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2 SUMÁRIO INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 4 1 DIREITO AMBIENTAL NA CONSTITUIÇÃO ........................................................... 5 2 COMPETÊNCIAS EM MATÉRIA AMBIENTAL ....................................................... 9 2.1 Classificação ..................................................................................................... 10 2.2 Competência material ....................................................................................... 11 2.3 Competência legislativa .................................................................................... 17 3 PRINCÍPIOS AMBIENTAIS .................................................................................. 18 3.1 Princípio da solidariedade Intergeracional ........................................................ 19 3.2 Princípios da prevenção e da precaução .......................................................... 19 3.3 Princípio do Poluidor-pagador .......................................................................... 21 3.4 Princípio da função social e ambiental da propriedade ..................................... 22 3.5 Princípio do usuário-pagador ............................................................................ 22 3.6 Responsabilidade Civil por dano ao meio ambiente ......................................... 23 4 OBJETIVO DO DIREITO AMBIENTAL ................................................................ 26 5 LEGISLAÇÃO AMBIENTAL ................................................................................. 27 5.1 Novo Código Florestal Brasileiro (Lei 12.651/12).............................................. 28 5.2 Lei de Crimes Ambientais (Lei 9.605 – 1998) ................................................... 28 5.3 Política Nacional do Meio Ambiente (Lei 6.938 – 1981) ................................... 29 5.4 Lei de Fauna (Lei 5.197 – 1967) ....................................................................... 30 5.5 Política Nacional de Recursos Hídricos (Lei 9.433 – 1997) .............................. 30 5.6 Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza (Lei 9.985/2000)30 5.7 Área de Proteção Ambiental (Lei 6.902 – 1981) ............................................... 31 5.8 Política Agrícola (Lei 8.171 – 1991) .................................................................. 31 6 COMPETÊNCIAS ................................................................................................. 32 6.1 Competência executiva exclusiva ..................................................................... 33 3 6.2 Competência legislativa privativa ...................................................................... 34 6.3 Competência executiva exclusiva ..................................................................... 35 6.4 Competência legislativa exclusiva .................................................................... 35 6.5 Competência executiva exclusiva ..................................................................... 36 6.6 Competência legislativa exclusiva .................................................................... 36 6.7 Competência legislativa concorrente ................................................................ 37 6.8 Competência administrativa comum ................................................................. 37 7 NOVAS LEIS AMBIENTAIS EM VIGÊNCIA......................................................... 38 7.1 A Política Estadual de Impulsionamento do Desenvolvimento Econômico- Ambiental de Baixas Emissões de Gases de Efeito Estufa (GEEs) .......................... 39 7.2 O Plano Municipal de Mitigação e Adaptação às Mudanças do Clima (PMAMC)39 7.3 A Política Nacional de Pagamento por Serviços Ambientais (PNPSA) ............. 40 7.4 A lei proíbe itens de plástico de uso único, em São Paulo ............................... 41 7.5 Parque Eólico e Parque Solar ........................................................................... 41 8 REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA ......................................................................... 43 4 INTRODUÇÃO Prezado aluno, O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma pergunta, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em tempo hábil. Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que lhe convier para isso. A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser seguida e prazos definidos para as atividades. Bons estudos! 5 1 DIREITO AMBIENTAL NA CONSTITUIÇÃO A proteção ambiental está presente em inúmeros regramentos inseridos ao longo do texto da Constituição Federal de 1988. Entre tantos, cabe destacar o art. 170, que em seu inciso VI estabelece que a ordem econômica brasileira, fundada na livre iniciativa e valorização do trabalho humano, tem entre os seus princípios a defesa do meio ambiente, até mesmo mediante tratamento diferenciado conforme o impacto ambiental dos serviços de prestação e elaboração. A Constituição Federal, em seu art. 225, disciplina que “todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações”. In verbis: § 1º Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao poder público: I - preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o manejo ecológico das espécies e ecossistemas; II - preservar a diversidade e a integridade do patrimônio genético do País e fiscalizar as entidades dedicadas à pesquisa e manipulação de material genético; III - definir, em todas as unidades da Federação, espaços territoriais e seus componentes a serem especialmente protegidos, sendo a alteração e a supressão permitidas somente através de lei, vedada qualquer utilização que comprometa a integridade dos atributos que justifiquem sua proteção; IV - exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de significativa degradação do meio ambiente, estudo prévio de impacto ambiental, a que se dará publicidade; V - controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas, métodos e substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade de vida e o meio ambiente; VI - promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a preservação do meio ambiente; VII - proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais a crueldade. § 2º Aquele que explorar recursos minerais fica obrigado a recuperar o meio ambiente degradado, de acordo com solução técnica exigida pelo órgão público competente, na forma da lei. § 3º As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados. 6 § 4º A Floresta Amazônica brasileira, a MataAtlântica, a Serra do Mar, o Pantanal Mato-Grossense e a Zona Costeira são patrimônio nacional, e sua utilização far-se-á, na forma da lei, dentro de condições que assegurem a preservação do meio ambiente, inclusive quanto ao uso dos recursos naturais. § 5º São indisponíveis as terras devolutas ou arrecadadas pelos Estados, por ações discriminatórias, necessárias à proteção dos ecossistemas naturais. § 6º As usinas que operem com reator nuclear deverão ter sua localização definida em lei federal, sem o que não poderão ser instaladas. § 7º Para fins do disposto na parte final do inciso VII do § 1º deste artigo, não se consideram cruéis as práticas desportivas que utilizem animais, desde que sejam manifestações culturais, conforme o § 1º do art. 215 desta Constituição Federal, registradas como bem de natureza imaterial integrante do patrimônio cultural brasileiro, devendo ser regulamentadas por lei específica que assegure o bem-estar dos animais envolvidos. (BRASIL, 1988) Mesmo que a Constituição Federal não conceitue meio ambiente e sim o direito subjetivo ao seu equilíbrio (da leitura dos parágrafos do art. 225), juntamente com o conceito legal de meio ambiente (Lei nº 6.938/81), declara que o mesmo deve ser compreendido de forma ampla, incluindo não somente o meio ambiente natural com fauna, flora e formações de relevo, como também o meio ambiente cultural junto a seu patrimônio histórico, paisagístico e artístico além do meio ambiente urbano. “Ao proclamar o meio ambiente como “bem de uso comum do povo” foi reconhecida a sua natureza de “direito público subjetivo”, vale dizer, exigível e exercitável em face do próprio Estado, que tem também a missão de protegê-lo” (MILARÉ, 2011, p. 176). É direito subjetivo de ordem material o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, e alcança a seara dos direitos fundamentais. É crucial que haja o equilíbrio ambiental, a fim de que as personalidades possam ter o curso normal de desenvolvimento. Tal entendimento decorre da definição constitucional de que o meio ambiente ecologicamente equilibrado é um direito essencial e de todos, visando a qualidade de vida. Nas cidades de grandes e médio porte, a desordem emocional e física provocada pela poluição hídrica, sonora, atmosférica, etc. afetam a toda a sociedade. Constatando-se a relação da proteção ambiental, com o direito à saúde e o princípio da dignidade da pessoa humana. 7 O inciso I alude a preservação dos processos ecológicos essenciais, e tem na Lei nº 9.985/2000 um de seus regulamentos. Devemos entender o que é essencial ao equilíbrio ambiental nos processos ecológicos como: ciclos da água, produção de alimentos, de energia, cadeias alimentares, etc. Também importante para a vida humana. O inciso II, especifica sobre a preservação do patrimônio genético, que também foi regulamentado pela Lei nº 9.985/2000 (além das Leis nº 11.105/2005 e nº 13.123/2015). A Lei nº 13.123/205, define o patrimônio genético como “informação de origem genética de espécies vegetais, animais, microbianas ou espécies de outra natureza, incluindo substâncias oriundas do metabolismo destes seres vivos”. O inc. III, estabelece o dever do Poder Público de definir em todas as unidades da Federação, os espaços territoriais a serem particularmente protegidos. O Código Florestal, dispõe sobre as áreas de preservação permanente em perímetro rural ou urbano, e sobre as reservas legais no perímetro rural. A Lei nº 9.985, de 18 de julho de 2000, elaborou o Sistema Nacional de Unidades de Conservação, que prevê 12 modalidades de espaços protegidos e repartidos entre unidades de proteção integral, e unidades de uso sustentável. Criou também a modalidade especial, chamada “Reserva da Biosfera”. Já o inciso IV, trata-se de estudo prévio de impacto ambiental, que também tem aspectos regulamentados pela Lei 11.105/2005, principalmente no que se refere à fiscalização de atividades envolvendo organismos geneticamente modificados. O Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA, na Res. 237/97), no art. 1.º, se refere à estudos ambientais como: “todos e quaisquer estudos relativos aos aspectos relacionados à localização, instalação, operação e ampliação de uma atividade ou empreendimento, apresentado como subsídio para a análise da licença requerida, tais como: relatório ambiental, plano de recuperação de área degradada e análise preliminar de risco”. 8 A Lei Complementar nº 140/2011, regulamentou também, o procedimento destes estudos, que é realizado para subsidiar o licenciamento ambiental de obras com grande potencial de degradação ambiental, e deve ser público. O Inciso V, refere-se sobre o controle de substâncias que comportem risco para a vida (qualidade de vida) e o meio ambiente. Também regulamentado pela Lei 11.105/2005, e também pela Lei 7.802/1989, que disciplina sobre a produção, utilização de agrotóxicos e comercialização. Já o inciso VI, determina que a educação ambiental se dê em todos os níveis de ensino. Sendo que, a Lei nº 9.795/1999, que dispõe sobre a educação ambiental, institui a Política Nacional de Educação Ambiental, dentre outras providências. O inciso VII, menciona a proteção da fauna e da flora, sendo também regulamentado pela Lei nº 9.985/2000, Lei 12.651/2012 e Lei 9.605/1998. A Lei nº 11.794/2008, também regulamenta o referido artigo nesse inciso, que estabelece procedimentos para o uso científico dos animais. O STF analisou a constitucionalidade de diversas leis estaduais, que tratavam de práticas culturais com animais, e seu entendimento foi pela sua inconstitucionalidade. Contudo, a Emenda Constitucional 96/2017 modificou essa situação (§7º do artigo 225). O § 2º do artigo 225, consolida o princípio do poluidor-pagador, ao deliberar que aquele que explorar recursos minerais, fica obrigado a recuperar o meio ambiente que foi danificado. O § 3º dispõe sobre da tríplice responsabilização penal, civil e administrativa. O § 4º, protege de forma especial 5 (cinco) macrorregiões, levando em conta as características de seus ecossistemas. Determinando que “a Floresta Amazônica Brasileira, a Mata Atlântica, a Serra do Mar, o Pantanal Mato-Grossense e a Zona Costeira são patrimônio nacional, e sua utilização far-se-á, na forma da lei, dentro de 9 condições que assegurem a preservação do meio ambiente, inclusive quanto ao uso dos recursos naturais”. O § 5º, dispõe que são fundamentais as terras devolutas ou arrecadadas pelos Estados por ações discriminatórias, essencial à proteção dos ecossistemas naturais. Terras devolutas, são todas as terras existentes no território brasileiro, que não se incorporaram legitimamente ao domínio particular, assim como as já incorporadas ao patrimônio público, porém não afetadas ao uso público. As terras devolutas indispensáveis à preservação ambiental, são bens da União, conforme estabelece o art. 20, II, da Constituição Federal, havendo a possibilidade de serem classificadas como bens públicos de uso especial. O § 6º, estabelece que as usinas que operem com reator nuclear, precisarão ter sua localização definida em lei federal. O art. 20, IX e 22, XXVI, da CF, determina que a competência para legislar sobre atividades nucleares, é privativa da União. Por fim, recentemente, em 06 de junho de 2017, foi publicada a Emenda Constitucional nº 96, que incluiu o parágrafo 7º no art. 225, que objetiva autorizar práticas culturais e desportivas que se utilizam animais. 2 COMPETÊNCIAS EM MATÉRIA AMBIENTAL No que determina a Constituição Federal em relação às competências, destaca- se o chamado federalismo cooperativo, “já que boa parte da matéria relativa à proteção do meio ambiente pode ser disciplinada a um só tempo pela União, pelos Estados, pelo Distrito Federal e pelos Municípios” (MILARÉ, 2011, p. 224).O artigo 182 da Constituição Federal e o Estatuto da Cidade (Lei nº 10.257/2001), instituem a atuação prioritária do Município no estabelecimento do ordenamento urbano. 10 Art. 182 - A política de desenvolvimento urbano, executada pelo Poder Público municipal, conforme diretrizes gerais fixadas em lei, tem por objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e garantir o bem-estar de seus habitantes. (BRASIL, 1988) Em matéria ambiental a competência é dividida em: material e legislativa, sendo dividida em material (exclusiva e comum) e em legislativa (privativa, exclusiva, reservada, concorrente, complementar, plena e remanescente). 2.1 Classificação A classificação é feita através de relação à sua natureza, e, à sua extensão. Com relação a natureza podem ser: executivas por determinar diretrizes, estratégias ou políticas de exercer o poder com relação ao meio ambiente; administrativas por incidirem sobre os aspectos de implementação e fiscalização das medidas preventivas e protetivas ao meio ambiente, é o caráter de polícia; e as legislativas que cuida das possibilidades de cada ente para legislar sobre questões que dizem respeito ao assunto. Quanto à sua extensão podem ser: exclusivas, privativas, comuns, concorrentes ou suplementares, sendo elas: Exclusivas, que são aquelas inerentes a somente um ente (excluindo os demais); Privativas pois também têm caráter exclusivo, podendo ter seu poder delegado a outro (é a suplementariedade); Comum, cumulativa ou paralela que é aquela de todos os entes (igualitariamente); Concorrente é quando diferentes entes podem estabelecer diversas formas a atuação quanto a um procedimento (a fixação da União é superior) e por isso deve ser respeitada pelos demais entes; e a Suplementar que permite que entes subsidiados ao ente maior (a União), criem regras pormenores, preenchendo o que a União propositalmente não regulou. E as remanescentes, não se encontram e justamente por isso são “jogadas" de um ente para outro como se fosse um resíduo. 11 2.2 Competência material Atos de prevenção, repressão e fiscalizatórios pelo exercício do poder de polícia. O artigo 78 do Código Tributário Nacional dispõe: Art. 78 (CTN). Considera-se poder de polícia a atividade da administração pública que, limitando ou disciplinando direito, interesse ou liberdade, regula a prática de ato ou a abstenção de fato, em razão de interesse público concernente à segurança, à higiene, à ordem, aos costumes, à disciplina da produção e do mercado, ao exercício de atividades econômicas dependentes de concessão ou autorização do Poder Público, à tranquilidade pública ou ao respeito à propriedade e aos direitos individuais ou coletivos. A competência poderá ser exclusiva (é aquela reservada a uma entidade com exclusão das demais), ou comum. Atribuída a todos os entes federados, que a realizam sem excluir a do outro. Segundo a Constituição Federal a competência material para a proteção ambiental é comum: Art. 23. É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios: III - proteger os documentos, as obras e outros bens de valor histórico, artístico e cultural, os monumentos, as paisagens naturais notáveis e os sítios arqueológicos; VI - proteger o meio ambiente e combater a poluição em qualquer de suas formas; VII - preservar as florestas, a fauna e a flora; Parágrafo único. Leis complementares fixarão normas para a cooperação entre a União e os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, tendo em vista o equilíbrio do desenvolvimento e do bem-estar em âmbito nacional. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006). (BRASIL, 1988) Sendo assim, a competência para proteção do meio ambiente é comum, e a forma pela qual os entes cuidarão da matéria, deverá ser disciplinada em lei complementar. Foi publicada no dia 08 de dezembro de 2011, a Lei Complementar 140, com o propósito de fixar as normas de cooperação para o exercício da competência material comum na defesa do meio ambiente, conforme os termos do parágrafo único do artigo 12 23 da Constituição. Alterando também o artigo 10 da Política Nacional de Meio Ambiente (Lei nº 6.938/81), adaptando-a às novas disposições. A atuação material trazia na prática, diversos conflitos de competência, entre os entes federativos que implicavam na ausência de segurança jurídica aos empreendedores, como também em risco ambiental patente e claro. Considerando esse contexto, a Lei Complementar decretou que além do conceito legal de licenciamento ambiental, os conceitos de atuação supletiva e atuação subsidiária, mais os instrumentos de cooperação. Lei complementar 140, artigo 2º diz: Art. 2º Para os fins desta Lei Complementar, consideram-se: I - licenciamento ambiental: o procedimento administrativo destinado a licenciar atividades ou empreendimentos utilizadores de recursos ambientais, efetiva ou potencialmente poluidores ou capazes, sob qualquer forma, de causar degradação ambiental; II - atuação supletiva: ação do ente da Federação que se substitui ao ente federativo originariamente detentor das atribuições, nas hipóteses definidas nesta Lei Complementar; III - atuação subsidiária: ação do ente da Federação que visa a auxiliar no desempenho das atribuições decorrentes das competências comuns, quando solicitado pelo ente federativo originariamente detentor das atribuições definidas nesta Lei Complementar. (BRASIL, 2011) Os artigos 7º, 8º e 9º, tratam das ações administrativas da União, dos Estados e dos Municípios. O artigo 10, estabelece que são ações administrativas do Distrito Federal as previstas nos artigos 8º e 9º. O artigo 7º trata das ações administrativas da União: IV - promover a integração de programas e ações de órgãos e entidades da administração pública da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, relacionados à proteção e à gestão ambiental; VI - promover o desenvolvimento de estudos e pesquisas direcionados à proteção e à gestão ambiental, divulgando os resultados obtidos; IX - elaborar o zoneamento ambiental de âmbito nacional e regional; X - definir espaços territoriais e seus componentes a serem especialmente protegidos; 13 XI - promover e orientar a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a proteção do meio ambiente; XII - controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas, métodos e substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade de vida e o meio ambiente, na forma da lei; XIV - promover o licenciamento ambiental de empreendimentos e atividades: a) localizados ou desenvolvidos conjuntamente no Brasil e em país limítrofe; b) localizados ou desenvolvidos no mar territorial, na plataforma continental ou na zona econômica exclusiva; c) localizados ou desenvolvidos em terras indígenas; d) localizados ou desenvolvidos em unidades de conservação instituídas pela União, exceto em Áreas de Proteção Ambiental (APAs); e) localizados ou desenvolvidos em 2 (dois) ou mais Estados; f) de caráter militar, excetuando-se do licenciamento ambiental, nos termos de ato do Poder Executivo, aqueles previstos no preparo e emprego das Forças Armadas, conforme disposto na Lei Complementar no 97, de 9 de junho de 1999; g) destinados a pesquisar, lavrar, produzir, beneficiar, transportar, armazenar e dispor material radioativo, em qualquer estágio, ou que utilizem energia nuclear em qualquer de suas formas e aplicações, mediante parecer da Comissão Nacional de Energia Nuclear (Cnen); ou h) que atendam tipologia estabelecida por ato do Poder Executivo, a partir de proposição da Comissão Tripartite Nacional, assegurada a participação de um membro do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), e considerados os critérios de porte, potencial poluidore natureza da atividade ou empreendimento; XV - aprovar o manejo e a supressão de vegetação, de florestas e formações sucessoras em: a) florestas públicas federais, terras devolutas federais ou unidades de conservação instituídas pela União, exceto em APAs; e b) atividades ou empreendimentos licenciados ou autorizados, ambientalmente, pela União; XVII - controlar a introdução no País de espécies exóticas potencialmente invasoras que possam ameaçar os ecossistemas, habitats e espécies nativas; XVIII - aprovar a liberação de exemplares de espécie exótica da fauna e da flora em ecossistemas naturais frágeis ou protegidos; XX - controlar a apanha de espécimes da fauna silvestre, ovos e larvas; XXI - proteger a fauna migratória e as espécies inseridas na relação prevista no inciso XVI; XXIII - gerir o patrimônio genético e o acesso ao conhecimento tradicional 14 associado, respeitadas as atribuições setoriais; XXIV - exercer o controle ambiental sobre o transporte marítimo de produtos perigosos; e XXV - exercer o controle ambiental sobre o transporte interestadual, fluvial ou terrestre, de produtos perigosos. Parágrafo único. O licenciamento dos empreendimentos cuja localização compreenda concomitantemente áreas das faixas terrestre e marítima da zona costeira será de atribuição da União exclusivamente nos casos previstos em tipologia estabelecida por ato do Poder Executivo, a partir de proposição da Comissão Tripartite Nacional, assegurada a participação de um membro do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) e considerados os critérios de porte, potencial poluidor e natureza da atividade ou empreendimento. (BRASIL, 2011) O artigo 8º trata das ações administrativas dos Estados: V - articular a cooperação técnica, científica e financeira, em apoio às Políticas Nacional e Estadual de Meio Ambiente; VI - promover o desenvolvimento de estudos e pesquisas direcionados à proteção e à gestão ambiental, divulgando os resultados obtidos; VIII - prestar informações à União para a formação e atualização do Sinima; X - definir espaços territoriais e seus componentes a serem especialmente protegidos; XI - promover e orientar a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a proteção do meio ambiente; XII - controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas, métodos e substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade de vida e o meio ambiente, na forma da lei; XIV - promover o licenciamento ambiental de atividades ou empreendimentos utilizadores de recursos ambientais, efetiva ou potencialmente poluidores ou capazes, sob qualquer forma, de causar degradação ambiental, ressalvado o disposto nos arts. 7º e 9º; XV - promover o licenciamento ambiental de atividades ou empreendimentos localizados ou desenvolvidos em unidades de conservação instituídas pelo Estado, exceto em Áreas de Proteção Ambiental (APAs); XVI - aprovar o manejo e a supressão de vegetação, de florestas e formações sucessoras em: a) florestas públicas estaduais ou unidades de conservação do Estado, exceto em Áreas de Proteção Ambiental (APAs); b) imóveis rurais, observadas as atribuições previstas no inciso XV do art. 7º; e c) atividades ou empreendimentos licenciados ou autorizados, ambientalmente, pelo Estado; XVII - elaborar a relação de espécies da fauna e da flora ameaçadas de extinção no respectivo território, mediante laudos e estudos 15 técnicocientíficos, fomentando as atividades que conservem essas espécies in situ; XVIII - controlar a apanha de espécimes da fauna silvestre, ovos e larvas destinadas à implantação de criadouros e à pesquisa científica, ressalvado o disposto no inciso XX do art. 7º; XIX - aprovar o funcionamento de criadouros da fauna silvestre; XXI - exercer o controle ambiental do transporte fluvial e terrestre de produtos perigosos, ressalvado o disposto no inciso XXV do art. 7º. (BRASIL, 2011) E o artigo 9º trata das ações administrativas dos Municípios: II - exercer a gestão dos recursos ambientais no âmbito de suas atribuições; V - articular a cooperação técnica, científica e financeira, em apoio às Políticas Nacional, Estadual e Municipal de Meio Ambiente; VI - promover o desenvolvimento de estudos e pesquisas direcionados à proteção e à gestão ambiental, divulgando os resultados obtidos; IX - elaborar o Plano Diretor, observando os zoneamentos ambientais; X - definir espaços territoriais e seus componentes a serem especialmente protegidos; XI - promover e orientar a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a proteção do meio ambiente; XII - controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas, métodos e substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade de vida e o meio ambiente, na forma da lei; XIV - observadas as atribuições dos demais entes federativos previstas nesta Lei Complementar, promover o licenciamento ambiental das atividades ou empreendimentos: a) que causem ou possam causar impacto ambiental de âmbito local, conforme tipologia definida pelos respectivos Conselhos Estaduais de Meio Ambiente, considerados os critérios de porte, potencial poluidor e natureza da atividade; ou b) localizados em unidades de conservação instituídas pelo Município, exceto em Áreas de Proteção Ambiental (APAs); XV - observadas as atribuições dos demais entes federativos previstas nesta Lei Complementar, aprovar: a) a supressão e o manejo de vegetação, de florestas e formações sucessoras em florestas públicas municipais e unidades de conservação instituídas pelo Município, exceto em Áreas de Proteção Ambiental (APAs); e b) a supressão e o manejo de vegetação, de florestas e formações sucessoras em empreendimentos licenciados ou autorizados, ambientalmente, pelo Município. (BRASIL, 2011) 16 A Lei Complementar engloba entre as ações administrativas da União, a aprovação do manejo, e, a supressão de vegetação, formações sucessoras e de florestas. De florestas públicas federais, unidades de conservação instituídas pela União ou terras devolutas federais. Em regra, o ente tendo competência para o manejo e licenciamento nas unidades de conservação por ele instituídas, a lei em todas as situações afastou essa regra em caso de APAs. O artigo 12 ratifica isso: Art. 12. Para fins de licenciamento ambiental de atividades ou empreendimentos utilizadores de recursos ambientais, efetiva ou potencialmente poluidores ou capazes, sob qualquer forma, de causar degradação ambiental, e para autorização de supressão e manejo de vegetação, o critério do ente federativo instituidor da unidade de conservação não será aplicado às Áreas de Proteção Ambiental (APAs). Parágrafo único. A definição do ente federativo responsável pelo licenciamento e autorização a que se refere o caput, no caso das APAs, seguirá os critérios previstos nas alíneas “a”, “b”, “e”, “f” e “h” do inciso XIV do art. 7o, no inciso XIV do art. 8º e na alínea “a” do inciso XIV do art. 9º. (BRASIL, 2011) A Área de Proteção Ambiental (APA), é uma espécie de unidade do grupo de uso sustentável, conceituada no artigo 15 da Lei 9.985: “A Área de Proteção Ambiental é uma área em geral extensa, com um certo grau de ocupação humana, dotada de atributos abióticos, bióticos, estéticos ou culturais especialmente importantes para a qualidade de vida e o bem-estar das populações humanas, e tem como objetivos básicos proteger a diversidade biológica, disciplinar o processo de ocupação e assegurar a sustentabilidade do uso dos recursos naturais”. Deste modo, conclui-se que para fins de licenciamento, e autorização de supressão (ou manejo de vegetação), serão outras regras de distribuição de competência. O artigo 17 trata de a possibilidade de órgão federal fiscalizar, e autuar empreendimento licenciado pelo Estado:Art. 17. Compete ao órgão responsável pelo licenciamento ou autorização, conforme o caso, de um empreendimento ou atividade, lavrar auto de infração ambiental e instaurar processo administrativo para a apuração de infrações à 17 legislação ambiental cometidas pelo empreendimento ou atividade licenciada ou autorizada. § 1o Qualquer pessoa legalmente identificada, ao constatar infração ambiental decorrente de empreendimento ou atividade utilizadores de recursos ambientais, efetiva ou potencialmente poluidores, pode dirigir representação ao órgão a que se refere o caput, para efeito do exercício de seu poder de polícia. § 2o Nos casos de iminência ou ocorrência de degradação da qualidade ambiental, o ente federativo que tiver conhecimento do fato deverá determinar medidas para evitá-la, fazer cessá-la ou mitigá-la, comunicando imediatamente ao órgão competente para as providências cabíveis. § 3o O disposto no caput deste artigo não impede o exercício pelos entes federativos da atribuição comum de fiscalização da conformidade de empreendimentos e atividades efetiva ou potencialmente poluidores ou utilizadores de recursos naturais com a legislação ambiental em vigor, prevalecendo o auto de infração ambiental lavrado por órgão que detenha a atribuição de licenciamento ou autorização a que se refere o caput. (BRASIL, 2011) 2.3 Competência legislativa Trata-se de competência concorrente, ou seja, apenas a União, os Estados e o Distrito Federal tem autonomia para legislar de forma concorrente sobre direito ambiental. A Constituição Federal de 1988, orienta a expedição de outras normas jurídicas e não permite que os Municípios legislem (exceto de forma supletiva para atender interesse peculiar). O art. 23 trata da competência comum da União, Estados e Municípios e o art. 30, disciplina a competência exclusiva dos Municípios. A competência legislativa é do tipo concorrente, assim discorre Milaré: Em outro modo de dizer, na legislação concorrente ocorre prevalência da União no que concerne à regulação de aspectos de interesse nacional, com o estabelecimento de normas gerais endereçadas a todo o território nacional, as quais, como é óbvio, não podem ser contrariadas por normas estaduais ou municipais. Assim, a União legislará e atuará em face de questões de interesse nacional, enquanto os Estados o farão diante de problemas regionais, e os municípios apenas diante de temas de interesse estritamente local. Por outro lado, para que não haja “espaços brancos”, caso a União não legisle sobre as normas gerais, poderão os estados ocupar o vazio, exercendo a competência legislativa plena para atender as suas peculiaridades (art. 24, § 3º). Todavia, a superveniência de lei federal sobre normas gerais suspende a eficácia da lei estadual, no que lhe for contrário (art. 24, § 4º) (MILARÉ, 2011, p. 227). 18 Nos termos da Constituição Federal em seu artigo 24 disserta sobre a competência da União: Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre: V - produção e consumo; VI - florestas, caça, pesca, fauna, conservação da natureza, defesa do solo e dos recursos naturais, proteção do meio ambiente e controle da poluição; VII - proteção ao patrimônio histórico, cultural, artístico, turístico e paisagístico; VIII - responsabilidade por dano ao meio ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico; § 1º - No âmbito da legislação concorrente, a competência da União limitar-se-á a estabelecer normas gerais. § 2º - A competência da União para legislar sobre normas gerais não exclui a competência suplementar dos Estados. § 3º - Inexistindo lei federal sobre normas gerais, os Estados exercerão a competência legislativa plena, para atender a suas peculiaridades. § 4º - A superveniência de lei federal sobre normas gerais suspende a eficácia da lei estadual, no que lhe for contrário. (BRASIL, 1988) A competência administrativa em matéria ambiental, inclui a atividade autorizativa em sentido amplo (licenciamento e autorização ambientais) e atividade de fiscalização. 3 PRINCÍPIOS AMBIENTAIS Possuem a função de ordenar a construção normativa ambiental, nacional regional e internacional, sendo fundamentos básicos e fundamentais que foram criadas para dar legitimidade jurídica aos Estados, sendo diretrizes que dão subsídios à aplicação das suas normas. 19 Os princípios ambientais, é consequência de uma construção jurídica originada no direito internacional ambiental. A elaboração das normas ambientais ocorreu de forma desordenada, muitas vezes como tentativa de conter crises ambientais, ou, a fim de dar respostas rápidas a descobertas científicas. O direito ambiental passou a ser aplicado com mais intensidade, a partir do último quarto do século XX, e com o surgimento dos princípios fundamentais, permitiu- se a estruturação política para a proteção do meio ambiente por meio da criação de novos órgãos. A doutrina faz lista de diversos princípios, às vezes específicas de direito ambiental, em outros princípios gerais de direito aplicáveis ao Direito Ambiental. 3.1 Princípio da solidariedade Intergeracional Consiste na solidariedade entre as gerações futuras e presentes, com propósito de preservar o meio ambiente, agindo de forma sustentável para que as próximas gerações possam continuar usufruindo dos recursos naturais. A solidariedade intergeracional, denomina-se também de diacrônica, que significa através do tempo, e se refere às gerações do futuro (à sucessão no tempo). 3.2 Princípios da prevenção e da precaução Os objetivos do Direito ambiental são fundamentalmente preventivos. Considerando que a degradação ambiental é de difícil, e muita das vezes, irreversível a reparação, sendo que, a prevenção trata de impactos e riscos já conhecidos pela ciência. 20 O princípio da prevenção, atua nos casos, que segundo a doutrina há “conhecimento científico” sobre as consequências de certa atividade. Porém, a noção de “conhecimento científico”, apesar de textos normativos, não é capaz de indicar por si só, qual o conhecimento científico considerado para fins da legislação. O conhecimento científico não é unívoco (que só tem um significado) especialmente quando se trata de estabelecer relações de causa-efeito, está sempre em movimento, e não se comunica diretamente com os outros sistemas. A ciência em larga medida, proporciona suporte legitimador às normas jurídicas, assim como o direito propicia suporte de legitimação à política, sendo que é o direito quem escolhe e processa qual é a verdade científica a ser determinada como norma jurídica. O princípio da prevenção aponta a existência de padrões fixados por normas jurídicas, que envolve normas técnicas de caráter infralegal (como resoluções dos órgãos da Administração Ambiental, ou normas técnicas ABNT), relativos à qualidade ambiental de um dado ecossistema (equilíbrio necessário para as funções e serviços ecossistêmicos) ou, ao impacto tolerável das ações que se pretende desenvolver. Podem ser utilizados para definir uma projeção das consequências esperadas, e, correlativamente das medidas que necessitam ser adotadas, para evitar o dano, ou mitigar suas consequências. Esse princípio, não está enunciado explicitamente na Constituição Federal, mas pode ser extraído do próprio art. 225 quando diz que se impõe ao poder público e à coletividade, o dever de defender e preservar o meio ambiente ecologicamente equilibrado. Com relação a aplicação do princípio, caracteriza-se pela determinação de certas medidas, que devem ser adotadas para que uma atividade seja praticada e para que se respeite os padrões a que os padrões determinados. Tais medidas podem consistir na adoção de procedimentosde segurança específicos, na instalação de filtros, na observância de padrões de emissão mais rígidos, na instalação de uma 21 estação de tratamento de efluentes, na certificação ambiental correspondente, controle de ruído, plano de gestão de resíduos, etc. O princípio da prevenção, ainda pode legitimar a proibição de certas atividades (ou substâncias), em razão das consequências adversas associadas a elas. A proibição de alguns agrotóxicos, a proibição do uso asbesto/amianto, dentre outros. Essas intervenções na liberdade de iniciativa, são garantidas constitucionalmente, e legitimadas pelo princípio da prevenção. O princípio da precaução, tem como objetivo, proteger o meio ambiente dos impactos desconhecidos. Por isso, ao estabelecer que certas atividades necessitam de estudo prévio de impacto ambiental, e o legislador já terá conhecimento do potencial poluidor dessas atividades. Sua formulação, também não está explícita na Constituição Federal, mas está presente em vários tratados. Esse princípio não propõe a proibição de atividades quando não houver certeza científica sobre suas consequências, diferente do princípio da prevenção, e ressalva que o aspecto econômico das medidas a serem adotadas. Ainda, pela literalidade do princípio, não é aconselhável adotar medidas de proteção com relação a consequências desconhecidas, caso essas medidas sejam excessivamente custosas. 3.3 Princípio do Poluidor-pagador Esse princípio preconiza que os custos decorrentes da prevenção da poluição, e controle do uso dos recursos naturais, assim como os custos da reparação dos danos ambientais não evitados, sejam suportados integralmente pelo condutor da atividade econômica potencial, ou efetivamente degradadora. Ou seja, está relacionado aos custos externos do processo produtivo que atingem à coletividade. O Estado por ser amparado por esse princípio, cabe a ele, conduzir esse processo de internalização das externalidades ambientais, por meio da elaboração e aplicação concreta de normas que disponham aos agentes econômicos a obrigação de adotar: suas expensas, medidas de prevenção e reparação de danos ambientais. 22 3.4 Princípio da função social e ambiental da propriedade Reconhecida expressamente pela Constituição de 1988, a função social da propriedade está nos arts. 5º, inc. XXIII, 170, inc. III e 186, inc. II. Quando se diz que a propriedade tem uma função social, afirma-se ao proprietário os direitos inerentes ao uso e à disposição da coisa, contando que cumpra sua função social e ambiental. Está literalmente determinado no art. 186, inc. II, que a propriedade rural cumpre a sua função social, quando atende entre outros requisitos à preservação do meio ambiente. A Constituição está impondo ao proprietário rural, o dever de cumprir o seu direito de propriedade, em conformidade com a preservação da qualidade ambiental. 3.5 Princípio do usuário-pagador O princípio do poluidor pagador traz o entendimento, de que quem polui deve responder pelo prejuízo que causar ao meio ambiente, e a responsabilidade se dá em forma de pagamento, que consiste em uma prestação em dinheiro, ou, em atos do poluidor. Ou seja, o usuário deve pagar por sua utilização. No artigo 4º, VIII da Lei 6.938/81, esse princípio leva em conta que os recursos ambientais são escassos, por isso, seu consumo e produção geram reflexos, ora resultando sua degradação, ora resultando sua escassez. Ao utilizar um recurso ambiental gratuitamente, estará gerando um enriquecimento ilícito, pelo simples fato de o meio ambiente ser um bem que pertence a todos. Considerando que boa parte da comunidade, nem utiliza um determinado recurso, ou se utiliza o faz em menor escala. 23 O Princípio do Usuário Pagador determina que quem utiliza o recurso ambiental, deve suportar seus custos, de maneira que essa cobrança não resulte na imposição de taxas abusivas. Não havendo o que se falar em Poder Público ou terceiros, apenas aqueles que dele se beneficiaram. 3.6 Responsabilidade Civil por dano ao meio ambiente Conforme o parágrafo 3º, do art. 225 da Constituição Federal, todas as condutas e atividades que forem julgadas lesivas ao meio ambiente, serão punidos os infratores, pessoas físicas ou jurídicas a sanções penais e administrativas (independentemente da obrigação de reparar os danos causados). E a reparação dos danos se dará através da responsabilização civil. Para melhor entendimento das ações que podem configurar dano ao meio ambiente, se estabelece a retomada do conceito de meio ambiente, conforme artigo 3º, inciso I da Lei nº 6.938/81: “meio ambiente é o conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas. ” Meio ambiente é um conjunto de elementos naturais, culturais e artificiais, que oferece o equilibrado da vida em todas as suas formas. O dano ao meio ambiente, consequentemente é um dano a nós seres humanos, uma vez que todos devem zelar pela proteção da fauna, da água, da flora, do ar e do solo, por serem elementos indispensáveis à proteção do meio ambiente e indispensável para nossa existência e das próximas que virão. Acerca do art. 3º, V, da Lei nº 6.938/81 “recursos ambientais são a atmosfera, as águas interiores, superficiais e subterrâneas, os estuários, o mar territorial, o solo, o subsolo, os elementos da biosfera, a fauna e a flora. ” Os elementos mencionados neste artigo, podem ser chamados de microbens ambientais. O microbem ambiental pode ter o regime de sua propriedade variado, ou seja, público ou privado. 24 Dano conceitua-se como a lesão a interesses, juridicamente protegidos, e dano ambiental, é a lesão ao direito fundamental que todos têm de gozar e aproveitar do meio ambiente apropriado. O dano ambiental classifica-se ecológico puro, que é aquele que atinge aos componentes essenciais do ecossistema. Seja em sentido amplo, quando atinge a qualquer componente do meio ambiente (inclusive o cultural e construído); ou, individual ambiental (ou reflexo) que é aquele que atinge interesses próprios do lesado, referentes ao microbem. No que se refere à reparabilidade, pode se dar de forma direta, que é quando o dano é individual, isto significa que o interessado que sofreu o dano será diretamente indenizado, ou de forma indireta, é quando diz respeito a interesses difusos e coletivos (nestes casos a indenização é revertida a um fundo de proteção de interesses difusos). O dano poderá também, ser patrimonial, por possibilitar a restituição, recuperação ou indenização do bem ambiental lesado, ou extrapatrimonial ambiental, que é todo prejuízo não patrimonial causado à sociedade (ou ao indivíduo), e deve ser compensado pecuniariamente. No que diz à responsabilidade por danos causados ao meio ambiente é objetiva, devido à expansão das atividades econômicas, da chamada sociedade de risco. Segundo o artigo 927, § único, do Código Civil, a responsabilidade será objetiva quando a atividade desenvolvida pelo autor do dano, implicar por sua natureza, risco para os direitos de outrem. Já na responsabilidade objetiva, será necessário apenas a prova da ocorrência do dano e do vínculo causal, com o desenvolvimento ou mera existência de uma atividade definida. A culpabilidade não se investiga como negligência, imprudência ou imperícia, segundo a Lei nº 6.938/81. 25 O art. 14, § 1º, da Lei nº 6.938, disserta sobre a responsabilidade, que se dá independentemente de culpa, mesmo quando o dano é causado a terceiros. Art 14 - Sem prejuízo das penalidades definidas pela legislação federal, estadual e municipal, o não cumprimento das medidas necessárias à preservação ou correção dos inconvenientes e danos causados pela degradação da qualidadeambiental sujeitará os transgressores: § 1º - Sem obstar a aplicação das penalidades previstas neste artigo, é o poluidor obrigado, independentemente da existência de culpa, a indenizar ou reparar os danos causados ao meio ambiente e a terceiros, afetados por sua atividade. O Ministério Público da União e dos Estados terá legitimidade para propor ação de responsabilidade civil e criminal, por danos causados ao meio ambiente. (BRASIL, 1981) É importante destacar, que nem toda a utilização de recurso ambiental pode ser considerada dano ao meio ambiente. Dano é exclusivamente a conduta antijurídica suscetível de reparação, ou seja, é aquela que ultrapassa os limites de segurança e acarreta perda do equilíbrio ambiental. O conceito de poluição no art. 3º da Lei nº 6.938/81, é utilizado como “parâmetro” para identificação de um dano ao meio ambiente. III - poluição, a degradação da qualidade ambiental resultante de atividades que direta ou indiretamente: a) prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-estar da população; b) criem condições adversas às atividades sociais e econômicas; c) afetem desfavoravelmente a biota; d) afetem as condições estéticas ou sanitárias do meio ambiente; e) lancem matérias ou energia em desacordo com os padrões ambientais estabelecidos; (BRASIL, 1981) O nexo de causalidade não é fácil identificar nos danos ambientais, seja pela concomitância de agentes poluidores, complexidade das causas ou pela distância entre o agente causador e o dano. Posto isso, alguns doutrinadores entendem que o princípio que norteia a inversão do ônus da prova, no direito do consumidor, em tese é aplicável à responsabilidade civil por danos ambientais. 26 O poluidor é o sujeito responsável pela reparação do dano ambiental, segundo a Lei nº 6.938 “Para os fins previstos nesta Lei, entende-se por: IV - poluidor, a pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado, responsável, direta ou indiretamente, por atividade causadora de degradação ambiental. ” Da responsabilização objetiva, fundamentada na teoria do risco, decorrem algumas consequências: a) prescindibilidade de investigação de culpa; b) irrelevância da licitude da atividade; c) inaplicabilidade de algumas excludentes tradicionais e de cláusula de não indenizar; d) responsabilidade solidária (art. 942 do Código Civil). 4 OBJETIVO DO DIREITO AMBIENTAL O Direito Ambiental surgiu no século XX na década de 1960, em um contexto de crise ambiental. A consequência negativa da degradação ambiental, da poluição e o esgotamento dos recursos naturais, fez perceber a necessidade de definir (limitar) a atuação do ser humano no ambiente. Também é preciso realçar o papel da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano no Direito Ambiental, que foi produzida em 1972 e conhecida como Conferência de Estocolmo (cidade que sediou o evento), ocasião que reuniu representantes de diversos Estados para debater questões ambientais, e o direito ao meio ambiente equilibrado foi declarado como um direito fundamental. O Brasil vivia o período do regime da ditadura militar (período denominado milagre econômico) e dava ênfase ao seu crescimento econômico, também participou 27 da Conferência das Nações Unidas, se posicionando a favor de um crescimento econômico ambientalmente inconsequente. Nada obstante, esse posicionamento mudou com a redemocratização do país, pois a Constituição de 1988 foi revolucionária em muitos aspectos se comparada com as anteriores, e, em relação ao meio ambiente e o direito ambiental não poderia ter sido diferente. A Constituição Federal de 1988, inseriu a proteção ao meio ambiente após pressões de movimentos ambientais nacionais e internacionais, relatórios e conferências direcionadas para a defesa do meio ambiente. Em nosso país essas mobilizações ganharam força, principalmente após a queda do governo militar. A partir desse cenário, é necessário ressaltar que o Brasil teve destaque ao tratar sobre biodiversidade, por ter a maior floresta tropical do mundo (a Amazônia) e outros biomas riquíssimos No Brasil o Poder Público, cria as leis ambientais e cabe a esses órgãos a responsabilidade de fiscalizar. Em termos de leis ambientais, nosso país tem uma das legislações mais completas do mundo, porém o que deixa a desejar é a sua aplicação na prática. 5 LEGISLAÇÃO AMBIENTAL Como mencionado a legislação ambiental brasileira, é considerada uma das mais completas que existe, além de se tratar da preservação do meio ambiente, há muito conteúdo sobre ações preventivas, que visam diminuir os impactos. A legislação compreende as leis, resoluções, decretos, normas e portarias. São aplicadas às organizações de qualquer natureza, e ao cidadão comum. E tem a 28 finalidade de definir atos de infração e regulamentações em casos de não cumprimento. E com os avanços tecnológicos e industriais, fez-se fundamental a discussão sobre o desenvolvimento sustentável nas empresas, e adaptação nas práticas corporativas (relacionado ao uso dos recursos naturais). Surgiu então o termo “Compliance Ambiental”, que significa estar de acordo com a legislação, aderindo às práticas e ações que evitam danos ambientais. 5.1 Novo Código Florestal Brasileiro (Lei 12.651/12) Esse código revoga o Código Florestal Brasileiro de 1965, e determina a responsabilidade do proprietário de espaços protegidos (entre a Área de Preservação Permanente, e a Reserva Legal de proteger o meio ambiente). Criou-se o Cadastro Ambiental Rural (CAR), que é um sistema de registro eletrônico, instituído pela lei 12.651, e regulamentada pelo Decreto no 7.830/2012. Disponibiliza informações das propriedades e posses rurais, o que possibilita no controle de dados, ajuda no monitoramento e planejamento (econômico), para assim, combater o desmatamento. E o Programa de Regularização Ambiental (PRA), também previsto na mesma lei, com objetivo de promover a regularização ambiental de suas propriedades ou posses. 5.2 Lei de Crimes Ambientais (Lei 9.605 – 1998) O meio ambiente é protegido pela Lei 9.605/98, e estabelece as sanções penais, e administrativas, derivadas de atividades lesivas ao meio ambiente. Sabemos que crime é uma violação ao direito, e sendo assim, é considerado crime ambiental, todo e qualquer dano ou prejuízo causado a elementos que compõe a natureza (flora, fauna, patrimônio cultural e recursos naturais). 29 A pessoa jurídica (autora ou coautora) da infração, poderá ser penalizada chegando à liquidação da empresa, caso tenha sido usada ou criada para facilitar ou ocultar um crime ambiental, podendo ser extinta a punição caso comprovado a recuperação do dano. Antes da existência dessa lei, era difícil proteger o meio ambiente uma vez que as leis eram esparsas e de difícil aplicação. Após o surgimento da Lei de Crimes Ambientais, a legislação ambiental no que diz respeito à proteção ao meio ambiente é centralizada, e agora as penas têm uniformização e gradação adequadas, pois as infrações são claramente determinadas. As penas previstas pela Lei de Crimes Ambientais, são aplicadas conforme a gravidade da infração, ou seja, quanto mais reprovável a conduta mais severa a punição. Ela poderá ser privativa de liberdade (onde o sujeito condenado deverá cumprir sua pena em regime penitenciário), restritiva de direitos (se for aplicada ao sujeito) ou multa. 5.3 Política Nacional do Meio Ambiente (Lei 6.938 – 1981) A Política Nacional de Meio Ambiente tem como finalidade, regulamentar as diversas atividades que rodeiam o meio ambiente, para assim, garantir a preservação, a melhoria e a recuperação da qualidade ambiental. Seus instrumentos e diretrizes, objetivam a proteção ambiental, e asseguram à população condições propícias para seu desenvolvimentosocial e econômico. Na Constituição Federal (art 225), a proteção ambiental é um princípio expresso no artigo 225, que disserta sobre o reconhecimento do direito a um meio ambiente sadio, como uma extensão ao direito à vida. O direito a um meio ambiente preservado, impõe ao Poder Público e à coletividade, a responsabilidade pela proteção ambiental. 30 5.4 Lei de Fauna (Lei 5.197 – 1967) Esta Lei possibilitou medidas de proteção à fauna, classificando como crime: o uso, captura de animais, perseguição, caça profissional, comércio de espécies da fauna silvestre e produtos originários de caça. Além de proibir a importação de espécies exótica, a caça amadora sem a autorização do IBAMA e a exportação de peles e couros de répteis e anfíbios. 5.5 Política Nacional de Recursos Hídricos (Lei 9.433 – 1997) Constitui o sistema nacional de recursos hídricos, e a política. Estabelece o conceito de água como recurso natural limitado e provido de valor econômico, podendo ter diversos usos. A finalidade dessa lei foi a criação do Sistema Nacional para o tratamento, a coleta, recuperação e armazenamento de informações sobre recursos hídricos, e os fatores que interferem em seu funcionamento. Esta lei, também é conhecida como “Lei das Águas”, por ser uma legislação que define como o Estado brasileiro fará o gerenciamento e a apropriação dos recursos hídricos nacionais. A instituição da Política Nacional de Recursos Hídricos, se dá pela Lei nº 9.433, que apresenta 57 artigos, divididos em seis seções e quatro títulos. 5.6 Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza (Lei 9.985/2000) São conjuntos de normas e procedimentos, que visam a conservação e proteção do meio ambiente por suas fragilidades e particularidades. Protege diversas espécies biológicas e os recursos genéticos pela restauração da diversidade de ecossistemas naturais, assim como, a promoção do desenvolvimento sustentável. 31 5.7 Área de Proteção Ambiental (Lei 6.902 – 1981) A Área de Proteção Ambiental (APA), é uma área natural reservada à proteção e conservação dos atributos bióticos, estéticos ou culturais que ali existem. Primordial para a qualidade de vida da população local, e para a proteção dos ecossistemas. O objetivo principal de uma APA é a conservação de processos naturais, e da biodiversidade, através da orientação do desenvolvimento, e, da adequação das várias atividades humanas. As Estações Ecológicas, são áreas representativas de diferentes ecossistemas, que necessitam ter 90% do território inalteradas, e, apenas 10% podem sofrer alterações para fins acadêmicos. Enquanto as APA’s atingem propriedades privadas, podendo essas serem regulamentadas pelo órgão público ao qual for competente (em relação às atividades econômicas) para proteger o meio ambiente. 5.8 Política Agrícola (Lei 8.171 – 1991) Essa lei tem o propósito da proteção do meio ambiente, e decreta a obrigação de recuperação dos recursos naturais para as empresas que exploram economicamente águas represadas, assim como as concessionárias de energia elétrica. Estabelece que o poder público deve fiscalizar o uso racional do solo, da água, da fauna e da flora, e realizar zoneamentos agroecológicos para ordenar a ocupação de diversas atividades produtivas, desenvolvendo programas educativos sobre o meio ambiente, entre outros. 32 6 COMPETÊNCIAS A competência legislativa determina quem pode legislar sobre o meio ambiente a luz dos entes federativos, e de no artigo 24 da Constituição Federal dispõe: Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre: I - direito tributário, financeiro, penitenciário, econômico e urbanístico; (Vide Lei nº 13.874, de 2019) II - orçamento; III - juntas comerciais; IV - custas dos serviços forenses; V - produção e consumo; VI - florestas, caça, pesca, fauna, conservação da natureza, defesa do solo e dos recursos naturais, proteção do meio ambiente e controle da poluição; VII - proteção ao patrimônio histórico, cultural, artístico, turístico e paisagístico; VIII - responsabilidade por dano ao meio ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico; IX - educação, cultura, ensino, desporto, ciência, tecnologia, pesquisa, desenvolvimento e inovação; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 85, de 2015) X - criação, funcionamento e processo do juizado de pequenas causas; XI - procedimentos em matéria processual; XII - previdência social, proteção e defesa da saúde; (Vide ADPF 672) XIII - assistência jurídica e Defensoria pública; XIV - proteção e integração social das pessoas portadoras de deficiência; XV - proteção à infância e à juventude; XVI - organização, garantias, direitos e deveres das polícias civis. (BRASIL, 1988) A competência concorrente dispõe que: a União cria normas gerais sobre a matéria, e os Estados e o Distrito Federal podem editar leis sobre o meio ambiente, respeitando a harmonia com as normas gerais criadas pela União. O Supremo Tribunal Federal com base no Artigo 30 da Constituição Federal, afirmou que os Municípios podem legislar sobre o meio ambiente desde que observem as normas gerais sobre a matéria criada pela União, e que seja algo que diz a respeito ao assunto local. 33 Após se determinar a competência legislativa, é necessária uma análise sobre a competência material, que servirá para identificar as atribuições de atuação em uma área ambiental, e assim determinar quem pode fiscalizar, licenciar e quem poderá atuar de fato sobre o meio ambiente. No artigo 23 da Constituição Federal, trata sobre a competência material, e dispõe que a União, os Estados, o Distrito Federal, e os Municípios, possuem competência comum para proteger o meio ambiente, e combater a poluição, melhor dizendo, todos os entes federativos possuem atribuição para proteger o meio ambiente e para atuar concretamente. Outra competência muito importante é sobre o Sistema Nacional do Meio Ambiente (SISNAMA). É compreendido como o conjunto de órgãos e entidades públicas que atua com a competência material para tutelar o meio ambiente. A partir da criação de um órgão superior (Conselho de Governo), um órgão central (Ministério do Meio Ambiente) e um órgão consultivo/deliberativo (Conselho Nacional do Meio Ambiente CONAMA), se forma a estrutura do SISNAMA. Dentro da estrutura do SISNAMA, pode-se notar a presença de dois órgãos executivos: IBAMA e ICMBio, que atuam para o licenciamento, para a aplicação de penalidade, e execução de políticas ambientais. Enfim, o SISNAMA, comporta também órgãos estaduais (seccionais) e órgãos municipais (locais), para atuar e tutelar em prol da defesa do meio ambiente. 6.1 Competência executiva exclusiva O Artigo 21, incisos IX, XVIII, XIX, XX e XXIII da Constituição Federal, aponta quais são as competências executivas exclusivas da União. Em tais competências, a União deve observar com rigor a atuação do interesse nacional. 34 É de competência executiva exclusiva da União elaborar e executar planos nacionais e regionais de ordenação do território e de desenvolvimento econômico e social; promover e planejar a defesa permanente contra as calamidades públicas (secas e inundações); estabelecer um sistema nacional de gerenciamento de recursos híbridos e definir critérios de outorga de direitos de seu uso; instaurar diretrizes para o desenvolvimento urbano (inclusive habitação, saneamento básico e transportes urbanos); e examinar os serviços e instalações nucleares (de qualquer natureza), e cumprir o monopólio estatal sobre a pesquisa. 6.2 Competência legislativa privativa O Artigo 22 da Constituição Federal, define que a União deve legislar sobre: águas e energia, minas, jazidas,entre outros recursos minerais; e atividades nucleares. No entanto, se houver Lei Complementar que assim estabeleça, os Estados poderão legislar sobre esses assuntos também. Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre: I - direito civil, comercial, penal, processual, eleitoral, agrário, marítimo, aeronáutico, espacial e do trabalho; II - desapropriação; III - requisições civis e militares, em caso de iminente perigo e em tempo de guerra; IV - águas, energia, informática, telecomunicações e radiodifusão; V - serviço postal; VI - sistema monetário e de medidas, títulos e garantias dos metais; VII - política de crédito, câmbio, seguros e transferência de valores; VIII - comércio exterior e interestadual; IX - diretrizes da política nacional de transportes; X - regime dos portos, navegação lacustre, fluvial, marítima, aérea e aeroespacial; XI - trânsito e transporte; XII - jazidas, minas, outros recursos minerais e metalurgia; XIII - nacionalidade, cidadania e naturalização; XIV - populações indígenas; XV - emigração e imigração, entrada, extradição e expulsão de estrangeiros; XVI - organização do sistema nacional de emprego e condições para o exercício de profissões; XVII - organização judiciária, do Ministério Público do Distrito Federal e dos Territórios e da Defensoria Pública dos Territórios, bem como organização administrativa destes; XVIII - sistema estatístico, sistema cartográfico e de geologia nacionais; XIX - sistemas de poupança, captação e garantia da poupança popular; XX - sistemas de consórcios e sorteios; 35 XXI - normas gerais de organização, efetivos, material bélico, garantias, convocação, mobilização, inatividades e pensões das polícias militares e dos corpos de bombeiros militares; XXII - competência da polícia federal e das polícias rodoviária e ferroviária federais; XXIII - seguridade social; XXIV - diretrizes e bases da educação nacional; XXV - registros públicos; XXVI - atividades nucleares de qualquer natureza; XXVII - normas gerais de licitação e contratação, em todas as modalidades, para as administrações públicas diretas, autárquicas e fundacionais da União, Estados, Distrito Federal e Municípios, obedecido o disposto no art. 37, XXI, e para as empresas públicas e sociedades de economia mista, nos termos do art. 173, § 1°, III; XXVIII - defesa territorial, defesa aeroespacial, defesa marítima, defesa civil e mobilização nacional; XXIX - propaganda comercial. Parágrafo único. Lei complementar poderá autorizar os Estados a legislar sobre questões específicas das matérias relacionadas neste artigo. (BRASIL, 1988) 6.3 Competência executiva exclusiva A CF não enumera as competências executivas exclusivas dos Estados, apenas as dos Municípios, e da União. A competência que lhe sobra é a remanescente, isto é, aquelas que não foram designadas para outro ente público. A Constituição Federal, ainda garante aos Estados, o poder de explorar diretamente através de concessão, os serviços de gás canalizado, e instaurar regiões metropolitanas, microrregiões e aglomerações urbanas. 6.4 Competência legislativa exclusiva Assim como a competência executiva exclusiva dos Estados, seguem as mesmas para as competências legislativas. Ou seja, é responsabilidade do Estado legislar tudo aquilo que a Constituição Federal não atribuiu aos Municípios, ou, à União. 36 6.5 Competência executiva exclusiva São poucas as competências executivas exclusivas dos Municípios, sendo uma delas a de promover o adequado ordenamento territorial, que deve ser feito mediante controle de uso e planejamento, da ocupação do solo urbano e do parcelamento. Em conjunto com a União (de executar planos elaborados para a ordenação do território regional) que é possível ser feita essa competência. Sendo ainda dever do município, proteger o patrimônio histórico-cultural local, com o cumprimento da ação fiscalizadora e da legislação da União e dos Estados. 6.6 Competência legislativa exclusiva O inciso I do artigo 30, da Constituição Federal, determina que é competência municipal legislar sobre os assuntos de interesse local. Art. 30. Compete aos Municípios: I - legislar sobre assuntos de interesse local; II - suplementar a legislação federal e a estadual no que couber; (Vide ADPF 672) III - instituir e arrecadar os tributos de sua competência, bem como aplicar suas rendas, sem prejuízo da obrigatoriedade de prestar contas e publicar balancetes nos prazos fixados em lei; IV - criar, organizar e suprimir distritos, observada a legislação estadual; V - organizar e prestar, diretamente ou sob regime de concessão ou permissão, os serviços públicos de interesse local, incluído o de transporte coletivo, que tem caráter essencial; VI - manter, com a cooperação técnica e financeira da União e do Estado, programas de educação infantil e de ensino fundamental; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006) VII - prestar, com a cooperação técnica e financeira da União e do Estado, serviços de atendimento à saúde da população; VIII - promover, no que couber, adequado ordenamento territorial, mediante planejamento e controle do uso, do parcelamento e da ocupação do solo urbano; IX - promover a proteção do patrimônio histórico-cultural local, observada a legislação e a ação fiscalizadora federal e estadual. (BRASIL, 1988) 37 6.7 Competência legislativa concorrente O artigo 24 da Constituição Federal, dispõe como sendo competência concorrente entre União, Estados e Distrito federal legislar sobre: florestas, caça e pesca, fauna, defesa do solo, defesa dos recursos naturais, proteção do meio ambiente, conservação da natureza e controle da poluição, assim como também: a proteção do patrimônio histórico, artístico, cultural, turístico, paisagísticos e responsabilidade por dano ao meio ambiente e bens. A própria Constituição Federal estabelece ordem na concorrência entre os entes, e não se trata de hierarquização, mas sim, separação entre os focos da atuação que compete a cada ente. A norma geral cabe à União estabelecer, e tais normas têm caráter genérico e abstrato, nunca se referindo sobre casos em concreto, tendo a função de estabelecer os princípios fundamentais. Já ao Distrito Federal e os Estados, cabem normas específicas, e elas definem os casos concretos para atender as peculiaridades de cada região. No entanto, pode acontecer em alguns casos, um conflito de normas. Isto ocorre quando é impossível estabelecer se o assunto é de norma específica ou norma geral, e por isso, é normatizado por mais de um ente. Aplica-se nesse caso o princípio do in dubio pro natura, ou seja, na dúvida o "interesse" da natureza é preservado. Já na prática significa que predomina a regra mais restritiva, pois assim não há risco de a natureza ser prejudicada por uma norma mais branda. 6.8 Competência administrativa comum Fica estabelecido no artigo 23 da CF, como sendo dever da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios: preservar os documentos, as obras e outros bens de valor (histórico, artístico e cultural), sítios arqueológicos, os monumentos e as paisagens naturais notáveis; assim como: impedir a destruição, a 38 evasão e a descaracterização de obras de arte; cuidar do meio ambiente e combater a poluição; preservar as florestas, a fauna e a flora; e por fim, registrar, fiscalizar e acompanhar as concessões de direitos de exploração de recursos híbridos e minerais e pesquisas em seus territórios. O mencionado artigo, ainda estabelece que as normas de cooperação entre os entes federativos necessitarão ser fixadas por Lei Complementar. Ainda assim, até hoje tal lei não foi promulgada e nem projetos concretos foram estudados. A criação de tal legislação é urgente, levando-se em conta que existem muitos conflitos e dúvidas sobre os limitesde competência de cada um. Alguns autores ainda tentam estabelecer princípios para preencher a lacuna deixada pela inexistência da legislação requerida, para tentar tornar possível a administração comum. 7 NOVAS LEIS AMBIENTAIS EM VIGÊNCIA Nos meses de dezembro e janeiro, o Brasil ratificou algumas leis ambientais positivas. Em 2020, com o alto índice de desmatamento, perda de safras, falta de chuva e principalmente pelo apoio de políticas e capital externo, criou-se um alerta sobre a necessidade de buscar soluções. Algumas iniciativas listadas abaixo poderão contribuir para bons resultados à biodiversidade em 2021, e quem sabe assim o país deixará de ser párea na discussão ambiental. E cabe à equipe política que essa possibilidade se concretize, e para isto, temos 5 novas leis ambientais já em vigência em 2021, que serão apresentadas a seguir. 39 7.1 A Política Estadual de Impulsionamento do Desenvolvimento Econômico- Ambiental de Baixas Emissões de Gases de Efeito Estufa (GEEs) O governo estadual de Roraima no final de dezembro, em conjunto com o (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia) IPAM, instaurou a Política Estadual de Impulsionamento do Desenvolvimento Econômico-Ambiental de Baixas Emissões de Gases do Efeito Estufa (GEEs), oriundos da degradação e do desmatamento. Tendo como objetivo criar metas estratégicas no campo: das políticas públicas, sociais, instituições privadas e assim, produzir empreendimentos e negócios, com base em ativos ambientais, acabando com o desmatamento ilegal. Vem de 2017, da COP 23, o investimento para a política, quando o Força Tarefa de Governadores pelo Clima e Florestas lançou o edital da Janela A, com recursos do governo norueguês NORAD. O recurso foi aplicado em todos os 9 (nove) Estados, para a elaboração de estratégias a longo prazo de desenvolvimento, de baixas emissões, e, da consolidação de políticas do clima e políticas jurisdicionais. 7.2 O Plano Municipal de Mitigação e Adaptação às Mudanças do Clima (PMAMC) O Plano Municipal de Mitigação e Adaptação às Mudanças do Clima (PMAMC), foi divulgado em 2020 pela prefeitura de Rio Branco/Acre, e elaborada pela Secretaria Municipal de Meio Ambiente (SEMEIA), que contou também com apoio do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM) e da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa/AC). Esse documento foi planejado durante 2020, e contou com a participação de 33 instituições, uma delas foram cooperativas, federações, associações de produtores rurais, órgãos estaduais e municipais, ONGs e instituições de ensino. 40 O plano apresenta o atual cenário da crise climática, as vulnerabilidades de Rio Branco e as emissões, principais objetivos (com descrição das metas e eixos estratégicos), oportunidades e cenários futuros. A partir da criação desse documento, a cidade se compromete a cumprir as metas nacionais acordadas para o Acordo de Paris, para neutralizar as emissões dos Gases de Efeito Estufa. A partir da realização de análises foram fixados seis eixos estratégicos, para os setores: de transporte, de energia estacionária, de resíduos e de uso da terra (até 2040). Sendo eles: uso do solo rural, uso do solo urbano, mobilidade urbana, saneamento, comunicação e monitoramento do PMAMC, energias renováveis. 7.3 A Política Nacional de Pagamento por Serviços Ambientais (PNPSA) A Lei nº 14.119, foi sancionada em 13 de janeiro de 2021, e determina as diretrizes gerais para pagamentos por serviços ambientais, estabelecendo conceitos, como quem são possíveis pagadores, e, possíveis provedores. A lei criou também, o Programa Federal de Pagamento por Serviços Ambientais (PFPSA). A aprovação da lei, é uma batalha travada a 13 anos no Congresso Nacional, e foi uma grande conquista, mas com suas ressalvas. Pois, apesar de apresentar mudanças positivas (na visão política de uso dos recursos naturais), essa lei sofreu diversos vetos presidenciais, dentre eles: a criação de um Órgão Colegiado, a criação do Cadastro Nacional de Pagamentos por Serviços Ambientais (ao qual garantiria transparência de informações e integração de dados das esferas públicas, e tornaria padrão a metodologia de precificação e valoração dos serviços/incentivos tributários). Tiveram outros pontos que enfraquecem a lei, como o fato de que a União não investirá nos aportes destinados ao programa, os recursos virão, unicamente, de doações, e de Áreas de Proteção Permanente e Reserva Legal (como elegíveis no programa de PSA). 41 O Código Florestal da Lei 12.651/12, já determina que uma quantidade específica da área de grandes propriedades particulares, devem ser mantidas e preservadas, para assim, assegurar o equilíbrio do habitat local. A lei cria o programa federal e também políticas de nível estadual e municipal. Sendo preciso agora a regulamentação dessa política para ter orçamento. E talvez com a pressão externa dos próximos eventos mundiais, teremos incentivo para que essa política seja aplicada nos próximos meses, claro que positivamente. 7.4 A lei proíbe itens de plástico de uso único, em São Paulo Essa lei se fundamenta nos princípios da economia circular e ainda segundo o documento, as punições poderão variar de: R$ 1 mil a R$ 8 mil, podendo até fechar o estabelecimento. Apesar de se tratar de uma lei positiva para o meio ambiente, a Gestão Covas, falou em regulamentar a lei durante 2020 (apesar de já sancionada, por hora os estabelecimentos não podem ser multados). 7.5 Parque Eólico e Parque Solar Em 2018 começou a ser construída a Usina de energia solar de São Gonçalo do Gurguéia, e iniciou-se as operações em 2020. Tendo capacidade de geração de energia por hora de 475 MW. A usina ainda está em processo de expansão, o que deve somar mais 133 MW após a sua finalização. O parque terá capacidade para gerar mais de 1.500 GWh ao ano, e evitará a emissão de mais de 860 mil toneladas de CO2. Ambos lados captam a energia solar com a tecnologia empregada nos painéis solares bifaciais, aumentando a geração de energia em até 18%, e reduzindo um total de 11% de área ocupada. 42 Em 2020 o setor de energia solar tem crescido em passos largos no Brasil, e a geração de energia via painéis solares, cresceu 58% em relação à 2019.A tendência é que o projeto de Lei nº 5829/19 seja aprovado, garantindo desconto de 100% em: encargos e tarifas de uso de sistemas de transmissão, e de distribuição a micro e mini geradores de energia solar. 43 8 REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA BRASIL. Lei Complementar nº 140, de 8 de dezembro de 2011. BRASIL. Lei nº 11.105, de 24 de março de 2005. BRASIL. Lei nº 14.119, de 13 de janeiro de 2021. BRASIL. Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981. BRASIL. Lei nº 9.985, de 18 de julho de 2000. BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado Federal: Centro Gráfico, 1988. MILARÉ, Édis. Direito do Ambiente. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2011. RODRIGUES, José Eduardo Ramos. Sistema Nacional de Unidades de Conservação. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2005.
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