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15 - Síndrome dos ovários policísticos

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 Natalia Quintino Dias 
 
Síndrome dos ovários policísticos (SOP) 
A Síndrome dos Ovários Policísticos (SOP) 
compreende uma forma de hiperandrogenismo 
acompanhada por anovulação crônica. É 
conhecida, também, como síndrome de Stein-
Leventhal (notaram a associação entre 
amenorreia, hirsutismo, obesidade e ovários 
policísticos). Outra denominação mais recente, 
usada por alguns centros de referência, é síndrome 
da anovulação hiperandrogênica. Além disso, cursa 
com aumento do risco de diabetes e doença 
cardiovascular. 
Etiopatogenia 
Sua etiopatogenia exata não está definida, mas é 
aceitável uma desordem no processo normal de 
maturação folicular e ovulação, passando 
basicamente pelos seguintes processos: disfunção 
na produção de androgênios, anovulação, 
hiperinsulinemia e obesidade. 
Há uma disfunção primária na enzima CYP17 e no 
citocromo, com alteração na produção de 
androgênios, levando à atresia folicular prematura 
e anovulação. Portanto, não há pico na taxa de 
progesterona na fase lútea, mas há manutenção na 
produção estrogênica ovariana, culminando com 
alterações na produção de GnRH e aumento na 
produção de hormônio luteinizante (LH). O LH 
encontra-se aumentado em relação ao hormônio 
folículo-estimulante – FSH (relação maior que 2:1). 
Há aumento da produção androgênica pela 
hiperplasia das células tecais sob estímulo do LH. 
Os níveis relativamente baixos de FSH inibem a 
maturação folicular adequada e o fenômeno de 
dominância folicular, persistindo folículos em 
estágios iniciais da maturação e folículos atrésicos, 
o que forma o aspecto policístico. 
A fisiopatologia da doença também envolve a 
diminuição da Sex Hormone Binding Globulin 
(SHBG) e aumento dos esteroides sexuais livres. O 
estrogênio livre aumentado age na hipófise, 
estimulando a secreção ainda maior de LH, 
perpetuando o ciclo vicioso. A produção excessiva 
de androgênios e a sua conversão em estrogênios 
constituem o substrato fisiopatológico da 
anovulação crônica. 
O hirsutismo ocorre em 70% das pacientes com 
SOP, e sua manifestação depende da atividade 
cutânea da 5-alfarredutase. O diagnóstico pode 
ocorrer pela presença de sinais clínicos ou 
aumento androgênico em exames laboratoriais. O 
aumento anormal de androgênios leva a pelos na 
face, região cervical, tórax e abdome inferior, e a 
acne é intensamente causada pela DHT 
(diidrotestosterona). A distribuição de pelos é 
tipicamente masculina. O índice de Ferriman-
Gallwey é a ferramenta clínica disponível para 
avaliação do hirsutismo. 
 Natalia Quintino Dias 
 
 
• > ou = 6: hirsutismo OU > ou = 4: se a paciente 
for oriental. 
↑ atividade de 5-alfarredutase na pele + ↓ SHBG 
= hirsutismo sem aumento de androgênios totais 
séricos. 
A hipótese mais aceita para explicar esse 
desequilíbrio funcional é a da hiperinsulinemia. 
Hiperinsulinemia 
A hiperinsulinemia determina o estado 
anovulatório por ação direta e sinérgica com o LH 
nos ovários e por diminuição da produção hepática 
da SHBG. Pacientes com essa condição apresentam 
maior risco de doenças cardiovasculares por 
alteração do metabolismo lipídico – aumento do 
colesterol LDL e triglicérides, e doenças 
tromboembólicas por estímulo à coagulação. 
 
Observa-se ainda, na obesidade, aumento na 
aromatização periférica, aumento na produção de 
insulina e redução na SHBG, culminando com 
elevada produção androgênica e maior fração de 
androgênios livres/biodisponíveis. 
Quadro clínico 
Apresenta as seguintes características clínicas: 
• menstruações infrequentes ou amenorreia 
(83%); 
• infertilidade; 
• obesidade; 
• hirsutismo; 
• acne; 
• acantose nigricans; 
• alopecia androgênica. 
A síndrome é a principal causa de infertilidade 
endócrina, responsável por cerca de 25% dos casos 
de infertilidade feminina. Além disso, é a principal 
doença endócrina da mulher na menacma, com 
prevalência de cerca de 8% nessa população. 
Diagnóstico 
Critérios do Consenso de Rotterdam revisados e 
atualizados: a presença de pelo menos dois dos 
critérios a seguir já define o diagnóstico, afastadas 
outras causas de anovulação hiperandrogênica: 
✓ Disfunção menstrual anovulatória – 
geralmente menstruações infrequentes e/ou 
amenorreia; 
✓ Sinais clínicos e/ou laboratoriais de 
hiperandrogenismo; 
✓ USG pélvica transvaginal evidenciando 20 ou 
mais folículos de 2 a 9 mm em cada ovário 
 Natalia Quintino Dias 
 
e/ou aumento do volume ovariano superior a 
10 cm3. O critério já é considerado positivo se 
houver uma ou ambas as características em 
apenas um dos ovários. 
Diagnóstico diferencial 
Outras causas frequentes de hiperandrogenismo: 
- Hiperplasia suprarrenal de início tardio; 
- Neoplasia ovariana e de suprarrenal; 
- Produtoras de androgênios; 
- Síndrome de Cushing; 
- Uso de androgênio exógeno. 
- Outras causas frequentes de amenorreia como 
hipotireoidismo e hiperprolactinemia também 
devem ser descartadas. 
Exames laboratoriais 
• Exclusão de diabetes e pré-diabetes: devem ser 
solicitados glicemia de jejum, TTG de 2 horas e 
hemoglobina glicada: para diagnóstico de diabetes 
são necessários, pelo menos, dois testes alterados. 
- Em jejum: > ou = a 126mg/dL; 
- TTG de 2h: > ou = a 200mg/dL; 
- HbA1c: > ou = a 6,5. 
• Lipidograma completo e triglicérides: perfil 
lipídico, devido à associação de SOP à síndrome 
metabólica (circunferência abdominal aumentada, 
níveis de triglicérides aumentado, níveis de HDL 
reduzidos, PA elevada, níveis de glicose em jejum 
elevados) e dislipidemia; 
• USG transvaginal/pélvica – só indicada se houver 
apenas um dos outros dois critérios diagnósticos. 
 
 
Tratamento 
• Deve-se sempre orientar perda de peso para 
aumentar SHBG, melhorando a resistência à 
insulina e diminuindo a conversão periférica dos 
androgênios; 
• Utilizam-se anticoncepcionais orais para 
supressão da função ovariana. O componente 
estrogênico dos anticoncepcionais costuma elevar 
a produção hepática de SHBG diminuindo a 
testosterona livre; 
• Mulheres que não querem ou não podem tomar 
contraceptivos combinados podem utilizar 
progesterona – não reduz acne ou hirsutismo; 
• São drogas antiandrogênicas: espironolactona e 
finasterida; 
• São indutores da ovulação: citrato de clomifeno 
ou inibidores da aromatase (letrozol é o mais 
utilizado), usados em pacientes que desejam 
engravidar; 
• Tratamento estético para hirsutismo com 
diversas técnicas de depilação – além dos 
tratamentos das causas; 
• Tratamento estético para acne e 
acompanhamento dermatológico; 
• Acompanhamento multiprofissional, visto que há 
incidência aumentada de hipertensão, 
dislipidemia, diabetes e doenças cardiovasculares. 
Além disso, pacientes não tratadas tem maior risco 
para câncer de endométrio, mama e ovário. 
• Para as pacientes com indícios de aumento da 
resistência à insulina, deve-se indicar a 
metformina. A metformina é usada para 
diminuição da resistência à insulina e pode 
restaurar os ciclos ovulatórios (tto de 2ª linha). 
Complicações 
- Câncer de endométrio; 
- Complicações gestacionais: 
• DMG; 
• Pré-eclâmpsia; 
• Abortamento de repetição; 
• Doença vascular hipertensiva crônica. 
- HAS; 
- Câncer de mama; 
- Risco aumentado de DM e doença cardiovascular; 
- Dislipidemia.

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