Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
SÍNDROME DO OVÁRIO POLICÍSTICO - GO MILENA BAVARESCO SÍNDROME DO OVÁRIO POLICISTICO 1. RECONHECER OS ASPECTOS FISIOPATOLÓGICOS DA SOP E A SUA RELAÇÃO COM A INFERTILIDADE DE MULHERES; ▪ É uma síndrome caracterizada por ciclos anovulatórios ou oligo-ovulação, hiperandrogenismo e múltiplos pequenos cistos ovarianos. ▪ Atualmente, a SOP é considerada uma doença metabólica, pois, além das manifestações ginecológicas, essa patologia pode cursar com alterações lipídicas, diabetes mellitus (DM), obesidade, hipertensão arterial sistêmica (HAS), aumento do risco. ▪ A fisiopatologia da SOP não é muito bem esclarecida, mas sabe-se que ocorre uma alteração da pulsatilidade na liberação do hormônio GnRH pelo hipotálamo. ▪ Entretanto, não se sabe se essa disfunção da pulsação no GnRH é um distúrbio primário ou secundário a regulação de outros produtos alterados na SOP. ▪ De qualquer forma, com a alteração do GnRH, há um aumento da liberação do LH e uma diminuição da liberação do FSH, ambos produzidos pela hipófise anterior. ▪ O papel do LH é de estimular as células da teca a produzirem androgênios. Portanto, se há mais LH, haverá também maior produção de androgênio, principalmente testosterona e androtenediona. Já o FSH estimula a produção da enzima aromatase nas células da granulosa. ▪ Essas enzimas convertem os androgênios em estrogênios. Sendo assim, como há uma diminuição da liberação de FSH, ocorre também a redução da produção de estrogênios, propiciando um acúmulo de androgênios. ▪ O aumento de androgênios ovarianos prejudica o desenvolvimento folicular normal, fazendo com que os folículos fiquem imaturos e se transformem em múltiplos folículos subdesenvolvidos na periferia ovariana. ▪ Além disso, níveis elevados de androgênios causam alterações no perfil lipídico das pacientes com SOP e também predispõem ao surgimento de acne. ▪ Na periferia, sob ação da enzima 5-alfa-redutase a testosterona é transformada em Di-hidrotestosterona, hormônio que causa hirsutismo. ▪ Os androgênios circulantes são convertidos em estrogênios no tecido periférico, sobretudo nas células do tecido adiposo, sendo assim, pacientes obesas com SOP tem maior produção de estrogênio. ▪ Devido ao não desenvolvimento folicular, a paciente não ovulará, levando ao quadro de anovulação crônica e por consequência, oligo ou amenorreia. ▪ Como não há ovulação, também não há formação de corpo lúteo, que é o responsável pela produção de progesterona. ▪ Com isso, o endométrio dessa paciente será estimulado somente pelo estrogênio produzido, sem a oposição da progesterona, levando ao risco de sangramento uterino anormal, hiperplasia endometrial e câncer de endométrio. ▪ Devido ao aumento de androgênios e resistência a insulina presentes em algumas mulheres com SOP, ocorre a diminuição da produção da Globulina Ligadora de hormônios sexuais (SHBG, de sex hermone-binding globulin) proteína produzida pelo fígado e responsável pelo carreamento dos esteroides sexuais. ▪ Com a redução dessa proteína, ocorre o aumento da concentração de androgênios livres e disponíveis para se acoplarem aos receptores nos orgãos-alvo. ▪ Além disso, alguns estudos têm demonstrado associação entre baixos níveis de SHBG e DM2 e DM gestacional. ▪ A resistência insulínica pode ser responsável por levar a atresia folicular dos ovários, aumento da produção de androgênios pelos ovários, diminuição da produção de SHBG e na pele leva ao surgimento de acantose nigricans. ▪ Além disso, está associada ao surgimento de DM tipo 2, hipertensão arterial, dislipidemia e doença cardiovascular (DCV). Cerca de 45% das pacientes com SOP possui síndrome metabólica. SÍNDROME DO OVÁRIO POLICÍSTICO - GO MILENA BAVARESCO ▪ devido ao processo de alteração do eixo hipotálamo - hipófise-ovariano, ocorre anovulação, visto que o desenvolvimento folicular não é completado. ▪ Dessa forma, a SOP é responsável por cerca de 80% dos casos de infertilidade anovulatória. 2. IDENTIFICAR A APRESENTAÇÃO CLÍNICA DA SOP; ▪ A procura por um médico geralmente ocorre por pelo menos um desses três quadros: o Ciclos anovulatórios: pode se apresentar com quadros de sangramento uterino irregular, oligomenorreia e até amenorreia secundária. o Hiperandrogenismo: hirsutismo e acne (lembrando que a SOP é a principal causa de hiperandrogenismo na mulher). Não é comum a virilização (clitoromegalia, alteração de voz, aumento de massa muscular). Nesses casos, devemos investigar outras causas, tais como tumores adrenais ou ovarianos virilizantes (produtores de androgênios). o Infertilidade: SOP é responsável por até 80% dos casos de infertilidade por anovulação. DISFUNÇÃO MENSTRUAL ▪ Em mulheres com SOP as principais disfunções sexuais apresentadas são a oligomenorreia, amenorreia secundária e/ou sangramento uterino anormal. ▪ Amenorreia/ oligomenorreia: A amenorreia e a oligomenorreia são consequências do estado de anovulação que não forma corpo lúteo e por isso não produz progesterona. Em algumas pacientes com SOP, a amenorreia pode ser explicada pelos níveis elevados de androgênios ▪ Sangramento uterino anormal: Na SOP também pode ocorrer sangramentos uterinos que variam de intensidade e duração e aparecem de maneira imprevisível. Esses sangramentos se devem a estimulação do endométrio pelos estrogênios, sem contraposição da progesterona, levando a surgimento de um endométrio espesso e instável, resultando em sangramentos. HIPERANDROGENISMO ▪ As manifestações do hiperandrogenismo na SOP são principalmente a acne, hirsutismo e/ou alopecia androgênica. ▪ Acne: A acne se deve ao bloqueio da abertura folicular por hiperceratose, produção excessiva de sebo, proliferação de Propionibacterium acnes comensal e inflamação por ação androgênica. ▪ Alopecia: A alopecia ocorre devido a ação da 5- alfa- redutase no folículo piloso, gerando queda do cabelo. A manifestação mais comum do hiperandrogenismo é o hirsutismo que é definido como a presença de pelos mais escuros e ásperos em padrão de distribuição tipicamente masculino. ▪ Hirsutismo: Dentro do folículo piloso a testosterona é convertida em di-hidrotestosterona (DTH) pela enzima 5-alfa-redutase. o A testosterona e principalmente a DTH são os responsáveis por engrossar e enegrecer os pelos de áreas sensíveis a androgênios. o A quantificação da distribuição de pelos pode ser feita utilizando a Escala de Ferriman- - Gallwey. o De acordo com as novas recomendações da ASRM e ESHRE, a pontuação para considerar o hirsutismo varia de acordo com a etnia da paciente, sendo considerados o valor de 4 para orientais ou 6 para outras etnias. SÍNDROME DO OVÁRIO POLICÍSTICO - GO MILENA BAVARESCO DISFUNÇÕES ENDÓCRINAS ▪ Mesmo em pacientes com índice de massa corporal (IMC) ideal, é comum na SOP a ocorrência de resistência insulínica, intolerância a glicose e DM2. ▪ Resistência insulínica: Um dos marcadores da resistência insulínica é o aparecimento de acantose nigricans que é a consequência do estímulo insulínico no desenvolvimento de queratinocitos e fibroblastos da pele, levando ao espessamento e escurecimento em áreas de flexão da pele, principalmente nas axilas e na nuca. ▪ DM2/intolerância a glicose: mulheres com SOP apresentam risco elevado de desenvolver DM tipo 2 e intolerância a glicose devido a disfunção das células beta pancreáticas presente nessa patologia. DISL IPIDEMIA ▪ A dislipidemia tem alta prevalência na SOP e se caracteriza por níveis elevados de lipoproteína de baixa densidade (LDL), triglicerídeos e colesterol, além níveis reduzidos de lipoproteína de alta densidade (HDL). Sendo assim,a Síndrome Metabólica é uma entidade frequente nas mulheres com SOP. OBESIDADE ▪ Cerca de metade das pacientes com SOP são obesas, ou seja, tem IMC maior que 30. O padrão típico é andrógeno, com aumento da relação cintura/quadril. ▪ Esse aspecto contribui para o desenvolvimento de dislipidemia e aumento o risco cardiovascular presentes em mulheres com SOP. APNEIA OBSTRUTIVA DO SONO ▪ Tem alta prevalência em mulheres com SOP e está relacionada com obesidade central, resistência insulínica e alterações metabólicas e hormonais presentes na SOP. NEOPL ASIA ENDOMETRIAL ▪ Mulheres com SOP tem três vezes mais chance de desenvolver neoplasias endometriais devido ao quadro de anovulação crônica, associada a estimulação estrogênica sem oposição progestágena. INFERTIL IDADE ▪ Como descrito acima, devido ao processo de alteração do eixo hipotálamo-hipófise-ovariano, ocorre anovulação, visto que o desenvolvimento folicular não é completado. Dessa forma, a SOP é responsável por cerca de 80% dos casos de infertilidade anovulatória. HIPERTENSÃO ARTERIAL ▪ A hipertensão arterial tem risco aumentado de ocorrer em pacientes com SOP. Ela ocorre sobretudo no final da idade reprodutiva. SÍNDROME DO OVÁRIO POLICÍSTICO - GO MILENA BAVARESCO 3. ESTABELECER, DE FORMA ADEQUADA, O DIAGNÓSTICO DA SOP, INDICANDO, QUANDO NECESSÁRIO, EXAMES COMPLEMENTARES; EXAMES COMPL EMENTARES ▪ Vamos solicitar exames que podem ajudar a fechar nosso diagnóstico e também alguns que ajudarão a excluir outras causas. HORMÔNIOS ▪ Dosagem dos seguintes hormônios: LH, FSH, TSH, prolactina, testosterona total e livre, SDHEA, androstenediona, SHBG, 17-OH progesterona, BHCG. ▪ As alterações que podem ser encontradas são leve aumento de testosterona, androstenediona e SDHEA e diminuição de SHBG, além de relação LH/FSH > 2:1. TSH e prolactina têm que estar normais. ▪ Grandes aumentos de testosterona (> 200 ng/mL) podem estar relacionados a tumores virilizantes produtores de androgênio. Do mesmo modo, o SHDEA (sulfato de diidroepiandrosterona) é de produção exclusiva adrenal. Portanto, níveis muito acima do normal podem indicar tumores de adrenais. ▪ 17-OH Progesterona é um precursor do cortisol. Pode estar aumentada em casos de hiperplasia adrenal congênita (forma tardia), na deficiência da 21- hidroxilase. Na periferia, é convertida em androgênios. ▪ O BHCG tem o intuito de excluir gestação nas pacientes com amenorreia. ▪ A progesterona pode ser dosada e deve mostrar níveis baixos, compatíveis com anovulação. Os estrogênios não precisam ser dosados. Caso sejam, pode haver aumento da estrona. AVAL IAÇÃO METABÓL ICA ▪ Devem ser solicitadas dosagem de colesterol e frações (atenção especial ao LDL e HDL) e triglicérides. ▪ Para a resistência à insulina, glicemia de jejum e teste de tolerância oral à glicose em duas horas. A insulina basal pode ser dosada e se mostrará aumentada em um terço das pacientes. ▪ Além disso, deve-se verificar dados de exame físico como peso, altura, IMC, pressão arterial e circunferência abdominal. USG PÉL VICO ▪ De preferência por via transvaginal (se já tiver relação sexual). SÍNDROME DO OVÁRIO POLICÍSTICO - GO MILENA BAVARESCO ▪ Os achados para a SOP: 12 ou mais folículos medindo 2 a 9 mm de diâmetro ou volume ovariano aumentado (> 10 mL). TRATAMENTO ▪ A SOP possui uma ampla gama de sinais e sintomas com grande impacto na qualidade de vida das pacientes. Por isso o tratamento dos sintomas da SOP varia de acordo com as queixas de cada paciente individualmente. Além disso, o tratamento precoce da SOP reduz a morbimortalidade por doenças cardiovasculares. NÃO MEDICAMENTOSO ▪ Uma das queixas frequentes entre as pacientes com SOP é o sobrepeso e obesidade e para isso, como na população geral recomenda-se modificações do estilo de vida, com cessação do tabagismo e do uso abusivo de álcool, prática de atividade física regular e alimentação saudável. ▪ A perda de peso está associada a melhora da obesidade, dislipidemia, hipertensão, doença hepática gordurosa não alcoólica, apneia do sono, regulação endócrina, hiperglicemia e efeitos positivos na normalização dos ciclos menstruais. ▪ Evidências apontam que a perda de peso melhora os índices de ovulação, contribuindo para redução da infertilidade. ▪ Além disso, está relacionada a redução de abortamentos e doenças gestacionais, tanto fetais, quanto maternas. ▪ Para o hirsutismo, medidas cosméticas como métodos de depilação e epilação (retirada inteira dos pelos) também podem ser empregados. A depilação é a técnica mais utilizada, no entanto, efeitos colaterais como irritação da pele podem surgir. ▪ Dentre as técnicas de depilação pode-se usar a retirada mecânica dos pelos com pinça, cera e laser ou através da retirada permanente com a destruição térmica dos folículos pilosos. ▪ É comum em pacientes com SOP problemas psicológicos, como ansiedade e depressão, devido ao impacto do hiperandrogenismo na feminilidade e autoestima, sendo necessário uma abordagem multidisciplinar entre com profissionais ligados a saúde mental. MEDICAMENTOSO ▪ O tratamento medicamentoso visa reduzir as queixas mais comuns das pacientes com SOP. IRREGUL ARIDADE MENSTRUAL : ▪ Para o tratamento da irregularidade menstrual, é recomendado o uso preferencial de anticoncepcionais hormonais combinados (AHC) no tratamento de mulheres com SOP que não desejam gestar. ▪ Esses medicamentos além de promover a regularização dos ciclos menstruais e anticoncepção, também estão ligados a redução dos níveis de androgênios circulantes e promove antagonismo endometrial com a progesterona. ▪ Isso ocorre pois o estrogênio dos AHC aumenta a síntese e liberação de SHBG no fígado, reduzindo a quantidade de testosterona livre. Dessa forma, os AHC diminuem o hirsutismo e mais da metade das pacientes e reduz a proliferação endometrial. ▪ Mulheres que possuem contraindicação ao uso de AHC, podem fazer uso de progestágenos isolados para regularização do ciclo, porém esse medicamento não previne a gravidez e o não melhora o hirsutismo, além de está ligado a efeitos colaterais como cefaleia e ganho de peso. HIPERANDROGENISMO CL ÍNICO: ▪ Para o tratamento do hirsutismo clínico assim como de graus moderado e grave e da acne, pode-se utilizar os antiandrogênicos, associado a AHC. ▪ A medicação de escolha é o acetato de ciproterona. Entretanto, esses medicamentos estão associados ao ganho de peso e redução da libido. DISTÚRBIOS METABÓL ICOS: ▪ Para mulheres que não atingiram controle metabólico com a melhora da qualidade de vida, a metformina pode ser recomendada como adjuvante. ▪ Essa medicação é associada à redução da resistência insulínica, obesidade e melhora do perfil lipídico, além de reduzir a gliconeogênese hepática e melhorar as taxas de ovulação. SÍNDROME DO OVÁRIO POLICÍSTICO - GO MILENA BAVARESCO INFERTIL IDADE: ▪ Pacientes que desejam gestar podem utilizar medicações que induzem a ovulação, sendo a droga de primeira escolha o Citrato de Clomifeno. Essa medicação possui bons níveis de ovulação e gravidez. ▪ Na intolerância a essa droga, pode-se utilizar ainda gonadotrofinas. Vale lembrar que com o uso dessas medicações a paciente deve ser monitorada com ultrassonografias visando melhor eficacia gestacional e identificação de efeitos colaterais como a Síndrome do hiperestímulo ovariano. ▪ A fertilização in vitro (FIV) também tem altas taxas de sucesso em pacientes com SOP que desejam engravidar. Cirurgias para ressecção da cunha ovariana e eletrocauterização ovariana (Drilliingovariano) também podem ser empregadas em casos selecionados. CIRURGIA BARIÁTRICA: ▪ Pacientes com SOP que tenham dificuldade de perda de peso, sobretudo com obesidade grave, podem utilizar a cirurgia bariátrica como opção de tratamento. ▪ Essa cirurgia, independente da técnica empregada, está relacionada à redução ponderal, regularização hormonal e metabólicos, além de melhoria no hirsutismo, irregularidade menstrual e fertilidade.
Compartilhar