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História do pensamento econômico brasileiro e latino-americano

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DESCRIÇÃO
Apresentação do surgimento e da evolução do pensamento econômico tanto na América Latina
quanto no Brasil, bem como seus autores, instituições, conceitos e obras relevantes.
PROPÓSITO
Conhecer os pontos centrais do pensamento econômico desenvolvido na América Latina e
Brasil, bem como seus contextos específicos e debates propostos por diferentes correntes no
continente, além das atualidades sobre teoria e política econômica à luz da história do
desenvolvimento de diferentes fundamentos teóricos.
PREPARAÇÃO
Antes de iniciar o conteúdo deste tema, tenha à mão papel e caneta para acompanhar o
material.
OBJETIVOS
MÓDULO 1
Descrever a história do pensamento econômico latino-americano a partir da CEPAL
MÓDULO 2
Descrever a história do pensamento econômico brasileiro
INTRODUÇÃO
Neste tema, estudaremos a história do pensamento econômico (HPE) na América Latina e no
Brasil. No primeiro módulo, discutiremos o desenvolvimentismo latino-americano e a tese
estruturalista a partir do papel desempenhado pela Comissão Econômica para a América
Latina e o Caribe (CEPAL).
No segundo módulo, entenderemos a origem e evolução do pensamento econômico brasileiro
a partir de importantes trabalhos pioneiros, bem como suas contribuições mais recentes.
MÓDULO 1
 Descrever a história do pensamento econômico latino-americano a partir da CEPAL
COMISSÃO ECONÔMICA PARA A AMÉRICA
LATINA E O CARIBE (CEPAL)
ORIGEM E EVOLUÇÃO DA CEPAL
A crise de 1929 mudou o mundo, a economia e, inclusive, a ciência econômica. Ao longo da
década de 1930, surgiram diversas iniciativas para desenvolver uma agenda de pesquisa além
da teoria neoclássica até então dominante. E a América Latina não ficou de fora desse
processo.
 Fotografia "Migrant mother", de Dorothea Lange.
1
Fonte: Shutterstock.com
Após a Segunda Guerra Mundial, foi fundada a Organização das Nações Unidas (ONU), que
estabeleceu cinco comissões regionais. Uma delas foi a CEPAL: fundada em 1948, essa
comissão deu continuidade ao desenvolvimento de novas ideias iniciado na década anterior —
em particular, aquelas voltadas para a economia.
Pode-se dizer que a primeira ideia diretamente associada à CEPAL é o desenvolvimento. A
formação desse conceito surgiu ainda em meados do século XIX ao lado dos primeiros
questionamentos à economia política clássica sobre a associação da prosperidade e do bem-
estar social ao mero crescimento econômico.
Logo da CEPAL. - Fonte: Wikimedia Commons/domínio público
2
Ao longo da década de 1920, essa definição ganhou mais sentido com contribuições-chave,
como, por exemplo, as de J. A. Schumpeter — grande responsável por apresentar um novo
ponto de vista muito diferente das linhas mestras do pensamento econômico dos principais
centros.
Entre as concepções schumpeterianas, estavam ideias como:
Distribuição da produção

Papel multiplicador da moeda e do crédito sobre a renda

Noção de ciclos.
Além disso, Schumpeter discutiu o papel do Estado na promoção de melhorias para as
condições materiais da sociedade como um todo, e não apenas concentradas nos detentores
dos meios produtivos.
Fonte: Shutterstock.com
Essa nova maneira de pensar a ciência econômica, no entanto, só ganhou verdadeiro
destaque após as duas guerras mundiais. Porém, no intervalo entre elas, houve a crise
capitalista mais profunda da época em meio à queda da Bolsa de Valores de Nova Iorque em
1929.
Fonte: Shutterstock.com
Nesse cenário, não só novos pensadores, como também teóricos de correntes econômicas
tradicionais, passaram a incluir, no debate econômico, outros temas: emprego, distribuição de
renda, capacidade ociosa, agenda do Estado etc.
Fonte: Shutterstock.com
Enquanto isso, a Revolução Russa de 1917 e o desenvolvimento da União das Repúblicas
Socialistas Soviéticas (URSS) como um modelo alternativo ao capitalismo também traziam
para a pauta outros termos, como, por exemplo, “planificação” e “planejamento”.
Fonte: Shutterstock.com
Do lado capitalista, fazia-se necessária uma resposta não somente para os países que
precisavam se reconstruir após a Segunda Guerra. Afinal, ainda havia as antigas colônias e as
demais zonas de influência dos grandes impérios: os países “subdesenvolvidos” ou “em
desenvolvimento”.
PLANO MARSHALL
Plano de ajuda financeira dos Estados Unidos para a reconstrução da Europa após a
Segunda Guerra Mundial.
Diante desse contexto, a CEPAL surgiu após reivindicações da América Latina, que havia sido
excluída do Plano Marshall de um projeto econômico na conjuntura global.
É importante lembrar que a América Latina não tinha, após a Segunda Guerra, uma direção
econômica, perdida desde a Grande Depressão (1929-1932), que abalou fortemente a
estrutura do comércio internacional. Como grandes exportadores de produtos primários, os
países dessa região sofreram impactos de duas naturezas:
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Fonte: Shutterstock.com
A demanda por seus produtos foi intensamente diminuída, reduzindo os preços;
Fonte: Shutterstock.com
Uma forte e generalizada restrição de crédito inviabilizou o financiamento externo de
investimentos.
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javascript:void(0)
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Diante dessas circunstâncias, a perda de importância das elites latino-americanas no
fornecimento de produtos primários a países cujo dinamismo econômico era dado pela
indústria impôs a necessidade de uma “pausa para reflexão”.
Pela primeira vez, foi colocado em xeque o pensamento econômico então aceito nessas elites,
isto é, a defesa da exportação de produtos primários com baixo nível de produtividade
interna e subemprego dos fatores de produção disponíveis.
Em grande medida, por conta do súbito empobrecimento e do temor de novas crises, as
relações de produção da época — como a exportação de produtos primários, a produção
extensiva em capital e a baixa produtividade do fator trabalho — se tornaram alvo de
questionamentos.
Precisando agir, os governos latino-americanos recorreram à formação interna de recursos
humanos para lidar com essa conjuntura adversa. Para dar aos seus gestores uma visão mais
ampla que a de seus antecessores, missões estrangeiras e comissões mistas foram
organizadas a fim de colocá-los em contato com a fronteira do conhecimento sobre políticas
econômicas.
Nesse contexto, a Comissão Econômica para a América Latina – posteriormente renomeada
Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe – começou a se estruturar ainda
durante a Assembleia Geral de Formação das Nações Unidas, em 1947.
Logo da CEPAL. - Fonte: Wikimedia Commons/domínio público
Graças a uma perspectiva histórica do desenvolvimento econômico, essa comissão concebeu
uma teoria que colocava o subdesenvolvimento regional como uma condição estrutural
das economias periféricas.
 COMENTÁRIO
Em outras palavras, o fato de essas economias serem secundárias em relação às potências
econômicas do planeta as mantinha subdesenvolvidas.
Essa abordagem ficou conhecida como histórico-estruturalista. Por conta disso, essa instituição
se concentrou em formular políticas econômicas capazes de lidar com as condições históricas
da América Latina. Nesse sentido, sua proposta se apresentava como “modernizadora” e
“industrialista” em oposição à identidade latino-americana então vigente.
De modo geral, a análise cepalina buscava afirmar a necessidade de se estudar e encontrar
caminhos próprios para o desenvolvimento latino.

Dessa forma, ela defendia a industrialização da América Latina como o principal meio de
eliminar a dependência dos países centrais e a relação desigual de troca com esses
países.
A instituição acreditava que essa dependência que marcava os países latinos tenderia a se
agravar caso persistissem as mesmas condições verificadas no modelo primário-exportador,
cujo foco era essencialmente a exportação de produtos agropecuários. Tais condições, por sua
vez, tinham origem na propagação desproporcional do desenvolvimentoeconômico entre
os países centrais e a periferia do sistema capitalista internacional.
A CEPAL se desenvolveu, portanto, como uma escola de pensamento especializada no exame
das tendências econômicas e sociais de médio e longo prazos dos países latino-americanos.
Fonte: Shutterstock.com
ECONOMISTAS ORTODOXOS
Trataremos os economistas ortodoxos neste tema como sinônimos de neoclássicos, o
que se atém ao contexto apresentado sobre a CEPAL. Mas essa sobreposição perdeu o
sentido nas décadas seguintes, pois economistas ortodoxos passaram a usar
ferramentas além dos métodos neoclássicos da época.
1
Sob a direção do economista Raúl Prebisch, ex-presidente do Banco Central argentino, e
contando com representantes de países latinos (Brasil, México, Argentina, Chile e Uruguai) e
do Caribe, a CEPAL representava a primeira tentativa promissora de reflexão coletiva e
institucional dos problemas da América Latina a partir de suas próprias características.
A CEPAL assumiu uma posição de principal fonte de informações e análises sobre a realidade
econômica e social dessa região. Além disso, ela tornou-se um centro intelectual responsável
por formular análises específicas e aplicáveis às condições históricas típicas da periferia
latino-americana.
2
3
Um dos princípios mais relevantes para a teoria defendida pela CEPAL era a importância do
Estado para o desenvolvimento econômico. Isso propiciou uma ênfase em políticas públicas
com ampla intervenção do setor público na economia — de empresas estatais a aumentos da
carga tributária.
A tendência mundial que emergiu com o fim da Segunda Guerra (1939-1945) e,
posteriormente, com a Guerra Fria (1953-1991), colaborou para que a CEPAL fosse
influenciada pelo pensamento econômico keynesiano, cujo impacto foi muito intenso para
Raúl Prebisch.
4
5
Com formação e orientação teórica predominantemente neoclássica, ainda que ele fosse
consideravelmente interessado pela heterodoxia, Prebisch construiu um pensamento a partir
da periferia do capitalismo, ou seja, fora do contexto de desenvolvimento europeu ou
norte-americano. Profundamente comprometida com questões latino-americanas, a CEPAL
representava uma alternativa às políticas de cunho neoclássico. Contudo, ela não apostava em
transformações mais radicais ou de caráter mais profundo, ou seja, pela via revolucionária,
como as vistas na Rússia de 1917 e na China de 1949.
As preocupações cepalinas estavam, dessa forma, voltadas para os problemas do
subdesenvolvimento. Em um mundo marcado por fortes assimetrias econômicas, políticas e
sociais, a CEPAL buscava estratégias de desenvolvimento para aqueles países atrasados
socialmente.
6
7
Os cepalinos recusavam a tese ricardiana de “vantagens comparativas”. Por conta disso, eles
empenharam-se em mostrar os efeitos perversos da universalização dessa lei, tentando provar
que, ao contrário do que sugeriu David Ricardo, as supostas “vantagens” acarretavam, na
prática, uma perda de renda real dos trabalhadores em países subdesenvolvidos.
Ao reconhecer a inadequação e a insuficiência dos diagnósticos econômicos dos países
centrais como uma explicação dos fenômenos econômicos das nações subdesenvolvidas, a
CEPAL acabou promovendo uma virada teórica no debate da teoria do desenvolvimento.
8
9
Graças a seus contrastes com os economistas ortodoxos , que consideravam que as etapas
para o desenvolvimento econômico eram as mesmas em todos os países, a instituição ficou
conhecida como heterodoxa.
O contexto histórico por trás da CEPAL mudou bastante ao longo do tempo. Para alguns
economistas, a instituição conseguiu permanecer como a principal fonte de reflexão na América
do Sul, principalmente por ter sido capaz de conservar sua perspectiva metodológica.
 ATENÇÃO
Seu enfoque histórico-estruturalista se manteve em grande parte de sua existência.
Dessa forma, como resultado da observação do processo histórico de formação da América
Latina, a CEPAL se dedicou à relação entre “centro e periferia”, à análise da inserção
internacional e dos condicionantes estruturais internos e, por fim, ao exame das necessidades
e das possibilidades de ação estatal.
Na análise cepalina, fatores determinantes desse processo histórico foram identificados, como
o passado colonial, exploratório, extensivista, destruidor de identidades e impositor de um
status quo de dominação externa, de uma condição de subalternidade e da alienação de
interesses próprios. Como resultado, a emancipação do subcontinente trazida pelo
desenvolvimento dependia, segundo a visão proposta, do estabelecimento da modernidade
via industrialização e urbanização.
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CRISE DA DÍVIDA
Na década de 1980, os países latino-americanos tinham dívidas externas insustentáveis,
o que gerou uma grande desorganização econômica, como, por exemplo, a hiperinflação.

1950 – 1990
Entre os anos 1950 e 1990, tais ideias se manifestaram de diferentes formas. Primeiramente, a
industrialização era o conceito fundamental por trás do “desenvolvimento”: o Estado deveria
intervir diretamente para aumentar a participação da indústria na economia.
1960
Nesta década, seriam as reformas destinadas a eliminar os obstáculos à industrialização
que assumiriam esse papel — ou seja, a função do Estado era facilitar a atuação da iniciativa
privada, o que, dessa forma, poderia levar à industrialização.


1970
Em 1970, foi a vez da reorientação dos estilos de desenvolvimento com menor
desigualdade interna.
1980
Os anos 1980 testemunharam o ajuste com crescimento, fenômeno ocorrido diante da
necessidade de se organizar a economia após a crise da dívida dos países latino-americanos.


1990
Aa CEPAL dedicou grande atenção à agenda de uma transformação produtiva com
equidade. Na prática, essa etapa é considerada por alguns economistas como a fase de
submissão da proposta original da CEPAL aos interesses dos EUA.
A partir de então, essa instituição passou a ser vista como uma reprodutora da ideologia
neoliberal concebida nos centros ortodoxos de pensamento econômico do ocidente.
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DOUTRINA NEOLIBERAL
Pensamento econômico típico dos anos 1990, o neoliberalismo era crítico à atuação do
Estado na economia.
A submissão da CEPAL à ortodoxia liberal nos anos 1980 e 1990 foi apontada como uma
consequência da expansão da doutrina neoliberal nos centros de pensamento e de política
econômica da América Latina, o que se devia às iniciativas diretas dos EUA e da Europa
Ocidental.
 VOCÊ SABIA
O fim da URSS, em 1991, e a dissolução político-econômica do Pacto de Varsóvia permitiram
que a hegemonia dos EUA e seu pensamento liberal se difundissem sem maiores
questionamentos em suas zonas de influência, incluindo os países subdesenvolvidos.
DUALISMO CENTRO-PERIFERIA E ESTRUTURALISMO
A primeira abordagem desenvolvida pela CEPAL da tese centro-periferia consta no texto de
1948 O desenvolvimento econômico da América Latina e seus principais problemas
(também chamado por vezes de Manifesto da CEPAL ).
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Fonte: Shutterstock.com
Elaborada originalmente por Prebisch, essa tese constituiu a base da análise cepalina.
Levando em conta os ganhos de produtividade trazidos pelas mudanças tecnológicas, a
instituição identificou que os efeitos desse fenômeno variavam entre os geradores e
difusores do progresso técnico e as periferias.
Fonte: Shutterstock.com
Mesmo tendo Karl Marx e outros economistas clássicos se ocupado das questões técnicas, o
progresso técnico, em si, somente passou a fazer parte da teoria econômica a partir do século
XX. Schumpeter foi o principal responsável pela retomada dessa discussão.
No mundo desenvolvido, porém, os modelos de crescimento neoclássicos e neokeynesianos
ainda eram baseados em abstrações. Nesse contexto, o progresso técnico foi discutido
unicamente no escopo das funções de produção neoclássicas.
Apenas com a CEPAL e sob uma perspectiva histórica, o progresso técnico passaria a ocuparposição central nos diagnósticos.
Os cepalinos identificaram o seguinte antagonismo:
De um lado, estavam os países ricos, centro do mundo e herdeiros diretos dos frutos das
revoluções industriais...

Do outro, havia uma vasta periferia agrária ou semi-industrializada, passiva e subordinada aos
interesses dos países centrais.
Prebisch e os demais cepalinos se empenharam inicialmente em mostrar duas coisas:
ETAPA 01
O subdesenvolvimento seria o resultado do modo como as economias periféricas se inseriram
no contexto de formação do sistema capitalista mundial.
ETAPA 02
O subdesenvolvimento não era uma etapa anterior ao desenvolvimento.
Enquanto o centro capitalista se mantinha dinâmico economicamente e ativo no processo de
industrialização e implementação de novas tecnologias, a periferia tinha sua participação
limitada ao fornecimento de matérias-primas básicas e à geração de demanda final para
os produtos industrializados.
Como em um ciclo vicioso, dessa forma, essa periferia permanecia longe de alcançar os níveis
de progresso material do centro. E nem parecia ser esta a ideia.
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A concepção da tese centro-periferia não se limita ao comércio internacional, uma vez que ela
se vincula, antes disso, à estrutura produtiva. É a partir dessa estrutura, aliás, que o
dualismo centro-periferia se estabelece.
Fonte: Shutterstock.com
Enquanto a especialização e a heterogeneidade caracterizam a estrutura periférica...

Fonte: Shutterstock.com
A diversificação e a homogeneidade caracterizam a estrutura do centro.
Tais traços, de acordo com a visão da CEPAL, seriam intensificados com o tempo. A
consequência mais imediata dessa dualidade estaria na diferenciação entre os ganhos per
capita médios dos dois polos, que cresceriam menos na periferia.
Ainda segundo esse viés, os conceitos de desenvolvimento e de subdesenvolvimento
carregam uma conotação similar à de centro e de periferia. Isso se dá na medida em que
eles refletem a oposição entre o atraso de uma estrutura produtiva e o avanço da outra.
 ATENÇÃO
Pode-se dizer, no entanto, que os conceitos de centro e de periferia possuem ainda um
“conteúdo dinâmico”, incorporado com a suposição de que a desigualdade é inerente ao
desenvolvimento do sistema como um todo.
Assim, na visão cepalina, a especialização existente na estrutura produtiva periférica
(exportações de bens primários) fez com que a industrialização começasse por setores
produtores de bens de consumo tecnologicamente simples.
Apenas lentamente, a periferia teria feito avanços para a elaboração de bens de
consumo e intermediários de maior complexidade do ponto de vista tecnológico. Afinal,
a especialização não facilitava a diversificação das exportações dessa periferia.
Fonte: Shutterstock.com
O progresso técnico, se levado em conta, é muito mais intenso na indústria do que nas
atividades primárias e naqueles ramos em que a industrialização periférica não
conseguia alcançar.

Fonte: Shutterstock.com
Com isso, a especialização inicial e o padrão de industrialização gerados impõem um
ritmo de progresso técnico mais lento na periferia.
Somando a essas questões o alto grau de proteção existente nos grandes centros, as
possibilidades de diversificação das exportações se tornavam limitadas. Isso acabaria
por perpetuar seu caráter primário.
A desvantagem tecnológica explicava, por sua vez, a menor produtividade do trabalho
nas economias periféricas. A heterogeneidade e a especialização da estrutura produtiva
da periferia resultavam, assim, em abundância da força de trabalho.

Como consequência, seria possível verificar o desemprego estrutural, além do baixo
nível de salários médios (ou de renda per capita). A reprodução desse sistema, de
acordo com a CEPAL, conduziria ao aumento progressivo da condição de desemprego e
à deterioração do poder de compra dos salários dos trabalhadores na periferia e,
consequentemente, dos termos de troca com os países centrais.
 COMENTÁRIO
Em outras palavras, podemos dizer que os preços dos produtos produzidos pela
periferia seriam sempre mais baratos em relação aos dos países centrais.
Tais questões implicavam, por fim, a diferenciação do ganho real médio entre centro e
periferia, com uma vantagem para o primeiro. Essas diferenças geravam restrições ao
aumento da complexidade econômica e da produtividade na periferia, tornando sua
acumulação menos eficiente e mais dependente dos aportes tecnológicos do centro.
Os elementos causais que explicariam a dinâmica centro-periferia estavam, de acordo
com Prebisch, presentes no desenvolvimento histórico e, de maneira mais intrínseca,
nas relações sociais produtivas da América Latina com o resto do mundo.
Seu estabelecimento como periferia fornecedora de produtos primários e consumidora
de bens elaborados fazia parte de uma dinâmica. Essa seria a relação social produtiva
construída historicamente, seguindo os interesses das classes sociais dominantes tanto
no centro quanto na periferia.
Fonte: Shutterstock.com
Para compreender a fundo a tese centro-periferia da CEPAL, é preciso levar em conta a
concepção característica do desenvolvimento como um processo de inovação
desencadeado ao longo da história.
1
O processo histórico podia ser compreendido como uma sucessão temporal de
paradigmas socioculturais. Simon Kuznets atribuiu essa sucessão ao aparecimento do
que ele chamou de “inovações periódicas”.
Vista como uma extensão ampla e complexa de inovações técnicas, institucionais e
culturais interligadas, essa novidade derivava de antecedentes do passado. A partir de
uma série de aperfeiçoamentos isolados que ocorreram em diferentes momentos da
história e foram se interligando gradualmente, ela teve origem em uma transformação
estrutural do sistema social tradicional.
2
3
O novo sistema social para o qual o desenvolvimento contemporâneo teria caminhado
era, segundo essa interpretação, um sistema com alta capacidade de gerar e adaptar
transformações inovadoras continuamente.
Como resultado, o desenvolvimento poderia ser caracterizado como um processo
descontínuo e cumulativo que se dá quando uma série de mudanças elementares se
organiza em conjuntos de renovações e, finalmente, em sistemas de inovações em larga
escala.
4
Cabe notar, no entanto, que a tese centro-periferia vai além dessa concepção ao colocar
em destaque os agentes e suas motivações frente aos “processos inovativos”
meramente agrupados.
Nesse sentido, o conceito de “obsolescência programada” assume grande importância,
pois ele explica como as inovações tecnológicas obedecem à necessidade de
acumulação de capital: uma nova tecnologia tinha seu ciclo de vida planejado para não
comprometer a demanda por novos produtos.
Fonte: Shutterstock.com
O avanço espontâneo da industrialização no pós-guerra emergiu como uma forma de
preencher a lacuna entre a periferia e o centro. Apesar disso, diante da pouca
diversidade produtiva e da debilidade dos investimentos, esse avanço se revelou pouco
eficiente.
Fonte: Shutterstock.com
Como a produtividade só era alta em pequenos setores da economia, a heterogeneidade
estrutural gerava problemas incontornáveis que eram agravados pelo atraso das
instituições, principalmente na periferia latino-americana.
Fonte: Shutterstock.com
Como estratégia de superação da condição periférica, diversos teóricos — como
Prebisch e o brasileiro Celso Furtado — defendiam então que a América Latina tinha de
promover a distribuição de renda. Isso deveria ocorrer a partir de uma nova inserção na
economia mundial.
No entanto, mudar a maneira de acolher o progresso técnico abria a necessidade de uma
nova teoria capaz de sustentar analiticamente as políticas desenvolvimentistas
propostas.
ESTRUTURALISMO CEPALINO
Veremos neste vídeo qual foi o resultado desse esforço intelectual.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
1. SOBRE A COMISSÃO ECONÔMICA PARA A AMÉRICA LATINA E O
CARIBE (CEPAL), SELECIONE A ALTERNATIVAQUE MELHOR DESCREVE
SUA MISSÃO NA ÉPOCA DE SUA CRIAÇÃO.
A) Defender modelos de desenvolvimento que não dependiam da industrialização.
B) Contribuir para a teoria econômica neoclássica, reforçando a ideia de equilíbrio
natural.
C) Disseminar a visão de que o subdesenvolvimento era uma etapa anterior ao
desenvolvimento.
D) Fomentar o debate sobre o subdesenvolvimento e promover o crescimento
econômico regional e sub-regional.
E) Estimular as políticas econômicas de inspiração neoclássica.
2. DE ACORDO COM A TESE CENTRO-PERIFERIA DESENVOLVIDA PELA
CEPAL, É POSSÍVEL AFIRMAR QUE:
A) O dualismo entre centro e periferia se limita ao comércio internacional.
B) A origem do dualismo (especialização e heterogeneidade versus diversificação e
homogeneidade) está na estrutura produtiva.
C) O progresso técnico trazia os mesmos ganhos de produtividade para o centro e a
periferia
D) O progresso técnico deveria ser entendido de acordo com as funções de produção
neoclássicas.
E) A periferia se desenvolveria ao longo do tempo até atingir um padrão de vida igual ao
dos países do centro.
GABARITO
1. Sobre a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), selecione a
alternativa que melhor descreve sua missão na época de sua criação.
A alternativa "D " está correta.
A missão da CEPAL é promover o crescimento econômico na América Latina e no Caribe
de maneira bem distribuída entre as sub-regiões por meio de várias ferramentas — em
particular, de estudos para um modo de desenvolvimento alternativo à prescrição
neoclássica. As preocupações cepalinas estavam voltadas para os problemas do
subdesenvolvimento.
2. De acordo com a tese centro-periferia desenvolvida pela CEPAL, é possível afirmar
que:
A alternativa "B " está correta.
O dualismo centro-periferia se estabelece a partir da estrutura produtiva, permanecendo,
portanto, enquanto essa estrutura não for alterada.
MÓDULO 2
 Descrever a história do pensamento econômico brasileiro
HISTÓRIA DO PENSAMENTO ECONÔMICO
NO BRASIL
CONTRIBUIÇÕES PIONEIRAS PARA O PENSAMENTO
ECONÔMICO BRASILEIRO
Para o estudo da HPE no Brasil, é preciso entender seu processo de construção a partir
de reflexões sobre a economia e a realidade brasileira. Esse estudo pode ser feito de
muitas formas por intermédio de diferentes critérios de seleção dos pensadores e das
ideias a serem consideradas.
De um lado, pode-se dizer que o pensamento econômico brasileiro foi, desde o seu
início, menos acadêmico e mais prático. Isso nos permite analisar a influência que
alguns pensadores da economia brasileira tiveram sobre a política econômica concreta...

Por outro, podemos refletir também como a teoria econômica se difundiu nacionalmente,
influenciando a política econômica e o ensino da economia no país. Ou ainda como o
estudo da HPE brasileira pode ser conduzido com base em ideias e teorias originais
elaboradas a partir do Brasil.
A década de 1950, marcada pelo segundo governo de Getúlio Vargas e pelo de Juscelino
Kubitschek, é vista por muitos economistas e historiadores econômicos como o
momento de consolidação da indústria nacional pela ação estatal.
Nesse cenário, um trabalho pioneiro foi realizado por Humberto Bastos em 1952: O
pensamento industrial no Brasil. Nele, traçou-se um perfil introdutório sobre a história
do capitalismo industrial brasileiro, ressaltando sua difícil sobrevivência em meio aos
embates com o capitalismo comercial nascente.
1
Articulando ideias nacionalistas e protecionistas e história do desenvolvimento
industrial brasileiro, Bastos discutiu ideias fundamentais ao pensamento econômico
nacional.
A ênfase foi dada às ideias industriais do século XIX (durante o período imperial). O
autor procurou mostrar como o livre comércio não favorecia os países dependentes,
como o Brasil, enquanto era favorável às nações industriais, como a Inglaterra.
2
3
Bastos se preocupou também em evidenciar como as nações desenvolvidas praticavam
o protecionismo, apontando que tais países defendiam práticas e ideias econômicas de
favorecimento exclusivo deles em detrimento do progresso das nações atrasadas.
O historiador argumentava ainda que diversos políticos, empresários e intelectuais
defendiam ideias industrialistas e progressistas que visavam ao desenvolvimento
nacional. Ele destacava que, ainda assim, era possível notar que essas ações foram, em
certo grau, neutralizadas pelo interesse monárquico.
4
5
Esse interesse era ligado a uma elite agrária e rural envolvida com a produção agrícola
direcionada ao comércio internacional.
Para Humberto Bastos, portanto, a mentalidade industrial no Brasil estava em formação
durante o final do século XIX e início do XX enquanto enfrentava interesses importantes
tanto internos quanto externos.
6
7
Criticando aqueles que recorriam a ideias importadas e distantes da realidade brasileira,
Bastos defendia que o capitalismo não podia ser visto como único caminho. Em outras
palavras, para ele, não haveria uma fórmula universal para se atingir o desenvolvimento
e o progresso. Era preciso, em sua visão, abrir espaço para ideias originais e
preocupadas com o interesse local, propondo medidas de superação dos problemas
econômicos nacionais.
O destaque de Humberto Bastos entre os pensadores da história do pensamento
econômico brasileiro se deve, portanto, à sua abordagem do industrialismo e à sua
defesa da originalidade de ideias capazes de interpretar a realidade brasileira a partir de
suas especificidades.
8
Fonte: Shutterstock.com
Considerando o período inicial da República e todo o debate relacionado à adoção de
medidas mais progressistas pelo Governo, o pensamento industrial ganhou espaço, se
consolidou e forçou os governos a adotarem medidas conciliadoras de interesses
divergentes diante das ideias industrialistas.
Fonte: Autor/Shutterstock
A partir dessa época, transformações mundiais nas primeiras décadas do século XX e o
avanço da urbanização no Brasil passariam a contribuir para o desenvolvimento do
capitalismo brasileiro, consolidando o pensamento industrial no país.
Outro trabalho pioneiro é o de Paul Hugon. Publicado originalmente em 1955 sob o título
A economia política no Brasil , ele é citado por grande parte dos trabalhos que
abordaram o pensamento econômico no país. O grande mérito da obra está em sua
análise de como a economia política fora introduzida no Brasil a partir do estudo do seu
ensino nos cursos superiores no país.
Dessa vez, o critério de seleção de pensadores adotado pelo autor está diretamente
ligado à introdução, à difusão e ao ensino de economia no país.
1
Hugon iniciou seu trabalho analisando a contribuição pioneira de José da Silva Lisboa, o
Visconde de Cairu, que foi nomeado via decreto real de D. João VI para ministrar a
disciplina de Economia Política – instituída no Brasil a partir de então – em 1808.
Ainda que influenciado por Adam Smith, o Visconde era não somente um defensor da
indústria, mas também um pensador que refletiu sobre a economia política a partir da
realidade e da estrutura nacional. Isto é: a realidade brasileira de um passado colonial
(evidentemente peculiar se comparada ao contexto de Smith).
2
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Hugon procurou ainda analisar o ensino da Economia Política nas faculdades de Direito
(nas quais, segundo o autor, a disciplina foi exclusivamente ensinada durante os anos
de 1827 a 1863) e na Escola Politécnica a partir de 1869.
A análise de Hugon se preocupou em mostrar os autores abordados e discutidos no
ensino da disciplina e argumentar que ela não recebeu influência única e exclusivamente
da economia política inglesa.
4
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Segundo ele, os responsáveis pela disciplina guardavam estreita ligação com o poder
público na medida em que ela estava voltada para a compreensão da situação
econômica brasileira.
Também merecem destaque os trabalhos de Heitor Ferreira Lima. No livro História do
pensamento econômico no Brasil , de 1976, o autor discutiu o tema ao fazer uma
reflexãoinicial sobre as doutrinas econômicas e o pensamento econômico em Portugal.
1
Para ele, a demora dos estudos econômicos no país seria um reflexo do seu atraso
econômico. Esse atraso, por sua vez, seria resultado da dependência da economia
colonial e do comércio exterior. Tal fato levou a uma estagnação da estrutura econômica,
principalmente no campo, e a um atraso em relação aos outros países europeus.
Lima apontou ainda a influência dos jesuítas em Portugal como causa para a carência
nas reflexões filosóficas, considerando-os os responsáveis pelo fechamento daquele
país à renovação científica que já ocorria no restante da Europa.
2
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Ele frisava que esse fechamento provocou um grande atraso na evolução econômica e
no pensamento econômico de Portugal, gerando reflexos diretos no Brasil.
Analisando o período colonial, Lima apresentou o que ele considerava serem os
primeiros economistas brasileiros. Segundo sua visão, o predomínio quase que total da
economia agrícola deu ao pensamento desenvolvido na época uma característica
fisiocrática, isto é, a noção de que a terra é a fonte de toda a riqueza.
4
5
Para o autor, isso fortaleceria o sentimento nacional no Brasil e conduziria muitos deles
a estudar e pensar os problemas técnicos e econômicos brasileiros.
A luta pela autonomia do país foi outro foco de estudo de Lima a partir da importância
das transformações mundiais entre o final do século XVIII e início do XIX, das revoluções
burguesas na Europa, da Revolução Industrial, da independência norte-americana, do
nascimento da Economia Política com Smith e Ricardo na Inglaterra e, por fim, da
fisiocracia francesa.
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 ATENÇÃO
Aos poucos, esse sentimento nacional e a luta pelos interesses internos inaugurariam
uma nova fase do pensamento econômico. Com intensa repercussão política e social,
isso resultou na separação definitiva das duas nações.
No Brasil, esse período foi caracterizado pela crise do regime colonial e, na visão do
autor, pelo esgotamento de sua capacidade criadora. Como consequência do
desenvolvimento da colônia, passaram a emergir movimentos questionadores da
dominação política da metrópole.
A transferência da corte real para o Brasil em 1808 é tida em sua análise como mais um
episódio da crise do sistema colonial, da emergência e do crescimento do Brasil. A partir
daí, Heitor Ferreira Lima procurou analisar a nova classe social brasileira, formada
principalmente em Coimbra e repleta de ideias liberais.
Fonte: Wikimedia Commons/Domínio público
 Embarque da família real portuguesa
 COMENTÁRIO
Entre esses movimentos, o autor destacou a Inconfidência Mineira e, além disso, a
influência inglesa nas ideias nacionais, que estava refletida na defesa de atividades
manufatureiras.
Tal liberalismo, cabe ressaltar, se explicava pela conjuntura internacional com os
progressos nas ciências, a globalização dos mercados e a defesa inglesa do livre
mercado para seus produtos manufaturados.
A apropriação do liberalismo no Brasil teve, porém, suas incoerências e peculiaridades:
Enquanto na Europa a ideologia liberal justificou e embasou revoluções democrático-
burguesas...

Na América Latina, ela serviu para justificar a independência política.
Fonte: Shutterstock.com
No Brasil, o liberalismo se tornou a ideologia de comerciantes, latifundiários e
escravistas contra a opressão da metrópole em nome do livre comércio....

Fonte: Shutterstock.com
Na Europa, a luta era da burguesia contra a nobreza feudal em nome do industrialismo.
Ao redor dessas questões se desenvolveu o debate econômico durante o Primeiro
Reinado. Analisando os debates parlamentares e os discursos de importantes
personalidades políticas da época, o autor observou que muitos deles haviam ocupado
o Ministério da Fazenda e que suas ideias caracterizavam as visões econômicas
dominantes naquele momento.
A maioria deles defendia:
Livre cambismo
Exportação de nossos produtos agrícolas
Importação de produtos manufaturados
Já a indústria, fora dos interesses da classe dominante, permanecia sem merecer muitas
atenções governamentais. Somada à ideologia liberal de especialização produtiva, a
atração pela terra e pelo comércio sepultava qualquer interesse ligado ao
desenvolvimento da indústria.
Fonte: Shutterstock.com
Para Lima, os Estados Unidos ampliavam suas fronteiras, conquistavam territórios,
dividiam as terras e criavam pequenas propriedades agrícolas. Além disso, fomentavam
o nascimento e o crescimento contínuo de um mercado interno, que se beneficiava da
imigração e estimulava o surgimento de indústrias...

Fonte: Shutterstock.com
Enquanto isso, o Brasil seguia pelo caminho do latifúndio e dos interesses das poucas
classes dominantes.
 COMENTÁRIO
Devemos destacar a importância desse trabalho de Heitor Ferreira Lima, cuja opção
metodológica não reduziu a história do pensamento econômico à simples apresentação
de ideias de pensadores que ele considerava mais importantes.
Destaca-se também sua escolha por retratar o pensamento econômico no Brasil desde
os tempos coloniais, discutindo como as raízes portuguesas influenciaram na formação
das ideias econômicas no Brasil. Cabe observar especialmente o critério de escolha dos
pensadores e das figuras mais importantes retratados por ele: quase todos homens da
política, eles estavam ligados ao poder e aos governos e eram os responsáveis por se
apropriar das teorias econômicas sempre a partir dos interesses que os moviam.
Pode-se dizer que o pensamento econômico no Brasil surgiu principalmente para dar
sentido e justificar as ações políticas.
ENSINO DE ECONOMIA NO BRASIL
Veremos de forma breve como o ensino da economia se desenvolveu no país.
 COMENTÁRIO
Todos os trabalhos citados até aqui apresentaram ideias econômicas do Brasil do
século XIX quando elas ainda eram incipientes e muito ligadas a visões e interesses
políticos. Tais trabalhos podem ser considerados antigos e datados, embora tenham o
grande mérito de oferecer sínteses importantes e levantar discussões fundamentais.
O PENSAMENTO ECONÔMICO BRASILEIRO E O
DESENVOLVIMENTISMO
A evolução de algumas pesquisas na área da história do pensamento econômico trilhou
a direção do estudo de pensadores próprios. Outras pesquisas, porém, se ativeram a um
período específico: o de consolidação da própria ciência econômica no Brasil, da
industrialização e do capitalismo brasileiro.
Esses trabalhos se concentraram na análise e na discussão da produção intelectual,
prática e acadêmica do período após 1930, quando as reflexões sobre o Brasil
procuravam entender sua situação econômica e propunham medidas para seu
desenvolvimento.
Nesse sentido, destacam-se os trabalhos clássicos de Guido Mantega e de Ricardo
Bielschowsky, ambos da década de 1980. Apesar de partirem de metodologias
diferentes, os dois economistas concentraram suas análises e discussões em torno da
temática do pensamento desenvolvimentista no Brasil. Com isso, eles se dedicaram a
mostrar como autores e pensadores encaravam e interpretavam os problemas do Brasil
e os possíveis meios para o país se desenvolver.
Fonte: Roosewelt Pinheiro/ABr - Agência Brasil/Wikimedia Commons/licença (CC BY 3.0
br)
 Guido Mantega
1
Em A economia política brasileira , de 1985, Guido Mantega buscou identificar como a
formação e a estruturação da economia política brasileira. Para Mantega, Celso Furtado
e sua obra podem ser vistos como elementos fundadores desse ramo, uma vez que as
análises anteriores podiam ser encontradas apenas de forma parcial e fragmentada.
O trabalho de Furtado, segundo o autor, foi o primeiro de fôlego, estruturado a partir de
um sólido arcabouço teórico e organizado para compreender a dinâmica econômica
brasileira. A partir dessa obra, atesta Mantega, o pensamento econômico brasileiro se
consolidou e passou a formar modelos analíticos.
2
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Ainda de acordo com sua visão, esse pensamento se formou ao longo dos anos 1950 e
1960 a partir daconsolidação dos processos de urbanização e industrialização do Brasil
— ou seja, a partir da consolidação do capitalismo.
Tal processo desencadeou, por sua vez, uma série de interpretações sobre o
subdesenvolvimento brasileiro e sobre os meios para superá-lo, sofrendo a influência
tanto da teoria econômica clássica quanto da keynesiana e marxista.
4
5
Para Mantega, os elementos essenciais que tornaram possível se falar em economia
política brasileira foram a criatividade e a originalidade das contribuições, além de suas
preocupações com as peculiaridades históricas brasileiras.
Afinal, essas interpretações e visões teóricas tornaram relevantes as estruturas da
formação econômica e capitalista brasileira. Isto é, elas evidenciaram como as relações
capitalistas ou o modo de produção capitalista haviam se desenvolvido no país.
6
7
Mantega analisou ainda o pensamento econômico brasileiro entre as décadas de 1950 e
1970, identificando, entre diversas correntes de pensamento, uma característica comum:
todas partiam de teorias econômicas existentes, aplicando-as à formação social
brasileira.
Elas eram, portanto, modelos cuja originalidade estava em suas adaptações das
formulações teóricas à realidade brasileira de um capitalismo retardatário e
subdesenvolvido.

 Ricardo Bielschowsky
1
Já Pensamento econômico brasileiro , trabalho de Ricardo Bielschowsky publicado em
2004, adotou uma metodologia inspirada em Schumpeter. Sua obra foi organizada a
partir da noção de ciclo ideológico, estando baseada nas noções schumpeterianas de
história do pensamento econômico e dos sistemas de economia política.
Para ele, assim como para Schumpeter, o pensamento econômico estaria ligado a um
conjunto de opiniões, posições ou interpretações relativas à política econômica. Assim,
dada a ausência de produção teórica e analítica, Bielschowsky (2004) acreditava não
haver no país a possibilidade de se escrever uma história da análise econômica.
2
3
No Brasil, de acordo com o autor, os economistas estavam mais interessados e
envolvidos com questões práticas ligadas diretamente aos dilemas nacionais e à política
econômica que os resolveria ao invés daquelas propriamente teóricas.
Como resultado, a reflexão sobre a economia brasileira nos levaria a um debate não
teórico, e sim prático e historicamente determinado. Foi, portanto, a dimensão histórica
do pensamento econômico – e não seu conteúdo analítico – o fio condutor dessa obra,
cujo núcleo era a ideia de desenvolvimentismo.
4
5
Bielschowsky se dedicou então a analisar o que ele definiu como ciclo ideológico do
desenvolvimentismo, passando, nesse processo, por sua formação, consolidação, auge
e crise.
O conceito-chave com o qual o autor organizou sua análise (desenvolvimentismo) é
definido por ele como a ideologia de transformação da sociedade brasileira definida pelo
projeto econômico. Tal projeto contava com uma proposta de industrialização que o
mercado seria incapaz de promover por si só.
Defendia-se, assim, um plano de industrialização a partir da participação efetiva do
Estado — seja planejando ou promovendo investimentos — a fim de se superar a
pobreza e o subdesenvolvimento.
Bielschowsky organizou, portanto, o pensamento econômico brasileiro e o ciclo
ideológico do desenvolvimentismo da seguinte forma:
Seu surgimento entre 1930 e 1945;

Sua maturação entre 1945 e 1955;

Seu auge entre 1955 e 1960;

Sua crise entre 1960-1964.
Ele identificou ainda que o pensamento econômico brasileiro poderia ser dividido em
correntes:
ETAPA 01
ETAPA 02
ETAPA 03
A NEOLIBERAL
A corrente neoliberal, em sua interpretação, teria uma vocação neoclássica, liberal e
contrária à atuação do Estado na economia. Ela ainda seria favorável a um equilíbrio
monetário e financeiro que combatesse a inflação.
Essa corrente era defensora da vocação agrária brasileira e, portanto, contrária à ideia
de indução da industrialização por meio do incentivo estatal. Seus principais
representantes eram Eugenio Gudin, Otávio Gouvêa de Bulhões, Dênio Nogueira e
Daniel de Carvalho.
A DESENVOLVIMENTISTA
Já́ a corrente desenvolvimentista poderia, de acordo com Bielschowsky, ser dividida em
mais três vertentes: desenvolvimentismo no setor público não nacionalista; no setor
público nacionalista; e no setor privado.
A vertente não nacionalista era representada por Roberto Campos, Lucas Lopes,
Ary Torres e Glycon de Paiva. Ela defendia a participação do capital estrangeiro na
industrialização. A atuação do Estado na economia, para essa corrente, deveria ser
apenas parcial, sendo realizada por meio do planejamento e das políticas
estabilizadoras de combate à inflação;
A vertente nacionalista, representada por Celso Furtado, Rômulo de Almeida,
Américo Oliveira, Evaldo Lima e Roberto Simonsen, carregava uma influência
cepalina, defendendo o planejamento e a atuação estatal como meios de promover
a industrialização. Favoráveis à reforma agrária, seus defensores acreditavam
também que a inflação era um fenômeno estrutural, e não apenas monetário, a ser
combatido por intermédio de políticas de desenvolvimento;
Por fim, os principais expoentes da vertente desenvolvimentista no setor privado
foram Roberto Simonsen, João Paulo de Almeida Magalhães e Nuno Figueiredo.
Eles defendiam uma industrialização pautada pela proteção do Estado ao capital
industrial nacional.
A SOCIALISTA
A corrente socialista, por sua vez, teria se organizado a partir do Partido Comunista
Brasileiro (PCB) e do Instituto Superior de Estudos Brasileiros (ISEB). Ela contava com
representantes como Caio Prado Jr., Nelson Werneck Sodré́, Alberto Passos Guimarães
e Aristóteles Moura.
Inspirados pelo materialismo histórico, os defensores dessa corrente acreditavam que o
desenvolvimento capitalista era necessário para viabilizar o socialismo. Por isso, eles
defendiam a reforma agrária e uma industrialização planejada e ancorada em bases
nacionais. Acreditavam ainda que essa era a forma de romper com a dominação
imperialista e a concentração da renda e da terra, tidas por eles responsáveis por
impedir o país de crescer e se desenvolver.
Embora tenham discutido a história do pensamento econômico no Brasil de formas
diferentes, tanto Bielschowsky quanto Mantega trabalharam com critérios de seleção
parecidos e organizaram o pensamento econômico brasileiro em torno do debate a
respeito do subdesenvolvimento e do desenvolvimento econômico.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
1. SOBRE AS PRIMEIRAS CONTRIBUIÇÕES DA HISTÓRIA DO
PENSAMENTO ECONÔMICO NO BRASIL, É CORRETO AFIRMAR QUE:
A) Seu processo de construção se deu de forma abstrata e desconectada da realidade
brasileira.
B) Teve grande impacto sobre a política econômica concreta por conta de seu caráter
menos acadêmico e mais prático.
C) Seu desenvolvimento foi limitado e pouco influenciou o ensino da economia no país.
D) Não houve originalidade, já que apenas repetiu teorias já existentes.
E) Não era relacionado com o pensamento econômico latino-americano.
2. DE ACORDO COM OS DESDOBRAMENTOS MAIS RECENTES DO
PENSAMENTO ECONÔMICO BRASILEIRO, É CORRETO AFIRMAR QUE:
A) Tanto Guido Mantega quanto Ricardo Bielschowsky reconheciam a irrelevância da
temática desenvolvimentista para o pensamento econômico brasileiro.
B) Para Guido Mantega, mesmo após a contribuição de Celso Furtado, as análises sobre
a economia política brasileira seguiram sendo parciais e fragmentadas.
C) De acordo com Bielschowsky, o pensamento econômico no Brasil guardava relação
com ciclos ideológicos e, consequentemente, com a política econômica.
D) Para Bielschowsky, a abundância de produção teórica e analítica viabilizou o
surgimento da história da análise econômica.
E) Observa-se hoje que Celso Furtado e Roberto Campos eram contrários à participação
do capital estrangeiro na economia brasileira.
GABARITO
1. Sobre as primeiras contribuições da história do pensamento econômico no Brasil, é
correto afirmar que:
A alternativa"B " está correta.
O pensamento econômico brasileiro foi marcado por uma ênfase em questões práticas,
o que, até certo ponto, o distanciou da esfera acadêmica.
2. De acordo com os desdobramentos mais recentes do pensamento econômico
brasileiro, é correto afirmar que:
A alternativa "C " está correta.
O trabalho de Ricardo Bielschowsky, Pensamento econômico brasileiro, gira em torno
do conceito de ciclo ideológico. Para ele, o pensamento econômico estaria ligado a um
conjunto de opiniões, posições ou interpretações relativas à política econômica.
CONCLUSÃO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Neste tema, apresentamos os processos de surgimento e evolução da HPE tanto na
América Latina quanto no Brasil. No módulo 1, descrevemos a história do pensamento
econômico latino-americano a partir da CEPAL; no módulo 2, a história do pensamento
econômico brasileiro.
Conhecendo os contextos e debates de cada corrente, destacamos os principais
conceitos, obras, autores e instituições para a HPE dessa região. Após a discussão do
desenvolvimentismo regional e da tese estruturalista, apontamos ainda a importância da
CEPAL para a HPE latino-americana.
Além disso, a partir da apresentação de relevantes trabalhos pioneiros e recentes do
pensamento econômico brasileiro, você pôde entender a discussão da HPE no Brasil.
Com esse arcabouço teórico, pudemos conhecer os pontos centrais da história do
pensamento econômico no Brasil e na América Latina.
AVALIAÇÃO DO TEMA:
REFERÊNCIAS
BASTOS, H. O pensamento industrial no Brasil. São Paulo: Livraria Martins Editora,
1952.
BIELSCHOWSKY, R. Pensamento econômico brasileiro: o ciclo ideológico do
desenvolvimentismo. Rio de Janeiro: Contraponto, 2004.
HUGON, P. A economia política no Brasil. In: AZEVEDO, F. de (Org.). As ciências no
Brasil. 2. ed. v. 2. Rio de Janeiro: UFRJ, 1994.
LIMA, H. F. História do pensamento econômico no Brasil. São Paulo: Companhia Editora
Nacional, 1976.
LOUREIRO, M. R. (Org.). Cinquenta anos de ciência econômica no Brasil (1946-1996):
pensamento, instituições, depoimentos. Petrópolis: Vozes, 1997.
MANTEGA, G. A economia política brasileira. São Paulo/Petrópolis: Vozes, 1985
PREBISCH, R. O desenvolvimento econômico da América Latina e seus principais
problemas. Santiago: CEPAL, 1948.
VIEIRA, D. T. A história da Ciência Econômica no Brasil. In: FERRI, M. G.; MOTOYAMA, S.
(Coord.). História das ciências no Brasil. São Paulo: Edusp, 1981.
EXPLORE+
Para conhecer mais sobre o pensamento econômico brasileiro recente, leia este texto:
MALTA, M. M. de et al . A história do pensamento econômico brasileiro entre 1864 e
1989: um método para discussão. In: XV Encontro Nacional de Economia Política. São
Luís do Maranhão, 2010.
Aprofunde seus conhecimentos sobre o pensamento econômico brasileiro recente
consultado os artigos publicados neste livro:
SZMRECSÁNYI, T.; COELHO, F. da S. Ensaios de história do pensamento econômico no
Brasil contemporâneo. Rio de Janeiro: Atlas, 2007.
CONTEUDISTA
Juliana Damasceno de Sousa
 CURRÍCULO LATTES
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