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1 FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 Gestão de políticas públicas SUMÁRIO GESTÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS 2 Gestão de políticas públicas FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017SUMÁRIO A Faculdade Multivix está presente de norte a sul do Estado do Espírito Santo, com unidades em Cachoeiro de Itapemirim, Cariacica, Castelo, Nova Venécia, São Mateus, Serra, Vila Velha e Vitória. Desde 1999 atua no mercado capixaba, des- tacando-se pela oferta de cursos de gradua- ção, técnico, pós-graduação e extensão, com qualidade nas quatro áreas do conhecimen- to: Agrárias, Exatas, Humanas e Saúde, sem- pre primando pela qualidade de seu ensino e pela formação de profissionais com cons- ciência cidadã para o mercado de trabalho. Atualmente, a Multivix está entre o seleto grupo de Instituições de Ensino Superior que possuem conceito de excelência junto ao Ministério da Educação (MEC). Das 2109 institui- ções avaliadas no Brasil, apenas 15% conquistaram notas 4 e 5, que são consideradas conceitos de excelência em ensino. Estes resultados acadêmicos colocam todas as unidades da Multivix entre as melhores do Estado do Espírito Santo e entre as 50 melhores do país. Missão Formar profissionais com consciência cida- dã para o mercado de trabalho, com ele- vado padrão de qualidade, sempre mantendo a credibilidade, segurança e modernidade, visando à satisfação dos clientes e colaboradores. Visão Ser uma Instituição de Ensino Superior reconheci- da nacionalmente como referência em qualidade educacional. GRUPO MULTIVIX 3 FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 Gestão de políticas públicas SUMÁRIO biblioteca MUltiViX (dados de publicação na fonte) As imagens e ilustrações utilizadas nesta apostila foram obtidas no site: http://br.freepik.com Shirley Alexandra Ferreira. Gestão de Políticas Públicas / Ferreira, Shirley Alexandra. – Serra: Multivix, 2019. FacUldade capiXaba da seRRa • MUltiViX Catalogação: Biblioteca Central Anisio Teixeira – Multivix Serra 2019 • Proibida a reprodução total ou parcial. Os infratores serão processados na forma da lei. diretor executivo Tadeu Antônio de Oliveira Penina diretora acadêmica Eliene Maria Gava Ferrão Penina diretor administrativo Financeiro Fernando Bom Costalonga diretor Geral Helber Barcellos da Costa diretor da educação a distância Flávio Janones coordenadora acadêmica da ead Carina Sabadim Veloso conselho editorial Eliene Maria Gava Ferrão Penina (presidente do Conselho Editorial) Kessya Penitente Fabiano Costalonga Carina Sabadim Veloso Patrícia de Oliveira Penina Roberta Caldas Simões Revisão de língua portuguesa Leandro Siqueira Lima Revisão técnica Alexandra Oliveira Alessandro Ventorin Graziela Vieira Carneiro design editorial e controle de produção de conteúdo Carina Sabadim Veloso Maico Pagani Roncatto Ednilson José Roncatto Aline Ximenes Fragoso Genivaldo Félix Soares Multivix educação a distância Gestão Acadêmica - Coord. Didático Pedagógico Gestão Acadêmica - Coord. Didático Semipresencial Gestão de Materiais Pedagógicos e Metodologia Direção EaD Coordenação Acadêmica EaD editoRial 4 Gestão de políticas públicas FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017SUMÁRIO Aluno (a) Multivix, Estamos muito felizes por você agora fazer parte do maior grupo educacional de Ensino Superior do Espírito Santo e principalmente por ter escolhido a Multivix para fazer parte da sua trajetória profissional. A Faculdade Multivix possui unidades em Cachoei- ro de Itapemirim, Cariacica, Castelo, Nova Venécia, São Mateus, Serra, Vila Velha e Vitória. Desde 1999, no mercado capixaba, destaca-se pela oferta de cursos de graduação, pós-graduação e extensão de qualidade nas quatro áreas do conhecimento: Agrárias, Exatas, Humanas e Saúde, tanto na mo- dalidade presencial quanto a distância. Além da qualidade de ensino já comprova- da pelo MEC, que coloca todas as unidades do Grupo Multivix como parte do seleto grupo das Instituições de Ensino Superior de excelência no Brasil, contando com sete unidades do Grupo en- tre as 100 melhores do País, a Multivix preocupa- -se bastante com o contexto da realidade local e com o desenvolvimento do país. E para isso, pro- cura fazer a sua parte, investindo em projetos so- ciais, ambientais e na promoção de oportunida- des para os que sonham em fazer uma faculdade de qualidade mas que precisam superar alguns obstáculos. Buscamos a cada dia cumprir nossa missão que é: “Formar profissionais com consciência cidadã para o mercado de trabalho, com elevado padrão de quali- dade, sempre mantendo a credibilidade, segurança e modernidade, visando à satisfação dos clientes e colaboradores.” Entendemos que a educação de qualidade sempre foi a melhor resposta para um país crescer. Para a Multivix, educar é mais que ensinar. É transformar o mundo à sua volta. Seja bem-vindo! APRESENTAÇÃO DA DIREÇÃO EXECUTIVA Prof. Tadeu Antônio de Oliveira Penina diretor executivo do Grupo Multivix 5 FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 Gestão de políticas públicas SUMÁRIO lista de FiGURas > FIGURA 1 - Revolução Francesa 16 > FIGURA 2 - Max Weber 21 > FIGURA 3 - Ciclo de políticas públicas 28 > FIGURA 4 - Stakeholders 39 > FIGURA 5 - Exemplos de stakeholders da Administração Pública 40 > FIGURA 6 - Exemplos de recursos: stakeholders 45 > FIGURA 7 - Stakeholders 49 > FIGURA 8 - Árvore de problemas e objetivos 70 > FIGURA 9 - Gestão participativa 78 > FIGURA 10 - Constituição Federal 87 > FIGURA 11 - Constituição de 1988 100 > FIGURA 12 - Desenvolvimento humano 114 > FIGURA 13 - Índice de Desenvolvimento Humano 118 > FIGURA 14 - Organização das Nações Unidas 120 6 Gestão de políticas públicas FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017SUMÁRIO lista de QUadRos > QUADRO 1 - Início do desenvolvimento da Matriz Insumo-Produto no Brasil 69 > QUADRO 2 - Matriz do Marco Lógico 71 > QUADRO 3 - Proposta do projeto, resultados e produtos pela Matriz do Marco Lógico 73 > QUADRO 4 - Objetivo 1: acabar com a pobreza em todas as suas formas, em todos os lugares 121 > QUADRO 5 - Objetivo 2: acabar com a fome, alcançar a segurança alimentar e melhoria da nutrição, e promover a agricultura sustentável 122 > QUADRO 6 - Objetivo 3: assegurar uma vida saudável e promover o bem-estar para todos, em todas as idades 124 > QUADRO 7 - Objetivo 5: alcançar a igualdade de gênero e empoderar todas as mulheres e meninas 126 > QUADRO 8 - Objetivo 6: assegurar a disponibilidade e gestão sustentável da água e saneamento para todos 127 > QUADRO 9 - Demais objetivos de desenvolvimento sustentável da Agenda 2030 128 sUMÁRio 7 FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 Gestão de políticas públicas SUMÁRIO sUMÁRio UNIDADE 1 UNIDADE 2 1 tRaNsFoRMaÇÕes No aMbieNte MUNdial e a cRise do estado 15 iNtRodUÇão da UNidade 15 1.1 TRANSFORMAÇÕES NO AMBIENTE MUNDIAL E A CRISE DO ESTADO 16 1.1.1 REFORMA DO ESTADO E DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 20 1.1.1.1 AS TRANSFORMAÇÕES NAS POLÍTICAS PÚBLICAS 23 1.2 CONCEITUANDO POLÍTICAS PÚBLICAS 27 coNclUsão 34 2 staKeHoldeRs Na Gestão pública 36 iNtRodUÇão 36 2.1 A NOVA GESTÃO PÚBLICA E A DESCENTRALIZAÇÃO POLÍTICO- ADMINISTRATIVA 37 2.1.1 ANÁLISE DE STAKEHOLDERS 38 2.1.2 TAKEHOLDERS EXTERNOS DAS POLÍTICAS PÚBLICAS 49 2.1.3 STAKEHOLDERS INTERNOS DA POLÍTICA PÚBLICA 52 2.1.4 STAKEHOLDERS INTERNOS E EXTERNOS: COMO ACOMODÁ-LOS NA GESTÃOPÚBLICA? 56 biblioGRaFia coMeNtada 57 coNclUsão 57 8 Gestão de políticas públicas FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017SUMÁRIO sUMÁRio 3 plaNeJaMeNto de pRoJetos e políticas públicas 60 iNtRodUÇão 60 3.1 PLANEJAMENTO DE PROJETOS E POLÍTICAS PÚBLICAS 61 3.2 GESTÃO DA QUALIDADE POR RESULTADOS E O MODELO DE INSUMO-PRODUTO 68 3.2.1 MATRIZ DO MARCO LÓGICO 69 coNclUsão 74 4 boas pRÁticas paRa o plaNeJaMeNto de políticas públicas 76 iNtRodUÇão da UNidade 76 4.1 BOAS PRÁTICAS NO PLANEJAMENTO DE POLÍTICAS PÚBLICAS 77 4.1.1 OS CONSELHOS GESTORES COMO BOA PRÁTICA DE PLANEJAMENTO DE POLÍTICAS PÚBLICAS 78 4.2 CONSELHOS GESTORES COMO FERRAMENTAS PARA A FORMULAÇÃO E A GESTÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS – BOAS PRÁTICAS NACIONAIS 79 4.3 MARCOS LEGAIS CONSTITUCIONAIS E SUA APLICAÇÃO NA GESTÃO PÚBLICA 87 4.4 EXPERIÊNCIAS DE PLANEJAMENTO E DE GESTÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS – INSTRUMENTOS CONSTITUCIONAIS 89 coNclUsão 92 UNIDADE 3 UNIDADE 4 UNIDADE 5 UNIDADE 6 9 FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 Gestão de políticas públicas SUMÁRIO sUMÁRio sUMÁRio 5 estado, MeRcado e sociedade ciVil No deseNVolViMeNto social 95 iNtRodUÇão da UNidade 95 5.1 POLÍTICA SOCIAL 96 5.1.1 POLÍTICAS SOCIAIS NO BRASIL E A PARTICIPAÇÃO LOCAL 97 5.2 PARTICIPAÇÃO SOCIAL NO DESENVOLVIMENTO DE POLÍTICAS PÚBLICAS 103 5.3 INCLUSÃO SOCIAL, ETNIA E AFRODESCENDÊNCIA 106 coNclUsão 110 6 iNdicadoRes de deseNVolViMeNto 113 iNtRodUÇão 113 6.1 INDICADORES DE DESENVOLVIMENTO 114 6.1.1 INDICADORES QUALITATIVOS 115 6.1.2 ÍNDICE DE DESENVOLVIMENTO HUMANO (IDH) 118 6.1.3 OBJETIVOS DO MILÊNIO 119 biblioGRaFia coMeNtada 130 coNclUsão 130 ReFeRÊNcias 132 UNIDADE 5 UNIDADE 6 10 Gestão de políticas públicas FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017SUMÁRIO icoNoGRaFia ATENÇÃO PARA SABER SAIBA MAIS ONDE PESQUISAR DICAS LEITURA COMPLEMENTAR GLOSSÁRIO ATIVIDADES DE APRENDIZAGEM CURIOSIDADES QUESTÕES ÁUDIOSMÍDIAS INTEGRADAS ANOTAÇÕES EXEMPLOS CITAÇÕES DOWNLOADS 11 FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 Gestão de políticas públicas SUMÁRIO BIODATA DO AUTOR shirley alexandra Ferreira Formada em Ciências Sociais pela Pontifícia Universidade Católica (PUC Minas) e Mestra em Ciência Política pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Desde 2010, servidora pública estadual na Secretaria de Estado de Segurança Pública (Dire- tora de Ensino). Também atua como colaboradora no Núcleo de Ensino a Distância da Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ). JUSTIFICATIVA Saber gerir os bens e serviços públicos é fundamental para os profissionais que possuem o desejo de atuar em órgãos estatais. Ao longo dos anos e séculos, a admi- nistração vivenciou vários estágios de desenvolvimento de formas de gestão. Algumas proporcionaram avanços, outras atrasaram o processo de modernização. Um bom gestor é aquele que faz com que a Administração Pública caminhe, cada vez mais, ao encontro da inovação e eficiência. Para isso, sem dúvida, é preciso ter conhecimento sobre o caminho já percorrido por aqueles que o antecederam e, ainda, compreen- der que há um processo de construção social e política que faz com que o Estado se adapte ao longo de sua existência a determinados contextos. Atuar nesses contextos com segurança e conhecimento é importante para qualquer gestor público. ENGAJAMENTO Antes de iniciar a disciplina, reflita e, se preferir, tome nota das suas ideias. Estudar a concepção de Estado, gestão da administração e a construção de polí- ticas públicas é fundamental para o desenvolvimento de gestores. Nesse sentido, como você conceituaria o Estado na atualidade? O conceito previsto com o início do Estado moderno ainda hoje é compatível com a nossa realidade? Como descrever o 12 Gestão de políticas públicas FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017SUMÁRIO gerenciamento da Administração Pública nos dias de hoje? É possível dizer que avan- çamos nos métodos e formas de gerir o bem público? As políticas públicas são, de fato, criadas a partir das demandas sociais? APRESENTAÇÃO DA DISCIPLINA Caro(a) aluno(a), seja bem-vindo(a) à disciplina Gestão de Políticas Públicas. Nela, você estudará como se configura a Administração Pública e a elaboração das políti- cas públicas. A disciplina está dividida em módulos com a seguinte configuração: no primeiro módulo, você estudará o conceito de Estado, a transformação ocorrida no gerencia- mento da administração, bem como o desenvolvimento e criação das políticas públi- cas. No segundo módulo, o foco será nas novas formas de gestão de políticas públi- cas, buscando apresentar ferramentas para a formulação de políticas, bem como os principais envolvidos nessa área. O terceiro módulo terá por objetivo descrever mecanismos de planejamento de projetos e políticas públicas. Já o quarto módulo apresentará as boas práticas para o planejamento de políticas públicas e as práticas de inclusão social. Em seu quinto módulo, o Estado e a sociedade civil serão temas, visando dissertar sobre o desenvolvimento e as políticas sociais. Por fim, o último módulo discorrerá sobre os indicadores de desenvolvimento e as Metas do Milênio da Organização das Nações Unidas. Esta disciplina proporcionará amplo conhecimento para a formação de gestores e profissionais que atuarão na Administração Pública, por trazer discussões teóricas e práticas do cotidiano das políticas públicas. Sendo assim, participe dos fóruns e das discussões, além de ler os materiais complementares para que você tenha um exce- lente aproveitamento. 13 FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 Gestão de políticas públicas SUMÁRIO OBJETIVOS DA DISCIPLINA Ao final desta disciplina, esperamos que você seja capaz de: • Recordar as transformações no ambiente mundial e a crise do Estado. • Recordar a concepção teórica das políticas públicas. • Descrever como se desenvolve a descentralização político-administrativa, bem como a participação social no desenvolvimento das políticas públicas. • Explicar a relação entre Estado, mercado e sociedade para o desenvolvimento social e inclusão social. • Discutir o processo de planejamento e gestão das políticas públicas. 14 Gestão de políticas públicas FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017SUMÁRIO OBJETIVO Ao final desta unidade, esperamos que possa: > Descrever os conceitos de Estado e Administração Pública. > Explicar as principais transformações ocorridas no Estado. > Discutir as mudanças ocorridas na gestão da Administração Pública ao longo dos anos. > Descrever o ciclo de políticas públicas. UNIDADE 1 15 FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 Gestão de políticas públicas SUMÁRIO 1 TRANSFORMAÇÕES NO AMBIENTE MUNDIAL E A CRISE DO ESTADO Nesta unidade, você estudará sobre o desenvolvimento do Estado moderno, suas crises, desenvolvimento da Administração Pública e sobre a concepção de políti- cas públicas. O Estado tem como uma de suas funções o desenvolvimento de polí- ticas públicas voltadas para satisfazer as diversas necessidades da sociedade. O seu desenvolvimento nem sempre foi pautado por essa concepção. Como uma institui- ção soberana, vivenciou muitas transformações que impulsionaram a mudança da própria forma de administrar. Assim, a Administração Pública nasceu, cresceu e se transformou juntamente com as alterações que ocorreramna concepção das funções do Estado. As políticas públi- cas não são diferentes. São resultados das demandas sociais e resposta do Estado a essas demandas. Contudo, são amplamente influenciadas pela forma como a Admi- nistração Pública enxerga cada um dos problemas que se pretende combater. Nesse contexto, compreender como o Estado se organiza e desenvolve suas atividades é fundamental para que entenda o porquê e como se desenvolvem as políticas públi- cas. A gestão de políticas públicas implica um aparato do Estado bem desenvolvido e com práticas administrativas atuais. INTRODUÇÃO DA UNIDADE Nesta unidade, serão estudados os conceitos que embasarão o estudo sobre a gestão de políticas públicas. Você iniciará o percurso analisando o conceito de Estado e sua formação. Quando estudamos o Estado percebemos que o conceito foi sendo cons- truído ao longo dos séculos de acordo com as mudanças sociais e políticas viven- ciadas. A consolidação do conceito de Estado enquanto uma conjunção de povo, território e governo, está inserida de forma implícita em nossa Constituição Federal. 16 Gestão de políticas públicas FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017SUMÁRIO A gestão da Administração Pública vem nessa esteira também, vivenciando inúme- ras transformações na forma de gerir serviços e bens necessários à sociedade apon- tando as mudanças sociais e, ao mesmo tempo, trazendo mudanças e inovações ao próprio Estado. Nesse sentido, a unidade está organizada em três sessões. A primeira apresenta o conceito de Estado, os momentos de transformação e as mudanças ocorridas ao longo dos anos. Já a segunda sessão apresenta a reforma gerencial vivenciada pelos Estados. Por fim, a terceira sessão apresenta o conceito de políticas públicas e como essas são desenhadas nos contextos sociais. 1.1 TRANSFORMAÇÕES NO AMBIENTE MUNDIAL E A CRISE DO ESTADO A noção de Estado moderno iniciou nos séculos XVIII e XIX, especialmente após a Revolução Francesa e a Independência dos Estados Unidos da América. Tais movi- mentos proporcionaram um deslocamento do centro de poder das mãos dos gover- nantes para o cidadão, cabendo ao Estado instituir meios para controlar, limitar e garantir a segurança e paz. FIGURA 1 - REVOLUÇÃO FRANCESA Fonte: SHUTTERSTOCK.COM, 2019. 17 FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 Gestão de políticas públicas SUMÁRIO Historicamente, O Estado é um conceito que surge vinculado à ideia e à prática da soberania no século XVI, enquanto o império e a polis haviam sido as formas políticas características da Antiguidade. No entanto, o Estado é produto de um amplo processo histórico; seu desenvolvimento e sua consolidação não ocorreram ao mesmo tempo nos diferentes países. A formação do Estado não foi um processo linear, pois, quando ele surgiu, coexistia com impérios e cidades-Es- tados. (DIAS, 2017, p. 9) Nesse sentido, Estado pode ser considerado uma forma de organização política para determinado povo, dotado de soberania perante esse povo e atuando em um deter- minado território. Pode-se dizer que a Administração Pública surge com o aparecimento do Estado moderno, e seu desenvolvimento está vinculado às mudanças políticas e socioeconô- micas que ocorrem na sociedade e que exigem o fortalecimento do Estado. Administração Pública pode ser definida como um “conjunto de procedi- mentos, mecanismos e formas sociais por meio das quais o Estado adminis- tra tanto bens como serviços públicos, regulamenta a atividade econômica privada e contribui por meio da política econômica para o funcionamento do mercado” (DIAS, 2017, p. 25). 18 Gestão de políticas públicas FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017SUMÁRIO A necessidade de centralização do Estado origina a Administração Pública, pois cons- titui um instrumento de dominação utilizado pelo grupo hegemônico. Por isso, as primeiras administrações têm um caráter militar e fiscal (marcadamente no período absolutista). Mais tarde, essa função de dominação se caracteriza como exercício do poder para manter a ordem social, que se concretiza na defesa dos interesses das clas- ses dominantes (Estado liberal). Posteriormente, a Administração Pública adquire uma dimensão mais social (Estado de bem-estar social), realizando tarefas relevantes do ponto de vista social para a totalidade da sociedade e para cada cidadão em particular. Em suma, pode-se dizer que o Estado [...] constitui um complexo de instituições por meio das quais o poder da socie- dade se organiza sobre uma base superior ao parentesco. O Estado, portanto, constitui um fenômeno histórico que serve para explicar e justificar o fenôme- no social que é o poder político, a partir do momento que assume determina- das características. (DIAS, 2017, p. 9) O Estado tem um claro caráter instrumental, aparece como um conjunto de institui- ções e organizações para realizar objetivos que a sociedade considera necessários. As administrações públicas realizam uma série de objetivos que constituem necessida- des públicas definidas na Constituição, nas leis e no processo político. O conceito de Administração Pública se refere ao Estado como um sistema construído pela socie- dade para produzir serviços tendo como critério o interesse comum. Em sua constru- ção estão presentes valores sociais que superam o interesse específico de setores ou grupos isolados; sua referência é a sociedade como um todo, e seu objetivo é realizar o bem comum. Nesse sentido, a Administração Pública não deve ser entendida como produto final, serviço público ou prestação de serviço. A administração da organização pública produz tratamento igualitário, justiça, equidade e solidariedade entre outros valores assumidos pela sociedade. O poder das administrações públicas é um poder limita- do, pois se submetem às leis (princípio da legalidade) que estabelecem tanto os limi- tes do exercício do poder coercitivo outorgado pela sociedade, como o âmbito de sua atuação concreta, que deverá ser justificada como de “interesse público”. 19 FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 Gestão de políticas públicas SUMÁRIO O Estado utiliza como meios ou instrumentos seus diversos órgãos, que, portanto, não têm personalidade própria. Ao lhe ser atribuída determinada competência, a sua vontade enquanto órgão é enquadrada de tal modo que, se não cumpre adequada- mente sua função, incorre em omissão, transgride as normas de sua competência, incorre em desvio de poder e, se ultrapassadas as esferas de sua função (ou compe- tência), cai no vício de excesso de poder (DIAS, 2013). Ao longo dos séculos, o Estado e a Administração Pública passaram por transfor- mações que visavam inserir a participação da sociedade civil no desenvolvimento das políticas públicas e ações governamentais, com objetivo de produzir uma gestão pública mais transparente, eficiente e embasada nos anseios democráticos. O conceito de Administração Pública, pode ser definido como um “conjunto de procedimentos, mecanismos e formas sociais por meio das quais o Esta- do administra tanto bens como serviços públicos, regulamenta a atividade econômica privada e contribui por meio da política econômica para o funcio- namento do mercado”. (DIAS, 2017, p. 25) O orçamento participativo é uma ação, presente em muitos municípios brasileiros, que envolve a participação da sociedade na elaboração e execu- ção do orçamento público. Para que possa ser executado, o Poder Executivo estabelece um diálogo com a sociedade por meio de espaços em que ocorre o debate sobre as prioridades para investimento público. Além disso, possi- bilita que a própria sociedade possa acompanhare fiscalizar a aplicação dos recursos; definir quais áreas serão prioritárias para recebimento de investi- mento e, se necessário, articula com outros órgãos e instituições sociais para se responsabilizarem por essas ações consideradas prioritárias. 20 Gestão de políticas públicas FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017SUMÁRIO 1.1.1 REFORMA DO ESTADO E DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA A Administração Pública, no modelo burocrático clássico, teve como parâmetro os princípios utilizados pelo exército prussiano, e foi desenvolvida pelos países europeus logo no final do século XIX. No início do século XX, os Estados Unidos também aderiram à ideia; e, no Brasil, começa a nascer, em 1936, uma nova forma de fazer gestão pública com a reforma administrativa promovida por Maurício Nabuco e Luís Simões Lopes. O Departamento Administrativo do Serviço Público (DASP) foi um órgão criado em 1938 pelo governo de Getulio Vargas (1930-1945), com o objetivo de diminuir a ineficiência do funcionalismo público federal e reorganizar a Administração Pública no momento, entretanto, que o Estado se transfor- mou no grande Estado social e econômico do século XX, assumindo um número crescente de serviços sociais – a educação, a saúde, a cultura, a previ- dência e a assistência social, a pesquisa científica – e de papéis econômicos – regulação do sistema econômico interno e das relações econômicas inter- nacionais, estabilidade da moeda e do sistema financeiro, provisão de servi- ços públicos e de infraestrutura –, nesse momento, o problema da eficiência tornou-se essencial (PEREIRA, 1996, p. 2). Aqui temos a burocracia proposta por Max Weber, ou seja, a Administração Pública burocrática veio para substituir os poderes sem limites das monarquias absolutis- tas, onde se agrupavam público e privado, e o rei era não somente o monarca, mas o proprietário de tudo, ignorando qualquer norma. Tal direcionamento tornou-se incompatível com o capitalismo, e a sociedade civil começa a olhar para o Estado com maior interesse, pautando seus objetivos e desempenho. 21 FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 Gestão de políticas públicas SUMÁRIO FIGURA 2 - MAX WEBER Fonte: SHUTTERSTOCK.COM, 2019 Max Weber Max Weber (1864-1920) foi sociólogo e economista alemão. Suas grandes obras são a Ética protestante e o espírito do capitalismo e economia e sociedade. Nasceu em Erfurt, Turíngia, Alemanha, no dia 21 de abril de 1864. Formou-se em Direito e doutorou-se em Economia. Nesse sentido, a administração burocrática moderna, racional-legal, foi a solução encontrada para a separação entre o que era público e o que era privado, porque prezava pelo conceito de eficiência, racionalização e melhor custo-benefício das ações do Estado. 22 Gestão de políticas públicas FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017SUMÁRIO Contudo, ao longo do tempo percebeu-se que a administração burocrática não era ágil e não garantia a eficiência na prestação dos serviços. Ao contrário, segundo Perei- ra (1996), era cara e pouco orientada para suprir a necessidade dos cidadãos. Nos Estados de menor envergadura, tal problema não era notado, pois se priorizava a administração da justiça, contudo, Assim, a necessidade de mudança na forma de gerir o Estado era algo latente. Passou- -se a defender a Administração Pública gerencial, muito em virtude do envolvimento de grandes empresas com o Estado e da disseminação da ideia de flexibilização e descentralização dos serviços. Entretanto, somente a partir da década de 70 do século XX que a reforma adminis- trativa ganha força, devido à crise financeira dos Estados. Nos anos 80 o Estado, enfim, caminha para a mudança no modo de gerir os serviços e as políticas públicas. É o início da era da Administração Pública gerencial. Tal mudança foi inicialmente senti- do no Reino Unido, Nova Zelândia e Austrália. Segundo Pereira (1996), a Administra- ção Pública ganhou os seguintes contornos: (1) descentralização do ponto de vista político, transferindo recursos e atri- buições para os níveis políticos regionais e locais; (2) descentralização admi- nistrativa, através da delegação de autoridade para os administradores públi- cos transformados em gerentes crescentemente autônomos; (3) organizações com poucos níveis hierárquicos ao invés de piramidal, (4) pressuposto da confiança limitada e não da desconfiança total; (5) controle por resultados, a posteriori, ao invés do controle rígido, passo a passo, dos processos administra- tivos; e (6) administração voltada para o atendimento do cidadão, ao invés de auto-referida. (PEREIRA, 1996, p. 6) No Brasil, a inserção da Administração Pública gerencial começou a surgir ainda na década de 30. Em 1938, delineavam-se sinais de que a Administração Pública geren- cial teria início quando da ideia de administração indireta e direta, numa tentativa de descentralizar a prestação de serviços e, ainda, garantir melhor alcance desses. Tais anseios, se afastavam das diretrizes do Departamento Administrativo do Serviço Público criado em 1936 com bases burocráticas e a afirmação de princípios centrali- zadores e hierárquicos para o desenvolvimento das ações estatais. Em 1967, de fato, vê-se uma tentativa clara de alterar esse cenário, quando da definição do Progra- ma Nacional de Desburocratização visando “retirar o usuário da condição colonial de súdito para investi-lo na de cidadão, destinatário de toda a atividade do Estado” (BELTRÃO, 1984, p. 11). 23 FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 Gestão de políticas públicas SUMÁRIO Numa nova tentativa de renovação da Administração Pública, a promulgação do Decreto-Lei nº 200 foi mais uma tentativa de superar a administração burocrática ao promover a “transferência das atividades de produção de bens e serviços para autar- quias, fundações, empresas públicas e sociedades de economia mista, consagran- do e racionalizando uma situação que já se delineava na prática”. Tudo isso numa intensa necessidade de buscar a flexibilização e atualização da Administração Públi- ca nacional visando proporcionar maior eficiência ao serviço público e também redu- zir os custos dos novos serviços sociais a que os Estados passaram a ser incumbidos. A reforma da Administração Pública foi executada em três dimensões: a) institucional legal; b) cultural, baseada na mudança dos valores burocráticos; c) a da cogestão. Na dimensão institucional legal, buscava-se modificar a Constituição, as leis e os regula- mentos, entendo que, primeiramente, a reforma precisaria iniciar pela mudança dos regulamentos do sistema legal. A dimensão cultural da reforma significava abando- nar o patrimonialismo, além de possibilitar a transição da cultura burocrática para a gerencial, o que não seria algo fácil e sem entraves. A cogestão pública trata-se aqui de colocar em prática as novas ideias gerenciais envolvendo a sociedade no fornecimento de serviço público efetivamente mais barato, mais controlado e de melhor qualidade. Embora a reforma gerencial não estivesse completa quando se promulga a Constitui- ção de 88, os problemas que influenciaram a reforma também foram motivos para que se fizessem mudanças no texto constitucional legal. Os resultados foram políticas públicas descentralizadas, ações do Estado em conjunto com organizações sociais de vários tipos e participação da sociedade civil. Por outro lado, a Constituição trouxe, segundo Pereira (1996), um retrocesso, pois, mesmo sendo um momento de avanço da democracia no Brasil, transformou a Administração Pública em diversos espaços para pleito de cargos públicos entre repartições e ministérios,bem como na adminis- tração indireta para atender a pedidos dos partidos políticos vitoriosos em eleições. 1.1.1.1 AS TRANSFORMAÇÕES NAS POLÍTICAS PÚBLICAS A combinação Estado de bem-estar social e reforma na Administração Pública está muito interligada, pois, à medida que o Estado de bem-estar social demanda uma nova forma de organização estatal, foi imprescindível que a gestão desses serviços ocorresse de forma eficiente, ou seja, menores custos e melhores prestações de servi- ço sempre pautado pela questão da equidade. 24 Gestão de políticas públicas FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017SUMÁRIO Para Pereira (1996), o Estado de bem-estar social, após a Segunda Guerra Mundial, teve como compromisso buscar atingir cinco objetivos que compõem a formação dos Estados modernos: a liberdade individual, a riqueza ou bem-estar econômico, justiça social e proteção da natureza. Ideologias que em alguns pontos se comple- mentam e em outros não são plenamente compatíveis. A partir de 1970, a ideologia neoliberal ganha mais força, mundialmente a crise fiscal começa também a se avolumar. A busca dos neoliberais era, então, pelo aumento da taxa de lucro e também o restabelecimento do capitalismo, ou seja, aumentar seus rendimentos. Isso porque a crise mundial iniciada com a crise do petróleo agravava e reduzira drasticamente os lucros das empresas e a taxa de crescimento de alguns países, tais como Estados Unidos e Grã-Bretanha. Além do mais, os déficits fiscais aumentaram gradativamente a partir do momen- to que os governos não mais tinham como financiar as contas públicas; com isso, o consenso em torno da função do estado, enquanto mantenedor da ordem pública e dos serviços públicos se colocava em xeque. Na verdade, [...] o enfraquecimento dos governos no que diz respeito ao controle dos fluxos financeiros e comerciais, somado ao aumento do poder das grandes multina- cionais, resultou na perda da parcela significativa do poder dos Estados nacio- nais de ditar políticas macroeconômicas. (ABRUCIO, 1996, p. 176) Nesse período, o Estado transformou-se na principal instituição formuladora de polí- ticas públicas de bem-estar social. Após os anos 70, percebe-se a insurgência de grupos de pressão, movimentos sociais e sociedade civil organizada que pressionava o governo para inclusão de parcelas distintas da sociedade. Incluem-se nesse grupo estudantes, mulheres, negros, novos temas tais como o da paz, da liberação sexual, da defesa ambiental, dentre outros, que juntamente com a falta de legitimidade política acabam por gerar proble- mas de governabilidade. 25 FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 Gestão de políticas públicas SUMÁRIO Se, por um lado, a pressão da sociedade pela inclusão era forte, por outro, grupos beneficiados das relações neocorporativas e neoliberais não queriam abrir mão dos privilégios conquistados nos anos anteriores. Há de se considerar também que, na década de 80, a ideologia liberal radical, ou neoliberalismo, se tornava forte. Essa ideologia dava maior peso à liberdade subordi- nando os demais objetivos do Estado moderno ao liberalismo econômico e conse- quentemente reduzindo o tamanho do Estado e transformando em adversários o Estado social dos países desenvolvidos e o Estado desenvolvimentista nos países em desenvolvimento. O Estado social trouxe consigo o aumento da carga tributária gasta com os serviços sociais, que girou em torno dos 40% do PIB. Isso implicou colocar de forma pública e universal a oferta de serviços públicos de educação, saúde, previdência social, tornan- do coletivo o consumo desses serviços de forma efetiva e eficiente. Além do mais, os déficits fiscais aumentaram gradativamente a partir do momento que os governos não mais tinham como financiar as contas públicas, e com isso o consenso em torno da função do Estado enquanto mantenedor da ordem pública e dos serviços públicos estava em xeque. Uma vez que, do contexto pós-guerra até o final dos anos 70, o Estado transformou-se na principal instituição formuladora de políticas públicas de bem-estar social. Assim, nas políticas sociais, mudanças começaram a acontecer numa aparente tentativa de superar as diretrizes clientelistas e corporativas até então em vigor. Mas também elas continuam sob a égide centralizadora e autoritária do Estado. Se, por um lado, os gastos públicos eram utilizados para atender às necessidades básicas dos segmentos mais vulneráveis da população, por outro, as políticas e programas sociais eram pensados no sentido de exercer controle social sobre as camadas empobreci- das com predominância de ações assistenciais do Estado. A percepção da crise trouxe consigo a necessidade de reformar o Estado. Entre 1979 e 1994, o Brasil viveu um período em que a renda per capita se manteve estável, sem perspectiva de crescimento. Com o plano real em 1994, foi possível observar o cres- cimento novamente. 26 Gestão de políticas públicas FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017SUMÁRIO Cada vez mais, com menos recursos e mais déficits, a solução encontrada foi a redu- ção de custos; e, segundo Abrucio (1996), para muitos reformadores da década de 80, essa reformulação implicava modificação profunda do modelo weberiano consi- derado lento e ineficiente. Surgia um Estado com menos recurso e poder. Contudo, é preciso observar que essa crise ocorreu de formas diferenciadas nos países, muito de acordo com suas particularidades. Com isso, o modelo de Estado intervencionista e centralizador entrou em crise nas dimensões econômica, social e administrativa. Isso se deve em partes pela complexi- dade do Estado de bem-estar social, que tinha como objetivo a garantia de políticas públicas sociais para a população em geral; a questão da urbanização acelerada e muitos problemas locais demandando novas relações governamentais; atuação esta- tal em todos os setores governamentais buscando maior controle da economia e cada vez mais o discurso da necessidade da descentralização política e a negação do modelo burocrático weberiano. O modelo de política centralizador declina com o esgotamento do modelo desen- volvimentista em todas as dimensões: econômica, social e administrativa, mostrando também a necessidade de uma reforma política. Houve: crise fiscal, a partir da inter- venção do Estado; crise burocrática, devido à forma como o Estado era administra- do; crise política, que teve como ápice o aumento constante da demanda por novas formas de relações governamentais e do discurso da necessidade da descentraliza- ção política de fato; e negação do modelo burocrático. A reforma administrativa burocrática para a gerencial se tornou um instrumento do Estado e um fator de legitimação das ações do Estado social de forma a minorar os gastos sem perder a qualidade dos serviços prestados. A solução encontrada nessa nova forma de gestão foi: tornar os gerentes responsáveis em administrar os resulta- dos, premiar servidores bons, realizar serviços que envolvem agências reguladoras e manter o consumo coletivo gratuito incluindo com isso várias organizações não governamentais. Aos poucos foram se delineando os contornos da gestão pública: descentralização entendida como um processo nitidamente político, circunscrito a um Estado nacio- nal, que resulta da transferência efetiva de poder decisório aos Estados que adquirem autonomias para escolher seus governantes e legisladores, para administrar e elaborar a legislação local, além de cuidar da estrutura tributária e financeira (ABRUCIO, 1996). 27 FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 Gestão de políticas públicasSUMÁRIO Nas políticas públicas, Estados e municípios dotados de autonomia política e fiscal passaram a assumir funções de gestão por própria iniciativa, por adesão a programas propostos por outro nível mais abrangente de governo e também por expressa impo- sição constitucional. A Lei Orgânica da Assistência Social define em seu art. 1º que a Política de Seguridade Social será realizada através de um conjunto integrado de ações de iniciativa pública e da sociedade, para garantir o atendimento às necessi- dades básicas (Lei nº 8.742/1993, art. 1º). O Brasil foi um dos poucos, senão o único país federal, a incluir os municípios como membros permanentes com autonomia legislativa e tributária, legalmente atribuí- das pela Constituição. Isso trouxe a necessidade de se pensar em formas de estabe- lecer relações intergovernamentais entre os níveis de governo para otimizar o funcio- namento da gestão pública. 1.2 CONCEITUANDO POLÍTICAS PÚBLICAS O Estado pode ser compreendido como um conjunto de instituições e indivíduos que detêm certos conhecimentos e são capazes de transformá-los em intervenção na vida das pessoas. Portanto, as políticas públicas podem ser consideradas como o resultado prático do interesse de determinadas pessoas ou grupos de interesse, inclusive dos contextos vivenciados por esses Estados, pautados em crises e momen- to de soerguimento. Muito mais do que uma neutra instituição que afeta a qualidade de vida da popula- ção, as políticas públicas, sob esse prisma, são condicionadas por marcos regulatórios institucionais e pela real capacidade de as burocracias operacionalizarem políticas criadas por determinados atores que possuem diversos tipos de crenças e interesses. 28 Gestão de políticas públicas FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017SUMÁRIO O Estado não apenas cria as políticas, ele também recebe influência das políticas que cria e executa. Ou seja, determinados resultados conseguidos, com a interven- ção na vida das pessoas, ajudam a conformar novas possibilidades de os Estados operarem. As políticas criadas e implementadas alteram as agendas governamentais, criam novos interesses e grupos de interesses, alteram as preferências de uma série de atores e o padrão de disputa entre grupos políticos e sociais. Ademais, os atores aprendem com a dinâmica de prestação de serviços à população, podendo alterar a lógica de se tentar interferir no processo de produção de políticas públicas Pode-se dizer que políticas públicas remetem a um conjunto de decisões que se traduzem em ações estrategicamente selecionadas dentro de um conjunto de alter- nativas, conforme uma hierarquia de valores e preferências dos interessados. Seu caráter público se dá pela sua característica imperativa revestida de autoridade sobe- rana do poder público (RUA, 1998, p. 2). Dentre as primeiras abordagens relativas à análise de políticas públicas, tem-se a concepção que a formulação, execução e avaliação de políticas públicas acontecem em diversas fases ou em um ciclo. A proposição do ciclo de política pública nasce ainda nos anos 30, como forma de conciliar conhecimento científico e acadêmico com a ação governamental estabelecendo um diálogo entre cientistas sociais, grupos de interesse e governo. FIGURA 3 - CICLO DE POLÍTICAS PÚBLICAS Identificação do problema Formação de agenda FormulaçãoImplementação Avaliação Fonte: Elaborada pela autora. 29 FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 Gestão de políticas públicas SUMÁRIO Assim, a política pública pode ser estudada enquanto um modelo sistêmico, em que a política pública (outputs) seria resposta às demandas vindas da sociedade (inputs). Essas demandas podem ser novas, recorrentes ou reprimidas. Demandas novas são resultados de novos problemas e atores políticos que se organi- zam para pressionar o sistema político. Um exemplo atual vem sendo a grande pressão exercida por grupos orga- nizados em prol da mudança na forma de reconhecer os animais, uma vez que, no Direito Civil, ainda são definidos como “coisa”. A manifestação em torno do tema tem levantado debates, e o Projeto de Lei nº 3.670/2015 propõe alteração no Código Civil, para que os animais sejam considerados como bens. Já demandas recorrentes são aquelas advindas de problemas não resolvidos ou mal resolvidos que retornam à cena do debate público. Pode-se dizer, no cenário atual, que o tema do aborto vem percorrendo a cena pública há anos, tanto pela sua defesa quanto pela sua repressão. Tal cenário ainda não apresenta uma solução para esse conflito de ideias, mas a temática está presente nos debates legislativos e jurídicos nacionalmente. 30 Gestão de políticas públicas FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017SUMÁRIO E, por fim, as demandas reprimidas são as caracterizadas por não decisão. Nesse sentido, o sistema jurídico apresenta algumas demandas muito interessantes. O casamento homoafetivo pode ser inserido nessa cena. Apesar do aumen- to do número de casais que desejam realizar união nos termos do Código Civil, ainda assim, não há uma alteração concreta que os acolha nos mesmos termos dos casamentos entre heterossexuais. O sistema político é considerado, então, como um instrumento em que as demandas e suportes da população para o Estado são combinados para produzir políticas que melhor assegurem a estabilidade ao próprio sistema. Em suma, pode-se distinguir o processo de política pública nas seguintes fases: iden- tificação do problema, formação de agenda, análise das alternativas, formulação, implementação e avaliação. A fase denominada identificação de um problema e formação de agenda é consi- derada o momento em que algum problema deixa de ser apenas um fato, “ou um estado de coisa” (RUA, 1998), e se torna uma preocupação política por parte dos formuladores de políticas públicas que buscam melhores soluções para uma situa- ção. A inserção dos temas na agenda se dá por diversos modos: pela mobilização de atores coletivos e individuais dotados de algum poder capaz de pressionar o governo a intervir; quando a inclusão desses problemas como prioridade irá trazer vantagens eleitorais ou de barganhas dentro do sistema governamental e também por emer- gência de um momento de crise em que a não intervenção será mais prejudicial que intervir (RUA, 1998). Há processos de não decisão quando alguns temas amea- çam interesses ou contrariam código de valores de uma sociedade e consequente- mente encontram obstáculos diversos e de intensidade variada para sua inserção na agenda governamental. 31 FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 Gestão de políticas públicas SUMÁRIO As políticas públicas são uma série de atividades políticas que se conectam umas com as outras. Dentro das estruturas internas de governos, ideias advindas da socie- dade em geral ou de grupos de interesses em particular são absorvidas e processadas por instituições governamentais, nas quais trabalham atores incumbidos de analisar a viabilidade de tais demandas. Assim, o processo de formação da agenda é bastante dinâmico e não obedece a uma lógica pré-determinada. Existem condicionantes internos e externos que podem mudar a posição dos atores na competição, seja pela introdução de novos problemas, seja pela apresentação de novas soluções a problemas emergentes. A segunda fase do ciclo, a formulação, se constitui enquanto estudo de problemas com que se quer lidar, de maneira a observar os melhores meios para alcançar os fins pretendidos. Ou seja, pensa-se a política para se chegar a determinados resultados a partir da delimitação de objetivos, metas, recursose estratégias de implementação. Para Siman (2005), [...] a transformação de demandas em ações implica, portanto, um complexo encaminhamento até a escolha final, no qual vontade política, jogo de interes- ses, disponibilidade de recursos, natureza da demanda e dificuldades cogni- tivas na definição da política estão presentes desde o momento em que o problema se insere na agenda do governo, passando pela fase da formulação de alternativas que se caracteriza pela definição de diretrizes, competências, objetivos, metas, recursos e estratégias de implementação, até o momento em que se toma a decisão de executar determinada diretiva. Estas variáveis estão presentes nas políticas que surgem tanto das demandas da sociedade, como naquelas que se originam dentro do próprio sistema político. (SIMAN, 2005, p. 47) Assim, a formulação de políticas é composta por um processo decisório para proposi- ção de soluções permeada por embates políticos, de interesses e de preferências dos atores. Esses atores possuem recursos de poder tais como: influência, capacidade de afetar o funcionamento do sistema, meios de persuasão, votos, organização etc. Os atores envolvidos na formulação de uma política pública são definidos por Rua (1998) como atores públicos e privados. Como atores públicos referida autora denomina os atores políticos, indivíduos com mandato eletivo, pertencentes a partidos políticos, que podem ser governadores, prefeitos ou demais membros do Executivo. Também nessa categoria se encontram os burocratas que são detentores de conhecimentos 32 Gestão de políticas públicas FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017SUMÁRIO especializados, que, mesmo não tendo mandatos eletivos, possuem interesses indi- viduais e uma clientela que lhes permite influenciar o processo de tomada de deci- são e de implementação de políticas públicas. Apesar de a autora considerar nesse quesito apenas os funcionários de carreira da Administração Pública, no atual formato da administração brasileira, existem cargos comissionados, funções públicas e contra- tações livres, cujos integrantes possuem conhecimento especializados e possuem também capacidade de intervir em todo processo de uma política pública. Por fim, como atores privados são denominados aqueles que possuem algum víncu- lo com o Estado, mas têm recursos próprios e por isso podem influenciar as políticas públicas. A autora destaca nesse item os empresários, os trabalhadores que se orga- nizam em sindicatos, ONGs, movimentos sociais, associações comunitárias, a mídia, organismos internacionais, como o Banco Mundial, ONU, UNICEF, além dos tecnocra- tas em cargos de gerência de empresas públicas e privadas. Assim, dependendo da posição de cada um no sistema político, os atores podem ter preferências muito diver- sas uns dos outros quanto à melhor solução para um problema político (RUA, 1998). Nessa perspectiva compreender como se articulam os atores no processo de formu- lação é uma complexa tarefa, já que há comumente grupos favoráveis a determina- das ideias que competem entre si, sendo que tais grupos podem contar tanto com atores públicos quanto privados (RUA, 1998). Cohen, Marsh e Olsen (1972), através do modelo conhecido como “garbage can”, ou “lata de lixo”, compreendem que na formulação de políticas muitas soluções já exis- tem e estão à espera de um problema a ser resolvido, ou seja, [...] uma organização é uma coleção de escolhas procurando por problemas, valores e sentimentos procurando por situações que possam ser aplicados, soluções procurando por perguntas para as quais possam ter resposta, e toma- dores de decisão procurando trabalho. (COHEN; MARSH; OLSEN, 1972, p. 150) A fase seguinte, da implementação, é considerada como a etapa em que as decisões tomadas são colocadas em prática. Significa viabilizar programas e projetos que se destinam ao alcance de resultados capazes de solucionar problemas identificados e transformados em diretivas de governo pelas instâncias decisórias. Antes do reco- nhecimento dos problemas do processo de implementação de políticas públicas, os teóricos da Administração Pública consideravam que implementar se configurava 33 FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 Gestão de políticas públicas SUMÁRIO apenas como meio para alcançar determinados fins. Após a década de 70, a visão volta-se para análise das organizações, dos burocratas e a interlocução de diversos atores no processo de implementação de políticas públicas. Por fim, a avaliação, para Subirats (1994), é a “fase” que pode possibilitar um novo desenho da política e/ou identificação de novos problemas. Pode ser considerada como um mecanismo de justificativa das decisões políticas, pois, nessa fase, são anali- sadas a continuidade ou a necessidade de implementar outras políticas. A avaliação também pode ser entendida com análise dos impactos produzidos por uma política e a sua eficácia, bem como análise do processo de implementação considerando a relação entre o que estava previsto no desenho da política e o que foi executado. Nesse sentido, a avaliação, enquanto análise da eficiência, busca criar indicadores para mensurar os resultados quantitativos e qualitativos para inferir sobre o alcance das intervenções. Já a avaliação da implementação considera a estrutura que envolve a produção e a implementação da política pública, enfatizando que seus resultados estão atrelados à dinâmica da interação dos atores, recursos disponíveis e variáveis externas e institucionais inerentes ao sistema político. A definição de políticas públicas e a forma de execução das mesmas estão intimamen- te ligadas ao desenvolvimento do Estado, as crises e pressões vivenciadas. Ao dizer que o Estado é responsável pela elaboração das políticas públicas e que essas envolvem inúmeros atores e interesses em seus desenhos, afirma-se que os serviços prestados pelo Estado estão ligados aos contextos nos quais são criados. Em todas as reformas administrativas vivenciadas no Estado brasileiro, as políticas públicas foram moldadas de acordo com as características sentidas naqueles contextos. Cada etapa do ciclo de política pública sofre influência direta do ambiente em que está sendo desenvolvida. Por isso, é possível verificar em determinados momentos, políticas mais participativas, ou seja, envolvendo a sociedade, como vivenciadas após os anos 2000, e, em outros, políticas públicas que demonstram apenas o desejo do Estado, tais como as políticas públicas voltadas apenas para trabalhadores, como visto na década de 60. O importante é, considerar que a forma de gestão do Estado, as diretrizes e legisla- ções vigentes impactam a definição, inclusive o que será pauta governamental e o que se transformará de demanda para um problema sobre o qual a Administração Pública irá se debruçar para propor soluções visando atender à necessidade da socie- dade. Não se pode olhar o ciclo de políticas públicas apenas enquanto um modelo racional a ser seguido. 34 Gestão de políticas públicas FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017SUMÁRIO CONCLUSÃO O conceito de Estado foi forjado ao longo de sua existência, até o que hoje, moder- namente, denominamos como Estado moderno. A transformação pautou-se por momentos e contextos vivenciados na história mundial e impactou também a forma de desenvolver a gestão pública. Essa foi sendo criada e desenvolvida considerando- -se as mudanças políticas, sociais e econômicas de cada época. De fato, tanto o Esta- do como a forma de geri-lo estão em constantes transformações. O ciclo de políticas públicas permite refletir sobre o processo político em estágios como um modelo para visualizar e categorizar os atores eações de forma a ajudar a desvendar e explicar as políticas, tanto retrospectivamente como no futuro. A partir disso, você será capaz de analisar como se dá o processo de desenvolvimento das políticas públicas, desde a sua formulação até a implementação das ações e avalia- ção, bem como compreender a construção do Estado e como este fornece serviços e bens necessários à sociedade, aspectos fundamentais para o desenvolvimento de uma boa gestão pública. 35 FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 Gestão de políticas públicas SUMÁRIO OBJETIVO Ao final desta unidade, esperamos que possa: > Descrever o conceito de stakeholders e como estes atuam no desenvolvimento da gestão pública. > Identificar as mudanças ocorridas na gestão pública. > Descrever os conceitos da nova gestão pública. > Demonstrar a importância stakeholders internos e externos na gestão pública. UNIDADE 2 36 Gestão de políticas públicas FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017SUMÁRIO 2 STAKEHOLDERS NA GESTÃO PÚBLICA A gestão da Administração Pública tem sido cada vez mais compartilhada com diver- sos atores. Isso ocorre tanto nas tomadas de decisões como na implementação de políticas públicas, porque o Estado não mais dá conta de desenvolver, sozinho, todas as ações. Além disso, houve uma grande mudança na forma de vivenciar a gestão pública. A nova gestão pública demonstrou que a sociedade civil é fundamental para o bom andamento das diversas atividades. Nesse sentido, esta unidade desenvolverá a tese de que a presença de stakeholders na gestão pública começou a ter força no final do século XX e demonstrou que o Estado precisa dar conta dessas relações, acolhê-las dentro da gestão pública. Tal processo não é desprovido de conflitos, mas ainda assim é necessário para que as políticas públicas tenham o alcance necessário. INTRODUÇÃO Nesta unidade, você estudará a respeito da mudança ocorrida na gestão da Admi- nistração Pública, especialmente ao final do século XX. Essa mudança fez com que a sociedade participasse mais ativamente das ações do governo, bem como da gestão pública. A presença de diversos atores no desenvolvimento das políticas públicas demonstra, entre outras coisas, a necessidade de o Estado descentralizar a gestão de seus serviços visando a maior efetividade das políticas. Nesse sentido, a unidade iniciará dissertando sobre a nova gestão pública, poste- riormente relatará a respeito da presença de stakeholders no desenvolvimento da gestão e da política pública e, por fim, a relação desses atores na gestão pública. Compreender esses processos possibilita ao futuro gestor público desenvolver polí- ticas públicas que levem em conta não apenas a resolução de um problema, mas também a percepção que o público-alvo, receptor dessa política pública, tem sobre as atividades, a forma de se criar soluções e de alcançar os resultados. Ainda permite 37 FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 Gestão de políticas públicas SUMÁRIO identificar quais os principais atores que podem interferir no processo de desenvolvi- mento das políticas públicas e, assim, possibilitar trazê-los para, juntos, criarem ações ou minorar possíveis intervenções que possam tirar da rota o planejamento desen- volvido. 2.1 A NOVA GESTÃO PÚBLICA E A DESCENTRALIZAÇÃO POLÍTICO-ADMINISTRATIVA Nas últimas décadas, tem-se observado a implementação da new public manage- ment, ou nova gestão pública, inspirada na forma de gerir desenvolvida pelos Estados Unidos da América e pelo Reino Unido, que trouxe consigo a introdução de métodos do setor privado e também uma nova estrutura para o desenvolvimento dos serviços públicos. O que mais marca nessa nova fase é a inserção de atores sociais na elaboração e gestão das políticas públicas. Se antes a política pública estava circunscrita aos gran- des gabinetes dos burocratas, ou seja, de servidores públicos, nesse período, ouvir a sociedade se tornou fundamental para que as políticas tivessem não somente o apoio, mas também o auxílio para a sua devida execução: É interessante notar que os governos de todo o mundo parecem estar experi- mentando novas formas de governança horizontal, como as parcerias público- -privadas, a tomada de decisão interativa, o envolvimento dos stakeholders e outras formas de envolvimento dos cidadãos (KLIJN, 2008), sendo que o NPM está numa fase de transição evolutiva da Administração Pública Tradicional para o que denomina-se hoje de Nova Governação Pública, em que o modelo que está a emergir parte de novos pressupostos como a teoria das networks e os processos interorganizacionais que estão a orientar o modelo emergente (SILVA; MELO, 2000, p. 10). Com essas mudanças, percebeu-se que a manutenção de uma postura hierárquica não era mais a melhor estratégia. O desenvolvimento de uma gestão descentralizada ou em rede passou a ser o grande mote para agregar os parceiros e stakeholders de modo que a política pública alcance o objetivo esperado. Com essa descentralização, é possível: (i) formar parcerias intergovernamentais e eficazes; (ii) desenvolver soluções inovadoras e colocá-las em prática em grandes grupos de stakeholders; (iii) 38 Gestão de políticas públicas FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017SUMÁRIO baixar barreiras a adoção de medidas, porque disseminam as histórias de sucesso e as lições aprendidas; (iv) facilitar a transferência de tecnologia, porque relaciona investigadores e aplicadores; (v) desenvolver o capital huma- no pela aprendizagem e (vi) desenvolver diálogo permanente entre stakehol- ders para apoiar as parcerias (SILVA; MELO, 2000, p. 20). Essa nova forma de gerenciar mudou também as estruturas das próprias políticas públicas, que passaram a ser mais cooperativas e colaborativas, tendo o Estado como um parceiro e transformando o funcionamento da Administração Pública na forma de lidar com o público-alvo de suas políticas e na forma como trazer os parceiros externos a colaborarem com o Estado, os chamados stakeholders. 2.1.1 ANÁLISE DE STAKEHOLDERS Os stakeholders são considerados como grupos de interesse ou indivíduos que podem influenciar ou serem afetados pelas ações e políticas governamentais. Podem estar inseridos nessa denominação os colaboradores, instituições não governamentais, público-alvo das políticas públicas, fornecedores, atores políticos, atores sociais, entre outros, que podem se dividir em duas categorias: stakeholders internos e externos. 39 FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 Gestão de políticas públicas SUMÁRIO A presença de stakeholder nas políticas públicas é analisada na configuração do Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego, o Pronatec. Conheça na prática como se configuram os atores na execução das políticas públicas: O mapeamento dos principais stakeholders envolvidos no processo de formulação do Pronatec possibilitou identificar seus poderes de discussão e tipos de interesse durante o processo de formulação do programa. Os resultados encontrados inovam os achados da litera- tura pelo amplo olhar sobre o processo, que possibilitou a observa- ção de aspectos relacionados com a análise dos stakeholders envol- vidos. Tais resultados confirmaram que a dinâmica do ambiente social onde se situa a política pública é constituída de relações contraditórias e estruturalmente articuladas. Nesse sentido, a formulação do Pronatec pode ser entendida como um processo onde os vários sujeitos envolvidos discutem e negociam seus inte- resses. Esse conhecimento pode então ser usado para desenvolverestratégias para gestão dos stakeholders, para facilitar a implemen- tação de decisões específicas ou objetivos organizacionais, ou para entender o contexto político e avaliar a viabilidade de futuras orien- tações políticas (BISPO; GOMES, 2018). FIGURA 4 - STAKEHOLDERS Stakeholders Internos • Grupo interno da própria organização, tais como diretores, gerentes e funcionários. Stakeholders Externos • Grupo que sofre influência das ações governamen- tais ou podem influenciá-las, tais como: políticos, público-alvo, imprensa, empresas privadas, entre outros. Fonte: Elaborada pela autora. O conceito básico para o termo stakeholder também foi definido: Como o conjunto de grupos, que ao mesmo tempo em que podem afetar uma determinada organização também podem ser afetados por ela. Este autor inclui tanto aquele que influencia de alguma forma quanto o que sofre as consequências 40 Gestão de políticas públicas FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017SUMÁRIO das ações organizacionais e que, por consequência, pode também afetar no futuro a empresa em uma relação de reciprocidade. Os stakeholder conduzem à delimitação de contornos de um grupo, aos quais os atores sociais podem pertencer sem que tenham de se excluir de qualquer outro grupo, permitindo que um indivíduo possa ser ao mesmo tempo cidadão, acionista, empregado e cliente, inserindo-se numa sociedade em rede (SOUSA, 2016, p. 11). Em relação à Administração Pública, enfatiza-se que, na gestão pública, para iden- tificar esses atores, é preciso observar quem tem alguma coisa em jogo na política. “Ou seja, quem pode ganhar ou perder com tal política, quem tem seus interesses diretamente afetados pelas decisões e ações que compõem a política em questão” (RUA, 1998, p. 5). Como exemplo de stakeholders na Administração Pública, pode-se elencar: FIGURA 5 - EXEMPLOS DE STAKEHOLDERS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA Atores públicos • Podem ser políticos ou burocráticas. • Os políticos são os parlamentares, governadores, prefeitos, membros eleitos do Executivo Federal. • Os burocratas podem ser os servidores públicos que exercerm a carreira pública. Atores privados • Empresários. Trabalhadores • Sindicatos. • Servidores públicos. Agentes internacionais • FMI, Banco Mundial. Mídia • Os jornais e a televisão como formadores de opinião, que possuem capacidade de mobilizar a ação de outros atores. Fonte: Adaptada de RUA, 1998. Um exemplo sobre a atuação dos stakeholders na Administração Pública é visualiza- do na gestão do Sistema Único da Assistência Social (SUAS). Por ser uma forma de gestão compartilhada, o SUAS envolve em sua execução inúmeros atores, tanto da própria Administração Pública quanto do setor privado. O objetivo é desenvolver uma política pública intersetorial que envolva um grande número de agências capazes de mitigar os problemas sociais que a política visa atacar. 41 FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 Gestão de políticas públicas SUMÁRIO Sistema Único de Assistência Social (SUAS) A assistência social é organizada em um sistema descentralizado e participativo denominado Sistema Único de Assistência Social (SUAS), conforme estabelece a nova Política Nacional de Assistên- cia Social (PNAS/2004). O SUAS, implantado em 2005, é um sistema constituído nacionalmente com direção única, caracterizado pela gestão compartilhada e cofinanciamento das ações pelos três entes federados e pelo controle social exercido pelos conselhos de assis- tência social dos municípios, estados e União. No SUAS, as ações da assistência social são organizadas tendo como referência o territó- rio onde as pessoas moram, considerando suas demandas e neces- sidades. Os programas, projetos, serviços e benefícios devem ser desenvolvidos nas regiões mais vulneráveis, tendo a família como foco de atenção. As ações da assistência social no SUAS são organi- zadas em dois tipos de proteção, básica e especial, e desenvolvidas e/ou coordenadas pelas unidades públicas, Centro de Referência da Assistência Social (CRAS), Centro de Referência Especializado de Assistência Social (CREAS) e Centro de Referência Especializado para a População em Situação de Rua (Centro POP), e, de forma complementar, pela Rede Socioassistencial Privada do SUAS. Os municípios precisam estar atentos para os instrumentos norma- tivos (NOB/SUAS, portarias, instruções normativas e operacionais, editais, termos de aceite, etc.) para poderem receber recursos do Governo Federal, repassados por meio do Ministério do Desenvolvi- mento Social (MDS), como cofinanciamento dos programas, servi- ços e projetos relativos à política de assistência social. Esses instru- mentos normativos definem os critérios e procedimentos para o acesso a esses recursos, tendo em vista a pactuação na Comissão Intergestores Tripartite (CIT) e deliberação do Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS). Os requisitos mínimos para que o muni- cípio acesse os recursos federais são a existência e funcionamento do Conselho de Assistência Social, do fundo e do plano municipal de assistência social, conforme artigo 30 da LOAS. O repasse dos recursos aos municípios para o cofinanciamento dos programas e serviços da política de assistência social se dá de forma automática, na modalidade fundo a fundo, diretamente do Fundo Nacional de Assistência Social (FNAS) para os Fundos Municipais de Assistência Social (MDS, 2019). A compreensão sobre a presença dos stakeholders na gestão pública passou por trans- formações. Na década de 1970, a Administração Pública vivenciava ainda a adminis- tração burocrática, que visava trazer maior eficiência para os serviços públicos e se distanciar da lógica patrimonialista. Nesse processo, se espelhava na administração privada e buscava estabelecer etapas claras para o desenvolvimento das atividades, 42 Gestão de políticas públicas FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017SUMÁRIO tais como: (1) análise do ambiente; (2) estabelecimento da diretriz da organização; (3) formulação da estratégia; (4) implementação da estratégia; (5) controle estratégico. Nesse sentido, essa visão: Mais antiga e a mais utilizada pelas empresas como um caminho a ser percor- rido para a obtenção de vantagem competitiva ante à concorrência. A visão tradicional visa compatibilizar o planejamento com a alta taxa de mudan- ça que pode ocorrer no ambiente externo de uma empresa. “Para poder dar respostas as surpresas estratégicas, as ameaças e as oportunidades que surgem de modo repentino, as decisões estratégicas precisam ser apressa- das e implementado um sistema administrativo guiado pelo mercado e seu ambiente”. A visão tradicional preocupa-se com o estabelecimento de objeti- vos e metas para a organização e com a manutenção de um conjunto de rela- ções entre a organização e o ambiente que lhe possibilite perseguir seus obje- tivos e continuar atendendo as exigências do ambiente (SOUSA, 2016, p. 15). Assim, a gestão pública levaria em conta apenas o processo linear de execução, sem considerar que nem sempre seria possível controlar todas as interferências externas e a participação do público-alvo das ações nos resultados. Nesse sentido, o objetivo era controlar cada etapa necessária para consecução dos objetivos da gestão pública. Então seria necessário também analisar a presença de atores e o que eles podem ou não interferir em cada etapa necessária para a consecução dos objetivos da Adminis- tração Pública. Assim, Hogwood e Gunn apud Ham e Hill destacaram 10 requisitos para uma execução perfeita e controlada: 1. as circunstâncias externas à agência responsável pela implementação não imponham a esta restrições muito severas; 2. tempo e recursos suficientes à disposição doprograma; 3. não restrição em termos de recursos financeiros; 4. a política a ser implementada esteja baseada em uma teoria de causa e efeito válida; 5. as relações de causa e efeito sejam diretas e em pequeno número; 6. uma única agência de implementação que não dependa de outras ou, se outras agências estiveram envolvidas, que as relações de dependência sejam pequenas em número e importância; 7. compreensão e consentimento acerca dos objetivos a serem atingidos e que essas condições persistam durante o processo de implementação; 43 FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 Gestão de políticas públicas SUMÁRIO 8. que, ao mobilizar-se para o cumprimento de objetivos acordados, seja possí- vel especificar, em completo detalhe, a perfeita sequência, as tarefas a serem levadas a cabo por cada participante do programa; 9. que haja perfeita comunicação e cooperação entre os vários elementos envol- vidos no programa; 10. que aqueles com autoridade possam exigir e obter perfeita obediência. (HOGWOOD; GUNN apud HAM; HILL, 1993, p. 138-139). A observância do item 10, em que os atores localizados no topo de uma organiza- ção possam controlar as ações dos implementadores, reafirma o distanciamento dos formuladores de políticas localizados no topo, numa separação entre as escalas de poder hierarquicamente definidas, característica do modelo burocrático, assim como prevê pouca intervenção e dependência de agências externas. O modelo também prevê observância aos objetivos do programa com ênfase na forma com que as tare- fas serão executadas pelos agentes, tentando, com isso, controlar as ações dos imple- mentadores. Em relação à listagem proposta por Hogwood e Gunn apud HAM e HILL (1993), alguns elementos podem ser analisados. O primeiro deles é, sem dúvida, a necessidade de assegurar a transmissão das regras e objetivos de forma clara para quem vai executar. Entende-se que, sob regras claras, os atores administrativos se sentem pouco incen- tivados a obstruir o processo de implementação, optando por uma postura neutra política e profissionalmente. Assim, torna-se possível a execução da política pública voltada para uma relação entre meios e fins, com vistas à obtenção dos resultados previstos e esperados identificados no processo de formulação. A implementação então pode ser controlada por quem a delega, elege ou aponta o que fazer e como fazer, ou seja, os atores do alto escalão da política. 44 Gestão de políticas públicas FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017SUMÁRIO Algumas políticas, como a política tributária, possuem objetivos, metas, forma de mensuração e de contribuição muito claras. Assim, ao serem colo- cadas em prática, possibilitam que o gestor público atue de forma limitada pelos marcos legais. O segundo elemento está relacionado aos recursos necessários, os disponíveis e os que se pode mobilizar, tais como: recursos financeiros, humanos, políticos e até mesmo insumos necessários para o desenvolvimento das atividades. Entre eles, os recursos financeiros influenciam diretamente o resultado das políticas públicas. Sua disponibilidade demonstra o interesse do governo por determinadas áreas em detri- mento de outras e pode aumentar ou reduzir o impacto das políticas públicas. Segundo dados do jornal O Globo, em 2019, o Fundo de Financiamento Estudantil (FIES) sofreu redução de recursos de 12%, deixando de atender cerca de 155.000 alunos. Segundo a justificativa do Governo Federal, tal corte se dá em um momento que a crise financeira está instalada no país e que requer revisão dos gastos públicos. Nesse cenário, o Governo Federal propõe ainda alteração no formato do FIES, propondo duas formas de execução: sendo uma com juros zero e outra com uma escala de financiamento de acordo com a renda familiar (CAMPOREZ, 2018). Por fim, para que se exerça o controle e a capacidade de coordenação, a comunica- ção interorganizacional é um mecanismo fundamental para garantir a colaboração dos diferentes órgãos envolvidos no processo. Quanto mais canais de comunicação entre os envolvidos, mais informações concisas serão conhecidas e mais provável será obter colaboração dos distintos órgãos, simplificando o processo. Essas premissas 45 FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 Gestão de políticas públicas SUMÁRIO estão apoiadas na matriz de pensamento weberiano, que tem como prerrogativa a ação racional, neutra e impessoal dos indivíduos constrangidos pelas instituições formais a se comportarem de forma a atingir os objetivos traçados. A ação racional consiste em adequação dos meios aos fins a partir de regras impes- soais, em que os funcionários especializados formam uma base administrativa voltada para a eficiência e eficácia das atividades, desprovidos de juízos de valores. Essa base se firma sobre o aspecto hierárquico da Administração Pública através de tecnologias definidas, regras formais, controle, coordenação, rotinas, especialização etc. Como os atores são institucionalizados, especializados e compartimentalizados, as falhas relativas ao processo de implementação são de responsabilidade apenas da falta de controle e coordenação da instituição delegada a executá-la. O controle hierárquico é que permite identificar os responsáveis pelas falhas ou sucesso da implementação. Observa-se, contudo, que, na década de 1980, esse modelo de gestão pública basea- do apenas no controle hierárquico foi questionado. Na administração privada, empre- sas passaram a se questionar por que algumas delas tinham consistentemente um desempenho superior ao que outras. Uma resposta inicial a essa pergunta era que algumas empresas conseguiam desenvolver competências diferenciadas em deter- minadas áreas. Assim, surge a visão baseada em recursos, a qual acredita que os recursos e as capacidades controlados por uma empresa são suas fontes de vanta- gem competitiva. FIGURA 6 - EXEMPLOS DE RECURSOS: STAKEHOLDERS Recursos Tangíveis • Recursos financeiros, ativos, estruturas formais, equipamentos. Recursos Intangíveis • Competências, história da instituição, recursos humanos, capaci- dades intelectuais, processos de gestão. Fonte: Elaborada pela autora. Nas políticas públicas, percebeu-se que a gestão pública baseada apenas em hierar- quia e controle, apesar de necessária, não dava conta de abarcar a complexidade da gestão governamental sobre diversas políticas públicas. Isso porque, na gestão das políticas públicas, estão envolvidos uma pluralidade de objetivos, por vezes ambíguos e contraditórios, para solucionar os problemas, o que torna a execução da política pública uma ação complexa, principalmente se 46 Gestão de políticas públicas FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017SUMÁRIO considerado que implementadores não são agentes neutros no processo político e que agem de forma discricionária sobre os procedimentos formais, regras e normas. Os executores de ponta podem decidir “o que” e “como” implementar tendo em vista uma série de interesses e compreensão de o que consideram importante para a obtenção dos resultados e impacto sobre o público-alvo que atendem. Portanto, o controle e coordenação estritamente administrativos considerados necessários para a implementação não dá conta de abarcar as influências próprias do ambiente social e político em que as políticas públicas interagem no momento de sua execução. Nesse ambiente, são construídos novos compromissos frente às pressões advindas da execução de ações específicas, de forma que é improvável que os objetivos traçados sejam realizados de forma simples e clara, pois os problemas demandam