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industrialização no Brasil

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Atividade industrial no Brasil – Industrialização 
É difícil falar em atividade industrial concomitantemente à escravidão – não que a atividade industrial não existe, mas 
ela não é central na economia justamente porque a escravidão reduz o consumo (grande parte da população, 
escravizada, não tem renda para consumir), além de drenar os investimentos que poderiam ser direcionados à 
atividade industrial. A atividade industrial era, portanto, uma atividade econômica complementar – geralmente essa 
atividade envolvia a produção de bens não-duráveis em locais com maior concentração populacional (ou seja, 
próximas a seus mercados consumidores). Considerando que o espaço geográfico do país era pouco integrado, a 
disposição dessas indústrias no território era bastante desarticulada. 
A criação de uma política de industrialização virá anos mais tarde e vai se refletir na organização do espaço geográfico. 
Até 1930, há uma relativa dispersão da atividade industrial pelo território brasileiro. São Paulo será o centro da 
concentração industrial. O motivo disso reside na cafeicultura – a pergunta, entretanto, seria o que fez com que São 
Paulo disparasse na atividade industrial, à frente do Rio de Janeiro (também cafeicultor e com maior concentração 
populacional no período)? 
Grande parte dos estudos de economia regional que tratam da industrialização brasileira são de Wilson Cano. O 
professor José Francisco Graziano da Silva, a partir dos trabalhos de Cano, fala de três momentos da atividade 
econômica brasileira através da história da produção rural do Brasil – o complexo rural (onde toda a atividade se dava 
intrafazenda), e complexo cafeeiro paulista e o complexo agroindustrial. O complexo cafeeiro paulista é o início da 
decomposição do complexo rural, e vai explicar também o porquê de São Paulo ter se tornado o centro da atividade 
industrial. É no Oeste Paulista que se encontra, a partir de 1870, um novo regime de trabalho – o colonato. O colono 
era um trabalhador assalariado temporário (na época da colheita), produzia parte da sua subsistência na roça familiar 
ao mesmo tempo que gerava excedentes alimentícios que comercializava na própria região. O Complexo Cafeeiro 
criou um amplo mercado para bens-salário e permitiu a divisão social do trabalho. 
O complexo rural não gera demanda nenhuma, visto que era calcado na autossuficiência – produzia todo o necessário 
para o trabalho, não contratava mão de obra (escravidão) e toda a atividade era completada dentro da fazenda, saindo 
diretamente ao mercado consumidor. O complexo cafeeiro, entretanto, criou demandas para a comercialização das 
atividades agrícolas – demandas financeiras, com a necessidade de pagamento de mão de obra e de investimentos, 
demandas comerciais, devido à criação de um pequeno mercado consumidor de alimentos, demandas de transporte, 
para o deslocamento do café, e outros insumos (como sacos de juta, por exemplo), que fizeram com que o complexo 
cafeeiro engendrasse fora da fazenda de café atividades complementares como bancos, as estradas de ferro, as 
fábricas têxteis, etc. Essas atividades, em grande medida, foram financiadas pelos excedentes acumulados pelos 
próprios fazendeiros de café. A oposição entre café e indústria não é verdadeira para o Oeste Paulista; embora possa 
ter sido para a cafeicultura fluminense. 
É importante observar que a concentração da atividade industrial em São Paulo segue o modelo do fordismo periférico 
– o modelo fordista sem a sociedade de consumo fordista, com o consumo concentrado pela classe média. Esse 
modelo é replicado por diversos países de industrialização tardia, como o México, por exemplo. O que explica que 
essa concentração tenha acontecido em São Paulo é a questão do Complexo Cafeeiro paulista. 
 
 
 
 
Fases da atividade industrial brasileira 
❖ Fase 1: da Era Mauá até 1930; atividade industrial de bens não duráveis dispersa pelo território; a cidade do 
Rio de Janeiro liderou a produção até a primeira década do século XX, entretanto, a atividade industrial 
também era relevante em outros estados – como SP, PE, RS e MG. 
❖ Fase 2: a partir de 1930 há um claro projeto de industrialização, com a participação paulista disparando e com 
as participações do RJ e do RS reduzindo sua participação no “bolo industrial brasileiro” (isso não significa dizer 
que a indústria nessas regiões diminui – isso obviamente não aconteceu; o que aconteceu foi que, comparado 
ao crescimento de SP, a participação dessas regiões no todo da atividade industrial se tornou muito menor do 
que fora no passado). 
❖ Fase 3: a partir de 1970, seguindo uma tendência de descentralização. Nos anos 1970, vemos um crescimento 
exponencial da indústria no Brasil – um crescimento do “bolo industrial”, que vai se expandir também para 
outras regiões fora do polo paulista. A partir de 1980, vemos uma descentralização mais relacionada com a 
década perdida (decadência) e com as tendências de reconversão produtiva (influência do meio técnico-
científico-informacional, aproveitando a heterogeneidade do espaço para realocar diversas partes da 
produção – mantendo-se o controle em uma região, que nesse caso se mantém São Paulo). 
No 1º censo industrial, de 1907, o Brasil possuía 3258 empresas; em 1920, no 2º censo, esse número cresce para 13336 
empresas. A Primeira Guerra Mundial foi importante fator de impulso à atividade industrial no Brasil, visto que os 
países beligerantes, que eram os principais fornecedores de produtos manufaturados ao país, tinham seus esforços 
concentrados em uma economia de guerra – assim, a produção interna de tais produtos foi estimulada. Muito embora 
alguns autores, como Caio Prado Jr, atribuam grande importância à essa virada da década de 20, outros autores 
argumentam que não há um projeto de industrialização bem definido, mesmo porque a dificuldade em importar 
maquinários e outros meios de produção era semelhante à dificuldade em se importar os próprios produtos. Dessa 
forma, a atividade industrial da década de 20 se expandiu a partir do próprio capital ocioso que se encontrava dentro 
do Brasil. Um claro projeto de industrialização só se inicia com Getúlio Vargas. 
 
A industrialização do Brasil tomou corpo a partir dos anos 1930, com a interligação de mercados regionais até 
então bastante isolados uns dos outros em um mercado nacional protegido da concorrência externa. Deu-se um 
processo de concentração industrial que abafou aos poucos o parque industrial preexistente em diversas partes 
do país. Estabeleceu-se, com isso, um esquema de divisão do trabalho centralizado no eixo Rio-São Paulo, mas 
que se inclinou cada vez mais para São Paulo. Sabe-se que a primazia paulista derivou de condições excepcionais 
de crescimento ligadas ao “complexo cafeeiro”. (Otávio Soares Dulci, Itinerários do capital e seu impacto no 
cenário interregional). 
 
Brasil: de arquipélago a continente 
Modelo de arquipélago econômico (até 1930): arquipélago econômico, produção de bens não duráveis (bebida, 
calçados, produtos de limpeza, etc.) para o mercado interno e baixa articulação entre as regiões 
Produção altamente concentrada e articulada no modelo centro-periferia (a partir de 1930 até 1970): início de uma 
política de industrialização; concentração da indústria em São Paulo, com produção para o mercado interno e 
necessidade em conectar as regiões – o que é feito através da construção de rodovias (mais rápidas e mais baratas) – 
e a partir daí temos uma produção industrial se espalhando pelo território nacional. Essa atividade industrial é 
centrada também em um “fordismo periférico”, e a concentração da atividade industrial em SP tem impactos para os 
parques industriais em outras regiões – essa relação ou é de bloqueio (se mantém no comércio local mas não cresce), 
de destruição (falência) ou de complementariedade (Minas Gerais é um exemplo nesse caso). 
Modelo centro-periferia com descentralização (anos 1990): território articulado; muda-se a lógica industrial 
(descentralizada),mas não muda-se o modelo centro-periferia; a descentralização da produção não descentraliza o 
poder – São Paulo se mantém poderosa e no comando de tarefas. São Paulo deixa de ser uma metrópole industrial 
para se tornar uma metrópole pós-industrial, informacional, transacional. É parte de uma transição para o modelo 
pós-fordista de acumulação flexível. 
É importante salientar que essa fase descentralizada em nada se assemelha com a primeira fase, de um Brasil 
arquipélago e com produção dispersa. A produção aqui não é dispersa – ela está conectada, somente não se concentra 
mais em um único local. 
 
O projeto de industrialização do Brasil teve forte participação do Estado: primeiramente com menos capital 
estrangeiro, mas depois como tripé (onde já havia o capital privado nacional – dos bens não duráveis, o capital estatal 
– com as indústrias de base, e entrando o capital privado estrangeiro – no setor de bens duráveis, sendo o setor 
automobilístico o seu maior símbolo). 
Do ponto de vista da localização espacial, temos dois movimentos importantes: 
❖ O Estado concentrando investimento na área mais desenvolvida – o que amplia ainda mais a concentração 
das atividades em uma região. O Estado contribuiu para uma tendência centrípeta da produção industrial – o 
paradigma industrial desse período já era concentrador por si só, e o Estado contribui para que essa 
concentração seja ainda mais intensa. São Paulo chega, em 1970, com a maior fatia da produção industrial, 
com mais que 80% de participação na indústria brasileira. 
❖ Embora o Estado tenha esse maior investimento em áreas de indústria mais desenvolvidas (até mesmo pelo 
risco diante da minimizada disponibilidade de capital), o Estado brasileiro também promoveu esforços de 
descentralização, com a criação da SUDENE, SUDAM, etc. 
CHESF (1945): Companhia Hidrelétrica do São Francisco; criação de infraestrutura (as “próteses” do território 
de Milton Santos). A eletricidade é uma estrutura necessária para a atração de indústrias. 
SUDENE (1959): Visava a expansão industrial do Nordeste; 
SUDAM (1966): 
SUFRAMA (1967): 
Zona Franca de Manaus (1967): 
 
 
Na fase 2, de uma produção altamente concentrada, houve algumas tentativas de descentralização – não foram um 
sucesso, mas também não é possível caracterizá-las como um fracasso. Vale lembrar que esses esforços de 
descentralização se chocavam também com o paradigma industrial vigente – o modelo fordista de produção. É um 
modelo por si só concentrador, um modelo de economias de escala. 
 
A descentralização a partir dos anos 1970: reconversão produtiva 
Primeiramente, temos uma mudança no paradigma industrial – sai de um modelo fordista para um modelo pós-
fordista, de acumulação flexível. 
A partir dos anos 1970, a “fatia” do bolo industrial do Sudeste diminui (fala-se em declínio relativo) – isso não significa, 
novamente, que a produção dessa área cai – significa que outras regiões crescem mais. Esse período é de uma 
“descentralização virtuosa” – todas as regiões cresceram, mas as outras regiões (que não o Sudeste) cresceram mais. 
Com a década perdida, a partir de 1980, essa descentralização deixa de ser “virtuosa” – ela se trata, de fato, de uma 
decadência da economia que pode ter levado a uma queda absoluta na produção industrial. 
A década de 90 marca um outro ponto importante: a abertura da economia. O governo Collor é marco da mudança 
de um modelo econômico – sai de um modelo fechado de substituição de importações para um modelo de economia 
aberta e liberal. Muito embora o modelo de substituição de importações tenha ruído em 1979 com o Segundo Choque 
do Petróleo, durante a década perdida não teremos nenhum governo capaz de “reerguer” ou alterar esse modelo, o 
que só ocorre na década de 90 com o governo Collor. 
O processo de abertura da economia dos anos 90 é um catalisador para o processo de descentralização industrial – as 
indústrias, para se manterem competitivas diante da concorrência internacional, terão de minimizar custos – o que 
incentiva a mudança para regiões mais baratas. Esse movimento de descentralização se dá de forma intra e 
interregional – essa descentralização se dá, inicialmente, como uma “descentralização concentrada” – ou seja, ela 
ocorre de forma intrarregional. As indústrias buscam, dentro da própria região, outras áreas – formando um polígono 
de aglomeração industrial. Em outras palavras, as indústrias saem das áreas mais aglomeradas da região desenvolvida, 
mas não saem da região desenvolvida. (Ex: a indústria sai do centro de São Paulo e vai para Bauru, São Carlos, Rio 
Preto, etc.). 
OBS: ao falar dessa descentralização e levando em conta um avanço para a região sul, é preciso considerar que, nos 
anos 1990, com o avanço do Mercosul, essa região deixa de ser uma periferia e passa a ganhar muita importância. 
Vale lembrar que a Argentina chegou a ser o segundo principal parceiro comercial do Brasil nessa década. 
 
São Paulo: a interiorização da indústria 
No Estado de São Paulo, o movimento de descentralização se dá com a interiorização da indústria dentro do próprio 
Estado. Normalmente, são indústrias intensivas em capital – usam menos mão de obra, mas mais qualificada. É uma 
indústria que se favorece da proximidade com polos de educação superior e centros de pesquisa – visto que se 
favorece de alta qualificação da mão de obra. 
Esse movimento também atingiu em alguma medida outras regiões próximas de outros Estados, como o norte do 
Paraná, Minas Gerais e Rio de Janeiro. 
Novamente, São Paulo – o grande centro, não perde o poder. Torna-se o “espaço do mandar”, enquanto o interior 
torna-se o “espaço do fazer”. 
“Graças a esses novos nexos e fluxos, São Paulo está presente em todo o território nacional”. 
 
Cada lugar entra na contabilidade das empresas com diferente valor. A guerra fiscal é, na verdade, uma guerra global 
entre lugares. (Milton Santos) 
A tecnologia permite que as empresas transitem pelos espaços de forma que elas aproveitem as características que 
cada lugar as oferecem, sem estar preso a elas. Em outras palavras, as indústrias não estão mais presas aos rios, às 
condições físicas, aos mercados internos, etc. A tecnologia aumenta a especialização produtiva. 
 
A atividade industrial da Região Sul 
A indústria que cresce no Sul a partir dos anos 1990, beneficiada pelo Mercosul, tem características parecidas com as 
do Sudeste – uma indústria intensiva em capital, que usa maior mão de obra qualificada, etc. Historicamente, 
entretanto, a característica industrial dessas regiões não era parecida. No Sul, a produção industrial era mais dispersa 
– o modelo de ocupação era distinto, menos concentrado, e isso se reflete também na produção industrial. 
 
A atividade industrial do Centro-Oeste e o Agronegócio 
A produção em larga escala de soja, milho, etc., será motivador para produção industrial. Além disso, a posição central 
no espaço brasileiro também pode ser fator de atração para muitas empresas – que vão distribuir produtos para todo 
o território. 
 
Regiões Norte e Nordeste 
O setor secundário na região Norte tem características muito específicas: envolve ou a questão mineral ou uma 
instalação na Zona Franca de Manaus (devido ao incentivo fiscal). No Nordeste, o parque industrial é antigo – visto 
que já foi a região mais populosa do Brasil, primeiro centro populacional, etc. Há também um parque industrial mais 
recente relacionado com a questão da redução de custos. 
Há também – e isso é bastante cobrado no concurso, uma indústria intensiva em mão de obra (como a indústria de 
calçados), e que ainda é beneficiada pela proximidade com o mercado externo. 
O processo de desconcentração regional da indústria brasileira favorece o prolongamento da disputa entre as 
unidades federativas com base na renúncia fiscal. Os Estados menos desenvolvidos dão vantagens tributárias para 
atrair indústrias que estão nos estados mais desenvolvidos.

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