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1 Bradiarritmias Ao se falar em arritmias, devemos pensar em bradiarritmias (FC<50) e taquiarritmias (FC>100); existem muitas variações de bradiarritmias e taquiarritmias. ● Lembre-se de como identificar as bradiarritmias de forma rápida no ECG: Qual o grande problema das bradiarritmias e taquiarritmias sustentadas? A alteração do débito cardíaco. Nas bradiarritmias, o DC fica muito baixo pela diminuição da frequência cardíaca; nas taquiarritmias, o DC fica muito baixo, pois o tempo de diástole é muito curto, logo o enchimento cardíaco é pequeno e o volume ejetado para a circulação sistêmica também. A partir da queda do DC, aparecem os sinais de baixo débito cardíaco – que indicam instabilidade hemodinâmica: ● Lipotímia, síncope, confusão mental e rebaixamento do nível de consciência Seja qual for a manifestação, todas acima são indicativos de baixa perfusão cerebral. ● Dispnéia (IC aguda) O baixo débito cardíaco por bradiarritmias pode levar ao acúmulo de sangue na cavidade ventricular esquerda; eventualmente, esse sangue pode seguir um fluxo retrógrado em direção ao átrio esquerdo, veias pulmonares e capilares pulmonares, levando a congestão pulmonar. ● Dor torácica O baixo débito cardíaco também afeta o fluxo de sangue nas artérias coronárias no momento da diástole, levando a dor torácica por isquemia miocárdica. ● Hipotensão Pressão sistólica menor que 90 mmHg (bradiarritmias e taquiarritmias pode levar a esse sintoma). 2 Anormalidades encontradas na arritmia cardíaca ● Pode ocorrer alteração na frequência cardíaca. ● A regularidade do pulso pode estar alterada. ● A origem do impulso cardíaco pode estar alterada. ○ Se não houver onda P no ECG, por exemplo, o paciente apresenta distúrbio do nó sinoatrial. ● A condução do impulso cardíaco pode estar alterada. ○ Quando a fibra muscular cardíaca recebe o impulso cardíaco, o miocárdio despolariza e depois repolariza. ○ Na despolarização, ocorre entrada de sódio, depois entrada de cálcio, criando uma ascensão; em seguida o sódio para de entrar, o cálcio continua entrando e o potássio começa a sair, criando um platô; por último o potássio continua saindo e o cálcio para de entrar, criando uma queda. NaCaK→ os íons atrelados a despolarização/repolarização As drogas usadas nas arritmias interferem nos carreadores de Na+, Ca++ ou K+ 3 Sistema excito-condutor Esse sistema é composto pelo nó sinoatrial, feixes internodais, nó atrioventricular, feixes de His, ramo esquerdo e direito e fibras de Purkinje. O intervalo PR deve ter de 0,12 a 0,20 segundos. Se possuir mais de 0,2 segundos (200ms, ou ainda 5 quadradinhos), provavelmente o problema se encontra no nó atrioventricular (bloqueio atrioventricular). Anamnese das arritmias É feita inicialmente a partir da queixa do paciente, que pode ser de: ● Palpitação Quando o paciente sente que sua frequência cardíaca está elevada. Algumas pessoas apresentam FC muito elevada e são assintomáticos. Sempre verificar o pulso no exame físico a fim de identificar taquisfigmia ou bradisfigmia. ● Síncope, dispnéia, dor torácica Todos esses 3 sintomas estão associados a baixo débito cardíaco. 4 Exames complementares O diagnóstico das arritmias, entretanto, só pode ser concluído com exames complementares. O mais simples é o ECG, que sempre deve ser feito frente a sintomas de arritmias – muitas arritmias são paroxísticas, e durante o ECG não se manifestam, não sendo identificadas, resultando em um exame normal. O Teste Ergométrico é uma boa indicação para os pacientes que relataram sintomas de arritmias quando começam a caminhar ou a se exercitar. Em outras palavras, permite a identificação de arritmias induzidas pelo esforço. O Holter é um exame o qual o indivíduo fica com um dispositivo por 24 horas registrando sua atividade elétrica cardíaca na tentativa de captar alterações arrítmicas. É uma boa indicação para identificar arritmias paroxísticas. Também pode ser feito o monitor de eventos, que é semelhante ao Holter e pode se extender por até 30 dias – usado para identificar arritmias paroxísticas que ocorrem muito espaçadas. Existe um exame invasivo (feito na sala de hemodinâmica) chamado estudo eletrofisiológico (EEF), que consiste na colocação de eletrodos intracardíacos para registro e estimulação miocárdica objetivando o diagnóstico e tratamento de arritmias e bloqueios cardíacos. A ablação por cateter de radiofrequência é uma técnica invasiva que consiste na eliminação de arritmias pela destruição térmica (radiofrequência) do tecido responsável pelo foco arritmogênico. Ritmo sinusal O ritmo é sinusal porque o batimento se originou do nó sinoatrial (sinusal). ● Deve existir uma onda P ● A onda P deve preceder o QRS ● A onda P deve ser positiva em D1 (0º), D2 (60º) e avF(90º) ou em pelo menos duas dessas três derivações ○ Isso se dá porque o eixo normal da despolarização atrial varia de 0º a 90º. ● A onda P deve ser igual (morfologicamente) quando avaliada na mesma derivação “Se sair do ritmo sinusal, pode ser uma arritmia; entretanto, existem arritmias com ritmo sinusal, apresentando alteração apenas da frequência (menor que 50 ou maior que 100) e com ritmo regular.” Bradiarritmias São alterações da frequência cardíaca, ritmo cardíaco, ou ambos – cursando com resposta ventricular baixa. Considera-se uma resposta ventricular baixa uma FC menor que 50, pois há risco de manifestação clínica de baixo débito cardíaco. Nota: a bradiarritmia fisiológica é presente em atletas. 5 As bradicardias normalmente são assintomáticas; quando acentuadas, causam tontura e síncope. No exame físico, pode ser identificada (bradisfigmia) através da palpação dos pulsos. 1. Bradicardia sinusal É a bradiarritmia mais comum. A única alteração dessa arritmia é a frequência cardíaca menor que 50 batimentos por minuto. Causas fisiológicas ● Atletas ● Qualquer pessoa durante o sono ● Estimulação vagal ○ Massagem do seio carotídeo Causas farmacológicas (intoxicação) – drogas cronotrópicas negativas ● Digital (digoxina e deslanosídeo C) ● Beta bloqueadores (atenolol, metoprolol, etc) ● BCC não diidropiridínicos (verapamil e diltiazem) ● Antiarrítmicos (amiodarona e propafenona) Se a medicação é removida e o paciente continua com FC < 50, o que fazer? Usar drogas cronotrópicas positivas, como dopamina, noradrenalina, adrenalina, dobutamina, etc. Apesar disso, essas medidas são agudas. Para resolução do problema, deverá ser implantado um marcapasso. Esse raciocínio também se aplica às causas patológicas, mencionadas abaixo. ● Marcapasso: indicado para o paciente que a bradiarritmia não se resolve com remoção de cronotrópicos negativos ou tratamento da causa com medicação. Causas patológicas ● Fase aguda do IAM inferior (Reflexo de Bezold-Jarisch) ○ A a. coronária direita irriga, além da parede inferior, o nó sinusal, através de um ramo chamado artéria do nó sinusal. Se a obstrução da a. coronária direita for muito proximal, a perfusão do nó sinusal fica prejudicada (assim como a perfusão do nó atrioventricular). ● Doença do Nó Sinoatrial ● Condições sistêmicas ○ Meningite, Tumores de SNC com hipertensão intracraniana, Hipóxia severa, Hipotermia e Hipotireoidismo 6 Em condições de bradicardia com sinais de baixo débito cardíaco, enquanto o diagnóstico ainda não foi fechado, o paciente necessitará da utilização de marcapassos, mesmo que for de forma provisória – até que o diagnóstico seja feito e a causa base (condição sistêmica) seja tratada. 2. Bloqueios atrioventriculares (BAV) São distúrbios da condução elétrica dos átrios para os ventrículos, causados por alterações do nó AV, feixe de His ou ramos ventriculares. No ECG, essas alterações serão observadas no intervalo PR (da onda P até o início do complexo QRS, deveria ter de 3 a 5 quadradinhos). Existem 4 tipos de bloqueio atrioventricular: 2.1 BAV de 1º Grau → não grave Trata-se de um atraso na condução (intervalo PR constantemente maior que 5 quadradinhos), mas sempre haverá o complexo QRS após a onda P. Na maior parte das vezes é assintomáticoe não necessita de tratamentos. 2.2 BAV de 2º Grau a. Mobitz 1 ou Wenckebach → não grave Apresenta Intervalo PR com aumento progressivo, culminando no bloqueio onda P (não aparecimento do complexo QRS). Após esse evento, a condução volta ao normal, até que aconteça de novo, repetindo todo o processo de forma cíclica. A maioria desses pacientes também são assintomáticos e não precisam de tratamento; apesar disso, por terem uma tendência a bradicardia, devem ser cautelosos com doses de beta bloqueadores e outras drogas cronotrópicas negativas. b. Mobitz 2 → grave São alterações de difícil identificação – muitas vezes é necessário uma folha completa do ECG com apenas uma derivação longa para captá-las. Geralmente esses pacientes são sintomáticos e bradicárdicos. Apresenta intervalos PR constantes (podem ser normais ou alargados, mas são constantes/sem variações → oposto do Mobitz 1) com bloqueio súbito de onda P. 7 O paciente pode evoluir de Mobitz 1 para Mobitz 2, e de Mobitz 2 para BAVT. 2.3 BAV de 3º Grau (ou Bloqueio Atrioventricular Total [BAVT]) → emergência cardiológica Completa dissociação entre o ritmo atrial e o ritmo ventricular. Os intervalos P-P e R-R são constantes, mas dessincronizados, resultando no aparecimento da onda P em posições variadas. Normalmente a frequência atrial está normal, mas a frequência ventricular está baixa – sendo classificado como bradicardia. ● 1ª onda P: antes do QRS ● 2ª onda P: antes do QRS → o intervalo PR se alarga grandemente ● 3ª onda P: aparece entre QRS e a onda T (patognomônico de BAVT) ● 4ª onda P: aparece antes do QRS ● 5ª onda P: aparece “fundida” a onda T → perceba o grande alargamento do intervalo PR ● 6ª onda P: não aparece, pois está “dentro” do QRS 8 Tratamento O paciente foi admitido com bradiarritmia (FC < 50bpm/min). Avaliar se essa bradiarritmia é primária ou se é um sintoma de causas secundárias (hipotireoidismo, hemorragias intraparenquimatosas, etc). Se for um sintoma de uma causa secundária, tratar a causa secundária que a bradiarritmia automaticamente será corrigida – enquanto o diagnóstico está sendo pesquisado, o paciente pode necessitar de internação. Se for constatado que se trata de uma bradiarritmia primária, internar o paciente na sala de emergência, pois necessita de: ● Monitorização ○ Permite visualização do ritmo da parada (chocável ou não) ● Acesso venoso ○ Se houver parada cardíaca, usar adrenalina ● Avaliar via aérea e utilizar O2 se necessário ○ Se Glasgow < 8, intubação ● Avaliar sinais vitais Quando o paciente já está sendo monitorizado, o médico responsável deve avaliar se há instabilidade hemodinâmica ou estabilidade hemodinâmica. Se apresenta pelo menos um dos sinais de baixo débito cardíaco (nesse caso, tratar como sinônimo de instabilidade hemodinâmica): ● Lipotímia, síncope, confusão mental e rebaixamento do nível de consciência ● Dispnéia (IC aguda) ● Dor torácica ● Hipotensão Para mais detalhes, revisitar a página 1. Nesse caso (de instabilidade), a frequência cardíaca do paciente precisa ser elevada. Para isso, será utilizado o marcapasso – por levar um certo tempo até sua instalação, podemos usar de artifícios para manter o débito mais elevado, como o uso de fármacos anticolinérgicos (atropina – 1ª escolha) ou simpatomiméticos (dopamina ou dobutamina). Se houver um marcapasso (estimulação cardíaca) disponível, utilizá-lo. Nunca adrenalina. Tipos de marcapasso ● Transcutâneo: o DEA pode ser configurado para ter função como marcapasso ○ Seu uso deve ser o mais breve possível e com sedação, pois provoca dor a cada estímulo (se a frequência definida for de 70bpm, o paciente sentirá dor 70 vezes por minuto). Marcapasso provisório. ● Transvenoso: um fio passa pela veia jugular e se conecta ao ventrículo direito ou septo interventricular, estimulando o coração de acordo com a frequência escolhida. Deve ser usado também de forma breve, pelo risco de infecções devido ao acesso central. Pode ser usado por até 1 semana, especialmente quando a causa da bradiarritmia é reversível. Marcapasso provisório. ● Definitivo: aquele que fica implantado abaixo da pele, com fios conectados no coração, garantindo um ritmo e frequência adequados. Se não apresenta nenhum dos sinais de baixo débito cardíaco (estável), apenas observar/monitorizar. 9 Na prova Será cobrado um caso clínico e deveremos saber se há instabilidade hemodinâmica ou estabilidade hemodinâmica; se for instabilidade, provavelmente todos os sinais estarão presentes, não restando dúvidas do que se trata. Qualquer uma das arritmias, desde que haja sinais de instabilidade, receberá o mesmo tratamento: marcapasso.
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