Prévia do material em texto
Indaial – 2020 Pesquisa em ComuniCação e ComPortamento do Consumidor Prof. Arnaldo Zimmermann Prof. Luís Augusto Zillmer Cardoso 1a Edição Copyright © UNIASSELVI 2020 Elaboração: Prof. Arnaldo Zimmermann Prof. Luís Augusto Zillmer Cardoso Revisão, Diagramação e Produção: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. Impresso por: Z73p Zimmermann, Arnaldo Pesquisa em comunicação e comportamento do consumidor. / Arnaldo Zimmermann; Luís Augusto Zillmer Cardoso. – Indaial: UNIASSELVI, 2020. 213 p.; il. ISBN 978-65-5663-037-3 1. Comportamento dos consumidores. - Brasil. I. Cardoso, Luís Augusto Zillmer. II. Centro Universitário Leonardo Da Vinci. CDD 380 III aPresentação Caro acadêmico! Sempre que consumimos as coisas, costumamos deixar evidências da ocasião, frequência, uso dado ao produto ou serviço e até mesmo do descarte dos objetos. A esse processo denominamos de pegadas de consumo. Além disso, muitas vezes gostaríamos de consumir determinados produtos ou serviços, mas que nem sempre são exatamente do jeito que gostaríamos. Essa nossa insatisfação nem sempre chega aos ouvidos das empresas e instituições responsáveis por produzirem as ofertas de mercado. Tudo isso nos mostra a importância de entendermos o comportamento dos consumidores, seus anseios, preferências, hábitos de consumo e estilos de vida. A maneira mais eficiente de se fazer isso é através das pesquisas de mercado. Isso justifica a existência dessa disciplina no seu curso. Ela está dividida nas etapas de comportamento do consumidor e de pesquisa em comunicação, uma vez que esses elementos fornecem dados para que as empresas possam produzir e se comunicar eficientemente com os seus clientes. Nesse sentido, optamos por iniciar o livro-texto pela compreensão do comportamento do consumidor. Mostraremos inicialmente a origem e os motivos para estudo do comportamento do consumidor e a tipologia do consumidor. Estudaremos ainda os passos habituais do consumidor ao selecionar e comprar os produtos e serviços e os possíveis papéis exercidos por eles. Veremos ainda que esse processo costuma ser modificado de acordo com os tipos de compra e de produtos e serviços. Ainda na primeira unidade, conheceremos as principais variáveis que afetam o comportamento do consumidor, que são as socioculturais, as psicológicas e ainda os fatores situacionais envolvidos no momento da compra. Na segunda etapa do livro, mostraremos que esse mesmo estudo de comportamento do consumidor e processo de decisão de compra também se repete nas compras das organizações ao escolherem seus fornecedores. A partir disso, aprenderemos que as organizações costumam utilizar um conjunto de técnicas para identificar hábitos de compra dos consumidores. Essas ferramentas caracterizam o Sistema de Informação de Marketing, que está dividido em três grandes elementos. IV Buscaremos demonstrar que a pesquisa de mercado é uma importante ferramenta para a descoberta do comportamento do consumidor para situações específicas. Assim, definiremos as características e etapas do planejamento e execução da pesquisa de mercado. Também caracterizaremos os tipos de pesquisa e formas de uso de cada uma delas e mostraremos as formas de selecionar os entrevistados. Em seguida, trataremos dos passos para a elaboração do projeto de pesquisa e da metodologia a ser utilizada. Na parte final da disciplina, mostraremos como calcular a amostragem da pesquisa, os métodos de coleta de dados. Depois disso, cabe ao pesquisador calcular o total de respostas e fazer uma tabulação dos resultados e análise para extrair informações úteis à organização. Por fim, identificaremos as maneiras de estruturar o relatório final a partir dos procedimentos analíticos e as recomendações para a empresa. Veremos ainda que existem muitos outros métodos possíveis de serem utilizados, em especial, na comunicação. Tudo isso para reforçar a importância de conhecer muito bem os consumidores para que possamos nos comunicar de forma efetiva, pelos canais adequados, no momento apropriado e utilizando argumentos que possam persuadi-los à compra dos produtos. Desejamos a você bons estudos! Prof. Me. Arnaldo Zimmermann Prof. Me. Luís Augusto Zillmer Cardoso V Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novidades em nosso material. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto em questão. Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar seus estudos com um material de qualidade. Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes – ENADE. Bons estudos! NOTA VI VII Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma disciplina e com ela um novo conhecimento. Com o objetivo de enriquecer seu conhecimento, construímos, além do livro que está em suas mãos, uma rica trilha de aprendizagem, por meio dela você terá contato com o vídeo da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complementares, entre outros, todos pensados e construídos na intenção de auxiliar seu crescimento. Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo. Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada! LEMBRETE VIII IX UNIDADE 1 – COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR .............................................................1 TÓPICO 1 – VISÃO GERAL DO COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR ............................3 1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................................................3 2 SOCIEDADE DE CONSUMO E O COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR ......................3 3 A NECESSIDADE DE COMPREENDER O COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR.......5 4 TIPOLOGIA DO CONSUMIDOR ......................................................................................................7 RESUMO DO TÓPICO 1..........................................................................................................................9 AUTOATIVIDADE .................................................................................................................................10 TÓPICO 2 – PROCESSO E PAPÉIS DE COMPRA DO CONSUMIDOR ....................................13 1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................................13 2 TIPOS DE COMPRAS E ENVOLVIMENTO DO CONSUMIDOR ...........................................13 3 PROCESSO DE DECISÃO DE COMPRA .......................................................................................16 4 PAPÉIS DO CONSUMIDOR NO PROCESSO DE COMPRA ....................................................19 RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................21AUTOATIVIDADE .................................................................................................................................23 TÓPICO 3 – INFLUÊNCIAS SOCIOCULTURAIS E O COMPORTAMENTO DE COMPRA.....27 1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................................27 2 CONTEXTO SOCIAL E O COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR ...................................27 3 VARIÁVEIS SOCIOCULTURAIS QUE AFETAM O COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR ....................................................................................................................................29 RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................34 AUTOATIVIDADE .................................................................................................................................36 TÓPICO 4 – INFLUÊNCIAS PSICOLÓGICAS E O COMPORTAMENTO DE COMPRA ......41 1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................................41 2 A ABORDAGEM PSICOLÓGICA E AS ESCOLAS DE PENSAMENTO DA PSICOLOGIA .................................................................................................................................41 3 PRINCIPAIS FATORES PSICOLÓGICOS DE INFLUÊNCIA SOBRE OS CONSUMIDORES .........................................................................................................................43 RESUMO DO TÓPICO 4........................................................................................................................49 AUTOATIVIDADE .................................................................................................................................51 TÓPICO 5 – INFLUÊNCIAS SITUACIONAIS E O COMPORTAMENTO DE COMPRA.......53 1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................................53 2 A SITUAÇÃO DE COMPRA E OS FATORES QUE AFETAM O COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR ...................................................................................53 3 PRINCIPAIS VARIÁVEIS SITUACIONAIS QUE AFETAM AS DECISÕES DE COMPRA ...................................................................................................................55 LEITURA COMPLEMENTAR ...............................................................................................................60 RESUMO DO TÓPICO 5........................................................................................................................62 AUTOATIVIDADE .................................................................................................................................64 sumário X UNIDADE 2 – CONSUMIDOR ORGANIZACIONAL E PESQUISA EM COMUNICAÇÃO .................................................................................................67 TÓPICO 1 – COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR ORGANIZACIONAL ......................69 1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................................69 2 O CONSUMIDOR ORGANIZACIONAL E O PROCESSO DE DECISÃO DE COMPRA .......69 3 CENTRO DE COMPRAS E AS INFLUÊNCIAS SOBRE OS COMPRADORES ORGANIZACIONAIS .........................................................................................................................74 LEITURA COMPLEMENTAR ...............................................................................................................79 RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................81 AUTOATIVIDADE .................................................................................................................................82 TÓPICO 2 – O PAPEL DA PESQUISA DE MERCADO E EM COMUNICAÇÃO .....................85 1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................................85 2 SISTEMA DE INFORMAÇÃO DE MARKETING (SIM) E AS FONTES DE INFORMAÇÕES ...................................................................................................................................85 3 PAPEL DA PESQUISA, COORDENAÇÃO E EXECUÇÃO DOS PROJETOS DE PESQUISA .................................................................................................................89 RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................91 AUTOATIVIDADE .................................................................................................................................93 TÓPICO 3 – PROJETO DE PESQUISA E SELEÇÃO DAS FONTES DE DADOS .....................97 1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................................97 2 BRIEFING DE PESQUISA E AS ETAPAS DO PROJETO DE PESQUISA ................................97 3 DESK RESEARCH E AS RESPONSABILIDADES DO PESQUISADOR ................................100 RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................104 AUTOATIVIDADE ...........................................................................................................................105 TÓPICO 4 – ROTEIRO PARA ELABORAÇÃO DO PROJETO DE PESQUISA .......................109 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................109 2 PASSO A PASSO DO ROTEIRO PARA ELABORAÇÃO DO PROJETO DE PESQUISA ......109 3 A ELABORAÇÃO DO PROJETO DE PESQUISA .......................................................................113 4 TIPOS DE PESQUISA .......................................................................................................................117 RESUMO DO TÓPICO 4......................................................................................................................122 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................123 TÓPICO 5 – METODOLOGIA DA PESQUISA EM COMUNICAÇÃO E DE MERCADO ......125 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................125 2 ESCOLHA DO TEMA E DELIMITAÇÃO DO OBJETO DE ESTUDO ...................................125 3 FORMULAÇÃO DO PROBLEMA E DAS HIPÓTESES DA PESQUISA ...............................127 4 MÉTODOS DE PESQUISA .............................................................................................................131 RESUMO DO TÓPICO 5......................................................................................................................135 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................137 XI UNIDADE 3 – APLICAÇÃO E INTERPRETAÇÃO DA PESQUISA EM COMUNICAÇÃO .....141 TÓPICO 1 – MÉTODOS E TÉCNICAS DE COLETA DE DADOS NA PESQUISA EM COMUNICAÇÃO ..............................................................................143 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................143 2 FONTES E TIPOS DE COLETAS DE DADOS .............................................................................143 3 MÉTODOS E TÉCNICAS DE COLETA DOS DADOS PRIMÁRIOS NA PESQUISA ........147 4 ELABORAÇÃO DE ENTREVISTAS, QUESTIONÁRIOS E FORMULÁRIOS ......................154 RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................162AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................164 TÓPICO 2 – REPARAÇÃO E EXECUÇÃO DA COLETA DE DADOS NA PESQUISA EM COMUNICAÇÃO ..............................................................................167 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................167 2 FUNDAMENTOS DA AMOSTRAGEM ........................................................................................167 3 TRABALHO DE CAMPO ..................................................................................................................172 4 TABULAÇÃO E CRUZAMENTOS DE DADOS .........................................................................174 RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................178 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................180 TÓPICO 3 – PLANEJAMENTO DO PROCESSAMENTO E ANÁLISE DOS DADOS DA PESQUISA ................................................................................................183 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................183 2 PROCEDIMENTOS QUALITATIVOS E QUANTITATIVOS DA ANÁLISE ........................183 3 ANÁLISE DESCRITIVA E ANÁLISE INTERPRETATIVA DA PESQUISA ...........................187 RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................190 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................191 TÓPICO 4 – APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS DA PESQUISA EM COMUNICAÇÃO ..............................................................................193 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................193 2 ELABORAÇÃO DO RELATÓRIO FINAL ....................................................................................193 3 A ANÁLISE GERAL ..........................................................................................................................198 4 RECOMENDAÇÕES À EMPRESA ................................................................................................200 5 OUTROS TIPOS E MÉTODOS DE PESQUISA EM COMUNICAÇÃO ................................203 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................206 RESUMO DO TÓPICO 4......................................................................................................................208 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................209 REFERÊNCIAS .......................................................................................................................................211 XII 1 UNIDADE 1 COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de: • definir o comportamento do consumidor e sua relação com o marketing e a comunicação; • interpretar o processo de compra na visão do consumidor; • analisar os fatores socioculturais que influenciam nas decisões de compra; • descrever os fatores psicológicos que afetam as decisões de compra; • examinar os fatores situacionais que agem no momento da compra. Esta unidade está dividida em cinco tópicos. No decorrer de cada unidade você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 - VISÃO GERAL DO COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR TÓPICO 2 - PROCESSO E PAPÉIS DE COMPRA DO CONSUMIDOR TÓPICO 3 - INFLUÊNCIAS SOCIOCULTURAIS E O COMPORTAMENTO DE COMPRA TÓPICO 4 - INFLUÊNCIAS PSICOLÓGICAS E O COMPORTAMENTO DE COMPRA TÓPICO 5 - INFLUÊNCIAS SITUACIONAIS E O COMPORTAMENTO DE COMPRA Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações. CHAMADA 2 3 TÓPICO 1 UNIDADE 1 VISÃO GERAL DO COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR 1 INTRODUÇÃO A teoria da soberania do consumidor, responsável pelas melhores escolhas de alternativas e decisões de compra, tem sido objeto de estudo e vem ganhando cada vez mais importância para que os profissionais de marketing e comunicação possam estimular o consumo dos produtos. Nessa perspectiva, buscamos apresentar inicialmente a necessidade de se entender o comportamento do consumidor e sua relação com o marketing e a comunicação. Na sequência, definiremos o comportamento do consumidor. Encerraremos o tópico inicial com uma breve descrição da tipologia do consumidor e com as principais variáveis que afetam as suas decisões de compra. Esses fatores serão objeto de estudo mais aprofundado no decorrer da unidade. Vamos começar? 2 SOCIEDADE DE CONSUMO E O COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR Você já deve ter ouvido e até mesmo utilizado a expressão de que o consumidor tem sempre razão, não é mesmo? Você sabe o motivo pelo qual costumamos reproduzir essa frase? Para responder a esta questão, precisamos entender o comportamento do consumidor. Para começar, precisamos recordar que as pessoas adquirem produtos e serviços em busca da satisfação de suas necessidades. Essas necessidades podem ser inatas (inerentes à natureza humana) ou adquiridas (influenciadas pelo contexto sociocultural), lembra Limeira (2008). Além disso, as pessoas têm desejos por determinados objetos. Na visão de Limeira (2008), os desejos diferem das necessidades por serem um estado psicológico direcionado à obtenção de uma satisfação por si mesmo, sem que haja uma carência que justifique esse sentimento. UNIDADE 1 | COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR 4 O consumo refere-se como a ação de consumir, ou seja, é o comportamento de seleção, escolha, compra, uso e descarte de um determinado produto ou serviço para satisfação das necessidades e desejos das pessoas (LIMEIRA, 2008). O consumidor também costuma ser chamado de cliente. Ambos os termos são usados para designar o conjunto de indivíduos, grupos ou organizações que desempenha diferentes papéis ao longo do processo de compra e uso dos produtos, define Limeira (2008). A partir desses conceitos, Samara e Morsch (2005) definem o comportamento do consumidor como o estudo de como as pessoas tomam decisões de gastar seus recursos (tempo, dinheiro, esforço) em itens relacionados ao consumo. Nesse sentido, eles caracterizam o comportamento do consumidor como um processo ou “um conjunto de estágios que envolve a seleção, a compra, o uso ou a disposição de produtos, ideias ou experiências para satisfazer necessidades e desejos” (SAMARA; MORSCH, 2005, p. 3). O comportamento do consumidor como objeto de estudo teve origem no século XX com o desenvolvimento das técnicas de produção e comercialização. Isso permitiu que produtos e serviços fossem fabricados, embalados e distribuídos em massa, originando a sociedade de consumo. De acordo com Limeira (2008), a sociedade de consumo caracteriza-se pela presença de quatro condições: • a maior parte da população consome acima de suas necessidades básicas; • a maior parte das necessidades é satisfeita pelo mercado e não pela produção doméstica; • as práticas de comprar e consumir são socialmente aprovadas e aceitas como fonte de satisfação e prazer; • as identidades de indivíduos e grupos se constroem cada vez mais baseadas nos estilos de vida definidos pelo consumo diferencial de determinados bens e serviços. Como nos informa Limeira (2008, p. 9), são quatro fatores que contribuíram para a formação da sociedadede consumo: • a produção industrial em larga escala, que possibilitou a expansão do consumo de bens padronizados; • a distribuição em massa de produtos industrializados, que garantiu o acesso da população a diversos tipos de bens; • a oferta de crédito ao consumidor, que viabilizou a aquisição dos bens de consumo; • a população passou a consumir produtos industrializados, pela influência das mensagens publicitárias, que educavam as pessoas sobre os benefícios dos novos produtos vendidos nas lojas. TÓPICO 1 | VISÃO GERAL DO COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR 5 Entre esses fatores, já podemos destacar como a publicidade está diretamente relacionada aos hábitos de consumo das pessoas, mas não é apenas por isso que estudamos o comportamento e demonstraremos isso na sequência do tópico. 3 A NECESSIDADE DE COMPREENDER O COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR Como a função principal do marketing, incluindo aí as atividades de comunicação, é de satisfazer as necessidades dos consumidores, torna-se essencial aos profissionais dessas áreas entender o comportamento do consumidor e suas razões de compra. Encontramos a justificativa para isso nas palavras de Solomon (2011, p. 35): Muito simples: entender o comportamento do consumidor é um bom negócio. Um conceito básico de marketing sustenta que as empresas existem para satisfazer as necessidades dos consumidores. Tais necessidades só podem ser satisfeitas na medida em que os profissionais de marketing conseguem compreender as pessoas ou organizações que usarão os produtos e serviços que eles estão tentando vender. A resposta do consumidor é o teste decisivo para verificar se uma estratégia de marketing será bem-sucedida. Assim, o conhecimento sobre os consumidores deve ser incorporado em cada faceta de um bom plano de marketing. Os dados sobre consumidores ajudam as organizações a definir o mercado e a identificar ameaças e oportunidades para uma marca. No mundo selvagem e extravagante do marketing, nada é para sempre: esse conhecimento também ajuda a garantir que o produto continue a ter apelo em seu principal mercado. Entretanto, compreender o comportamento dos consumidores não é tarefa fácil. Isso porque o consumidor possui razões de compra que nem sempre são fáceis de entender. Como consumidores somos influenciados por várias forças simultaneamente e que nos movem ao consumo. Quando falamos em consumo, não necessariamente estamos nos referindo ao ato da compra. Estamos tratando dos nossos hábitos e comportamentos de adquirir ou não um determinado produto. O caso do uso dos canudinhos de plástico é um hábito em vias de mudança – uma mudança na forma de consumir (utilizar) o produto. Isso fica mais evidente ao tomarmos a definição de comportamento do consumidor apresentada por Limeira (2008, p. 8), segundo a qual é “um conjunto de reações ou respostas dos indivíduos a determinados estímulos, os quais decorrem de fatores pessoais, ambientais, situacionais e de marketing”. Dessa forma, temos: UNIDADE 1 | COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR 6 • Fatores pessoais: resultam dos estados fisiológicos e psicológicos, bem como dos traços de personalidade e características individuais das pessoas. • Fatores ambientais: decorrem da natureza cultural, social, econômica, política e legal, tais como valores, opiniões, publicidade, mudanças tecnológicas, entre outros. • Fatores situacionais: são as condições circunstanciais e momentâneas que interferem nas decisões de compra, como tempo, aspectos físicos da loja ou conveniência. • Fatores de marketing: são os estímulos gerados pelo marketing através do composto de marketing (produto, preço, praça e promoção), a fim de estimular e obter respostas positivas dos consumidores. Tudo isso pode ser resumido e melhor representado na figura a seguir. FATORES PESSOAIS FATORES SITUACIONAIS FATORES AMBIENTAIS FATORES DE MARKETING Comportamento de consumo de grupos, indivíduos ou organizações Compra, uso e descarte de produtos para satisfazer necessidades e desejos FIGURA 1 – FATORES INFLUENCIADORES DO COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR FONTE: Adaptada de Limeira (2008) Na mesma linha de raciocínio, porém utilizando a analogia do comportamento do consumidor com um iceberg, Samara e Morsch (2005) sustentam que a ação de compra é apenas a parte visível do comportamento do consumidor, mas que as razões de compra envolvem questões profundas. Analogamente, pode-se dizer que o consumidor é como um iceberg. Ele se movimenta no mercado e todos podem visualizá-lo, como a ponta de um iceberg, mas suas reais intenções, motivações e atitudes permanecem ocultas. Apenas analisando-o mais profundamente, por meio da imersão em seu interior, será possível conhecer o seu todo, enxergando-o de forma integral e descobrindo as verdadeiras razões que o levam a agir de determinada forma. Esses motivos, que variam desde crenças, atitudes, preconceitos e valores até interesses, necessidades ou desejos, são as forças motrizes que estimulam o comportamento humano e variam de indivíduo para indivíduo. Influenciados por diversos fatores, que podem ser tipificados como TÓPICO 1 | VISÃO GERAL DO COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR 7 variáveis culturais, demográficas, psicológicas ou situacionais, os hábitos e comportamento de compra dos consumidores podem, de certa forma, se tornar previsíveis. Todavia, por mais que se conheçam essas influências genéricas, o risco de análise incorreta poderá existir em um caso específico (SAMARA; MORSCH, 2005, p. 4). A figura a seguir nos permite visualizar a analogia do comportamento do consumidor com um iceberg e entender exatamente o que os autores nos disseram a respeito. FIGURA 2 – CONSUMIDOR COMO UM ICEBERG FONTE: Samara e Morsch (2005, p. 5) São esses fatores que estudaremos mais a fundo nos tópicos seguintes. Antes de continuarmos, precisamos classificar os consumidores de acordo com a forma como decide por uma compra. Essa tipologia será o tema abordado na sequência. 4 TIPOLOGIA DO CONSUMIDOR No início do tópico, definimos o consumidor e o cliente como sinônimos. No entanto, precisamos recordar que muitas vezes utilizamos determinados produtos ou serviços, mas nem sempre somos nós quem fizemos a escolha e a compra. Por exemplo, é muito comum que os homens sejam os usuários de cuecas, mas em geral quem efetua a compra são as mulheres (mães ou esposas). Na sua empresa você consome uma água disponível no bebedouro (consumidor), mas quem faz a escolha é o setor de compras. Dessa forma, Samara e Morsch (2005) nos mostram a existência de dois tipos de consumidores. São eles: UNIDADE 1 | COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR 8 • Consumidor pessoal (individual): são os compradores de bens para uso próprio, para a casa ou para presentear amigos e parentes. Nessas situações os bens são adquiridos para uso final dos indivíduos. Veremos no Tópico 2 da unidade os vários papéis assumidos por um consumidor ao estudarmos o processo de compra. • Consumidor organizacional (empresas): são as empresas, órgãos governamentais, instituições civis e organizações que adquirem matérias- primas e componentes de fornecedores para produzirem seus produtos e serviços. O consumidor organizacional apresenta particularidades no processo de compra e, por essa razão, será objeto de estudo no início da Unidade 2 da disciplina. Dessa forma, a partir dos conceitos apresentados inicialmente, partiremos, no segundo tópico desta unidade, a entender os tipos de compra, o processo de decisão de compra e os vários papéis que um consumidor pode representar ao comprar um produto. Até lá! Sempre que consumimos algum produto, costumamos deixar evidências e nem sempre nos damos conta disso. É o caso do descarte de embalagens, restos de objetos, coisas que não queremos mais, e que marcam a nossa passagem por ali. Para representar esse conjunto de marcas deixadas pela passagem de algo ou alguém, usamos a expressão pegada de consumo ou pegada ecológica. Essas pegadas de consumotambém podem ser deixadas em nossa navegação na internet e redes sociais. Divirta-se com a crônica O lixo, de Luís Fernando Veríssimo, que revela como ela age na prática e demonstra a sua relação com o comportamento do consumidor. Disponível em: http://portaldoprofessor.mec.gov. br/fichaTecnicaAula.html?aula=7243. DICAS 9 Neste tópico, você aprendeu que: • Os seres humanos consomem em busca da satisfação de suas necessidades. • As necessidades podem ser inatas (inerentes à natureza humana) ou adquiridas (influenciadas pelo contexto social e cultural). • Os desejos diferem das necessidades por serem um estado psicológico direcionado à obtenção de uma satisfação por si mesmo, sem que haja uma carência que justifique esse sentimento. • O consumo é o comportamento de seleção, escolha, compra, uso e descarte de um determinado produto ou serviço para satisfação das necessidades e desejos das pessoas. • O consumidor caracteriza-se pelo conjunto de indivíduos, grupos ou organizações que desempenha diferentes papéis ao longo do processo de compra e uso dos produtos. • O comportamento do consumidor consiste no estudo de como as pessoas tomam decisões de gastar seus recursos (tempo, dinheiro, esforço) em itens relacionados ao consumo. • A sociedade de consumo caracteriza-se pelo consumo acima das necessidades, pela satisfação das necessidades pelo mercado, pela aceitação social do consumo e pela identidade formada pelo consumo. • Como a função principal do marketing é de satisfazer as necessidades dos consumidores, torna-se essencial entender o comportamento do consumidor e suas razões de compra. • Os fatores que influenciam as decisões de compra são os pessoais, ambientais, situacionais e de marketing. • O consumidor pode ser tipificado em individual (usuários finais) ou organizacionais (empresas). RESUMO DO TÓPICO 1 10 1 A respeito das condições que caracterizam a sociedade de consumo, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas: ( ) A maior parte da população consome acima de suas necessidades básicas. ( ) As práticas de comprar e consumir são socialmente aprovadas e aceitas como fonte de satisfação e prazer. ( ) A maior parte das necessidades é satisfeita pelo mercado e não pela produção doméstica, pela dádiva ou pelo escambo. Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: a) ( ) V, V, V. b) ( ) F, F, F. c) ( ) V, F, V. d) ( ) F, V, V. e) ( ) F, V, F. 2 A sociedade somente se estabeleceu devido ao desenvolvimento de técnicas de produção e comercialização, que permitiram que produtos fossem fabricados, embalados e distribuídos em massa. Nesse sentido, assinale a alternativa CORRETA que apresenta uma das características da sociedade de consumo: a) ( ) A maior parte da população consome acima de suas necessidades básicas. b) ( ) Representa a carência inerente à natureza humana e recorrente ao longo da vida. c) ( ) É uma condição indispensável para o crescimento das empresas e consiste na identificação de um grupo de clientes com características em comum. d) ( ) Cria expectativas favoráveis, de modo a estimular o consumidor a experimentar um produto/serviço. e) ( ) Oferta de crédito ao consumidor, que viabilizou a aquisição dos bens de consumo. 3 Preencha os espaços em branco com o tipo de fator influenciador do comportamento do consumidor caracterizado na sentença: ___________________: são as decisões de produto, preço, distribuição e promoção que estão sob controle da empresa e que visam provocar certas respostas nos consumidores. ___________________: o conjunto de estados fisiológicos e psicológicos, bem como os traços de personalidade e as características particulares do indivíduo, como emoções e percepções, crenças e experiências, idade e renda, estados de privação ou carência, entre outros. AUTOATIVIDADE 11 ___________________: são as condições de natureza cultural, social, econômica, política e legal, como valores compartilhados, opiniões de membros da família e grupos de referência ou mensagens transmitidas pelos veículos de comunicação. ___________________: são as condições circunstanciais e momentâneas que interferem no comportamento do consumidor, como sua disponibilidade de tempo e as características do ambiente físico da loja, por exemplo, no momento da compra. A alternativa correspondente à sequência CORRETA é: a) ( ) Pessoais, ambientais, situacionais, marketing. b) ( ) Ambientais, situacionais, marketing, pessoais. c) ( ) Produto, preço, praça, promoção. d) ( ) Seleção, escolha, uso, descarte. e) ( ) Marketing, pessoais, ambientais, situacionais. 4 “O marketing é uma filosofia de negócio que estabelece como princípio atender às necessidades e aos desejos dos clientes” (SAMARA; MORSCH, 2005, p. 6). Com relação ao marketing e ao comportamento do consumidor, analise as asserções a seguir e a relação proposta entre elas: I- Ao analisarmos as definições de marketing, podemos relacionar claramente a interdependência entre estudo do comportamento do consumidor e a gestão mercadológica. PORQUE II- O marketing pode ser definido como a arte e a ciência de conquistar e manter clientes rentáveis ao desenvolver ofertas que atraiam e mantenham os clientes satisfeitos. A respeito dessas asserções, assinale a opção CORRETA: a) ( ) As asserções I e II são proposições verdadeiras, e a II é uma justificativa da I. b) ( ) As asserções I e II são proposições verdadeiras, mas a II não é uma justificativa da I. c) ( ) A asserção I é uma proposição verdadeira, e a II é uma proposição falsa. d) ( ) A asserção I é uma proposição falsa, e a II é uma proposição verdadeira. e) ( ) As asserções I e II são proposições falsas. 12 13 TÓPICO 2 PROCESSO E PAPÉIS DE COMPRA DO CONSUMIDOR UNIDADE 1 1 INTRODUÇÃO Focaremos neste tópico em descobrir os processos que envolvem a decisão de compra do consumidor. Iniciaremos com os tipos de comportamento de compra e a busca de informação e o envolvimento do consumidor com a situação. Estudaremos na sequência as etapas que ocorrem em cada uma das compras. Você perceberá que, mesmo sem saber, acaba por obedecer a cada uma delas e quais são os principais fatores envolvidos em cada uma dessas etapas. Na parte final do tópico, conheceremos os vários papéis que o consumidor pode assumir no momento da compra. Afinal, como já vimos, nem sempre somos os mesmos que compramos e utilizamos os produtos ou serviços. Vamos em frente! 2 TIPOS DE COMPRAS E ENVOLVIMENTO DO CONSUMIDOR Para começar este tópico, imagine que você está em casa em um fim de semana e descobre que precisa comprar um creme de leite que faltou para terminar de cozinhar aquele estrogonofe de domingo. Como você reagiria nesta situação de compra? Da mesma forma, vamos supor que, neste mesmo fim de semana, você se depare com um novo modelo de aparelho de celular. Qual seria a sua reação com relação à possibilidade de compra de um novo smartphone? Certamente, nas duas ocasiões, você teria reações totalmente diferentes. No primeiro caso, você procuraria o item em qualquer loja de conveniência ou mercado próximo a sua casa. Muito provavelmente você se importaria menos com a marca e mais com a facilidade e o preço. Já com o celular, você pesquisaria sobre a marca, as características e funcionalidades oferecidas pelo aparelho, as cores disponíveis e as condições de pagamento. Afinal, este é um item que você usará por mais tempo e terá um relacionamento e envolvimento maior com ele. UNIDADE 1 | COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR 14 Essas duas situações nos mostram como existem tipos de compras diferentes que são mais ou menos complexas. Da mesma forma, existem tipos de compras em que nos envolvemos mais ou menos com o processo de compra. Nesse sentido, Samara e Morsch (2005) nos ensinam que as compras complexas exigem maior envolvimento do que nas compras habituais. Isso porque as primeiras abrangem maior necessidade de informação,envolvem maiores riscos e são expressivas em relação às segundas. Antes de investigarmos como se dá o processo de compra, precisamos reconhecer os pressupostos relacionados a esse processo. O primeiro deles diz respeito à busca de informação e o segundo refere-se ao envolvimento. De acordo com Samara e Morsch (2005), esses dois fatores afetam a maneira como as pessoas planejam e fazem as compras, e, portanto, esses fatores possuem efeito fundamental sobre o comportamento de compra. A busca de informação consiste na quantidade de tempo e de energia que um consumidor dedica ao processo de coleta de dados antes de tomar a decisão final (SAMARA; MORSCH, 2005). Enquanto alguns levam mais tempo, outros tomam suas decisões mais rapidamente. Isso vai depender do tipo de produto a ser comprado pela pessoa. Conforme a reflexão inicial do tópico, existem diversos tipos de compras. Segundo Gioia (2006, p. 97), as compras podem ser classificadas e caracterizadas na seguinte escala: • Compra totalmente planejada: é o tipo de compra em que se sabe exatamente o que se vai comprar, inclusive a marca. • Compra parcialmente planejada: é o tipo de compra em que se sabe o que se deseja, mas a marca será decidida no ponto de venda. • Compra não planejada: é o tipo de compra em que o consumidor decide a compra e a marca no ponto de venda. • Compra por impulso: compra não planejada com características extras, como o sentimento de urgência e a necessidade de ação rápida. O envolvimento, segundo Samara e Morsch (2005), refere-se ao grau de preocupação e cuidado que o consumidor investe na decisão de compra. Quanto mais voltada à autoimagem do consumidor, mais envolvido ele estará com a decisão de compra. Esse envolvimento pode ter várias dimensões, como nos mostra Gioia (2006, p. 94) ao descrever os fatores que agem no aumento do nível de envolvimento do consumidor com a compra: • Importância de autoexpressão: produtos que auxiliam as pessoas a expressarem seu autoconceito para os outros. • Importância hedônica: produtos que são agradáveis, interessantes, divertidos, fascinantes e excitantes. TÓPICO 2 | PROCESSO E PAPÉIS DE COMPRA DO CONSUMIDOR 15 • Relevância prática: produtos que são essenciais ou benéficos por razões utilitárias. • Risco de compra: produtos que criam incertezas porque uma má escolha causaria extremo aborrecimento para o comprador. Outro aspecto importante no estudo do comportamento do consumidor, apontado por Bretzke (2004), diz respeito à tipologia do consumidor. A tipologia busca descrever e classificar o cliente de acordo com o estágio, intensidade do relacionamento e o envolvimento com a marca. Dentro da tipologia do consumidor, Bretzke (2004) nos mostra que os clientes podem ser classificados em: • Suspect: são as pessoas ou empresas consideradas possíveis compradoras do produto ou serviço. • Prospects: são as pessoas ou empresas que podem se beneficiar do produto ou serviço e têm o potencial financeiro e o poder de decisão para a compra. • Prospect qualificado: pode surgir quando se inicia o processo de relacionamento com o prospect e ele manifesta algum tipo de interesse na empresa. Depois de efetuada a primeira compra pelo consumidor, podemos seguir essa tipologia ao construirmos a hierarquia de clientes. De acordo com Bretzke (2004), essa escala inclui: • Cliente de primeira ou experimentadores: são os clientes que realizaram a primeira compra. • Clientes fiéis: são os clientes satisfeitos, têm atitude favorável com relação à marca, repetem a compra, mas não concentram a maioria do volume comprado naquela marca específica. • Repetidores: são os clientes que concentram a maior parte das compras do produto ou serviço em determinada marca. • Advogados da marca: são os clientes que, além de repetirem a compra, têm alto envolvimento emocional com a marca e indicam o produto ou serviço a outras pessoas. A fim de visualizarmos essa escala hierárquica dos clientes, observe a seguinte figura. UNIDADE 1 | COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR 16 FIGURA 3 – HIERARQUIA DOS CLIENTES FONTE: Adaptada de Bretzke (2004) SUSPECT PROSPECT PROSPECT QUALIFICADO EXPERIMENTADOR CLIENTES FIÉIS REPETIDORES ADVOGADOS DA MARCA TEMPO NÚMERO DE COMPRAS Os fatores de busca de informação, envolvimento e hierarquização dos clientes são fundamentais e estão intimamente relacionados com o processo de decisão de compra, cujo tema será estudado na sequência. 3 PROCESSO DE DECISÃO DE COMPRA Ao estudarmos o comportamento do consumidor, temos nos referido a um processo de decisão de compra. Um processo é um conjunto de etapas que precisam ser obedecidas para que ele se complete. Na condição de consumidores, talvez nem saibamos, mas seguimos essas etapas. Como nos dizem Kotler e Keller (2006), os estudiosos do marketing desenvolveram um modelo de etapas para descrever o processo de compra. Essas cinco etapas são: reconhecimento da necessidade, busca de informações, avaliação de alternativas, decisão de compra e avaliação de pós-compra. Observe na figura a seguir. FIGURA 4 – ETAPAS DO PROCESSO DE DECISÃO DE COMPRA FONTE: Adaptada de Kotler e Keller (2006) RECONHECIMENTO DA NECESSIDADE BUSCA DE INFORMAÇÃO AVALIAÇÃO DAS ALTERNATIVAS DECISÃO DE COMPRA AVALIAÇÃO DE PÓS-COMPRA TÓPICO 2 | PROCESSO E PAPÉIS DE COMPRA DO CONSUMIDOR 17 Como podemos perceber pela descrição das etapas, esse processo começa bem antes da compra de fato, e tem consequências que perduram por muito tempo, porém, Kotler e Keller (2006, p. 189) nos atentam para a seguinte consideração: [...] nem sempre os consumidores passam por todas as cinco etapas ao comprar um produto. Eles podem pular ou inverter algumas delas. Uma mulher, ao comprar sua marca habitual de creme dental, vai direto da necessidade de creme dental à decisão de compra, pulando a busca de informações e a avaliação de alternativas. Contudo, esse modelo proporciona uma boa referência, uma vez que ele capta a gama total de considerações que surgem quando um consumidor se depara com uma nova compra altamente envolvente. Em síntese, todos esses fatores alteram o comportamento do consumidor e todos eles interagem entre si de maneira diferente, de acordo com o momento da compra e a pessoa envolvida na compra (GIOIA, 2006). Para entendermos as etapas do processo de compra, começaremos pelo estágio de reconhecimento da necessidade. Ele inicia o processo e começa quando a pessoa reconhece uma carência em seu estado atual e vontade de satisfazer essa necessidade. Samara e Morsch (2005, p. 27-28) descrevem a existência de três tipos de reconhecimento de necessidade: • Necessidade de reposição: é a situação comum em que um item de baixo custo, comprado com frequência, é regularmente abastecido. • Necessidade funcional: surge quando o consumidor está em busca de uma solução para uma exigência específica e geralmente mais importante. • Necessidade emocional: constitui um desafio aos profissionais de marketing e comunicação em identificar a necessidade de status, prestígio ou de conquista através da compra de uma ampla gama de produtos. Na etapa de busca de informações, o consumidor demonstra seu envolvimento com a compra do produto. Quanto mais envolvimento, maior a necessidade e interesse dele em levantar essas informações a respeito do produto que possa satisfazê-lo (KOTLER; KELLER, 2006). Ao buscar informações, o consumidor tende a recorrer a diversas fontes de informação. Como nos dizem Kotler e Keller (2006) e Samara e Morsch (2005), as fontes de informação podem ser divididas em quatro grupos: • Fontes pessoais: compreende a família, os amigos, os vizinhos e os conhecidos. • Fontes comerciais: abrange a propaganda, vendedores, representantes, embalagens e mostruários. • Fontes públicas: inclui os meios de comunicação de massa e as organizações de classificação de consumo. • Fontes experimentais: engloba o manuseio, o exame e o uso do produto. UNIDADE 1 | COMPORTAMENTODO CONSUMIDOR 18 Além disso, dependendo da necessidade de informação, Gioia (2006) destaca que a busca de informações pode ser dividida em três tipos: • Busca rotineira: sem a necessidade de buscar informação nova. • Solução estendida: demanda tempo e energia e a busca é prolongada devido aos riscos envolvidos na compra. • Busca ilimitada: o tempo de busca de informação é predeterminado porque o risco da compra é limitado ou o serviço não é complexo ou técnico. Depois de reconhecer a necessidade, buscar informações sobre os produtos ou serviços que poderiam ou não lhe satisfazer e ainda antes de efetuar a compra, o consumidor cumpre a etapa de avaliação das alternativas. Nessa fase do processo de decisão de compra são selecionadas as alternativas que podem atender às necessidades do comprador. Segundo Gioia (2006), a avaliação inclui as dimensões de preço, nome da marca ou origem do produto e outros atributos de interesse do consumidor. Ao final da etapa de avaliação das alternativas, o consumidor utiliza aquilo que se denomina de regra de decisão. Essa regra pode ser feita por um modelo compensatório, no qual o consumidor avalia mentalmente os atributos do produto, ou não compensatório, segundo o qual um ponto fraco do produto não pode ser compensado pelo desempenho superior do produto em outros atributos (GIOIA, 2006). Somente depois disso é que o consumidor decide pela compra. Nessa etapa ele identifica a alternativa favorita e toma a sua decisão de compra. Essa etapa pode ser alterada de acordo com o tipo de compra, que já estudamos inicialmente no tópico, lembra? Mesmo depois de realizar a compra, o processo decisório ainda prossegue. A última fase corresponde a uma avaliação de pós- compra. Segundo Gioia (2006), nessa fase, o consumidor pode se arrepender ou pode aprovar e reforçar a sua decisão em favor da compra efetuada. A partir dessa resposta, os profissionais de marketing podem prever os possíveis comportamentos do consumidor. São eles: abandonar o produto (insatisfação total), reclamar (pode levar a dar uma nova chance de compra) ou lealdade (repetir sempre a compra), diz Gioia (2006). Para complementar essa etapa de pós-compra, Samara e Morsch (2005) explicam que o consumidor pode ainda buscar informações adicionais para reforçar a sua decisão e considerá-la como assertiva, ou ainda pode adquirir produtos relacionados que complementem o original. Kotler e Keller (2006) acrescentam ainda a necessidade de os profissionais de marketing monitorarem como os consumidores usam e descartam o produto. Afinal, quanto mais rápido usarem, mais rápido deverão voltar a comprá-lo, caracterizando a taxa de consumo do produto. TÓPICO 2 | PROCESSO E PAPÉIS DE COMPRA DO CONSUMIDOR 19 Agora que interpretamos as cinco etapas do processo de decisão de compra e conhecemos os tipos de compra e a tipologia do consumidor, podemos identificar os papéis do consumidor no processo de decisão de compra. O assunto será abordado na sequência. 4 PAPÉIS DO CONSUMIDOR NO PROCESSO DE COMPRA O processo de decisão de compra nem sempre será exercido por uma única pessoa. Como já nos referimos no início deste livro, um produto pode ser comprado por uma determinada pessoa, utilizado por outra e descartado ainda por uma terceira pessoa. Isso tudo nos mostra uma possibilidade de papéis que um indivíduo pode exercer na hora de comprar um produto. Conforme apresentam Samara e Morsch (2005, p. 40), a unidade de tomada de decisão compreende vários papéis que as pessoas envolvidas poderão desempenhar. • Iniciador: é o indivíduo que primeiro sugere a ideia de compra de determinado produto. • Influenciador: é a pessoa cuja opinião ou ponto de vista tem forte peso para que se chegue à decisão final. • Decisor: é a pessoa que determina a decisão de comprar. • Comprador: é a pessoa que efetivamente realiza a compra. • Consumidor (ou usuário): é a pessoa que consome ou utiliza o produto. • Avaliador: é o indivíduo que julga se o produto é adequado ao uso. Ao considerarmos os possíveis papéis dos consumidores, Limeira (2008) não inclui as personagens do iniciador e do avaliador, porém, encontramos em Limeira (2008) e em Samara e Morsch (2005) exemplos que nos permitem visualizar esses papéis dos consumidores na prática. UNIDADE 1 | COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR 20 QUADRO 1 – PAPÉIS DOS CONSUMIDORES EXEMPLIFICADOS FONTE: Adaptado de Limeira (2008) e Samara e Morsch (2005) Tipos de clientes Papel do cliente Exemplo do consumo de fralda Exemplo de compra de computador Exemplo de compra de um celular Iniciador Sugerir a compra do produto. Babá que identifica que a criança precisa de fraldas. Funcionário que precisa de um computador. Jovem vê o comercial na televisão. Usuário Usufruir dos benefícios do produto. Criança que usa fraldas descartáveis. Gerente que usa computador da empresa. Jovem que ganha o novo modelo de celular. Comprador Efetuar a compra. Mãe que vai ao supermercado comprar fraldas descartáveis. Gerente de suprimentos que compra computadores para a empresa. Pai/mãe que fará a compra do novo modelo de celular. Influenciador Exercer influência sobre o comprador ou usuário. Alguém (amiga) que recomenda a fralda à mãe. Engenheiro que participa da decisão de compra dos computadores. Amigo do jovem que diz ter um semelhante e gostar do modelo. Decisor Decidir pela compra, sem necessariamente usar o produto comprado. Pai/mãe da criança, que pode decidir o que vai ser comprado. Gerente que decide as compras da organização onde trabalha. Mãe/pai que concorda com a compra do produto. Avaliador Julgar se o produto é adequado ao uso. Mãe que julga a qualidade da fralda. Funcionários do setor de manutenção da empresa. Jovem que ganhou o produto e demonstra sua satisfação. Agora já possuímos as bases para começarmos a identificar e explicar os fatores que influenciam as decisões de compra dos consumidores, mas esse assunto será tratado nos próximos tópicos, a começar pelas influências socioculturais. Com o objetivo de demonstrar como ocorre o processo de compra e como as organizações podem influenciar em nossas decisões, recomendamos a leitura do artigo O poder que as ofertas têm na decisão de compra, disponível no endereço: https://www.mundodomarketing.com.br/artigos/fabio-carneiro/38189/o-poder-que-as- ofertas-tem-na-decisao-de-compra.html. DICAS 21 RESUMO DO TÓPICO 2 Neste tópico, você aprendeu que: • Existem situações de compra mais complexas e outras menos complexas. • A complexidade da compra reflete no envolvimento que os consumidores têm com o processo de compra. • Compras complexas demandam envolvimento, necessidade de informação e envolvem risco por serem expressivas. • A busca de informação consiste na quantidade de tempo e de energia que um consumidor dedica ao processo de coleta de dados antes de tomar a decisão final. • As compras podem ser classificadas em totalmente planejadas, parcialmente planejadas, não planejadas e por impulso. • O envolvimento refere-se ao grau de preocupação e cuidado que o consumidor investe na decisão de compra. • Os fatores que agem no envolvimento com a compra são a importância da autoexpressão, importância hedônica, relevância prática e risco de compra. • A tipologia do consumidor hierarquiza os consumidores, que vão desde a suspeita de ser o comprador até se tornar um advogado da marca. • Os estudiosos do marketing desenvolveram um modelo de etapas para descrever o processo de compra. • As cinco etapas do processo de compra são o reconhecimento da necessidade, busca de informações, avaliação de alternativas, decisão de compra e avaliação de pós-compra. • O reconhecimento da necessidade inicia o processo e inclui a necessidade de reposição, funcional e emocional. • A etapa de busca de informações refere-se às fontes usadas para identificar os produtos prováveis de seremcomprados e podem ser pessoais, comerciais, públicas ou experimentais. • A fase de avaliação de alternativas inclui as dimensões de preço, nome da marca ou origem do produto e outros atributos de interesse do consumidor. 22 • Na etapa de decisão de compra, o consumidor escolhe o produto, a marca, o local e o preço que se dispõe a pagar pelo produto. • A última etapa do processo corresponde à avaliação pós-compra, que permite saber se ele se arrependeu ou ficou satisfeito com sua decisão. • Uma compra pode ser feita sob a influência de diversas pessoas, que podem ser o iniciador, influenciador, decisor, comprador, consumidor e avaliador. 23 1 (ENADE - 2012) Nos últimos anos, os profissionais de Marketing têm aperfeiçoado a compreensão do comportamento do consumidor, com o objetivo de entender como os indivíduos, de fato, tomam suas decisões acerca da compra de produtos e serviços. Para isso, os especialistas em Marketing desenvolveram um modelo que representa um fluxo de etapas, denominado processo de decisão de compra do consumidor, como ilustrado pela figur a a seguir. AUTOATIVIDADE Reconhecimento do problema Busca de informações Avaliação de alternativas Decisão de compra Comportamento pós-compra FONTE: KOTLER, P.; KELLER, K. L. Administração de marketing. 12. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2006. Para lidar com a atitude do consumidor na terceira etapa do fluxo descrito anteriormente, o profissional de Marketing: FONTE: <https://www.aprovaconcursos.com.br/questoes-de-concurso/questao/600550>. Acesso em: 26 fev. 2020. a) ( ) Não poderá interferir na técnica de análise de valor (relação custo/ benefício) para o cliente. b) ( ) Deverá propor a realocação da categorização de produtos na etapa de reconhecimento do problema pelo consumidor. c) ( ) Deverá dar pouca importância a essa etapa, pois os consumidores dedicam pouco tempo e esforço avaliando marcas, produtos e serviços. d) ( ) Deverá propor estratégias para compreender como o consumidor processa as informações de cada marca e faz um julgamento de valor final do produto/serviço. e) ( ) Deverá defender a ideia de que os produtos do conjunto evocado (produtos memorizados e predominantes no ambiente de vendas) de um consumidor tendem a ser aqueles que possuem diferentes características. 2 De acordo com os tipos de clientes expressos, enumere a segunda coluna com os respectivos papéis desempenhados pelos clientes e depois assinale a alternativa correta correspondente à sequência. 1- Usuário. 2- Comprador. 3- Influenciador. 4- Decisor. 24 ( ) Efetuar a compra. ( ) Decidir pela compra, sem necessariamente usar o produto. ( ) Exercer influência sobre o comprador ou usuário. ( ) Usufruir dos benefícios dos produtos. A alternativa correspondente à sequência CORRETA é: a) ( ) 1, 2, 3, 4. b) ( ) 2, 4, 3, 1. c) ( ) 2, 3, 4, 1. d) ( ) 3, 2, 1, 4. e) ( ) 4, 3, 2, 1. 3 (PROVÃO - 1998) Os estágios do processo decisório de compra do consumidor são: reconhecimento da necessidade, busca de informação, avaliação de alternativas, decisão de compra e comportamento pós-compra. Assinale a opção que identifica corretamente o estágio em que se encontra o consumidor: FONTE: <https://www.trabalhosgratuitos.com/Outras/Diversos/COMPORTAMENTO-DE- COMPRA-E-CONSUMO-450344.html>. Acesso em: 26 fev. 2020. a) ( ) Quando Marta chegou em casa e verificou a falta de alguns artigos para fazer o jantar, ela estava tomando uma decisão de compra. b) ( ) João sempre leu revistas técnicas sobre carros, o que indica o reconhecimento da necessidade de comprar um carro. c) ( ) Mauro, após consultar amigos sobre determinadas marcas de computador e visitar lojas do ramo, possui informações para avaliar as alternativas oferecidas. d) ( ) Carla, quando o carro novo, recém-adquirido, apresentou um defeito intermitente, passou à fase de busca de informação sobre como solucionar o problema. e) ( ) Joaquim está no estágio pós-compra, pois, após buscar informações e visitar alguns apartamentos para alugar, decidiu não se mudar do endereço atual. 4 O envolvimento e a busca de informação afetam a maneira como as pessoas planejam e fazem as compras. Isso porque existem diversos tipos de compras. Com relação aos tipos de compras, avalie as asserções a seguir. I- A compra não planejada é aquela em que o consumidor decide pela compra e a marca no ponto de venda. II- A compra totalmente planejada é aquela que ocorre com características extras e incluem o sentimento de urgência e de ação rápida. III- A compra parcialmente planejada é aquela em que o consumidor sabe o que deseja, mas a marca será decidida no ponto de venda. 25 É CORRETO o que se afirma em: a) ( ) I, apenas. b) ( ) I e III, apenas. c) ( ) II e III, apenas. d) ( ) III, apenas. e) ( ) I, II e III. 26 27 TÓPICO 3 INFLUÊNCIAS SOCIOCULTURAIS E O COMPORTAMENTO DE COMPRA UNIDADE 1 1 INTRODUÇÃO Como toda compra de objetos ocorre em um determinado contexto social, os consumidores acabam sendo influenciados por variáveis culturais e sociais na hora de decidirem os produtos e serviços a serem adquiridos. Iniciaremos o tópico demonstrando como os grupos sociais influenciam nas decisões de compra. Nesse sentido, conheceremos o papel da família, das classes sociais, dos grupos de referência e do gênero assumido pelo consumidor. Em seguida analisaremos como a cultura e a subcultura agem sobre os indivíduos em suas decisões de compra. Nas questões culturais, avaliaremos também como a religião e a etnia podem influenciar os comportamentos de compra das pessoas. 2 CONTEXTO SOCIAL E O COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR Você deve se recordar de que no início deste Livro Didático nos referimos ao comportamento do consumidor como um iceberg, cuja parte visível consiste no ato da compra, mas que as motivações para isso são bem mais profundas e ocultas. Entre essas razões ocultas, os autores classificam as influências sociais e culturais como elementos que afetam o comportamento de compra das pessoas. Assim, optamos por denominar como influências socioculturais esses fatores. Como nos lembram Samara e Morsch (2005), os consumidores não tomam decisões isoladas e compram sempre como parte de um contexto social. Dessa forma, essas influências externas contribuem para a tomada de decisão com relação aos produtos que os satisfaçam. Assim: Frequentemente os consumidores respondem a um conjunto de influências externas e interpessoais, decidindo suas compras baseados no que eles acreditam que projetarão imagens favoráveis aos demais e que atenderão às expectativas que os outros têm dele. Seja no seio 28 UNIDADE 1 | COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR familiar, no contexto escolar, nos grupos universitários, no ambiente profissional ou nos clubes sociais, estamos interagindo com outras pessoas o tempo todo, sofrendo suas influências e sendo afetados pelas culturas e pelos valores inerentes a esses grupos. Embora esses fatores não possam ser controlados pelos profissionais de marketing, eles devem ser constantemente levados em consideração, pois suas forças moldarão as pessoas que vivem naquele contexto social (SAMARA; MORSCH, 2005, p. 54). Isso pode ser exemplificado com o caso dos jovens com relação aos seus grupos de amigos. Se você disser que não compra um telefone celular porque não usa para nada, muito menos navega na internet, certamente eles ficarão um pouco decepcionados, pois não esperam isso de você. Portanto, para começo de conversa, precisamos recordar o conceito de interação social como um processo existente entre dois ou mais indivíduos, em que a ação de um deles é, ao mesmo tempo, resposta a outro indivíduo e estímulo para as ações deste (KARSAKLIAN, 2014). Quando você opta por uma determinada marca de um aparelho de celular, sua escolha resulta da interação com outras pessoas. Da mesma forma, a sua escolha serve de referência para as outras pessoas com as quais vocêinterage socialmente. Pense nas vezes em que, antes de efetuar uma compra, você perguntou a pais, familiares, amigos e colegas de faculdade ou de trabalho, o que eles achavam sobre um determinado produto. Ao decidir a sua compra, você considerou as opiniões deles também. Assim, com base em Karsaklian (2014), Gioia (2006), Samara e Morsch (2005) e Solomon (2011), podemos relacionar como principais influências sociais e culturais: grupos de referência, família, papéis do homem e da mulher, classe social, cultura e subculturas. Em partes, esses fatores explicam as razões de compra das pessoas, porém, elas não explicam totalmente os motivos. Como nos diz Karsaklian (2014, p. 99): Assim, motivações, percepções e atitudes do consumidor constituem um ponto de partida lógico, mas insuficiente para explicar seu comportamento. Lógico, porque as decisões de compra são sempre fatos ligados a indivíduos. Insuficiente, porque elas explicam, antes de tudo, as preferências e intenções, mas não necessariamente o comportamento que seguirá. Assim, vamos conhecer um pouco das características de cada um dos fatores socioculturais que afetam o nosso comportamento como consumidor. Eles serão descritos e, em grande parte exemplificados, na sequência do tópico. TÓPICO 3 | INFLUÊNCIAS SOCIOCULTURAIS E O COMPORTAMENTO DE COMPRA 29 3 VARIÁVEIS SOCIOCULTURAIS QUE AFETAM O COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR Como toda as nossas ações ocorrem através de interações sociais, devemos começar pelos grupos de referências. De acordo com Gioia (2006, p. 82), “um grupo corresponde a duas ou mais pessoas juntas com um propósito em comum”. Os grupos podem ser transitórios, como no caso de expectadores em um teatro, ou permanentes, como no caso das famílias. Esses grupos recorrem para uma orientação de seu próprio comportamento e valores, e dos quais buscamos aprovação (GIOIA, 2006). Na sequência desse raciocínio, Karsaklian (2014) entende que os grupos sociais impõem certo modo de consumo. Isso porque eles são grupos de referências, ou seja, toda agregação de interação pessoal que influencia as atitudes e os comportamentos de um indivíduo. Os grupos sociais podem ser classificados em primários e secundários. O grupo primário é aquele que possui laços afetivos íntimos e pessoais que unem seus membros, enquanto os grupos secundários são aqueles de relações mais formais e impessoais (KARSAKLIAN, 2014). Qual é a importância que damos aos grupos de referência? Segundo Karsaklian (2014), os grupos cumprem duas funções. A primeira delas é de identificação com relação aos grupos a que pertencemos. A segunda função é normativa de transmissão de valores, normas e rituais. Como exemplo de grupos primários podemos citar sua família ou seus colegas de faculdade mais próximos. Você interage com frequência com eles, leva em consideração suas opiniões, escolhe participar desses grupos ou se reconhece como integrante dele (como se fossem tribos). Já os grupos secundários são aqueles em que você mantém um contato mais formal e impessoal, como no caso dos seus colegas de trabalho. Se você deixar o emprego, provavelmente o grupo a que pertence deixará de existir e você perderá o contato e influência dele. Tanto os grupos primários quanto os secundários influenciam nas decisões de compra dos consumidores de três formas. Segundo Solomon (2011) e Samara e Morsch (2005), essas influências podem ser: • Influência informativa: o indivíduo busca informação sobre o produto em grupos de profissionais especialistas ou associações que trabalham com o produto como profissão. • Influência utilitária: a decisão de compra é baseada no desejo de satisfazer os colegas de trabalho ou pessoas com as quais o indivíduo tem interações. 30 UNIDADE 1 | COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR • Influência expressiva de valor: o indivíduo acha que a compra ou o uso de determinada marca promoverá a imagem que os outros têm dele e lhe agregará a imagem que ele deseja ter ou aspira ser (sendo de identidade e idealização). Observe como as propagandas utilizam celebridades para endossar as mensagens publicitárias sobre um determinado produto. Como essa pessoa é uma referência para as pessoas, ela acaba estimulando que seus fãs e admiradores comprem o mesmo produto que ela diz usar. Dentro dos grupos de referência, a família e o domicílio representam um caso especial. Primeiro porque a família é o nosso primeiro grupo de referência e, segundo, porque em um domicílio podem morar mais de uma família, explica Gioia (2006). Portanto: O processo decisório familiar é complexo e deve ser compreendido pelos profissionais de marketing para que possam direcionar apropriadamente seus esforços. Dentro do contexto da família, vários aspectos da decisão de consumo podem ser controlados por seus diferentes membros. Durante a fase de coleta de informações, os adultos e as crianças da família podem contribuir para a obtenção de conhecimento sobre os produtos. Qualquer pessoa que tenha filhos pequenos sabe que eles representam fontes bem informadas sobre diversas áreas, como brinquedos e alimentos tipo snack. Além disso, há a influência exercida sobre a definição dos critérios a serem usados na avaliação das marcas. As decisões sobre produtos e marcas podem ser tomadas por uma única pessoa da família ou pela combinação de vários de seus membros. O comprador final pode tanto ser o tomador da decisão quanto outro membro da família, que simplesmente fez o papel de “anotador de pedidos”, e, finalmente, há o consumidor real, que (particularmente no caso de bebês) pode não ter participado de qualquer das outras influências sobre o processo decisório. Em alguns casos, chega a cinco o número de diferentes membros da família que estão envolvidos numa única decisão de compra (SAMARA; MORSCH, 2005, p. 76). Você já percebeu como os filhos exercem forte influência sobre os pais ao decidirem onde passar as férias ou o restaurante para o almoço de domingo? Quantas vezes você foi o iniciador de um processo de compra de comida por estar com fome, mas sua mãe escolheu o local e o seu pai foi o comprador responsável por ir à lanchonete buscar a comida? TÓPICO 3 | INFLUÊNCIAS SOCIOCULTURAIS E O COMPORTAMENTO DE COMPRA 31 Aqui temos um exemplo de como o comportamento de compra das famílias está mudando com relação aos veículos. Se antes eram os homens que escolhiam o carro da casa, as pesquisas revelam que agora esse papel cabe à mulher. Elas já representam muito melhor os consumidores de veículos no Brasil. Observe o trecho a seguir: “Mais do que nunca, o público feminino confirma sua presença e importância no mercado de financiamento veicular, um bom termômetro para todos os demais segmentos. Consideramos importante compreender constantemente as especificidades desse público, e cada vez mais adequar produtos e serviços aos desejos das mulheres”, destaca Renata Antonucci Giannini, gerente executiva de Marketing e Desenvolvimento de Negócios da instituição. Confira os detalhes da Fenabrave no endereço a seguir: https://www.consumidormoderno.com.br/1970/01/01/elas-estao-comprando-cada-vez- mais-carros/. DICAS Com relação à família, precisamos ficar atentos ao seu ciclo de vida. Afinal, com o passar do tempo as famílias mudam de perfil, desde o momento em que é formada, até finalizar com o sobrevivente solitário, como denomina Gioia (2006). Observe no quadro a seguir o ciclo familiar. QUADRO 2 – CICLO DE VIDA DAS FAMÍLIAS FONTE: Adaptado de Gioia (2006) Fase Recursos Necessidades e desejos Jovens solteiros com renda ou jovens casais sem filhos. Sem responsabilidades financeiras. Interessados em moda, entretenimento e carreira. Compram roupas, lazer, equipamentos esportivos, aparelhos de som, carros, casas ou apartamentos, turismo. Casais com crianças pequenas. Menor disponibilidade financeira, insatisfação com renda e poupança. Interessados em novidades. Compram: secadoras de roupa, vitaminas, lazer infantil,caminhonetes. Casais com filhos crescidos em casa. Melhor situação financeira, mais mulheres trabalhando. Compram produtos de decoração, mobiliário, revistas, carro para os filhos. Casais mais velhos sem filhos em casa. Pico de disponibilidade financeira. Interessados em turismo, recreação e cultura. Compram novas residências, carros de luxo, turismo. Aposentados sem filhos em casa e sobrevivente solitário. Redução drástica na renda e no consumo. Compram remédios, vitaminas, serviços médicos. 32 UNIDADE 1 | COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR Outro fator determinante nas decisões de compra decorre dos papéis do homem e da mulher. Essa é uma questão que tem mudado nos últimos anos. As mulheres assumiram novas responsabilidades, são chefes de família, têm seu trabalho e dirigem seus carros. Como nos lembram Samara e Morsch (2005), muitos homens também assumiram as atividades domésticas, demonstram suas habilidades na cozinha e se preocupam mais com sua aparência e cuidados estéticos. Há uma tendência, ainda, tanto entre homens como em mulheres de morarem sozinhos. Eles são denominados singles (sós). Além disso, as uniões homoafetivas ganharam destaque, adotam filhos e formam o perfil de muitas das novas famílias brasileiras (SAMARA; MORSCH, 2005). Outro fator relevante relacionado diz respeito às classes sociais e que influenciam fortemente o comportamento de compra das pessoas, tanto pela classe à qual as pessoas pertencem como àquela a que gostariam ou desejam pertencer, explicam Samara e Morsch (2005). Segundo Gioia (2006), o termo classe social define os grupos de pessoas em termos de renda e nível de instrução, além de representar o que as pessoas fazem com seu tempo, o que compram, onde e como fazem suas compras. Nesse quesito, convém lembrar aqui que já estudamos na disciplina de Teoria e Técnica em Publicidade e Propaganda e Relações Públicas sobre as classes sociais. A identificação de uma classe é feita com base na escolaridade, ocupação, área e tipo de residência e fonte de riqueza. Por fim, temos os fatores culturais e subculturais que exercem influência sobre os consumidores. Na visão de Samara e Morsch (2005), a cultura compreende os valores, crenças, costumes, conceitos, preferências e gostos passados de uma geração para a outra. As fontes culturais relacionadas por Gioia (2006) são o idioma, a nacionalidade, a educação, a profissão, o grupo étnico, a religião, a família, o gênero, a classe social e a cultura organizacional ou corporativa de uma empresa. Ele exemplifica essas questões da seguinte forma: A cultura tem um impacto profundo na maneira como os consumidores se percebem, nos produtos que compram e usam, nos processos de compra e na escolha das organizações das quais comprar. Por exemplo: os brasileiros têm o hábito de comer o abacate com açúcar, já os mexicanos comem com sal e pimenta, como no guacamole (GIOIA, 2006, p. 89). Solomon (2011) ressalta também que nossos gostos e preferências por produtos não se formam do nada. Eles são influenciados pelas imagens que a mídia de massa nos apresenta, por nossas observações diárias e nossas vontades de vivermos em mundos fantasiosos. TÓPICO 3 | INFLUÊNCIAS SOCIOCULTURAIS E O COMPORTAMENTO DE COMPRA 33 Dessa forma, o sistema cultural propõe modos e estilos de vida, determinam o que está na moda ou fora de moda, nos apresentam referências e ídolos da música, da arte, do cinema, da televisão e personagens. Todos esses elementos culturais podem ser usados para consumo. A engenharia da realidade ocorre quando os profissionais de marketing se apropriam de elementos da cultura popular e os utilizam como veículos promocionais. É difícil saber o que é mais real; especialistas criam até mesmo “jeans usados” quando aplicam lavagens químicas, lixa e outras técnicas para fazer com que um par de jeans novos pareça estar a ponto de ser aposentado. A indústria tem até um termo para essa prática e que resume a contradição: novo vintage! (SOLOMON, 2011, p. 608). A cultura tanto pode ser aprendida, ao seguirmos as regras de conduta e os valores da sociedade, como também pode ser incutida, quando somos doutrinados pelos valores sociais desde a mais tenra infância, dizem Samara e Morsch (2005). Por esse motivo, muitos autores dividem a cultura em subculturas, que representam os valores, comportamentos, normas e padrões de um determinado grupo social. Esse grupo pode estar representado pela etnia, pela religião, pela nacionalidade ou localização geográfica. Assim, Gioia (2006) prefere adotar o termo microcultura em detrimento do termo subcultura, que pode ser interpretado como algo de menor valor ou inferior em uma cultura. Para Gioia (2006, p. 91), a microcultura pode ser dividida em: • Macrocultura: refere-se a valores e símbolos que se aplicam a uma sociedade inteira ou à maioria de seus cidadãos. • Microcultura: refere-se a valores e símbolos de um grupo restrito, sejam eles formados em torno da nacionalidade, religião, étnicos, atributos físicos, localização geográfica, ou outra divisão do todo. Você mesmo já deve ter percebido como existem produtos específicos para grupos pertencentes à microcultura, tais como evangélicos ou afrodescendentes. Tudo isso nos mostra como as variáveis socioculturais agem sobre nossos comportamentos de compra! Como tratamos das mudanças de comportamento da sociedade, da cultura em nossa sociedade, que tal sabermos quais são os planos dos novos consumidores e da geração nascida e crescida na época digital? Observe essas mudanças e faça a leitura do artigo de Vinícius Gonçalves, Geração Z: o que temos a aprender com a primeira geração realmente digital? Disponível no endereço a seguir: https://www.consumidormoderno. com.br/2019/05/24/geracao-z-primeira-realmente-digital/. DICAS 34 RESUMO DO TÓPICO 3 Neste tópico, você aprendeu que: • Entre essas razões ocultas, os autores classificam as influências sociais e culturais como elementos que afetam o comportamento de compra das pessoas. • A interação social compreende um processo existente entre dois ou mais indivíduos, em que a ação de um deles é, ao mesmo tempo, resposta a outro indivíduo e estímulo para as ações deste. • As principais influências sociais e culturais são as seguintes: grupos de referência, família, papéis do homem e da mulher, classe social, cultura e subculturas. • Um grupo corresponde a duas ou mais pessoas juntas com um propósito em comum. • Os grupos podem ser transitórios ou permanentes e se tornam referência para padrões de consumo e de comportamento. • O grupo primário é aquele que possui laços afetivos íntimos e pessoais que unem seus membros, enquanto os grupos secundários são aqueles de relações mais formais e impessoais. • Os grupos de referências cumprem as funções de identificação e normativa. • As influências dos grupos de referências podem ser informativas, utilitárias ou expressivas de valor. • A família e o domicílio geralmente são nosso primeiro grupo de referência. • As famílias atravessam ciclos diferentes no decorrer da vida, que vão desde o momento de sua formação até a finalização com o sobrevivente solitário. • O papel do homem e da mulher tem mudado em nossa sociedade e isso implica novos comportamentos de compra. • As classes sociais influenciam fortemente o comportamento de compra das pessoas, tanto pela classe à qual as pessoas pertencem como àquela a que gostariam ou desejam pertencer. 35 • A cultura e a subcultura compreendem os valores, crenças, costumes, conceitos, preferências e gostos passados de uma geração para a outra. • A mídia de massa exerce influência nos gostos e preferências por produtos. • A cultura pode ser aprendida ou incutida. • A cultura pode ser dividida em macrocultura e microcultura. 36 1 (ENADE - 2012) As crianças influenciam consideravelmente as decisões de compra das famílias, conforme apontam diversas pesquisas de consumo realizadas em todo o mundo. Elassão consideradas um mercado potencial, principalmente para as indústrias alimentícias. Tendo conhecimento dessas informações, a empresa Sugar & Sugar Ltda., atuando no segmento alimentício, lançará uma barra de cereais para o público infantil. Para promover seu novo produto no mercado, desenvolverá uma campanha publicitária utilizando como garoto propaganda um ídolo admirado pelas crianças. Considerando a situação descrita, avalie as seguintes asserções e a relação proposta entre elas. I- Antes de veicular a campanha publicitária de lançamento do novo produto, os profissionais de Marketing precisam avaliar se essas ações interferem no brand equity da marca, pois a propaganda tem alto poder persuasivo sobre as crianças. PORQUE II- O aumento da obesidade infantil, especificamente por conta de hábitos não saudáveis e do consumo excessivo de alimentos industrializados com alto teor de gordura, açúcares e sal, contribui para a implementação de normas que reduzam o impacto da propaganda de alimentos direcionada às crianças. A respeito dessas asserções, assinale a opção CORRETA: FONTE: <https://brainly.com.br/tarefa/6002924>. Acesso em: 26 fev. 2020. a) ( ) As asserções I e II são proposições verdadeiras, e a II é uma justificativa da I. b) ( ) As asserções I e II são proposições verdadeiras, mas a II não é uma justificativa da I. c) ( ) A asserção I é uma proposição verdadeira, e a II é uma proposição falsa. d) ( ) A asserção I é uma proposição falsa, e a II é uma proposição verdadeira. e) ( ) As asserções I e II são proposições falsas. AUTOATIVIDADE 37 2 As influências socioculturais consistem em uma gama de circunstâncias que incluem as variáveis sociais e culturais do macroambiente e que envolvem o consumidor. Nesse sentido, analise as sentenças a seguir: I- A cultura é a acumulação de valores, crenças, costumes, conhecimento, conceitos, preferências e gostos passados de uma geração para outra em uma sociedade e ela pode ser incutida, aprendida e adaptada. II- A renda é um dos fatores usados na classificação das classes sociais por delinear claramente as classes. III- O ciclo de vida familiar constitui uma série de estágios relativos ao modo como uma família se forma, cresce, desenvolve e muda seus padrões de consumo. A respeito das asserções anteriores, é CORRETO o que se afirma em: a) ( ) I, apenas. b) ( ) II, apenas. c) ( ) II e III, apenas. d) ( ) I e III, apenas. e) ( ) I e II, apenas. 38 3 Analise a imagem e leia com atenção as afirmações a seguir: FONTE: Samara e Morsch (2005, p. 69) 39 A- O segmento de baixa renda é um dos mais atraentes mercados do país, representando 30,8 milhões de domicílios e cerca de 380 bilhões de reais por ano. B- As faixas C, D e E consomem o equivalente a 42% do consumo nacional, mais do que a classe A (24%) e a classe B (34%) isoladamente. C- Não é possível identificar as faixas de renda que apresentaram maior evolução no crescimento do consumo entre 1995 e 2002 e nem aquela que apresentou decréscimo. Com relação às afirmações, pode-se concluir: a) ( ) As alternativas A e B são complementares e a alternativa C está equivocada. b) ( ) As alternativas A e B são contraditórias e a alternativa C está correta. c) ( ) As alternativas A e C estão corretas e a alternativa B está errada. d) ( ) As alternativas B e C estão erradas e a alternativa A está correta. e) ( ) As alternativas A, B e C estão corretas. 4 O conceito de gênero refere-se à forma que a diferença sexual adquire em cada sociedade, ou seja, aos papéis e status atribuídos culturalmente a cada sexo. Enquanto o termo sexo representa a anatomia e a fisiologia (natureza) do homem e da mulher, o gênero representa as forças sociais, políticas e institucionais (cultura) que moldam os comportamentos e as imagens simbólicas sobre o feminino e o masculino (LIMEIRA, 2008). Leia com atenção as afirmações a seguir: I- A teoria feminista considera que as relações de gênero ocorrem de modo distinto em cada sociedade, período histórico, grupo étnico, classe social e geração. II- A mídia, como agente formador de opinião, tem contribuído para a criação e/ou manutenção de papéis sexuais estereotipados. Por meio de generalizações forçadas, as mensagens da mídia foram estabelecendo diferenças entre homens e mulheres, tornando diferentes seres humanos essencialmente iguais. III- O corpo funciona como uma metáfora da cultura, ou seja, a mulher constrói o seu corpo com base nos valores culturais e expectativas sociais, que definem o corpo feminino como instrumento de romantismo, sedução e prazer. É CORRETO o que se afirma em: a) ( ) I, apenas. b) ( ) II, apenas. c) ( ) I e III, apenas. d) ( ) II e III, apenas. e) ( ) I, II e III. 40 41 TÓPICO 4 INFLUÊNCIAS PSICOLÓGICAS E O COMPORTAMENTO DE COMPRA UNIDADE 1 1 INTRODUÇÃO Os fatores socioculturais estudados anteriormente explicam, em parte, as nossas razões de consumo, mas não são definitivas. Isso se deve ao fato de que as variáveis psicológicas também agem sobre o comportamento de compra. São esses fatores que trabalharemos no decorrer deste tópico, iniciando com uma visão geral da abordagem psicológica e suas linhas de investigação compostas pelas teorias comportamental, a Gestalt e a psicanálise. Na segunda parte do tópico desvendaremos os principais fatores de influências e características que ajudam a explicar o comportamento de decisão de compra dos consumidores, que são: motivação, aprendizado, atitudes, percepção, personalidade e hedônicas. Vamos em frente! 2 A ABORDAGEM PSICOLÓGICA E AS ESCOLAS DE PENSAMENTO DA PSICOLOGIA Antes de ingressar no curso de comunicação social, você deve ter se informado a respeito das outras possibilidades e áreas de atuação profissional. Entre elas, você deve ter ouvido falar da psicologia e sobre o que fazem os psicólogos. Apesar de parecer uma área bastante distinta da publicidade e da propaganda, a psicologia possui íntima relação com a comunicação social. A razão dessa ligação está no fato de que a psicologia estuda o comportamento humano e a comunicação busca afetar esses comportamentos. Como nos explica Limeira (2008), a psicologia é uma área do conhecimento humano ligada às ciências humanas. Ela estuda os fenômenos psíquicos e o comportamento das pessoas a partir de uma série de escolas de pensamentos. Cada uma dessas escolas estuda as condutas humanas a partir de perspectivas diferentes, como o comportamento, o inconsciente ou a personalidade. O termo psicologia deriva do grego psykê, que designa a alma ou a mente, e a junção logos, que significa estudo (LIMEIRA, 2008). 42 UNIDADE 1 | COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR Entre essas escolas de estudos da psicologia temos a abordagem comportamentalista ou behaviorista, a gestalt e a psicanálise. Segundo Limeira (2008), essas linhas de pesquisa estudam as subjetividades construídas pelas pessoas com relação ao mundo e as suas relações sociais. O termo subjetividade, nesse contexto, comporta as maneiras de sentir, imaginar, sonhar e fazer de cada indivíduo. Ainda em Limeira (2008), encontramos as principais características de cada uma das perspectivas psicológicas e que serão descritas na sequência: • Comportamentalismo ou behaviorismo: tem como foco de estudo o comportamento observável das pessoas e considera que toda ação humana é uma resposta aos estímulos do ambiente. Isso quer dizer que as nossas ações decorrem do ambiente em que estamos e que, portanto, elas são uma resposta aos estímulos recebidos desse contexto. Nessa perspectiva, nossos reflexos podem ser condicionados, ou seja, baseados nas experiências e que estas são moldadas pelos sentimentos de punição e recompensa. • Gestalt: é uma teoria construtivista nascida na Alemanha, que postula que a concepção do mundo é realizada pela percepção de totalidades significativas e cuja interpretação influencia a percepção de unidades elementares, ou seja, a Gestalt entendeque a nossa percepção de mundo está baseada nas características específicas e isoladas das coisas, como cheiro, tamanho, cor ou peso, e que nos remetem à imagem do objeto completo. A Gestalt leva em consideração a percepção e a aprendizagem envolvida nos comportamentos humanos. • Psicanálise: é composta pela união de uma teoria e um método terapêutico de doenças psicológicas e que atribui grande importância aos fenômenos do inconsciente nas condutas humanas. Usa o método interpretativo para demonstrar que nossa consciência consiste em um processo psíquico pelo qual tomamos conhecimento em um dado momento, porém, antes de termos essa consciência, esses elementos já estavam presentes em nossa inconsciência. A teoria psicanalítica estuda muito a personalidade constituída pelo id (impulsivos instintivos relacionados ao prazer), o ego (centro da consciência e da aceitação da realidade) e o superego (instância da personalidade formada por ideias e que age inconscientemente sobre o ego). Esse entendimento básico sobre a psicologia nos leva a identificar suas influências nas escolhas de compra dos consumidores. Isso porque, segundo Samara e Morsch (2005, p. 102): Quando os consumidores pensam numa compra, diversas influências psicológicas modelam o tipo de decisão. Os fatores psicológicos afetam integralmente o comportamento humano, e o estudo das necessidades e da motivação humana, da percepção, das atitudes, do aprendizado e da personalidade tem auxiliado sobremaneira os profissionais de marketing no entendimento da relação entre os fatores psicológicos e o comportamento de consumo. A mercadologia progrediu muito nesse campo, embora existam aspectos de influência psicológica sobre o consumidor que ainda não foram entendidos por TÓPICO 4 | INFLUÊNCIAS PSICOLÓGICAS E O COMPORTAMENTO DE COMPRA 43 completo. O comportamento do consumidor é uma função tanto de influências interpessoais (aquelas referentes ao contexto sociocultural) quanto de influências intrapessoais (aquelas que dizem respeito às variáveis pessoais e subjetivas do indivíduo). Nessa dimensão mais íntima de cada pessoal, que reside numa área mais profunda do iceberg humano, localizam-se os importantes fatores pessoais e distintivos que concorrerão para determinar o que será comprado. Assim, estudaremos na sequência do tópico o significado e as características de cada uma dessas influências psicológicas, que são: motivação, aprendizado, atitudes, percepção, personalidade, estilo de vida e autoconceito e influências experiencial-hedônicas. 3 PRINCIPAIS FATORES PSICOLÓGICOS DE INFLUÊNCIA SOBRE OS CONSUMIDORES Você recorda das cinco etapas do processo de decisão de compra dos consumidores? Você lembra que a primeira etapa consiste no reconhecimento de uma necessidade? Saiba que ao assumirmos que precisamos de algo, estamos despertando a primeira variável psicológica. Karsaklian (2014) nos explica que a descoberta de uma necessidade leva o indivíduo a uma situação de desconforto. Essa condição incômoda nos motiva a buscar uma solução que nos permita equilibrar o estado atual de carência com a futura sensação de satisfação que gostaríamos. Assim, a motivação é o que nos leva a agir de determinada maneira. Por motivação, Gioia (2006, p. 75) entende como “estímulo que faz com que uma pessoa aja de determinada maneira”. Ela caracteriza-se como um estado de tensão resultante da insatisfação em relação a uma situação. A motivação responde pela intensidade, direção e persistência de esforços de uma pessoa para alcançar um determinado objetivo, explicam Samara e Morsch (2005). A motivação é uma força variável e dinâmica que resulta da sua interação com a situação, complementam. Nessa perspectiva, precisamos recordar que as pessoas possuem muitas necessidades ao longo da vida. Essas necessidades podem ser de natureza diferente, conforme relacionam Samara e Morsch (2005) na sequência: • Necessidades biogênicas: são as necessidades fisiológicas inatas de elementos indispensáveis para a manutenção da vida, como água, ar, abrigo. • Necessidades psicogênicas: são aquelas aprendidas no processo de se tornar um integrante de uma determinada sociedade, cultura, como status e reconhecimento. 44 UNIDADE 1 | COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR • Necessidades utilitárias: relacionam-se com os atributos objetivos e tangíveis dos produtos para a satisfação das pessoas, como autonomia, facilidade e manuseio. • Necessidades hedônicas: condicionam-se às subjetividades e são próprias da experiência, como a sensação de alegria, autoconfiança ou fantasia pela posse de algo. Através da motivação, resultante da tensão de nossas insatisfações, nos colocamos em ação e nos impulsionamos a nos mover. Quando sentimos fome, por exemplo, ela nos causa um incômodo que nos impulsiona em busca de comida para satisfazer essa necessidade. FIGURA 5 – PROCESSO DE MOTIVAÇÃO HUMANA Motivo Estímulo Comportamento adequado (redução da tensão) Necessidade humana (tensão) FONTE: Adaptada de Samara e Morsch (2005) Ao nos referirmos às necessidades como forças motivacionais dos indivíduos, devemos recordar que uma das teorias mais conhecidas e utilizadas para explicar as necessidades humanas é a da hierarquia das necessidades de Maslow ou Pirâmide de Maslow. O psicólogo Abraham Maslow estudou o comportamento de centenas de pessoas e formulou uma descrição útil e organizada de como o comportamento humano se movimenta através de uma hierarquia de estados de necessidades (SAMARA; MORSCH, 2005). Observe a figura a seguir. FIGURA 6 – HIERARQUIA DAS NECESSIDADES DE MASLOW FONTE: Adaptada de Samara e Morsch (2005) TÓPICO 4 | INFLUÊNCIAS PSICOLÓGICAS E O COMPORTAMENTO DE COMPRA 45 As necessidades comuns às pessoas em cada uma das cinco categorias propostas por Maslow são descritas por Samara e Morsch (2005, p. 104) como: • Fisiológicas: necessidades primárias, de natureza biogênica, que requerem a satisfação das necessidades mais fundamentais para sustentar a vida humana (fome, sede, ar, sexo) e outras funções físicas básicas. • Segurança: necessidades de segurança e de proteção para o corpo e de manter uma existência confortável. Incluem ordem, estabilidade, certeza, controle sobre a vida (saúde, por exemplo) e sobre o ambiente. • Sociais: necessidades de afeição e integração, no sentido de pertencer a um grupo – as pessoas se esforçam para dar e receber amor. Abrangem a aceitação, afiliação, afeto e relacionamento. • Estima: necessidades de reconhecimento, status e prestígio. Além de buscar o respeito dos outros, há a necessidade e o desejo do autorrespeito, independência e autoafirmação. Estão diretamente relacionadas ao ego, por isso são conhecidas também como necessidades egoístas, e muitas vezes não são plenamente satisfeitas. • Autorrealização: também chamadas de necessidades de realização pessoal, envolvem o desejo de um indivíduo de satisfazer todo o seu potencial e alcançar tudo o que ele pode se tornar, no âmbito do ser ou do ter. Este é o mais alto de todos os estados de necessidade, sendo atingido somente por uma pequena porcentagem de pessoas e as quais o indivíduo busca usar ao máximo suas próprias capacidades. Ainda com relação à motivação, Gioia (2006) inclui a emoção como consequência e corresponde a uma sensação capaz de dar energia a uma pessoa em direção de um objetivo. Pense em quantas vezes você deixou de frequentar uma loja por não ter gostado do atendimento. Nossos comportamentos de compra também podem ser aprendidos. Daí o conceito de aprendizagem como uma influência psicológica. Para Karsaklian (2014), a aprendizagem tem base nas mudanças que se operam nas respostas ou tendências comportamentais e que são o resultado da experiência. Essa aprendizagem ocorre sempre como resultado de respostas a eventos externos. Recebemos estímulos e respondemos a eles (GIOIA, 2006). Quando repetimos esse condicionamento, como ao recomprarmos um produto, reforçamos esseaprendizado. Perceba como os fabricantes costumam nos ensinar a consumir um determinado produto. Um fabricante de sabão em pó começa a produzir amaciante de roupa e, para que aprendamos a consumir esse segundo produto, ele nos oferece como estímulo uma amostra grátis do amaciante. Conforme Gioia (2006), o aprendizado pode ocorrer por cognição, através de informações recebidas; por condicionamento, associando estímulo com recompensa; e por imitação, repetindo atos de outras pessoas. As propagandas costumam repetir muitas vezes um slogan ou um número 46 UNIDADE 1 | COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR de telefone para o consumidor aprender. Elas costumam reforçar nossas escolhas ao fortalecer certos atributos dos produtos e nos levam a imitar celebridades mostradas nos comerciais usando os produtos. Depois de reconhecidas as necessidades que nos motivam a ir em busca de satisfazê-las, seja pela emoção ou pela aprendizagem, na condição de consumidores precisamos agir. Assim, a atitude é outro fator psicológico útil no processo decisório de compra. Conforme Karsaklian (2014), uma atitude é uma predisposição aprendida para responder de maneira consistentemente favorável ou desfavorável a um determinado objeto. Essa predisposição nos move e governa o nosso comportamento com relação aos produtos e serviços existentes. Nossas atitudes possuem três componentes: cognitivo (conhecimento), afetivo (sentimentos) e conativo (tendências de ação). Profissionais de marketing estudam as atitudes para selecionar grupos de consumidores que tendem a gostar ou não de um produto. As atitudes também podem ser modificadas através da comunicação, como nos ensina Gioia (2006, p. 79-80): As implicações para o marketing são claras. Em compras de alto envolvimento, os argumentos devem enfatizar atributos sólidos e fortes do produto – na compra de um carro, por exemplo, pesam atributos, como potência, design e conforto. Já em compras de baixo envolvimento, deve-se usar a rota periférica de persuasão, focando mais o método de apresentação do que o conteúdo da mensagem: por exemplo, na compra de palmito, o consumidor pode escolher a marca baseado em uma embalagem atraente ou mesmo devido à criação de um ambiente agradável para as compras. A questão das cores, do ambiente, dos aromas, da iluminação, dos sabores e das texturas usadas em ambientes, embalagens e nas propagandas, contribui para atuar sobre outro fator psicológico de comportamento de compra, que é a percepção. Preste atenção na figura a seguir: FIGURA 7 – PROCESSO PERCEPTIVO FONTE: Adaptada de Samara e Morsch (2005) e Limeira (2008) ESTÍMULOS SENSORIAIS • Imagens • Sons • Odores • Gostos • Texturas RECEPTORES SENSORIAIS • Olhos • Ouvidos • Nariz • Boca • Pele EXPOSIÇÃO INTERPRETAÇÃOATENÇÃO TÓPICO 4 | INFLUÊNCIAS PSICOLÓGICAS E O COMPORTAMENTO DE COMPRA 47 A percepção resulta da forma como as pessoas coletam e interpretam estímulos do ambiente, que podem ser pelos cinco sentidos: audição, visão, paladar, olfato e tato. Ela também resulta de fatores internos, como motivação, atitude, expectativas e valores (LIMEIRA, 2008). As influências do ambiente externo também contribuem para a formação de nossa personalidade. Ela também exerce forte influência sobre o processo decisório de compra semelhante à percepção. Como nos mostram Samara e Morsch (2005, p. 131): Enquanto a percepção é um processo ativo e espontâneo, a personalidade tende a se desenvolver com o tempo, resultando em traços individuais que criam uma orientação geral para as situações. Podemos definir personalidade como o conjunto de características psicológicas singulares que levam a reações relativamente coerentes e contínuas em relação ao ambiente. Características como autoconfiança, domínio, sociabilidade, autonomia, defesa, adaptabilidade e agressividade são todas referências comumente utilizadas para descrever traços de personalidade. De maneira resumida, a personalidade representa essencialmente as características permanentes da pessoa e as suas modalidades de comportamento, como caráter, inteligência, temperamento, entre outras, explica Limeira (2008). Solomon (2011) demonstra como a personalidade afeta o nosso consumo através de exemplos, como masculinidade (carros, ferramentas, carnes vermelhas); segurança (cuidados hospitalares); erotismo (doces, cigarro); aceitação social (café, produtos de beleza); individualidade (comidas finas, carros importados); status (bebidas importadas, tapetes). Samara e Morsch (2005) revelam que um conceito relativamente novo sugere que um conjunto de influências atua sobre nosso comportamento de compra relacionado a aspectos de experiência e de prazer (hedônicos). Esse tipo de influência enfatiza o prazer e a gratificação pessoal que resultam de uma atividade de consumo. Compare a sensação de tomar café em uma padaria qualquer e outra de tomar em uma loja de marca em que seu café é servido em um copo personalizado. Outro exemplo disso está nas livrarias que oferecem café, sofás, música ambiente e reúne arte e cultura. A soma desses elementos todos forma uma experiência de compra gratificante e prazerosa, como se você nem tivesse saído de casa ou como se estivesse em um hotel. No entanto, essas experiências de compra precisam estar alinhadas com outra variável psicológica que afeta o comportamento de compra, que é o estilo de vida. O estilo de vida compreende o padrão de vida de uma pessoa, expresso por suas atividades, interesses e opiniões e pode ser denominado de psicografia (SAMARA; MORSCH, 2005). 48 UNIDADE 1 | COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR O estilo de vida é determinado por elementos da cultura, o simbolismo dos objetos e os valores morais de um indivíduo, ensina Karsaklian (2014). Ele é identificado por meio de pesquisas de atividades (ações manifestas), interesses (por objetos) e opiniões (crenças e valores). Por fim, o último fator de influência psicológica sobre as nossas decisões de compra está no autoconceito ou autoimagem. É a forma como nos vemos, uma ideia daquilo que somos (real) ou gostaríamos de ser (ideal) com relação a nossa personalidade, hábitos, posses, relacionamentos e comportamentos (SAMARA; MORSCH, 2005). Assim: É importante estudar o vínculo e o significado dos produtos com o autoconceito. Em contextos diferentes, o consumidor pode selecionar um autoconceito diferente para orientar suas atitudes e seus comportamentos. Por exemplo, com alguns produtos domésticos do dia a dia, como sabonete e aparelhos de cozinha, o consumidor pode ser orientado por seu eu real. Todavia, para alguns produtos de prestígio social, como perfumes, acessórios e relógios, ele pode ser guiado por seu eu social ou mesmo por seu eu ideal para os outros (SAMARA; MORSCH, 2005, p. 142). Como podemos constatar depois de estudarmos esses conceitos todos, somos bem mais profundos como consumidores do que se pode imaginar quando nos vemos comprando um produto, não é mesmo? Ainda existem outros elementos que afetam nossas compras, os quais estudaremos no próximo tópico. Existem muitas abordagens para se entender a psicologia das compras de uma pessoa. O artigo As 5 teorias do comportamento do consumidor, de Rafael José Pôncio, apresenta as cinco principais teorias que buscam explicar as razões de compra sob a perspectiva da psicologia. Leia na íntegra acessando: https://administradores.com.br/ artigos/as-5-teorias-do-comportamento-do-consumidor. Boa leitura! DICAS 49 RESUMO DO TÓPICO 4 Neste tópico, você aprendeu que: • A psicologia estuda o comportamento humano e a comunicação busca afetar esses comportamentos. • A psicologia é uma área do conhecimento humano ligada às ciências humanas. • As três principais escolas de pensamento da psicologia são a comportamentalista ou behaviorista, a Gestalt e a psicanálise. • A teoria comportamentalista ou behaviorista estuda o comportamento observável das pessoas e considera que toda ação humana é uma resposta aos estímulosdo ambiente. • A Gestalt postula que a concepção do mundo é realizada pela percepção de totalidades significativas e cuja interpretação influencia na percepção de unidades elementares. • A psicanálise atribui grande importância aos fenômenos do inconsciente nas condutas humanas. • A necessidade humana leva o indivíduo a um desconforto que o motiva a satisfazer essa necessidade. • A motivação é o estímulo que faz com que uma pessoa aja da determinada maneira. • As necessidades podem ser classificadas em biogênicas (inatas), psicogênicas (culturais), utilitárias (utilidade das coisas) e hedônicas (ligadas às sensações). • As necessidades comuns às pessoas em cada uma das cinco categorias propostas por Maslow em sua hierarquia das necessidades são: fisiológica, segurança, social, estima e autorrealização. • A emoção corresponde a uma sensação capaz de dar energia a uma pessoa em direção a um objetivo. • A aprendizagem baseia-se nas mudanças que se operam nas respostas ou tendências comportamentais e resultam da experiência. • A atitude é uma predisposição aprendida para responder de maneira consistentemente favorável ou desfavorável a um determinado objeto. 50 • A percepção resulta da forma como as pessoas coletam e interpretam estímulos do ambiente, que podem ser pelos cinco sentidos: audição, visão, paladar, olfato e tato. • A personalidade representa essencialmente as características permanentes da pessoa e as suas modalidades de comportamento, como caráter, inteligência, temperamento, entre outras. • O estilo de vida compreende o padrão de vida de uma pessoa, expresso por suas atividades, interesses e opiniões. • A autoimagem ou autoconceito corresponde à forma como nos vemos, uma ideia daquilo que somos (real) ou gostaríamos de ser (ideal) com relação a nossa personalidade, hábitos, posses, relacionamentos e comportamentos. 51 AUTOATIVIDADE 1 Os estímulos ambientais são sentidos pela visão, audição, tato, olfato e paladar. O processo pelo qual as sensações são selecionadas, organizadas e interpretadas, ou seja, como atribuímos sentido às sensações geradas pelos estímulos, é chamado de: a) ( ) Percepção. b) ( ) Personalidade. c) ( ) Motivação. d) ( ) Atitude. e) ( ) Razão de compra. 2 Toda pessoa tem uma imagem de si mesma, que inclui uma ideia daquilo que a pessoa normalmente é (eu real) e o que gostaria de ser (eu ideal) com relação a traços de personalidade, hábitos, posses, relacionamentos e comportamentos. Essa variável faz parte das influências psicológicas do comportamento do consumidor e é chamada de: a) ( ) Autoconceito. b) ( ) Personalidade. c) ( ) Estilo de vida. d) ( ) Percepção. e) ( ) Cultura. 3 O estudo do comportamento do consumidor pode ser analisado sob as óticas econômica e psicológica. A psicologia estuda a subjetividade dos indivíduos baseada em três perspectivas teóricas. Relacione as colunas ligando a escola às suas principais ideias: 1- Behaviorismo. 2- Gestalt. 3- Psicanálise. ( ) Atribui grande importância aos fenômenos do inconsciente, que é o conjunto dos processos e fatos psíquicos que atuam sobre a conduta do indivíduo quando a consciência não está vigilante. ( ) Postula que a concepção do mundo é realizada pela percepção de totalidades significativas e cujo significado acaba por influenciar a percepção de unidades elementares. ( ) Define como seu objeto de estudo o comportamento observável do indivíduo e considera que toda ação humana é uma resposta aos estímulos do ambiente. 52 A alternativa correspondente à sequência CORRETA é: a) ( ) 3, 2, 1. b) ( ) 2, 1, 3. c) ( ) 1, 2, 3. d) ( ) 2, 3, 1. e) ( ) 3, 1, 2. 4 Abraham Maslow foi um pesquisador que categorizou as necessidades do ser humano em cinco grandes conjuntos. Identifique-os, ligando as colunas com as fontes de satisfação. 1- Necessidade fisiológica. 2- Necessidade social. 3- Necessidade de autoestima. 4- Necessidade de autorrealização. 5- Necessidade de segurança. ( ) Poder, status, autoconfiança, respeito. ( ) Maximizar o potencial é alcançar os objetivos pessoais. ( ) Proteção, estrutura, predicabilidade. ( ) Ser amado, sentir-se aceito por todos. ( ) Água, ar, sono, alimento, comunicação. A sequência CORRETA é: a) ( ) 4, 3, 2, 5, 1. b) ( ) 3, 4, 5, 2, 1. c) ( ) 2, 1, 3, 4, 5. d) ( ) 1, 2, 4, 3, 5. e) ( ) 4, 2, 3, 5, 1. 53 TÓPICO 5 INFLUÊNCIAS SITUACIONAIS E O COMPORTAMENTO DE COMPRA UNIDADE 1 1 INTRODUÇÃO Além dos fatores socioculturais e psicológicos atuantes sobre os comportamentos de compra dos consumidores, recentemente, outra variável foi identificada como capaz de motivar as pessoas a comprarem ou deixarem de comprar em determinadas ocasiões. Apresentaremos esses fatores denominados de situacionais no início do tópico e as circunstâncias relacionadas ao ambiente que afetam o comportamento de compra dos consumidores. Na sequência, abordaremos outros fatores situacionais relativos ao tempo disponível para as compras, a razão de compra e o estado de espírito e a predisposição das pessoas em uma situação de compra de determinados produtos ou serviços. Vamos concluir? 2 A SITUAÇÃO DE COMPRA E OS FATORES QUE AFETAM O COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR Em sua rotina de trabalho, certamente você possui um tempo determinado para fazer suas refeições. Esse tempo costuma ser entre uma e uma hora e meia de almoço ou jantar. Nessa situação, você procura por restaurantes próximos, sem filas de espera e a preços acessíveis. No entanto, se você pretende sair para conversar com uma pessoa que acabou de conhecer e tem interesse, em uma ocasião em que dispõe de mais tempo, certamente você preferirá um ambiente mais aconchegante, com um cardápio diferenciado e talvez até com preços mais altos. Agora, compare essas duas situações com uma terceira situação: onde você costuma almoçar ou jantar fora com seus pais e familiares? Provavelmente, você busca por restaurantes com boa comida, farta e ambientes mais descontraídos e conhecidos por todos. 54 UNIDADE 1 | COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR Isso nos mostra que a situação de compra determina nosso comportamento na condição de consumidores. Esses fatores são caracterizados pelo ambiente físico, social, tempo, razão de compra e estado de espírito e são denominados de fatores situacionais de compra. A situação ligada ao consumo somou-se recentemente às demais influências que afetam o comportamento do consumidor e que estudamos anteriormente, como nos explicam Samara e Morsch (2005). Os primeiros estudos nesse sentido tiveram origem na década de 1970. As influências situacionais foram definidas inicialmente como aqueles fatores específicos de um momento e lugar de observação que não provêm do conhecimento de atributos pessoais e estímulos que afetam o consumidor (SAMARA; MORSCH, 2005). Portanto: O que essa definição sugere é que as influências socioculturais e psicológicas até agora discutidas podem exercer um poder diferente, dependendo da situação em torno do ato de consumo, ou seja, todos os fatores contextuais ligados a um momento e um lugar específico que, juntos, exerçam influência sobre o comportamento [...]. A situação do consumidor é um miniprocesso que se compõe por fatores que a) envolvem o tempo e o lugar nos quais ocorre sua atividade, b) explicam o motivo pelo qual a compra ocorre e c) influenciam seu comportamento. Há inicialmente uma interação entre a pessoa e esses fatores, que interferem na percepção e no comportamento, resultando ou não no ato de compra (SAMARA; MORSCH, 2005, p. 154). Isso significa que, de acordo com a situação de compra, nosso comportamento como consumidor se altera também. Atualmente, essa característica do comportamento do consumidor tem sido muito estudada e levada em consideração e utilizada pelos profissionais de marketing. Dessa forma, o contexto em que ocorre a compra cada vez mais tem sido considerado (SAMARA; MORSCH, 2005). Isso reforça a analogiafeita com o iceberg, no início da unidade, de que nossas compras resultam de uma série de combinações de variáveis contingenciais. Os principais autores de comportamento do consumidor classificam essas variáveis e fatores de influência em cinco categorias: o ambiente físico, o ambiente social, o tempo, a razão de compra e o estado de espírito ou predisposição às compras do consumidor. Assim como variáveis socioculturais e psicológicas, essas influências representam forças determinantes para a resolução dos problemas de consumo enfrentados pelo consumidor e, como veremos particularmente a seguir, sua compreensão se faz fundamental pelo profissional de marketing para entender por completo a natureza e a variabilidade dos atos de consumo e para a formulação eficaz de suas estratégias mercadológicas (SAMARA; MORSCH, 2005, p. 155). TÓPICO 5 | INFLUÊNCIAS SITUACIONAIS E O COMPORTAMENTO DE COMPRA 55 Na mesma linha de raciocínio, Gioia (2006, p. 99) conceitua as influências situacionais como “aquelas que atuam no momento da compra ou do consumo e que podem interferir no processo de decisão”. Segundo Gioia (2006), essas influências são transitórias por não fazerem parte das pessoas, mas do ambiente em que elas se encontram. Ele cita como exemplo a influência, inclusive, das multidões, das músicas e do aroma nas decisões de compra. Quantas vezes você comprou um café depois de ter experimentado aquele café gratuito oferecido por uma expositora dentro do supermercado? Ou quantas vezes você comprou um pão de queijo por ter sentido o aroma do produto ao entrar no mercado? Será que você come mais rápido ou mais devagar uma refeição em um restaurante que toca rock ou naquele outro que tem música ambiente com piano clássico? ATENCAO Assim, podemos começar a entender a influência exercida pela situação de compra. Esses elementos e suas influências serão estudados na sequência do tópico, abordando as variáveis e suas características. 3 PRINCIPAIS VARIÁVEIS SITUACIONAIS QUE AFETAM AS DECISÕES DE COMPRA Tudo o que está em nossa volta exerce alguma influência sobre nosso comportamento. Se você entrar em uma loja e lá dentro estiver muito calor, você se sentirá desconfortável e vai querer sair de lá o mais rápido possível. Isso, inclusive, pode levá-lo a desistir da compra. Por essa razão, os profissionais de marketing e comunicação precisam entender a influência do ambiente físico em nossos comportamentos de compra. Esse ambiente vai além do físico e se caracteriza por tudo aquilo que possa tornar a experiência de compra agradável. Nesse sentido, Samara e Morsch (2005, p. 157) entendem que “ele resulta da conjugação de todos os elementos contextuais arranjados (atmosfera da loja) para provocar estímulos sensoriais e efeitos emocionais positivos, agradáveis e envolventes”. 56 UNIDADE 1 | COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR O ambiente físico inclui a disposição dos elementos na loja, denominado de leiaute, a decoração, a localização do ponto de venda, os aromas, os sons, as luzes e até mesmo as condições meteorológicas que estimulam as decisões de compra do consumidor. Conforme nos explicam Samara e Morsch (2005), esse ambiente influencia o estado emocional dos clientes, que pode ser de prazer e excitação. Essa combinação de estímulos pode fazer que os consumidores permaneçam mais ou menos tempo na loja consumindo. Observe na figura a seguir como ambientes agradáveis tendem a fazer com que as pessoas fiquem mais tempo na loja, se relacionem com as pessoas e gastem mais. Do contrário, as pessoas se sentirão com sono e sem prazer e tenderão a permanecer menos tempo e a gastar menos. FIGURA 8 – AMBIENTE FÍSICO E O COMPORTAMENTO DE COMPRA Ambiente • Layout • Sons • Aromas • Texturas • Estrutura do edifício Consumidor • Prazer/Desprazer • Excitação/Sono Comportamento • Tempo maior/menor gasto na loja • Tendência a se relacionar com as pessoas • Ações de compra FONTE: Adaptada de Samara e Morsch (2005) Quando nos referimos ao ambiente físico da loja, não podemos nos esquecer de que a internet e a rede mundial de computadores tornaram esse ambiente virtual. É claro que isso também provocou mudanças em nossos hábitos de compra. Vejamos seus impactos: Esse ambiente virtual provocou impactos radicais no comportamento humano, inclusive em seus hábitos de compra. A criação de novos canais de venda e promoção, a possibilidade de novas formas de pesquisa e de busca de informações, e o desenvolvimento de canais mais ágeis e amplos de relacionamento são alguns dos benefícios resultantes desse importante avanço tecnológico. Muitas compras são influenciadas pela interação do consumidor com o ciberespaço e, em razão do considerável volume que hoje representam, merecem atenção especial dos profissionais de marketing (SAMARA; MORSCH, 2005, p. 158). Além do ambiente físico, outro fator capaz de influenciar nossas decisões de compra refere-se ao ambiente social, que é diferente do contexto social em que estamos e que está condicionado à cultura e à subcultura, conforme já estudamos anteriormente. TÓPICO 5 | INFLUÊNCIAS SITUACIONAIS E O COMPORTAMENTO DE COMPRA 57 “O ambiente social diz respeito ao ambiente dos grupos interpessoais que nos cercam e com os quais interagimos na situação de compra” (SAMARA; MORSCH, 2005, p. 158). As pessoas que nos acompanham em um shopping center podem determinar as nossas compras. Note que, ao comprar roupas acompanhado, você leva muito em consideração a opinião dessa pessoa. Outro exemplo de ambiente social está relacionado à condução do atendimento pelo vendedor. Se ele for desagradável, você desistirá da compra e o contrário também será verdadeiro. Você se recorda de que no início da unidade nos referimos a uma característica da sociedade de consumo, a aceitação social? Quando acompanhados por outras pessoas em nossas compras, isso remete a essa experiência social (SAMARA; MORSCH, 2005). Samara e Morsch (2005) apontam ainda a influência informacional como consequência do ambiente social. A convivência com pessoas que conhecem bem um produto ou serviço pode ser determinante e até alterar a nossa pretensão de compra de veículo ou o destino de uma viagem. Outras formas de influência informacional estão nas vitrines das lojas com suas combinações de produtos, preços, formas de pagamento, além das tradicionais ações de publicidade e propaganda, programas de televisão ou sites na internet. A questão do tempo é outro fator situacional determinante nas decisões de compra. Quando possuímos mais ou menos tempo, teremos mais condições de buscar informações para decidir sobre quais produtos, de quais fabricantes e em quais lojas compraremos. O tempo pode ser visto como um recurso importante na vida das pessoas, e a forma como cada um utiliza está muito ligada a seus valores individuais, estilos de vida e a sua personalidade. Podemos dividir as atividades realizadas pelos consumidores como atividades substituíveis (tarefas mutuamente excludentes que satisfazem a mesma necessidade) e atividades complementares (que naturalmente acontecem juntas). Por exemplo, comer em um fast-food ou em uma churrascaria são atividades substitutas. Já comer em um fast-food e, paralelamente, acessar os e-mails pelos computadores instalados dentro da loja são atividades complementares que satisfazem diferentes necessidades (SAMARA; MORSCH, 2005, p. 160). Já pensou em quanto tempo você dedica a uma compra de um creme de leite se comparada a uma compra de uma peça de roupa? Certamente, você até prefere pagar mais para comprar um creme de leite naquela loja de conveniência perto da sua casa. Já a roupa, você prefere ir naquela loja específica em que o produto lhe chamou mais a atenção. 58 UNIDADE 1 | COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR Além desse exemplo, perceba como a automatização dos serviços de venda tem possibilitado que os consumidores ganhem tempo nas suas compras. Caixas eletrônicos, home banks, supermercado on-line,agendamento de consultas pela internet ajudam na economia de tempo. Se você mora em uma metrópole, sabe melhor do que ninguém o significado do fator tempo. Imagine o tempo gasto no trânsito durante o congestionamento. É por isso que as redes de supermercados têm criado lojas menores em bairros para facilitar as compras, como é o caso do Pão de Açúcar, por exemplo. Outra situação são os shoppings, onde você encontra tudo o que precisa (lojas de roupas, eletrodomésticos, eletrônicos, recreação, entretenimento, alimentação e até supermercado) para facilitar as compras e poupar tempo dos consumidores. Ainda temos como variável situacional a razão de compra ou definição de tarefa. De acordo com Samara e Morsch (2005), essa variável está intimamente ligada à finalidade da compra. Dependendo da finalidade da compra, nossas escolhas podem variar radicalmente. Isso porque, tradicionalmente, as razões de compra podem ser classificadas em três tipos: para consumo próprio, para uso doméstico ou para presente (SAMARA; MORSCH, 2005). Quando você troca um produto recebido como presente, está sob esta influência comportamental. Entre os fatores situacionais, temos o estado de espírito e a predisposição para as compras. Eles correspondem aos sentimentos do consumidor e às condições do momento, que afetam a tomada de decisão na hora da compra. Como nos mostram Samara e Morsch (2005, p. 162): O estado de espírito momentâneo do comprador, como sentimento de ansiedade, raiva ou alegria, e as condições do momento, como cansaço, doença ou falta de dinheiro, podem influenciar sua decisão de compra. Essas disposições temporárias e circunstanciais costumam naturalmente anteceder grande parte das nossas decisões, sobretudo aquelas com maior custo e complexidade. Assim, muitos consumidores evitam realizar compras importantes quando percebem que algum sentimento ou estado de espírito inoportuno possa estar ‘bloqueando’ sua percepção, impedindo uma escolha mais congruente e racional. Conforme expõe essa citação, os estados antecedentes estão relacionados as nossas necessidades fisiológicas. Perceba como você compra muito mais do que precisa quando vai ao supermercado com fome. Esses estados antecedentes diferem das predisposições de estado de espírito. Segundo Samara e Morsch (2005), o estado de espírito está relacionado com as nossas emoções e, conforme já estudamos anteriormente, não conseguimos nos afastar de nossas emoções. TÓPICO 5 | INFLUÊNCIAS SITUACIONAIS E O COMPORTAMENTO DE COMPRA 59 Existem também as predisposições emocionais temporárias, que os especialistas denominam de humores. Conforme Samara e Morsch (2005), os humores são emoções menos intensas e mais fáceis de serem induzidas e têm vida curta (feliz, pensativo, alienado, irritado etc.). Essas influências situacionais são difíceis de serem mensuradas e muitos pesquisadores e autores da área de comportamento do consumidor relacionam essas variáveis com os fatores psicológicos, por conta de sua relação com os fatores internos e externos ao indivíduo. Dessa forma, Samara e Morsch (2005) e Karsaklian (2014) demonstram a necessidade de os profissionais de marketing entenderem essa interação entre as variantes juntamente aos demais fatores psicológicos e socioculturais. Isso fica mais evidente na figura a seguir. FIGURA 9 – INFLUÊNCIAS SITUACIONAIS E SUA INTERAÇÃO COM O COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR FONTE: Adaptada de Samara e Morsch (2005) e Karsaklian (2014) Constatamos na figura como os fatores situacionais interagem com os atributos do produto e com os estímulos internos do comprador. As setas numeradas com 1 indicam a relação direta da situação e comportamento de compra, enquanto as setas numeradas com 2 relacionam a situação como ela é percebida pelo consumidor. As implicações das influências situacionais podem ser levantadas por meio de pesquisa de mercado, como estudaremos mais à frente no livro-texto da disciplina, a partir de inventários de situações de compra. Isso será assunto para as Unidades 2 e 3 deste Livro Didático. O que nos interessa, neste primeiro momento, é saber como somos influenciados em nossos comportamentos de compra e os conceitos centrais do comportamento do consumidor. PRODUTO Características funcionais Características simbólicas CONSUMIDOR Percepção Interpretação Avaliação COMPORTAMENTO Compra Consumo Informação SITUAÇÃO Ambiente físico Ambiente social Perspectica temporal Contexto de função 2 2 1 60 UNIDADE 1 | COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR LEITURA COMPLEMENTAR Como tratamos das influências situacionais no decorrer do tópico, vamos observar como as empresas adotam essa prática a partir da inteligência analítica, a fim de fomentar as vendas e alterar o comportamento de compra do consumidor. Boa leitura! COMO INFLUENCIAR A DECISÃO DE COMPRA COM INTELIGÊNCIA ANALÍTICA Israel Nacaxe É preciso ter uma estratégia definida para que seja possível conhecer os clientes e entregar não somente o que eles esperam hoje, mas o que eles demandarão. Imagine a seguinte cena: você é um comprador do varejo e precisa definir que produtos serão expostos na gôndola de uma determinada categoria, em cada uma de suas lojas, que estão localizadas em bairros e cidades com diferentes perfis de público e volumes de tráfego. O Natal está se aproximando, mas não é possível deixar para abastecer os estoques em cima da hora e, portanto, a compra precisa ser feita com várias semanas de antecedência. Normalmente a resposta para esse problema é um “chute”. Algo como “esperamos crescer 10% neste final de ano, então vamos comprar 10% a mais de todos os produtos”, e, com muita frequência, uma decisão desse tipo transforma- se em um problema maior ainda, com excesso de estoque em muitos itens e grande ruptura justamente nos itens mais demandados. Por muito tempo, foi assim que o varejo trabalhou. Na falta de uma solução melhor, o jeito era estimar e, no feeling, buscar algumas apostas. Hoje, porém, quem atua dessa forma está sendo engolido pelo e-commerce e pelas empresas do varejo físico que entenderam o que, afinal, significa o mantra “data is the new oil”: os dados são o novo combustível do varejo. Isso significa que é preciso ter uma estratégia definida e implementada de coleta e análise de dados, para que seja possível conhecer os clientes e entregar não somente o que eles esperam hoje, mas o que eles demandarão no futuro próximo. O uso de Big Data e Inteligência Artificial é uma realidade cada vez mais presente nas empresas que buscam ampliar as vendas e a rentabilidade de suas operações por meio da segmentação analítica e da ativação estratégica do relacionamento omnichannel com seus clientes. Não importa qual seja o tamanho de sua empresa, ela certamente precisa se comunicar com o cliente em múltiplos pontos de contato (loja física, internet, mídias sociais, WhatsApp e outros), e seu cliente, certamente, deseja ser identificado como único e quer ser reconhecido ao longo de sua jornada TÓPICO 5 | INFLUÊNCIAS SITUACIONAIS E O COMPORTAMENTO DE COMPRA 61 de compras, mesmo que passe por vários canais diferentes. Para quem ainda não possui ferramentas ou serviços em operação, a preocupação está em como otimizar sua arquitetura dos dados e aproveitar ao máximo os insights gerados pelas ferramentas. Independente do estágio de maturidade em que cada varejista está, para utilizar da melhor forma os dados dos clientes, entender seu comportamento e então chegar a prever demandas futuras é preciso ter alguns pontos em mente: • Inteligência no relacionamento com os clientes: a coleta de dados é onde tudo começa. Conte com um conjunto de soluções analíticas de gestão do relacionamento que permita identificar o grau de engajamento do cliente (seus objetivos em cada contato com a marca) e seu perfil de consumo (necessidades) de maneira automatizada. Como adicional, os sistemas deverão contribuir para estimular o cliente a migrar para estágiosmais profundos de relacionamento com a marca, por meio de ativações periódicas. • Inteligência promocional: garante que você tenha à mão relatórios de desempenho e recomendações automatizadas de produtos com maior potencial de direcionamento de clientes para a loja. As ferramentas usadas também devem ser capazes de identificar correlações de produtos (“quem compra A costuma comprar B”) para que seja possível realizar ações que aumentem as vendas e as margens das cestas de compras. • Gestão e medição de campanhas: com ações desenvolvidas on-line e off-line, em múltiplos canais, é preciso ter ferramentas que realizam a gestão integrada dessas iniciativas, com templates de comunicação e relatórios que permitam a visualização dos resultados de frequência, ticket médio, categorias consumidas e faturamento incremental. • Ativação omnichannel: é possível alcançar o cliente dentro e fora do PDV, no momento da decisão de compra, com personalização de ofertas e rastreamento do comportamento dos clientes. Atualmente, processando dados de consumo em mais de 85 milhões de pessoas e acumulando mais de 50 milhões de ativações mobile em todo o país, temos visto que, ao entender o valor do cliente, seu perfil e necessidades de consumo, é possível desenvolver ações que aumentem a cesta de compras, o ticket médio e impulsionem categorias e produtos com margem de contribuição mais elevada. O resultado dessa abordagem científica é um aumento da frequência de compras em até 10% para nossos clientes. Empresas como Bradesco, Ipiranga, Raia, Drogasil e Cencosud têm utilizado ativamente esse conjunto de soluções para personalizar a jornada de consumo do varejo e entender, predizer e reagir ao comportamento dos consumidores em tempo real e de forma automatizada. Esse tipo de solução não é, porém, exclusividade de grandes empresas: mais importante que o tamanho da companhia é a disposição de utilizar dados de forma estratégica e transformá-los em combustível para o crescimento de suas vendas. FONTE: <https://www.mundodomarketing.com.br/artigos/israel-nacaxe/37649/como- influenciar-a-decisao-de-compra-com-inteligencia-analitica.html>. Acesso em: 9 out. 2019. 62 RESUMO DO TÓPICO 5 Neste tópico, você aprendeu que: • A situação de compra altera o comportamento de decisão do consumidor. • Os fatores situacionais caracterizam-se pelo ambiente físico, social, tempo, razão de compra e estado de espírito. • As influências situacionais são os fatores específicos de um momento e lugar de observação que não provêm do conhecimento de atributos pessoais e estímulos que afetam o consumidor. • As influências situacionais são transitórias por não fazerem parte das pessoas, mas do ambiente em que elas se encontram. • Os profissionais de marketing e comunicação precisam entender a influência do ambiente físico em nossos comportamentos de compra. • O ambiente físico resulta da conjugação de todos os elementos contextuais arranjados para provocar estímulos sensoriais e efeitos emocionais positivos, agradáveis e envolventes. • A combinação de estímulos pode fazer que os consumidores permaneçam mais ou menos tempo na loja consumindo. • O ambiente social refere-se ao ambiente dos grupos interpessoais que nos cercam e com os quais interagimos na situação de compra. • A influência informacional é uma consequência do ambiente social. • Como o tempo é um recurso escasso na vida dos consumidores, a forma como cada um o utiliza está ligada a seus valores individuais, estilos de vida e personalidade. • A razão de compra está intimamente ligada à finalidade da compra e afeta as escolhas do consumidor. • O estado de espírito e a predisposição do consumidor correspondem aos sentimentos do consumidor e às condições do momento que afetam a tomada de decisão. 63 • Existem ainda as predisposições emocionais temporárias, que os especialistas denominam de humores, que são menos intensos e mais fáceis de serem induzidos. • As implicações das influências situacionais podem ser levantadas por meio de pesquisa de mercado a partir de inventários de situações de compra. Ficou alguma dúvida? Construímos uma trilha de aprendizagem pensando em facilitar sua compreensão. Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo. CHAMADA 64 1 O ambiente físico ou local se refere à localização, atmosfera da loja, aromas, sons, luzes, condições e outros fatores no ambiente físico no qual acontece a decisão de compra. Nesse contexto, assinale a ferramenta promocional mais eficaz para estimular o consumidor no ambiente físico: a) ( ) Propaganda. b) ( ) Relações Públicas. c) ( ) Promoção de vendas. d) ( ) Publicidade. e) ( ) Merchandising. 2 As diversas circunstâncias referentes ao contexto da relação de troca que afetam a decisão do consumidor podem ser classificadas em cinco categorias e expressas na seguinte alternativa: a) ( ) Ambiente físico, ambiente social, tempo, razão de compra, estado de espírito e predisposição. b) ( ) Motivação, aprendizado, atitudes, percepção, personalidade, estilo de vida e autoconceito. c) ( ) Cultura, subcultura, classe social, grupos de referência, família e papéis do homem e da mulher. d) ( ) Custo, descarte do produto, gerenciamento do produto, comunicação e difusão da inovação. e) ( ) Iniciador, influenciador, decisor, comprador, consumidor, avaliador. 3 A automatização dos serviços de venda possibilita a economia de tempo para os consumidores. Com relação à variável tempo como fator de decisão de compra do consumidor, avalie as asserções a seguir e a relação proposta entre elas. I- Como o tempo é um recurso escasso na vida das pessoas, a forma como cada indivíduo o utiliza está relacionada a seus valores individuais, estilos de vida e personalidade. PORQUE II- O tempo está intimamente ligado à finalidade da compra e, de acordo com essa finalidade, as escolhas dos consumidores podem ser alteradas de forma significativa. A respeito dessas asserções, assinale a opção CORRETA: a) ( ) As asserções I e II são proposições verdadeiras, e a II é uma justificativa da I. b) ( ) As asserções I e II são proposições verdadeiras, mas a II não é uma justificativa da I. AUTOATIVIDADE 65 c) ( ) A asserção I é uma proposição verdadeira, e a II é uma proposição falsa. d) ( ) A asserção I é uma proposição falsa, e a II é uma proposição verdadeira. e) ( ) As asserções I e II são proposições falsas. 4 As influências situacionais referem-se aos fatores específicos de um momento e lugar de observação que não provêm do conhecimento de atributos pessoais e estímulos que afetam o consumidor. Esses fatores são divididos em ambiente físico, ambiente social, tempo, razão de compra e estado de espírito ou predisposição às compras do consumidor. Nesse sentido, avalie as asserções a seguir a respeito das características dessas influências. I- A predisposição do consumidor resulta da conjugação de todos os elementos contextuais arranjados para provocar estímulos sensoriais e efeitos emocionais positivos, agradáveis e envolventes. II- A rede mundial de computadores impacta no comportamento do consumidor como um fator relacionado ao ambiente físico, pois facilita a distribuição, a comunicação e a busca de informações dos consumidores. III- O estado de espírito corresponde aos sentimentos do consumidor e às condições do momento que afetam a tomada de decisão na hora da compra. É CORRETO o que se afirma em: a) ( ) I, apenas. b) ( ) I e II, apenas. c) ( ) II e III, apenas. d) ( ) III, apenas. e) ( ) I, II e III. 66 67 UNIDADE 2 CONSUMIDOR ORGANIZACIONAL E PESQUISA EM COMUNICAÇÃO OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de: • descrever o comportamento do consumidor organizacional; • definir o papel da pesquisa em comunicação e de mercado; • determinar os elementos que compõem o projeto de pesquisa; • relacionar os passospara a execução de pesquisa em comunicação; • analisar os métodos usados para a pesquisa em comunicação. Esta unidade está dividida em cinco tópicos. No decorrer de cada unidade você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 - COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR ORGANIZACIONAL TÓPICO 2 - O PAPEL DA PESQUISA DE MERCADO E EM COMUNICAÇÃO TÓPICO 3 - PROJETO DE PESQUISA E SELEÇÃO DAS FONTES DE DADOS TÓPICO 4 - ROTEIRO PARA ELABORAÇÃO DO PROJETO DE PESQUISA TÓPICO 5 - METODOLOGIA DA PESQUISA EM COMUNICAÇÃO E DE MERCADO Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações. CHAMADA 68 69 TÓPICO 1 COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR ORGANIZACIONAL UNIDADE 2 1 INTRODUÇÃO O comportamento do consumidor também pode ser interpretado quando nos referimos aos negócios realizados entre empresas, ou seja, os fabricantes e seus fornecedores de matérias-primas e suprimentos. Por essa razão, neste tópico, conceituaremos o comportamento do consumidor organizacional e relacionaremos as etapas do processo de compra entre empresas. Abordaremos os papéis de compra existentes nas organizações. Trataremos, ainda, da função e influências exercidas pelos centros de compras em uma empresa. Finalizaremos os estudos do comportamento do consumidor com uma breve descrição das influências sobre os compradores organizacionais. Vamos continuar? 2 O CONSUMIDOR ORGANIZACIONAL E O PROCESSO DE DECISÃO DE COMPRA Na primeira unidade deste Livro Didático nos concentramos em estudar e descrever as influências determinantes no comportamento de consumidor com relação aos indivíduos, mas esse comportamento também envolve as compras feitas pelas organizações. Apesar de guardar certa similitude com os processos ocorridos entre as pessoas, algumas características nos permitem melhor compreensão de como se dá o comportamento do consumidor organizacional e as variáveis que afetam as decisões de compra nas organizações. Para começar, precisamos definir o consumidor organizacional e suas características diferenciadoras dos consumidores como indivíduos. O consumidor organizacional refere-se especificamente às organizações e às empresas. UNIDADE 2 | CONSUMIDOR ORGANIZACIONAL E PESQUISA EM COMUNICAÇÃO 70 De acordo com Samara e Morsch (2005, p. 180), “o consumidor organizacional é definido como a empresa, entidade governamental ou organização sem fins lucrativos que consome produtos – bens e serviços – em função de sua atividade, no mercado organizacional”. Isso significa dizer que as transações e as trocas de produtos e serviços ocorrem em um ambiente entre empresas e organizações. Por essa razão, esse processo é chamado de negócio entre negócio (business to business – B2B). Como nos explica Limeira (2008, p. 354): O cliente organizacional ou empresarial é o conjunto de empresas comerciais e industriais, organizações governamentais ou não governamentais, com ou sem fins lucrativos, que demandam produtos e serviços para atender necessidades operacionais e estratégicas. Os fabricantes de produtos de consumo, por exemplo, são clientes organizacionais que compram insumos e matérias-primas. Os órgãos de governo compram serviços e materiais para manutenção de suas instalações e equipamentos. As organizações não governamentais (ONGs) compram serviços e produtos para poderem desempenhar suas atividades. Apesar de parecerem similares aos consumidores individuais nos processos de decisão, os mercados de negócios envolvem procedimentos mais estruturados, profissionais especializados e treinados para a atividade de compra (BRETZKE, 2004). Além disso, Kotler e Keller (2006) relacionam diversas outras características que tornam os mercados empresariais muito diferentes com relação aos mercados consumidores das pessoas. Essas características estão listadas de forma simplificada na sequência: • menos compradores, porém de maior porte; • relacionamento estreito entre fornecedor e cliente; • compra profissional; • diversas influências de compra (como veremos adiante); • vários contatos de vendas; • demanda derivada (derivam de bens de consumo); • demanda inelástica (pouco afetada pela variação de preço); • demanda oscilante; • concentração geográfica dos compradores; • compra direta. Em razão disso, Samara e Morsch (2005, p. 180-181) classificam os mercados organizacionais em quatro categorias, de acordo com suas características de compra: TÓPICO 1 | COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR ORGANIZACIONAL 71 • Mercado de produtor: abrange organizações que compram produtos para utilizá-los na produção de outros produtos ou usá-los em suas operações normais. Incluem compradores de matérias-primas e compradores de itens acabados ou semiacabados (exemplos: o supermercado que adquire sacos plásticos para embalar as mercadorias para seus clientes; o agricultor que compra trator ou fertilizantes). • Mercado de revendedor: compõe-se de intermediários, como atacadistas e varejistas, que compram produtos acabados e os revendem com lucro (exemplos: supermercados e concessionárias de veículos). • Mercado de governo: a União, os estados e os municípios, além de autarquias e órgãos ou entidades governamentais, compram bens e serviços para dar suporte as suas operações internas e fornecer produtos e serviços aos cidadãos, como estradas, educação, saúde pública e segurança. • Mercado institucional: envolve as organizações educacionais, comunitárias ou outras sem fins lucrativos, como igrejas, instituições de caridade e alguns hospitais, que consomem produtos em suas operações diárias (exemplo: livros e materiais didáticos comprados por escolas públicas). A partir dos conceitos apresentados até o momento, constatamos que as empresas agem como nós na situação de consumidores. Elas também têm suas necessidades por produtos e serviços de acordo com o tipo de negócio e ramo de atuação. Nesse sentido, Limeira (2008) ressalta que as necessidades organizacionais estão relacionadas com o tipo de negócio e atividade da organização. Em geral, Limeira (2008, p. 355) destaca que essas necessidades estão relacionadas aos seguintes fatores: • redução de custos e despesas; • aumento de receitas, lucros e participação de mercado; • diminuição de riscos; • redução de tempo total de operação; • acesso a novos mercados; • criação e desenvolvimento de inovações (novas ideias, produtos e tecnologia); • ampliação das capacidades e competências; • satisfação de seus clientes e stakeholders (outros públicos interessados ou afetados pelas atividades da organização); • remuneração de seus acionistas; • neutralização da concorrência. O atendimento a essas necessidades pode ocorrer por uma variedade de produtos ou serviços, tais como assessoria, consultoria e pesquisa, serviços operacionais especializados, instalações e construções de equipamentos e fábricas, peças e componentes, novas tecnologias ou ainda recursos financeiros e materiais. Limeira (2008, p. 355) explica, ainda, a esse respeito: UNIDADE 2 | CONSUMIDOR ORGANIZACIONAL E PESQUISA EM COMUNICAÇÃO 72 Em geral, a compra organizacional é de natureza técnica, o que exige análise de dados técnicos, econômicos e financeiros, entre outros. Portanto, a empresa fornecedora, em geral, realiza uma venda consultiva, um processo de venda em que o representante do fornecedor exerce diversas funções, a saber: apresentação do produto ou serviço, aconselhamento do cliente sobre as melhores alternativas, elaboração de propostas técnicas e econômicas, negociação, fechamento da venda e elaboração de contratos de fornecimento, suporte ao cliente após a venda etc. Devido a essas características diferenciadoras do consumidor individual, o processo de decisão de compra organizacional também sofre alterações. Para refrescar sua memória, relembraremos o processo de compra do consumidor individual estudado na Unidade 1.Ele compreende cinco etapas, que são: reconhecimento da necessidade, busca de informações, avaliação de alternativas, decisão de compra e avaliação pós-compra. Já nas compras organizacionais, encontramos mais etapas, como nos mostram Kotler e Keller (2006) e Bretzke (2004): • reconhecimento do problema; • descrição geral da necessidade; • especificação do produto; • procura de fornecedores; • solicitação de propostas; • seleção do fornecedor; • especificação do pedido de rotina; • revisão do desempenho. Para uma breve comparação entre os procedimentos executados por nós na condição de consumidores com as empresas em suas compras, reproduzimos no quadro a seguir as fases de compra de cada um dos tipos de consumidores, o que nos permite verificar as semelhanças. QUADRO 1 – COMPARAÇÃO DOS PROCESSOS DE COMPRA DOS CONSUMIDORES INDIVIDUAIS E ORGANIZACIONAIS FONTE: Adaptado de Bretzke (2004) Consumidores individuais Consumidores organizacionais Reconhecimento da necessidade. Identificação do problema.Descrição geral da necessidade. Busca de informações ou procura da solução. Especificação do produto. Avaliação de alternativas. Identificação de fornecedores.Solicitação de propostas. Decisão de compra. Seleção de fornecedor.Especificação da rotina do pedido. Comportamento de pós-compra. Revisão e desempenho. TÓPICO 1 | COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR ORGANIZACIONAL 73 Para compreensão das etapas do processo de compra organizacional, resumiremos as características de cada etapa, conforme Kotler e Keller (2006). Assim, a primeira etapa compreende o reconhecimento do problema ou necessidade a ser resolvida pela aquisição do produto/serviço. Esse reconhecimento da necessidade pode ser desencadeado por uma diversidade de fatores internos ou externos à empresa e que estudamos anteriormente ao destacarmos as necessidades organizacionais. A segunda etapa do processo abrange a descrição geral da necessidade e especificação do produto. Como explicam Kotler e Keller (2006), o comprador determina as características gerais dos itens necessários e a quantidade requerida. Em seguida é feita a especificação técnica do produto. Depois disso, o comprador organizacional busca os possíveis fornecedores do produto/serviço. Essa seleção pode ser feita por listas e catálogos comerciais, indicações, comerciais ou feiras setoriais para identificar fornecedores apropriados. Na quarta etapa, os compradores organizacionais solicitam as propostas aos possíveis fornecedores. Conforme Kotler e Keller (2006), quando os itens são complexos ou caros, há a necessidade de proposta escrita detalhada para avaliação, além de uma apresentação formal. Antes de selecionar o fornecedor, o centro de compras especifica também os atributos que deseja encontrar e indica a importância relativa de cada um deles. Somente depois de serem classificados nessa etapa é que os fornecedores são selecionados (KOTLER; KELLER, 2006). A penúltima etapa, realizada após a seleção do fornecedor, é aquela em que o comprador negocia a forma final do pedido e relaciona as especificações técnicas, as quantidades requeridas, o prazo de entrega desejado, os critérios de devolução, os termos de garantia e demais cláusulas. Por fim, Kotler e Keller (2006) descrevem a última etapa, compreendida pela revisão do desempenho, na qual o comprador revê o desempenho do fornecedor selecionado através de critérios e métodos específicos. Ao considerarmos esse processo de compra organizacional, não podemos nos esquecer das situações de compra ou tipo de compra a ser realizado pela empresa. Nesse sentido, Samara e Morsch (2005) e Kotler e Keller (2006) classificam as compras organizacionais em quatro tipos: • Recompra simples: são as compras já efetuadas pela organização para reposição de materiais utilizados. • Recompra modificada: são aquelas em que o comprador decide alterar as especificações do produto, os preços, as condições ou selecionar novos fornecedores. UNIDADE 2 | CONSUMIDOR ORGANIZACIONAL E PESQUISA EM COMUNICAÇÃO 74 • Nova compra: são aquelas em que um novo produto ou serviço é adquirido pela primeira vez e que, em geral, pode envolver maior custo, risco e complexidade e exigirá o envolvimento de pessoas especializadas no processo. • Compra de sistemas: são aquelas relacionadas à aquisição de um sistema completo ou pacote de solução para problemas organizacionais e que costuma ter um valor estratégico para o negócio e uma cuidadosa avaliação antes da aquisição. A exemplo do que ocorre com os consumidores individuais, os compradores organizacionais também exercem papéis diferentes no processo de decisão de compra. Esse será o tema inicial da sequência do tópico. 3 CENTRO DE COMPRAS E AS INFLUÊNCIAS SOBRE OS COMPRADORES ORGANIZACIONAIS Para entendermos o papel dos participantes do processo de compras organizacional, vamos imaginar a seguinte situação: quantos pneus de automóveis uma grande montadora de carros adquire por ano? Quantos maços de papéis são consumidos para gerar relatórios de produção? Nesses casos, as compras dos pneus e dos papéis podem ser enquadradas como recompra simples (caso do papel) ou recompra modificada (caso dos pneus). Agora, se forem componentes ou sistemas de produção para o lançamento de um novo modelo de carro? Certamente, em ambos os casos, estaremos diante dos tipos de compra de sistemas e de novas aquisições. Essas duas situações exigirão maior envolvimento das equipes de engenharia, enquanto os compradores ficarão atentos à seleção dos fornecedores. Esse caso hipotético nos mostra como difere o comportamento do consumidor organizacional do consumidor individual. Enquanto donos de carros, compramos no máximo quatro a cinco pneus. Já a montadora consumirá algumas toneladas de pneus anualmente. Devido a todas essas características específicas das compras organizacionais, muitas empresas adotam o centro de compras para a tomada de decisão. De acordo com Kotler e Keller (2006, p. 213-214), “o centro de compras é composto de ‘todas as pessoas e grupos que participam do processo decisório de compra e que compartilham algumas metas e riscos provenientes das decisões’”. Encontramos o centro de compras sob a denominação de decisões colegiadas (LIMEIRA, 2008). Na prática, essas decisões correspondem às pessoas envolvidas no processo em um centro de compras e que precisam ser atendidas e satisfeitas em seus interesses ou em parte deles. TÓPICO 1 | COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR ORGANIZACIONAL 75 Assim, os papéis que uma organização desempenha no processo de compra são semelhantes aos aprendidos quando analisamos os papéis do comprador pessoal. Entretanto, pela natureza e pelas peculiaridades que moldam a compra organizacional, sua diversidade e relevância são críticas para a compreensão da dinâmica de compra. Ademais, seu entendimento é essencial para o profissional de marketing, uma vez que fatalmente ele lidará com a participação de vários profissionais e com o envolvimento de mais de um nível decisório. É comum, por exemplo, empresas estabelecerem como política a decisão de um comitê de compras, envolvendo técnicos, gestores e membros da diretoria para análise e aprovação de aquisições vultosas ou estratégicas para o negócio. Em outro exemplo, na compra de aeronaves, produtos de elevado custo, alta tecnologia e performance, que exigem cuidadosas análises técnicas, financeiras e operacionais, é muito utilizado pelas companhias aéreas o processo de decisão por meio de comitês de compras. Conforme a extensão e a complexidade do processo de compra, inclusive com o envolvimento de vários profissionais e de departamentos diferentes, será oportuno para o profissional de marketing realizar diversas entrevistas e abordagens, eventualmente com variedade de argumentos de vendas e diferentes profundidades, buscando esclarecer todas as dúvidas e apresentar os principais benefícios. A partir dessa explicação, podemos estabelecer os papéis de compradesempenhados pelo comprador organizacional. Tanto Samara e Morsch (2005) quanto Limeira (2008) e Kotler e Keller (2006) relacionam esses papéis da seguinte maneira e características: • Usuário: é o departamento ou a unidade interna que usará o produto a ser comprado pela organização. É aquele que vai usufruir dos benefícios do produto ou serviço a ser adquirido pela organização. • Comprador: também chamado de gerente de compras, tem autoridade formal para executar o contrato de compra e fazer o pedido. É o que efetua a compra, realiza as tarefas operacionais para a execução do pedido de compra. • Analista: é o profissional que faz análise técnica dos fornecedores usando instrumentos, como análise de custos, análise de valor, entre outros. • Influenciador: é aquele que realiza aconselhamento especializado e influencia os critérios de avaliação e as classificações de fornecedores ou a própria decisão final. Geralmente são engenheiros de projetos, técnicos ou consultores especialistas. • Filtro ou guardião: regula o fluxo de informações que vai dos fornecedores para os outros membros do centro de compras, como usuários e decisores, filtrando o acesso de vendedores aos outros departamentos internos. Ele geralmente possibilita ou dificulta o contato com os participantes do centro de compras e pode controlar o fluxo das informações disponíveis para os participantes. Em inglês recebe o nome de gatekeeper. UNIDADE 2 | CONSUMIDOR ORGANIZACIONAL E PESQUISA EM COMUNICAÇÃO 76 • Decisor: é o que toma a decisão final. Pode ser papel desempenhado pelo gerente de compras, pelo presidente da empresa ou por um comitê formal de compras, dependendo da política empresarial ou do valor da compra. É quem realmente toma a decisão de compra e pode decidir o investimento a ser feito e os fornecedores que serão contratados. Na figura a seguir temos uma representação gráfica da interação entre todos os papéis desempenhados pelos participantes do centro de compras em uma decisão de compra organizacional. FIGURA 1 – INTERAÇÃO ENTRE OS PAPÉIS DO COMPRADOR NO CENTRO DE COMPRAS FONTE: Adaptada de Samara e Morsch (2005) Assim como os compradores individuais, os organizacionais também estão sujeitos a influências no decorrer do processo de compra. Os principais fatores que influenciam o comportamento do consumidor organizacional são relacionados na figura a seguir a partir da classificação em: ambientais, organizacionais, interpessoais e individuais. Centro de Compras USUÁRIO GUARDIÃO COMPRADOR DECISOR INFLUENCIADOR ANALISTA TÓPICO 1 | COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR ORGANIZACIONAL 77 FIGURA 2 – FATORES DE INFLUÊNCIA SOBRE O CONSUMIDOR ORGANIZACIONAL FONTE: Adaptada de Samara e Morsch (2005) Cada uma das variáveis de influência do comportamento do consumidor organizacional é caracterizada por fatores que se manifestam no processo de decisão de compra, conforme visualizamos na figura anterior. Samara e Morsch (2005) nos explicam cada uma dessas variáveis: • Fatores ambientais: como uma entidade orgânica que sofre influência direta do ambiente em que se situa, os compradores acabam por serem afetados por fatores correntes e previstos em seu contexto ambiental, tais como conjuntura econômica, política-legal, tecnológica, concorrência, socioculturais e socioambientais. FATORES AMBIENTAIS • Nível de demanda • Perfil econômico • Taxa de juros • Taxa de mudança tecnológia • Desenvolvimento da política de regulamentação • Desenvolvimento da concorrência • Preocupações com a responsabilidade social FATORES ORGANIZACIONAIS • Objetivos • Políticas • Procedimentos • Estruturas organizacionais • Sistemas COMPORTAMENTO DO COMPRADOR ORGANIZACIONAL FATORES INDIVIDUAIS • Idade • Renda • Instrução • Cargo • Personalidade • Atitudes quanto a risco • Cultura FATORES INTERPESSOAIS • Interesses • Autoridade • Status • Empatia • Poder de persuasão UNIDADE 2 | CONSUMIDOR ORGANIZACIONAL E PESQUISA EM COMUNICAÇÃO 78 • Fatores organizacionais: a compreensão do comprador organizacional tem como base suas prioridades estratégicas e objetivos organizacionais e ainda os desafios competitivos enfrentados pela empresa. Assim, as metas, os objetivos e as políticas que norteiam o funcionamento da organização afetam as decisões de compra nas organizações. • Fatores interpessoais: como a decisão de compra geralmente envolve muitas pessoas e departamentos, uns acabam por influenciar os outros na escolha final do fornecedor e do produto ou serviço. Isso se caracteriza pelos interesses, autoridade, status, empatia e o poder de persuasão dos envolvidos e da dinâmica de grupo. • Fatores individuais: como são as pessoas que trabalham nas empresas que tomam as decisões, e não as organizações em si, os indivíduos sofrem influências de suas percepções, atitudes e preferências. Assim como nas compras individuais, a personalidade, as experiências anteriores e o nível de instrução afetam as decisões de compra. Assim, conseguimos perceber as diferenças entre o comportamento das pessoas na condição de consumidores individuais e as diferenças de quando elas estão a serviço de uma organização e cujos ambientes afetam as suas decisões. Tudo isso nos leva a questionar como o comportamento do consumidor individual e organizacional afeta a comunicação e o marketing, não é mesmo? Como podemos usar esses conhecimentos a nosso favor ao criarmos uma campanha de propaganda? ATENCAO Também precisamos saber como detectar e descobrir as várias nuances e hábitos de consumo das pessoas para melhorarmos nossa capacidade de comunicação através da propaganda. Essas respostas e considerações serão abordadas na sequência da unidade. TÓPICO 1 | COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR ORGANIZACIONAL 79 LEITURA COMPLEMENTAR Como tratamos no tópico a respeito dos consumidores organizacionais, essa leitura complementar nos mostrará a dinâmica do marketing organizacional. Como vimos, as trocas entre negócios (business to business – B2B) ao contrário das trocas entre empresas e pessoas (business to consumer – B2C). INTERFACE – MARKETING ORGANIZACIONAL Beatriz Santos Samara Marco Aurélio Morsch O marketing organizacional, também chamado de marketing business- to-business (B2B), marketing industrial ou marketing empresarial, refere-se ao marketing de produtos e serviços em organizações, distinguindo-se do marketing para consumidores finais. Embora possam ser usadas como sinônimos, as denominações implicam escopos diferentes: marketing organizacional é um termo mais abrangente, pois engloba todo tipo de organização, inclusive entidades do governo e organizações sem fins lucrativos. O uso da expressão marketing industrial pode, erroneamente, levar à ideia de que dele se excluem empresas de serviços, e a expressão B2B (negócio para negócio) possui um significado mais atual, pois enfatiza as trocas e os relacionamentos entre negócios. Os produtos para o mercado empresarial incluem os que são utilizados como matérias-primas ou componentes na fabricação de outros bens, os que servem às operações diárias de uma empresa ou aqueles que são adquiridos para revenda. Esses produtos se distinguem daqueles adquiridos pelo consumidor final, principalmente em função do uso recomendado. Aqui, a intenção de uso é influenciadora-chave na decisão de compra, mais do que as características físicas usualmente responsáveis pela escolha de produtos de consumo individual. Um computador pessoal, por exemplo, é ao mesmo tempo um produto para o mercado business-to-business e para o mercado business-to-consumer, e, quando comprado por uma empresa, terá finalidade diferente da do consumo pessoal. O marketing organizacional vem ganhando cada vez maior espaço em livros técnicos e revistas especializadas, graças ao crescimento espantoso do mercado organizacional nas últimas décadas. Movimentando trilhões de dólares em todo o mundo e caracterizado por sua complexidade e diversidade, esse mercado exige do profissional de marketingconhecimentos e habilidades específicas para o eficaz gerenciamento da cadeia de suprimentos da empresa, contribuindo fundamentalmente para a qualidade do mix de marketing ofertado ao consumidor final. UNIDADE 2 | CONSUMIDOR ORGANIZACIONAL E PESQUISA EM COMUNICAÇÃO 80 Tipos de produtos para o mercado organizacional: • Equipamentos comerciais (instalações): bens de capital, máquinas, computadores mainframes, geradores, aviões, edifícios. • Equipamentos acessórios: ferramentas, furadeiras, PCs. • Matérias-primas: produtos naturais não processados, como madeira, minério de ferro, trigo, frutas; partes componentes, como itens acabados para montagem de produtos (pneus, velas de ignição, motores elétricos para automóveis). • Materiais processados: usados diretamente na fabricação de outros (chapas de metal, produtos químicos, aço especial, plástico). • Suprimentos: itens consumíveis que não se tornam parte do produto final (lubrificantes, detergentes, papel). • Serviços comerciais ou profissionais: itens de despesa que não se tornam parte do produto final (serviços jurídicos, publicidade, segurança, manutenção). FONTE: SAMARA, B. S.; MORSCH, M. A. Comportamento do consumidor: conceitos e casos. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2005, p. 181. 81 RESUMO DO TÓPICO 1 Neste tópico, você aprendeu que: • O consumidor organizacional é definido como a empresa, entidade governamental ou organização sem fins lucrativos que consome produtos – bens e serviços – em função de sua atividade, no mercado organizacional. • Os mercados de negócios envolvem procedimentos mais estruturados, profissionais especializados e treinados para a atividade de compra. • Existem diversas características que tornam os mercados empresariais diferentes dos mercados consumidores das pessoas. • Os mercados organizacionais podem ser classificados em mercado de produtor, mercado de revendedor, mercado de governo e mercado institucional. • As necessidades organizacionais estão relacionadas com o tipo de negócio e atividade da organização. • O processo de compra organizacional compreende oito etapas: reconhecimento do problema, descrição geral da necessidade, especificação do produto, procura de fornecedores, solicitação de propostas, seleção do fornecedor, especificação do pedido de rotina e revisão do desempenho. • As compras organizacionais podem ser categorizadas em recompra simples, recompra modificada, nova compra e compra de sistemas. • O centro de compras é composto de todas as pessoas e grupos que participam do processo decisório de compra e que compartilham algumas metas e riscos provenientes das decisões. • Os papéis dos consumidores organizacionais podem ser: usuário, comprador, analista, influenciador, filtro ou guardião e decisor. • Os principais fatores que afetam as decisões de compra organizacional são os ambientais, os organizacionais, os interpessoais e os individuais. 82 AUTOATIVIDADE 1 (ENADE, 2015) Uma grande rede varejista decidiu investir em marca própria para algumas linhas de produtos. Ela está atenta à seleção de seus stakeholders, mais pontualmente, os fornecedores, que irão produzir os itens com a marca da rede. Essa empresa tem uma excelente imagem junto aos seus clientes como marca de rede de varejo, por pautar-se na valorização das questões éticas e socioambientais, aspectos que considera imprescindíveis e primordiais na escolha de seus parceiros. Além disso, nesse novo projeto, ela precisa trabalhar com produtos de qualidade e custo relativamente baixo. Para a empresa, um dos requisitos essenciais para que um fornecedor possa desenvolver a linha de produtos com marca própria é seguir a linha ética por ela adotada. A partir do texto, avalie as afirmações a seguir no que se refere às condutas que podem ser adotadas pela empresa. I- Convidar todos os seus fornecedores a participarem do processo de fornecimento de produtos para sua marca própria, desde que adotem procedimentos que valorizem a responsabilidade socioambiental. II- Esperar os fornecedores interessados na produção dos itens para a sua marca própria apresentarem suas propostas e utilizar como critério para escolha do fornecedor, o menor preço apresentado. III- Escolher o fornecedor que mantém o melhor relacionamento com a empresa, sem desconsiderar os preços praticados e a conduta desse fornecedor. É condizente com a proposta da empresa adotar a(s) conduta(s) expressa(s) em: FONTE: <https://brainly.com.br/tarefa/19786154>. Acesso em: 26 fev. 2020. a) ( ) I, apenas. b) ( ) II, apenas. c) ( ) I e III, apenas. d) ( ) II e III, apenas. e) ( ) I, II e III. 2 Os mercados organizacionais são classificados por Samara e Morsch (2005) em quatro categorias distintas. Com relação a essa classificação dos mercados, analise as asserções a seguir: I- O mercado revendedor compõe-se dos municípios, estados e União e outras entidades governamentais que compram produtos e serviços para dar suporte as suas operações e oferecer serviços e produtos aos cidadãos. II- O mercado institucional envolve as organizações educacionais, comunitárias e outras sem fins lucrativos que consomem produtos em suas operações diárias. 83 III- O mercado produtor abrange as organizações que compram produtos para utilizá-los na produção de outros produtos ou utilizá-los em suas operações normais. É CORRETO o que se afirma em: a) ( ) I e III, apenas. b) ( ) II e III, apenas. c) ( ) I e II, apenas. d) ( ) II, apenas. e) ( ) I, II e III. 3 As situações em que ocorrem as compras organizacionais, ou também denominadas tipos de compra, afetam as decisões e o comportamento dos consumidores organizacionais. Nesse sentido, relacione os tipos de compra com suas respectivas características. 1- Recompra simples. 2- Nova compra. 3- Compra de sistemas. 4- Recompra modificada. ( ) São aquelas em que um novo produto ou serviço é adquirido pela primeira vez e que, em geral, pode envolver maior custo, risco e complexidade e exigirá o envolvimento de pessoas especializadas no processo. ( ) São as compras já efetuadas pela organização para reposição de materiais utilizados. ( ) São aquelas em que o comprador decide alterar as especificações do produto, os preços, as condições ou selecionar novos fornecedores. ( ) São aquelas relacionadas à aquisição de um sistema completo ou pacote de solução para problemas organizacionais e que costumam ter um valor estratégico para a organização. A alternativa correspondente à sequência CORRETA é: a) ( ) 2, 1, 4, 3. b) ( ) 1, 2, 3, 4. c) ( ) 4, 3, 2, 1. d) ( ) 3, 4, 1, 2. e) ( ) 2, 4, 1, 3. 4 Devido às características diferenciadoras das compras organizacionais em relação às compras individuais, as empresas costumam adotar os comitês ou centros de compras a fim de melhorar a tomada de decisão das compras dos produtos e serviços a serem adquiridos pela empresa. Dessa forma é possível estabelecer os papéis de compra desempenhados pelo comprador organizacional. Avalie as asserções a seguir a respeito dos papéis de compra organizacional. 84 I- Um dos papéis do comprador organizacional denomina-se usuário, cujo departamento usará o produto a ser comprado pela organização. PORQUE II- Os usuários são aqueles que efetuam as compras dos produtos e serviços e realizam as tarefas operacionais para a execução do pedido de compra. A respeito dessas asserções, assinale a opção CORRETA: a) ( ) As asserções I e II são proposições verdadeiras, e a II é uma justificativa da I. b) ( ) As asserções I e II são proposições verdadeiras, mas a II não é uma justificativa da I. c) ( ) A asserção I é uma proposição verdadeira, e a II é uma proposição falsa. d) ( ) A asserção I é uma proposição falsa, e a II é uma proposição verdadeira. e) ( ) As asserções I e II são proposições falsas. 85 TÓPICO 2 O PAPEL DA PESQUISA DE MERCADO E EM COMUNICAÇÃO UNIDADE 2 1 INTRODUÇÃO O conhecimento do comportamento do consumidor individuale organizacional é essencial para as atividades de marketing e comunicação, mas para sabermos como se comportam e como são influenciados, utilizamos o Sistema de Informação de Marketing para obter essas informações. O tópico inicia com a conceituação e a descrição dos elementos que compõem o Sistema de Informações de Marketing (SIM) e sobre o papel da pesquisa em comunicação melhorar as ações de marketing e comunicação respectivamente. Na sequência apresentaremos o papel da pesquisa de mercado e as formas mais comuns de aplicação das técnicas de pesquisa. Encerraremos com as maneiras de conduzir e executar as pesquisas para a obtenção de informações dos consumidores. 2 SISTEMA DE INFORMAÇÃO DE MARKETING (SIM) E AS FONTES DE INFORMAÇÕES Nesta fase do curso de Comunicação Social, você já sabe diferenciar as atividades de marketing das de comunicação, além de termos estudado, até o momento, a necessidade e a importância de conhecermos bem o comportamento dos consumidores que desejamos alcançar. Assim, podemos afirmar que o foco das ações de marketing resulta da relação entre mercado (consumidor) e empresa. Portanto, quanto mais informações e conhecimento tivermos do comportamento dos consumidores, melhores resultados teremos nas atividades de marketing e comunicação. Para sabermos de fato as preferências, os gostos, as atitudes e as influências dos consumidores que desejamos alcançar nas atividades de marketing ou de comunicação, recorremos ao Sistema de Informação de Marketing (SIM). UNIDADE 2 | CONSUMIDOR ORGANIZACIONAL E PESQUISA EM COMUNICAÇÃO 86 De acordo com Kotler e Keller (2006), o sistema de informação de marketing compõe-se de pessoas, equipamentos e procedimentos destinados a coletar, classificar, analisar, avaliar e distribuir as informações necessárias e oportunas para a tomada de decisão em marketing. Assim: Em uma empresa, a responsabilidade maior de identificar as mudanças significativas no mercado é dos profissionais de marketing. Mais do que qualquer outro grupo, são eles que devem rastrear tendências e buscar oportunidades. Embora todo gerente em uma organização precise observar o ambiente externo, os profissionais de marketing têm duas vantagens: usam métodos consistentes para coletar informações e passam mais tempo interagindo com clientes e observando a concorrência (KOTLER; KELLER, 2006, p. 70). Esse sistema precisa ser constantemente alimentado com dados do mercado e do consumidor. Afinal, esses dados serão trabalhados para gerar as informações necessárias para serem distribuídas para as pessoas tomarem as melhores decisões em marketing e comunicação. Perceba que nos referimos aos termos dados e informações. De acordo com Gioia (2006), os dados compõem-se de fatos e estatísticas, enquanto a informação consiste na organização dos dados, de modo que respondam a questões em aberto. Retomando a ideia inicial do Sistema de Informação de Marketing (SIM), Kotler e Keller (2006) explicam que esse sistema é desenvolvido a partir dos registros internos da empresa, das atividades de inteligência de marketing e da pesquisa de marketing. Cada um desses componentes do sistema precisará ser abastecido com determinados dados pelas pessoas que trabalham na empresa e com o registro das ocorrências durante o desenvolvimento das operações e que fornecerão a base para as informações. Conforme Foggetti (2015, p. 109), cada uma das fontes básicas de dados compreende: • Registros internos: banco de dados que a organização vai criando, com informações a respeito de logística (identificar como anda o clico do pedido, se há atrasos na entrega, qual o volume de vendas por período, quais os picos etc.). • Inteligência de marketing: a partir de pesquisas na internet e na mídia em geral, em fornecedores, em eventos, feiras etc. Para agilizar a coleta desses dados, deve-se usar os canais que a organização já dispõe: equipe de vendas, que se relaciona com os clientes; distribuidores, mantendo o canal aberto e facilitando a comunicação com eles; empregados, com abertura para troca de ideias a respeito dos produtos e da organização. • Pesquisa de mercado: por meio de empresas específicas ou de atividades da própria organização. TÓPICO 2 | O PAPEL DA PESQUISA DE MERCADO E EM COMUNICAÇÃO 87 Observe na figura a seguir a divisão das fontes de informação que formam um Sistema de Informação de Marketing (SIM), e que a pesquisa de mercado é apenas um dos elementos integrantes. FIGURA 3 – COMPONENTES DO SISTEMA DE INFORMAÇÃO DE MARKETING (SIM) FONTE: Os Autores Essa estrutura do SIM pode ser diferente, de acordo com o tipo de empresa, a cultura empresarial, a estrutura de marketing e os recursos disponíveis (SAMARA; BARROS, 2007). O cruzamento de determinados dados permitirá a aquisição de informações. Conforme o resumo do SIM apresentado na Figura 3, as fontes de informação podem ser internas ou externas à organização. Nesse sentido, Gioia (2006, p. 38) explica: • Fontes internas de informação: é possível encontrar grande riqueza de dados dentro da própria empresa. Por exemplo, faturamento por produto, por região, margem de lucro, quantidade de produtos em estoque, e até dados dos clientes armazenados em banco de dados de clientes. Para utilizar esses dados, só é necessário checar sua consistência e verificar sua manutenção. Não é incomum haver dados distintos em departamentos diferentes, como financeiro e comercial; assim, antes de usá-los, é necessário verificar quais são os dados oficiais. • Fontes externas de informação: são dados relacionados ao ambiente externo. Normalmente, envolvem o macroambiente, como dados sobre economia, política, tecnologia e socioculturais, e dados sobre o mercado, relacionados aos consumidores, concorrentes, fornecedores e intermediários. SISTEMA DE INFORMAÇÃO DE MARKETING (SIM) REGISTROS INTERNOS • Banco de dados • Data mining • Data warehouse • Ciclo do pedido • Informações de vendas INTELIGÊNCIA DE MARKETING • Pesquisas de mídia em geral • Fornecedores • Eventos e feiras • Distribuidores • Funcionários PESQUISA DE MERCADO • Coleta de dados específicas para resolução de problemas ou atividades próprias da empresa UNIDADE 2 | CONSUMIDOR ORGANIZACIONAL E PESQUISA EM COMUNICAÇÃO 88 Ainda em Gioia (2006), encontramos outra distinção importante quando nos referimos ao Sistema de Informação de Marketing (SIM), os dados coletados podem ser primários ou secundários. Nesse sentido, quando os dados coletados já existem e estão disponíveis para consulta, eles são considerados secundários. Já os dados primários são aqueles coletados especialmente para determinada pesquisa, diretamente com quem participa da ação (GIOIA, 2006). Outra diferenciação necessária com relação aos dados refere-se a sua aplicação. De acordo com Yasuda e Oliveira (2012), as pesquisas acadêmicas possuem cunho científico e possuem a finalidade de gerar conhecimento e reflexão sobre as áreas de conhecimento na qual se inserem. Já as pesquisas aplicadas possuem um foco pragmático e dirigido com o objetivo de usar as informações geradas para o marketing, a comunicação ou qualquer outra finalidade. Ainda em Yasuda e Oliveira (2012, p. 21), encontramos uma explicação para essa distinção: As pesquisas de mercado e acadêmica são muito diferentes em sua concepção básica, embora até possam compartilhar alguns métodos de coleta e formas de trabalhar com os dados. Certamente, ambas partilham o rigor no planejamento e execução dos dados. Se a pesquisa acadêmica exige um embasamento teórico e científico, a comprovação da eficácia da pesquisa de mercado se dá de forma pragmática: o melhor termômetro para sua avaliação é a utilidade que as informações têm para o cliente que solicitou a pesquisa, assim como o desempenho de vendas dos bens de consumo pesquisados. É por essa razão que deixaremos claro a diferença entre pesquisa de mercado e pesquisa em comunicação. De acordo com Melo (2011), a pesquisade mercado possui uma finalidade específica e aplicação prática. Por outro lado, Melo (2011) entende que a pesquisa em comunicação compreende o estudo específico dos elementos que integram o processo comunicativo. Ela busca analisar os fenômenos relacionados ou gerados pela transmissão de informações para uma pessoa ou um grupo. Dessa forma, a pesquisa em comunicação possui uma natureza interdisciplinar, por envolver investigações linguísticas, educacionais, jornalísticas, cibernéticas etc. com outras áreas das ciências humanas, tais como sociologia, psicologia, história ou antropologia (MELO, 2011). A partir desses conceitos iniciais, veremos na sequência o estabelecimento do papel da pesquisa em marketing e em comunicação e as formas de conduzir e executar projetos de pesquisa para a compreensão de problemas específicos. TÓPICO 2 | O PAPEL DA PESQUISA DE MERCADO E EM COMUNICAÇÃO 89 3 PAPEL DA PESQUISA, COORDENAÇÃO E EXECUÇÃO DOS PROJETOS DE PESQUISA Conforme estudamos inicialmente ao conceituarmos o Sistema de Informação de Marketing (SIM), os mercados e as sociedades estão em constante mudança. Isso evidencia a necessidade de as empresas e os comunicadores buscarem sempre a compreensão dos modos de vida. Nesse contexto, precisamos caracterizar a pesquisa de mercado como um projeto formal, que visa à obtenção de dados de forma empírica, sistemática e objetiva para a solução de problemas ou oportunidades específicas relacionadas ao marketing de produtos e serviços (SAMARA; BARROS, 2007). As pesquisas podem ser encaminhadas pelas próprias organizações interessadas nos dados ou por institutos especializados em pesquisa. De acordo com Foggetti (2015), há institutos que coletam a vendem informações comerciais de empresas, enquanto outros fazem projetos sob medida e outros ainda são especializados em pesquisas de campos e entrevistas. A importância da pesquisa tende a aumentar quanto mais significativa for a mudança nos comportamentos das pessoas com relação a seus hábitos de comunicação, de consumo, de viver e de perceber as necessidades e desejos por produtos e serviços. Assim, Yasuda e Oliveira (2012, p. 7-8, grifos nossos) explicam: A pesquisa de mercado precisa ser encarada muito mais como um investimento em conhecimento que um gasto, pelo retorno que pode ser obtido em termos de redução dos riscos das decisões, as quais a pesquisa pode subsidiar. No entanto, a despeito da redução de riscos ser uma das principais funções da pesquisa de mercado, é importante enfatizar que a pesquisa subsidia a decisão, mas não a substitui nem exime os gestores das empresas e instituições da responsabilidade da decisão. Yasuda e Oliveira (2012) destacam os principais papéis da pesquisa de mercado no mundo empresarial e social em quatro vertentes: • papel descritivo de coleta e seleção de dados e fatos; • papel diagnóstico de transformação dos dados em informação relevante, conhecimento e inteligência para as empresas através da análise; • papel preditivo de como usar os dados e informações na implementação das ações, projetando possíveis consequências futuras; • papel criativo de auxiliar na obtenção de insights a respeito de caminhos e oportunidades. Samara e Barros (2007) destacam ainda que, por ser uma subdivisão do SIM, a pesquisa tem como função executar projetos específicos para a obtenção das informações necessárias e que não estejam disponíveis na forma desejada em um determinado momento. UNIDADE 2 | CONSUMIDOR ORGANIZACIONAL E PESQUISA EM COMUNICAÇÃO 90 Portanto, a pesquisa será importante na fase de diagnóstico de uma determinada situação enfrentada pela organização e para o processo de tomada de decisão de compra do público-alvo. Ela oferece entendimento do comportamento do consumidor e das organizações (SAMARA; BARROS, 2007). Dessa forma: A pesquisa de marketing é uma ferramenta para obter a eficiência das campanhas de persuasão. É por essa razão que as grandes agências de publicidade mantêm departamentos de pesquisa de marketing. A pesquisa, em si, não tem padrões éticos. Quem faz os padrões éticos é o ser humano. Padrões éticos podem levar a pesquisa a ser orientada para o bem-estar dos consumidores, mas se alguém, desprovido de preocupações de ordem moral, fizer uso da pesquisa, ela o ajudará. Sabe-se, por exemplo, que a pesquisa de marketing foi importante para o sucesso da indústria de cigarros e de outros derivados do tabaco, e que ainda é importante para as indústrias farmacêuticas e de bebidas alcoólicas (gerou e gera bem-estar para as empresas e acionistas que exploraram ou exploram esses produtos) (SÁ E SILVA, 2011, p. 4-5). Independentemente do uso ou da finalidade, percebemos sempre a necessidade da obtenção das informações que possam confirmar hipóteses específicas ou embasar a tomada das possíveis decisões (SAMARA; BARROS, 2007). Por essa razão, a coordenação e a execução dos projetos de pesquisa devem ser feitas por profissionais capacitados e ligados a uma série de áreas distintas do conhecimento e de atuação, tais como marketing, vendas, informação, desenvolvimento de novos produtos etc. Como não há uma uniformidade quanto à estrutura organizacional do nível hierárquico em que estão alocadas as pessoas ou departamentos responsáveis pela pesquisa, Yasuda e Oliveira (2012) entendem que estas costumam ser conduzidas por empresas especializadas ou, em casos mais raros, por recursos internos da própria empresa. Nesse sentido, Yasuda e Oliveira (2012) recomendam a adoção de critérios para a escolha de fornecedores de pesquisa de mercado, tais como tradição, credibilidade, princípios éticos e reputação dos profissionais que a compõem. Também aconselham verificar se a empresa é credenciada às entidades de pesquisas (ABEP, ESOMAR), tenha capacidade técnica e analítica, flexibilidade e experiência, além de disponibilidade de acesso e qualidade visual na proposta final e relatórios e custos compatíveis com a proposta. Na mesma linha de raciocínio, Sá e Silva (2011) sugere um contato preliminar entre o usuário da informação e o entrevistador responsável pela condução da pesquisa. Nesse contato, o usuário deve definir o objetivo da pesquisa e os prazos e tirar dúvidas sobre os procedimentos. A forma de delimitar os objetivos da pesquisa e a condução da pesquisa serão abordadas no tópico seguinte, quando trataremos também da estrutura de um projeto de pesquisa e da seleção das fontes de pesquisa. 91 RESUMO DO TÓPICO 2 Neste tópico, você aprendeu que: • O foco das ações de marketing resulta da relação entre mercado (consumidor) e empresa. • O sistema de informação de marketing compõe-se de pessoas, equipamentos e procedimentos destinados a coletar, classificar, analisar, avaliar e distribuir as informações necessárias e oportunas para a tomada de decisão em marketing. • Dados são fatos e estatísticas, enquanto as informações são a organização dos dados de modo a responder questões específicas. • O Sistema de Informação de Marketing (SIM) é alimentado por três fontes: registros internos, atividades de inteligência de marketing e pesquisa de marketing. • Os registros internos são formados pelos bancos de dados internos da empresa. • A inteligência de marketing compreende as fontes secundárias de dados existentes no ambiente externo da empresa. • A pesquisa de mercado é feita para identificar ou solucionar problemas específicos das empresas. • As fontes de informação podem ser internas ou externas à empresa. • Dados primários são coletados e analisados pela própria empresa e os dados secundários são aqueles já disponíveis para consulta. • A pesquisa acadêmica possui cunho científico e gera conhecimento. • A pesquisa de marketing possui cunho pragmático com o objetivo de uso das informações. • A pesquisa em comunicação compreende o estudo específico dos elementos que integram o processo comunicativo. • A pesquisa de mercado compreende um projeto formal que visa à obtençãode dados de forma empírica, sistemática e objetiva para a solução de problemas ou oportunidades específicas relacionadas ao marketing de produtos e serviços. 92 • A pesquisa tem como função executar projetos específicos para a obtenção das informações necessárias e que não estejam disponíveis na forma desejada em um determinado momento. • A coordenação e a execução dos projetos de pesquisa devem ser feitas por profissionais capacitados e ligados a uma série de áreas distintas do conhecimento e de atuação. 93 AUTOATIVIDADE 1 (ENADE, 2009) O conhecimento a respeito da complexidade do ambiente de marketing é essencial para que a empresa seja bem-sucedida. É necessário que o profissional de marketing encontre maneiras de se manter atualizado frente às constantes e rápidas alterações nesse ambiente. Qual componente do Sistema de Informações de Marketing oferece dados sobre eventos que promovam alterações no ambiente de marketing? FONTE: <https://www.aprovaconcursos.com.br/questoes-de-concurso/questao/600734>. Acesso em: 26 fev. 2020. a) ( ) Sistema de Controle de Marketing. b) ( ) Sistema de Informações de Vendas. c) ( ) Sistema de Inteligência de Marketing. d) ( ) Sistema de Pesquisa de Marketing. e) ( ) Sistema de Registros Internos. 2 “Marketing sem informação é como dar um tiro sem usar a mira. Pode-se fazer um grande esforço, investir milhões, mas sem atingir os objetivos”. Esse trecho, extraído de Crocco et al. (2006, p. 37), reforça a necessidade de se investir em pesquisa de mercado para que as ações de marketing e, consequentemente, de comunicação, sejam assertivas. Nesse sentido, avalie as asserções a seguir e assinale V (Verdadeiro) ou F (Falso) para cada uma delas. ( ) Os dados organizados de modo que respondam às questões em aberto denominam-se informação. ( ) Os dados secundários são aqueles coletados especialmente para determinada pesquisa. ( ) Os relatórios de governo ou serviços de pesquisa são exemplos de dados primários. ( ) A pesquisa de mercado corresponde à elaboração, à coleta, à análise e à edição de relatórios sistemáticos de dados e descobertas relevantes sobre uma situação específica de marketing. ( ) Os fatos e estatísticas são denominados de dados. A alternativa correspondente à sequência CORRETA é: a) ( ) V, F, F, V, V. b) ( ) V, V, V, F, F. c) ( ) V, F, V, F, V. d) ( ) F, V, F, V, F. e) ( ) F, F, V, V, V. 94 3 (ENADE, 2018) Texto 1 No esforço de gestão orientada à competitividade, a decisão baseada em informação é sempre uma referência de valor para gestores mais eficientes e visionários. No contexto de grandes volumes de dados e com produção continuada nos meios virtuais, associados ao conceito de Big Data, os gestores têm à disposição dados que permitem melhor conhecimento de concorrentes, consumidores, colaboradores, parceiros e outros agentes de influência e interação. No campo particular de marketing, essa realidade alcança o conceito de inteligência de marketing, com foco nas variáveis de mercado e em dados e informações, por exemplo, sobre consumidores e concorrentes. FONTE: TURBAN, E. et al. Business intelligence: um enfoque gerencial para a inteligência do negócio. Porto Alegre: Bookman Editora, 2009 (adaptado). Texto 2 Um debate sobre questões legais e éticas a respeito do uso de dados de consumidores atualmente acessíveis a diferentes tecnologias de prospecção surgiu em decorrência da abundância de informações nas redes sociais. A venda de tais dados a empresas interessadas em melhor direcionar seus esforços de marketing, sem a autorização da pessoa, pode vir a criar os mais diversos transtornos. A constante novidade dessas ferramentas e práticas dificulta a existência de referências legais de gestão e controle. A base de decisão ética parece ser a referência central para os gestores. FONTE: <https://super.abril.com.br/tecnologia/o-lado-negro-do-facebook/>. Acesso em: 27 jul. 2017 (adaptado). Considerando os desenvolvimentos relativos à inteligência de marketing, analise as afirmações a seguir. I- Diferentemente da inteligência competitiva, voltada a dados externos, a inteligência de marketing se operacionaliza por meio dos sistemas de processamentos de transações de dados internos da organização, de modo que, com o devido consentimento do cliente, são eliminados os problemas éticos no uso de tecnologias para melhorar as decisões de marketing com base em seus dados pessoais. II- As redes sociais têm sido objeto de reflexão no debate contemporâneo porque as tecnologias disponíveis permitem extrapolar o interesse gerencial dos prestadores de serviços e gerar ações de marketing que, em algumas situações, não seriam permitidas pelos consumidores caso soubessem do uso de seus dados. III- As ferramentas convencionais de inteligência competitiva, cuja aplicação abrange a inteligência de marketing, requerem cuidado e clareza no uso dos dados de mercado e dos clientes em potencial, sendo a disseminação de boas práticas, o uso de códigos de ética e a reflexão ética continuada exemplos de práticas que minimizam problemas em um cenário de falta de referência legal. 95 É CORRETO o que se afirma em: FONTE: <https://www.indagacao.com.br/2018/12/enade-2018-considerando-os- desenvolvimentos-relativos-a-integridade-de-marketing-avalie-as-afirmacoes-a-seguir.html>. Acesso em: 26 fev. 2020. a) ( ) I, apenas. b) ( ) III, apenas. c) ( ) I e II, apenas. d) ( ) II e III, apenas. e) ( ) I, II e III. 4 De acordo com Kotler e Keller (2006), o Sistema de Informação de Marketing (SIM) abrange pessoas, equipamentos e procedimentos destinados a coletar, classificar, analisar, avaliar e distribuir as informações necessárias e oportunas para a tomada de decisão. Com relação aos componentes do SIM, avalie as asserções a seguir e a relação proposta entre elas. I- O SIM precisa ser constantemente alimentado com dados do mercado e do consumidor para que eles possam ser trabalhados e permitam gerar informações úteis à organização para a tomada de decisão. PORQUE II- A estrutura do SIM difere conforme as características de cada organização, porém, o cruzamento dos dados externos e internos permitirá a aquisição dessas informações úteis para a tomada de decisão. A respeito dessas asserções, assinale a opção CORRETA: a) ( ) As asserções I e II são proposições verdadeiras, e a II é uma justificativa da I. b) ( ) As asserções I e II são proposições verdadeiras, mas a II não é uma justificativa da I. c) ( ) A asserção I é uma proposição verdadeira, e a II é uma proposição falsa. d) ( ) A asserção I é uma proposição falsa, e a II é uma proposição verdadeira. e) ( ) As asserções I e II são proposições falsas. 96 97 TÓPICO 3 PROJETO DE PESQUISA E SELEÇÃO DAS FONTES DE DADOS UNIDADE 2 1 INTRODUÇÃO A realização de uma pesquisa de mercado ou em comunicação exige um pré-projeto. O tópico inicia com a importância de um briefing de pesquisa, a fim de se determinar a viabilidade de condução da pesquisa. Na sequência, apresentaremos as etapas do projeto de pesquisa e suas respectivas características e elementos. Esse projeto visa contribuir para a execução da pesquisa de campo ao estabelecer os métodos e as formas de coletas de dados. A etapa final do tópico envolverá a necessidade da seleção das fontes de dados, tanto as primárias quanto as secundárias, para melhor compreensão do problema de pesquisa e dos métodos a serem utilizados. Também destacaremos as responsabilidades dos pesquisadores. Vamos em frente! 2 BRIEFING DE PESQUISA E AS ETAPAS DO PROJETO DE PESQUISA Ao final do tópico anterior evidenciamos a necessidade de um contato prévio entre os usuários da informação e os entrevistadores responsáveis pela pesquisa a fim de delimitar os objetivos, métodos e informações a serem levantados. Esse contato serve para apresentar um briefing ao entrevistador. De acordo com Yasuda e Oliveira (2012), o brief é um instrumento que servede guia para orientar a forma e a execução da pesquisa de campo, destacando os problemas, objetivos e questões relacionadas ao negócio. O briefing consiste em um planejamento da pesquisa de campo a fim de descobrir a real necessidade de realização da pesquisa e avaliar o custo-benefício envolvido com as possíveis respostas, bem como o tempo necessário para se obter as respostas desejadas (YASUDA; OLIVEIRA, 2012). 98 UNIDADE 2 | CONSUMIDOR ORGANIZACIONAL E PESQUISA EM COMUNICAÇÃO A justificativa para execução do brief reside no fato de que muitas vezes não conseguimos definir com clareza quais são os próximos passos ou ações a serem tomadas em função dos resultados (YASUDA; OLIVEIRA, 2012). Essa indefinição decorre muitas vezes da ausência de tomada de decisão por parte da empresa, da falta de clareza nos objetivos da pesquisa, não saber o que fazer com as informações na sequência e discordância entre os envolvidos com relação ao uso das informações. Como complementam Yasuda e Oliveira (2012, p. 46): A qualidade da pesquisa, a utilidade dos resultados e a acuidade das recomendações geradas pelas informações são diretamente proporcionais à qualidade do brief. Um brief de qualidade deve ser um documento com exposição clara das razões pelas quais determinadas informações são necessárias; quais os problemas de marketing que a empresa ou marca está enfrentando; quais as questões de negócios envolvidas e as hipóteses com relação às possíveis ações a serem tomadas com base nos resultados. A fim de caracterizar um bom brief, Yasuda e Oliveira (2012) elencam as condições gerais a serem observadas, tais como envolvimento dos profissionais de marketing, profundidade das informações, consideração de todas as possibilidades e opções e a relação custo x benefício da pesquisa. FIGURA 4 – FLUXO DE PERGUNTAS NA DECISÃO DE REALIZAR A PESQUISA FONTE: Yasuda e Oliveira (2012, p. 45) A partir dessas respostas do briefing, partiremos para a descrição dos elementos que devem ser contemplados em uma proposta ou projeto de pesquisa. De acordo com Samara e Barros (2007), as etapas do projeto de pesquisa devem manter uma sequência de acontecimentos interdependentes a fim de fornecer as respostas necessárias aos usuários da informação. Dessa forma, Samara e Barros (2007) relacionam as etapas de um projeto de pesquisa com suas características gerais: Existe tempo suficiente antes de a decisão ser tomada? A informação disponível é adequada para a tomada de decisão? A decisão é de considerável importância estratégica ou tática? O valor da informação a ser pesquisada excede o custo de conduzir a pesquisa? Conduzir a pesquisa de mercado Não conduzir a pesquisa de mercado Sim Sim Sim Não Não Não Não TÓPICO 3 | PROJETO DE PESQUISA E SELEÇÃO DAS FONTES DE DADOS 99 • Definição do problema: primeiro e mais importante passo do projeto e que visa demonstrar a real necessidade de informação e cujas dúvidas e indagações devem ser respondidas pela pesquisa. • Determinação dos objetivos: são determinados de maneira a trazer as informações que solucionam os problemas de pesquisa e devem estar a ele relacionados. É possível ter um objetivo primário e objetivos secundários ou específicos. • Tipos de pesquisa: conforme os objetivos de pesquisa será necessário adotar um tipo de pesquisa mais adequado para a investigação. Esses métodos serão abordados mais à frente, na Unidade 2 deste Livro Didático. • Métodos de pesquisa: de acordo com os objetivos e o tipo de pesquisa será necessário estabelecer um método de pesquisa. Os principais métodos (descritivo, exploratório e causal) serão estudados ainda nesta Unidade. • Métodos de coleta de dados: a partir dos métodos de pesquisa será possível estabelecer os métodos de coleta de dados, tais como entrevistas com o público, painéis de consumidores, grupo focal (focus group) ou observação, por exemplo. • Formulário para coleta de dados: compreende a definição das questões a serem feitas aos entrevistados e podem ser abertas (com as próprias palavras do entrevistado) ou fechadas (só pode optar entre uma alternativa apresentada na questão). • Amostragem: estabelece o tamanho da população (conjunto total de sujeitos que possuem as características relativas ao problema) e a amostra (grupo proporcional à população que será efetivamente entrevistada). • Técnicas amostrais: define as formas de seleção da amostragem por probabilidade, aleatoriedade, estratificação e condução da pesquisa. • Cálculo amostral: determina a fórmula para o cálculo da quantidade de pessoas a serem entrevistadas. • Pré-teste dos formulários para coleta de dados: antes de aplicar a pesquisa de fato, é preciso validar o instrumento ou formulário de pesquisa e fazer os ajustes necessários para que as perguntas fiquem claras e em sequência organizada e estruturada. • Trabalhos de campo: consiste em entrevistar os sujeitos da amostra. • Tabulação e análise dos dados: depois de aplicada a pesquisa, é preciso fazer a tabulação dos dados, seus cálculos percentuais com relação ao público inquirido e as análises dos dados. • Elaboração do relatório de pesquisa: compreende a escrita do relatório com as informações básicas e resultantes dos cruzamentos dos dados. • Análise geral: apresenta os principais resultados e respostas obtidas pela pesquisa, de forma a dar compreensão ao problema apresentado na fase inicial do projeto de pesquisa. • Recomendações ao cliente: são as ações que podem ser feitas pela organização a partir da evidenciação das respostas dos entrevistados. Muitas dessas etapas são feitas em conjunto, a síntese do processo de pesquisa de mercado ou em comunicação está representada na figura a seguir. Conforme Kotler e Keller (2006), o processo está dividido em: definição do problema, desenvolvimento do plano de pesquisa, coleta de informações, análise das informações, apresentação dos resultados e tomada de decisão. 100 UNIDADE 2 | CONSUMIDOR ORGANIZACIONAL E PESQUISA EM COMUNICAÇÃO FIGURA 5 – PROCESSO DE PESQUISA DE MARKETING FONTE: Kotler e Keller (2006, p. 100) Todas essas etapas do processo de pesquisa serão aprofundadas nos Tópicos 4 e 5 desta unidade e na Unidade 3 deste Livro Didático. Na sequência, abordaremos a importância da seleção das fontes de dados. 3 DESK RESEARCH E AS RESPONSABILIDADES DO PESQUISADOR Nem todo projeto de pesquisa exigirá uma saída em campo para entrevistas com os consumidores ou outros públicos que tenham o perfil exigido pelo problema que a empresa deseja resolver ou compreender. Muitas vezes, é possível fazer uma pesquisa cujo conceito é de desk research. Segundo Yasuda e Oliveira (2012), esse conceito refere-se ao tipo de pesquisa feita sobre a mesa ou escrivaninha, ou seja, não há levantamento de dados específicos para a finalidade proposta. É uma forma de pesquisa relativa à coleta e análise de dados secundários ou informações previamente analisadas em outras pesquisas – que podem ser encontradas em publicações feitas em livros, revistas, sites de internet e mesmo dados ou informações existentes dentro das empresas e organizações clientes. Recordando: diz-se que uma informação é secundária quando tem origem numa fonte já existente e não foi feita uma pesquisa específica para este fim ou objetivo; dados primários são originais, de primeira mão, coletados especificamente para a pesquisa em curso e, em geral, gerados através de contato direto com o público (YASUDA; OLIVEIRA, 2012, p. 62). O método de desk research tem sido muito utilizado como um ponto de partida para as pesquisas de mercado. Ele enriquece a análise e há a inclusão de outros pontos de vista na consolidação das informações (YASUDA; OLIVEIRA, 2012). Na figura a seguir, podemos observar em que momento melhor se encaixa a atividade de desk research no processo de pesquisa. Conforme a figura, ele se enquadra na fase de planejamento da pesquisa em conjunto com a busca de dados secundários.Definição do problema, das alternativas de decisão e dos objetivos de pesquisa Desenvolvimento do plano de pesquisa Coleta de informações Análise das informações Apresentação dos resultados Tomada de decisão TÓPICO 3 | PROJETO DE PESQUISA E SELEÇÃO DAS FONTES DE DADOS 101 De acordo com a necessidade de informações adicionais, devemos dar sequência ao projeto de pesquisa em busca de respostas para problemas específicos, seguindo pelos dados primários e metodologia, coleta, análise e interpretação dos dados da pesquisa. FIGURA 6 – DESK RESEARCH NO PROCESSO DE PESQUISA DE MARKETING FONTE: Yasuda e Oliveira (2012, p. 62) Ainda de acordo com os autores, o desk research é uma maneira de analisar um conjunto de estatísticas extraídas de várias fontes e de maneira diversa, mas que permite sua integração e exposição de maneiras criativas e atraentes visualmente. A capacidade de entender, interpretar e integrar as informações originadas em fontes secundárias é uma habilidade indispensável aos novos pesquisadores, principalmente por conta do domínio dos meios digitais, que permitem acesso fácil e rápido a esses dados (YASUDA; OLIVEIRA, 2012). No entanto, Yasuda e Oliveira (2012) alertam para a importância da seleção das fontes a serem utilizadas para a atividade de desk research e recomendam considerar a credibilidade da fonte, a data e o contexto, a metodologia de pesquisa e a amostra e a amostragem relativa à informação disponibilizada. Assim: Empresa Cliente Definição do problema Metodologia (Quali ou Quanti) Meios de coleta Amostra Instrumentos de coleta Coleta de dados campo Análise Empresa de pesquisa Relatório Recomendações Proposta de pesquisa Brief Objetivo central Área de abordagem Público Prazos Tomada de Decisão Implementação Continuidade Planejamento Desenho da pesquisa Desk research Dados secundários Dados primários 102 UNIDADE 2 | CONSUMIDOR ORGANIZACIONAL E PESQUISA EM COMUNICAÇÃO O advento da internet e o acesso facilitado a este recurso banalizou o conceito de pesquisa de informações preexistentes e que pode ser, de alguma maneira, confundido com a disponibilidade de dados secundários. No entanto, a internet, nos dias de hoje, é uma fonte essencial e insubstituível. A disponibilidade de informações é enorme e a rapidez com que se consegue acioná-las é inquestionável. [...] A advertência que se pode fazer não é muito diferente do que a que colocaríamos se este ponto fosse escrito muitos anos atrás, sem a existência da internet: há a necessidade de estabelecer critérios de busca (validar o que serve e o que não serve) e a necessidade de uma capacidade analítica com um senso crítico bastante alerta para não perder tempo e dinheiro – e alcançar os objetivos (YASUDA; OLIVEIRA, 2012, p. 66). Isso reforça outro aspecto importante ao trabalharmos com pesquisa de mercado ou pesquisa em comunicação, que é a responsabilidade do pesquisador. De acordo com Sá e Silva (2011), isso se justifica porque o usuário da informação espera mais do que as respostas da pesquisa. Em geral, ele espera também recomendações sobre como utilizar essas informações. Nos Estados Unidos já ouve a condenação de um instituto de pesquisa por ter apresentado ao cliente informações que não foram condizentes com os resultados das decisões tomadas a partir dela. As partes, no entanto, chegaram a um acordo (SÁ E SILVA, 2011). Por isso, o relatório final da pesquisa e as recomendações sugeridas aos clientes devem ser feitos com base em dados objetivos e sem previsões entusiasmadas, que podem confundir os usuários das informações com falsas promessas ou expectativas (SÁ E SILVA, 2011). Para evitar transtornos entre os envolvidos no processo de pesquisa, Sá e Silva (2011) recomenda três formas diferentes de ação para garantir um bom relacionamento entre as partes: • um contrato de serviço que mantenha as partes independentes uma da outra; • um contrato de trabalho que torne o pesquisador um subordinado do usuário; • um contrato de adesão, pelo qual o usuário declara conhecer e aceitar o serviço padrão de pesquisa oferecido pelo pesquisador. Há a possibilidade de combinação das formas de contratos apresentadas. O importante é que se estabeleça um bom relacionamento entre empresas e clientes, de forma transparente e de confiança no trabalho um do outro, para que os resultados da pesquisa contribuam efetivamente para a tomada das melhores decisões no mercado de atuação. No próximo tópico abordaremos as etapas para a elaboração do projeto de pesquisa e os tipos e métodos de pesquisa possíveis com suas respectivas características e aplicações e aprenderemos a delimitar a metodologia da pesquisa. Até lá! TÓPICO 3 | PROJETO DE PESQUISA E SELEÇÃO DAS FONTES DE DADOS 103 Como tratamos sobre pesquisa do relacionamento entre os usuários da informação e os pesquisadores responsáveis pelos levantamentos de dados, indicamos a introdução ao Código de Ética da Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa/ICC/ ESOMAR – Data Analytics. Introdução ao código de conduta da ABEP Ao longo de sua história, a pesquisa de mercado, de opinião e social vem produzindo informações e insights sobre o comportamento, as necessidades e as atitudes das pessoas para dar subsídios ao processo de decisão dos fornecedores de produtos e serviços, governos, indivíduos e à sociedade como um todo. Ao fazê-lo, pesquisadores contavam com dados primários coletados através da interação direta e da observação dos indivíduos participantes, ao mesmo tempo em que colocavam forte enfoque na proteção de sua privacidade. Este enfoque sempre esteve no âmago da história bem-sucedida de autorregulamentação da profissão. O mundo está mudando e é imperativo que mudemos com ele. Ao longo dos últimos 20 anos, testemunhamos uma revolução digital – com avanços dramáticos na capacidade de coletar, armazenar e processar informações, a rede global de internet, mídias sociais, tecnologia móvel – que está mudando radicalmente o modo como pessoas vivem e trabalham. Em consequência, a pesquisa está passando por uma transformação, com uma dependência cada vez maior dos dados já disponíveis no formato digital. O papel do pesquisador está evoluindo de entrevistador para curador de dados, com maior enfoque na organização e integração de dados – muitos dos quais já existentes. A função da pesquisa está expandindo para além da coleta e análise dos dados, passando para o gerenciamento e integração de diversas fontes, de discussões em grupos e levantamentos amostrais a mídias sociais e grandes bancos de dados. Esta revisão do Código de Conduta da ABEP/ICC/ESOMAR leva em consideração o impacto destas novas tecnologias para a profissão de pesquisa. A inclusão de data analytics no título deste documento reconhece que a proliferação de dados resultou em uma abordagem inteiramente nova à pesquisa e a nossa profissão. Os pesquisadores agregam e analisam bases de dados para identificar padrões e entregar insights relevantes aos clientes. Uma coisa que não mudou é nossa dependência na cooperação do público e em sua confiança que a pesquisa seja conduzida de forma idônea e objetiva, sem invadir sua privacidade ou criar danos para aqueles que forneceram seus dados para as pesquisas. Com o aumento das discussões sobre a importância de os indivíduos terem a possibilidade de controlar como seus dados pessoais são utilizados e para qual objetivo, surge uma necessidade premente de ter claras orientações éticas e profissionais sobre como trabalhar tais dados de forma responsável. É muito mais importante do que nunca mantermos a confiança da sociedade na pesquisa e continuar a demonstrar nosso reconhecimento pelas responsabilidades éticas, profissionais e sociais que advêm do uso dos dados pessoais dos indivíduos. É com grande satisfação que a ABEP/ICC/ESOMAR apresentam a mais recente revisão do Código, que acreditamos que continuará a promover um alto padrão de comportamentoético e reforçará a confiança da sociedade em pesquisa. Recomendamos que este Código seja utilizado em todo o mundo. Você pode fazer o download do material na íntegra através do link a seguir: http://www.abep.org/codigos-e-guias-da-abep. DICAS 104 RESUMO DO TÓPICO 3 Neste tópico, você aprendeu que: • O brief é um instrumento que serve de guia para orientar a forma e a execução da pesquisa de campo, destacando os problemas, objetivos e questões relacionadas ao negócio. • O briefing consiste em um planejamento da pesquisa de campo, a fim de descobrir a real necessidade de realização da pesquisa e avaliar o custo- benefício envolvido com as possíveis respostas. • As principais etapas do processo de pesquisa de mercado são: definição do problema, estruturação do projeto de pesquisa, trabalho de campo ou coleta das informações, análise e interpretação, apresentação dos resultados e sugestão de ações às empresas. • O desk research é um conceito relativo ao tipo de pesquisa feita sobre a mesa ou escrivaninha, ou seja, não há levantamento de dados específicos para a finalidade proposta. • O desk research tem sido muito utilizado como um ponto de partida para as pesquisas de mercado. Ele enriquece a análise e há a inclusão de outros pontos de vista na consolidação das informações. • O desk research é uma maneira de analisar um conjunto de estatísticas extraídas de várias fontes e de maneira diversa, mas que permite sua integração e exposição de maneiras criativas e atraentes visualmente. • A capacidade de entender, interpretar e integrar as informações originadas em fontes secundárias é uma habilidade indispensável aos novos pesquisadores. • Ao selecionar as fontes de desk research é preciso considerar a credibilidade da fonte, a data e o contexto, a metodologia de pesquisa e a amostra e a amostragem relativa à informação disponibilizada. • O usuário da informação espera mais do que as respostas aos problemas, ele espera também recomendações de uso das informações obtidas na pesquisa. • Os usuários e os pesquisadores devem manter um bom relacionamento entre si e, de preferência, com um contrato de responsabilidades entre as partes. 105 1 Um questionário consiste em um conjunto de perguntas que serão feitas aos entrevistados. Sua preparação exige cuidados com as perguntas, o formato, a linguagem e a sequência. Além disso, todo questionário deve ser pré- testado antes de ser aplicado na pesquisa junto ao consumidor. Quando os entrevistados podem responder com suas próprias palavras, as questões são chamadas de: a) ( ) Pesquisa exploratória. b) ( ) Perguntas abertas. c) ( ) Pesquisa qualitativa. d) ( ) Perguntas fechadas. e) ( ) Pesquisa quantitativa. 2 (ENADE, 2018) A figura a seguir apresenta o método da pesquisa Juventude Conectada, elaborada pela Fundação Telefônica em 2014. AUTOATIVIDADE Com relação aos dados apresentados e a métodos de pesquisa, assinale a opção CORRETA. FONTE: <https://brainly.com.br/tarefa/23916749>. Acesso em: 26 fev. 2020. 106 a) ( ) O uso de múltiplas técnicas de coleta de dados em pesquisas permite observar e analisar a complementaridade dos resultados. b) ( ) As técnicas de coleta de dados realizadas por meio de mídias digitais têm maior precisão em relação às técnicas quantitativas. c) ( ) A pesquisa apresentada foi realizada com aplicação de questionários com autopreenchimento na fase quantitativa. d) ( ) O grupo focal é uma técnica de coleta de dados que depende de encontros presenciais. e) ( ) A fase quantitativa e a qualitativa da pesquisa apresentada tiveram sua amostra delimitada estatisticamente. 3 O processo de pesquisa compreende uma sequência de etapas a serem cumpridas com o objetivo de manter a coerência e a interdependência entre as partes para se alcançar as respostas necessárias aos usuários da informação. Nesse sentido, avalie as asserções a seguir a respeito das etapas do processo de pesquisa de marketing. I- O formulário para coleta de dados consiste na tabulação dos dados, cálculos percentuais e análises dos dados. II- O primeiro e mais importante passo no projeto de pesquisa reside na definição do problema para o qual deverão ser encontradas as respostas através da pesquisa. III- A análise geral apresenta os principais resultados e respostas obtidas pela pesquisa, de forma a dar compreensão ao problema. É CORRETO o que se afirma em: a) ( ) I, apenas. b) ( ) I e III, apenas. c) ( ) II, apenas. d) ( ) II e III, apenas. e) ( ) I e II, apenas. 4 Nem todo projeto de pesquisa exigirá uma saída em campo para entrevistas com os consumidores ou outros públicos que tenham o perfil exigido pelo problema que a empresa deseja resolver ou compreender. Nesse contexto, encontramos o conceito de desk research, caracterizado pela pesquisa feita sobre a mesa, em que não há levantamento de dados específicos para a finalidade proposta. Com relação ao desk research, avalie as asserções a seguir e a relação proposta entre elas. 107 I- O desk research consiste na busca de informações, sem qualquer critério de seleção e relação entre si, mas que permitam levantar dados e informações com relação a um determinado problema enfrentado pela empresa. PORQUE II- Uma das características das novas gerações de pesquisadores está na capacidade de uso da internet, que dispõe de uma infinidade de dados secundários que não exigem capacidade analítica ou senso crítico. A respeito dessas asserções, assinale a opção CORRETA: a) ( ) As asserções I e II são proposições verdadeiras, e a II é uma justificativa da I. b) ( ) As asserções I e II são proposições verdadeiras, mas a II não é uma justificativa da I. c) ( ) A asserção I é uma proposição verdadeira, e a II é uma proposição falsa. d) ( ) A asserção I é uma proposição falsa, e a II é uma proposição verdadeira. e) ( ) As asserções I e II são proposições falsas. 108 109 TÓPICO 4 ROTEIRO PARA ELABORAÇÃO DO PROJETO DE PESQUISA UNIDADE 2 1 INTRODUÇÃO A definição de etapas de pesquisa é fundamental para a elaboração de um projeto de pesquisa, bem como para sua execução, respeitando cada atividade encaixada em seu devido cronograma. No tópico anterior você teve uma prévia sobre as etapas de desenvolvimento de um projeto de pesquisa. Neste tópico, iniciaremos com a apresentação de um passo a passo do roteiro para a elaboração de um projeto de pesquisa. Em seguida, detalharemos o processo de elaboração do projeto de pesquisa a partir da definição das etapas centrais e de seus desdobramentos nas atividades. Como último ponto deste tópico, conheceremos os principais tipos de pesquisa, para que o leitor tenha a clareza sobre suas escolhas na definição de seu projeto. Vamos lá? 2 PASSO A PASSO DO ROTEIRO PARA ELABORAÇÃO DO PROJETO DE PESQUISA Tanto as pesquisas acadêmicas como as pesquisas aplicadas ao mercado necessitam de um guia que oriente e normatize as etapas da elaboração de um projeto de pesquisa. Conforme já visto no Tópico 2 desta unidade, as pesquisas acadêmicas possuem um cunho científico que busca gerar conhecimento e reflexão acerca da área de conhecimento. Já as pesquisas de marketing e comunicação voltadas ao mercado são aplicadas e possuem um foco mais pragmático e voltado aos resultados. Em seguida, apresentaremos uma proposta de roteiro para a elaboração de um projeto de pesquisa de cunho científico, sugerida por Barros e Junqueira (2010) e verificaremos sua pertinência à elaboração de projetos de pesquisas de comunicação aplicadas ao mercado. • Primeiro passo: a escolha do tema O primeiro passo é a escolha de um tema específico, com uma abordagem determinada. A escolha implica uma série de fatores fundamentais, entre eles, a delimitação do tema. Muitas vezes, ao tratar-se de temas abrangentes, geralmente fica-se na superfície. Portanto, é preciso afunilar o tema tanto quanto possível. Em vez de pesquisar o universo, pesquisa-se determinada estrela. 110 UNIDADE2 | CONSUMIDOR ORGANIZACIONAL E PESQUISA EM COMUNICAÇÃO • Segundo passo: a delimitação do objeto de estudo O objeto de estudo deve ser restrito, específico, bem delimitado, formulado a partir do tema do trabalho. Um tema pode gerar vários objetos. Ao restringir o foco, evita-se ficar perdido pelo caminho, ou que a amplitude demasiada implique pouca profundidade. • Terceiro passo: a formulação do problema Uma vez formulado o tema, é necessário formular a pergunta ou as perguntas de partida. É preciso problematizar o tema. Uma pergunta inicial pode gerar outras perguntas, que deverão ser respondidas ao final da pesquisa. Falaremos mais sobre a formulação do problema ainda neste tópico e no Tópico 5 desta unidade. • Quarto passo: a formulação das hipóteses A formulação das hipóteses ajuda a encontrar um norte para a pesquisa. A partir da hipótese é que se vai perceber o rumo que deve ser seguido. A hipótese pode ser confirmada total ou parcialmente ou ainda ser negada ao final da pesquisa. É muito importante que o pesquisador não force a confirmação de suas hipóteses, mas as deixe como uma função norteadora na busca por respostas durante todo o processo da pesquisa. Vamos nos aprofundar um pouco mais sobre o processo de formulação de hipóteses no Tópico 5 desta unidade. • Quinto passo: a formulação dos objetivos Os objetivos são as ações que serão realizadas pelo pesquisador, a fim de atingir seus fins. Esses são elementos factíveis e viáveis na pesquisa. Não são genéricos ou abstratos. Os objetivos estão muito relacionados com a operacionalidade da pesquisa, com o problema de pesquisa e as hipóteses. Os objetivos são divididos em dois níveis: os gerais, que determinam em nível macro as ações que levarão à execução da pesquisa como um todo; e os específicos, que são em nível micro e representam todas as ações necessárias para responder às questões apontadas no problema de pesquisa. • Sexto passo: as justificativas da pesquisa Deve-se explicitar aqui a importância da pesquisa e de seus desdobramentos. As justificativas são as razões do pesquisador para a escolha de todos os ingredientes de seu trabalho, tanto em nível teórico como metodológico, técnico ou prático. É útil quando se justifica a escolha do tema, a delimitação do objeto de estudo, o enfoque dado na pesquisa, os instrumentos utilizados para a coleta de dados, o tipo de material, os tipos de dados, o tipo de pesquisa e a escolha da metodologia. • Sétimo passo: descrição dos procedimentos metodológicos A definição dos procedimentos metodológicos é um dos grandes desafios no processo de elaboração do projeto de pesquisa. No projeto, a tarefa mais importante é identificar o método a ser empregado ou as técnicas para coleta e análise do material de pesquisa. As opções de procedimentos são várias e serão detalhadas no Tópico 5 desta unidade e na Unidade 3. • Oitavo passo: a construção do referencial teórico O método para a construção de um referencial teórico é dedutivo, ou seja, vai do geral para o específico. Isso quer dizer que o pesquisador parte das teorias gerais para o estabelecimento de relações com o seu objeto específico de pesquisa. O importante aqui não é apenas descrever conceitos, mas analisar tais conceitos relacionados à aplicação de sua pesquisa. TÓPICO 4 | ROTEIRO PARA ELABORAÇÃO DO PROJETO DE PESQUISA 111 • Nono passo: o sumário preliminar O sumário funciona como um mapa do trajeto a ser seguido, mesmo que possa ser mudado ao longo da elaboração do projeto e da pesquisa. O sumário elaborado de forma antecipada serve como um roteiro a ser seguido em todas as atividades. • Décimo passo: o cronograma de pesquisa O cronograma deve ser seguido à risca, mesmo contando com imprevistos. A data prevista para a finalização das atividades e entrega da pesquisa deve fazer parte do projeto inicial. Como já havíamos esclarecido, esta é uma sugestão de roteiro para a elaboração de um projeto de pesquisa de cunho científico, mas que podemos observar várias semelhanças com sua aplicação em uma pesquisa de comunicação e marketing voltada ao mercado. Há poucas distinções entre ambas as pesquisas nos cinco primeiros passos sugeridos por Barros e Junqueira (2010), mas cabe lembrar que em uma pesquisa acadêmica, na maioria dos casos, o tema é escolhido pelo próprio pesquisador ou em conjunto com seu orientador. Já em uma pesquisa aplicada ao mercado, o tema já pode estar predefinido e ser uma necessidade do contratante da pesquisa. Assim também como em uma pesquisa voltada ao mercado, por vezes, o próprio foco no objeto de estudo pode vir a ser um pouco mais amplo do que se sugere nos meios acadêmicos. Já entre o sexto e o décimo passo, as variações entre uma pesquisa acadêmica e uma pesquisa aplicada ao mercado podem ser maiores, principalmente devido ao rigor científico quanto à formatação e à redação da pesquisa, mas sem tirar sua importância como referência para a aplicação nas pesquisas de comunicação e marketing. Para Yasuda e Oliveira (2012), a pesquisa de mercado se dá de forma mais pragmática, portanto há uma concentração maior na utilidade das informações para o cliente que contrata a pesquisa. Agora, resumiremos os dez passos sugeridos para um roteiro na elaboração do projeto de pesquisa exemplificando em uma simulação aplicada ao mercado através do quadro a seguir. 112 UNIDADE 2 | CONSUMIDOR ORGANIZACIONAL E PESQUISA EM COMUNICAÇÃO QUADRO 2 – O ROTEIRO PARA A ELABORAÇÃO DO PROJETO DE PESQUISA E A EXEMPLIFICAÇÃO EM CADA PASSO Etapa Definição Exemplificação A escolha do tema. É o assunto que será abordado e pesquisado, relacionado ao problema da empresa. Transformação digital na empresa. A delimitação do objeto de estudo. É uma definição mais apurada e específica do tema. A fidelidade dos clientes tradicionais diante do processo de transformação digital na empresa. A formulação do problema. É a verificação do histórico do problema da empresa partindo de algumas questões norteadoras. Os clientes tradicionais mostram fidelidade à empresa? Eles são consumidores no ambiente digital? A formulação das hipóteses. É uma proposição não comprovada a respeito de um fator ou fenômeno. Os clientes tradicionais da empresa são mais avessos à pesquisa de compras pela internet. A formulação dos objetivos. São as ações efetivas que serão realizadas pelo pesquisador. Identificar o perfil de consumo na internet pelos clientes tradicionais da empresa. As justificativas da pesquisa. É a explicação sobre a importância da pesquisa e de seus desdobramentos. Justifica-se a aplicação de uma pesquisa qualitativa para compreender as razões de pesquisa e de compra pelos clientes da empresa. A descrição dos procedimentos metodológicos. É a identificação e o detalhamento do método a ser empregado e das técnicas para coleta e análise do material de pesquisa. Estudo de caso com aplicação de um questionário não estruturado, que busque uma interpretação sobre as razões e os hábitos de consumo dos clientes da empresa. A construção do referencial teórico. É a relação das teorias gerais na área específica com a aplicação e a análise da pesquisa. Para Zikmund e Babin (2011), os estudos de caso se referem à história documentada de uma pessoa, um grupo, uma organização ou um evento em particular. Neste sentido, as informações são documentadas nos questionários aplicados com os clientes da empresa. O sumário preliminar. É um mapa do trajeto a ser seguido. Serve como um roteiro a ser seguido em todas as atividades. 1. Problema Central 1.1 Subproblema principal 1.2 Subproblema secundário 2. Desenvolvimento do problema central 2.1 Primeira ramificação 2.2 Segunda ramificação (Estrutura sugerida por Umberto Eco, 2010). O cronograma de pesquisa. É a definição do calendário de todas as atividades com data prevista para a entrega da pesquisa. Definir em um quadro todas as datas previstas paraexecução de cada etapa do projeto de pesquisa. FONTE: Os Autores TÓPICO 4 | ROTEIRO PARA ELABORAÇÃO DO PROJETO DE PESQUISA 113 Agora que já compreendemos cada passo do roteiro para a elaboração de um projeto de pesquisa, explicaremos no próximo subtópico como que se elabora o projeto, com um detalhamento maior de cada etapa. 3 A ELABORAÇÃO DO PROJETO DE PESQUISA Um projeto de pesquisa necessita deixar claro quais são as intenções do pesquisador durante todo o processo, ao mesmo tempo em que ajuda a manter o foco em cada etapa de sua elaboração. Chaoubah (2007, p. 69) entende que um projeto de pesquisa será sempre “um guia detalhado do estudo a ser executado, que ajuda o pesquisador e o cliente a conduzirem e a controlarem uma pesquisa”. Neste sentido, vamos entender o projeto de pesquisa como um roteiro de atividades que nos auxiliará na execução de cada etapa, minimizando riscos de dispersões ou falta de controle sobre as ações. “É como um plano diretor que especifica os métodos e procedimentos para se coletarem e analisarem as informações necessárias” (ZIKMUND; BABIN, 2011, p. 66). Para que um projeto possa prever um plano de ação para a pesquisa, vamos lembrar que uma sequência ajustada e correta de cada etapa ajudará a equipe a concentrar seus esforços em cada atividade específica e manterá o roteiro como um norteador metodológico durante a execução dos trabalhos. Diferentes autores apresentam uma variada quantidade de etapas na elaboração do projeto de pesquisa, mas basicamente a estrutura primordial em todas as recomendações profissionais se concentra em: formulação/definição do problema; planejamento/desenvolvimento do plano de pesquisa; execução da pesquisa; comunicação dos resultados. Cada uma dessas etapas centrais exigirá uma série de desdobramentos e divisões em atividades sequenciais. Vamos a cada uma delas? Formulação/definição do problema: nesta etapa é fundamental se ater a todos os detalhes para decidir, inclusive, se a pesquisa deve seguir adiante. É necessário ter uma compreensão clara sobre a problemática envolvendo a organização e seus consumidores. Problemas e oportunidades de comunicação devem ser explícitos nesta etapa, para que as futuras tomadas de decisão não incorram ao erro original de um problema mal definido. A definição correta e adequada do problema indicará o propósito da pesquisa. Para Mattar (2005, p. 50), “esta etapa consiste na correta identificação ou formulação do problema de marketing que se pretenda resolver e que poderá receber contribuições valiosas da pesquisa de marketing e de comunicação na sua solução”. Malhotra (2005), entretanto, recomenda que é necessário o desempenho de uma série de tarefas por parte do pesquisador para que ele possa ter um amplo domínio sobre o ambiente organizacional: 114 UNIDADE 2 | CONSUMIDOR ORGANIZACIONAL E PESQUISA EM COMUNICAÇÃO O pesquisador precisa ter um entendimento completo da empresa e da indústria do cliente. Vários fatores que abrangem o contexto ambiental do problema podem ter um papel importante na definição do problema de pesquisa de marketing. Esses fatores consistem em informações passadas e previsões pertinentes à indústria e à empresa, recursos e limitações da empresa, objetivos do tomador de decisões, comportamento do consumidor, ambiente legal, ambiente econômico e habilidades de marketing e tecnológicas da empresa (MALHOTRA, 2005, p. 33). Algo muito relevante que precisamos levar em consideração aqui, é que no processo de formulação do problema de pesquisa, o pesquisador precisa promover discussões com aqueles que tomam as decisões na empresa, como sugere Malhotra (2005). O autor orienta que até mesmo alguns dos modelos utilizados na pesquisa com o público externo sejam realizados também com o público interno e com aqueles da zona de influência, como entrevistas com especialistas no segmento, discussões em grupo e análise de dados secundários. “A definição do problema envolve discussões com os responsáveis pelas decisões, entrevistas com especialistas do setor, análise de dados secundários e, talvez, alguma pesquisa qualitativa, como grupos de foco” (MALHOTRA, 2006, p. 39). Dentro dessas recomendações, é fundamental que o pesquisador leve em conta a finalidade do estudo, que consiga captar todas as informações relevantes sobre o histórico do problema, que informações são realmente necessárias e como essas informações poderão ser usadas mais adiante na tomada de decisões. Outras implicações sobre a formulação do problema, cuidados e erros comuns durante o processo, além da relação da problematização com a formulação de hipóteses na pesquisa serão abordados no Tópico 5 desta unidade. Planejamento/desenvolvimento do plano de pesquisa: esta etapa é vista por muitos autores da área como o coração do desenvolvimento da pesquisa, quando se exige enorme esforço na reunião de dados e informações que levarão à decisão sobre os objetivos, o tipo de pesquisa, o método e a forma de coleta dos dados. É o momento da decisão sobre os caminhos da pesquisa, como reforça Mattar (2005, p. 50) sobre a etapa de planejamento da pesquisa: Compreende a definição dos objetivos da pesquisa e de toda sua operacionalização: determinação das fontes de dados, escolha do(s) método(s) de pesquisa, da(s) forma(s) de coleta dos dados, da construção e teste do(s) instrumento(s) de coleta de dados, da definição do plano de amostragem e do tamanho da amostra, da definição dos procedimentos de campo, da elaboração do plano de processamento e análises, da definição dos recursos necessários (humanos, financeiros, tecnológicos e materiais), da definição de uma estrutura organizacional para a equipe de pesquisa com definição de responsabilidades e do estabelecimento de um cronograma com definição de prazos e datas para o cumprimento de cada etapa e de suas subdivisões. TÓPICO 4 | ROTEIRO PARA ELABORAÇÃO DO PROJETO DE PESQUISA 115 Esta é a etapa também para o desenvolvimento de uma abordagem para o problema formulado na fase anterior. Malhotra (2005) entende que após definido o problema, é necessária uma abordagem da problemática para que possa ser desenvolvido o plano de pesquisa. É quando entra a formulação de uma estrutura analítica e a inclusão de modelos, quando se pesquisa questões e hipóteses, enfim, quando se percorre um caminho semelhante à definição do problema. Essa etapa (da abordagem do problema) inclui a formulação de uma estrutura objetiva ou teórica, modelos analíticos, perguntas de pesquisa, hipóteses e a identificação de características ou fatores capazes de influenciar a concepção da pesquisa. Esse processo é guiado por discussões com gerentes e especialistas do setor, estudos de casos e simulações, análise de dados secundários, pesquisas qualitativas e considerações pragmáticas (MALHOTRA, 2006, p. 39). A fase de planejamento ou desenvolvimento do plano de pesquisa compreende uma grande etapa, que fica localizada temporalmente entre a definição do problema e a execução da pesquisa de campo. Esta é a fase em que se determina o conjunto de hipóteses, os objetivos da pesquisa, as justificativas e a definição do tipo, do método e da forma de coleta de dados, conforme já vimos anteriormente. A formulação das hipóteses dará o norte da pesquisa, definindo qual rumo deve-se seguir. Como destacado no item anterior, uma hipótese é sempre redigida de maneira declarativa e deverá ser testada ao final da pesquisa. Com as hipóteses em mão, o pesquisador já reúne as condições para estabelecer os objetivos da pesquisa de comunicação e marketing. Samara e Barros (2007, p. 21) resumem exatamente o que são os objetivos de uma pesquisa: Os objetivos da pesquisa são determinados de maneira a trazer as informações que solucionam o problema de pesquisa. É um processo interdependente e que exige total coerência entre o problema definido e os objetivos do projeto de pesquisa. [...] A determinação dos objetivos de pesquisapode ter origem na formulação de hipóteses sobre o problema definido. [...] Os objetivos da pesquisa devem ser detalhados e específicos, pois servirão de base para a elaboração do formulário para coleta de dados, questionário ou roteiro. É importante que os objetivos de uma pesquisa sempre sejam factíveis. Devem ser ações efetivas a serem realizadas pelo pesquisador. Objetivos primários e secundários ou objetivo geral e objetivos específicos ajudarão a hierarquizar as metas e as finalidades dos trabalhos. Na etapa de planejamento da pesquisa é onde se formula também a própria concepção da pesquisa a ser executada. Para Malhotra (2006), uma concepção de pesquisa é uma estrutura que funciona como um desenho para que se realize o projeto de pesquisa. É um detalhamento dos “procedimentos necessários para a obtenção das informações requeridas e sua finalidade é criar 116 UNIDADE 2 | CONSUMIDOR ORGANIZACIONAL E PESQUISA EM COMUNICAÇÃO um estudo que irá testar as hipóteses de interesse, determinar as possíveis respostas às perguntas da pesquisa e proporcionar as informações necessárias para a tomada de decisões” (MALHOTRA, 2006, p. 39). Em seguida, com os objetivos de pesquisa definidos é que se adotará o tipo de pesquisa, os métodos utilizados da pesquisa e da coleta de dados, conforme veremos no próximo subtópico – Tipos de Pesquisa. Execução da pesquisa: a etapa de execução da pesquisa, com toda a metodologia já definida, compreende desde a fase de preparação do campo, do treinamento de equipe que trabalhará na coleta de dados, da realização de pré-teste do formulário de coleta para validar o questionário ou instrumento de pesquisa até a preparação final do material coletado, que inclui a verificação dos materiais e as análises e interpretações das respostas ou tabulação. Mattar (2005) entende que a execução da pesquisa compreende três atividades centrais: a preparação do campo, a realização do campo e o processamento dos materiais com sua conclusão. Para o autor, a preparação do campo “corresponde à construção, pré-teste e reformulação do(s) instrumento(s) de coleta de dados; à edição e impressão do(s) instrumento(s); à definição e sorteio da amostra; à formação e ao treinamento da equipe; e, finalmente, à distribuição do trabalho” (MATTAR, 2005, p. 50). O pré-teste é visto como um momento importante de checagem se os instrumentos da pesquisa estão adequados a sua realização. Distorções, falta de clareza nas perguntas e fragilidade nas respostas dos entrevistados não são incomuns de ocorrer e precisam ser verificadas antes da pesquisa ser realizada de fato. Para Samara e Barros (2007), no caso de pesquisas quantitativas, o pré-teste do questionário deve ser aplicado em uma porcentagem da amostra, geralmente em 10% do total de casos que se queira estudar. “Essa atividade tem a finalidade de confirmar se o questionário está adequado aos objetivos do estudo no que se refere à clareza de entendimento pelo entrevistado, assim como avaliar as respostas dadas e o tempo médio de sua aplicação” (SAMARA; BARROS, 2007, p. 166). Já a realização do campo corresponde ao trabalho efetivamente executado na coleta dos dados junto às fontes. Uma seleção criteriosa e um treinamento de entrevistadores e supervisores darão garantias de uma coleta realizada com profissionalismo e imparcialidade, para não haver riscos de distorcer os resultados. De acordo com Mattar (2005), o processamento, a análise, a interpretação e a conclusão da pesquisa correspondem à transformação dos dados brutos coletados em informações relevantes para solucionar o problema que deu origem à pesquisa. “Esta etapa inclui: verificação do preenchimento dos instrumentos, codificação e digitação das respostas, processamento dos dados, realização de TÓPICO 4 | ROTEIRO PARA ELABORAÇÃO DO PROJETO DE PESQUISA 117 cálculos, testes estatísticos, análises, interpretações e conclusões” (MATTAR, 2005, p. 50). É importante lembrar também, que nesta fase, todo o processo deve ser verificado para comprovar sua precisão. Nesta fase, a análise realizada na pesquisa consiste tanto na descrição do quadro de tabulação ou das respostas coletadas quanto na interpretação dos materiais. Para Samara e Barros (2007, p. 168), “no caso das pesquisas quantitativas, a análise de dados é a descrição do quadro de tabulação referente aos valores relevantes”. É preciso uma ordenação nos resultados para que a leitura e a análise sejam facilitadas. O relatório de pesquisa estará pronto após toda a apresentação, análise e conclusões acerca dos resultados. Comunicação dos resultados: é o material pronto para ser apresentado ao contratante da pesquisa, descrevendo a abordagem e todo o processo que foi desenvolvido. Malhotra (2005) recomenda, inclusive, que as apresentações dos relatórios ao cliente tenham gráficos para realçar a clareza e dar impacto, além da importância de uma apresentação oral para acompanhar o material e poder esclarecer detalhes. A comunicação dos resultados proporcionará ao contratante da pesquisa o contato com a descoberta dos dados e a orientação para soluções ao problema apresentado originalmente. Para Samara e Barros (2007, p. 186), após serem interpretados os dados obtidos na pesquisa e feita a análise, o pesquisador deve apresentar seu relatório “respaldado nos números e com sugestões seguras de ações mercadológicas, possibilitando ao cliente tomar decisões conscientes que impeçam os erros do empirismo”. Na última fase dentro da etapa da comunicação dos resultados, o pesquisador poderá dar as sugestões ao cliente e recomendações de ações que busquem a solução ao problema formulado inicialmente. Detalharemos sobre o processo de elaboração do relatório final e as recomendações à empresa contratante da pesquisa na Unidade 3. 4 TIPOS DE PESQUISA Há variações quanto à classificação das pesquisas de comunicação, tanto nas pesquisas de cunho científico como nas pesquisas voltadas ao mercado. Iniciaremos tratando dos tipos de pesquisa existentes, de acordo com a sua abordagem, quanto a sua natureza, seus objetivos e procedimentos. Quanto à abordagem da pesquisa, Silveira e Córdova (2009) propõem uma divisão central entre pesquisa qualitativa e pesquisa quantitativa. Segundo as autoras, a pesquisa qualitativa não se preocupa com representatividade numérica, mas busca um aprofundamento na compreensão de um fenômeno. No caso de uma pesquisa de comunicação e marketing aplicada ao 118 UNIDADE 2 | CONSUMIDOR ORGANIZACIONAL E PESQUISA EM COMUNICAÇÃO mercado, as interpretações sobre sintomas e problemas conceituais no mercado serão muito mais importantes do que uma medição numérica. O “porquê” é muito mais importante do que o “quanto” em uma pesquisa com abordagem qualitativa. Já a pesquisa quantitativa trabalha com amostras representativas de uma população ou grupos de consumidores. Nesta abordagem, é necessário quantificar os dados para depois aplicar alguma forma de análise da estatística. A objetividade e a utilização de instrumentos formais para coleta de dados são algumas das características da pesquisa quantitativa. Detalharemos mais sobre essas duas abordagens de pesquisa na Unidade 3 deste Livro Didático. Outra definição dos tipos de pesquisa é quanto a sua natureza, sendo divididas entre pesquisa básica e pesquisa aplicada. De acordo com Silveira e Córdova (2009, p. 34), a pesquisa básica “objetiva gerar conhecimentos novos, úteis para o avanço da Ciência, sem aplicação prática prevista”. É uma pesquisa mais voltada aos meios acadêmicos e com teor predominantemente científico. A pesquisa aplicada, por sua vez, é cercada de um teor pragmático, pois “objetiva gerar conhecimentos para aplicação prática, dirigidos à solução de problemas específicos” (SILVEIRA; CÓRDOVA, 2009, p. 35). Entre as pesquisas aplicadas incluem-se as pesquisas voltadas ao mercado. Conforme já visto nesta unidade, Yasuda e Oliveira (2012, p. 21) colaboram com essaexplicação, compreendendo que o melhor termômetro para a avaliação da pesquisa aplicada voltada ao mercado é “a utilidade que as informações têm para o cliente que solicitou a pesquisa, assim como o desempenho de vendas dos bens de consumo pesquisados”. Já quanto aos objetivos, Gil (2007) classifica as pesquisas em três grandes grupos: pesquisa exploratória, pesquisa descritiva e pesquisa explicativa. As pesquisas exploratórias “têm como objetivo proporcionar maior familiaridade com o problema, com vistas a torná-lo mais explícito ou a construir hipóteses” (GIL, 2007, p. 41). O autor considera que na maioria dos casos, as pesquisas exploratórias envolvem levantamentos bibliográficos, entrevistas com pessoas que tiveram experiências práticas com o problema pesquisado e a análise de exemplos que estimulem a compreensão. Uma pesquisa é exploratória quanto ao seu objetivo e normalmente é qualitativa quanto a sua abordagem. Zikmund e Babin (2011, p. 114) sugerem que a pesquisa exploratória “pode ser um primeiro passo essencial para um estudo mais rigoroso, conclusivo e confirmatório, reduzindo a chance de se começar com um conjunto de objetivos de pesquisa que sejam inadequados, incorretos ou enganosos”. Neste sentido, mesmo considerando que uma pesquisa quantitativa TÓPICO 4 | ROTEIRO PARA ELABORAÇÃO DO PROJETO DE PESQUISA 119 venha a ser executada no decorrer do processo, uma pesquisa qualitativa e exploratória pode servir para ajustar caminhos a serem percorridos no projeto, inclusive na própria formulação do problema, como já vimos anteriormente. Entretanto, Malhotra (2006) orienta que o uso de pesquisa exploratória na definição do problema e no desenvolvimento de uma abordagem é significativo, principalmente quando o pesquisador não dispõe de entendimento suficiente para prosseguir com o projeto de pesquisa. Cabem, nessas situações, entrevistas com especialistas da área, levantamentos-piloto e dados secundários analisados de forma qualitativa. As pesquisas descritivas buscam descrever os fatos e os fenômenos de determinada realidade. De acordo com Gil (2007), muitas pesquisas descritivas têm por objetivo estudar as características de um grupo, como a distribuição por idade, sexo, procedência, escolaridade etc. Outras pesquisas deste grupo, segundo o autor, destinam-se a estudar condições de vida da população, índices e indicadores sociais, entre outros, além de pesquisas que visam estabelecer associações entre variáveis, como a relação entre uma determinada preferência e o nível de escolaridade ou de renda. Em pesquisas descritivas, a preocupação com a representatividade da amostra é total (MATTAR, 2005). “Quando se deseja saber algo sobre uma população desconhecida, há duas opções para consegui-lo e uma delas é procurar obter os dados de cada elemento dessa população, realizar o que é chamado de censo” (MATTAR, 2005, p. 67). Outro caminho, de acordo com o autor, é utilizar os procedimentos de amostragem com a coleta e a análise de apenas alguns elementos dessa população, diante de critérios estatísticos. Cabe frisar também que a pesquisa descritiva será sempre estruturada e pré-planejada. Normalmente, as hipóteses formuladas para uma pesquisa descritiva são específicas, objetivas e claramente definidas. Malhotra (2006, p. 102) entende que na aplicação deste tipo de pesquisa pressupõe-se que o pesquisador já “possui grande conhecimento prévio a respeito da situação-problema”. As pesquisas explicativas preocupam-se em identificar os fatores que determinam ou que contribuem para a ocorrência dos fenômenos (GIL, 2007). “Esse é o tipo de pesquisa que mais aprofunda o conhecimento da realidade, porque explica a razão, o porquê das coisas” (GIL, 2007, p. 42). Nesse grupo de pesquisas, busca-se a explicação para o porquê das coisas através de resultados oficiais. É por isso que muitas pesquisas explicativas utilizam procedimentos experimentais, como é muito comum nas ciências naturais, por exemplo. De acordo com Gil (2007), uma pesquisa explicativa pode ser também a continuação de uma pesquisa descritiva. Nestes casos, primeiro se identifica determinada situação (pesquisa descritiva) para depois buscar sua explicação 120 UNIDADE 2 | CONSUMIDOR ORGANIZACIONAL E PESQUISA EM COMUNICAÇÃO através de uma pesquisa experimental. No caso de uma pesquisa de mercado, testes de produtos e manipulações de situações poderiam auxiliar na medição e na comparação de resultados. Por fim, outra definição dos tipos de pesquisa é quanto aos procedimentos técnicos utilizados. Gil (2007) considera que a partir da classificação das pesquisas quanto aos seus objetivos (exploratórias, descritivas e explicativas) há uma definição do marco teórico nas investigações, mas para analisar os fatos empiricamente, confrontando a visão teórica com os dados da realidade, é importante delinear o procedimento a ser adotado para a coleta de dados. Desta forma, as pesquisas podem ser classificadas de acordo com os seus procedimentos técnicos utilizados, tendo como principais métodos: pesquisa bibliográfica, pesquisa experimental, pesquisa documental, pesquisa de campo, pesquisa ex-post-facto, pesquisa de levantamento, pesquisa com survey, estudo de caso, pesquisa participante, pesquisa-ação, pesquisa etnográfica, pesquisa etnometodológica. Cada um destes métodos será detalhado no Tópico 5, quando abordarmos metodologia e métodos de pesquisa. Como abordamos neste tópico a importância do roteiro para elaboração de um projeto de pesquisa, bem como as etapas de seu desenvolvimento, o trecho a seguir ajudará a compreender melhor como formular uma concepção de pesquisa de comunicação e marketing. Formulação da concepção de pesquisa Naresh Malhotra Realizar pesquisas exploratórias, definindo variáveis e criando escalas apropriadas para medi-las é um bom exemplo de como estruturar um projeto de pesquisa. A estruturação ou o desenho para a realização do projeto de pesquisa de comunicação e marketing nada mais é do que uma concepção de pesquisa. É a concepção de pesquisa que vai detalhar os procedimentos necessários para a obtenção das informações requeridas. Também é sua finalidade criar um estudo que irá testar as hipóteses de interesse, inclusive determinar as possíveis respostas às perguntas da pesquisa e proporcionar as informações necessárias para a tomada de decisões. Mesmo que uma abordagem mais ampla do problema já tenha sido desenvolvida, é a concepção de pesquisa que irá especificar os detalhes, como questões mais práticas a serem implementadas. Vamos definir assim: a concepção prepara a base para a realização do projeto. Aí um bom planejamento irá assegurar a realização do projeto de forma mais segura e eficiente. FONTE: MALHOTRA, N. K. Pesquisa de marketing: uma orientação aplicada. 4. ed. Porto Alegre: Bookman, 2006. p. 39. DICAS TÓPICO 4 | ROTEIRO PARA ELABORAÇÃO DO PROJETO DE PESQUISA 121 Fique atento a algumas tarefas que possam ser desenvolvidas: • Definição das informações necessárias. • Concepção das fases exploratória, descritiva ou causal (pesquisa em que o principal objetivo é obter evidências relativas a relações entre causa e efeito). • Especificar os procedimentos de medição. • Construir e fazer um pré-teste com um questionário. • Especificar o processo de amostragem e o tamanho da amostra. • Desenvolver um plano de análise de dados. IMPORTANT E 122 RESUMO DO TÓPICO 4 Neste tópico, você aprendeu que: • Os passos de um roteiro para elaboração do projeto de pesquisa de cunho científico, mas pertinentes à elaboração de projetos de pesquisas de comunicação aplicadas ao mercado, são: ◦ escolha do tema; ◦ delimitação do objeto de estudo; ◦ formulação do problema; ◦ formulação das hipóteses; ◦ formulação dos objetivos; ◦ justificativas da pesquisa; ◦ descrição dos procedimentos metodológicos; ◦ construção do referencial teórico; ◦ sumário preliminar; ◦ cronograma de pesquisa. • Um projeto de pesquisadeve ser um guia detalhado do estudo a ser executado, para ajudar o pesquisador e o cliente a conduzirem e a controlarem uma pesquisa. • A estrutura central de um projeto de pesquisa em comunicação e marketing se baseia principalmente em: formulação/definição do problema; planejamento/ desenvolvimento do plano de pesquisa; execução da pesquisa; comunicação dos resultados. • A classificação dos tipos de pesquisas de comunicação se baseia de acordo a sua abordagem, quanto a sua natureza, seus objetivos e procedimentos técnicos. • Quanto à abordagem, existem a pesquisa qualitativa e a pesquisa quantitativa. • Quanto à natureza, existem a pesquisa básica e a pesquisa aplicada. • Quanto aos objetivos, existem a pesquisa exploratória, a pesquisa descritiva e a pesquisa explicativa. • Quanto aos procedimentos técnicos, os métodos de pesquisas mais conhecidos são: pesquisa bibliográfica, pesquisa experimental, pesquisa documental, pesquisa de campo, pesquisa ex-post-facto, pesquisa de levantamento, pesquisa com survey, estudo de caso, pesquisa participante, pesquisa-ação, pesquisa etnográfica, pesquisa etnometodológica. 123 1 Os objetivos de uma pesquisa são divididos em dois níveis: os gerais, que determinam em nível macro as ações que levarão à execução da pesquisa como um todo; os específicos, que são em nível micro e representam todas as ações necessárias para responder às questões apontadas no problema de pesquisa. Em um nível hierárquico, também são chamados de objetivos primários e objetivos secundários. A formulação desses objetivos consiste em: a) ( ) Partir de uma pergunta inicial que problematize o tema. b) ( ) Ter elementos factíveis e viáveis que almejem atingir seus fins. c) ( ) Definir uma data prevista para a finalização das atividades e entrega da pesquisa. d) ( ) Relacionar as teorias gerais na área específica com a aplicação da pesquisa. e) ( ) Fazer recomendações ao cliente para futuras tomadas de decisões. 2 Quanto aos objetivos das pesquisas, três grandes grupos são comumente conhecidos: a pesquisa exploratória, a pesquisa descritiva e a pesquisa explicativa. A respeito desta classificação, analise as afirmativas a seguir: I- As pesquisas descritivas normalmente são qualitativas e envolvem amplos levantamentos bibliográficos, além de entrevistas em profundidade com pessoas relacionadas ao problema pesquisado. II- Nas pesquisas explicativas a busca pelo “porquê” das coisas ocorre através de resultados oficiais. Procedimentos experimentais são comuns neste tipo de pesquisa. III- Uma pesquisa exploratória também pode servir para fazer ajustes na formulação do problema de pesquisa, principalmente quando o pesquisador não dispõe de entendimento suficiente para prosseguir com o projeto de pesquisa. É CORRETO o que se afirma em: a) ( ) I e II, apenas. b) ( ) I, apenas. c) ( ) I, II e III. d) ( ) III, apenas. e) ( ) II e III, apenas. 3 (ENADE, 2018) Uma pesquisa realizada com foco na identidade de grandes marcas investigou os diferenciais das marcas de bairro. Com o consumidor cada vez mais exigente e valorizando atendimento personalizado, as grandes empresas estão tentando entender como o “Bar do Zé”, a “Vendinha do João” e a “Loja da Maria” conseguem manter um relacionamento de amizade e cumplicidade com seus clientes. As pesquisas apontaram as características AUTOATIVIDADE 124 principais das melhores marcas de bairro: identidade visual (com a proximidade dos ambientes digital e físico e com as características do bairro no qual estão instaladas), atendimento, o papel de propagandista que o cliente assume (confortável e bem atendido, ele sempre vai indicar o negócio para pessoas do próprio bairro ou de outras regiões), presença frequente do dono do estabelecimento e, por fim, a importância da experiência, o tempo de casa e a construção de relações duradouras. Considerando a pesquisa relatada, avalie as asserções a seguir e a relação proposta entre elas. I- A pesquisa qualitativa exemplificada no texto investiga a lógica do consumo local das marcas de bairro, considerando acontecimentos e conhecimentos cotidianos como elementos da interpretação de dados. PORQUE II- A pesquisa qualitativa busca avaliar a relação de variáveis, como crenças e valores pessoais dos consumidores com as marcas de bairro. A respeito dessas asserções, assinale a opção CORRETA. FONTE: <https://www.indagacao.com.br/2019/03/enade-2018-uma-pesquisa-realizada- com-foco-na-identidade-de-grandes-marcas-investigou-os-diferenciais-das-marcas-de- bairro.html>. Acesso em: 26 fev. 2020. a) ( ) As asserções I e II são proposições verdadeiras, e a II é uma justificativa correta da I. b) ( ) As asserções I e II são proposições verdadeiras, mas a II não é uma justificativa correta da I. c) ( ) A asserção I é uma proposição verdadeira, e a II é uma proposição falsa. d) ( ) A asserção I é uma proposição falsa, e a II é uma proposição verdadeira. e) ( ) As asserções I e II são proposições falsas. 125 TÓPICO 5 METODOLOGIA DA PESQUISA EM COMUNICAÇÃO E DE MERCADO UNIDADE 2 1 INTRODUÇÃO Para realizarmos um projeto de pesquisa é importante que conheçamos a metodologia existente, bem como a tematização de uma pesquisa e a necessidade de sua problematização antes de dar os passos fundamentais na execução do trabalho de campo. Por isso, neste tópico, abordaremos a importância de se escolher, definir ou confirmar um tema para a pesquisa, bem como ter claro e delimitado qual é o objeto que será estudado ao longo do percurso. Também explicaremos como se formula um problema de pesquisa e suas hipóteses, dando sequência a uma prévia já vista no Tópico 4 desta unidade. Por fim, elencaremos alguns métodos utilizados comumente por pesquisadores durante a etapa de planejamento de uma pesquisa aplicada na área de comunicação e marketing. A definição desses métodos segue a lógica já descrita no tópico anterior sobre os principais tipos de pesquisas existentes. Vamos em frente? 2 ESCOLHA DO TEMA E DELIMITAÇÃO DO OBJETO DE ESTUDO Como já vimos no tópico anterior, a escolha ou definição do tema será o primeiro passo de uma pesquisa, tanto no âmbito científico como nos trabalhos aplicados para o mercado. Em uma pesquisa acadêmica, o tema surge normalmente de uma escolha do próprio pesquisador ou em conjunto com o seu orientador. Nos casos de uma pesquisa aplicada ao mercado, é comum que o tema esteja pré-definido, faltando apenas uma especificação mais apurada sobre ele. Para definir um tema específico com uma abordagem determinada, é possível que o pesquisador tenha que formular uma ou mais questões a respeito dos desafios impostos à empresa contratante. Como já conferimos anteriormente, após definido, o tema deve ser problematizado com algumas questões que 126 UNIDADE 2 | CONSUMIDOR ORGANIZACIONAL E PESQUISA EM COMUNICAÇÃO deverão ser respondidas ao final da pesquisa. Entretanto, algumas questões também devem estar presentes antes mesmo da definição do tema da pesquisa e a delimitação de seu objeto de estudo. Supomos que uma empresa esteja registrando queda nas vendas. O pesquisador poderá partir de uma pergunta como “quais fatores estão provocando a diminuição nas vendas da empresa?”. Portanto, o tema da pesquisa não será a queda, mas sim os fatores que a provocam. Mesmo parecendo óbvias e simplistas, definições assim ajudam na delimitação da temática e a guiar os próximos passos de uma pesquisa. Lembremos de que para qualquer modalidade, seja acadêmica ou aplicada ao mercado, a pesquisa sempre buscará uma resposta para algo, partindo de uma dúvida que ainda não tem resposta. Além da formulação de algumas perguntas iniciais, “a exploração do tema consiste também na realização de leituras, entrevistas exploratórias e na utilização de outros métodos complementares, caso seja necessário e indispensável” (GERHARDT, 2009, p. 49). Coletar dados junto à empresa e entrevistar as pessoas envolvidas diretamentenos processos que afetarão a pesquisa ajudarão a nortear tanto a definição do tema como a posterior formulação do problema de pesquisa. Precisamos lembrar também que é importante evitar a escolha de temas muito abrangentes, sob o risco de ficar apenas na superfície do problema e de que a pesquisa não consiga identificar fatores demasiadamente dispersos e não relacionáveis. O afunilamento do tema, conforme já visto no Tópico 4 desta unidade, ajudará na profundidade da pesquisa. O tema é o assunto que será abordado e pesquisado, relacionado ao problema da empresa. Pode ser uma expressão que guiará a pesquisa, como um tópico inicial, no qual, constantemente, você se reporta a ele para verificar se não estão ocorrendo desvios de foco. Vale também observar que um mesmo tema pode ser pesquisado por diferentes perspectivas. A delimitação do objeto de estudo e a formulação do problema e das hipóteses orientarão sobre os procedimentos metodológicos adequados de verificação e no próprio enfoque da pesquisa. Peguemos o exemplo sugerido no tópico anterior, no qual o tema é a “Transformação digital na empresa”. O objeto de estudo sugerido ficou delimitado em “A fidelidade dos clientes tradicionais diante do processo de transformação digital na empresa”. Desta forma, imaginemos que a empresa esteja planejando ganhar novos públicos diante de seus novos canais de venda, mas, ao mesmo tempo, esteja preocupada em não perder clientes tradicionais, habituados aos modelos anteriores de vendas, como loja física, atendimento via telefone etc. O exercício realizado no processo de problematização com a devida formulação de hipóteses ajudará a definir os caminhos da pesquisa. Se a preocupação, explícita no problema, girar em torno da fidelidade desta clientela e sobre seus hábitos de TÓPICO 5 | METODOLOGIA DA PESQUISA EM COMUNICAÇÃO E DE MERCADO 127 consumo no ambiente digital, a proposta de pesquisa poderá buscar a identificação deste perfil de consumo, utilizando métodos quantitativos para definir qual o percentual dos clientes da empresa que oferece resistência às novidades. Como complemento dos dados, poderá também utilizar métodos qualitativos para interpretar as razões da resistência, mas se o objeto de estudo for delimitado às barreiras tecnológicas para atendimento a esses clientes tradicionais, certamente a pesquisa buscará identificar quais são os hábitos de consumo e os recursos tecnológicos já utilizados por este público, por exemplo. Já o objeto de estudo é uma definição mais apurada e específica do tema. De acordo com Barros e Junqueira (2010), deve ser restrito, específico, bem delimitado e formulado a partir do tema do trabalho. Um tema pode gerar vários objetos. Segundo os autores, ao restringir o foco, evita-se ficar perdido pelo caminho, ou que a amplitude demasiada implique pouca profundidade. Cabe também fazermos aqui uma diferenciação sobre “objeto de estudo” e “objeto empírico”, termos muito utilizados nas pesquisas de cunho científico. O objeto de estudo é o eixo central de uma investigação que, conforme visto, é uma especificação mais apurada do tema. Já o objeto empírico está relacionado à observação das coisas. Enquanto o objeto de estudo estabelece suas relações com as teorias e os métodos científicos, o objeto empírico é a materialidade do que será efetivamente pesquisado. O objeto de estudo está relacionado diretamente ao problema de pesquisa e o objeto empírico está relacionado aos dados e informações que serão coletados. 3 FORMULAÇÃO DO PROBLEMA E DAS HIPÓTESES DA PESQUISA Após definido o tema e o objeto de estudo, o pesquisador passa para a complexa etapa de definição do problema de pesquisa. A verificação do problema se dará a partir da formulação de algumas questões norteadoras. É nesse momento que ocorre a problematização do tema escolhido. De acordo com Gerhardt (2009), a questão inicial é uma forma de interrogar os objetos estudados. Como já vimos, essa pergunta inicial poderá gerar outras perguntas, que deverão ser respondidas ao final da pesquisa. A verificação do histórico e da complexidade da empresa exigirá do pesquisador uma série de tarefas, a fim de que ele possa dominar o funcionamento da organização. Conforme orienta Malhotra (2005), há vários fatores que abrangem o contexto ambiental do problema e que poderão ter papel importante na definição do problema de pesquisa. Esses fatores só serão conhecidos pelo pesquisador a partir do momento em que ele coletar as informações, tanto do histórico organizacional quanto de previsões, recursos e limitações da empresa. 128 UNIDADE 2 | CONSUMIDOR ORGANIZACIONAL E PESQUISA EM COMUNICAÇÃO A coleta dessas informações parte do briefing, que será apresentado ao pesquisador pelos profissionais de marketing da empresa, conforme já destacado no Tópico 3 desta unidade, mas, necessariamente, o briefing poderá não conter de forma explícita o problema que norteará a pesquisa. As informações nele contidas poderão ser o ponto de partida para discussões, entrevistas e análises sobre o ambiente da empresa. Na definição do problema, Malhotra (2006) sugere que sejam promovidas discussões com aqueles que tomam decisões, além de realizar entrevistas com especialistas no segmento, analisar dados secundários e fazer algumas pesquisas qualitativas internas. Ao fazê-lo (definir o problema), o pesquisador deverá levar em conta a finalidade do estudo, as informações relevantes sobre o histórico do problema, que informações são necessárias e como elas serão usadas para tomar decisões. A definição do problema envolve discussões com os responsáveis pelas decisões, entrevistas com especialistas do setor, análise de dados secundários e, talvez, alguma pesquisa qualitativa, como grupos de foco (MALHOTRA, 2006, p. 39). Para que o pesquisador tenha um maior entendimento sobre a empresa, Malhotra (2005, p. 33-35) relaciona algumas informações que não podem deixar de ser coletadas para a formulação do problema de pesquisa: • Informações passadas e previsões: diz respeito às vendas, à participação no mercado, à rentabilidade, à tecnologia, à população, à demografia e ao estilo de vida. • Recursos e limitações: é necessário considerar os recursos disponíveis, como verba, habilidades de pesquisa e capacidades operacionais, assim como as limitações operacionais e de tempo. • Objetivos do tomador de decisões: o pesquisador precisa também ter um entendimento claro dos dois tipos de objetivos: (1) os objetivos organizacionais (as metas da organização), e (2) os objetivos pessoais do tomador de decisões. Por exemplo, o tomador de decisões deseja empreender uma pesquisa para adiar uma decisão constrangedora, para dar credibilidade a uma decisão que já foi tomada ou para ser promovido. • Comportamento do consumidor: inclui os motivos básicos, as percepções, as atitudes, os hábitos de compra e os perfis demográficos e psicográficos (psicológico e de estilo de vida) dos que já consomem e dos consumidores em potencial. • Ambiente legal: inclui as políticas públicas, as leis, as agências governamentais e os grupos de pressão que influenciam e regulam as várias organizações e os indivíduos na sociedade. As áreas importantes da lei incluem patentes, marcas registradas, royalties, acordos comerciais, impostos e tarifas. • Ambiente econômico: é composto por itens, como poder de compra, renda bruta, renda disponível, renda pessoal, preços, poupança, disponibilidade de crédito e condições econômicas gerais. • Habilidades de marketing e tecnológicas: influenciam bastante em quais programas de marketing e estratégias podem ser implementadas. Por exemplo, a introdução de um novo produto que requer uma adaptação das ferramentas para um processo de TÓPICO 5 | METODOLOGIA DA PESQUISA EM COMUNICAÇÃO E DE MERCADO 129 manufatura ou a presunção de que as habilidades de marketing sofisticadas podem não ser uma alternativa viável se a empresa não tiver as habilidadespara fabricar ou comercializar este produto. Por outro lado, se a empresa puder capitalizar sobre suas habilidades de marketing e tecnológicas, seus produtos e seus lançamentos provavelmente terão sucesso. Diante da necessidade de coleta destas e de outras informações relevantes para a pesquisa, você deve estar se perguntando: mas por que é necessário formular um problema? Vamos entender que um problema é sempre algo que provoca um desequilíbrio, algo que precisa ser explicado ou resolvido. Gil (2007) orienta que a resposta à formulação de um problema será importante para subsidiar determinada ação. O autor cita o exemplo de uma empresa que deseja conhecer o perfil dos consumidores dos seus produtos antes de lançar uma campanha publicitária – neste caso, o próprio desconhecimento sobre o público faz parte do problema de pesquisa. Também é possível formular um problema para avaliar certas ações já realizadas pela empresa, ou para verificar consequências de várias alternativas possíveis antes de tomar uma decisão. Algumas regras práticas lembradas por Gil (2007) para a formulação de um problema vêm da experiência acumulada de muitos pesquisadores, que orientam que: o problema deve ser formulado como pergunta; o problema deve ser claro e preciso; o problema deve ser empírico; o problema deve ser suscetível de solução; o problema deve ser delimitado a uma dimensão viável. Na figura a seguir, é possível ilustrar o processo de formulação de um problema de pesquisa, partindo de uma questão inicial (etapa 1), que buscará subsídios em leituras sobre o tema e na coleta de dados da organização. A exploração desses dados (etapa 2) levará à problematização (etapa 3), quando o problema em si estará formulado e pronto para seguir à fase de planejamento da pesquisa (conforme visto no Tópico 4 desta unidade). FIGURA 7 – INTERAÇÃO ENTRE AS ETAPAS DO PROBLEMA DE PESQUISA FONTE: Adaptada de Quivy e Campenhoudt (1995 apud GERHARDT, 2009, p. 52) Etapa 1 – A questão inicial Etapa 3 – A problemática Etapa 2 – A exploração A coleta de dados expoloratóriosAs leituras 130 UNIDADE 2 | CONSUMIDOR ORGANIZACIONAL E PESQUISA EM COMUNICAÇÃO Observe na figura anterior que as flechas de retroação indicam um vai e vem, que são interações constantes entre a questão inicial e o problema formulado, significando, segundo os autores, a necessidade de novas verificações e de rompimento com ideias preconcebidas e com falsas evidências. Malhotra (2006), por sua vez, nos faz lembrar da importância das questões de pesquisa inseridas nesse processo. Essas questões servem como enunciados aprimorados a partir dos componentes específicos do problema. Para o autor, “a formulação das questões da pesquisa deve ser guiada não só pela definição do problema, mas também pela estrutura teórica e pelo modelo analítico adotado” (MALHOTRA, 2006, p. 73-74). Com o desenvolvimento desse processo, o pesquisador se encontrará no momento para a formulação de uma ou mais hipóteses para a sua pesquisa. A hipótese é “uma afirmação ou proposição não comprovada a respeito de um fator ou fenômeno que é de interesse para o pesquisador” (MALHOTRA, 2006, p. 74). (A hipótese) pode ser um enunciado experimental a respeito das relações entre duas ou mais variáveis, conforme estipulado pela estrutura teórica ou pelo modelo analítico. Com frequência, uma hipótese é uma possível resposta à questão da pesquisa. As hipóteses vão além das questões da pesquisa porque são afirmações de relações ou proposições em vez de meras perguntas para as quais se buscam respostas. Enquanto as questões da pesquisa são interrogativas, as hipóteses são declarativas e podem ser testadas empiricamente (MALHOTRA, 2006, p. 74). Conforme vimos no tópico anterior, a formulação das hipóteses ajudará a encontrar um norte para a pesquisa, podendo ser confirmada total ou parcialmente ou ainda ser negada ao final. Entretanto, Malhotra (2006) adverte para casos em que não é possível desenvolver hipóteses devido à falta de informações disponíveis, ou mesmo quando as hipóteses acabam sendo repetições da pergunta de pesquisa, como: (pergunta de pesquisa) os clientes da loja demonstram fidelidade? (hipótese) os clientes da loja demonstram fidelidade. Como se chega à formulação de hipóteses? De acordo com Gil (2007), as hipóteses podem surgir de diversas fontes, como: observação sobre fatos relacionáveis do dia a dia; resultados de outras pesquisas semelhantes; teorias; intuições. O autor ainda sugere que as hipóteses podem ser classificadas em: • Hipóteses casuísticas: referem-se a algo que ocorre em determinado caso, afirmando que um objeto, uma pessoa ou um fato específico tem determinada característica. TÓPICO 5 | METODOLOGIA DA PESQUISA EM COMUNICAÇÃO E DE MERCADO 131 • Hipóteses conforme a frequência de acontecimentos: antecipam que determinada característica ocorre com maior ou menor frequência em um grupo social. • Hipóteses que relacionam associação entre variáveis: referem-se àquilo que pode assumir diferentes valores e aspectos segundo casos particulares ou circunstâncias. Por exemplo: variáveis, como índices de analfabetismo, desenvolvimento econômico, estado civil etc. Conforme já observamos no Tópico 4 desta unidade, a formulação das hipóteses ajudará o pesquisador a estabelecer os objetivos da pesquisa de comunicação e marketing, que fazem parte da etapa de planejamento da pesquisa. 4 MÉTODOS DE PESQUISA Ao entrarmos na abordagem sobre métodos a serem utilizados em uma pesquisa de comunicação e marketing, é importante que possamos entender as diferenças entre tipos de pesquisa, métodos de pesquisa, métodos de coleta de dados, além de uma variedade de técnicas e modalidades aplicadas à pesquisa. A respeito de “tipos de pesquisa”, já abordamos a tipologia principal no Tópico 4 desta unidade, com uma classificação de acordo com a abordagem, a natureza, os objetivos e os procedimentos da pesquisa. Muitas vezes usamos os termos “metodologia”, “métodos” e “procedimentos metodológicos” como sinônimos, o que não é razoavelmente adequado. De uma forma resumida, podemos dizer que a metodologia da pesquisa é o estudo dos métodos ou um sistema de métodos utilizados em determinada área a ser pesquisada. O método de pesquisa é o caminho ou o processo para chegar à descoberta científica ou a um determinado resultado na pesquisa aplicada. Já os procedimentos metodológicos na pesquisa representam todos os métodos e técnicas escolhidos para a realização da pesquisa. Também podemos dizer que os procedimentos metodológicos incluem tanto os tipos de pesquisa quanto os métodos e as técnicas de coleta e análise de dados. Lembrando que os métodos (ou técnicas) de coleta de dados significam a maneira que o pesquisador determina que serão coletados os dados ou informações, inclusive com a escolha dos instrumentos de uso. Pedro Demo, um dos principais expoentes nos estudos sobre metodologia científica, entende que o sentido da metodologia é “montar condições mais propícias para a pesquisa social científica” (DEMO, 1985, p. 55). O autor lembra que, ao menos na América Latina, o conceito de métodos e de técnicas na pesquisa possui uma pretensão mais empírica, ou seja, normalmente métodos e técnicas são mais utilizados para a coleta e a mensuração dos dados. Já o termo “metodologia”, segundo Demo (1985), possui um caráter teórico, que organiza e se preocupa com as questões do método. 132 UNIDADE 2 | CONSUMIDOR ORGANIZACIONAL E PESQUISA EM COMUNICAÇÃO Gil (2007) observa, entretanto, que a metodologia é que vai definir o tipo de pesquisa, a população e a amostra, a coleta de dados e a análise dos dados. Cabe lembrar, também, que é na etapa de planejamento da pesquisa que se estabelecem o método e as técnicas de coletas de dados e de informações, bem como deve ser definida a população e o tamanho da amostra a ser utilizada. Na figura a seguir, apresentaremos uma sequência de estrutura para a organizaçãodo conjunto metodológico da pesquisa. FIGURA 8 – ESTRUTURA DO CONJUNTO METODOLÓGICO DA PESQUISA FONTE: Os Autores Vamos então a uma classificação resumida sobre os principais métodos de pesquisa e que são comumente utilizados nas aplicações de mercado. Como o material sobre métodos de pesquisa é muito vasto, especialmente nos levantamentos de cunho científico, partiremos dos principais métodos aplicados como procedimentos técnicos. • Pesquisa bibliográfica: é uma pesquisa do tipo exploratória e se baseia em pesquisar e analisar estudos anteriores, publicados principalmente em livros e artigos. Ocupa a maior parte dos trabalhos acadêmicos, mas nas aplicações em pesquisas de mercado pode servir como uma boa base teórica tanto na formulação do problema de pesquisa (dados secundários internos) como suporte para a análise geral da pesquisa aplicada. • Pesquisa documental: é uma pesquisa que utiliza materiais que não receberam ainda um tratamento analítico. É nesse aspecto que se diferencia da pesquisa bibliográfica (GIL, 2007). Enquanto a bibliográfica utiliza a contribuição de fontes em materiais já elaborados, a pesquisa documental utiliza variados documentos brutos. Há, segundo o autor, os documentos de primeira mão, como arquivos de órgãos públicos, ofícios, gravações, diários etc., e há os documentos de segunda mão, que já receberam algum nível básico de análise ou processamento, como relatórios de pesquisa, tabelas estatísticas etc. Uma observação a ser feita é que jornais e revistas podem ser considerados tanto para pesquisa bibliográfica como para pesquisa documental. Se for extraído MétodoTipo de pesquisa Técnica Instrumento Coleta de dados/informações TÓPICO 5 | METODOLOGIA DA PESQUISA EM COMUNICAÇÃO E DE MERCADO 133 um texto do impresso para reforçar o embasamento teórico do trabalho, será considerada pesquisa bibliográfica. Caso sejam extraídos dados para análise, deverá ser reconhecida como pesquisa documental. • Pesquisa experimental: consiste em determinar um objeto de estudo, “selecionar as variáveis que seriam capazes de influenciá-lo, definir as formas de controle e de observação dos efeitos que a variável produz no objeto” (GIL, 2007, p. 47). “Tem o propósito de apreender as relações de causa e efeito ao eliminar explicações conflitantes das descobertas realizadas” (FONSECA, 2002 apud SILVEIRA; CÓRDOVA, 2009, p. 36). As pesquisas experimentais também são chamadas de pesquisas causais. Para Malhotra (2006), os experimentos são normalmente utilizados para inferir relações causais. O autor entende que “o significado científico de causalidade é mais adequado para a pesquisa de marketing que o sentido cotidiano”, já que os efeitos de marketing são causados por múltiplas variáveis (MALHOTRA, 2006, p. 214). • Pesquisa ex-post-facto: significa que o estudo foi realizado após a ocorrência de variações na variável dependente no curso natural dos acontecimentos (GIL, 2007). Um exemplo seria pesquisar clientes que deixaram de comprar em uma empresa, buscando descobrir suas causas. Se fosse em uma pesquisa experimental, ocorreria o inverso, com o estudo acontecendo antes e durante o processo de abandono dos clientes. • Pesquisa de campo: é quando é realizada a coleta de dados junto a pessoas de um determinado grupo, só que normalmente de forma aprofundada. É muito comum que um estudo de campo utilize a técnica de observação direta de uma comunidade ou um grupo de consumidores. De acordo com Gil (2007), são utilizadas também entrevistas com informantes para captar suas explicações e interpretações do que ocorre no grupo. • Pesquisa de levantamento: a pesquisa se baseia em perguntas feitas diretamente para os pesquisados para captar suas opiniões ou suas atitudes. Pode ser um levantamento por amostra ou de uma população inteira, como é o caso de um censo. No levantamento por amostra é pesquisada uma parcela representativa da população (amostra significativa) e as conclusões são projetadas para todo o universo, considerando margem de erro obtida por cálculos estatísticos (GIL, 2007). Difere da pesquisa de campo por ter maior alcance, ao invés de maior profundidade. É uma forma de conhecer a realidade de uma população ou do público-alvo de uma organização de forma rápida e quantificada. • Pesquisa participante: caracteriza-se pelo envolvimento e identificação do pesquisador com as pessoas investigadas. Para observar o cotidiano de determinados grupos, o pesquisador passa a viver como os pesquisados. • Estudo de caso: é um estudo aprofundado que examina acontecimentos contemporâneos. Pode ser um estudo de caso único, quando estuda apenas uma unidade, um grupo, uma instituição, uma situação específica etc., ou um estudo de caso múltiplo, quando analisa mais unidades ou grupos simultaneamente. Normalmente, não são definidos procedimentos metodológicos rígidos, mas de acordo com Yin (2005), o estudo de caso utiliza duas fortes fontes de evidências, que são a observação direta dos acontecimentos que estão sendo estudados e as entrevistas das pessoas nelas envolvidas. 134 UNIDADE 2 | CONSUMIDOR ORGANIZACIONAL E PESQUISA EM COMUNICAÇÃO Ainda podemos citar outros métodos, como a pesquisa etnográfica, a etnometodológica, a pesquisa com survey, a pesquisa-ação, entre outras conhecidas no campo acadêmico, mas também aplicadas, por vezes, no mercado. A relação entre os diferentes tipos de pesquisa, seus métodos e as possíveis técnicas serão abordadas com maior profundidade na Unidade 3 deste Livro Didático. Como estamos falando sobre metodologia da pesquisa, problematização e formulação de hipóteses, vamos acompanhar o que o escritor e professor Juremir Machado da Silva sugere a todo pesquisador que, ao levar adiante seu projeto de pesquisa, deve se guiar por três procedimentos de atuação: estranhar, entranhar e desentranhar. Estranhamento: para ver o que ainda não foi visto é preciso tirar a lente. O sujeito deve sair de si mesmo para tentar ver com as lentes dos outros. Deve fazer perguntas incômodas a si mesmo e aos outros. Deixa de ver um pouco com os seus olhos primeiro para ver melhor mais adiante. Quer dizer, deixa para ver depois sem as impurezas acumuladas pelo olhar familiarizado. Entranhamento: não basta sair de si mesmo. É preciso entrar no outro. O processo de entranhamento é um mergulho no desconhecido. Entrar no objeto significa fazer perguntas: “por que ele vê o que eu não vejo?”; “Por que ele tem a convicção que eu não tenho?”; “Quais são os fundamentos da sua verdade?”. O entranhamento pressupõe: colocar-se no lugar do outro; tentar ver com os olhos do outro; tentar compreender os sentimentos do outro; explicar as razões do outro. O entranhamento é uma atitude provisória que deve ser praticada como se fosse definitiva. Desentranhamento: depois de sair de seu universo, de tirar as suas lentes, de experimentar as lentes do outro, de mergulhar na alteridade pelo entranhamento, deve voltar ao seu lugar para redigir o seu relatório. Ao voltar do entranhamento, o pesquisador deve fazer uma pergunta muito simples: “o que eu sei agora que não sabia antes?”. FONTE: SILVA, J. M. da. O que pesquisar quer dizer: como fazer textos acadêmicos sem medo da ABNT e da CAPES. Porto Alegre: Sulina, 2015. IMPORTANT E 135 RESUMO DO TÓPICO 5 Neste tópico, você aprendeu que: • O tema é o assunto que será abordado e pesquisado, relacionado ao problema da empresa. • A definição do tema é o primeiro passo de uma pesquisa. • Um tema de pesquisa deve ser específico e ter uma abordagem determinada. • O pesquisador deve formular questões a respeito dos desafios impostos à organização para determinar ou confirmar o tema. • O objeto de estudo é uma definição mais apurada e específica do tema. • O objeto de estudo é o eixo central de uma investigação que estabelece suas relações com as teorias e os métodos científicos. • O objeto empírico está relacionado à observação das coisas e é a materialidadedo que será pesquisado. • A verificação do problema de pesquisa acontece a partir da formulação de questões norteadoras. • É necessário que o pesquisador colete as informações da organização: do histórico organizacional, das previsões, dos recursos e das limitações da empresa. • Para auxiliar na formulação do problema de pesquisa, devem ser promovidas discussões com os tomadores de decisões e realizadas entrevistas com especialistas no segmento. • A análise de dados secundários da empresa e até algumas pesquisas qualitativas internas também fazem parte do processo de problematização para a pesquisa. • As hipóteses são afirmações ou proposições não comprovadas sobre um fenômeno que é de interesse do pesquisador. • As hipóteses surgem de observação sobre o dia a dia na empresa, resultados de outras pesquisas semelhantes, teorias e até intuições. 136 Ficou alguma dúvida? Construímos uma trilha de aprendizagem pensando em facilitar sua compreensão. Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo. CHAMADA • As hipóteses podem ser classificadas como: ◦ Hipóteses casuísticas: referem-se a algo que ocorre em determinado caso, afirmando que um objeto, uma pessoa ou um fato específico tem determinada característica. ◦ Hipóteses conforme a frequência de acontecimentos: antecipam que determinada característica ocorre com maior ou menor frequência em um grupo social. ◦ Hipóteses que relacionam associação entre variáveis: referem-se àquilo que pode assumir diferentes valores e aspectos segundo casos particulares ou circunstâncias. • A escolha do método de pesquisa vem na sequência da definição do tipo de pesquisa a ser aplicada. Os métodos também reúnem várias possibilidades de técnicas de coleta de dados. Alguns dos métodos mais conhecidos são: ◦ Pesquisa bibliográfica: do tipo exploratória, baseada na pesquisa e análise de estudos anteriores. ◦ Pesquisa documental: utiliza materiais que não receberam ainda um tratamento analítico, como tabelas, gravações, relatórios, ofícios etc. ◦ Pesquisa experimental: busca apreender as relações de causa e efeito, também são chamadas de pesquisas causais. ◦ Pesquisa ex-post-facto: o estudo é feito após a ocorrência do fato ou fenômeno, buscando descobrir suas causas. ◦ Pesquisa de campo: coleta de dados junto a pessoas de um grupo, de forma aprofundada. ◦ Pesquisa de levantamento: perguntas feitas diretamente para os pesquisados para captar suas opiniões ou suas atitudes. Pode ser por amostra ou em forma de censo. ◦ Pesquisa participante: observação do cotidiano de determinados grupos, com o pesquisador vivendo como os pesquisados. ◦ Estudo de caso: estudo aprofundado que examina acontecimentos contemporâneos em casos únicos ou em diferentes unidades. 137 1 A formulação ou definição do problema é uma etapa fundamental no processo de elaboração da pesquisa de comunicação e marketing. É importante que o pesquisador lance algumas questões norteadoras para a pesquisa e possa ter uma compreensão clara sobre toda a problemática envolvendo a organização e seus consumidores. Para que haja um amplo domínio sobre o ambiente organizacional antes da definição do problema, o pesquisador deve cumprir algumas tarefas. Analise e defina como V (Verdadeiro) ou F (Falso) cada tarefa descrita nas asserções a seguir: ( ) O pesquisador deve levar em conta os objetivos e metas da organização, mas também ter clareza sobre os objetivos pessoais do tomador de decisões da empresa. ( ) A organização de uma pesquisa quantitativa interna dispensa o uso de outros recursos, como revisão de tabelas, gráficos e documentos internos da empresa. ( ) Somente após a definição dos métodos de pesquisa a serem aplicados na pesquisa externa é que o pesquisador terá os instrumentos necessários para iniciar a formulação do problema de pesquisa. ( ) Deve tomar conhecimento de informações sobre o passado da empresa e sobre previsões, como as vendas, participação no mercado, rentabilidade, tecnologia, entre outras. ( ) Após a formulação de uma questão inicial, o pesquisador deve explorar leituras e coletar dados sobre a empresa para problematizar a pesquisa. A alternativa correspondente à sequência CORRETA é: a) ( ) V, V, F, V, F. b) ( ) V, V, V, F, F. c) ( ) V, F, F, V, V. d) ( ) F, F, V, V, F. e) ( ) F, F, V, V, V. 2 O método de pesquisa é considerado o caminho ou o processo para chegar à descoberta científica ou a um determinado resultado na pesquisa aplicada. Com o método de pesquisa definido, o pesquisador poderá escolher os métodos ou técnicas que usará para coletar os dados ou informações. Um método de pesquisa utilizado para descobrir as opiniões ou atitudes dos pesquisados, através de amostra ou censo, normalmente possui grande alcance e é realizado de forma quantitativa. Esse método é chamado de: a) ( ) Pesquisa experimental. b) ( ) Pesquisa de levantamento. c) ( ) Pesquisa bibliográfica. d) ( ) Pesquisa documental. e) ( ) Pesquisa ex-post-facto. AUTOATIVIDADE 138 3 As hipóteses são afirmações ou proposições não comprovadas a respeito de um fator ou fenômeno e podem surgir tanto de observação sobre fatos relacionáveis do dia a dia como de resultados de outras pesquisas semelhantes ou até mesmo de teorias e intuições. No caso de o pesquisador partir da afirmação de que é elevado o número de consumidores de uma cidade que rejeitam comprar no comércio local, essa hipótese pode ser considerada como: a) ( ) Hipótese que se refere à frequência de acontecimentos. b) ( ) Hipótese como questão-problema. c) ( ) Hipótese casuística. d) ( ) Hipótese que gera resposta direta ao problema de pesquisa. e) ( ) Hipótese que estabelece relação de associação entre variáveis. 4 (ENADE, 2015) Em uma campanha publicitária, depois de definidos os objetivos e as metas de comunicação, o próximo passo é definir como os resultados serão avaliados. Um dos caminhos para essa verificação é a pesquisa de pós-veiculação. Medir o número de pessoas que se lembram de um anúncio é obter o índice de penetração da campanha ou a recordação da mensagem. FONTE: PÚBLIO, M. A. Como planejar e executar uma campanha de propaganda. São Paulo: Atlas, 2008 (adaptado). A partir do exposto no texto anterior, avalie as afirmações a seguir a respeito dos tipos de pesquisa pós-veiculação de uma campanha publicitária e respectivas técnicas. I- A pesquisa de opinião consiste em levantamento feito para representar as opiniões de dada população, sendo adequada para mensuração da lembrança da marca da campanha veiculada. A técnica apropriada a esse tipo de pesquisa é a aplicação de questionários com perguntas fechadas, para facilitação da tabulação e interpretação dos dados. II- O estudo de caso é adequado para mensuração da lembrança da marca da campanha veiculada porque explora situações da vida real, descreve a situação do contexto em que está sendo feita a investigação e explica as variáveis causais da lembrança de um anúncio publicitário. A técnica apropriada ao estudo de caso é a realização de entrevistas com um roteiro previamente determinado. III- A etnografia é adequada para mensuração da lembrança da marca da campanha veiculada, pois produz um estudo analítico-descritivo das crenças, das práticas sociais e dos conhecimentos, como a lembrança de um anúncio publicitário de um grupo particular. A esse tipo de pesquisa é apropriada a técnica da observação participante, em que o observador centra sua atenção no ambiente do consumidor das mensagens, incorpora-se ao grupo como sujeito e entrevista pessoas-chave. 139 É CORRETO o que se afirma em: FONTE: <http://sites.pucgoias.edu.br/puc/enade/wp-content/uploads/sites/32/2018/09/ ebook-publicidade.pdf>. Acesso em: 26 fev. 2020. (Questão 27). a) ( ) I, apenas. b) ( ) II, apenas. c) ( ) I e III, apenas. d) ( ) II e III, apenas. e) ( ) I, II, III. 140 141 UNIDADE 3 APLICAÇÃO E INTERPRETAÇÃODA PESQUISA EM COMUNICAÇÃO OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de: • descrever tipos, métodos e técnicas de coletas de dados na pesquisa em comunicação; • definir o conceito de amostragem, da preparação do trabalho de campo, da coleta e tabulação dos dados da pesquisa; • discutir o processo de análise dos resultados da pesquisa em comunicação; • identificar formas de comunicação de resultados através do relatório final da pesquisa. Esta unidade está dividida em quatro tópicos. No decorrer de cada unidade você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 - MÉTODOS E TÉCNICAS DE COLETA DE DADOS NA PESQUISA EM COMUNICAÇÃO TÓPICO 2 - PREPARAÇÃO E EXECUÇÃO DA COLETA DE DADOS NA PESQUISA EM COMUNICAÇÃO TÓPICO 3 - PLANEJAMENTO DO PROCESSAMENTO E ANÁLISE DOS DADOS DA PESQUISA TÓPICO 4 - APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS DA PESQUISA EM COMUNICAÇÃO Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações. CHAMADA 142 143 TÓPICO 1 MÉTODOS E TÉCNICAS DE COLETA DE DADOS NA PESQUISA EM COMUNICAÇÃO UNIDADE 3 1 INTRODUÇÃO No Tópico 5 da Unidade 2 deste Livro Didático, vimos que a metodologia da pesquisa é o estudo dos métodos utilizados em determinada área a ser pesquisada e que o método é o caminho ou o processo para chegar a um resultado na pesquisa. Também vimos que os métodos ou técnicas de coleta de dados significam a maneira que o pesquisador determina que serão coletados os dados ou informações. Neste tópico exploraremos mais as definições de métodos, técnicas e ferramentas de coleta de dados e informações, iniciando com as fontes e os tipos de coletas de dados. Conforme já abordamos, a concepção metodológica e a escolha dos métodos ocorrem na fase de planejamento da pesquisa, requisito obrigatório para iniciar a execução dos trabalhos de campo, que veremos nos tópicos seguintes. Trataremos também sobre o processo de elaboração de questionários e formulários para a pesquisa, com as definições de perguntas e abordagens de acordo com o método utilizado. Vamos adiante? 2 FONTES E TIPOS DE COLETAS DE DADOS Quanto às fontes de dados, Mattar (2005) orienta para quatro diferentes fontes básicas em pesquisas aplicadas ao mercado: o próprio pesquisado; as pessoas que tenham informações sobre o pesquisado; situações similares e ainda os dados disponíveis. Vamos a cada uma delas: • Pesquisado: o dado pode ser obtido do pesquisado através de sua própria declaração, verbalmente ou por escrito, ou através de sua observação. • Pessoas que tenham informações sobre o pesquisado: quando ocorre de o pesquisado ser inacessível, quando possuir pouco conhecimento da informação desejada ou quando tiver dificuldade de expressar-se, às vezes é UNIDADE 3 | APLICAÇÃO E INTERPRETAÇÃO DA PESQUISA EM COMUNICAÇÃO 144 mais fácil conseguir a informação com outras pessoas, obter informações sobre as crianças de uma casa com a mãe, ou do marido com a esposa, do chefe com a secretária etc. • Situações similares: é a busca de conhecimento em situações análogas ou similares, naturais ou criadas pelo pesquisador. Mattar (2005) orienta que se aprende bastante em saber como outra empresa procedeu para o lançamento de um produto similar, como outras empresas do mesmo ramo trabalham com a variável promoção de vendas, como foram as reações dos consumidores quando determinado produto foi lançado em outro mercado etc. As formas básicas de conhecer situações similares é através do estudo de casos, do experimento e da simulação. • Dados disponíveis: são dados que já foram coletados e tabulados, que estão à disposição dos interessados. Quanto aos tipos de dados a serem coletados, divididos em dados primários e secundários, relembraremos o que vimos na Unidade 2 deste Livro Didático: dados primários são coletados e analisados pela própria empresa e os dados secundários são aqueles já disponíveis para consulta. Neste sentido, se os dados disponíveis são os dados secundários, os dados primários se referem ao pesquisado, às pessoas que tenham informações sobre o pesquisado e às situações similares. Como você já pôde compreender a importância dos dados secundários durante a Unidade 2, vamos a alguns aspectos relacionados aos dados primários da pesquisa, para podermos em seguida abordar as formas de coletas desses dados. Perovano (2016) orienta que a coleta de dados primários deve ser realizada por meio de questionários, entrevistas, observação, grupos focais e outros instrumentos que abordaremos neste tópico. Segundo o autor, os instrumentos de coleta de dados são elaborados com base em variáveis que partem da pergunta ou da hipótese de pesquisa. De acordo com Mattar (2005, p. 159), “os dados primários coletados podem ser dos seguintes tipos: características demográficas, socioeconômicas e de estilo de vida; atitudes e opiniões; conscientização e conhecimento; motivações; comportamento passado e presente; e intenções”. Vamos a cada um deles: Características demográficas, socioeconômicas e de estilo de vida: são características, como sexo, idade, nível educacional, estado civil, número de filhos, renda, ocupação, bens e produtos possuídos, entre outros. De acordo com Mattar (2005), o pesquisador poderá elaborar tabulações cruzadas a fim de identificar a relação entre essas variáveis e opiniões e hábitos que os consumidores têm com relação ao produto pesquisado. TÓPICO 1 | MÉTODOS E TÉCNICAS DE COLETA DE DADOS NA PESQUISA EM COMUNICAÇÃO 145 Como exemplo, é possível descobrir que determinado produto é consumido, em média, três vezes ao mês pelo público de determinada faixa de renda e apenas uma vez ao mês pelo público de outra faixa, ou então, se a percepção positiva com relação ao produto se concentra em determinada faixa etária em detrimento de outra e assim com uma infinidade de cruzamentos de variáveis. Desta forma, é possível identificar e caracterizar o perfil do consumidor típico do produto pesquisado. Mattar (2005), no entanto, alerta que enquanto algumas dessas variáveis são facilmente obtidas durante a pesquisa, variáveis, como nível socioeconômico e estilo de vida, são de obtenção imperfeita, pois se tratam de medidas relativas. Sobre o nível socioeconômico, é importante observar o Critério de Classificação Econômica Brasil, que apresenta um novo modelo de classificação social que permite identificar o real potencial de consumo das famílias brasileiras e um novo sistema de pontos para definir o estrato socioeconômico do brasileiro. Já sobre o estilo de vida do pesquisado, o autor orienta para que se levante informações sobre o entrevistado a respeito de suas atividades, seus interesses e suas opiniões, que ajudarão a determinar o seu estilo de vida. O Critério de Classificação Econômica Brasil está disponível em: http://www.abep.org/criterio-brasil. DICAS Atitudes e opiniões: para Mattar (2005), a atitude possui três componentes, sendo um cognitivo, que é resultante da vivência e da experiência do entrevistado; outro afetivo, que resulta dos sentimentos adquiridos; e um comportamental, relacionado com a rápida reação diante de determinados estímulos. Com relação à marca ou produto, esses três componentes ficarão aparentes diante da coleta de informações com o pesquisado, sendo que as reações e respostas podem ser negativas ou positivas, de acordo com o grau de composição de cada um desses fatores. Como exemplo, o entrevistado pode avaliar negativamente um produto, e mesmo que tenha obtido uma boa experiência durante seu consumo (componente cognitivo), o grau de afetividade com relação à marca tende a ser muito baixo, seja por questões culturais, de tradição familiar ou mesmo falta de empatia com a empresa, produto, marca ou até a embalagem. UNIDADE 3 | APLICAÇÃO E INTERPRETAÇÃO DA PESQUISA EM COMUNICAÇÃO146 As atitudes normalmente precedem os comportamentos, ou seja, se não há atitude favorável do consumidor com relação a um produto, dificilmente haverá um comportamento favorável e, consequentemente, não haverá o consumo desse produto. De acordo com Mattar (2005), enquanto o comportamento é manifestado, a atitude não se manifesta e fica difícil de ser observada, a não ser via declarações em entrevistas. Segundo o autor, as opiniões são as manifestações de atitudes dos entrevistados com relação a determinado objeto. Conscientização e conhecimento: usados como sinônimos, os termos se referem ao que os entrevistados sabem a respeito do produto, empresa, marca, serviço etc. É muito comum que agências de propaganda utilizem este tipo de dado para avaliar o índice de recordação que suas campanhas publicitárias produziram. Neste caso, é uma forma de identificar se os esforços de comunicação e marketing estão sendo eficientes. Cabe destacar que nessas situações, que também são chamadas de pesquisa de recall, as entrevistas são feitas de forma a questionar a lembrança que o público tem da campanha, o que entendeu de sua mensagem e qual impacto ela teve na opinião daquele segmento. Para isso, é necessário sempre estimular a memória do entrevistado. Também outros fatores podem ser pesquisados, como o nível de consciência com relação ao produto, ao preço, formas de utilização, diferenças em relação à concorrência etc. Motivações: busca compreender as relações de consumo e identificar as motivações de consumo do pesquisado, como saber por que ele compra etc. Motivação se refere a necessidades, desejos, vontades, impulsos e tudo aquilo que impele, conduz, ativa, move, direciona ou canaliza o comportamento de pessoas para atingir determinados objetivos. Então o interesse do pesquisador reside exatamente em descobrir por que as pessoas se comportam de determinada maneira. De acordo com Mattar (2005), as motivações tendem a ser mais estáveis nos indivíduos do que seu comportamento. Neste sentido, conhecer as motivações permite prever melhor o comportamento futuro do que simplesmente a projeção de comportamentos passados e presentes. Resumindo: pode ser mais fácil saber como influenciar o comportamento futuro de um público conhecendo suas motivações do que apenas identificando o que fizeram anteriormente e o que fazem hoje. TÓPICO 1 | MÉTODOS E TÉCNICAS DE COLETA DE DADOS NA PESQUISA EM COMUNICAÇÃO 147 Comportamento: faz referência ao que as pessoas fizeram no passado e o que estão fazendo no presente. O pesquisador busca conhecer o comportamento para prever ações futuras. Na busca desses dados é importante identificar as compras que a pessoa fez (passado) e o uso do que comprou (presente). Algumas perguntas para identificar situações comportamentais devem ser feitas, como: o que comprou; para que comprou; por quê comprou; quanto custou; quando comprou; como comprou; onde comprou; quem comprou (família). Então podemos dizer que se o comportamento é uma atividade física, a motivação é um estado psicológico. Ambos os dados podem ser coletados simultaneamente, mas o foco em cada um deles dependerá dos objetivos e das hipóteses traçadas para a pesquisa. Intenções: as intenções se referem a previsões e antecipações de comportamentos futuros declarados pelos próprios entrevistados (MATTAR, 2005). O autor sugere uma escala para coleta de informações de compra, como a seguinte: • intenção definitiva de comprar; • provável intenção de comprar; • indeciso – pode ser que compre, pode ser que não; • provável intenção de não comprar; • intenção definitiva de não comprar; • não sabe. Essa escala ajuda a medir o grau de dúvidas que o entrevistado possui com relação a uma futura compra, já que nem sempre o que as pessoas manifestam que tencionam fazer é o que efetivamente acabam fazendo. Com esta proposta de classificação, é possível aumentar a credibilidade no resultado da pesquisa. 3 MÉTODOS E TÉCNICAS DE COLETA DOS DADOS PRIMÁRIOS NA PESQUISA Após identificarmos os tipos e principais métodos de pesquisa na Unidade 2 deste Livro Didático, vamos agora saber um pouco mais sobre os métodos e técnicas de coleta de dados da pesquisa. O método e as técnicas utilizadas serão consoantes aos propósitos da pesquisa, definidos no tipo de pesquisa escolhido. UNIDADE 3 | APLICAÇÃO E INTERPRETAÇÃO DA PESQUISA EM COMUNICAÇÃO 148 Mattar (2005, p. 67) sugere que, “após a escolha do tipo de pesquisa e da fonte de dado, o pesquisador poderá determinar entre um ou mais métodos e técnicas de coleta de dados que irá utilizar”. Seguem aqui alguns métodos e técnicas aplicadas sugeridas pelo autor, que correspondem ao que vimos na Unidade 2: • levantamentos bibliográficos; • levantamentos documentais; • estatísticas publicadas; • entrevistas com entendidos; • entrevistas focalizadas de grupo; • observação assistemática; • observação sistemática; • entrevistas pessoais; • entrevistas por telefone; • questionários distribuídos e recolhidos (por correio, internet ou pessoalmente); • levantamento de campo; • estudos de campo; • estudos em laboratório; • estudos de casos. Quanto à coleta dos dados primários em uma pesquisa, os dois meios básicos são a comunicação e a observação. Enquanto a observação é o acompanhamento sistemático de situações reais e busca explorar, descrever e compreender ambientes, comunidades e processos, a comunicação significa um contato com o pesquisado para poder colher as informações diretamente de suas respostas (PEROVANO, 2016). De acordo com Mattar (2005, p. 171): O método da comunicação consiste no questionamento, verbal ou escrito, dos respondentes para a obtenção do dado desejado, que será fornecido por declaração, verbal ou escrita, do próprio. O método de observação consiste no registro de comportamentos, fatos e ações relacionados com o objetivo da pesquisa e não envolve questionamentos e respostas, verbais ou escritas. Os tipos de pesquisa variam de acordo com a sua abordagem, quanto a sua natureza, seus objetivos e procedimentos. Lembra disso? ATENCAO TÓPICO 1 | MÉTODOS E TÉCNICAS DE COLETA DE DADOS NA PESQUISA EM COMUNICAÇÃO 149 Há, segundo o autor, uma grande variedade de formas e técnicas para a condução da coleta dos dados. Vamos a elas: Comunicação: • Quanto ao grau de estruturação e disfarce: ◦ estruturado não disfarçado; ◦ não estruturado não disfarçado; ◦ não estruturado disfarçado; ◦ estruturado disfarçado. • Quanto à forma de aplicação: ◦ Entrevista: – pessoal: ▪ individual; ▪ em grupos. – telefone. • Questionários autopreenchidos: ◦ pessoal (residência, locais de trabalho, locais públicos); ◦ correios; internet; ◦ jornais/revistas; ◦ acompanhando o produto. Observação: • Quanto ao grau de estruturação: estruturada; não estruturada. • Quanto ao grau de disfarce: disfarçada; não disfarçada. • Quanto aos instrumentos utilizados: humana, mecânica, eletrônica. • Quanto ao ambiente: natural, laboratório. • Quanto ao objeto observado: direta, indireta. • Quanto à participação do observador: participativa, não participativa. Vamos agora tratar das diferenças quanto ao grau de estruturação e de disfarce no método da comunicação, já que se refere a uma escolha essencial antes de elaborar o instrumento de coleta de dados e de informações. De acordo com Mattar (2005, p. 174), a estruturação refere-se ao grau de padronização do instrumento de coleta de dados. Um instrumento de coleta altamente estruturado significa que tanto as questões a serem perguntadas quanto as respostas possíveis de serem respondidas já estão completamente determinadas. No instrumento não estruturado, apenas os assuntos a serem abordados estão listados e as respostas são livres. UNIDADE 3 | APLICAÇÃO E INTERPRETAÇÃO DA PESQUISA EM COMUNICAÇÃO 150 Para Martino (2018), uma pesquisa estruturada possui a vantagem de evitar a dispersão do foco e concentrar as informações a respeito do tema. Por outro lado, segundo o autor,pode eliminar o espaço para o entrevistado dar informações que poderiam ser relevantes. Perovano (2016) lembra que as questões estruturadas em uma pesquisa quantitativa devem ser transformadas em variáveis categóricas nominais e ordinais, para então serem transformadas em dados quantitativos. Quando a coleta de dados é realizada de forma não estruturada, a conversa inicial informal e o uso de perguntas espontâneas podem ajudar o entrevistado a construir ou reconstruir informações até então não memorizadas. Já o disfarce, segundo Mattar (2005), diz respeito ao grau em que o instrumento de coleta de dados permite à pessoa pesquisada saber os propósitos da pesquisa e os temas sobre os quais está sendo questionada. Um instrumento não disfarçado dá total transparência ao pesquisado, ao contrário de um instrumento disfarçado, que não permite transparência. Martino (2018, p. 127) adverte: “não existe ‘observação neutra’, e sua presença sempre muda a situação observada. No entanto, procura-se evitar qualquer interação que comprometa o desenvolvimento da situação”. A discrição, nos casos de um instrumento de coleta disfarçado, é decisiva. Segue aqui um quadro com a relação entre forma e conteúdo quanto ao grau de estruturação e disfarce no método de comunicação para obtenção dos dados primários da pesquisa. TÓPICO 1 | MÉTODOS E TÉCNICAS DE COLETA DE DADOS NA PESQUISA EM COMUNICAÇÃO 151 QUADRO 1 – CRUZAMENTO DAS DUAS VARIÁVEIS ENTRE ESTRUTURAÇÃO E DISFARCE NO MÉTODO DE COMUNICAÇÃO NA PESQUISA Forma Conteúdo Como funciona Estruturado Disfarçado É menos comum nas pesquisas de comunicação e de mercado. Os respondentes devem memorizar e descrever os tópicos determinados pelo pesquisador. As respostas são analisadas e as conclusões são inferidas de acordo com as lembranças manifestadas. Usa algumas técnicas disfarçadas, em que o pesquisado não toma conhecimento dos objetivos da pesquisa. Objetivo: extrair informações sobre determinados tópicos com a espontaneidade do respondente. Vantagens: pesquisado tende a ficar mais exposto às informações nos tópicos de seu interesse, desconhecendo os objetivos da pesquisa. Desvantagens: dificuldade de aplicação e subjetividade na interpretação das respostas. Estruturado Não disfarçado Muito utilizado em levantamentos amostrais e estudos de campo. As perguntas são apresentadas sempre com as mesmas palavras, na mesma ordem e com as mesmas opções de respostas para todos os respondentes. Objetivo: padronização das respostas. Vantagens: facilidade para tabulação, análise e interpretação. Desvantagens: limitação da informação coletada, dependência da lembrança do pesquisado sobre o dado solicitado. Não estruturado Não disfarçado Muito utilizado nas técnicas de grupo focal e em entrevistas individuais e em profundidade. Não há uma estruturação predefinida das perguntas e das respostas. As respostas são abertas e os respondentes têm liberdade e são até encorajados a expressar livremente suas percepções, crenças, opiniões, experiências, intenções etc. Os propósitos do estudo são claros aos respondentes. Objetivo: captar motivações e sentimentos mais amplos nos pesquisados. Vantagens: consegue extrair mais detalhes sobre as intenções, motivações e comportamentos dos pesquisados. Desvantagens: dificuldades para tabular e agregar respostas comuns. Não estruturado Disfarçado Encoraja os respondentes a exporem livremente suas crenças, sentimentos, necessidades etc., sem que tenham conhecimento do que estão expondo. Método adaptado da psicologia para as pesquisas de comunicação e mercado. Objetivo: captar respostas amplas e espontâneas dos pesquisados. Vantagem: flexibilidade na pesquisa. Desvantagens: exige profissionais com muita experiência e conhecimento teórico para a aplicação da pesquisa; interpretações difíceis e subjetivas. FONTE: Os Autores UNIDADE 3 | APLICAÇÃO E INTERPRETAÇÃO DA PESQUISA EM COMUNICAÇÃO 152 Agora trataremos do método da observação. Conforme já vimos anteriormente, a observação acompanha situações reais e consiste no registro de comportamentos, fatos e ações relacionadas diretamente com o objetivo da pesquisa, não registrando respostas diretas ao pesquisador. Por outro lado, quando aplicada em um ponto de venda, pode servir para anotar perguntas e reclamações dos clientes direcionadas ao estabelecimento, por exemplo. Nestes casos, a observação ainda serve para registrar aspectos como a relação cliente e vendedor e a duração do tempo da venda. A técnica da observação busca registrar impressões, atitudes e motivações do pesquisado/consumidor. “É uma técnica que faz uso dos sentidos para a apreensão de determinados aspectos da realidade. Ela consiste em ver, ouvir e examinar os fatos, os fenômenos que se pretende investigar” (GERHARDT et al., 2009, p. 74). Cabe, porém, salientar que, quanto ao grau de estruturação e disfarce no método da observação, as diferenças entre estruturadas e não estruturadas são semelhantes ao método de comunicação. Na observação estruturada, o pesquisador observa e registra situações específicas dos observados e do ambiente de observação. A observação não estruturada é utilizada em pesquisas exploratórias e tem por objetivo que o pesquisador se familiarize com o problema em estudo a fim de desenvolver hipóteses de relações causais e ajudar na definição das categorizações para uma eventual observação estruturada (MATTAR, 2005). As observações estruturadas são mais fáceis para tabular e analisar, enquanto as não estruturadas dependem de uma interpretação mais apurada devido a sua subjetividade. Quanto ao grau de disfarce, da mesma forma que no método da comunicação, a observação é dividida em disfarçada e não disfarçada, conforme orienta Mattar (2005): • Observação disfarçada: objetiva fazer com que o observado tenha um comportamento normal, sem saber que está sendo observado. O observador deve ficar oculto. Um exemplo seria estar disfarçado para registrar o comportamento de um cliente em uma loja ou supermercado, podendo até utilizar filmagem ou recurso eletrônico. É importante aqui observar também aspectos éticos com relação a este tipo de abordagem, pois o ideal seria que as pessoas tomassem conhecimento que estão sendo observadas pelo menos após o registro, tendo o direito de consentir ou não sobre o uso posterior do material coletado. • Observação não disfarçada: quando o comportamento observado não for influenciado pela presença do observador. Como exemplo, o observador (com identificação) fica próximo ao local de venda com caneta e papel anotando vários aspectos relacionados à venda ou ao comportamento do consumidor. Ele fica visível, identificado, mas não interfere diretamente nas ações. TÓPICO 1 | MÉTODOS E TÉCNICAS DE COLETA DE DADOS NA PESQUISA EM COMUNICAÇÃO 153 Já quanto ao ambiente, as observações normalmente ocorrem de forma natural ou em laboratório. A observação natural é quando se observa direto no ambiente natural onde ocorre a ação. A observação de laboratório acontece quando os consumidores são colocados em uma situação artificial, que, na verdade, pode simular um local natural. Quanto ao tipo de observação, Gerhardt et al. (2009, p. 74) as classificam como: • Observação simples ou assistemática: o pesquisador permanece abstraído da situação estudada, apenas observa de maneira espontânea como os fatos ocorrem e controla os dados obtidos. Nessa categoria, não se utilizam meios técnicos especiais para coletar os dados, nem é preciso fazer perguntas diretas aos informantes. É muito apropriada para o estudo de condutas mais manifestadas das pessoas na vida social. • Observação sistemática/não participante: também conhecida como observação passiva. O pesquisador não se integra ao grupo observado, permanecendo de fora. Presencia o fato, mas não participa dele, não se deixa envolver pelas situações, faz mais o papel de espectador. O procedimento tem caráter sistemático. Esse tipo de observaçãoé usado em pesquisas que requerem uma descrição mais detalhada e precisa dos fenômenos ou em testes de hipóteses. Na técnica de coleta de dados, presume-se que o pesquisador saiba exatamente que informações são relevantes para atingir os objetivos propostos. Nesse sentido, antes de executar a observação sistemática, há a necessidade de se elaborar um plano para sua execução. • Observação participante: o pesquisador participa até certo ponto como membro da comunidade ou população pesquisada. A ideia é ganhar a confiança do grupo, ser influenciado pelas características dos elementos do grupo e, ao mesmo tempo, conscientizá-los da importância da investigação. Este tipo de observação foi introduzido nas ciências sociais pelos antropólogos no estudo das chamadas sociedades primitivas. A técnica de observação participante ocorre pelo contato direto do pesquisador com o fenômeno observado. Obtém informações sobre a realidade dos envolvidos em seus próprios contextos. Resumindo, portanto, com relação aos tipos de observação quanto à participação do observador, podemos dizer que a observação participante ocorre quando o observador passa a integrar o grupo observado, “vendo as coisas de dentro”. Já a observação não participante ocorre quando o observador não faz parte do que está sendo observado, o que é mais usual nas pesquisas de mercado. Quanto à definição com relação ao objeto observado, pode ocorrer a observação direta, com o registro no momento da ocorrência e a observação indireta, que observa registros deixados por comportamentos ou fatos passados. Escolher entre os métodos de comunicação e observação é atentar para as necessidades da pesquisa, além de se levar em conta os custos e o tempo aplicados para cada método e cada técnica. Para facilitar a escolha, veremos algumas vantagens e desvantagens no quadro a seguir. UNIDADE 3 | APLICAÇÃO E INTERPRETAÇÃO DA PESQUISA EM COMUNICAÇÃO 154 QUADRO 2 – VANTAGENS E DESVANTAGENS DOS MÉTODOS DE COMUNICAÇÃO E OBSERVAÇÃO Método Vantagens Desvantagens Comunicação - Mais versátil. - Mais rápido. - Menor custo. - Pode ser usado para obter a maioria de tipos de dados. - Depende da boa vontade dos respondentes. - Depende de o respondente dispor ou lembrar do dado solicitado. - Depende da sinceridade dos respondentes. - O instrumento de coleta ou a forma de coleta pode influenciar as respostas. - Menos preciso. Observação - Independe da boa vontade dos respondentes. - Não há influência do processo de respostas. - Certos dados só podem ser obtidos por este método. - Independe da sinceridade dos respondentes. - Independe de o respondente dispor ou lembrar do dado necessário. - É mais preciso. - Menos versátil. - Menos rápido. - Maior custo. - Dados coletados são de interpretação mais difícil. - Não pode ser utilizado para obter dados de situações íntimas. - Só pode ser usado para obter dados exteriorizados através de comportamentos. FONTE: Mattar (2005, p. 173) As vantagens e desvantagens entre os dois métodos ainda variarão de acordo com as técnicas utilizadas na pesquisa, como entrevistas, questionários, grupo focal, entre outros, que veremos a seguir. 4 ELABORAÇÃO DE ENTREVISTAS, QUESTIONÁRIOS E FORMULÁRIOS Anteriormente, vimos as diferenças entre a comunicação e a observação enquanto métodos de coletas de dados primários na pesquisa de comunicação e de mercado. Vamos agora compreender um pouco sobre as formas de aplicação do método da comunicação, que ocorre quando há contato diretamente com o pesquisado, principalmente através de entrevistas, questionários e formulários. Cabe lembrar que esse contato pode ser feito tanto de forma pessoal como mediado através de e-mails, correspondências, entre outros, já vistos no item anterior. As formas de aplicação que veremos aqui são compreendidas como técnicas e também como instrumentos de coleta de dados e de informações. Dentre os métodos de pesquisa vistos até agora, estão aqueles que mais utilizam entrevistas, questionários e formulários, a pesquisa de levantamento, a pesquisa de campo, a pesquisa ex-post-facto e o estudo de caso, sendo este utilizado de forma mais abrangente. TÓPICO 1 | MÉTODOS E TÉCNICAS DE COLETA DE DADOS NA PESQUISA EM COMUNICAÇÃO 155 Iniciamos, aqui, explicando um pouco sobre a técnica de entrevista. De acordo com Gil (2008), a entrevista é uma técnica em que o investigador se apresenta frente ao investigado e lhe formula perguntas, com o objetivo de obtenção dos dados que interessam à investigação. Para o autor: A entrevista é, portanto, uma forma de interação social. Mais especificamente, é uma forma de diálogo assimétrico, em que uma das partes busca coletar dados e a outra se apresenta como fonte de informação. [...] Enquanto técnica de coleta de dados, a entrevista é bastante adequada para a obtenção de informações acerca do que as pessoas sabem, creem, esperam, sentem ou desejam, pretendem fazer, fazem ou fizeram, bem como acerca das suas explicações ou razões a respeito das coisas precedentes (GIL, 2008, p. 109). Quanto à abordagem do tipo de pesquisa, as entrevistas podem se situar tanto dentro das pesquisas quantitativas como das qualitativas. Nas pesquisas quantitativas, as questões formuladas serão sempre estruturadas, ou seja, são apresentadas sempre com as mesmas palavras, na mesma ordem e com opções predefinidas de respostas (múltipla escolha) igualmente para todos os entrevistados. A estruturação das perguntas objetiva uma padronização das respostas, facilitando a tabulação e a posterior análise dos dados. De acordo com Duarte (2006), quando a pesquisa é quantitativa, a entrevista também é fechada, ou seja, o entrevistado se adéqua nos termos do entrevistador. Pesquisas de opinião são um exemplo típico de entrevista fechada, pois buscam estabelecer uniformidade e comparação entre as respostas. É necessário distanciamento do entrevistador, que cumpre a função de obter respostas para as questões apresentadas sem discussão sobre elas. Por esse motivo, pode ser realizada tanto de forma pessoal como a distância, com questionários autoaplicáveis ou autopreenchidos. O questionário é sempre o instrumento de coleta de dados da entrevista em uma pesquisa quantitativa. Já nas pesquisas qualitativas, as questões formuladas devem ser não estruturadas ou semiestruturadas. Ambas estão dentro do que também é chamado como “entrevista em profundidade”. São entrevistas pessoais e individuais. “É uma pseudoconversa realizada a partir de um quadro conceitual previamente caracterizado, que guarda similaridade, mas também diferenças, com a entrevista jornalística” (DUARTE, 2006, p. 64). As questões não estruturadas ocorrem em entrevistas abertas a partir de uma questão central que delineará todo o percurso da entrevista. O entrevistado define a resposta de acordo com seus próprios termos. Malhotra (2006, p. 163) alerta para a importância de um entrevistador altamente treinado para essa modalidade de entrevista, pois o objetivo é “descobrir motivações, crenças, atitudes e sentimentos subjacentes sobre um tópico”. Uma entrevista como essa pode levar de 30 minutos a mais de uma hora. As perguntas sequentes realizadas pelo entrevistador estarão de acordo com as respostas do entrevistado. Por UNIDADE 3 | APLICAÇÃO E INTERPRETAÇÃO DA PESQUISA EM COMUNICAÇÃO 156 exemplo, se o entrevistado chega a expor que não gosta mais de comprar em determinada loja, o entrevistador pode rapidamente interromper para perguntar “por que” ou “qual o motivo”, auxiliando na fluidez da entrevista. Tudo isso ajuda a manter a conversa agradável, porém produtiva. Já as questões semiestruturadas ocorrem em entrevistas semiabertas a partir de um roteiro predefinido. Nestas entrevistas são utilizadas questões-guia em um roteiro. As questões são baseadas no problema de pesquisa formulado. A lista de questões-chave pode ser alterada conforme o andamento da entrevista. Para Duarte (2006), destaforma é possível conjugar a flexibilidade de uma questão não totalmente estruturada com um roteiro de controle. A técnica de entrevista pode ser realizada pessoalmente ou a distância, como via telefone ou outro equipamento que permita a sincronia entre as perguntas do entrevistador e as respostas do entrevistado. Nas entrevistas pessoais e individuais em uma pesquisa qualitativa, o pesquisador deve fazer o contato agendando as entrevistas. Não há exigência de representatividade estatística por amostra em uma entrevista em profundidade, sendo que sua validação ocorrerá mais pela qualidade das fontes. Segundo Duarte (2006), a seleção dos entrevistados tende a ser não probabilística, ou seja, sua definição depende do julgamento do pesquisador e não do sorteio a partir do universo (que garantiria igual chance a todos). A seleção pode ser por conveniência – entrevistados disponíveis – ou intencional, quando os entrevistados são escolhidos pela função exercida ou pelo conhecimento específico que possuem. Já nas entrevistas em uma pesquisa quantitativa, o pesquisador trabalhará com uma amostra selecionada de forma probabilística. Isto quer dizer que o pesquisador deve definir um universo, que compreenda um conjunto de pessoas com características comuns ou dentro de um público-alvo predefinido. Após a identificação do universo, define-se se a pesquisa englobará todos os seus componentes (como ocorre em um censo) ou se optará por uma amostragem desse grupo. Caso opte pela amostragem, todas as pessoas do universo identificado têm a mesma chance de serem entrevistadas. Veremos mais sobre os conceitos de amostras e amostragem no tópico seguinte desta unidade. As entrevistas podem ser realizadas pessoalmente ou via telefone. Também é possível utilizar outro recurso de comunicação síncrona ou de mensagens instantâneas, como Skype, Hangout, WhatsApp, entre outros, que na verdade se assemelham ao telefone tradicional. De acordo com Gil (2008), a utilização do telefone traz vantagens, como a rapidez e a diminuição dos custos, mas pode se limitar devido a uma possível menor quantidade de informações ou até mesmo pela dificuldade de o entrevistador interromper o entrevistado. TÓPICO 1 | MÉTODOS E TÉCNICAS DE COLETA DE DADOS NA PESQUISA EM COMUNICAÇÃO 157 De fato, as interpretações e as microinterações podem ficar limitadas quando da realização de uma entrevista em uma pesquisa qualitativa via telefone. No entanto, em uma pesquisa quantitativa, as diferenças significativas acabam sendo menores e o tamanho da amostra ainda pode ser facilmente ampliado quando a entrevista é aplicada por telefone. As entrevistas em grupo são comumente chamadas de grupos de foco, grupos focais ou focus group. Essa técnica de entrevista é realizada por um moderador treinado, de uma forma não estruturada, e natural, com um pequeno grupo de entrevistados (MALHOTRA, 2006). Para Costa (2006, p. 181), os grupos focais buscam compreender e não interferir nem generalizar. “Grupos focais são um tipo de pesquisa qualitativa que tem como objetivo perceber aspectos valorativos e normativos que são referência de um grupo em particular. São na verdade uma entrevista coletiva que busca identificar tendências”. Malhotra (2006), no entanto, entende que o valor da técnica está nos resultados inesperados que se obtêm em uma discussão livre em grupo. O autor comenta que “várias centenas de instalações nos Estados Unidos sediam grupos de foco várias vezes por semana, e o grupo de foco típico custa ao cliente cerca de U$ 4.000” (MALHOTRA, 2006, p. 157). De tão utilizado, chega-se a usar o termo grupo de foco/grupo focal como sinônimo de pesquisa qualitativa. Como funciona um grupo focal? Gil (2008) orienta que a moderação pode ser feita pelo próprio pesquisador com o apoio de um assistente de pesquisa. Podem participar mais moderadores, dependendo do tema pesquisado. O número de participantes varia entre 6 e 12 pessoas. A duração das reuniões comumente varia entre 2 e 3 horas. O assunto é normalmente introduzido com uma questão mais genérica e vai sendo detalhado até que o moderador perceba que os dados necessários foram obtidos. O público a participar de um grupo focal é muito importante, como lembram vários autores que versam sobre o tema. Para Costa (2006), o grupo deve ter nível socioeconômico e acadêmico semelhante, para evitar inibições e constrangimentos. Malhotra (2006) reforça ao dizer que a similaridade de membros do grupo evita conflitos sobre questões secundárias. O autor sugere que um grupo de mulheres, por exemplo, não deve misturar donas de casa com filhos pequenos com jovens solteiras ou com mulheres mais idosas, porque seus estilos de vida são muito diferentes. Algo lembrado pelos autores é para não selecionar pessoas que já tenham participado de muitos grupos focais, pois com o tempo eles acabam virando “respondentes profissionais” e podem gerar problemas à validade da pesquisa. UNIDADE 3 | APLICAÇÃO E INTERPRETAÇÃO DA PESQUISA EM COMUNICAÇÃO 158 O moderador estimula as pessoas no grupo a se manifestarem e a interagirem entre elas, mas também deve discretamente controlar quaisquer excessos de membros do grupo. Já o assistente faz o papel de documentador e anota tudo o que observa, tanto as expressões verbais como as não verbais. De acordo com Costa (2006), o documentador deve ter muito cuidado para não interpretar o que os membros do grupo quiseram dizer e não incluir falas em que ele “acha” que foram ditas, sem a devida certeza. Para dirimir dúvidas, as reuniões podem ser gravadas em vídeo e verificadas posteriormente. É comum que empresas utilizem pesquisas do tipo grupo focal como complemento de uma pesquisa quantitativa com amostra probabilística ou vice- versa. No grupo focal, o pesquisador terá informações mais detalhadas sobre as preferências dos consumidores e nas entrevistas, em uma pesquisa quantitativa, coletará dados mais objetivos sobre os consumidores. Trataremos agora da utilização de questionários e formulários na pesquisa. Malhotra (2006, p. 290) define o questionário de pesquisa como uma “técnica estruturada para coleta de dados que consiste em uma série de perguntas, escritas ou orais, que um entrevistado deve responder”. Para o autor, o questionário tem três objetivos específicos: transformar a informação desejada em um conjunto de perguntas específicas que os entrevistados tenham condições de responder; motivar e incentivar o entrevistado a se deixar envolver pela entrevista; minimizar o erro de resposta. Entretanto, são necessárias algumas precauções ao se elaborar um questionário, como orientam Samara e Barros (2007, p. 120): “não fazer perguntas embaraçosas; não obrigar o entrevistado a fazer cálculos; não incluir perguntas que remetam a um passado distante; não incluir perguntas que já contenham respostas”. Na Figura 1, segue um modelo com os tipos de perguntas e denominações possíveis na aplicação de um questionário. TÓPICO 1 | MÉTODOS E TÉCNICAS DE COLETA DE DADOS NA PESQUISA EM COMUNICAÇÃO 159 FIGURA 1 – TIPOS DE PERGUNTA EM UM QUESTIONÁRIO DE PESQUISA FONTE: Kotler (2018, p. 133) Denominação Descrição Exemplo A. Perguntas fechadas Dicotômica Uma pergunta com duas respostas possíveis. Para programar essa viagem, você ligou pessoalmente para a American? Sim Não Múltipla escolha Uma pergunta com três ou mais respostas possíveis Com quem você está viajando neste voo? □ Ninguém □ Apenas filhos □ Cônjuge □ Colegas de trabalho/amigos/parentes □ Cônjuge e filhos □ Estou participando de uma excursão Escala Libert Uma afirmação em que o entrevistado indica seu grau e concordância/discordância. As companhias aéres menores geralmente oferecem serviços melhores do que as grandes companhias. Discorda Discorda Nem concorda, Concorda Concorda totalmente nem discorda totalmente 1_______ 2_______ 3_______4_______ 5_______ Diferencial semântico Uma escala ligando duas palavras bipolares. O entrevistado seleciona o ponto que representa sua opinião. Acho a American Airlines: Grande_____________________________________ Pequena Experiente ________________________________Inexperiente Moderna___________________________________ Antiquada Escala de importância Uma escala que mede a importância dada a um atributo qualquer. Para mim, o serviço de bordo é: Extremamente Muito De alguma Pouco Totalmente sem importante importante importância importante importância 1_______ 2_______ 3_______ 4_______ 5_______ Escala de classificação Uma escala que classifica algum atributo de ‘excelente’ a ‘ruim’. O serviço de bordo da American Airlines é: Excelente Muito bom Bom Razoável Ruim 1_______ 2_______ 3_______ 4_______ 5_______ Escala de intenção de compra Uma escala que descreve a intenção de compra do entrevistado. Se um serviço de internet a bordo estivesse disponível em um voo longo, eu: Certamente Provavelmente Não tenho Provavelmente Certamente usaria usaria certeza não usaria não usaria 1_______ 2_______ 3_______ 4_______ 5_______ B. Perguntas abertas Completamente não-estruturada Uma pergunta que os entrevistados podem responder de diversas maneiras. Qual é sua opinião sobre a American Airlines? Associação de palavras São apresentadas várias palavras, uma de cada vez, e os entrevistados mencionam a primeira palavra que lhes vier à mente. Qual é a primeira palavra que lhe vem à mente quando ouve: Companhia aérea_________________________________________ American Airlines________________________________________ Viagem_________________________________________________ Complementação de frase É apresentada uma frase incompleta e o entrevistado tem de completá-la. Quando escolho uma companhia aérea, o que mais pesa em minha decisão é ___________________________________________ Complementação de história É apresentado uma história incompleta e o entrevistado deve completá-la. "Voei pela American Airlines há alguns dias. Notei que as partes externa e interna da aeronave ostentavam cores muito vivas. Isso suscitou os seguintes pensamentos e sentimentos em mim..." Agora complete a história. Complementação de figura É apresentado um desenho com dois personagens, um dos quais está afirmando algo. Pede-se aos entrevistados que se imaginem no lugar do interlocutor e completem o balão vazio. Teste de Apreensão Temática (TAT) É apresentado uma figura e os entrevistados têm que inventar uma história sobre o que pensam estar acontecendo, ou acontecerá, na figura. UNIDADE 3 | APLICAÇÃO E INTERPRETAÇÃO DA PESQUISA EM COMUNICAÇÃO 160 Os questionários podem ser aplicados diretamente na relação entrevistador/ entrevistado ou podem ser autopreenchidos. Mattar (2005) explica que este tipo de questionário consiste em um instrumento de coleta de dados para ser lido e respondido diretamente pelos pesquisados sem a presença do entrevistador. Eles podem ser entregues pessoalmente; enviados pelo correio; por e-mail; por ferramentas on-line, como Google Forms ou aplicativos similares; acompanhando o produto; colocados em locais públicos; em veículos de comunicação. De acordo com o autor, um dos problemas desta aplicação é o fato de que nem sempre há a certeza de que quem respondeu é quem realmente deveria fazê-lo. Para os formulários de coleta de dados nas pesquisas de comunicação e mercado, podem servir tanto os métodos de comunicação na pesquisa como os métodos de observação. Um formulário é usado para fazer o registro de dados observáveis e é mais fácil de ser elaborado do que um questionário. Também são usados formulários para preenchimentos das respostas dos entrevistados, geralmente em pesquisas quantitativas. Nesse caso, o entrevistador faz as perguntas ao entrevistado e anota as respostas no formulário, que pode ter um leiaute semelhante a uma planilha de dados. De acordo com Gil (2002), o formulário é um dos instrumentos mais utilizados em pesquisas de opinião e mercado, justamente por organizar dados facilmente tabuláveis e quantificáveis. O formulário não é recomendado para entrevistas em profundidade, porém, pela agilidade em seu uso é muito comum ser aplicado em locais de circulação rápida, como filas de estabelecimentos comerciais ou em pontos de ônibus. Questionários e formulários são aplicados em pesquisas quantitativas. Enquanto o formulário é um instrumento de anotações por parte do entrevistador, o questionário pode ser preenchido pelo entrevistador e pelo entrevistado. Como abordamos neste tópico fontes, tipos, métodos e técnicas de coleta de dados na pesquisa de comunicação e de mercado, selecionamos o trecho a seguir, que auxiliará na compreensão sobre diferenças entre uma pesquisa qualitativa e uma pesquisa quantitativa. TÓPICO 1 | MÉTODOS E TÉCNICAS DE COLETA DE DADOS NA PESQUISA EM COMUNICAÇÃO 161 Pesquisas qualitativas Estão preocupadas com os significados presentes nas ações humanas. O objetivo principal é compreender as ações humanas e não as explicar. Na pesquisa qualitativa não existe o rigor dos números nem a prova matemática ou estatística de algum comportamento. A pesquisa qualitativa lida com o universo da subjetividade, das emoções e elementos pessoais de alguém que no momento participa da pesquisa. O termo “qualidade” nas pesquisas qualitativas se refere a características de alguém ou de alguma coisa e não como aspectos “positivos”. O rigor de uma pesquisa qualitativa não está relacionado aos números, mas na suficiência de informações coletadas. Pesquisas quantitativas As pesquisas quantitativas têm o objetivo de medir ou calcular algum aspecto de alguém ou de alguma coisa. Uma característica importante da pesquisa quantitativa é a sua precisão. População, amostragem e amostra são as definições de uma pesquisa quantitativa. As pesquisas quantitativas ainda são muito utilizadas em comunicação, principalmente em estudos de audiência e de consumo dos meios de comunicação. Qualitativa ou quantitativa? Antes de escolher o método é necessário pensar qual o tipo de pesquisa quanto a sua abordagem para o seu trabalho. FONTE: MARTINO, L. M. S. Métodos de pesquisa em comunicação: projetos, ideias, práticas. Petrópolis, RJ: Vozes, 2018. 162 RESUMO DO TÓPICO 1 Neste tópico, você aprendeu que: • As quatro fontes básicas em pesquisas aplicadas ao mercado são: ◦ o próprio pesquisado; ◦ as pessoas que tenham informações sobre o pesquisado; ◦ situações similares; ◦ os dados disponíveis. • Os dados primários coletados em uma pesquisa podem ser dos seguintes tipos: ◦ características demográficas, socioeconômicas e de estilo de vida; ◦ atitudes e opiniões; ◦ conscientização e conhecimento; ◦ motivações; ◦ comportamento passado e presente; ◦ intenções. • São dois meios básicos para a coleta dos dados primários em uma pesquisa: a comunicação e a observação. • A observação é o acompanhamento sistemático de situações reais. Busca registrar impressões, atitudes e motivações do pesquisado/consumidor. É dividida em: ◦ observação disfarçada: o observador deve ficar oculto e o observado deve ter um comportamento normal, sem saber que está sendo observado; ◦ observação não disfarçada: quando o comportamento observado não for influenciado pela presença do observador; ◦ observação simples ou assistemática: o pesquisador apenas observa de maneira espontânea como os fatos ocorrem e controla os dados obtidos; ◦ observação sistemática/não participante: o pesquisador não se integra ao grupo observado, permanecendo de fora. Presencia o fato, mas não participa dele, não se deixa envolver pelas situações, faz mais o papel de espectador; ◦ observação participante:o pesquisador participa como membro da comunidade ou população pesquisada. A técnica de observação participante ocorre pelo contato direto do pesquisador com o fenômeno observado. • Comunicação significa um contato com o pesquisado para poder colher as informações diretamente de suas respostas. Consiste no questionamento, verbal ou escrito, dos respondentes para a obtenção do dado desejado, que será fornecido por declaração, verbal ou escrita, do próprio. Quanto ao grau de estruturação e de disfarce, o método da comunicação é dividido em: ◦ estruturado disfarçado: objetiva extrair informações sobre determinados tópicos com a espontaneidade do respondente; 163 ◦ estruturado não disfarçado: as perguntas são apresentadas sempre com as mesmas palavras, na mesma ordem e com as mesmas opções de respostas para todos os respondentes, padronizando assim as respostas; ◦ não estruturado não disfarçado: as respostas são abertas e os respondentes têm liberdade de expressar livremente suas percepções, crenças, opiniões, experiências, intenções etc., os propósitos do estudo são claros aos respondentes. Objetiva captar motivações e sentimentos mais amplos nos pesquisados; ◦ não estruturado disfarçado: encoraja os respondentes a exporem livremente suas opiniões sem que tenham conhecimento do que estão expondo. Objetiva captar respostas amplas e espontâneas dos pesquisados. • A entrevista é uma técnica em que o investigador se apresenta frente ao investigado e lhe formula perguntas, com o objetivo de obtenção dos dados que interessam à investigação. As entrevistas podem ser: ◦ não estruturadas, abertas, a partir de uma questão central; ◦ semiestruturadas, semiabertas, a partir de um roteiro de perguntas; ◦ estruturadas, fechadas, utilizando um questionário. • O grupo focal é uma técnica de entrevista realizada por um moderador, de uma forma não estruturada e natural, com um grupo que varia entre 6 e 12 entrevistados. A duração das reuniões comumente varia entre 2 e 3 horas. • O questionário de pesquisa é uma técnica estruturada para coleta de dados com várias perguntas, escritas ou orais, que um entrevistado deve responder. Podem ser aplicados diretamente na relação entrevistador/entrevistado ou podem ser autopreenchidos. • Os formulários de coleta de dados podem ser utilizados para fazer o registro de dados observáveis e para preenchimento das respostas dos entrevistados, geralmente em pesquisas quantitativas. 164 1 Os dados primários de uma pesquisa são coletados e analisados pela própria empresa e se referem ao pesquisado, às pessoas que tenham informações sobre o pesquisado e às situações similares (buscando o conhecimento em situações anteriores semelhantes). Mattar (2005) define que os dados primários a serem coletados podem ser de variados tipos. Avalie cada tipo presente nas afirmações a seguir. I- Atitudes e opiniões das pessoas. As atitudes precedem o comportamento do consumidor e as opiniões são as manifestações de atitudes dos entrevistados em relação a determinado objeto. II- Desk research. É importante por ser uma maneira de analisar um conjunto de estatísticas extraídas de várias fontes e de maneira diversa. III- Motivação. A motivação pode se referir a necessidades, desejos, vontades e impulsos relacionados ao consumo. IV- Intenções. As intenções se referem a previsões e antecipações de comportamentos futuros declarados pelos próprios entrevistados. V- Levantamentos documentais. Utiliza variados documentos brutos, como documentos de primeira mão (arquivos, gravações, diários) e documentos de segunda mão (relatórios, tabelas). É CORRETO o que se afirma em: a) ( ) I, II, V, apenas. b) ( ) I, II, III, IV, V. c) ( ) I, III, IV, apenas. d) ( ) II, V, apenas. e) ( ) II, III, apenas. 2 (ENADE, 2018) Um instituto de pesquisa internacional realizou duas pesquisas utilizando metodologias distintas, com o objetivo de identificar e avaliar as tecnologias de assistência ao motorista que o consumidor brasileiro mais valoriza nos automóveis. A primeira pesquisa, do tipo grupo focal, permitiu aos participantes se manifestarem livremente sobre suas preferências de tecnologias. A segunda pesquisa, realizada com uma amostra probabilística de 1.500 pessoas, revelou que a percepção de novas tecnologias como muito importantes varia significativamente de acordo com a renda dos entrevistados. Enquanto 44% dos consumidores de maior renda consideram muito importante a presença de tecnologias de assistência ao motorista, entre os entrevistados de menor renda, essa percepção foi de apenas 30%. FONTE: <https://www.gfk.com/pt-br/insights/press-release/tecnologia-carro-motorista- estacionamento-motor-automoveisveiculos/>. Acesso em: 12 jul. 2018 (adaptado). AUTOATIVIDADE 165 Considerando as características das metodologias de pesquisa mencionadas no texto, analise as afirmações a seguir. I- A pesquisa do tipo grupo focal permite compreender as relações de consumo envolvidas e obter informações mais detalhadas sobre as preferências dos consumidores. II- A pesquisa que trabalha com amostra probabilística permite maior objetividade nos dados obtidos que a pesquisa realizada com grupo focal. III- A utilização dos dados produzidos por meio do grupo focal, complementados pelo levantamento com amostra probabilística, permite a produção de resultados assertivos. É CORRETO o que se afirma em: FONTE: <https://brainly.com.br/tarefa/23920245>. Acesso em: 28 fev. 2020. a) ( ) I, apenas. b) ( ) III, apenas. c) ( ) I e II, apenas. d) ( ) II e III, apenas. e) ( ) I, II e III. 3 Os dois meios básicos para a coleta dos dados primários em uma pesquisa são a comunicação e a observação. A observação é o acompanhamento sistemático de situações reais. Já a comunicação é um contato com o pesquisado para poder colher as informações diretamente de suas respostas. Sobre o grau de estruturação e de disfarce nos dois métodos, avalie as afirmações a seguir: I- No modo observação disfarçada, a ideia é de que a pessoa observada tenha um comportamento normal, sem intervenções diretas do pesquisador. II- No modo estruturado não disfarçado no método da comunicação, as perguntas são apresentadas sempre iguais, na mesma ordem e com as mesmas opções de respostas para todos os pesquisados, buscando uma padronização das respostas. III- O grupo focal é um exemplo de método de observação estruturada e disfarçada. IV- Na observação participante, a ideia é de que o pesquisador ganhe a confiança do grupo pesquisado, pois há um contato direto do pesquisador com o fenômeno observado. V- A entrevista pessoal e individual é uma forma de aplicação do método da comunicação na pesquisa. É CORRETO o que se afirma em: a) ( ) I, II, IV e V, apenas. b) ( ) II, apenas. c) ( ) III, apenas. d) ( ) II, III e IV, apenas. e) ( ) I, II, III, IV e V. 166 4 (ENADE, 2018) Durante a Segunda Guerra Mundial, os grupos focais foram utilizados para o exame dos efeitos persuasivos da propaganda política, para avaliar a eficácia do material de treinamento de tropas, bem como investigar os fatores que afetavam a produtividade nos grupos de trabalho. A partir de 1980, os grupos focais passaram a ser empregados, por exemplo, para o entendimento das atitudes de doentes e para se avaliar a interpretação da audiência com relação às mensagens da mídia. FONTE: GONDIM, S. M. G. Grupos focais como técnica de investigação qualitativa: desafios metodológicos. Paideia, Ribeirão Preto, v. 12, n. 24, p. 149-162, 2003 (adaptado). O grupo de foco (focus group) tem sua origem na Sociologia. Hoje, é um método de pesquisa amplamente utilizado na área de Comunicação e também tem crescido em popularidade em outros campos de ação, como o marketing. Sobre a realização de grupos focais, avalie as asserções a seguir e a relação proposta entre elas. I- A realização de grupos focais é uma técnica lenta e de alto custo para avaliação e obtenção de informações quantitativas,fornecendo aos gerentes de projetos ou instituições grande riqueza de dados sobre o desempenho de atividades desenvolvidas, a prestação de serviços e novos produtos. PORQUE II- Nos grupos focais, são realizadas entrevistas de forma não estruturada e natural, em que participam um moderador, que recebe treinamento prévio, e um pequeno grupo de respondentes, com o objetivo de se descobrirem possíveis ideias ou soluções para um problema de comunicação ou marketing a partir da discussão de um tema. A respeito dessas asserções, assinale a opção CORRETA. FONTE: <https://brainly.com.br/tarefa/23916735>. Acesso em: 28 fev. 2020. a) ( ) As asserções I e II são proposições verdadeiras, e a II é uma justificativa correta da I. b) ( ) As asserções I e II são proposições verdadeiras, mas a II não é uma justificativa correta da I. c) ( ) A asserção I é uma proposição verdadeira, e a II é uma proposição falsa. d) ( ) A asserção I é uma proposição falsa, e a II é uma proposição verdadeira. e) ( ) As asserções I e II são proposições falsas. 167 TÓPICO 2 PREPARAÇÃO E EXECUÇÃO DA COLETA DE DADOS NA PESQUISA EM COMUNICAÇÃO UNIDADE 3 1 INTRODUÇÃO Agora que já conhecemos os principais métodos, técnicas e instrumentos de pesquisa, abordaremos a preparação do trabalho de campo e o trabalho de coleta dos dados em si. Iniciaremos abordando os fundamentos da amostragem, a definição do plano de amostragem e do tamanho das amostras, com as técnicas comumente utilizadas. Em seguida, abordaremos o trabalho de campo em si, com a realização do pré-teste da pesquisa e a coleta dos dados. Por fim, trataremos da tabulação e cruzamento dos dados da pesquisa, com a aplicação de tabelas e gráficos do material coletado. Vamos lá? 2 FUNDAMENTOS DA AMOSTRAGEM A coleta de dados necessita de procedimentos adequados para que a pesquisa possa estimar determinadas informações de uma população. Estes procedimentos são chamados de amostragem. Conforme já visto, a amostragem estabelecerá o tamanho da população, que é o conjunto total de sujeitos que possuem as características do problema. A amostra será um grupo proporcional à população que será efetivamente entrevistada. O processo de amostragem começa a ser trabalhado na etapa de planejamento da pesquisa, mas o tamanho da amostra será definido durante a preparação do trabalho de campo. Afinal de contas, qual a diferença entre amostragem, amostra, técnicas de amostragem e cálculos amostrais? 168 UNIDADE 3 | APLICAÇÃO E INTERPRETAÇÃO DA PESQUISA EM COMUNICAÇÃO “A amostra é qualquer parte de uma população. Já a amostragem é o processo de colher amostras de uma população” (MATTAR, 2005, p. 264). As técnicas de amostragem são tipos de amostras, como as probabilísticas e as não probabilísticas, que veremos adiante. Os cálculos amostrais utilizam fórmulas estatísticas para se ter o máximo de precisão nos resultados. Vimos na unidade anterior deste Livro Didático que em uma pesquisa de levantamento podemos levantar informações de uma população inteira, entrevistando todos os seus membros. Esse procedimento é chamado de censo. “Um censo envolve a enumeração completa dos elementos de uma população. Os parâmetros populacionais podem ser calculados diretamente após enumerado o censo” (MALHOTRA, 2006, p. 320). De acordo com o autor, a amostra, por sua vez, é um subgrupo de uma população selecionado para participação no estudo. Mattar (2005) aponta duas grandes vantagens de amostrar, além, é claro, da economia de mão de obra e dinheiro: A primeira é a de que há similaridade suficiente entre os elementos de uma população, de tal forma que uns poucos elementos representarão adequadamente as características de toda a população. A segunda é a de que a discrepância entre os valores variáveis da população (parâmetros) e os valores dessas variáveis obtidos na amostra (estatísticas) é minimizada, pois, enquanto algumas medições subestimam o valor do parâmetro, outras os superestimam e, desde que a amostra tenha sido adequadamente obtida, as variações nestes valores tendem a contrabalançar e a anular umas às outras, resultando em medidas na amostra que são, geralmente, próximas às medidas da população (MATTAR, 2005, p. 265-266). A elaboração da amostragem é um processo com cinco estágios inter- relacionados, que se inicia já na definição do problema de pesquisa, conforme podemos conferir na figura a seguir. FIGURA 2 – PROCESSO DE ELABORAÇÃO DA AMOSTRAGEM FONTE: Malhotra (2006, p. 322) Defina a população-alvo Determine a composição da amostra Escolha a(s) tércnicas de amostragem Determine o tamanho da amostra Execute o processo de amostragem TÓPICO 2 | PREPARAÇÃO E EXECUÇÃO DA COLETA DE DADOS NA PESQUISA EM COMUNICAÇÃO 169 As técnicas de amostragem são divididas entre amostragem probabilística e amostragem não probabilística. Segue aqui uma classificação mais apurada das principais técnicas de amostragem, baseada nas publicações de Malhotra (2006) e Samara e Barros (2007): Amostragem probabilística: as unidades amostrais são escolhidas por acaso. É possível especificar previamente cada amostra potencial de determinado tamanho que pode ser extraída da população, assim como a probabilidade de selecionar cada amostra. Todos os elementos da população têm igual probabilidade de serem selecionados para compor a amostra. • Amostragem aleatória simples: há uma igual probabilidade, diferente de zero, de cada elemento da população ser escolhido por meio de sorteio. A amostra é extraída de uma composição da amostra por um processo aleatório. • Amostragem sistemática: os elementos da amostra serão selecionados aleatoriamente e será estabelecido um intervalo entre esses elementos. Este intervalo é obtido como divisão do número do universo, ou da população, pelo número da amostra (ex.: em pesquisas domiciliares, vizinhos podem influenciar uns aos outros, então utiliza-se um intervalo para aplicação dos questionários para evitar distorções). A amostragem sistemática é menos dispendiosa e mais fácil que a aleatória simples porque a seleção aleatória só é feita uma vez. • Amostragem estratificada: é um processo de dois estágios, em que a população é dividida em subpopulações ou estratos. É aplicada quando há a necessidade de subdividir a população em estratos homogêneos, por exemplo, por classe social, idade, gênero etc. Pode ser proporcional, quando o tamanho da amostra de cada extrato é proporcional ao tamanho relativo do estrato na população total, ou desproporcional, quando o tamanho da amostra de cada estrato é proporcional ao tamanho relativo do estrato e ao desvio padrão da distribuição da característica de interesse entre todos os elementos no estrato. • Amostragem por conglomerado ou por cluster: há uma subdivisão da área a ser pesquisada por clusters, que podem ser municípios, bairros, quarteirões ou domicílios, que serão sorteados para composição dos elementos da amostra (ex.: pega-se um bairro, divide-o por quarteirões, identifica a população do quarteirão e estabelece um intervalo por meio de fórmula da técnica probabilística sistemática). Amostragem não probabilística: o pesquisador pode, de forma arbitrária ou consciente, decidir os elementos a serem incluídos na amostra. Ocorre a seleção por critérios subjetivos do pesquisador, de acordo com sua experiência e com os objetivos do estudo. Por este motivo, não são estatisticamente projetáveis para a população. • Amostragem por conveniência: a seleção das unidades amostrais é deixada em grande parte a cargo do entrevistador. São pessoas ao alcance do pesquisador e dispostas a responder a um questionário. Com frequência, os entrevistados são escolhidos porque se encontram no lugar exato no momento certo, como em um centro comercial, no pátio de uma universidade, em um ponto de ônibus etc. É a que menos tempo consome e normalmente a de menor custo pessoal e financeiro entre todas as técnicas de amostragem. 170 UNIDADE 3 | APLICAÇÃOE INTERPRETAÇÃO DA PESQUISA EM COMUNICAÇÃO • Amostragem por julgamento: os elementos da amostra são selecionados segundo um critério de julgamento do pesquisador. Neste caso, o pesquisador considera os entrevistados representativos da população de interesse da pesquisa, como a separação entre entrevistados usuários e não usuários de determinado produto. • Amostragem por cotas: o pesquisador procura uma amostra que se identifique em alguns aspectos com o universo. Pode estar ligado ao sexo, idade etc. Pode ser vista também como uma amostragem por julgamento em dois estágios: primeiro divide os pesquisados por categorias ou cotas e depois julga aqueles que devem ser incluídos ou não na pesquisa. A figura a seguir mostra a distribuição possível das técnicas de amostragem. FONTE: Malhotra (2006, p. 326) FIGURA 3 – UMA CLASSIFICAÇÃO DAS TÉCNICAS DE AMOSTRAGEM Quais são as razões de escolha entre amostragem não probabilística e amostragem probabilística? De acordo com Malhotra (2006), a base da escolha está na natureza da pesquisa, a magnitude relativa dos erros não amostrais versus erros amostrais, a variabilidade na população e também em considerações de ordem estatística e operacional. Quando se exige uma estimativa altamente precisa sobre uma população, a amostragem probabilística é mais desejável, mas quando a pesquisa não exige informações específicas representativas da população, objetivando apenas ganhar ou ampliar o conhecimento sobre um assunto presente em determinada população, a amostragem não probabilística é usada com maior frequência, até pela facilidade em termos de recursos pessoais e financeiros. Técnicas de amostragem Não probabilística Probabilística Amostragem por conveniência Amostragem por julgamento Amostragem por cotas Outras técnicas de amostragem Amostragem estratificada Amostragem aleatória simples Amostragem sistemática Amostragem por conglomerado ou cluster Outras técnicas de amostragem Proporcional Desproporcional TÓPICO 2 | PREPARAÇÃO E EXECUÇÃO DA COLETA DE DADOS NA PESQUISA EM COMUNICAÇÃO 171 Além das técnicas de amostragem, o pesquisador precisará definir a fórmula para o cálculo da quantidade de pessoas a serem entrevistadas. Essa definição chama-se cálculo amostral. De acordo com Samara e Barros (2007, p. 162): Para o cálculo de amostras, assumem-se os conceitos estatísticos de que as populações, e também as amostras, têm distribuição normal de frequência (curva de Gauss), e suas principais características são a simetria das frequências, a presença das principais medidas de tendência central (média, mediana e moda) no mesmo ponto e a presença de desvios padrão (Z) significativos para qualquer curva normal, onde 1 de desvio padrão representa 68% da área sobre a curva, ou abrange 68% dos elementos da distribuição acima e abaixo da média; 1,96 de desvio representa 95% da distribuição; 2 de desvio de qualquer curva normal abrange 95,5% da distribuição; 3 de desvio padrão inclui praticamente toda a distribuição – o equivalente a 99,7% da amostra ou população. Ainda de acordo com os autores, em pesquisa, o número de desvios utilizados representará a margem de segurança dada ao cálculo da amostra, o que influi diretamente na sua amplitude, pois quanto maior a margem de segurança, ou intervalo de confiança, maior será a amostra. Neste sentido, se o cálculo amostral foi realizado com uma margem de segurança de 95%, o desvio padrão utilizado para o cálculo foi igual a 1,96%. Quanto ao tamanho da amostra, Malhotra (2006, p. 348-349) apresenta uma definição de alguns conceitos estatísticos usados em pesquisas por amostragem: • Parâmetro: descrição resumida de uma característica ou medida fixa da população-alvo. Um parâmetro denota o verdadeiro valor que se obteria se fosse feito um censo ao invés de uma amostra. • Estatística: descrição resumida de uma característica ou média da amostra. Usa-se a estatística amostral como estimativa do parâmetro populacional. • Correção para população finita (cpf): correção para compensar a superestimação da variância de um parâmetro populacional. • Nível de precisão: quando se estima um parâmetro populacional utilizando uma estatística amostral, o nível de precisão é o tamanho desejado do intervalo de estimação. É a diferença máxima permissível entre a estatística amostral e o parâmetro populacional. • Intervalo de confiança: intervalo que recai o verdadeiro parâmetro populacional, dentro de determinado nível de confiança. • Nível de confiança: probabilidade de um intervalo de confiança conter o parâmetro populacional. 172 UNIDADE 3 | APLICAÇÃO E INTERPRETAÇÃO DA PESQUISA EM COMUNICAÇÃO 3 TRABALHO DE CAMPO Conforme já vimos na Unidade 2 deste Livro Didático, o trabalho de campo faz parte da etapa de execução da pesquisa de comunicação e de mercado. Antecede ainda a coleta de dados, uma preparação da equipe e das condições do trabalho de campo. Nesta preparação, estão incluídos a seleção e o treinamento da equipe que coletará os dados, além da realização do pré-teste do formulário de coleta. Sobre a seleção dos entrevistadores, Malhotra (2006) recomenda que sejam elaborados requisitos para os contratados de acordo com a forma de coleta de dados. O autor recomenda também que os indivíduos recrutados sejam qualificados, tenham boa sociabilidade, comunicabilidade e certa experiência na modalidade de trabalho. Já o treinamento da equipe torna-se decisivo para a qualidade dos dados que serão coletados. Os entrevistadores devem ser treinados para executar desde a abordagem inicial ao entrevistado, como a forma de dirigir as perguntas e o registro adequado das respostas. Vale lembrar que uma padronização no registro das respostas auxiliará a posterior interpretação e análise dos dados e informações coletados. Malhotra (2006) orienta que para as questões não estruturadas, a regra geral é registrar as respostas literalmente. Já no caso das questões estruturadas, a regra geral é fazer uma marcação no quadrinho que se refere à resposta do entrevistado. O pré-teste ajuda a checar se os instrumentos da pesquisa estão adequados a sua realização. Conforme já visto anteriormente, é possível que possam ocorrer distorções, falta de clareza nas perguntas e fragilidade nas respostas dos entrevistados em uma pesquisa. O pré-teste é realizado então para poder corrigir eventuais erros antes da aplicação da pesquisa de fato. Samara e Barros (2007) advertem para a aplicação do pré-teste no caso das pesquisas quantitativas. Geralmente é realizado em torno de 10% do total da amostra ou em um dia de trabalho de alguns dos pesquisadores. A atividade é importante para verificar se o tamanho dos questionários está adequado, se as perguntas foram bem elaboradas e foram compreendidas pelos entrevistados, além de medir o tempo médio das respostas. Há várias fórmulas utilizadas para definir o tamanho e a distribuição das amostras, bem como do desvio padrão (também chamado de erro padrão), que serve para dizer o quanto os valores de onde se extraiu a média são próximos ou distantes da própria média estatística. Na maioria dos casos, o pesquisador busca apoio de estatísticos para desenvolver e aplicar as fórmulas e por esse motivo, não aprofundaremos aqui as abordagens estatísticas. TÓPICO 2 | PREPARAÇÃO E EXECUÇÃO DA COLETA DE DADOS NA PESQUISA EM COMUNICAÇÃO 173 Para os autores, antes de ir a campo em uma pesquisa quantitativa, o plano deve contemplar: • a determinação do número de entrevistas a serem realizadas por cada pesquisador; • a elaboração das grades de abordagem de entrevistados, segundo critérios de variáveis populacionais, como sexo, idade etc.; • o sorteio de pontos de fluxo e a demarcação em mapas de área de abrangência do estudo; • a instrução dos trabalhos de aplicação dos questionários pelos pesquisadores e checadores/supervisores; • o acompanhamento da população de cada ponto de fluxo/pesquisador. Na execução dotrabalho de campo, uma função importante a ser lembrada também é dos supervisores. A supervisão dos entrevistadores dará a certeza de que eles estão seguindo os processos e as técnicas em que foram treinados (MALHOTRA, 2006). O trabalho de supervisão ajuda a controlar as amostras, além de controlar possíveis fraudes. O controle de amostragem garantirá que os entrevistadores sigam o plano de amostragem, em vez de selecionar entrevistados por conveniência. Já o controle de fraudes envolve casos mais simples, como o ajuste de uma resposta de acordo com a conveniência do entrevistador, até o mais extremo, que pode ocorrer quando um entrevistador falsifica todo um questionário sem sequer ter entrado em contato com o entrevistado. Outra forma de controle do trabalho de coleta de dados ocorre na validação do trabalho de campo. Conforme orientação de Malhotra (2006, p. 397), a validação busca verificar se os entrevistadores estão apresentando questionários autênticos: Para confirmar o estudo, os supervisores telefonam para 10 a 25% dos entrevistados perguntando se os entrevistadores fizeram efetivamente seu trabalho. Os supervisores indagam sobre a duração e a qualidade da entrevista, a reação do entrevistado e os dados demográficos básicos. A informação demográfica é comparada com as informações dadas pelos entrevistadores nos questionários. Outro aspecto importante na coleta de dados se refere à preservação da identidade dos entrevistados. Esse cuidado se aplica principalmente no momento da análise dos materiais. Para Gil (2002, p. 133), “a preservação da identidade dos respondentes constitui problema de alta relevância ética”. Para o autor, a superação desse problema, quando necessária a divulgação, está na solicitação do consentimento dos entrevistados. 174 UNIDADE 3 | APLICAÇÃO E INTERPRETAÇÃO DA PESQUISA EM COMUNICAÇÃO A respeito da forma de abordagem dos entrevistados, conforme visto anteriormente, a entrevista pode ocorrer pessoalmente ou a distância, como via telefone, Skype ou outra ferramenta de comunicação on-line via computadores e celulares. Já nos questionários há a opção de autopreenchimento, sendo que também podem ser enviados por e-mail, Google Forms ou aplicativos similares, lembrando que ainda haveria a opção de disposição dos formulários em locais de circulação, como o próprio ponto de venda. 4 TABULAÇÃO E CRUZAMENTOS DE DADOS Após a coleta dos dados e das informações junto às fontes, a pesquisa parte para a etapa de tabulação. A tabulação dispõe de forma ordenada e organizada os resultados numéricos. Essa organização é necessária antes de realizar a leitura e a análise dos dados. A “tabulação é a padronização e a codificação das respostas de uma pesquisa” (SAMARA; BARROS, 2007, p. 168). Há vários programas estatísticos e planilhas de cálculo disponíveis no mercado para a tabulação dos dados, sendo que o SPSS e o Excel estão entre os mais utilizados. Há também softwares específicos que permitem exportar para ambos os programas. A partir do próprio software de tabulação será possível gerar os resultados com várias opções de gráficos e recursos de apresentação. Nas pesquisas com questões estruturadas com respostas previstas, o trabalho inicial de tabulação consiste em repassar os dados coletados em formulários para a planilha eletrônica. Neste caso, as respostas dadas serão transformadas em números na tabulação, mesmo que no questionário ou formulário apresentem outra codificação. Já nas pesquisas com respostas indeterminadas a questões abertas e semiestruturadas, é necessário que haja um agrupamento das informações, gerando uma redução e uma categorização dos dados. Desta forma, informações textuais brutas são transformadas em dados que serão planificados em forma de números. A redução e a categorização dos dados devem estar de acordo com os objetivos da pesquisa e será baseada no nível de semelhança entre os significados das respostas coletadas. De acordo com Samara e Barros (2007), a tabulação de dados tem os seguintes conceitos e aplicações: • Tabulação simples: o entrevistado só pode dar uma resposta. O número de respostas é igual ao número de entrevistas. • Tabulação com respostas múltiplas: o entrevistado pode indicar mais de uma alternativa como resposta. Neste caso, o número de respostas será maior que o número de entrevistas. TÓPICO 2 | PREPARAÇÃO E EXECUÇÃO DA COLETA DE DADOS NA PESQUISA EM COMUNICAÇÃO 175 • Tabulação de perguntas encadeadas: neste caso, há uma pergunta encadeada a outra. Exemplo: primeiro pergunta se o entrevistado consome determinada categoria de produto. Em seguida, para aqueles que responderam “sim”, pergunta qual a marca preferida. • Tabulação de perguntas em aberto: padronizam-se as respostas por categoria e a tabulação é realizada como tabulação simples ou múltipla. Exemplo: em uma pergunta sobre por que consome determinado produto, as respostas abertas serão várias. Elas seriam agrupadas em categorias, como “qualidade”, “preço”, “marca” etc. • Perguntas com escalas de diferenciais: por convenção, são tabulados esses tipos de perguntas ponderando as respostas, uma vez que sua análise é qualitativa. Utilizando escalas, as respostas recebem pesos diferenciados para gerarem uma média final de avaliação. • Perguntas com ordem de preferência: utiliza-se a tabulação ponderada, atribuindo pesos diferenciados para cada reposta. Após a digitação das respostas para a tabulação, tabelas e gráficos poderão ser gerados, como no exemplo sugerido na tabela e no gráfico a seguir. Neste exemplo, a pergunta seria por que os entrevistados consomem determinado produto. TABELA 1 – EXEMPLO DE CATEGORIZAÇÃO DOS DADOS COLETADOS EM TABELA AMOSTRA 500 pessoas A. Qualidade do produto 180 36% B. Preço 110 22% C. Marca 85 17% D. Desempenho 75 15% E. Outros: atitudes positivas do fabricante; falta de opções; tradição/hábito. 50 10% Total 500 100% FONTE: Os Autores 176 UNIDADE 3 | APLICAÇÃO E INTERPRETAÇÃO DA PESQUISA EM COMUNICAÇÃO GRÁFICO 1 – EXEMPLO DE CATEGORIZAÇÃO DOS DADOS COLETADOS EM GRÁFICO FONTE: Os Autores O cruzamento de dados gerando tabulações cruzadas também é uma maneira de enriquecer a pesquisa, ligando uma determinada variável a outras variáveis consideradas relevantes para o relatório final. “Uma tabulação cruzada é a combinação, em uma tabela única, das distribuições de frequência de duas ou mais variáveis” (MALHOTRA, 2006, p. 440). Desta forma, é possível entender, por exemplo, como a preferência por determinada marca pode estar ligada a uma variável, como gênero, idade, grau de instrução, renda etc. Segue um exemplo com duas variáveis na tabela a seguir. TABELA 2 – EXEMPLO DE CRUZAMENTO DE VARIÁVEIS EM TABELA Gênero e uso da Internet Gênero Utilização da Internet Homens Mulheres Eventual 33,3% 66,7% Frequente 66,7% 33,3% Total 100% 100% FONTE: Adaptada de Malhotra (2006) Em muitos casos, em uma pesquisa quantitativa, poderá ser necessário o ajuste estatístico dos dados a fim de melhorar a qualidade da análise destes. De acordo com Malhotra (2006), esse ajuste pode ocorrer com os seguintes processos: TÓPICO 2 | PREPARAÇÃO E EXECUÇÃO DA COLETA DE DADOS NA PESQUISA EM COMUNICAÇÃO 177 • Ponderação: ajuste estatístico dos dados, em que a cada caso ou respondente no banco de dados se atribui um peso, que reflete sua importância relativa aos outros casos ou respondentes. • Reespecificação das variáveis: transformação de dados para criar novas variáveis ou modificar variáveis existentes, de modo que se tornem mais consistentes com os objetivos do estudo. • Transformação em escala: manipulação dos valores de uma escala a fim de assegurar a comparabilidade com outras escalas ou adaptar os dados para análise. Um processo comum de transformação é a padronização, que corrige os dados para reduzi-los a mesma escala mediante subtração da média de amostragem e divisão pelo desvio padrão. Como abordamos neste tópico conceitos de amostragem,leia parte do guia elaborado pela Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa – ABEP – para publicação de pesquisas eleitorais, que aborda, entre outros, algumas bases da pesquisa quantitativa. Inferência estatística: inferência é o processo pelo qual se generalizam informações obtidas de uma amostra para a população de onde essa amostra foi selecionada. Um exemplo típico é aquele em que se tenta estimar o número (ou porcentagem) de votos que um candidato vai obter nas eleições (aqui a população de interesse é aquela constituída por todos os indivíduos que vão depositar votos nas urnas) a partir dos dados da amostra selecionada numa pesquisa eleitoral. Nesse processo de generalização, dois tipos de erros podem ser cometidos: 1) os chamados erros amostrais, oriundos das variações naturais existentes de amostra para amostra; e 2) os erros não amostrais, gerados por inúmeros fatores, como a definição inadequada da população de interesse, as respostas incorretas fornecidas por indivíduos ou unidades selecionadas, dados demográficos ou eleitorais desatualizados, questionários mal elaborados (perguntas que induzem a determinadas respostas, falta de objetividade, ordem inadequada, vocabulário inacessível etc.), entrevistadores mal treinados, ocorrências inesperadas ligadas ao tema da pesquisa, e inclusive as abstenções eleitorais, conhecidas apenas após a contagem de votos. Já o erro amostral tolerável é a diferença tolerada, pelo pesquisador, entre o valor que a estatística acusa e o verdadeiro valor do parâmetro que se deseja estimar. Quanto menor o erro amostral tolerado pelo pesquisador, maior é o tamanho da amostra necessário para se atendê-lo. Considerando que o erro amostral tolerável representa o quanto o pesquisador admite errar na estimação dos parâmetros de interesse, quanto menor o erro amostral tolerado pelo pesquisador, maior será o tamanho da amostra para que se possa obter essa maior precisão da estatística. Mais detalhes em: http://www.abep.org/Servicos/DownloadCodigoConduta.aspx?id=05. DICAS 178 RESUMO DO TÓPICO 2 Neste tópico, você aprendeu que: • Amostragem é o processo de colher amostras de uma população. Consiste em procedimentos adequados para que a pesquisa possa estimar determinadas informações de uma população. • Amostra é qualquer parte de uma população. A amostra será um grupo proporcional à população que será efetivamente entrevistada. • Cálculos amostrais utilizam fórmulas estatísticas para se ter o máximo de precisão nos resultados. • Técnicas de amostragem são tipos de amostras, como as probabilísticas e as não probabilísticas. As principais técnicas são: ◦ Amostragem probabilística: as unidades amostrais são escolhidas por acaso. Todos os elementos da população têm igual probabilidade de serem selecionados para compor a amostra. A amostragem probabilística pode ser: – Amostragem aleatória simples: há uma igual probabilidade de cada elemento da população ser escolhido por meio de sorteio. – Amostragem sistemática: os elementos da amostra serão selecionados aleatoriamente e será estabelecido um intervalo entre esses elementos. – Amostragem estratificada: é um processo de dois estágios, em que a população é dividida em subpopulações ou estratos. – Amostragem por conglomerado ou por cluster: há uma subdivisão da área a ser pesquisada por clusters, que podem ser municípios, bairros, quarteirões ou domicílios, que serão sorteados para composição dos elementos da amostra. ◦ Amostragem não probabilística: o pesquisador pode decidir os elementos a serem incluídos na amostra. Ocorre a seleção por critérios subjetivos do pesquisador. A amostragem não probabilística pode ser: – Amostragem por conveniência: os entrevistados são escolhidos porque se encontram no lugar exato no momento certo para a abordagem. – Amostragem por julgamento: os elementos da amostra são selecionados segundo um critério de julgamento do pesquisador. – Amostragem por cotas: o pesquisador procura uma amostra que se identifique em alguns aspectos com o universo. Pode estar ligado ao sexo, à idade etc. • O trabalho de campo consiste em preparar a equipe para a coleta de dados e a realização da coleta de dados em si. 179 • Faz parte do trabalho de preparação, a seleção e o treinamento da equipe que coletará os dados, além da realização do pré-teste do formulário de coleta. • O pré-teste geralmente é realizado com aproximadamente 10% do total da amostra ou em um dia de trabalho de alguns dos pesquisadores, no caso das pesquisas quantitativas. • Além dos entrevistadores, supervisores também são recrutados para realizar o controle do trabalho de coleta de dados da pesquisa. • Para validar o trabalho de coleta, recomenda-se que supervisores entrem em contato com uma parcela dos entrevistados (entre 10% e 25%) para conferir a efetivação do trabalho. • No trabalho de campo, as entrevistas podem ocorrer pessoalmente ou a distância, como via telefone, Skype ou outra ferramenta de comunicação on- line via computadores e celulares. Já nos questionários há a opção de envio por e-mail, Google Forms ou aplicativos similares para autopreenchimento. • A tabulação é a forma de ordenar e organizar os resultados numéricos. É realizada antes da leitura e da análise dos dados. É feita utilizando programas estatísticos e planilhas de cálculo disponíveis no mercado para a tabulação dos dados. A tabulação pode ser: ◦ Tabulação simples: o entrevistado só pode dar uma resposta. O número de respostas é igual ao número de entrevistas. ◦ Tabulação com respostas múltiplas: o entrevistado pode indicar mais de uma alternativa como resposta. Neste caso, o número de respostas será maior que o número de entrevistas. ◦ Tabulação de perguntas encadeadas: neste caso, há uma pergunta encadeada a outra. ◦ Tabulação de perguntas em aberto: padronizam-se as respostas por categoria e a tabulação é realizada como tabulação simples ou múltipla. ◦ Perguntas com escalas de diferenciais: por convenção, são tabulados esses tipos de perguntas ponderando as respostas, uma vez que sua análise é qualitativa. ◦ Perguntas com ordem de preferência: utiliza-se a tabulação ponderada, atribuindo pesos diferenciados para cada reposta. • O cruzamento de dados gerando tabulações cruzadas ligará uma determinada variável a outras variáveis consideradas relevantes para o relatório final. Variáveis, como gênero, idade, grau de instrução, renda, entre outros, podem ser cruzadas com as respostas sobre o produto. 180 AUTOATIVIDADE 1 Uma amostragem não probabilística ocorre quando o pesquisador pode decidir de forma arbitrária ou consciente sobre os respondentes que incluirá na amostra. Apesar de não projetar estatisticamente a população, adapta-se às condições de realização da pesquisa e pode auxiliar na captação de informações sobre o público e seus hábitos de consumo, sem necessariamente estratificá-lo por segmentos ou áreas. Quando a seleção dos entrevistados é realizada em locais de passagem e grande fluxo de pessoas, com a abordagem de todos aqueles que se disponham a responder à pesquisa, a amostragem é considerada: a) ( ) Amostragem sistemática. b) ( ) Amostragem por conveniência. c) ( ) Amostragem por julgamento. e) ( ) Amostragem por cotas. e) ( ) Amostragem por conglomerado. 2 O trabalho de campo na coleta de dados exige uma preparação das atividades, que começa com a seleção e o treinamento dos entrevistadores e a preparação adequada dos questionários ou formulários da pesquisa de comunicação e de mercado. Antes de ir a campo coletar os dados, é importante que o pesquisador realize também um pré-teste com o questionário na pesquisa. Considerando o tema, avalie as asserções a seguir e a relação proposta entre elas. I- O pré-teste de uma pesquisa de comunicação e de mercado é realizado com algo em torno de 10% do total da amostra planejada ou com um dia de trabalho envolvendo alguns dos pesquisadores. PORQUE II-A realização do pré-teste auxiliará na correção de possíveis erros na redação do questionário, na sequência das questões, na forma de abordagem dos entrevistadores e até mesmo no tempo e nas condições de resposta dos entrevistados. A respeito dessas asserções, assinale a opção CORRETA. a) ( ) As asserções I e II são proposições verdadeiras, e a II é uma justificativa correta da I. b) ( ) As asserções I e II são proposições verdadeiras, mas a II não é uma justificativa correta da I. 181 c) ( ) A asserção I é uma proposição verdadeira, e a II é uma proposição falsa. d) ( ) A asserção I é uma proposição falsa, e a II é uma proposição verdadeira. e) ( ) As asserções I e II são proposições falsas. 3 Após a coleta de dados, o material da pesquisa é digitado em planilhas, ordenado e organizado. Esse trabalho consiste na fase de tabulação dos dados. Avalie e defina como V (Verdadeiro) ou F (Falso) cada forma possível de tabulação dos dados na descrição das asserções a seguir: ( ) Na tabulação de perguntas em aberto, agrupa-se as respostas por categorias. Essas categorias serão formuladas pelo nível de semelhança entre os significados das respostas. ( ) Na tabulação simples, o número de respostas será sempre maior do que o número de entrevistados, já que para cada questão há mais de uma alternativa como resposta. ( ) O encadeamento de perguntas é quando uma resposta está subordinada a outra, por exemplo, tabula-se as respostas sobre a avaliação de um anúncio somente entre aqueles que previamente haviam respondido que já viram o anúncio. ( ) Respostas múltiplas são aplicadas somente em pesquisas qualitativas, já que as mesmas serão abertas e não aplicáveis a questionários fechados ou formulários. ( ) A tabulação ponderada atribui pesos diferenciados para cada resposta, pois as respostas atendem a perguntas com ordem de preferência. A alternativa correspondente à sequência CORRETA é: a) ( ) V, V, V, F, F. b) ( ) F, F, V, V, F. c) ( ) V, F, F, V, V. d) ( ) F, V, V, F, F. e) ( ) V, F, V, F, V. 182 183 TÓPICO 3 PLANEJAMENTO DO PROCESSAMENTO E ANÁLISE DOS DADOS DA PESQUISA UNIDADE 3 1 INTRODUÇÃO No tópico anterior, abordamos alguns fundamentos da amostragem, da coleta e da tabulação dos dados. Com os dados coletados e tabulados, é hora de realizar a análise da pesquisa de comunicação e de mercado. É o que trataremos neste tópico. Iniciaremos com algumas diferenças e comparações entre os procedimentos qualitativos e quantitativos da análise. Em seguida, explicaremos os conceitos de análise descritiva e análise interpretativa da pesquisa. É nesta etapa que os resultados do que foi planejado e executado em campo aparecem e necessitam de análise adequada para que possam encontrar conclusões relacionadas ao problema de pesquisa. Vamos em frente? 2 PROCEDIMENTOS QUALITATIVOS E QUANTITATIVOS DA ANÁLISE Para tratarmos dos procedimentos qualitativos e quantitativos da análise da pesquisa de comunicação e mercado, retornaremos primeiro ao conceito de pesquisa qualitativa e pesquisa quantitativa, vistas inicialmente na Unidade 2 deste Livro Didático. A pesquisa qualitativa é uma abordagem que não se preocupa com representatividade numérica, pois busca um aprofundamento na compreensão de um fenômeno. Já a pesquisa quantitativa utiliza amostras representativas de uma população e quantifica os dados através da estatística. Na análise de uma pesquisa qualitativa, o pesquisador necessitará realizar interpretações elaboradas de fenômenos de mercado ou da comunicação sem ter que depender de medidas numéricas. A pesquisa quantitativa utiliza avaliações empíricas envolvendo medição e análise numérica. UNIDADE 3 | APLICAÇÃO E INTERPRETAÇÃO DA PESQUISA EM COMUNICAÇÃO 184 Lopes (2005) adverte, porém, que muitos pesquisadores assinalam que não existe uma oposição entre o qualitativo e o quantitativo senão uma circularidade entre a análise qualitativa sistematizadora e as formas de medição mais rigorosas. Neste sentido, é muito comum que os procedimentos qualitativos e quantitativos se complementem em um mesmo projeto de pesquisa. Zikmund e Babin (2011) entendem que a pesquisa qualitativa pode alcançar os objetivos de pesquisa que a pesquisa quantitativa não pode alcançar. Para eles, “a pesquisa qualitativa pode ser necessária para separar os sintomas de problemas, e então a pesquisa quantitativa pode vir em seguida para testar relações entre variáveis relevantes” (ZIKMUND; BABIN, 2011, p. 111-112). No quadro a seguir, observaremos elementos comparativos entre as duas abordagens de pesquisa. QUADRO 3 – COMPARAÇÃO ENTRE PESQUISA QUALITATIVA E PESQUISA QUANTITATIVA Pesquisa qualitativa Aspectos da pesquisa Pesquisa quantitativa Descoberta de ideias, usadas em pesquisa exploratória com objetivos gerais de pesquisa. Objetivo comum Teste de hipótese ou questões específicas de pesquisa. Observação e interpretação. Abordagem Medição e teste. Desestruturada, de forma livre. Abordagem de coleta de dados Categorias de resposta estruturada fornecidas. O pesquisador está intimamente envolvido. Os resultados são subjetivos. Independência do pesquisador. Pesquisador observador não envolvido. Os resultados são objetivos. Pequenas amostras – algumas vezes naturalmente. Amostras Amostras mais abrangentes para a produção de resultados generalizados (resultados que se aplicam a outras situações). Projetos de pesquisa exploratória. Mais aplicadas Projetos de pesquisa descritiva e causal. FONTE: Zikmund e Babin (2011, p. 112) Análise qualitativa: como não há fórmulas ou receitas predefinidas para orientar os pesquisadores, a análise dos dados na pesquisa qualitativa passa a depender muito da capacidade e do estilo do pesquisador (GIL, 2008). Baseado nos conceitos de Miles e Huberman (1994 apud GIL, 2008, p. 175), “é possível realizar a análise de dados em uma pesquisa qualitativa em três etapas”: redução, exibição e conclusão/verificação. A redução dos dados ocorre com o processo de seleção e simplificação dos dados registrados no trabalho de campo. Os dados serão organizados de acordo com os objetivos originais da pesquisa. Há uma codificação das categorias, com um agrupamento e organização dos dados permitindo que as conclusões se tornem razoavelmente construídas e verificáveis. TÓPICO 3 | PLANEJAMENTO DO PROCESSAMENTO E ANÁLISE DOS DADOS DA PESQUISA 185 A exibição é a organização dos dados selecionados de forma a possibilitar a análise sistemática das semelhanças e diferenças e seu inter-relacionamento. Pode ser constituída por textos, diagramas, mapas ou matrizes que permitam uma nova maneira de organizar e analisar as informações. É comum que nesta etapa sejam definidas outras categorias de análise que vão além daquelas descobertas na etapa de redução dos dados. A etapa de conclusão/verificação consiste em fazer uma revisão para considerar o significado dos dados, suas regularidades, padrões e explicações. Tech (1990 apud GIL, 2008, p. 176) observa ainda que a principal ferramenta intelectual é a comparação. Os procedimentos comparativos são usados nos mais diversos momentos do processo de análise. Os dados obtidos, por sua vez, podem ser comparados com modelos já definidos, com dados de outras pesquisas e também com os próprios dados. Esta comparação é que possibilita estabelecer as categorias, definir sua amplitude, sumariar o conteúdo de cada categoria e testar as hipóteses. Análise quantitativa: a análise é realizada com base em números e medições, com conceitos estatísticos. De acordo com Gil (2008 p. 160), as técnicas estatísticas existentes contribuem para a caracterização e resumo dos dados, mas também para “o estudo das relações que existem entre as variáveis e para verificar em que medida as conclusões podem estender-se para além da amostra considerada”. Um dos procedimentos utilizados é a caracterização do que é típico no grupo, utilizando as chamadas medidasde tendência central, que são a média aritmética, a mediana e a moda (GIL, 2008). A média aritmética é a mais utilizada entre as três medidas de tendência central. É indicada quando: os resultados se distribuem simetricamente em torno de um ponto central; deseja-se obter a medida da tendência central que possui a maior estabilidade; seja necessária a utilização posterior de outras medidas, como o desvio padrão, que se baseiam na média. A mediana é indicada quando: deseja-se obter o ponto médio exato da distribuição; há resultados extremos que afetariam a média de maneira acentuada. A moda é a menos utilizada entre as medidas de tendência central e só se aplica nos casos em que o valor procurado se refere ao que é mais típico. É importante ainda que as análises estatísticas façam o cruzamento com a base teórica da pesquisa e as hipóteses sejam testadas na pesquisa quantitativa. UNIDADE 3 | APLICAÇÃO E INTERPRETAÇÃO DA PESQUISA EM COMUNICAÇÃO 186 Os materiais sobre procedimentos de análise estatística dos dados são amplos e requerem conhecimento ou auxílio na área de estatística para o pesquisador durante as pesquisas quantitativas. De um modo geral, tanto nas pesquisas quantitativas como nas qualitativas, é necessário que o pesquisador organize os dados. A figura a seguir demonstra esse processo de organização, sugerido por Diehl e Tatim (2004). FIGURA 4 – RESUMO DO PROCESSO DE ORGANIZAÇÃO DOS DADOS DA PESQUISA FONTE: Adaptada de Diehl e Tatim (2004) A seleção é a verificação detalhada dos dados coletados a fim de detectar falhas ou erros, evitando informações distorcidas ou incompletas. A classificação é a ordenação dos dados de acordo com determinado critério, com divisão em classes e categorias. Os dados quantitativos apresentam valores numéricos (peso, tamanho, custo etc.). Os dados qualitativos apresentam características (sexo, profissão, estado civil etc.). A codificação atribui símbolos, como letras e números, nos procedimentos quantitativos, a fim de gerar um tratamento estatístico posterior. Para os procedimentos qualitativos atribui-se um nome conceitual às categorias. A representação é a apresentação dos dados de forma que se facilite o processo de inter-relação entre eles e sua relação com a hipótese ou a pergunta de pesquisa. Gráficos e tabelas são utilizados para representar os dados em categorias nas pesquisas quantitativas. Textos e quadros comparativos entre categorias são mais utilizados para a representação nas pesquisas qualitativas. SELEÇÃO CLASSIFICAÇÃO CODIFICAÇÃO REPRESENTAÇÃO TÓPICO 3 | PLANEJAMENTO DO PROCESSAMENTO E ANÁLISE DOS DADOS DA PESQUISA 187 3 ANÁLISE DESCRITIVA E ANÁLISE INTERPRETATIVA DA PESQUISA Antes de realizar a análise geral e a interpretação da pesquisa, é necessária uma descrição adequada dos resultados. Portanto, a primeira parte da análise é a análise descritiva dos dados e das informações. Para Lopes (2005), a descrição se constitui como a primeira etapa da análise dos dados na pesquisa, fazendo a ponte entre a fase de observação e a fase da interpretação. A descrição, segundo a autora, é desenvolvida através de análise descritiva, realizada em dois passos: o primeiro com procedimentos técnicos de organização, crítica e classificação dos dados coletados. O segundo, com procedimentos analíticos através de inferências permitidas pela tabulação dos dados. É possível que o pesquisador queira optar em fazer essa divisão das duas etapas da análise descritiva em descrição quantitativa e descrição qualitativa. A descrição quantitativa se refere à apresentação de tabelas, gráficos e tudo o que for relevante do quadro de tabulação, acompanhados de um texto que descreva estrita e fielmente os números exibidos. A descrição qualitativa se refere a um texto mais explicativo sobre os números exibidos, apontando com mais detalhes a relação entre variáveis. Lopes (2005, p. 149) considera que esse segundo momento é quando “o fenômeno deixa de ser percebido como algo caótico e ininteligível e passa a ser visto em seus atributos essenciais e interdependentes, isto é, sob uma forma sintética”. Há, porém, a opção de apresentar simultaneamente a descrição quantitativa com a descrição qualitativa, nas quais cada gráfico ou tabela será acompanhado de um texto que os descreva ao mesmo tempo que os explique de maneira sintetizada. Um processo comum utilizado na análise das pesquisas quantitativas é o que percorre os seguintes estágios: análise univariada, análise bivariada e análise multivariada (DIEHL; TATIM, 2004). A análise univariada é a análise de frequências de cada questão pesquisada. Uma pesquisa de mercado pode, por exemplo, comparar as características da amostra com as da população e constatar a representatividade da amostra levantada. Verifica também se foi levantado um número suficiente de casos para cada subgrupo de entrevistados (idade, sexo, escolaridade etc.) para fazer as comparações entre os grupos. A análise bivariada trabalha com tabulações cruzadas e a possibilidade de calcular diferentes medidas de associação entre as variáveis. UNIDADE 3 | APLICAÇÃO E INTERPRETAÇÃO DA PESQUISA EM COMUNICAÇÃO 188 A análise multivariada utiliza medidas que buscam explorar o padrão de relações entre as variáveis do estudo. Essa análise implica muitas vezes na agregação de variáveis, como quando se deseja estabelecer índices e indicadores, por exemplo, mas atenção: quando se deseja trabalhar com análise multivariada, o plano de análise é realizado antes da coleta de dados, permitindo as múltiplas relações entre as respostas dos entrevistados. Quando falamos em análise interpretativa estamos falando da interpretação em si da pesquisa. De acordo com Lopes (2005), é a segunda etapa da análise. Em um primeiro momento o pesquisador realiza a análise descritiva dos dados e das informações e em um segundo momento realiza a interpretação dos dados e a interpretação do conjunto geral da pesquisa. Para Samara e Barros (2007, p. 185), essa análise é “um texto com base nas respostas obtidas no projeto e voltado aos objetivos de pesquisa. [...] Deve ser um texto que responda às principais dúvidas do cliente, relatadas na definição do problema de pesquisa”. Cabe ressaltar, no entanto, que nas pesquisas qualitativas, as etapas descritiva e interpretativa podem ser realizadas simultaneamente, como na descrição e interpretação do relatório documentado de um grupo focal. Em pesquisas com essa abordagem, o processo de análise pode passar primeiro pela transcrição literal dos textos de respostas, incluindo verbal e não verbal e em seguida por um agrupamento dos depoimentos em categorias distintas já apontadas pela hipótese de pesquisa (COSTA, 2006). Tanto nas pesquisas qualitativas como nas quantitativas, há a necessidade de comparar os resultados encontrados com os resultados esperados pela hipótese, para em seguida poder chegar às conclusões. De um modo geral, a análise interpretativa vai além da análise sobre cada variável (já realizada pela análise descritiva). É na interpretação do conjunto que se torna possível relacionar dados e informações com o problema e os objetivos da pesquisa. Gil (2008, p. 178) considera que “para interpretar os resultados, o pesquisador precisa ir além da leitura dos dados, com vistas a integrá-los num universo mais amplo em que poderão ter algum sentido”. A partir das abstrações e conclusões definidas nesse processo de interpretação da pesquisa é que o pesquisador conseguirá apresentar seu relatório final fazendo as sugestões e recomendações relevantes ao cliente para solucionar o problema detectado na fase inicial da pesquisa. Já que nesta unidade vimos sobre a análise da pesquisa, trataremos agora de uma discussão sobre os métodos indutivo e dedutivo nas pesquisas, de acordo com o trabalho de Perovano (2016). Os métodos indutivo e dedutivo são muito discutidos nas pesquisas de cunho acadêmico, mas que também valem como reflexãopara a aplicação em pesquisas de mercado. TÓPICO 3 | PLANEJAMENTO DO PROCESSAMENTO E ANÁLISE DOS DADOS DA PESQUISA 189 No método de raciocínio indutivo utilizam-se argumentos que levam a conclusões cujo conteúdo é muito mais amplo do que os das premissas nas quais se basearam. No método indutivo, as premissas verdadeiras levam a conclusões prováveis, a tendências, a padrões de comportamento e à previsão de eventos futuros, pois sustentam ou atribuem certa probabilidade. Assim, no processo de análise dos dados de uma pesquisa, e com o uso da indução, a conclusão sempre terá alguma informação que não está contida totalmente nas suas premissas, com a possibilidade de essa informação causar a falsidade da conclusão ou reforçar a hipótese de pesquisa. O raciocínio indutivo produz a argumentação que parte de premissas particulares para uma conclusão universal. No método de pensamento dedutivo adota-se a comparação lógica de premissas. Isso quer dizer que se duas premissas são verdadeiras, o argumento será válido, ou seja, é categoricamente impossível expressar, na dedução, uma conclusão falsa a partir de premissas verdadeiras. Portanto, as informações das conclusões às quais se chega com base em premissas verdadeiras sempre serão verdadeiras. 190 RESUMO DO TÓPICO 3 Neste tópico, você aprendeu que: • A análise qualitativa depende de questões subjetivas e da capacidade e do estilo do pesquisador e ocorre em três etapas: ◦ Redução dos dados: há uma codificação das categorias, com um agrupamento e organização dos dados. ◦ Exibição: organização dos dados selecionados, possibilitando a análise sistemática das semelhanças e diferenças e seu inter-relacionamento. ◦ Conclusão/verificação: revisão para considerar o significado dos dados, suas regularidades, padrões e explicações. • A análise quantitativa é realizada com base em números e medições, com conceitos estatísticos. • Na caracterização do que é típico no grupo, utiliza medidas de tendência central, que são: ◦ Média aritmética: indicada quando os resultados se distribuem simetricamente em torno de um ponto central; quando se deseja obter a medida da tendência central que possui a maior estabilidade; quando é necessária a utilização posterior de outras medidas, como o desvio padrão, que se baseiam na média. ◦ Mediana: indicada quando se deseja obter o ponto médio exato da distribuição; quando há resultados extremos que afetariam a média de maneira acentuada. ◦ Moda: é aplicada nos casos em que o valor procurado se refere ao que é mais típico. • Análise descritiva é a primeira etapa da análise dos dados na pesquisa, fazendo a ponte entre a fase de observação e a fase da interpretação. No primeiro passo, utiliza procedimentos técnicos de organização, crítica e classificação dos dados coletados. No segundo passo, utiliza procedimentos analíticos através de inferências permitidas pela tabulação dos dados. • Análise interpretativa é a segunda etapa da análise, quando há a interpretação dos dados e a interpretação do conjunto geral da pesquisa. É na interpretação do conjunto que são relacionados os dados e as informações com o problema e os objetivos da pesquisa. 191 AUTOATIVIDADE 1 A análise qualitativa de uma pesquisa de comunicação e de mercado não utiliza fórmulas ou receitas predefinidas para orientar os pesquisadores e depende muito de aspectos subjetivos, além da experiência do pesquisador. Miles e Huberman (1994 apud GIL, 2008), contudo, destacam três etapas na análise de dados em uma pesquisa qualitativa: redução, exibição e conclusão/verificação. Analise as afirmativas a seguir a respeito dessas etapas: I- Na redução dos dados há uma codificação das categorias, com um agrupamento e organização dos dados, como “qualidade”, “preço”, “marca” etc. II- A exibição organiza os dados selecionados, podendo utilizar textos, diagramas, mapas ou matrizes, facilitando a análise das informações. III- Na etapa de conclusão/verificação, a revisão dos dados é importante para verificar, entre outros, regularidades, padrões e explicações. É CORRETO o que se afirma em: a) ( ) I, apenas. b) ( ) II, apenas. c) ( ) III, apenas. d) ( ) II e III, apenas. e) ( ) I, II e III. 2 A análise quantitativa em uma pesquisa utiliza as técnicas estatísticas existentes, que contribuem para a caracterização e o resumo dos dados. Um dos procedimentos utilizados é a caracterização do que é típico no grupo. Utiliza-se, assim, medidas de tendência central, que são as seguintes: a) ( ) Descrição quantitativa, descrição qualitativa. b) ( ) Média aritmética, mediana, moda. c) ( ) Comunicação, observação, interpretação. d) ( ) Tabulação simples, tabulação múltipla, tabulação com escala de diferenciais. e) ( ) Amostra, amostragem, cálculo amostral. 3 Antes de realizar a análise interpretativa da pesquisa, é necessário realizar a análise descritiva, que é uma descrição adequada dos resultados. A análise descritiva é, portanto, a primeira etapa da análise dos dados na pesquisa, fazendo a ponte entre a fase de observação e a fase da interpretação. 192 Avalie as asserções a seguir sobre a análise descritiva e a análise interpretativa em uma pesquisa de comunicação e de mercado. I- A análise descritiva é realizada em dois passos: o primeiro com procedimentos técnicos de organização, crítica e classificação dos dados coletados. O segundo, com procedimentos analíticos através de inferências permitidas pela tabulação dos dados. PORQUE II- A análise interpretativa, além de explicar as variáveis e as relações entre as variáveis, busca explicações para o conjunto geral da pesquisa, ou seja, para o fenômeno pesquisado como um todo. A respeito dessas asserções, assinale a opção CORRETA: a) ( ) As asserções I e II são proposições falsas. b) ( ) As asserções I e II são proposições verdadeiras, e a II é uma justificativa da I. c) ( ) As asserções I e II são proposições verdadeiras, mas a II não é uma justificativa da I. d) ( ) A asserção I é uma proposição verdadeira, e a II é uma proposição falsa. e) ( ) A asserção I é uma proposição falsa, e a II é uma proposição verdadeira. 193 TÓPICO 4 APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS DA PESQUISA EM COMUNICAÇÃO UNIDADE 3 1 INTRODUÇÃO Após a realização da pesquisa, com as etapas de coleta de dados, tabulação e análise já realizadas, é importante organizar a apresentação dos resultados ao cliente. Mais do que uma formalidade, esse é o momento para sintetizar e organizar os materiais trabalhados em todas as etapas da pesquisa de comunicação e de mercado. Por este motivo, trataremos, neste tópico, da comunicação dos resultados e o processo de elaboração do relatório final. Em seguida, abordaremos a organização da análise geral que constará no relatório, que é o resultado da pesquisa que poderá ser utilizado, inclusive, em pesquisas futuras da empresa. O assunto seguinte tratará das recomendações que a pesquisa poderá oferecer à empresa contratante. Por fim, apresentaremos um resumo de outros tipos e métodos de pesquisa em comunicação não abordados nos tópicos e unidades anteriores deste Livro Didático. Vamos lá? 2 ELABORAÇÃO DO RELATÓRIO FINAL O relatório final compreende a última etapa da pesquisa e faz parte da comunicação dos resultados. O relatório é a parte escrita da comunicação, que normalmente é acompanhada de uma apresentação oral sobre os resultados aos clientes. No relatório são apresentadas as informações básicas que resultaram da tabulação, do cruzamento e da análise dos dados da pesquisa. Mattar (2005) sugere que devam ser preparados dois relatórios: um completo e outro sintético. O relatório completo deverá conter a apresentação da pesquisa completa, com o problema formulado inicialmente, os objetivos, as questões da pesquisa, a metodologia utilizada, as informações operacionais sobre a coleta de dados e os resultados da pesquisa. Os resultados devem ser apresentados através de tabelas,