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Radiologia Os exames pedidos devem possuir um objetivo claro e devem estar dentro da realidade socioeconômica dos pacientes. Antes de pedir um exame complementar, sempre devemos nos perguntar 3 coisas: O que eu procuro solicitando esse exame? Em que ele vai me auxiliar? Como ele vai alterar a minha conduta após ver os resultados? Levando em consideração o nível de atenção básica e disponibilidade dos métodos de imagem, serão recomendados para a paciente do caso: ● RX de tórax ● US de abdome ● Doppler de carótidas Radiografia de tórax É um exame amplamente disponível, possui baixo custo e com bom potencial para avaliar as câmaras cardíacas, parênquima pulmonar, derrame pleural e aorta. É interessante pesquisar derrame pleural e aorta, uma vez que a paciente apresentava dispnéia, alterações pressóricas, alterações de ECG e Ecocardiograma que remetiam lesões de órgãos-alvo. Ultrassonografia de abdome Também é amplamente disponível, com baixo custo e com bom potencial para avaliar o fígado, rins e aorta. É interessante pesquisar o fígado dessa paciente, uma vez que ela tem sinais de síndrome metabólica (pode haver esteatose hepática); os rins, devido a lesões de órgão-alvo (devido a HAS e DM2); aorta, por fazer parte do sistema cardiovascular, que também pode sofrer danos. Doppler de carótidas Esse exame é uma ferramenta que todo aparelho de ultrassom possui, portanto também é amplamente disponível e com baixo custo. Esse exame permite a avaliação da perviedade das artérias carótidas e vertebrais: se a perviedade estiver comprometida, o paciente pode apresentar algum nível de isquemia cerebral, podendo levar a um AVC. Outra avaliação importante é o complexo médio-intimal (avaliação das paredes arteriais), um importante marcador de risco cardiovascular. Radiografia de tórax No paciente do caso, é possível pesquisar cardiomegalia (lesão de órgão-alvo de HAS), congestão/edema pulmonar, derrame pleural e doença aterosclerótica da aorta. A congestão, edema pulmonar e derrame pleural poderiam ser características de uma ICC descompensada. ICT: se o resultado for >= a 0,5 há cardiomegalia. Lembre-se: a melhor incidência para o RX de tórax é PA (póstero anterior); isso se dá porque nesse caso o coração fica mais próximo da placa, apresentando-se menos distorcido. Silhuetas cardíacas Acima da aurícula esquerda há uma outra curvatura: a artéria pulmonar. A paciente do caso pode apresentar aumento do ventrículo esquerdo Nesse contexto, o Ventrículo Esquerdo aumentado será reconhecido pelas seguintes alterações: ● Proeminência e arredondamento dos contornos do VE ● Ápice apontando para baixo no PA ● Perfil: contorno posterior do VE abaulado, além da veia cava superior (sinal de Hoffman-Rigler) ↑ Proeminência e arredondamento dos contornos do VE: comparação de um ventrículo esquerdo aumentado com um coração normal. ↑ Outra alteração é o duplo contorno ao lado direito do coração, o que representa o aumento do átrio esquerdo. A linha apontada pela seta azul é o átrio esquerdo aumentado e a linha mais externa é o átrio direito. Na imagem de perfil, o coração com ventrículo esquerdo aumentado se alonga além da veia cava superior (fica mais para trás da veia cava posterior): A paciente do caso pode apresentar edema pulmonar O edema pulmonar pode ser reconhecido pelas seguintes alterações: ● Edema intersticial pulmonar: Linhas B de Kerley ● Opacificação do espaço aéreo nas regiões peri hilares centrais bilaterais e simétricas (padrão em “Asas de Morcego”) ● Derrame pleural: obliteração do seio costofrênico ● Cefalização da trama vascular ○ Redistribuição dos vasos para a região superior dos pulmões Quando o paciente começa a apresentar alterações de edema intersticial, isto é, quando o paciente começa a acumular líquidos, esse líquido inicialmente se acumulará nos septos interlobulares (e não dentro dos alvéolos). Normalmente o líquido que começa a se acumular é proveniente do sistema linfático, que não está depurando a linfa adequadamente. No RX, esse acúmulo de líquido nos septos interlobulares se manifesta com as linhas B de Kerley (indicam edema intersticial): A trama normalmente chega na periferia, mas não como as linhas B de Kerley, que são paralelas. Nota: quando esse líquido começa a se acumular cada vez mais, extravasa para o interior dos brônquios e alvéolos, criando uma opacidade mal delimitada ↓ As opacidades são representadas em ambos pulmões – não apresentam efeito retrátil nem de massa, portanto são chamadas de consolidação. A consolidação bilateral com concentração peri hilar, poupando os ápices pulmonares, são descritas como um padrão em “asas de morcego”, um sinal de edema pulmonar, que pode ser causado por insuficiência cardíaca. A obliteração dos seios costofrênicos (sua retificação) é um sinal de derrame pleural devido a presença dos líquidos – fisiologicamente esse seio deve ser bem angulado. Nessa imagem o que chama a atenção é a cardiomegalia, a obliteração dos seios costofrênicos (derrame pleural em ambos os lados), e proeminência das tramas vasculares no ⅓ superior, o que indica a cefalização da trama vascular: quando há edema decorrente de hipertensão cardíaca/pulmonar, a trama começa a se redistribuir para a região superior na tentativa de reperfundir melhor os pulmões. Nota: o normal é que o calibre dos vasos pulmonares seja menor no ápice e maior no ⅓ médio e inferior. No botão aórtico é possível identificar uma linha branca, o que é característico de uma placa de ateroma calcificada. Ultrassonografia de abdome Será feita uma avaliação do fígado (esteatose hepática), rins (nefropatias por HAS ou DM2) e aterosclerose aórtica (devido a síndrome metabólica). Essa avaliação se dá porque a paciente está inserida em um contexto de síndrome metabólica. Observe que o tom de cinza do parênquima hepático e da zona cortical do rim direito é muito semelhante; parece que os órgãos estão “grudados”, mas é possível notar que o rim possui uma linha branca, representada pela gordura do retroperitônio. Esse é o tom normal. Nessa imagem é possível observar o fígado mais branco (hiperecogênico) que de costume, indicando a esteatose hepática. Os tons de cinza do fígado e do rim direito são diferentes, dando a impressão que a zona cortical dos rins está mais escura (na verdade essa impressão se dá porque o fígado ficou mais hiperecogênico). É importante avaliar a esteatose hepática, pois ao longo prazo pode evoluir para esteatohepatite e, em última análise, cirrose hepática; na fase onde o fígado apresenta-se com a esteatohepatite, existe um processo de inflamação constante associado a reparação constante até que essa capacidade reparativa se perde e evolui para cirrose hepática. Como a esteatose hepática é assintomática, fica difícil o paciente entender que deve cuidar de sua alimentação, caso contrário pode apresentar cirrose hepática mesmo que nunca tenha tomado álcool. Os rins (US abdome) Conforme a nefropatia evolui, os rins tornam-se mais brancos (hiperecogênicos), reduzem suas dimensões (estágio final) e a região da zona cortical começa a se tornar mais delgada. Os rins da direita são característicos de nefropatia crônica. Aorta O líquido fica anecóico (preto) no US, por isso a aorta se apresenta preta. A imagem da direita é normal e a da esquerda apresenta placas de ateroma, destacadas de cor branca. Doppler de carótidas Um exame útil para a paciente, uma vez que ela possui síndrome metabólica, HAS, DM2, dislipidemia. Nesse exame é possível avaliar: ● Espessura do complexo médio-intimal ● Presença de aterosclerose ● Estenoses hemodinamicamente significativas ○ Podendo diminuir o fluxo sanguíneo para o cérebro As artérias possuem 3 camadas: íntima (endotélio), média (camada muscular) e camada adventícia. Ao unir a camada média com a íntima, tem-se o complexo médio-intimal, região onde ocorre a deposição de LDL (na verdade, na camada subendotelial). Através do doppler de carótidas, é possível medir a espessura desse complexo. A medida docomplexo médio-intimal deve ser feito na artéria carótida comum, devendo apresentar < 0,8mm. Quando isso está aumentado, significa que esse paciente apresenta sinais inflamatórios crônicos dessa parede, que podem levar a formação de placas de ateroma. Em outras palavras, o paciente com aumento da espessura do complexo médio-intimal tem maior risco neurovascular (AVC) e cardiovascular (IAM). Trata-se de um marcador de risco não invasivo, o que apresenta uma grande importância na saúde pública: ● Relação com o risco sistêmico de aterosclerose ○ Uma vez que as placas não se formam em apenas um lugar ● Ferramenta não invasiva e acessível para screening populacional de larga escala ○ Através do rastreio dos pacientes de risco é possível tratá-los evitando condições mais graves como IAM, diminuindo gastos públicos ● Prediz aumento do risco para eventos trombóticos cardíacos e cerebrovasculares Nesse ponto a placa de ateroma já reduz o fluxo sanguíneo. Uma medida intervencionista para controlar essa estenose seria a colocação de um stent.
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