, a ampliação das necessidades de atendimento a primeira infância, e o surgimento de atores globais que influenciam as dinâmicas das cidades, são apenas alguns exemplos de temas emergentes que estão no foco das novas propostas de políticas públicas. Aqui iremos expor algumas temáticas que têm sido levadas em consideração nas novas propostas de políticas públicas. 5.1 Políticas públicas e meio ambiente Os temas ambientais há tempos têm se configurado como primordial na agenda internacional. Os problemas ambientais estão se agravando cada vez mais e novas estratégias têm sido adotadas em todo mundo para se tratar do meio ambiente. O desenvolvimento sustentável tornou-se o novo paradigma para todas as nações, com o implemento de toda uma nova economia baseada em créditos de carbono. Na gestão pública, temos visto a preocupação, não apenas com conduções com relação a legislações, como também na necessidade de reduzir os espaços que sejam ineficientes, ou, então, na revisão de políticas pública já em execução, procurando reduzir a sua ineficácia. Vamos lembrar também que políticas públicas de meio ambiente são de responsabilidade de todas as instâncias do Estado e é preciso envolver a sociedade em todos os seus aspectos, principalmente em âmbito local, que é onde ocorrem concretamente os processos que afetam as pessoas integrantes das comunidades que serão afetadas por essas políticas públicas, ou pela falta delas. 13 O que deve ser feito, como deve ser feito e quando deve ser feito deve levar em consideração a realidade de cada localidade e as características socioculturais das populações envolvidas. O gestor público deve estar atentoa sempre procurar investir na capacitação do corpo técnico nas temáticas ambientais, interagir de forma construtivas com as diferentes entidades ambientalistas e promover a educação ambiental. 5.2 Políticas públicas e o envelhecimento populacional Estatisticamente temos observado o envelhecimento crescente da população brasileira. Isto significa que a idade média de nossa população está aumentando, bem como a expectativa de vida, cada vez maior. Isto implica em novas necessidades para o atendimento dessa população que ainda sofrer com fragilidades no atendimento de suas demandas específicas. Isto está gerando uma série de novos desafios para os gestores públicos, principalmente na área da saúde e de renda para essa população, cujos recursos parecem nunca ser o suficiente. O envelhecimento populacional deve estar no foco de qualquer agenda de política pública, dadas as incertezas quanto às condições de saúde, renda e cuidados que os idosos demanda por parte de todos da sociedade. Embora a Constituição Federal de 1988 tenha universalizados os benefícios de renda, previdência e assistência social para os idosos, deixou para as famílias a responsabilidade com o cuidado do idoso que esteja fragilizado. Dada a pressão que essa população está provocando nas contas públicas por meio da previdência social, há a insegurança com relação ao futuro da renda dessa população e de sua capacidade de subsidiar as suas necessidades, principalmente de saúde e bem-estar. Torna-se primordial a elaboração de políticas públicas com foco na prevenção e na manutenção desta população como economicamente ativa. 5.3 Políticas públicas para o turismo O turismo tem sido apontado como um setor econômico pouco explorado que pode aumentar significativamente a dinâmica econômica de uma região. Contudo, o dinamismo de seu campo, por vezes, não tem no Estado um agente estimulador com a agilidade necessária para o atendimento das demandas para 14 o seu fomento. A geração de políticas públicas com foco no turismo é complexo, pois precisam ser articuladas e condicionadas por várias dimensões: a. Dimensão ambiental: a busca da sustentabilidade dos recursos naturais locais, vendo estes como patrimônio pertencente à comunidade local e a toda humanidade. A biodiversidade toma aspectos simbólicos de identidade e podem gerar diferenciais competitivos interessantes. b. Dimensão cultural: a busca do desenvolvimento local, tendo na cultura um recurso endógeno e único. A história, as artes, as festas e as festividades são patrimônios que geram grande diferencial competitivo. c. Dimensão cívica: a inclusão da participação social da população local no âmbito das tomadas de decisão relativas ao desenvolvimento do turismo local, a integração da comunidade local como um grupo de cidadãos conscientes dos seus direitos. d. Dimensão lúdica ou de entretenimento: com o turismo, temos o aumento dos serviços de lazer, shows e demais atividades que visam atender as demandas dos turistas, que geram iniciativas empreendedoras, destacando aquelas como foco na qualidade de vida e bem-estar. e. Dimensão social: é preciso estar atento para construção de políticas públicas que tenham o objetivo de diminuir a desigualdade social local e facilitar o acesso equitativo aos produtos e serviços gerados pelo turismo, permitindo, assim, uma melhor distribuição de renda e beneficiando a sociedade como um todo. f. Dimensão econômica: por fim, o turismo pode promover o desenvolvimento econômico local, aumentar a renda e geração de postos de trabalho, ao mesmo tempo que consolida a atratividade do local junto ao mercado do turismo. 5.4 Paradiplomacia Com a intensificação do processo da globalização, os estados não são mais os únicos protagonistas nas relações internacionais. Há muitos outros atores que acabam se configurando nesse cenário, por exemplo, empresas transnacionais organiza ações não governamentais, estados e municípios. Os estados e municípios estão se tornando grandes protagonistas no cenário global, fazendo surgir um novo termo que é a paradiplomacia. 15 Paradiplomacia pode ser definida como a ação exterior de instâncias do governo que não são apenas a federal ou aquela como dita tradicional. Serve para identificar novos modelos de relação com o exterior. Ação diplomática de governos locais compreende um conjunto de instituições e ações pelas quais a administração pública estabelece relações com atores no cenário internacional com o objetivo de representar os seus interesses num plano global. Podemos considerar a paradiplomacia como sendo uma das formas de descentralização da gestão das relações internacionais. Formas adversas que governos municipais ou estaduais podem exercer a sua participação nas relações internacionais. Por exemplo: • Estabelecimento de vínculos com cidades-irmãs para a promoção de interesses em comum. • Criação de escritórios permanentes em cidades no exterior para a captação de recursos e fomento do comércio. • Assinaturas de acordos e convênios com agentes internacionais. • Participação em fóruns e feiras internacionais, visando a promoção de negócios de suas competências locais. • Cooperação transfronteiriça entre territórios adjacentes. • Cooperação para o desenvolvimento e ajuda humanitária. • Apoiar programas de capacitação de lideranças comunitárias e agentes multiplicadores. 5.5 Sociedade 5.0 Esse conceito surgiu no Japão a partir da ideia da Indústria 4.0, que surge com a era da informação, onde a tecnologia e a produção de bens fazem uso do acesso de serviços a partir do ciberespaço. Esse novo conceito pretende reposicionar as tecnologias em benefício do ser humano. Isso significa que, enquanto a Indústria 4.0 ainda está centrada nas fábricas, hospitais e shopping centers, a Sociedade 5.0 coloca o ser humano no centro da inovação e da transformação tecnológica. Os três valores principais que sustentam a sociedade 5.0 são os avanços em qualidade de vida, inclusão e sustentabilidade. Esses são pilares conceituais e condicionam a implementação de modo de vida com vários ideais agregados. 16 • Qualidade de vida: o objetivo é tornar as tarefas mais fáceis, automatizando enormemente o trabalho pesado e deixando as pessoas com mais tempo livre para os trabalhos estratégicos e mais importantes em significado. Promove também a melhora da saúde com biogenética e outras ferramentas tecnológicas de qualidade que aumentam a expectativa de vida, independentemente de gênero ou idade. • Inclusão: outro pilar da sociedade 5.0 é que todos tenham acesso a essas ferramentas benéficas da tecnologia. A ideia de igualdade é incorporada na sociedade de maneira ampla para diminuir os problemas sociais e econômicos. • Sustentabilidade: a sustentabilidade é necessária para implantar a sociedade 5.0 na sociedade como um todo. As mudanças acabam sendo essenciais para que empresas, governos, instituições e grupos em geral alterem a sua percepção de lucro que causou impactos irreversíveis ao planeta. A lógica do consumo e dos ganhos econômicos não podem mais ter o efeito destruição do meio ambiente. A sociedade 5.0 incentiva a expansão de energias renováveis para diminuir ou eliminar a degradação de ecossistemas. 17 REFERÊNCIAS DIAS, R.; MATOS, F. Políticas públicas: princípios, propósitos e processos. São Paulo: Atlas, 2012. QUEIROZ, R. B. Formação e gestão de políticas públicas. Curitiba: Intersaberes, 2013. SECCHI, L. Políticas Públicas: conceitos, esquemas de análise, casos práticos. 2. ed. São Paulo: Cengage Learning, 2013. SILVA, P. L. B.; MELO, M. A. B. O processo de implementação de políticas públicas no Brasil. Caderno 48. Núcleo de Estudos de Políticas Públicas – Unicamp, 2000.
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