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Crimes contra a pessoa

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29/09/2023, 12:18 Crimes contra a pessoa
https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/02370/index.html# 1/60
Crimes contra a pessoa
Profª. Renata Saggioro
false
Descrição
Aspectos gerais dos crimes contra a pessoa.
Propósito
Os crimes contra a pessoa inauguram a Parte Especial do Código Penal
e possuem grande importância no ordenamento jurídico penal. Portanto,
é fundamental conhecer os tipos penais e suas especificidades
elementares e refletir sobre o papel que ocupam no ordenamento.
Preparação
Antes de iniciar seu estudo, tenha o Código Penal e a Constituição
Federal para acompanhar a leitura do tema.
Objetivos
Módulo 1
Crimes contra a vida
29/09/2023, 12:18 Crimes contra a pessoa
https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/02370/index.html# 2/60
Analisar os crimes contra a vida em suas modalidades dolosa e
culposa.
Módulo 2
Lesões corporais e periclitação da vida e da
saúde
Identificar as espécies de crimes referentes à periclitação da vida e
da saúde, bem como os tipos de lesão corporal.
Módulo 3
Rixa e crimes contra a honra
Reconhecer os principais conceitos sobre os crimes contra a honra e
o crime de rixa.
Módulo 4
Crimes contra a liberdade individual
Classificar os tipos penais contra a liberdade individual.
Neste conteúdo, estudaremos os crimes contra a pessoa. São eles
que inauguram a Parte Especial do Código Penal e são trazidos
pelo Título I nos artigos 121 a 154-B. Trata-se de crimes que
atingem diretamente a vida humana, seja em sua integridade física,
na sua honra ou em sua liberdade.
O Título “Dos crimes contra a pessoa” é dividido em seis capítulos:
1) Crimes contra a vida; 2) Lesões Corporais; 3) Periclitação da vida
e da saúde; 4) Rixa; 5) Crimes contra a honra; 6) Crimes contra a
Introdução
29/09/2023, 12:18 Crimes contra a pessoa
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1 - Crimes contra a vida
Ao �nal deste módulo, você deverá ser capaz de analisar os crimes contra a vida em suas
modalidades dolosa e culposa.
Primeiras palavras
O Código Penal traz quatro modalidades de crimes contra a vida:

Homicídio

Participação em suicídio
liberdade individual, que é separado em quatro seções: 6.1) Crimes
contra a liberdade pessoal; 6.2) Crimes contra a inviolabilidade do
domicílio; 6.3) Crimes contra a inviolabilidade de correspondência;
e 6.4) Crimes contra a inviolabilidade dos segredos.
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
Infanticídio

Aborto
A maioria dos crimes são previstos apenas na forma dolosa, com
exceção do homicídio, que se apresenta também na forma culposa. Isso
se mostra relevante desde já, pois, conforme o artigo 5º, XXXVIII da
Constituição, apenas os crimes dolosos contra a vida são julgados pelo
Tribunal do Júri. Ou seja, o homicídio culposo, diferentemente dos
demais crimes contra a vida, será julgado por uma Vara Criminal
Comum.
Por fim, destacamos que os crimes contra a vida são todos de ação
penal pública incondicionada, sem exceção.
Homicídio
A especialista Renata Saggioro, mestre em Direito, discorre a seguir
sobre o homicídio e suas diferentes figuras. Vamos asssitir!
Homicídio (art. 121, CP)
O homicídio consiste na destruição da vida extrauterina. O núcleo do
tipo objetivo é o verbo matar e, necessariamente, deve-se tratar de
outrem. Dessa maneira, o bem jurídico protegido é a vida humana alheia.
Isso significa que tanto a vida intrauterina quanto a vida própria não são
abrangidos pelo tipo penal do art. 121 quando atingidas.

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Aqui, duas ponderações são importantes, a que diz respeito ao
momento do início da vida extrauterina e ao momento da morte. São
concepções que variam de acordo com o contexto histórico, cultural,
político e social de cada lugar. Predomina que:
Vida extrauterina
A vida humana extrauterina começa com o parto, marcado pelo
início das contrações expulsivas (PRADO, 2019, p. 757).
Morte
A morte é marcada pelo fim da atividade encefálica, nos termos
do art. 3º da lei nº 9.434/1997, que versa sobre o transplante de
órgãos.
O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa e o sujeito passivo também,
desde que este, obviamente, com vida (crime comum). Como o crime só
se consuma com a morte, estamos diante de um crime material, ou seja,
sua consumação ocorre com o resultado morte. Também é considerado
um crime de dano, pois exige a efetiva lesão do bem jurídico para sua
concretização. Admite-se a modalidade tentada (art. 14, II, CP), pois seu
iter criminis pode ser fracionado.
Exemplo
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João desferiu um tiro contra José com a intenção de matá-lo, mas em
razão da assistência médica recebida, José sobreviveu.
Quanto à tipicidade subjetiva, estamos diante de um crime doloso, em
que o sujeito ativo precisa ter consciência e vontade de praticar os
elementos do tipo, possuindo a intenção de ceifar a vida de outra
pessoa (animus necandi).
A sanção penal (preceito secundário) para o crime de
homicídio simples é de 6 a 20 anos de reclusão.
O art. 121, §1º prevê o homicídio privilegiado com redução de pena.
Este também ocorre com a destruição da vida extrauterina, porém, o
sujeito ativo pratica o crime impelido de relevante valor social ou moral,
ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida à injusta
provocação da vítima. Estamos diante de uma causa especial de
diminuição de pena, pois não está prevista nas causas de diminuição de
pena trazidas na parte geral.
Vamos entender os significados?
 Relevante valor social
É aquilo que diz respeito ao interesse coletivo.
 Relevante valor moral
É de ordem subjetiva.
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Dessa maneira, temos a seguinte equação:
Injusta provocação, seguida da violenta emoção, com a consequente
reação.
No art. art. 121, §2º e §2º-A, temos as figuras do homicídio qualificado.
As qualificadoras trazem novas elementares para o tipo penal, por isso,
são acompanhadas de um novo preceito secundário. No caso do
homicídio, oito grupos de circunstâncias qualificam o crime (incisos I ao
VIII) com sanção penal de 12 a 30 anos. Elas estão relacionadas aos
meios de execução do crime, aos modos de execução, aos motivos do
agente, aos fins pretendidos ou à qualidade da vítima.
Com relação ao motivo, ele pode ser classificado em:
É aquele motivo desprezível, repugnante, tal como a inveja e a
ganância. Para o legislador, o pagamento ou a promessa de
recompensa são exemplos dessa motivação, e entende-se,
majoritariamente, que o pagamento deve ter conteúdo
econômico.
É aquele insignificante, exageradamente desproporcional, e que
não se confunde com a ausência de motivo.
Por serem qualificadoras relativas à motivação, a motivação fútil e a
torpe não podem ser aplicadas no mesmo caso.
 Violenta emoção
É aquele sentimento intenso e passageiro que
altera o estado psicológico do indivíduo (PRADO,
2019, p. 762) e, no caso específico do homicídio
privilegiado, deve, necessariamente, ser seguida da
injusta provocação da vítima.
Motivo torpe 
Motivo fútil 
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Quanto ao meio de execução, entende-se que:
Insidioso
É aquele meio disfarçado, dissimulado.
Cruel
É o que provoca grave e desnecessário sofrimento para a vítima
(ROIG, 2011, p. 38).
Perigo comum
É o que coloca em risco um número indeterminado de pessoas,
sendo certo que o efetivo dano não precisa ocorrer para a
configuração da qualificadora. A Lei nº 13.964/2019 incluiu o
inciso VIII passando a qualificar o crime de homicídio, o emprego
de arma de fogo de uso restrito ouproibido.
Saiba mais
Quanto ao meio de execução cruel, o legislador traz um rol de exemplos
não taxativos: emprego de veneno, explosivo, asfixia, tortura.
Recurso que dificulta ou impossibilita a defesa do ofendido diz respeito
ao modo de execução do crime e o legislador traz alguns exemplos
também em rol não taxativo, como a traição, a emboscada e a
dissimulação.
A prática de homicídio para assegurar a execução, a ocultação, a
impunidade ou vantagem de outro crime qualifica o crime pela conexão.
Nesses casos, presume-se a existência de dois crimes, não sendo o
homicídio o crime-fim da empreitada delituosa. É o caso, por exemplo,
do agente que mata a testemunha de um crime anterior.
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A Lei nº 13.104/2015 trouxe a figura do feminicídio, que é o homicídio
praticado contra mulheres pelo simples fato de serem mulheres. O Brasil
possui altas taxas de feminicídio e só em 2020 uma mulher foi
assassinada a cada 6 horas e meia (FÓRUM BRASILEIRO DE
SEGURANÇA PÚBLICA, 2021).
A desigualdade de gênero é, portanto, o que fundamenta a qualificadora
devido à maior reprovabilidade. O §2º-A é uma norma explicativa, pois
informa o que seriam as razões de condição do sexo feminino.
A Lei nº 13.142/2015 acrescentou a qualificadora nos casos de
homicídio de agentes de segurança pública e penitenciária. Para o
legislador, a condição especial da vítima que exerce atividade
relacionada à segurança pública ou é familiar de quem exerce, resulta
em maior reprovabilidade da conduta. Lembrando que é preciso que o
fato esteja relacionado à função exercida pela vítima.
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O art. 121, §§3º e 5º versam sobre o homicídio culposo, que acontece
quando o agente, violando o dever de cuidado, provoca o resultado
morte, embora esta não fosse sua vontade. A finalidade, portanto, é
alcançar um fim lícito, mas em razão da inobservância do dever de
cuidado objetivamente exigível, a cadeia causal esperada é rompida,
consequentemente produzindo o resultado indesejado.
Exemplo
É o caso do agente que, manuseando uma arma de fogo, dispara sem
querer e atinge um amigo.
Veja que sua finalidade não é a de praticar o crime, mas, por ter violado
o dever de cuidado, responderá pela modalidade culposa.
O Código Penal atribui pena de detenção de 1 a 3 anos
para essas hipóteses.
E lembre-se, crime culposo nunca admite tentativa!
O Código prevê hipótese de perdão judicial em seu §5º, ou seja, o juiz
pode deixar de aplicar a pena se as consequências da infração
atingirem o próprio agente de forma tão grave que a sanção penal se
torne desnecessária.
No exemplo acima, caso a vítima do homicídio culposo fosse filha do
agente, seria plenamente cabível o perdão judicial.
Por fim, o art. 121, §§4º, 6º e 7º trouxe as causas de aumento de pena.
Para fins didáticos, iremos distingui-las entre as do homicídio culposo e
doloso:
Homicídio culposo
Nas hipóteses de
crimes culposos, o §4º
Homicídio doloso
Sendo doloso o
homicídio, a pena é
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– 1ª parte, a pena é
aumentada em 1/3 se o
crime resulta de
inobservância de regra
técnica de profissão,
arte ou ofício, ou se o
agente deixa de prestar
imediato socorro à
vítima, não procura
diminuir as
consequências do seu
ato, ou foge para evitar
prisão em flagrante.
aumentada de 1/3, se o
crime for praticado
contra pessoa menor de
14 ou maior de 60 anos
(§4º, 2ª parte).
O §6º prevê um
aumento de 1/3 até a
metade, se o crime for
praticado por milícia
privada, sob o pretexto
de prestação de serviço
de segurança, ou por
grupo de extermínio.
O §7º informa que a pena do feminicídio é aumentada de 1/3 até a
metade se o crime for praticado:
1. durante a gestação ou nos 3 meses posteriores ao parto;
2. contra pessoa menor de 14 anos, maior de 60 anos, com
deficiência ou portadora de doenças degenerativas que acarretem
condição limitante ou de vulnerabilidade física ou mental;
3. na presença física ou virtual de descendente ou de ascendente da
vítima;
4. em descumprimento das medidas protetivas de urgência previstas
nos incisos I, II e III, do art. 22 da Lei Maria da Penha (Lei nº
11.340/2006).
Induzimento, instigação ou auxílio a
suicídio ou a automutilação (art. 122,
CP)
O crime do art. 122 consiste na ajuda material ou moral no suicídio ou
na automutilação de outra pessoa. Apenas com a edição da Lei nº
13.968/2019 que a ajuda na automutilação foi abrangida pelo tipo penal
e esta consiste em causar lesões em si próprio. O núcleo do tipo são,
portanto, os verbos induzir, instigar e prestar auxílio.

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O suicídio e a automutilação não con�guram ilícito penal
por si só.
Estamos diante de um crime doloso, pois o sujeito ativo deve possuir
vontade livre e consciente de contribuir para o suicídio ou a
automutilação de outrem e não há previsão da modalidade culposa. E
lembre-se, o tipo não abrange o induzimento genérico, ele deve ser
direcionado.
O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa (crime comum) e a conduta
deve ser comissiva, isto é, o agente deve praticar uma ação.
Atenção
O suicídio e a automutilação em si são praticados pela vítima e não pelo
sujeito ativo. O sujeito passivo também pode ser qualquer pessoa,
sendo imperativo, contudo, que se trate de pessoa determinada e que
possua capacidade de compreensão.
Diante da inovação legislativa, o art. 122 caput passou a prever um
crime formal, ou seja, basta a prática dos verbos nucleares para a
consumação do delito.
O eventual resultado de morte ou lesão grave, tornou-se qualificadora do
delito no §1º, como veremos a seguir.
A tentativa pode se dar de forma indireta, como um bilhete com a
instigação que fora extraviado antes do recebimento.
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A pena para a forma simples do tipo penal é de reclusão de 6 meses a 2
anos. Quanto às formas qualificadas, há duas hipóteses. Se a
automutilação ou a tentativa de suicídio resultarem em:
Lesão corporal de natureza grave ou
gravíssima
A pena é de reclusão de 1 a 3 anos (art. 122, §1º).
Morte
A pena é de 2 a 6 anos (art. 122, §2º).
O art. 122 também traz causas de aumento. A pena será:
 Duplicada
Se o crime for praticado por motivo egoístico, torpe
ou fútil; e se a vítima for menor ou tiver diminuída,
por qualquer causa, a capacidade de resistência
(art. 122, §3º).
 Aumentada até o dobro
Se a conduta for realizada por meio da rede de
computadores, de rede social ou transmitida em
tempo real (art. 122, §4º).
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Agora vejamos a determinação no caso de suicídio ou automutilação
praticados contra menores de 14 anos, ou contra quem não tiver o
necessário discernimento para a prática do ato, por enfermidade ou
deficiência mental, ou que, por qualquer outra causa, não pode oferecer
resistência. Se o resultado for:
O §6º dispõe que se do suicídio ou da automutilação resultar
lesão corporal gravíssima e for praticada contra menores de 14
anos, ou contra quem não tiver o necessário discernimento para
a prática do ato, por enfermidade ou deficiência mental, ou que,
por qualquer outra causa, não pode oferecer resistência, o
agente não irá responder pelo tipo penal do art. 122, mas sim
pelo crime previsto §2º do art. 129, do CP, isto é, lesão corporal
qualificada, cuja pena é reclusão de 2 a 8 anos.
O §7º indica que se o resultado morte for produzido contra
menor de 14 anos ou contra quem por enfermidade ou
deficiência mental, nãotem o necessário discernimento para a
prática do ato, ou que, por qualquer outra causa, não pode
oferecer resistência, o agente irá responder pelo tipo penal de
homicídio, previsto no art. 121 anteriormente estudado.
Infanticídio (art. 123, CP)
O crime de infanticídio consiste na conduta da mãe que, sob influência
do estado puerperal, mata o próprio filho, durante ou logo após o parto.
 Aumentada em metade
Se o agente for líder ou coordenador de grupo ou de
rede virtual (art. 122, §5º).
Lesão corporal gravíssima 
Morte 
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O núcleo do tipo, portanto, é o verbo matar.
Saiba mais
Estado puerperal é uma perturbação fisiopsíquica, que atenua a
magnitude da culpabilidade (PRADO, 2019, p. 791) e, por isso, implica
pena atenuada em comparação à do homicídio, com detenção de 2 a 6
anos. Veja que o estado puerperal não se confunde com a
inimputabilidade do art. 26, CP, em que não há culpabilidade por
completo. O infanticídio é uma espécie de homicídio privilegiado.
Estamos diante de um crime próprio, visto que apenas a mãe pode ser
sujeito ativo do crime. Por isso, entende-se, majoritariamente, pela
impossibilidade de concurso de pessoas. O estado puerperal é
circunstância pessoal que não se comunica com terceiros. O sujeito
passivo é o recém-nascido, desde que viável a vida.
O crime é material, pois consuma-se com o resultado morte ou lesão
corporal grave, sendo admitida a tentativa. Além disso, trata-se de um
crime doloso, sem previsão da modalidade culposa na legislação.
Aborto (arts. 124 a 128, CP)
O aborto é a interrupção da gestação com a morte do feto.
Apesar de haver discussões sobre o tema, prevalece que a gestação se
inicia com a implantação do óvulo na cavidade uterina (PRADO, 2019 p.
804).
Vamos às modalidades de aborto previstas no CP.
A gestante é o sujeito ativo do art. 124, que ocorre quando ela provoca
ou consente que outra pessoa provoque o aborto. A pena cominada é de
detenção de 1 a 3 anos.
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O terceiro também responde criminalmente se provocar aborto sem o
consentimento da gestante, com pena de reclusão de 3 a 10 anos (art.
125). Caso o aborto seja feito com o consentimento dela, a pena será de
reclusão de 1 a 4 anos (art. 126). Neste último caso, o terceiro responde
na forma do art. 126 e a gestante na forma do art. 124, 2a parte.
Se a gestante que consentir o aborto for menor de 14 anos, alienada, ou
incapaz, ou ainda, se o consentimento for obtido mediante fraude, grave
ameaça ou violência, a pena é a do art. 125: reclusão de 3 a 10 anos
(art. 126, § único).
O sujeito ativo varia de acordo com o tipo penal, podendo
ser tanto a gestante (crime próprio), quanto qualquer
pessoa que provoca o aborto. Quanto ao sujeito passivo,
além da gestante, quando vítima do delito, há quem
entenda que o feto possa ser sujeito passivo (PRADO, 2019,
p. 801).
A forma qualificada pelo resultado está prevista no art. 127 e ocorre se,
em consequência do aborto ou dos meios empregados
1. a gestante sofrer lesão corporal grave (a pena é aumentada em
1/3);
2. sobrevier à gestante a morte (a pena é duplicada).
Atenção
Lembrando que a forma qualificada não abrange a gestante como
sujeito ativo. Nesses casos, o resultado não é provocado de forma
intencional (crime preterdoloso). Caso isso ocorra, haverá concurso de
crimes entre o aborto e a lesão ou o homicídio.
Já deu para notar que estamos diante de crimes dolosos (não há
previsão de nenhuma hipótese culposa), em que há vontade e
consciência de praticar a interrupção da gestação e a consumação se
dá com a morte do feto. A tentativa é admitida.
A legislação brasileira apresenta algumas hipóteses em que o aborto
não é criminalizado, são as hipóteses de aborto legal (art. 128):
1. se não houver outro meio de salvar a vida da gestante (aborto
necessário);
2. se a gravidez resultar de estupro e a gestante consente o aborto
(aborto humanitário).
Saiba mais
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Em 2012, no julgamento da ADPF 54, o STF autorizou expressamente a
interrupção da gravidez em casos de anencefalia do feto, ou seja,
quando as estruturas cerebrais não são corretamente desenvolvidas,
implicando inviabilidade extrauterina. Trata-se de uma causa excludente
de ilicitude não prevista em lei. Nesses casos, havendo consentimento
da gestante, o aborto pode ser realizado.
Falta pouco para atingir seus objetivos.
Vamos praticar alguns conceitos?
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Questão 1
Com relação aos crimes contra a pessoa, previstos no Código
Penal, é correto afirmar que
Parabéns! A alternativa E está correta.
Os crimes dolosos contra a vida, previstos no Capítulo I, são todos
julgados pelo Tribunal do Júri conforme mandamento
constitucional. A exceção fica nos casos dos crimes culposos, que
serão julgados pela Vara Criminal Comum. Ainda sobre os crimes
culposos, sabemos que não admitem tentativa, pois não há uma
ação direcionada a uma finalidade determinada. Para a
configuração da qualificadora do art. 121, VII, é imperioso que o
agente aja sabendo da condição especial da vítima.
Questão 2
A
todos os crimes do Capítulo I são julgados pelo
Tribunal do Júri, sem exceção.
B
enquanto o crime doloso contra a vida de mulher é
denominado feminicídio, o praticado contra a vida
do homem é denominado homicídio.
C
o homicídio praticado contra policial militar de
férias, em que o agente desconhecia a profissão da
vítima, enquadra-se na forma qualificada.
D
o homicídio culposo pode se dar tanto de forma
consumada quanto de forma tentada.
E
o homicídio não pode ser qualificado pela motivação
fútil e torpe simultaneamente.
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Em relação aos crimes de induzimento, instigação ou auxílio ao
suicídio ou à automutilação e de aborto, assinale a alternativa
correta:
Parabéns! A alternativa B está correta.
Com a reforma legislativa trazida pela Lei nº 13.968/2019, que
trouxe as figuras qualificadas, a possibilidade de tentativa passou
deixou de ser controversa, tendo trazido, ainda, uma graduação de
pena a depender da materialização do resultado. Quanto à causa
excludente de ilicitude nos casos de interrupção de gravidez de feto
anencéfalo, trata-se de inovação trazida pelo STF por meio de
mecanismos de interpretação da Constituição que não importam
em novas figuras legislativas necessariamente. Por fim, apesar de
haver discussão quanto ao sujeito passivo nos crimes de aborto,
não se discute que são considerados crimes contra a vida, sendo
julgados pelo Tribunal do Júri, nos termos do § 3º, I, do art. 122, CP.
A Os crimes do artigo 122 não admitem tentativa.
B
A pena é duplicada se induzimento, instigação ou
auxílio ao suicídio ou à automutilação forem
praticados por motivo egoístico.
C
Para a atribuição de pena, é irrelevante se o suicídio
ou a automutilação ocorreram.
D
A anencefalia é uma hipótese de excludente da
ilicitude, que passou a ser prevista expressamente
em lei.
E
O aborto não é considerado crime contra a vida já
que feto não é pessoa.
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2 - Lesões corporais e periclitação da vida e da saúde
Ao �nal deste módulo, você deverá ser capaz de identi�car as espécies de crimes referentes à
periclitação da vida e da saúde, bem como os tipos de lesão corporal.
Lesão corporal
A especialista Renata Saggioro, mestre em Direito, discorre a seguir
sobre a lesão corporal e suas diferentes figuras. Vamos assistir!
Lesão corporal(art. 129, CP)
O legislador previu espécies de lesões corporais, sendo algumas
classificadas de forma gradativa. É o caso do caput (lesão de natureza
leve), o §1º (lesão de natureza grave) e o §2º (lesão de natureza
gravíssima).
O que vai diferenciá-las é o resultado que produzirão, que são
apresentados nos seus incisos. Perceba que a lesão leve tem caráter

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residual, isto é, caso a conduta não se amolde a nenhuma das outras
previsões, o caput prevalecerá.
Atenção
Cuidado para não confundir a lesão leve com a contravenção penal do
art. 21 da Lei de Contravenções Penais, denominada vias de fato, que
ocorre quando há o emprego de violência, porém, não com objetivo de
lesionar. O tapa no rosto é o exemplo mais comum.
Em razão da gradação das lesões, penas distintas foram atribuídas pelo
legislador:
Lesão leve
A pena cominada é de detenção de 3 meses a 1 ano.
Lesão grave
A pena é de reclusão de 1 a 5 anos.
Lesão gravíssima
A pena é de reclusão de 2 a 8 anos.
Aqui, os sujeitos ativo e passivo podem ser qualquer pessoa (crime
comum). São crimes materiais e, como já sabemos, só se consumam
com o resultado, admitindo também a forma tentada.
Lembramos que nem toda lesão corporal é criminalizada, tendo em vista
que em alguns casos o exercício regular do direito (art. 23, III, CP) afasta
a incidência do crime.
Exemplo
As lesões que decorrem de intervenção estética e da prática de
esportes, como o boxe.
O §3º traz uma hipótese de crime preterdoloso, isto é, há dolo no
antecedente mas não no resultado produzido. A morte decorrente da
lesão não foi produzida voluntariamente pelo agente e ele tampouco
assumiu o risco de produzi-la. Caso assim o fosse, estaríamos diante de
um crime de homicídio. Portanto, em razão da menor reprovabilidade da
conduta, a pena cominada é de reclusão de 4 a 12 anos, sendo certo
que qualquer pessoa pode ser sujeito ativo ou passivo.
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Crime preterdoloso não admite tentativa.
O §4º traz a hipótese de lesão corporal privilegiada com as
circunstâncias idênticas ao do homicídio privilegiado e,
consequentemente, com diminuição de pena. Além disso, o legislador
dispõe que a pena de reclusão, nesses casos, pode ser substituída por
multa, desde que as lesões não sejam graves (§5º, I). Essa substituição
de pena vale para casos de lesões recíprocas (§5º, II).
A modalidade culposa é admitida no §6º e para ela, assim como no
homicídio culposo, é autorizada a concessão do perdão judicial (§8º).
Os §§7º e 12 preveem causas de aumento de pena.
Agora, vamos destacar as lesões corporais envolvendo a violência
doméstica em que o legislador entendeu se tratar de condutas com
maior reprovabilidade, uma vez que o agente se vale das relações
domésticas presentes ou pretéritas para perpetrar a ação danosa.
Relações domésticas podem ser entendidas como aquelas que se
“travam entre os membros de uma mesma família, frequentadores
habituais da casa, amigos, empregados domésticos, a coabitação é um
estado de fato, pelo qual duas ou mais pessoas convivem no mesmo
lugar; a hospitalidade é a coabitação temporária, mediante
consentimento tácito ou expresso do hospedeiro” (PRADO, 2019, p. 849-
850).
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Importante registrar que a recente Lei nº 14.188/2021 alterou a
dinâmica das lesões corporais em contexto doméstico. Vejamos:
Se a lesão for praticada contra a mulher, por razões da condição
do sexo feminino, estamos diante da conduta prevista no §13 do
art. 129, com pena de reclusão de 1 a 4 anos.
Nos demais casos (ex.: vítima homem), a conduta continua sendo
tipificada no §9º do art. 129, com pena de 3 meses a 3 anos.
Esses dois parágrafos trazem novos preceitos secundários e, por isso,
são considerados qualificadoras da lesão corporal.
Atenção
O §13 não pune apenas as lesões praticadas no âmbito doméstico, mas
também em razão da condição do sexo feminino, e isso não
necessariamente vai se dar no contexto doméstico.
Se a mulher for lesionada no contexto doméstico em situação que não
diz respeito à sua condição de mulher, aplica-se o §9º. É o caso, por
exemplo, de duas irmãs que moram juntas e brigam por questões de
herança. Mas se a lesão contra a mulher ocorrer (estando no contexto
doméstico ou não) pela questão de gênero, aplica-se o §13.
Por fim, inovações legislativas trouxeram novas causas de aumento.
Se a lesão for grave, gravíssima ou seguida de morte (§10),
ou a vítima for pessoa com de�ciência (§11), a pena será
aumentada em 1/3 se praticados no contexto doméstico.
Sobre as ações penais, as lesões leves e culposas são julgadas pelo rito
dos Juizados Especiais Criminais, nos termos da Lei nº 9.099/1995. Os
crimes de violência doméstica e familiar contra a mulher são julgados
nos Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher (art. 14,
da Lei nº 11.340/2006), mas caso eles ainda não estejam estruturados,
o julgamento se dará em Vara Criminal Comum. Conforme a Súmula
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536, do STJ, não são cabíveis, nestes casos, (violência doméstica contra
mulheres) a suspensão condicional do processo e a transação penal.
Quanto à natureza da ação penal, ela será pública condicionada à
representação nos casos de lesão leve, culposa e de violência
doméstica.
Neste último caso (violência doméstica), se praticados contra mulher, a
ação será pública incondicionada (SUM 542, STJ), bem como nos casos
restantes.
Periclitação da vida e da saúde
Perigo de contágio venéreo (art. 130, CP)
Em que pese haver críticas contra a existência de crimes de perigo
abstrato, entende-se, majoritariamente, que basta a exposição a
contágio de moléstia venérea para a consumação do crime. O núcleo do
tipo é o verbo expor, sendo a forma tanto por relações sexuais quanto
por atos libidinosos.
Saiba mais
Moléstia venérea é um elemento normativo extrajurídico do tipo, já que a
lei penal não define exatamente no que consiste. Sífilis, cancro mole são
alguns exemplos. Mas não se esqueça de que a norma penal tem
interpretação restritiva em respeito ao princípio da legalidade. A AIDS
não é considerada moléstia venérea para os fins deste crime.
O sujeito ativo aqui é qualquer pessoa contaminada com moléstia
venérea, homem ou mulher (crime comum). O sujeito passivo também,
desde que, evidentemente, já não esteja contaminado pela moléstia, o
que configuraria crime impossível (art. 17, CP), ou que consinta com o
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ato, sabendo da moléstia. O exercício da prostituição não afasta a
possibilidade de ser vítima desse crime.
O crime em comento só existe na modalidade dolosa, podendo ser
Dolo direto
O agente sabe que está contaminado, vez que consciente e
voluntariamente cria o perigo de contágio.
Dolo eventual
O agente deveria saber que está contaminado.
Estamos diante de um crime instantâneo que se consuma
no ato sexual, sendo certo que o contágio efetivo vai in�uir
na quantidade de pena, mas não na consumação. E a
tentativa é admitida.
Caso o agente tenha a intenção de contaminar seu parceiro, estaremos
diante da modalidade qualificada, com pena de reclusão de 1 a 4 anos e
multa (§1º) e o dolo passará a ser de dano e não mais de perigo.
O crime do caput possui menor potencial ofensivo e é julgado nos
Juizados Especiais Criminais. O crime qualificado é julgado na Vara
Criminal Comum. E ambos só se procedem mediante representação
(§2º).
Perigo de contágio de moléstia grave (art. 131)
O crime do art. 131 tem como núcleo do tipo praticar ato capaz de
produzircontágio. E repare que o elemento subjetivo do tipo abrange,
necessariamente, a finalidade de transmissão de moléstia grave. O dolo
consiste, portanto, em transmitir a moléstia. Por isso, estamos diante de
um crime formal (não se exige o resultado contaminação) com dolo de
dano e não dano de perigo, embora o legislador tenha erroneamente
assim o caracterizado.
Moléstia grave, como a venérea, também é elemento normativo
extrajurídico do tipo e quem as define é o saber das ciências médicas.
Exemplo
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Podemos citar AIDS, febre amarela, lepra, difteria, cólera, sarampo, e
demais doenças transmissíveis por contágio.
O crime é comum, já que qualquer pessoa pode ser sujeito ativo e
passivo. E a mesma observação sobre crime impossível feita acima vale
aqui também, isto é, se a vítima já está contaminada, a conduta é atípica
por impropriedade absoluta do meio.
Não existe previsão de modalidade culposa e a tentativa é
admitida.
Por fim, destacamos que a ação penal é incondicionada. E como a pena
cominada é de reclusão de 1 a 4 anos e multa, o julgamento é feito pela
Vara Criminal Comum.
Perigo para a vida ou saúde de outrem (art.
132)
O art. 132 traz previsão expressa de um crime subsidiário, pois se o fato
constituir crime mais grave, haverá subsunção a outro tipo penal. O
núcleo do tipo penal é o verbo expor, que pode ser realizado tanto de
forma positiva (ação comissiva) quanto de forma negativa (ação
omissiva).
Também temos aqui um crime comum, em que qualquer pessoa pode
ser sujeito ativo ou passivo, sendo certo, porém, que a vítima (ou mais
de uma) deve ser pessoa certa e determinada. Se assim não o for, o
agente incidirá no crime de perigo comum previsto no art. 250 e
seguintes do CP.
Quanto ao elemento subjetivo, note que o dolo é de perigo e que
consiste na vontade do agente de expor a vida ou a saúde de outra
pessoa. Ele pode ser:
Direto
Vontade dirigida à produção do perigo.
Eventual
O agente é indiferente à produção do perigo.
Aqui, também, a tentativa é plenamente possível.
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A pena cominada é de detenção de 3 meses a 1 ano, desde que o fato
não seja punível de forma mais grave. Além disso, há previsão de uma
causa especial de aumento no § único, nos casos em que o perigo é
produzido em decorrência do transporte de pessoas para a prestação de
serviços em estabelecimentos de qualquer natureza, em desacordo com
as normas legais. Para todos esses casos, a ação penal é pública
incondicionada e julgada nos Juizados Especiais Criminais.
Abandono de incapaz (art. 133, CP)
No crime do art. 133, o núcleo do tipo é o verbo abandonar, sendo
necessário que a pessoa abandonada esteja sob cuidado, guarda,
vigilância ou autoridade do agente.
O bem jurídico protegido aqui é a vida e a saúde daqueles que não
podem se defender do perigo causado pelo abandono.
Para con�guração do crime é necessário que se prove que
o abandono deixou a vítima em situação de perigo efetivo.
Sujeito ativo só pode ser aquele que tem uma relação especial de
custódia ou autoridade para com o sujeito passivo, por isso, trata-se de
um crime próprio. Entenda que essa relação jurídica entre sujeitos ativo
e passivo pode ser oriunda de preceitos da lei, de contrato ou até
mesmo de certos fatos lícitos e ilícitos, não sendo exigido que a
incapacidade seja aquela do Direito Civil. Mas a inexistência desse
vínculo pode implicar o delito de omissão de socorro do art. 135, como
veremos a seguir.
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O crime se consuma instantaneamente com produção do perigo
concreto à vida ou à saúde, ainda que nada ocorra efetivamente com a
vítima. E isso pode se dar tanto de forma positiva (crime comissivo)
quanto de forma negativa (crime omissivo). De toda forma, a pena é de
detenção de 6 meses a 3 anos.
Quanto ao elemento subjetivo, o dolo pode ser tanto direto quanto
eventual, e a forma culposa não é admitida por lei. A tentativa, por outro
lado, é admitida.
Os §§1º e 2º trazem figuras típicas qualificadas e ambos são crimes
preterdolosos. Aqui, a pena será de reclusão de 1 a 5 anos se resultar
lesão corporal grave, e de 4 a 12 anos se resultar a morte. Já no §3º,
observe que temos três causas de aumento.
Todas essas modalidades são de ação penal incondicionada e julgadas
pela Vara Criminal Comum.
Exposição ou abandono de recém-nascido (art.
134)
O art. 134 prevê uma espécie privilegiada de abandono em razão da
motivação do sujeito ativo. Isso porque, embora o núcleo do tipo sejam
abandonar e expor, a finalidade de ocultar desonra própria veio
insculpida no tipo penal.
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É, portanto, um delito especial próprio, pois apenas a mãe que concebeu
a criança extra matrimonium ou o pai adulterino ou incestuoso que
podem ser sujeitos ativos do crime. O sujeito passivo, obviamente, é o
recém-nascido, cuja vida e saúde são protegidas pelo bem jurídico
tutelado.
Quanto ao elemento subjetivo, o dolo pode ser:
Mais uma vez, a modalidade culposa não é prevista em lei.
O delito pode se dar tanto de forma positiva (crime comissivo) quanto
de forma negativa (crime omissivo), com pena cominada de detenção
de 6 meses a 2 anos. Também é admitida a tentativa.
Como no crime anterior, os §§1º e 2º trazem figuras típicas qualificadas
pelo resultado (ambos são crimes preterdolosos). A pena será de
detenção de 1 a 3 anos se resultar lesão corporal grave e de 2 a 6 anos
se resultar a morte, lembrando que, nesses casos, a lesão e a morte são
produzidas a título de culpa.
 Direto
Quando o agente possui consciência e vontade de
expor o recém-nascido a perigo concreto e com o
especial fim de agir de ocultar desonra própria.
 Eventual
Quando o agente assume o risco de produzir o
perigo.
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Por fim, a ação penal será pública incondicionada para todas as figuras
típicas. Mas o crime do caput será julgado nos Juizados Especiais
Criminais, por ser de menor potencial ofensivo, enquanto as espécies
qualificadas na Vara Criminal Comum.
Omissão de socorro (art. 135)
Como nos demais crimes deste capítulo, a previsão do art. 135 visa
proteger a vida e a saúde humana, sobretudo da pessoa necessitada de
auxílio. Como a omissão de socorro se funda no dever de solidariedade,
o núcleo do tipo é deixar de prestar (assistência).
O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa (crime comum), mas conforme
as circunstâncias, poderá se configurar o abandono de incapaz,
anteriormente visto (art. 133), ou até mesmo abandono material (art.
244). O sujeito passivo é aquele que se encontra nas situações descritas
no tipo penal.
Atenção
Se várias pessoas não prestam assistência, todas respondem pelo art.
135; entretanto, se ao menos uma delas assistir à vítima, não há que se
falar em crime. Além disso, a atuação só é exigida se não causar risco
pessoal.
Estamos diante de um crime omissivo próprio (há somente a omissão
de um dever de agir), em que o crime se consuma no momento da
omissão. E como podemos perceber, o dolo aqui é o de perigo, que o
sujeito ativo deve conhecer. A tentativa não é admitida, pois é
incompatível com o crime omissivo.
O legislador também previu causa de aumento para a omissão de
socorro no § único.
Veja que novamente temos uma modalidade de crime preterdoloso, em
que só há dolo na omissão, e o resultado é obtido a título de culpa, seja
a lesão grave ou a morte.
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A ação penal é públicaincondicionada para todos os casos e o
julgamento realizado pelos Juizados Especiais Criminais.
Condicionamento de atendimento médico-
hospitalar emergencial
Em 2012, diante dos inúmeros casos em que pacientes chegavam em
situação de emergência aos hospitais e só conseguiam atendimento
após realização de pagamento ou promessa de pagamento, o legislador
decidiu criminalizar esse comportamento, indicando que a vida e a
saúde humana se sobrepõem a interesses patrimoniais.
O sujeito ativo aqui pode ser qualquer pessoa (crime comum), desde
que responda pelos interesses dos estabelecimentos médicos. O sujeito
passivo é aquele que necessita de atendimento.
O elemento subjetivo é o dolo, consistente na consciência e vontade de
exigir pagamento como condição para prestação do atendimento
médico-hospitalar em situação emergencial e o delito se consuma com
a simples exigência de pagamento (crime de mera atividade). A
tentativa, apesar de difícil configuração no caso concreto, é admitida.
Os crimes são julgados pelos Juizados Especiais Criminais e a ação
penal é pública incondicionada.
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Maus-tratos (art. 136)
Chegamos ao último crime deste módulo, o crime de maus-tratos. Aqui,
também se protege a vida e a saúde, tendo como núcleo do tipo o verbo
expor (a perigo).
O sujeito ativo só pode ser quem tenha pessoa sob autoridade, guarda
ou vigilância (crime próprio), enquanto o sujeito passivo é quem esteja
submetido a ela. Mas atenção, o tipo exige uma finalidade específica,
isto é, a exposição a perigo tem por finalidade educação, ensino,
tratamento ou custódia e isso pode ser executado de diferentes formas,
trazidas na parte final do tipo.
Maus-tratos é um crime doloso (direto ou eventual), em que o agente
produz com consciência e vontade o perigo para obter a finalidade
específica. A consumação se dá, portanto, com a exposição ao perigo, e
a conduta pode ser tanto positiva (comissiva) quanto negativa
(omissiva). A modalidade tentada é admitida e a pena atribuída é de 2
meses a 1 ano, ou multa.
Atenção
Se a intimidação ou o castigo importarem em intenso sofrimento, o
crime é o de tortura (art. 1º, I, Lei nº 9.455/1997).
Se a criança ou adolescente forem submetidos a vexame ou
constrangimento por quem lhe tem autoridade, incidirá nas penas do art.
232 do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).
A ação penal é pública incondicionada para todos os casos, mas a
conduta do caput é julgada pelos Juizados Especiais Criminais e pelas
demais pelas Varas Criminais Comuns.
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Falta pouco para atingir seus objetivos.
Vamos praticar alguns conceitos?
Questão 1
(Delegado de Polícia Civil – RN / 2021) Saulo se desentendeu, na
fila do caixa de um supermercado, com outra consumidora, Viviane,
que estava no 8º mês de gestação, e lhe desferiu um fortíssimo
soco no rosto. Em razão do golpe, Viviane perdeu o equilíbrio e caiu
com a barriga no chão. Ao ser levada ao hospital, foi constatado
que Viviane apresentava lesão leve na face, mas que havia perdido
o bebê em decorrência da queda. Considerando o estado gravídico
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evidente de Viviane, a conduta praticada por Saulo configura o
crime de
Parabéns! A alternativa B está correta.
A questão narra um crime qualificado pelo resultado (crime
preterdoloso), ou seja, o agente possui dolo na lesão corporal,
porém, não tinha consciência e vontade de praticar o aborto na
gestante, que se dá na forma culposa. O Código Penal traz essa
figura expressamente no art. 129, § 2º, V.
Questão 2
(Analista Jurídico do Ministério Público – SP / 2018) A respeito
dos crimes contra a periclitação da vida e da saúde, previstos no
Código Penal, é correto afirmar que
A lesão corporal seguida de morte.
B lesão corporal qualificada pelo aborto.
C aborto na modalidade dolo eventual, apenas.
D aborto culposo, ficando a lesão corporal absorvida.
E
lesão corporal leve em concurso formal com aborto
na forma culposa.
A
o crime de abandono de incapaz somente se
configura se o dever de cuidado do autor para com o
incapaz decorre de relação familiar.
B
o crime de contágio de moléstia grave, para se
configurar, exige que a exposição a contágio ocorra
por relação sexual ou qualquer outro ato libidinoso.
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Parabéns! A alternativa E está correta.
O crime de abandono de incapaz não exige que a relação entre os
sujeitos ativo e passivo seja familiar. O crime de contágio de
moléstia grave não se dá apenas por relações sexuais, apesar de
também ser possível. Apenas o perigo de contágio venéreo que
ocorre pela via sexual. Já o crime do art. 135-a não restringe o
sujeito ativo apenas ao médico, sendo certo que qualquer pessoa
que responda pelo estabelecimento médico-hospitalar pode ser
também sujeito ativo (ex.: recepcionista). A omissão de socorro
abrange duas possibilidades de forma alternativa, ou seja, se o
agente não prestou assistência, mas pediu socorro, o crime não se
configura.
C
o crime de condicionamento de atendimento
médico-hospitalar emergencial é próprio de médico,
não se configurando se a condição é imposta por
pessoa diversa.
D
o crime de omissão de socorro se caracteriza pela
conduta de deixar de prestar assistência, quando
possível, ainda que o agente peça socorro à
autoridade pública.
E
todos, sem exceção, não admitem a modalidade
culposa.
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3 - Rixa e crimes contra a honra
Ao �nal deste módulo, você deverá ser capaz de reconhecer os principais conceitos sobre os
crimes contra a honra e o crime de rixa.
Rixa (art. 137)
Rixa é um crime que também visa proteger o bem jurídico da vida e da
saúde humana e consiste na participação em briga entre mais de duas
pessoas, envolvendo vias de fato recíprocas de forma desorganizada
(ROIG, 2011, p. 76). Ou seja, é preciso que ao menos três pessoas
participem (crime plurissubjetivo), excluindo, evidentemente, aquela que
entra para separar os contendores.
O núcleo do tipo é participar e, para fins do artigo, pouco importa o
momento em que o agente ingressou na rixa, se desde o início ou não.
Além disso, estamos diante de um crime comum, já que os sujeitos
ativo e passivo podem ser qualquer pessoa. Mas perceba a
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peculiaridade desse tipo penal, pois os participantes são sujeitos ativo e
passivo ao mesmo tempo.
Ele é contabilizado para fins de enquadramento da rixa, mas não
é considerado sujeito ativo, pois sua culpabilidade é excluída
(arts. 26 e 27, CP).
A rixa se consuma com a prática do embate violento que
causa perigo de dano, não havendo previsão da
modalidade culposa. A tentativa só é admitida na rixa
combinada (ex proposito), e não na rixa de improviso (ex
improviso).
O § único traz para nós a figura qualificada pelo resultado (crime
preterdoloso), em caso de lesão grave ou morte.
Atenção
O agente só responde pela modalidade qualificada se tiver ingressado
na rixa antes do resultado ocorrer.
A ação penal nesses casos é pública incondicionada e tanto o fato
típico do caput quanto do § único são julgados pelo rito dos Juizados
Especiais Criminais, por serem infrações de menor potencial ofensivo.
Crimes contra a honra
Vejamos agora os crimes contra a honra e suas espécies. Com a
palavra, a especialista Renata Saggioro, mestre em Direito. Vamos lá!
E o inimputável? 

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Crimes contra a honra (arts. 138 a
145)
Os crimes deste capítulo visam proteger a honra das pessoas e, para a
doutrina, ela é dividida em duas espécies (PRADO, 2019, p. 931):
Objetiva
É a reputação do indivíduo dentro de sua comunidade.
Subjetiva
Diz respeito ao decoro, ao sentimento de dignidade próprio.
O Código Penal prevê três modalidades de crimes contra a honra:

Calúnia

Difamação

Injúria
Já adiantamos que a calúnia e a difamação vão atingir a honra objetiva
da pessoa, e a injúria atingirá a subjetiva.
Calúnia (art. 138, CP)
A calúnia consiste na falsa imputação de fato definido como crime, isto
é, atribui-se falsamente a terceiro a prática de um delito.
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Atenção
Em homenagem ao princípio da legalidade, o crime não se configura se
a imputação falsa for de contravenção penal, tampouco uma imputação
genérica.
Observe que o núcleo do tipo são caluniar e imputar, e os sujeitos ativo e
passivo podem ser qualquer pessoa (crime comum). A lei penal também
pune aquele que, sabendo ser falsa a imputação, mesmo assim a
propaga (§1º).
Destacamos que o crime é comisso e admitido na modalidade dolosa
(dolo direto ou eventual).
Como atinge a honra objetiva, o crime se consuma apenas
se a falsa imputação chegar ao conhecimento de um
terceiro que não a vítima.
Por isso, é um crime formal, pois não se exige o efetivo dano à
reputação do ofendido. A tentativa só é admitida na forma escrita, visto
que não há como tentar caluniar alguém oralmente.
O §2º dispõe ser punível a calúnia contra mortos, mas neste caso, o
sujeito passivo não é o morto, e sim seus familiares. O §3º, por sua vez,
admite a exceção da verdade, isto é, se o acusado apresentar prova de
que diz a verdade, ele não responderá pela calúnia. Os incisos I, II, e III,
no entanto, dispõem hipóteses em que a exceptio veritatis não será
aceita.
O crime de calúnia será julgado pelo rito dos Juizados Especiais
Criminais.
Difamação (art. 139, CP)
Diferentemente da calúnia, difamar significa imputar fato ofensivo (e
não crime) à reputação da vítima, de forma a atingir sua honra objetiva.
O núcleo do tipo é o verbo imputar e os sujeitos ativo e passivo podem
ser qualquer pessoa (crime comum).
Trata-se de crime comissivo que só admite a modalidade dolosa cuja
finalidade é ofender outra pessoa e que se consuma quando a
imputação ofensiva chega ao conhecimento de terceiro, que não a
vítima.
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É também um crime formal, pois basta que a ofensa seja feita, isto é,
não importa, para fins de consumação, que a honra tenha sido
efetivamente atingida. Mas lembre-se, é preciso que a imputação seja
feita de forma séria (animus diffamandi), sendo certo que a intenção de
brincar (animus jocandi) não é punível.
Só se admite a tentativa na forma escrita e, ao contrário dela, não há
previsão de crime para a difamação de mortos. Quanto à exceção da
verdade (§ único), a regra geral é não ser cabível nos casos de
difamação, salvo se o ofendido for funcionário público e a ofensa for
relativa ao exercício de suas funções.
A competência é dos Juizados Especiais Criminais.
Injúria (art. 140, CP)
A injúria consiste na atribuição de qualidade negativa ou imputação de
um fato genérico, ofensivo à honra subjetiva. Difere da difamação em
que se atribui um fato ofensivo.
Veja esses dois exemplos:
Difamação
“João está devendo
todo o bairro.”
Injúria
“João é um pilantra.”
Trata-se de um crime comissivo doloso, cuja finalidade do agente é
ofender a honra subjetiva da vítima, sendo certo que basta que o próprio

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ofendido tome ciência da ofensa para que o delito ocorra (formal).
Também estamos diante de um crime comum, visto que os sujeitos
ativo e passivo podem ser qualquer pessoa. E como nos demais crimes
contra a honra, a tentativa só é admitida na forma escrita.
A injúria não admite a exceção da verdade.
O §1º admite duas hipóteses de perdão judicial. Os §§2º e 3º trazem
modalidades de injúria qualificada. Vejamos:
Injúria real
No §2º temos a injúria real e que poderá absorver a contravenção
de vias de fato (é o caso, por exemplo, de alguém que dá um tapa
no rosto de alguém com a finalidade de humilhação).
Injúria discriminatória
No §3º temos a injúria discriminatória, relativa à utilização de
elementos referentes a raça, cor, etnia, religião ou origem.
Atenção
Atentemos a duas figuras comumente confundidas: a injúria racial e o
racismo.
O crime de racismo (art. 20, Lei nº 7.7716/1989) tem uma pregação
genérica contra determinada raça etnia, religião ou origem, ou seja, são
ofensas que atingem a toda uma coletividade, um número
indeterminado de pessoas. No caso da injúria racial, a intenção é de
ofender, especificamente, a honra de alguém determinado (ROIG, 2011,
p. 84).
A pena da injúria qualificada é de reclusão de 1 a 3 anos e multa.
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Disposições comuns aos crimes contra a honra
Vejamos o que dispõe a doutrina:
Destacamos também que, em razão dos crimes contra a honra se darem
de forma livre, é possível que a vítima peça explicações em juízo, no
intuito de melhor compreender determinadas ambiguidades e esclarecer
o ocorrido (art. 144).
A ação penal para todos os crimes contra a honra será privada,
procedida assim, mediante queixa, e julgada pelos Juizados Especiais
Criminais.
Há, contudo, exceções:
1. A injúria real que resulta lesão corporal (ação penal pública
incondicionada);
2. Quando o ofendido for o Presidente da República ou chefe de
governo estrangeiro (mediante requisição do Ministro da Justiça);
Artigo 141
Traz causas de aumento
relacionadas ao sujeito passivo
(incisos I, II e IV), ao modo de
execução (inciso III e §2º) e ao
meio de execução (§1º).
Artigo 142
Traz hipóteses de exclusão do
crime de injúria e difamação
(não abrange a calúnia).
Artigo 143
Prevê a retratação nos casos de
calúnia e difamação (não
abrange a injúria).
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3. Quando o ofendido for funcionário público ou se tratar de injúria
qualificada do §3º (mediante representação).
Falta pouco para atingir seus objetivos.
Vamos praticar alguns conceitos?
Questão 1
Quanto ao crime de rixa, assinale a alternativa correta:
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Parabéns! A alternativa B está correta.
No crime de rixa, o concurso de agentes é necessário, por isso, ele é
plurissubsistente. Além disso, a posição dos contendores não
precisa ser definida, pois as agressões são generalizadas. A lei não
previu a modalidade culposa e o inimputável, apesar de não
culpável, pode ser contabilizado para fins de atingir o mínimo de
três pessoas exigido. Pois não há fim especial de agir e tampouco
se exige a existência de lesões para incidência do caput, do art. 137,
CP.
Questão 2
No que se refere aos crimes contra a honra, assinale a alternativa
correta:
A
Constitui um crime plurissubsistente e comissivo,
em que o concurso de agentes é eventual.
B
Não se exige qualquer fim especial de agir. Pune-se
a troca de agressões, independentemente de
qualquer dos participantes resultar ferido.
C
Caracteriza-se pela ocorrência de agressões
recíprocas generalizadas, mesmo estando
claramente definida a posição dos contendores.
D É possível a modalidade culposa da rixa.
E
O inimputável não é contabilizado para a
configuração da rixa.
A
A difamação e a injúria são crimes contra a honra,
sendo que a injúria atinge a honra objetivada vítima,
e a difamação, a honra subjetiva.
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Parabéns! A alternativa B está correta.
Calúnia e difamação atingem a honra objetiva, já a injúria, a honra
subjetiva.
Imputar falsamente fato criminoso a outra pessoa configura crime
de calúnia. A retratação, cabível apenas nos crimes de calúnia e
difamação, se anterior à sentença, isenta o acusado de pena. E a
exceção da verdade não é cabível para injúria.
B
Nos crimes contra a honra, a retratação do ofensor
somente é possível nos crimes de calúnia e
difamação.
C
Maria, proprietária de um supermercado, sabendo
que seu próprio filho praticara furto em seu
estabelecimento, atribuiu ao empregado José tal
responsabilidade, dizendo ser ele o autor do delito.
Maria cometeu o crime de calúnia.
D
Nos crimes de calúnia ou difamação, se o querelado
se retratar antes da sentença será condenado com
atenuante de pena.
E
É cabível a exceção da verdade na difamação e na
injúria.
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4 - Crimes contra a liberdade individual
Ao �nal deste módulo, você deverá ser capaz de classi�car os tipos penais contra a liberdade
individual.
Crimes contra a liberdade pessoal
Vejamos agora as diversas espécies de crimes contra a liberdade
pessoal. Com a palavra, a especialista Renata Saggioro, mestre em
Direito. Vamos lá!
Crimes contra a liberdade pessoal
(arts. 146 a 149-A, CP)
Constrangimento ilegal (art. 146, CP)

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O crime consiste em obrigar alguém a não fazer o que a lei permite ou
fazer o que ela não manda, por meio do emprego de violência, grave
ameaça ou redução da capacidade de resistência. Trata-se de um crime
que é para ser lido em conjunto com o art. 5º, II, CF, pois sabemos que o
indivíduo pode fazer tudo o que a lei não proíbe expressamente. Por
isso, o núcleo do tipo é o verbo constranger e abrange diversas
condutas diferentes.
Sujeitos ativo e passivo podem ser qualquer pessoa (crime comum).
Atente-se, contudo, que se o agente for funcionário público, vai incidir o
art. 322, CP ou art. 4º, b, da Lei nº 4.898/1965 (abuso de autoridade).
O crime só é previsto na modalidade dolosa e se consuma
quando o ofendido faz ou deixa de fazer alguma coisa
(crime material). A tentativa é admissível.
A ação penal é pública incondicionada e seu processo e julgamento são
realizados nos Juizados Especiais Criminais.
Ameaça (art. 147, CP)
O núcleo do tipo é o verbo ameaçar, que pode se dar por diferentes
meios e, para configuração do crime, não se exige que a vítima de fato
tenha se sentido ameaçada.
Atente-se que na ameaça se promete um mal injusto. A promessa de
ajuizamento de ação, por exemplo, não é ameaça, pois a conduta é
lícita.
Diferentemente do constrangimento ilegal, a ameaça aqui é um fim em
si mesmo e não meio para constranger a vítima.
Sujeitos ativo e passivo podem ser qualquer pessoa (crime comum),
mas o ofendido deve possuir entendimento da ameaça. Temos aqui um
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crime doloso e a consumação se dá no momento em que a vítima toma
conhecimento da ameaça (crime formal). A tentativa é admitida.
Procede-se mediante representação (§ único) e é julgado pelo rito dos
Juizados Especiais Criminais.
Perseguição (art. 147-A, CP)
Trata-se de recente inovação legislativa (Lei nº 14.132/2021) e prevê o
crime também conhecido por stalking (vigiar, perseguir). O núcleo do
tipo é perseguir e para configuração do crime exige-se reiteração
(habitualidade). Quanto ao meio de execução, não há nenhuma
exigência determinada, podendo se dar, inclusive, fora do contexto das
redes sociais (cyberstalking).
Cena da série You (2018), da Netflix.
O sujeito ativo é qualquer pessoa e o sujeito passivo também (crime
comum). Todavia, o legislador previu causas de aumento a depender da
qualidade da vítima (§1º, I e II). A pena também aumenta se praticado
em concurso de pessoas ou com emprego de arma (§1º, III). As penas
relativas à violência também são aplicadas, indicando o cúmulo material
obrigatório (§2º).
Estamos diante de um crime doloso e formal, pois a
consumação se dá com a reiteração da perseguição. Mas
por se tratar de um crime habitual – exige a reiteração – a
tentativa não é admitida.
A pena é de reclusão de 6 meses a 2 anos e multa, sendo, portanto, uma
infração de menor potencial ofensivo, julgada e processada nos
Juizados Especiais Criminais. No entanto, só se procede mediante
representação (§3º).
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Violência psicológica contra a mulher (art. 147-
B)
Aqui outra figura típica trazida pela recente Lei nº 14.188/2021,
responsável também pela nova modalidade de lesão corporal
qualificada (art. 129, §3º, CP) já estudada no módulo 2.
O art. 147-B passou a prever, assim, o crime de violência psicológica
contra a mulher, cuja descrição já existia no art. 7º, II, da Lei nº
11.340/2006, mas sem o tipo penal correspondente. O legislador,
portanto, quis proteger a liberdade psíquica da mulher.
Sujeito ativo pode ser qualquer pessoa, mas o sujeito passivo
necessariamente deve ser a mulher, abrangendo, evidentemente, as
mulheres transexuais, ainda que sem cirurgia de redesignação sexual.
O crime é doloso, porém, a consciência e vontade são exigidas nas
condutas de ameaça, constrangimento, humilhação etc., sendo
irrelevante o desígnio de causar dano emocional.
Trata-se de crime material, pois, para sua consumação, é
exigido o dano emocional. E, apesar de ser possível a
modalidade tentada, esta é de difícil con�guração.
A pena cominada é de reclusão de 6 meses a 2 anos e multa, se a
conduta não constituir crime mais grave. A ação penal é incondicionada
e será julgada nos Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a
Mulher, lembrando que, em sua ausência, nas Varas Criminais Comuns
(Súmulas 536, 542 e 588, STJ).
Sequestro e cárcere privado (art. 148, CP)
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O crime consiste em privar alguém de sua liberdade, em especial a de ir
e vir. O art. 148 não demanda vantagem econômica (art. 159, CP), sendo
assim, o dolo consiste apenas na intenção de privar alguém de se
locomover e o crime pode se configurar tanto pela conduta positiva
(comissão) quanto pela negativa (omissão).
Sujeitos ativo e passivo podem ser qualquer pessoa (crime comum) e só
existe a modalidade dolosa. Além disso, estamos diante de um crime
material, em que é preciso a restrição de liberdade para a consumação
do crime, admitindo, inclusive, a modalidade tentada.
A pena do caput é de reclusão de 1 a 3 anos. Já os §§1º e 2º trazem
figuras típicas qualificadas com novos preceitos secundários (reclusão
de 2 a 5 anos e reclusão de 2 a 8 anos, respectivamente). Para todas as
hipóteses, a ação penal será incondicionada e tramitará pelo rito dos
Juizados Especiais Criminais.
Redução à condição análoga à de escravo (art.
149, CP)
O crime do art. 149 consiste na submissão de uma pessoa de forma
absoluta ao domínio de outra (ROIG, 2011, p. 93). Trata-se de um crime
bastante comum na área rural e nos grandes centros urbanos e o
legislador quis proteger a liberdade e a dignidade da pessoa humana.
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O crime é comum, pois os sujeitos ativo e passivo podem ser qualquer
pessoa e o crime só tem previsão em sua forma dolosa. Assim como o
crime anterior, é classificado como permanente, pois sua consumação
se protrai no tempo e é tambémmaterial, pois se dá quando a condição
análoga à de escravo se materializa. Por isso, admite tentativa.
Trata-se de crimes de ação penal pública incondicionada com processo
e julgamento pelas Varas Criminais Comuns.
Trá�co de pessoas (art. 149-A, CP)
Também visando proteger a liberdade e a dignidade humana, o crime do
art. 149-a visa coibir a objetificação de um ser humano por outro. Para
tanto, traz diversos comportamentos no caput (tipo misto alternativo)
que se aplicam às situações descritas nos cinco incisos.
Como podemos verificar, os sujeitos ativo e passivo podem ser qualquer
pessoa e só há previsão para a modalidade dolosa (direto ou eventual).
A consumação se dá no momento efetivo de tráfico, sem a exigência da
produção dos resultados dos incisos. Sendo assim, estamos diante de
um crime formal em que se admite a tentativa.
Trata-se de ação penal incondicionada. O processo e o julgamento são
feitos nas Varas Criminais Comuns.
Crimes contra a inviolabilidade do
domicílio (art. 150, CP)
Violação de domicílio (art. 150, CP)
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O tipo penal protege a liberdade individual, em especial a tranquilidade
doméstica e a paz íntima, sendo o núcleo do tipo os verbos entrar ou
permanecer.
Atenção
Da leitura do art. 150, note que o consentimento do morador afasta a
tipicidade da conduta. Mas uma observação importante: estamos diante
de um crime subsidiário, isto é, se ele for elementar de outro crime (por
exemplo, furto), será absorvido.
E o que se entende por casa? O legislador explica nos §§4º e 5º.
O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa, já o sujeito passivo é o
morador. Isso significa que a entrada e permanência em residências
desabitadas não caracterizam o crime.
Perceba que quanto ao elemento subjetivo, o legislador apenas previu a
modalidade dolosa (dolo direto ou eventual) e para fins de consumação,
basta a entrada ou a permanência do agente no domicílio alheio (crime
de mera conduta), admitindo, portanto, a tentativa.
A ação penal é pública incondicionada e o processo e julgamento feitos
pelos Juizados Especiais Criminais.
Crimes contra a inviolabilidade de
correspondência (arts. 151 e 152)
Violação de correspondência (art. 151)
O tipo penal traz três espécies de crime (caput; §1º, I; e §1º, II, III, IV), e
visa proteger a liberdade individual sob o aspecto da liberdade de
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manifestação do pensamento (PRADO, 2019, p. 1034). O tipo penal do
caput, contudo, foi revogado pelo art. 40 da Lei nº 6.538/1978.
O núcleo do tipo para todos os crimes é o verbo devassar e a definição
de correspondência vem trazida no art. 47 da Lei nº 6.538/1978.
A doutrina se divide sobre a possibilidade de ser considerada
para fins do art. 151 (ROIG, 2011, p. 96; PRADO, 2019, p. 1036).
Sujeito ativo pode ser qualquer pessoa, com exceção, evidentemente, do
remetente e do destinatário, que são os sujeitos passivos do crime.
Quanto ao elemento subjetivo, só há previsão legal de crime doloso e
este se consuma quando o agente toma conhecimento do conteúdo da
correspondência, por isso, é um crime de mera atividade e que admite
tentativa.
Os crimes do caput e §1º são de competência dos Juizados Especiais
Criminais e os demais das Varas Criminais Comuns.
Por fim, a ação penal é condicionada à representação em todos os
casos, salvo nos casos do art., §1º, IV, e do §3º.
Crimes contra a inviolabilidade dos
segredos (arts. 153 a 154-B)
Crimes contra a inviolabilidade dos segredos
(arts. 153 a 154-B)
E a correspondência eletrônica? 
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O tipo penal visa proteger a intimidade (art. 5º, X, CF), mais
precisamente, o segredo cuja divulgação pode causar dano a outrem. O
núcleo consiste no verbo divulgar, isto é, tornar público, o que exige,
necessariamente, que seja divulgado a um número indeterminado de
pessoas.
O sujeito ativo é aquele que detém a correspondência confidencial ou
seu destinatário, por isso, é um delito próprio. O sujeito passivo é a
pessoa sujeita ao dano com a divulgação do segredo.
O legislador só previu a modalidade dolosa e sendo um crime de mera
conduta, basta a divulgação, ou seja, não é necessária a materialização
de efetivo dano. Admite-se, assim, a tentativa.
A conduta do caput tem pena cominada de detenção de 1 a 6 meses ou
multa, e a ação penal é pública condicionada à representação (§1º). Já
o §1º-a prevê a figura qualificada, sendo certo que se houver prejuízo
para a Administração Pública, a ação penal será incondicionada.
Lembre-se de que a conduta do caput é julgada pelos Juizados
Especiais Criminais e a modalidade qualificada pela Vara Criminal,
podendo ser tanto estadual quanto federal.
Violação de segredo pro�ssional (art. 154, CP)
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O crime do art. 154 visa proteger os segredos que são obtidos em razão
de atividade profissional em homenagem à confiança para seu
exercício.
O sujeito ativo é aquele que tem conhecimento do segredo, em razão de
sua atuação (crime próprio) e o sujeito passivo aquele que pode sofrer
algum dano com sua divulgação.
O crime só é previsto na modalidade dolosa e se consuma com a
divulgação (crime formal), sendo admitida a forma tentada.
A ação é pública condicionada à representação (§ único), com processo
e julgamento feitos pelos Juizados Especiais Criminais.
Invasão de dispositivo informático (art. 154-A,
CP)
Trata-se de crime incluído pela Lei nº 12.737/2012 (Lei Carolina
Dieckmann), e alterado pela recente Lei nº 14.155/2021.
O núcleo do tipo consiste em invadir dispositivo informático de uso
alheio e o bem jurídico tutelado é a privacidade alheia.
Sujeitos ativo e passivo podem ser qualquer pessoa (crime comum) e só
é admitida a modalidade dolosa, com consumação no momento da
invasão.
O §1º traz uma forma equiparada, e os §§2º e 5º, as causas de
aumento. Já o §3º é a forma qualificada que pode ter a pena aumentada
na hipótese do §4º.
Do art. 154-b extrai-se que a ação se procede mediante representação,
mas será pública incondicionada se os crimes forem praticados contra a
administração pública direta ou indireta de qualquer Poder da União, dos
estados, do Distrito Federal ou dos municípios, ou contra empresas
concessionárias de serviços públicos.
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Falta pouco para atingir seus objetivos.
Vamos praticar alguns conceitos?
Questão 1
(Delegado de Polícia/SP – 2018) No que concerne ao crime de
constrangimento ilegal (CP, art. 146), é correto afirmar que
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Parabéns! A alternativa E está correta.
O crime do art. 146 consiste no ato de constranger alguém a não
fazer o que a lei permite, ou a fazer o que ela não manda. Lembre-se
de que a lei não prevê a modalidade qualificada para esse crime e a
grave ameaça também pode ser o meio de exercício do
constrangimento.
Questão 2
(Agente de Polícia Civil/AC – 2017) O delito de sequestro ou
cárcere privado é classificado como crime
A tipifica-se o crime, apenas, pela ação violenta, não
havendo previsão legal para punição por mera grave
ameaça.
B
qualifica o tipo a concorrência de 3 (três) ou mais
agentes.
C
tipifica o crime a coação exercida para impedir
suicídio, o que se explica pelo fato de o suicídio não
ser penalmente relevante.
D
tipifica o crime a intervenção médica ou cirúrgica,
sem o consentimento do paciente ou de seu
representante legal, mesmo se justificada por
iminente perigo de vida.
E
consuma-se quando avítima, sem norma legal que a
obrigue a tanto, faz ou deixa de fazer, cedendo à
determinação do agente.
A continuado e de perigo.
B permanente e de dano.
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Parabéns! A alternativa B está correta.
Sequestro e cárcere privado são um crime permanente e de dano.
Permanente, pois a consumação se protrai no tempo; de dano, pois
há uma efetiva lesão ao bem jurídico que, no caso, se trata da
liberdade individual de locomoção. O crime continuado corresponde
ao concurso de crimes em que o agente pratica dois ou mais
crimes da mesma espécie, mediante duas ou mais condutas, os
quais, pelas condições de tempo, lugar, modo de execução e outras,
podem ser tidos uns como continuação dos outros. O crime
habitual consiste na prática reiterada e uniforme de vários atos que
revelam um criminoso estilo de vida do agente.
Considerações �nais
Como podemos perceber, trata-se de crimes bastante diversos entre si e
com diversas inovações legislativas que vão sendo somadas à redação
original do Código Penal, datado de 1940.
O estudo da Parte Especial do Código Penal não deve ser separada do
estudo da Parte Geral, pois é de lá que tiraremos as ferramentas para
sua aplicação. Sabemos que o direito penal promove forte intervenção
na esfera individual e, por isso, demanda aplicação cautelosa e
individualizada. Não podemos nunca esquecer que o que está em jogo é
a liberdade e, em última análise, a dignidade humana.
C permanente e de perigo.
D continuada e de dano.
E habitual e de perigo.

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Podcast
Para encerrar, a especialista Renata Saggioro trata de forma sintética
dos crimes contra a pessoa. Vamos ouvir!
Explore +
Para se aprofundar sobre o tema do feminicídio e os limites da
criminalização de condutas como forma de enfrentar a violência de
gênero, leia o artigo O feminicídio nas fronteiras da América Latina: um
consenso?, de Aline Passos, publicado na revista Ecopolítica, n. 12, mai-
ago, p. 70-92, em 2015.
Para uma reflexão sobre o tema do aborto, leia a Pesquisa nacional de
aborto 2016, de Debora Diniz, Marcelo Medeiros e Alberto Madeiro,
publicada na revista Ciência e Saúde Coletiva, v. 22, n. 2, p. 653-660, em
fevereiro de 2017.
Sobre um debate mais aprofundado a respeito dos crimes contra a
honra, leia o livro Crimes contra a honra, de Frederico Abrahão de
Oliveira, publicado pela Livraria do Advogado, edição de 1994.
Para pensar a respeito do crime de homicídio, ouça o podcast Praia dos
Ossos, disponível em vários aplicativos de áudio.
Referências
PRADO, L. R. Curso de Direito Penal Brasileiro. 17. ed. Rio de Janeiro:
Forense, 2019.
29/09/2023, 12:18 Crimes contra a pessoa
https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/02370/index.html# 60/60
ROIG, R. D. E. Direito Penal 2: parte especial. 5. ed. São Paulo: Saraiva,
2011.
FÓRUM BRASILEIRO DE SEGURANÇA PÚBLICA. Anuário Brasileiro de
Segurança Pública. Ano 15, 2021. Consultado na internet em: 13 out.
2021.
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