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Natalia Quintino Dias Síndrome dos ovários policísticos (SOP) A Síndrome dos Ovários Policísticos (SOP) compreende uma forma de hiperandrogenismo acompanhada por anovulação crônica. É conhecida, também, como síndrome de Stein- Leventhal (notaram a associação entre amenorreia, hirsutismo, obesidade e ovários policísticos). Outra denominação mais recente, usada por alguns centros de referência, é síndrome da anovulação hiperandrogênica. Além disso, cursa com aumento do risco de diabetes e doença cardiovascular. Etiopatogenia Sua etiopatogenia exata não está definida, mas é aceitável uma desordem no processo normal de maturação folicular e ovulação, passando basicamente pelos seguintes processos: disfunção na produção de androgênios, anovulação, hiperinsulinemia e obesidade. Há uma disfunção primária na enzima CYP17 e no citocromo, com alteração na produção de androgênios, levando à atresia folicular prematura e anovulação. Portanto, não há pico na taxa de progesterona na fase lútea, mas há manutenção na produção estrogênica ovariana, culminando com alterações na produção de GnRH e aumento na produção de hormônio luteinizante (LH). O LH encontra-se aumentado em relação ao hormônio folículo-estimulante – FSH (relação maior que 2:1). Há aumento da produção androgênica pela hiperplasia das células tecais sob estímulo do LH. Os níveis relativamente baixos de FSH inibem a maturação folicular adequada e o fenômeno de dominância folicular, persistindo folículos em estágios iniciais da maturação e folículos atrésicos, o que forma o aspecto policístico. A fisiopatologia da doença também envolve a diminuição da Sex Hormone Binding Globulin (SHBG) e aumento dos esteroides sexuais livres. O estrogênio livre aumentado age na hipófise, estimulando a secreção ainda maior de LH, perpetuando o ciclo vicioso. A produção excessiva de androgênios e a sua conversão em estrogênios constituem o substrato fisiopatológico da anovulação crônica. O hirsutismo ocorre em 70% das pacientes com SOP, e sua manifestação depende da atividade cutânea da 5-alfarredutase. O diagnóstico pode ocorrer pela presença de sinais clínicos ou aumento androgênico em exames laboratoriais. O aumento anormal de androgênios leva a pelos na face, região cervical, tórax e abdome inferior, e a acne é intensamente causada pela DHT (diidrotestosterona). A distribuição de pelos é tipicamente masculina. O índice de Ferriman- Gallwey é a ferramenta clínica disponível para avaliação do hirsutismo. Natalia Quintino Dias • > ou = 6: hirsutismo OU > ou = 4: se a paciente for oriental. ↑ atividade de 5-alfarredutase na pele + ↓ SHBG = hirsutismo sem aumento de androgênios totais séricos. A hipótese mais aceita para explicar esse desequilíbrio funcional é a da hiperinsulinemia. Hiperinsulinemia A hiperinsulinemia determina o estado anovulatório por ação direta e sinérgica com o LH nos ovários e por diminuição da produção hepática da SHBG. Pacientes com essa condição apresentam maior risco de doenças cardiovasculares por alteração do metabolismo lipídico – aumento do colesterol LDL e triglicérides, e doenças tromboembólicas por estímulo à coagulação. Observa-se ainda, na obesidade, aumento na aromatização periférica, aumento na produção de insulina e redução na SHBG, culminando com elevada produção androgênica e maior fração de androgênios livres/biodisponíveis. Quadro clínico Apresenta as seguintes características clínicas: • menstruações infrequentes ou amenorreia (83%); • infertilidade; • obesidade; • hirsutismo; • acne; • acantose nigricans; • alopecia androgênica. A síndrome é a principal causa de infertilidade endócrina, responsável por cerca de 25% dos casos de infertilidade feminina. Além disso, é a principal doença endócrina da mulher na menacma, com prevalência de cerca de 8% nessa população. Diagnóstico Critérios do Consenso de Rotterdam revisados e atualizados: a presença de pelo menos dois dos critérios a seguir já define o diagnóstico, afastadas outras causas de anovulação hiperandrogênica: ✓ Disfunção menstrual anovulatória – geralmente menstruações infrequentes e/ou amenorreia; ✓ Sinais clínicos e/ou laboratoriais de hiperandrogenismo; ✓ USG pélvica transvaginal evidenciando 20 ou mais folículos de 2 a 9 mm em cada ovário Natalia Quintino Dias e/ou aumento do volume ovariano superior a 10 cm3. O critério já é considerado positivo se houver uma ou ambas as características em apenas um dos ovários. Diagnóstico diferencial Outras causas frequentes de hiperandrogenismo: - Hiperplasia suprarrenal de início tardio; - Neoplasia ovariana e de suprarrenal; - Produtoras de androgênios; - Síndrome de Cushing; - Uso de androgênio exógeno. - Outras causas frequentes de amenorreia como hipotireoidismo e hiperprolactinemia também devem ser descartadas. Exames laboratoriais • Exclusão de diabetes e pré-diabetes: devem ser solicitados glicemia de jejum, TTG de 2 horas e hemoglobina glicada: para diagnóstico de diabetes são necessários, pelo menos, dois testes alterados. - Em jejum: > ou = a 126mg/dL; - TTG de 2h: > ou = a 200mg/dL; - HbA1c: > ou = a 6,5. • Lipidograma completo e triglicérides: perfil lipídico, devido à associação de SOP à síndrome metabólica (circunferência abdominal aumentada, níveis de triglicérides aumentado, níveis de HDL reduzidos, PA elevada, níveis de glicose em jejum elevados) e dislipidemia; • USG transvaginal/pélvica – só indicada se houver apenas um dos outros dois critérios diagnósticos. Tratamento • Deve-se sempre orientar perda de peso para aumentar SHBG, melhorando a resistência à insulina e diminuindo a conversão periférica dos androgênios; • Utilizam-se anticoncepcionais orais para supressão da função ovariana. O componente estrogênico dos anticoncepcionais costuma elevar a produção hepática de SHBG diminuindo a testosterona livre; • Mulheres que não querem ou não podem tomar contraceptivos combinados podem utilizar progesterona – não reduz acne ou hirsutismo; • São drogas antiandrogênicas: espironolactona e finasterida; • São indutores da ovulação: citrato de clomifeno ou inibidores da aromatase (letrozol é o mais utilizado), usados em pacientes que desejam engravidar; • Tratamento estético para hirsutismo com diversas técnicas de depilação – além dos tratamentos das causas; • Tratamento estético para acne e acompanhamento dermatológico; • Acompanhamento multiprofissional, visto que há incidência aumentada de hipertensão, dislipidemia, diabetes e doenças cardiovasculares. Além disso, pacientes não tratadas tem maior risco para câncer de endométrio, mama e ovário. • Para as pacientes com indícios de aumento da resistência à insulina, deve-se indicar a metformina. A metformina é usada para diminuição da resistência à insulina e pode restaurar os ciclos ovulatórios (tto de 2ª linha). Complicações - Câncer de endométrio; - Complicações gestacionais: • DMG; • Pré-eclâmpsia; • Abortamento de repetição; • Doença vascular hipertensiva crônica. - HAS; - Câncer de mama; - Risco aumentado de DM e doença cardiovascular; - Dislipidemia.
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