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Autor: Prof. Juliano Rodrigo Guerreiro Colaboradora: Profa. Marília Tavares Coutinho da Costa Patrão Semiologia e Anamnese Farmacêutica Professor conteudista: Juliano Rodrigo Guerreiro Graduado em Farmácia-Bioquímica pela Universidade de São Paulo (FCF/USP), em 2004, e doutor em Bioquímica pelo Instituto de Química da Universidade de São Paulo (IQ/USP), em 2009. Realizou pós-doutorado com ênfase em Bioquímica de Plantas pela Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” da Universidade de São Paulo (Esalq/USP), entre 2009 e 2012. É coordenador do curso de Farmácia desde 2008 e professor titular da Universidade Paulista desde 2009, tendo sido professor auxiliar da mesma universidade de 2005 a 2009. Tem experiência nas áreas de Bioquímica, Farmacologia, Fisiologia, Química, Teologia e História, e no gerenciamento de drogarias. Atua principalmente nos seguintes temas: estrutura de biomoléculas, bioquímica estrutural, metabólica e clínica, bioquímica e fisiologia de plantas, interação ligante-receptor e venenos animais. É autor e coautor de diversos livros e artigos científicos sobre venenos animais, fisiologia e bioquímica, além de três patentes. © Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Universidade Paulista. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) G934s Guerreiro, Juliano Rodrigo. Semiologia e Anamnese Farmacêutica / Juliano Rodrigo Guerreiro. – São Paulo: Editora Sol, 2022. 94 p., il. Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e Pesquisas da UNIP, Série Didática, ISSN 1517-9230. 1. Anamnese. 2. Humanização. 3. Prontuário. I. Título. CDU 616-07 U516.32 – 22 Prof. Dr. João Carlos Di Genio Reitor Profa. Sandra Miessa Reitora em Exercício Profa. Dra. Marilia Ancona Lopez Vice-Reitora de Graduação Profa. Dra. Marina Ancona Lopez Soligo Vice-Reitora de Pós-Graduação e Pesquisa Profa. Dra. Claudia Meucci Andreatini Vice-Reitora de Administração Prof. Dr. Paschoal Laercio Armonia Vice-Reitor de Extensão Prof. Fábio Romeu de Carvalho Vice-Reitor de Planejamento e Finanças Profa. Melânia Dalla Torre Vice-Reitora de Unidades do Interior Unip Interativa Profa. Elisabete Brihy Prof. Marcelo Vannini Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar Prof. Ivan Daliberto Frugoli Material Didático Comissão editorial: Profa. Dra. Christiane Mazur Doi Profa. Dra. Angélica L. Carlini Profa. Dra. Ronilda Ribeiro Apoio: Profa. Cláudia Regina Baptista Profa. Deise Alcantara Carreiro Projeto gráfico: Prof. Alexandre Ponzetto Revisão: Leonardo Dantas do Carmo Caio Ramalho Sumário Semiologia e Anamnese Farmacêutica APRESENTAÇÃO ......................................................................................................................................................7 INTRODUÇÃO ...........................................................................................................................................................8 Unidade I 1 SEMIOLOGIA FARMACÊUTICA .......................................................................................................................9 2 ANAMNESE FARMACÊUTICA ...................................................................................................................... 13 2.1 Anamnese ................................................................................................................................................ 13 2.1.1 Sinais vitais ................................................................................................................................................ 16 2.1.2 Avaliação do nível de consciência ................................................................................................... 18 2.1.3 Exame físico .............................................................................................................................................. 18 2.1.4 Modelo de ficha de avaliação farmacêutica ................................................................................ 22 3 RELAÇÃO TERAPÊUTICA – TÉCNICAS DE ACOLHIMENTO ................................................................ 29 3.1 Humanização no sistema de saúde .............................................................................................. 29 3.2 Humanização no atendimento de farmácias e drogarias.................................................... 29 3.3 Humanização no atendimento de farmácia clínica ............................................................... 31 3.4 Acolhimento da demanda ................................................................................................................ 31 3.5 Encaminhamento ................................................................................................................................. 33 4 ENTREVISTA FARMACÊUTICA – AVALIAÇÃO BIOPSICOSSOCIAL DO PACIENTE ...................... 34 4.1 Avaliação biopsicossocial .................................................................................................................. 34 4.2 Promoção da saúde ............................................................................................................................. 38 4.3 Entrevista farmacêutica ..................................................................................................................... 41 Unidade II 5 REGISTRO DA PRÁTICA ................................................................................................................................. 51 5.1 Prontuário médico ............................................................................................................................... 51 5.2 Prontuário farmacêutico ................................................................................................................... 54 6 CRITÉRIOS PARA A SELEÇÃO DA TERAPÊUTICA FARMACOLÓGICA ISENTA DE PRESCRIÇÃO ................................................................................................................................................... 59 6.1 Terapia não farmacológica ............................................................................................................... 59 7 INTRODUÇÃO AOS CUIDADOS FARMACÊUTICOS .............................................................................. 64 7.1 Definição de cuidados farmacêuticos .......................................................................................... 64 8 RACIOCÍNIO CLÍNICO ..................................................................................................................................... 68 8.1 Ciclos de vida ......................................................................................................................................... 72 7 APRESENTAÇÃO Caro(a) aluno(a), Este livro-texto é composto de um texto didático dirigido primordialmente para a fundamentação básica do estudante, e objetiva proporcionar o uso racional de horas de estudo e consolidar os conhecimentos teóricos que servirão de subsídio para outras disciplinas a serem cursadas adiante no curso. A organização do presente material segue uma estrutura de apresentação de conceitos de modo a facilitar o aprendizado, obedecendo também àquela utilizada nas aulas presenciais. Os tópicos contemplam os aspectos que envolvem conceitos fundamentais em semiologia e anamnese farmacêutica. Sendo assim, falaremos de como semiologia farmacêutica pode ser entendida, de como a identificação de sinais e sintomas – principalmente aqueles relacionados aos transtornos/distúrbios menores relatados pelo paciente – é importante para uma boa conduta farmacêutica. O farmacêutico deverá ser capaz de avaliar o seu paciente e, a partir de uma avaliação minuciosa, determinar os objetivos e as condutas a serem realizadas com ele. Paraisso, o profissional deverá realizar uma boa anamnese de seu paciente. A anamnese é caracterizada por uma entrevista minuciosa com o paciente, em que serão coletados seus dados pessoais, história clínica, antecedentes familiares, sinais e sintomas etc., para que se elabore seu plano de tratamento. Ela é a primeira parte da avaliação e, no dia a dia, se torna cada vez mais completa. A semiologia farmacêutica não deve ser confundida com diagnóstico, que é uma atividade realizada pelo médico, mas sim compreendida como uma nova ferramenta na dispensação ativa de medicamentos de venda livre. Este livro visa a identificar o desenvolvimento dessa prática e discutir os desafios necessários à sua implementação. A comunicação farmacêutico-paciente, as relações terapêuticas e o atendimento farmacêutico são amplamente abordados neste livro e servem de embasamento para a reflexão crítica da função do farmacêutico comunitário em saúde coletiva: a promoção do uso racional de medicamentos. O objetivo principal desta disciplina é desenvolver nos acadêmicos as habilidades para a relação terapêutica e as ferramentas para uma comunicação eficiente com o usuário de medicamentos, além de capacitar o futuro profissional para praticar a semiologia e realizar anamnese e indicação farmacêuticas. Para tanto, é preciso: • buscar condições para a relação com o paciente; • avaliar condições do paciente que possam interferir na farmacoterapia; • definir a estratégia a ser seguida em cada caso; 8 • comparar e avaliar os resultados esperados e encontrados de um dado tratamento; • integrar-se com o paciente e outros profissionais da área de saúde. O aluno terá a oportunidade de compreender o processo de propedêutica, acompanhamento farmacoterapêutico e sua relevância na prevenção de riscos associados à utilização dos medicamentos na prática clínica. Boa leitura! INTRODUÇÃO O estudo desta disciplina fará com que você se sinta mais seguro em ser farmacêutico clínico, em cuidar do adulto e de sua família. Você aplicará conceitos que já aprendeu em outras disciplinas na prática clínica do farmacêutico, e também aprenderá novos conteúdos que vão subsidiar essa vivência. Imagine um adulto doente ou em risco de adoecer na sua frente. O que fazer? Como começar? É preciso implementar um plano de cuidados de qualidade e individualizado a ele. Mas como fazer isso? Antes de tudo é preciso entender como planejar, e a principal ferramenta disponível ao farmacêutico para esse fim é conhecer a farmacoterapia. Além de compreender a ferramenta, é necessário entender o outro e participar do processo de enfrentamento do estresse causado pela doença. São muitas as mudanças na forma de ver as situações cotidianas e enfrentá-las. Altera-se a qualidade de vida e muitas vezes a forma de viver. Assim, são apresentadas na unidade I deste livro as principais ferramentas para que o farmacêutico possa entender e aplicar a semiologia e a anamnese. A prática da semiologia farmacêutica é ainda pouco conhecida entre os profissionais de saúde; por isso, é necessário agregar conhecimentos ao currículo do farmacêutico, inserindo desde a graduação a importância de prestar cuidados de saúde à sociedade, para que possam, com isso, implantá-la de forma segura. Ainda na unidade I são abordados temas para que o profissional se utilize de técnicas corretas para acolhimento dos pacientes ou usuários e, ainda, possa desenvolver uma entrevista produtiva e eficaz. Para tanto, é fundamental o entendimento do paciente como um ser biopsicossocial e integrar esse conceito na prática farmacêutica. Já na unidade II são apresentadas formas e técnicas de análise dos dados obtidos na entrevista. É importante que o profissional conheça a farmacoterapia para avaliar a necessidade, a eficácia e a segurança da terapia. Além disso, esta unidade relata como fazer a intervenção farmacêutica da maneira correta e dentro dos parâmetros legais. Por fim, o livro apresenta o raciocínio clínico que os profissionais farmacêuticos devem seguir para se alcançar o resultado almejado. 9 SEMIOLOGIA E ANAMNESE FARMACÊUTICA Unidade I 1 SEMIOLOGIA FARMACÊUTICA De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), os fatores mais importantes que desencadeiam o uso irracional de medicamentos são a falta de conhecimento do paciente e o acesso de muitos medicamentos que não necessitam de receita médica, permitindo o uso de medicamentos desnecessários. Parte da população recorre à automedicação, buscando nas farmácias a solução para seus sintomas mais comuns. Tal estratégia pode provocar danos que seriam menores se houvesse a implantação de dispensação ativa, em que o paciente recebe orientação farmacêutica adequada quanto ao uso seguro dos medicamentos, como indicação e forma correta de administração, os benefícios e riscos de sua utilização, a fim de minimizar o ônus socioeconômico nos diferentes níveis de atenção à saúde com atendimentos devido a agravamentos a saúde. A Federação Internacional de Farmacêuticos (FIP), preocupada com a automedicação desmedida, preparou um documento para padronizar as boas práticas de farmácia, que abrange atividades para incentivar o autocuidado, incluindo o aconselhamento aos usuários e, quando apropriado, a indicação de tratamentos medicamentosos, para aliviar desconfortos e enfermidades leves. O farmacêutico é o profissional capaz de identificar, resolver e prevenir potenciais problemas relacionados a medicamentos (PRMs) com o uso racional de medicamentos e possíveis intervenções, em um plano terapêutico efetivo e seguro, através da educação do paciente frente aos medicamentos. Estes recursos permitem otimizar a terapia medicamentosa, promovendo o bem-estar, e são capazes de reduzir problemas relacionados a automedicação e melhorar a qualidade de vida dos pacientes. A semiologia farmacêutica é a aplicação dos conhecimentos previamente adquiridos, os quais o farmacêutico, como profissional da saúde, utiliza para resolver distúrbios menores relacionados à farmacoterapia. Os sinais e sintomas referidos pelo paciente devem ser observados a fim de esclarecer a natureza da doença e traçar os planos terapêuticos conjuntos com o paciente e com a equipe de saúde. Os sinais podem ser percebidos e quantificados; já os sintomas são percepções humanas e dependem do relato do paciente. 10 Unidade I Observação A prática da semiologia farmacêutica é ainda pouco conhecida entre os profissionais de saúde; por isso, é necessário agregar conhecimentos ao currículo do farmacêutico, inserindo desde a graduação a importância de prestar cuidados de saúde à sociedade, para que possam, assim, implantá-la de forma segura. A semiologia farmacêutica é compreendida como a identificação de sinais e sintomas relatados pelo paciente. Essa prática profissional não serve ao diagnóstico, que é uma atividade realizada pelo médico; na verdade, deve ser entendida como uma nova ferramenta na dispensação ativa de medicamentos de venda livre. Agora, vamos aprender o significado dos principais termos utilizados na prática da semiologia e da anamnese. Dados objetivos Estes são dados mensuráveis e observáveis, cuja precisão depende da qualidade da medição. Por exemplo: exame físico (temperatura, pressão arterial). Dados subjetivos São aqueles que não podem ser medidos diretamente, nem sempre são precisos e reprodutíveis, e incluem percepções, reclamações, crenças, emoções etc. A maioria desses dados é coletada diretamente do paciente; no entanto, também podem ser percebidos pelos profissionais. Por exemplo: dor de cabeça, tristeza. Quadro 1 – Principais diferenças entre dados objetivos e dados subjetivos Dados objetivos Dados subjetivos Podem ser quantificáveis Não podem ser quantificáveis diretamente São observáveis Nem sempre são exatos Não são influenciados pelo sentimento ou pela parcialidade São coletados diretamente do paciente Adaptado de: Souza et al. (2015). 11 SEMIOLOGIA E ANAMNESE FARMACÊUTICANecessidades de saúde Em artigo publicado por Cecilio (2001) houve a indicação das necessidades de saúde que englobam boas condições de vida, acesso e utilização das tecnologias de atenção à saúde, vínculos entre usuário, profissional e equipe de saúde, e o desenvolvimento da autonomia do paciente, apesar de não indicar uma definição precisa da expressão. Estas são necessidades propriamente humanas, pois são socialmente determinadas e estão relacionadas à autonomia, ao bem-estar, à liberdade e à qualidade de vida das pessoas. Sua identificação possibilita a gestão das atividades da Estratégia Saúde da Família (ESF), garantindo os princípios de integridade e justiça do Sistema Único de Saúde (SUS). Problema de saúde Refere-se a qualquer queixa, observação ou evento percebido pelo paciente ou profissional de saúde como anormal, e que já afetou, está afetando ou pode afetar a capacidade funcional do paciente. Propedêutica e semiogênese Consistem em reconhecer e procurar sinais e sintomas, compreender sua gênese, aprender a coletar dados da história e do exame físico para avaliar as necessidades de saúde do paciente. Semiologia clínica A palavra semiologia vem do grego semeion (sinal) e logos (tratado, estudo). A semiologia clínica é o estudo dos sinais e/ou sintomas de doenças que acometem o ser humano, por meio de habilidades que incluem a realização de um exame clínico (histórico e exame físico), analisando os resultados de exames laboratoriais e complementares a fim de identificar as necessidades de saúde do paciente. Semiotécnica Diz respeito à técnica de coleta de sinais e/ou sintomas para avaliar as necessidades de saúde do paciente. Sinais São dados objetivos que podem ser avaliados pelo examinador através de inspeção, palpação, tapping, escuta, ou podem documentados por outras manobras. Exemplos de sinais incluem: temperatura corporal, pressão arterial, tosse, inchaço, cianose, presença de sangue na urina. Sintomas São as percepções do paciente em relação a uma condição de saúde anormal. Como não podem ser medidos pelos examinadores, não são absolutos. Podem ser influenciados pela cultura, inteligência, experiências anteriores, nível socioeconômico etc. Exemplos de sintomas são: tontura, dor, indigestão, dormência, náusea e tristeza. Nem sempre é possível diferenciar claramente um sinal e um sintoma, 12 Unidade I pois alguns sintomas (como a fadiga), embora subjetivos, podem ser observados objetivamente pelo examinador. Da mesma maneira, alguns sintomas (como taquicardia e febre), ainda que sejam mensuráveis, podem ser percebidos e relatados subjetivamente pelo paciente. Quadro 2 – Diferenças entre sinais e sintomas Sinais Sintomas Achados do pesquisador O que o paciente percebe Podem ser observados e mensurados Sensações humanas Podem ser quantificados por exame físico, laboratorial, de imagem e/ou complementar Podem ser influenciados pela cultura, inteligência, condições socioeconômicas etc. Adaptado de: Souza et al. (2015). Prescrição É um conjunto de ações documentadas relacionadas à atenção à saúde, a fim de promover, proteger e restaurar a saúde e prevenir doenças e outros problemas relacionados. Prescrição farmacêutica Trata-se da lei pela qual o farmacêutico seleciona e documenta o tratamento farmacológico e não farmacológico e outras intervenções relacionadas à assistência à saúde do paciente, visando a promoção, proteção e restauração da saúde e a prevenção de doenças e outros agravos à saúde. Problema de saúde autolimitado Refere-se à doença aguda de baixa gravidade com curto período de latência que desencadeia uma reação orgânica, a qual tende a ocorrer sem prejuízo ao paciente e que pode ser tratada de modo eficaz e seguro com medicamentos e outras preparações com fins terapêuticos, cuja dispensação não requeira uma prescrição médica, incluindo medicamentos industriais e preparações magistrais (alopáticas ou dinamizadas), plantas medicinais, medicamentos fitoterápicos ou com medidas não farmacológicas. Lembrete A semiologia – originada do grego semeion (signo, sinal) + logos (tratado, estudo) – ou propedêutica é um ramo da farmácia, biomedicina, medicina, enfermagem, fonoaudiologia, fisioterapia, odontologia, terapia ocupacional e nutrição relacionada ao estudo dos sinais e sintomas das doenças humanas. 13 SEMIOLOGIA E ANAMNESE FARMACÊUTICA 2 ANAMNESE FARMACÊUTICA 2.1 Anamnese O farmacêutico deverá ser capaz de avaliar o seu paciente e, a partir de uma avaliação minuciosa, determinar os objetivos e as condutas a serem realizadas com ele. Para isso, o profissional deverá realizar uma boa anamnese de seu paciente. A anamnese é caracterizada por uma entrevista minuciosa com o paciente, em que serão coletados seus dados pessoais, história clínica, antecedentes familiares, sinais e sintomas etc. para elaborar seu plano de tratamento. Ela é a primeira parte da avaliação e, no dia a dia, se torna cada vez mais completa. Lembrete Sinais: tudo aquilo que podemos verificar no paciente, por meio dos nossos sentidos. Ou seja, os sinais são objetivos. Por exemplo: febre. Sintomas: as queixas do paciente. Ou seja, os sintomas são subjetivos. Por exemplo: dor. A avaliação do paciente depende de um exame minucioso e sistemático; para levar a um diagnóstico correto, é necessário que o farmacêutico possua: • conhecimento de anatomia; • histórico preciso do paciente; • exame físico detalhado. Quando um farmacêutico se depara com um paciente e vai realizar a anamnese, ele deve colher primeiramente seus dados pessoais, como: • nome; • idade/data de nascimento; • gênero; • cor; • estado civil; • peso; 14 Unidade I • nacionalidade; • naturalidade; • profissão/ocupação. Segundo o código de ética do Conselho Federal de Farmácia (CFF), o farmacêutico deve sempre chamar seu paciente pelo nome, respeitá-lo, tratá-lo com dignidade e oferecer um tratamento integral e igualitário a todos os pacientes, independentemente de cor, raça, credo, condição socioeconômica, além de respeitar sua intimidade e pudor. Ainda de acordo com o código de ética, o farmacêutico deve estar com o crachá em local visível, para que o paciente possa identificá-lo. Após a coleta dos dados pessoais, o farmacêutico deverá averiguar a história clínica do paciente, ou seja, colher dados referentes à doença apresentada ou, no caso de crianças, pelo acompanhante. Para a anamnese, o farmacêutico deve fazer perguntas claras e de fácil entendimento do paciente e, ao mesmo tempo, mostrar-se interessado durante o procedimento, anotando todos os comentários realizados pelo paciente, pois eles podem ser de extrema importância para elaboração do tratamento farmacoterapêutico. Nesta história clínica, o farmacêutico deverá conhecer: • A queixa principal do paciente: quais são os sintomas apresentados por ele. Por exemplo: — Por que procurou o farmacêutico? — Qual é a queixa? • A história da moléstia atual (HMA): colher informações sobre o processo saúde-doença atual do paciente; deve ser bem detalhada, e os sinais e sintomas deverão ser bem caracterizados. Essas informações deverão ser escritas em ordem cronológica, obedecendo à ordem de instalação dos sintomas, dos mais antigos para os mais recentes. Por exemplo: — Como aconteceu? Foi por trauma, dor intensa quando movimenta, dor à noite etc.? — Onde localizava-se a dor ou outros sintomas no início do problema? — Quais movimentos ou atividades causam dor? — Há quanto tempo existe o problema? • A história da moléstia pregressa (HMP): colher informações sobre o passado do paciente, que a princípio não aparentam correlação direta ou indireta de causa e efeito com a HMA. Devem constar dados sobre doenças prévias, traumatismos, gestações e partos, cirurgias, hospitalizações, exames laboratoriais realizados, uso de medicamentos, tabagismo, etilismo, uso de tóxicos, fatores de risco, imunizações, sono e hábitos alimentares, entre outros. Esta é uma parte da anamnese muito importantee que pode trazer aspectos relevantes ao tratamento do paciente. Use sempre 15 SEMIOLOGIA E ANAMNESE FARMACÊUTICA uma linguagem coloquial, sem muitos termos técnicos, para que o paciente consiga entender o seu questionamento e fornecer as informações relevantes e necessárias ao seu tratamento. • Antecedentes familiares: doenças apresentadas por familiares (avós, pais, irmãos e filhos) que podem estar relacionadas com a patologia do paciente, ou podem ser um fator de risco para o desenvolvimento de determinada patologia. Por exemplo: histórico de câncer na família, doenças cardíacas, diabetes etc. As informações devem ser colhidas diariamente, seja com o próprio paciente, com seu responsável legal ou mesmo com o seu acompanhante no momento da internação em casos em que o paciente está impossibilitado de se comunicar. Muitas informações podem ser omitidas ou esquecidas na primeira avaliação, e, após o estabelecimento do vínculo terapeuta-paciente, elas poderão ser compartilhadas. Observação Uma boa anamnese não termina após o primeiro contato com o paciente, ou no caso de pacientes em ambientes hospitalares, após a verificação do prontuário. Ela deve ser feita durante todo o período de terapia do paciente. Identificação Queixa principal (QP) ou demanda História da doença atual (HDA) História médica pregressa (HMP) História familiar (HF) História pessoal e social (HPS) Revisão por aparelhos (RA) ou por sistemas (RS) Figura 1 – Elementos da anamnese Fonte: Souza et al. (2015). 16 Unidade I 2.1.1 Sinais vitais Os sinais vitais são medidas que fornecem dados fisiológicos, indicando o estado de saúde de uma pessoa, e evidenciam o funcionamento e as alterações da função corporal com o objetivo de auxiliar na avaliação do estado de saúde. Eles são compostos por: pressão arterial, frequência cardíaca/pulso, frequência respiratória e temperatura. Pressão arterial (PA) A PA é a força que o sangue exerce contra a parede das artérias. Ela é o produto do volume de sangue pela resistência vascular periférica, ou seja: PA = volume de sangue × resistência vascular periférica É composta por dois números: o primeiro (o de maior valor), chamado de sistólico, corresponde à pressão da artéria no momento em que o sangue foi bombeado pelo coração; e o segundo (o de menor valor), chamado de diastólico, corresponde à pressão na mesma artéria no momento em que o coração está relaxado após uma contração. A unidade de medida utilizada é o milímetro de mercúrio (mmHg). Por exemplo: 120 × 80 mmHg. Para se realizar a aferição dessa medida, deve-se utilizar um estetoscópio e o esfigmomanômetro. Segundo as Diretrizes brasileiras de hpertensão arterial (BARROSO et al., 2021) os valores pressóricos são parametrizados como: • Pressão arterial normal – pacientes com pressão sistólica menor que 120 mmHg e pressão diastólica menor que 80 mmHg. • Pré-hipertensão – pacientes com pressão sistólica entre 120 e 129 mmHg ou pressão diastólica menor que 80 mmHg. • Hipertensão estágio 1 – pacientes com pressão sistólica entre 130 e 139 mmHg ou pressão diastólica entre 80 e 89 mmHg. • Hipertensão estágio 2 – pacientes com pressão sistólica acima de 140 mmHg ou pressão diastólica acima de 90 mmHg. • Crise hipertensiva – pacientes com pressão sistólica acima de 180 mmHg ou pressão diastólica acima de 110 mmHg. Frequência cardíaca/pulso (FC/P) É uma sensação ondular que pode ser palpada em uma das artérias periféricas – radial, braquial, pediosa do pé, carótida, temporal, femoral, poplítea, tibial posterior – quando ocorre a 17 SEMIOLOGIA E ANAMNESE FARMACÊUTICA contração ventricular. A cada contração ventricular, aproximadamente de 60 a 70 mL de sangue entram na aorta (volume sistólico). A FC é o número de pulsações periféricas palpadas a cada minuto. Para se verificar a frequência de pulsação, frequência cardíaca ou pulso, devemos realizar uma palpação nas grandes artérias e, no período de um minuto, contar quantas sensações de onda sentimos à palpação. A unidade de medida é batimentos por minuto (BPM). Ela também pode ser aferida por meio de equipamentos como monitores cardíacos ou oxímetros. Por exemplo: ao palpar a artéria radial de um paciente internado na enfermaria ortopédica devido a uma fratura de fêmur ocasionada por um atropelamento, foi encontrada uma FC de 95 BPM. Frequência respiratória (FR) A respiração é a troca de gases dos pulmões com o meio exterior, que tem como objetivo a absorção do oxigênio e a eliminação do gás carbônico. A frequência respiratória, por intermédio do ritmo, profundidade e som, reflete o estado metabólico do corpo e a condição do diafragma e dos músculos do tórax, fornecendo oxigênio ao trato respiratório e aos alvéolos. Deve-se contar a frequência respiratória do paciente em um minuto, e cada frequência corresponde a inspiração e expiração. A FR também pode ser fornecida por meio do ventilador mecânico, caso o paciente encontre-se sob o uso de uma via aérea artificial, internado em uma UTI por não conseguir realizar as incursões respiratórias voluntariamente. A unidade de medida é expressa em respirações por minuto (RPM) ou incursões por minuto (IPM). Por exemplo: ao avaliar um paciente internado na enfermaria ortopédica devido a uma fratura de fêmur ocasionada por um atropelamento, ele apresenta uma FR de 19 RPM. Temperatura Consiste no equilíbrio entre a produção e a perda de calor do organismo, mediado pelo centro termorregulador localizado no hipotálamo. Para obtenção da medida deve-se utilizar um termômetro digital, pois o termômetro de mercúrio não pode mais ser utilizado. A temperatura corporal também pode estar visível em monitores de sinais vitais, e é aferida através de sensores que estão posicionados na axila do paciente. A unidade de medida é graus Celsius (°C). Observação Os sinais vitais pressão arterial (PA), frequência respiratória (FR), frequência cardíaca (FC) e temperatura (°C), bem como a análise do nível de consciência do paciente, deverão ser coletados e analisados não só na primeira avaliação, mas durante todo o período que o paciente permanecer em terapia – ou, no mínimo, antes e após a realização da terapia. 18 Unidade I 2.1.2 Avaliação do nível de consciência O nível de consciência do paciente também é um fator muito importante a ser analisado pelo profissional durante sua avaliação, pois por meio dele o farmacêutico consegue detectar se o paciente em questão encontra-se confuso, por exemplo, ou se está apresentando uma redução do seu nível de consciência, sendo necessária a aplicação de alguns recursos, como o uso de oxigênio ou uma abordagem médica imediata para uma intervenção mais invasiva. Para avaliação do nível de consciência, o farmacêutico poderá utilizar-se de recursos como: • Escala de Coma de Glasgow: avalia o comprometimento do nível de consciência por meio da análise de três parâmetros – abertura ocular, resposta verbal e resposta motora –, associados à presença ou não do reflexo pupilar. • Escala de Ramsay: avalia o paciente que se encontra sob uso de sedação. Saiba mais A Escala de Coma de Glasgow passou por algumas alterações em 2018. Para saber mais sobre o assunto, acesse: ESCALA de Coma de Glasgow. Biblioteca Virtual de Enfermagem, 25 out. 2018. Disponível em: https://cutt.ly/QCNCdHi. Acesso em: 13 set. 2022. 2.1.3 Exame físico Após a coleta da história do paciente, o farmacêutico deverá realizar com ele o exame físico e, juntamente com os dados obtidos na anamnese, traçar alguns objetivos e as condutas de tratamento. O exame físico explicita a história e os sintomas do paciente. Ele deverá ser realizado de modo global, avaliando o paciente em sua totalidade, porém com enfoque em sua real necessidade. Portanto, poderá conter itens específicos de avaliação de acordo com a especialidade. Aqui abordaremos uma avaliação de forma geral, e não específica. Inspeção (observação) O ato de observar o paciente detalhadamente deve serrealizado bilateralmente de maneira comparativa. Ao realizar a inspeção, a área a ser avaliada deve estar despida, o ambiente deve ser adequado e todo o procedimento precisa ser bem esclarecido ao paciente ou ao responsável. O paciente deve ser observado detalhadamente. 19 SEMIOLOGIA E ANAMNESE FARMACÊUTICA Os principais itens a serem inspecionados são: • face – expressões, assimetrias; • ombros – desníveis, assimetria da cintura escapular; • cintura pélvica – assimetria; • tipo de tórax; • alterações posturais; • pele – aspecto, sinais de inflamação, cicatrizes, dermatites, deformidades; • tipo de marcha (se usa auxílio para locomoção); • musculatura – tônus (hipertonia, hipotonia); • trofismo – hipertrofismo, hipotrofismo; • movimentos involuntários; • edema. O estado geral do paciente também deverá ser avaliado pelo farmacêutico, o que inclui coloração de pele (verificar se o paciente apresenta coloração azulada de pele, indicando falta de oxigenação em tecidos – cianose), presença de deformidades já instaladas, presença de feridas, entre outros. A dor do paciente também deverá ser avaliada – vale ressaltar que a dor é um sintoma relatado pelo paciente, portanto um item de avaliação subjetivo. Para se medir a intensidade da dor, há escalas específicas, e as mais utilizadas são a Escala Visual Analógica (EVA) e a Escala Visual Numérica (EVN). Por meio delas, o paciente pode apontar para o profissional de saúde o quão intensa é a sua dor: em um extremo, está a condição sem dor, ou dor “nota zero”; no extremo oposto, a pior dor que a pessoa já sentiu, ou “dor nota dez”. Ausculta pulmonar Também deverá ser realizada para avaliação de alterações no som pulmonar fisiológico (murmúrio vesicular ou apenas som pulmonar) e presença de sons patológicos (roncos, sibilos inspiratórios, sibilos expiratórios, estertores crepitantes ou crepitações grossas, estertores subcrepitantes ou crepitações finas) que podem ser indicativos de afecções pulmonares, como atelectasias, derrames pleurais, broncoespasmo e presença de secreções pulmonares. A ausculta pulmonar é realizada com o auxílio de um estetoscópio em pontos específicos do tórax, tanto em sua parte anterior quanto 20 Unidade I em sua parte posterior. Deve-se tomar cuidado para não colocar o estetoscópio sobre estruturas ósseas, pois a ausculta poderá ficar comprometida. A ausculta pulmonar não é procedimento regulamentado em nenhuma resolução do CFF, não sendo um exame de atribuição do farmacêutico. Avaliação de exames complementares São considerados exames complementares todos os exames que são apresentados pelo paciente e que podem complementar a avaliação do fisioterapeuta e, dessa forma, tornar o objetivo de seu tratamento mais específico, visando ao bem-estar e melhora do quadro clínico e da qualidade de vida do paciente. Além do exame físico, o farmacêutico deverá estar apto a avaliar exames complementares apresentados pelo paciente, como: • raio X; • tomografia computadorizada; • ressonância magnética; • ultrassonografia; • doppler de membros; • ecocardiograma; • eletrocardiograma; • exames de sangue (hemograma, gasometria arterial, função renal, enzimas cardíacas etc.); • teste ergométrico e ergoespirométrico; • espirometria. Os profissionais farmacêuticos podem ainda solicitar exames clínicos para avaliação das reações adversas que as medicações podem causar. 21 SEMIOLOGIA E ANAMNESE FARMACÊUTICA Saiba mais Para entender melhor os exames que os farmacêuticos podem solicitar na prática clínica, consulte o artigo a seguir: VALÉCIO, M. Análises clínicas: farmacêutico também pode solicitar exames laboratoriais. Anápolis: ICTQ, [s.d.]. Disponível em: https://cutt.ly/UC0E6sA. Acesso em: 13 set. 2022. Avaliação da farmacoterapia A seleção da terapia farmacológica deve resultar de um processo de decisão que considere as necessidades e os problemas de saúde do paciente, a efetividade e a segurança dos medicamentos, as características do paciente e a presença de situações especiais e precauções. Deve, ainda, ser baseada nas melhores evidências disponíveis e considerar a definição dos componentes descritos no quadro a seguir. Quadro 3 – Componentes da terapia farmacológica Indicação clínica Sinais e/ou sintomas que justificam a escolha da terapia farmacológica Objetivo terapêutico O que se pretende atingir com o uso do medicamento (cura, alívio, prevenção de uma complicação etc.) Meta terapêutica Parâmetros para mensuração, frequência e forma de avaliação dos resultados, em termos de efetividade e segurança Via de administração Conforme necessidade de local ou velocidade de início de ação, ciclo de vida, preferências pessoais, crenças Classe farmacológica e princípio ativo De acordo com a segurança, a efetividade, a conveniência e a relação custo-benefício para o alcance dos objetivos terapêuticos pretendidos Medicamento Nome do medicamento ou formulação, concentração/dinamização e forma farmacêutica Regime terapêutico Dose, frequência de administração do medicamento e duração do tratamento Instruções adicionais Quando necessário Adaptado de: Souza et al. (2015). 22 Unidade I O farmacêutico deve procurar conhecer todos os medicamentos que o paciente está tomando, incluindo suas indicações, regime posológico (dose, via de administração, frequência e duração) e resposta (eficácia e segurança). Tão importantes quanto os medicamentos prescritos são os medicamentos de venda livre, plantas medicinais, suplementos vitamínicos e vacinas, que são comumente subestimados pelos pacientes como medicamentos. Essa abordagem deve ser realizada com a valorização do conhecimento do paciente, sua percepção dos problemas, sua cultura e status social, e como a medicação se encaixa em sua rotina de vida, seus horários e seus hábitos. Nesta fase inicial do monitoramento da farmacoterapia, é essencial que o farmacêutico compreenda a experiência de medicação relatada pelo paciente. Isso inclui as atitudes, desejos, expectativas, preocupações, compreensão e comportamento do paciente em relação à medicação – essenciais para a tomada de decisão clínica. Apenas com essa abordagem pode-se compreender com segurança a adesão terapêutica do paciente, e somente a partir dessa abordagem será possível educar o paciente ou influenciar seu comportamento quanto ao uso correto da medicação. Durante a entrevista, o farmacêutico deve anotar informações relevantes para incorporar o histórico médico do paciente ao prontuário. É preciso encontrar um equilíbrio entre ouvir e interagir com o paciente e tomar notas enquanto o paciente está falando. Com tempo e experiência, o farmacêutico poderá garantir um bom fluxo de atendimento, ao mesmo tempo em que registra as informações e dá ao paciente uma sensação de aceitação e profissionalismo. As informações organizadas pelo farmacêutico durante a entrevista devem formar uma “imagem” do paciente conhecida como estado situacional. O estado situacional (em espanhol, estado de situación) consiste em uma lista completa de problemas de saúde e toda a farmacoterapia para que os medicamentos utilizados e o estado clínico não tratado do paciente sejam conhecidos em detalhes. Nesta “foto” inicial também deve ser possível avaliar os resultados terapêuticos alcançados até o momento. O estado situacional é a base de informações na qual o farmacêutico revisará a farmacoterapia e identificará os problemas relacionados à farmacoterapia do paciente, etapas que formam a próxima fase do método clínico. 2.1.4 Modelo de ficha de avaliação farmacêutica Todos os dados colhidos deverão ser anotados em uma ficha de avaliação do paciente/prontuário, bem como os testes realizados, sinais vitais e interpretação de exames complementares. Todas as sessões realizadas pelo paciente deverão ser anotadas no prontuário com especificações de sinais vitais, avaliações e terapia realizadas no dia em questão, evolução do paciente durante e após o atendimentofarmacêutico. A seguir, observe um modelo de ficha de atendimento farmacêutico. 23 SEMIOLOGIA E ANAMNESE FARMACÊUTICA Quadro 4 – Modelo de ficha de atendimento farmacêutico Primeira consulta Data do atendimento: Número do prontuário: ldentificação Número do cartão SUS: CPF: Nome completo: Data de nascimento: Sexo: Endereço: Telefone: Naturalidade: Estado civil: Renda familiar: Escolaridade: Nome do cuidador: Grau de parentesco: ldade: Hábitos de vida Fumo 1 ( ) não 2 ( ) sim 3 ( ) parou de fumar Se a resposta for sim ou parou de fumar, responda: 1 ( ) frequentemente 2 ( ) raramente Tipo: Quantidade: Tempo: Bebida alcóoIica 1 ( ) não 2 ( ) sim 3 ( ) parou de beber Se a resposta for sim ou parou de beber, responda: 1 ( ) frequentemente 2 ( ) raramente Tipo: Quantidade: Tempo: Café 1 ( ) não 2 ( ) sim 3 ( ) parou de beber Se a resposta for sim ou parou de beber, responda: 1 ( ) frequentemente 2 ( ) raramente Quantidade: Atividade física 1 ( ) não 2 ( ) sim 3 ( ) parou de fazer Se a resposta for sim ou parou de fazer, responda: 1 ( ) frequentemente 2 ( ) raramente Tipo: Quantidade: Tempo: 24 Unidade I Fica sozinho a maior parte do dia? 1 ( ) sim 2 ( ) não Você necessita de outras pessoas para realizar os cuidados do dia a dia? 1 ( ) sim 2 ( ) não Descrever as atividades dependentes: Em geral você diria que sua saúde é: 1 ( ) muita boa 2 ( ) boa 3 ( ) regular 4 ( ) ruim 5 ( ) muito ruim Sono e repouso: sente dificuldade para dormir à noite? 1 ( ) sempre 2 ( ) às vezes 3 ( ) nunca Ocorrência de quedas 1 ( ) sim 2 ( ) não. Quando? Locomoção 1 ( ) sem dificuldades 2 ( ) déficit motor em MID 3 ( ) déficit motor em MIE 4 ( ) déficit motor em MID e MIE 5 ( ) usa prótese? Local? 6 ( ) necessita de apoio Tipo: 6.1 ( ) bengala 6.2 ( ) muleta 6.3 ( ) andador 6.4 ( ) não usa apoio para se locomover Alergias Possui algum tipo de alergia? 1 ( ) não 2 ( ) medicamentos. Quais? 3 ( ) alimentos. Quais? 4 ( ) poeira, mofo, fumaça, pelo de animal 5 ( ) outros. Quais? Plantas medicinais Utiliza alguma planta medicinal? 1 ( ) não 2 ( ) sim. Quais? Nome: Início: Posologia: Suplementos e vitaminas Utiliza algum suplemento ou vitamina? 1 ( ) não 2 ( ) sim. Quais? Nome: Início: Posologia: 25 SEMIOLOGIA E ANAMNESE FARMACÊUTICA Moléstias Doenças: História clínica: Doenças anteriores? 1 ( ) não 2 ( ) sim. Quais? (Datar) Você passou por alguma cirurgia? 1 ( ) não 2 ( ) sim. Quais? (Datar) Você foi internado(a)? 1( ) não 2( ) sim. Quais? (Datar) Listar todas as queixas do paciente: 26 Unidade I Exames físicos Data Peso (kg) Altura (cm) Cir. abdom. (cm) PA (mmHg) FC (bat/min) Sat. 02 (%) Glicemia capilar (mg/dL) Temp. axilar IMC Exames clínicos e laboratoriais Data Glicemia de jejum Col. total LDL-col HDL-col TG TGO TGP HblAC Ferro 27 SEMIOLOGIA E ANAMNESE FARMACÊUTICA Exames clínicos e laboratoriais Data Ureia Creat. Ácido úrico Lipase Amilase Hemácias Leucoc. Plaquet. Hb Exames clínicos e laboratoriais Data TGO TGP gama-GT 28 Unidade I Registro atual dos medicamentos Medicamento: Dose: Posologia: Horário: Data de início: O que usa para tomar? Esquece de tomar com qual frequência? Sente algo quando toma? Medicamento: Dose: Posologia: Horário: Data de início: O que usa para tomar? Esquece de tomar com qual frequência? Sente algo quando toma? Medicamento: Dose: Posologia: Horário: Data de início: O que usa para tomar? Esquece de tomar com qual frequência? Sente algo quando toma? 29 SEMIOLOGIA E ANAMNESE FARMACÊUTICA 3 RELAÇÃO TERAPÊUTICA – TÉCNICAS DE ACOLHIMENTO 3.1 Humanização no sistema de saúde A saúde é direito de todos e dever do Estado. Tal concepção foi desenvolvida pelo SUS, assim como a própria humanização. Os princípios do SUS são completamente humanistas: universalidade, integralidade, equidade e participação social. Esse humanismo essencial deve ser adequado em qualquer situação atual da prática profissional (RIOS, 2009). A humanização da assistência à saúde é uma demanda atual e crescente no contexto brasileiro, que assume diferentes significados de acordo com o desenho de intervenção escolhido. Quando falamos em humanização, nos referimos à descentralização do cuidado e à necessidade de preservar um atendimento mais humanizado e capaz de atender à dignidade das pessoas em situações de necessidade de cuidado ou atenção. Portanto, é preciso pensar a humanização, que hoje é aplicada de forma incerta, com o progresso tecnológico e científico predominante e muitas vezes a fragmentação da atenção, que deveria ser dada de forma mais humana (GALLO; MELLO, 2009). A Política de Humanização da Assistência à Saúde (PHAS) foi desenvolvida em 2003 com o desafio da prática em saúde em que o profissional passa a ver a pessoa como um todo – não apenas como um corpo ou fragmentação, mas como um indivíduo que participa ativamente de seu processo de saúde-doença (SOUZA et al., 2005). Atualmente, discute-se a necessidade de humanizar o atendimento, a assistência e a relação com o usuário do serviço de saúde; portanto, a humanização pode ser entendida, em geral, como uma mudança na visão dos profissionais na prestação de serviços aos usuários. A humanização pode ser entendida como: o princípio da ação humanística e ética; o movimento contra a violência institucional em saúde; política pública de atenção e gestão no SUS; metodologia auxiliar para gestão participativa; tecnologia do cuidado em saúde (OLIVEIRA; COLLET; VIERA, 2006). Com as propostas de humanização, cresce a valorização das relações humanas, e o sigilo é entendido como um dos fundamentos de sustentação em uma relação produtiva entre profissional de saúde e usuário do serviço. Nesse contexto, o cuidado tenta aliar fatores tecnológicos e relações interpessoais, os serviços tentam adequar o cuidado, os familiares são percebidos como colaboradores no tratamento e o profissional de saúde também começa a ser valorizado por sua qualidade nas relações interpessoais. Tudo isso contribui para uma relação mais humana entre o profissional e o paciente, integrando a experiência de cuidado ao ciclo vital e tornando-a uma oportunidade de desenvolvimento humano para ambos (PUCCINI; CECILIO, 2004; SOUZA et al., 2005). 3.2 Humanização no atendimento de farmácias e drogarias A humanização no atendimento tem como foco receber e cuidar dos consumidores. Isso inclui tudo, desde o instante em que o cliente entra na farmácia até o momento em que a compra é concluída. Em suma, humanização no atendimento significa respeito mútuo entre profissional e cidadão. Dessa forma, é realizado um atendimento empático e compreensivo, sempre buscando entender a dor do 30 Unidade I consumidor e oferecer muito mais do que bens, mas também soluções. Para tanto, veja dicas de como implementar a humanização no serviço de farmácia. O processo começa dentro da farmácia Isso significa que o atendimento ao cliente é um reflexo de como a equipe pode funcionar. Para a melhor prestação de cuidados humanizados, é necessário, portanto, primeiro introduzir a humanização no tratamento dos funcionários. Dessa forma, todos entram no ritmo e entendem a importância de recursos como calma, paciência, empatia, respeito e sensibilidade. Afinal, a humanização no atendimento ocorre quando há ética e acolhimento profissional. É possível reunir todas essas qualidades e manter um excelente comportamento profissional e um ambiente adequado. Honestidade e transparência Mostre ao cliente que você entende a dor e o problema dele. Para a aplicação do atendimento humanizado nas farmácias, é fundamental manter sempre a honestidade e a transparência. Dessa forma, é possível que um consumidor entre no estabelecimento em busca de um produto, mas, graças à honestidade e transparência dos funcionários, acabe levando outro muito melhor. Isso permite que o indivíduo veja que está realmentesendo ouvido e ajudado, pois o funcionário pode conversar e trocar pensamentos válidos sobre a compra de produtos. Observação A memória é um elemento que contribui para a humanização do atendimento. Portanto, converse com o cliente, guarde o máximo de informações possível e mostre que se lembra dele. Lembrar o nome do consumidor ou alguma característica do dia em que ele esteve no estabelecimento fará com que se sinta querido e desejado. Tal estratégia colabora muito para fazer com que todos os clientes se sintam em casa, felizes e seguros de estar onde estão. Humanização no atendimento durante a pandemia de covid-19 O distanciamento social é algo que realmente abalou as estruturas do mundo inteiro em diversos aspectos, devido à pandemia do novo coronavírus. Para as empresas que praticam o atendimento humanizado, o distanciamento e a utilização da máscara são medidas que, apesar de necessárias para a proteção na farmácia, atrapalham muito durante o atendimento. 31 SEMIOLOGIA E ANAMNESE FARMACÊUTICA No entanto, ainda assim é possível tratar o cliente de maneira humanizada, próxima e agregar diferencial, mesmo que ele não esteja vendo completamente o seu rosto. Para isso, algumas dicas podem ajudar: • Procure olhar sempre nos olhos; • Tenha certeza de que está olhando para o consumidor com alegria; • Mantenha a distância recomendada, mas não abra mão do bom atendimento; • Tente falar de maneira clara e calma. Desse modo, a humanização no atendimento será mantida, mesmo em períodos como o de distanciamento social. 3.3 Humanização no atendimento de farmácia clínica O alto consumo de medicamentos é comprovado e discutido e gera preocupação entre profissionais e autoridades de saúde. Além disso, a questão da adesão aos cuidados de saúde, especialmente as recomendações terapêuticas e o uso racional de recursos, que consta no rol de preocupações de pesquisadores e profissionais de saúde, ganhou importância nas últimas décadas. A adesão ou não aos cuidados terapêuticos pelos profissionais de saúde é um fenômeno que envolve indiscriminadamente pessoas de diferentes idades, gêneros e etnias e está conectado a diversos fatores relacionados aos profissionais de saúde, ao tratamento e à patologia. Concorrem ainda outros fatores, como a situação financeira dos usuários, o número de medicamentos prescritos, o regime terapêutico, os efeitos colaterais dos medicamentos, o acesso ao sistema de saúde, a relação médico-paciente e as características assintomáticas da doença e sua cronicidade. Nos últimos anos, houve uma importante mudança de paradigma na compreensão sobre a finalidade do trabalho do farmacêutico, que não mais se concentra no medicamento como produto, mercadoria de consumo ou simplesmente para apoiar o acesso ao insumo – passando a ocupar uma posição central no usuário dos serviços de saúde no sentido de considerá-lo como sujeito do direito do acesso aos benefícios do cuidado terapêutico. 3.4 Acolhimento da demanda Na maioria dos casos, o recebimento de uma solicitação começa com a iniciativa do paciente de procurar um farmacêutico para solucionar um problema de saúde. Nesse caso, o paciente reconhece que precisa de ajuda profissional e também da expertise do farmacêutico para gerenciar o problema. A indagação espontânea pode ser acompanhada de relatos de sinais e/ou sintomas identificados pelo paciente e suas expectativas, crenças, preocupações e tentativas anteriores de tratamento. 32 Unidade I Ao atender à solicitação, é importante que o farmacêutico ouça de forma ativa e competente os problemas de saúde do paciente, sempre dê uma resposta positiva e se responsabilize pela sua solução. Esta atividade inclui também a garantia de acesso aos recursos necessários ao seu tratamento, quer sejam prestados por um farmacêutico ou por outro profissional ou serviço de saúde. O acolhimento deve humanizar o atendimento e deve ser realizado em ambiente adequado, que garanta conforto e privacidade ao paciente. A seguir observe o relato de experiências dos cuidados farmacêuticas na atenção primária do SUS. O relato trata das experiências de atenção farmacêutica realizada por uma UBS sob gestão municipal, em parceria com a Fundação Faculdade de Medicina, localizada no distrito de Raposo Tavares, região oeste do município de São Paulo. Inaugurada em 1985, a UBS está organizada como Estratégia Saúde da Família desde outubro de 2009, operando com seis equipes, cobrindo uma população de 18.949 habitantes, segundo dados do Sistema de Informação da Atenção Básica (Siab) de junho de 2012. Os relatos das experiências na atenção farmacêutica referem-se ao período compreendido de 2010 a 2012. O contato dos usuários dos serviços de saúde da UBS com o dispensário de medicações, popularmente identificado como farmácia, é feito por meio do guichê de atendimento. Nele é apresentado o receituário preenchido pelo médico ou, em alguns casos, pelo enfermeiro, quando consensuado nos protocolos clínicos. Na prática diária, constata-se que os usuários chegam com muitas dúvidas, alguns não sabem ler, outros, mesmo alfabetizados, têm dificuldades para “decifrar” as anotações do receituário, realizadas de forma muitas vezes incompreensível até para os profissionais familiarizados com as medicações. Em geral, há prescrições de amplo número de medicamentos, com indicações variadas ao longo do dia, dificultando a compreensão e, portanto, influenciando a adesão aos cuidados terapêuticos. A farmácia não é um local que oferece privacidade nem garante o sigilo para que se realizem as orientações sobre o modo de preparo das medicações, quando necessárias, e sobre as posologias prescritas a serem ingeridas no domicílio. Nesse primeiro contato, quando já se observam dificuldades de entendimento dos usuários, utilizam-se estratégias que buscam fomentar a apropriação das informações, como a tradução e/ou interpretação da prescrição das receitas, registrando uma redação no verso, de forma que possa ser mais bem entendido. Outra estratégia utilizada é o uso de pictograma, que nada mais é que a utilização de símbolos que representam um objeto ou conceito por meio de desenhos figurativos, como os horários de tomada de medicações, representados com figuras para o café da manhã, almoço e jantar. Fonte: Prata et al. (2012, p. 527). 33 SEMIOLOGIA E ANAMNESE FARMACÊUTICA Saiba mais Para entender melhor as dificuldades no atendimento farmacêutico na rede pública, acesse: PRATA, P. B. A. et al. Atenção farmacêutica e a humanização da assistência: lições aprendidas na promoção da adesão de usuários aos cuidados terapêuticos nas condições crônicas. O Mundo da Saúde, São Paulo, v. 36, n. 3, p. 526-530, 2012. Disponível em: https://cutt.ly/RVejTY0. Acesso em: 13 set. 2022. 3.5 Encaminhamento Ao decidir sobre uma prescrição recomendada, o farmacêutico deve diferenciar claramente entre casos mais graves que requerem cuidados imediatos e casos leves ou moderados que não requerem cuidados urgentes. Assim, sempre que o farmacêutico decidir que este é o melhor curso de ação, a recomendação deve ser: • especificada na receita; • descrita no prontuário do paciente; • registrada em documento, também denominado “Encaminhamento”, endereçado a outro profissional ou estabelecimento de saúde, que contenha a justificativa para a qual o paciente foi encaminhado. A redação do documento de encaminhamento deve permitir que o paciente entenda os motivos de tal encaminhamento e possa seguir as orientações recebidas, e que outro profissional ou serviço entenda a situação médica do paciente e, assim, possa continuar o atendimento. As informações sobre a condição médica do paciente que justifiquem a recomendação devem ser mantidas em arquivo para demonstrar a atuação do farmacêutico, principalmente em situações de urgência/emergência. 34 Unidade I Deixar claro: motivo, situação de saúde do paciente e todas as informações necessárias à continuidade do cuidadoRegistrarno prontuário do paciente Anotar na receita do paciente como um item Decisão pelo encaminhamento do paciente a outro profissional ou serviço de saúde Explicar verbalmente ao paciente, inclusive em casos de urgência ou emergência, sempre que possível Redigir o documento direcionado a outro profissional ou serviço de saúde Figura 2 – Processo de documentação da decisão pelo encaminhamento do paciente a outro profissional ou serviço de saúde Fonte: Souza et al. (2015). 4 ENTREVISTA FARMACÊUTICA – AVALIAÇÃO BIOPSICOSSOCIAL DO PACIENTE 4.1 Avaliação biopsicossocial A avaliação psicossocial, integrada à avaliação clínica, proporciona ao profissional de saúde um olhar integral para o ser humano. Existe uma herança histórica, ancorada no paradigma positivista, de aprofundamento no conhecimento da dimensão biológica do ser humano. Entretanto, em conformidade com o paradigma da complexidade, vemos emergir gradativamente a valorização da dimensão psicossocial, sem a qual não é possível responder às complexas demandas do ser humano. O cuidado com a saúde das pessoas envolve atenção para diversos aspectos de natureza psicossocial. Identificar a presença de tais aspectos, conhecer sua magnitude e compreender suas relações é fundamental para o adequado atendimento por qualquer profissional de saúde (MOTA; PIMENTA, 2007, p. 310). Mota e Pimenta (2007) informam que pesquisadores, com o objetivo de avaliar conceitos sob uma nova perspectiva, incluindo novas dimensões não exploradas, ou ainda aperfeiçoar um instrumento já 35 SEMIOLOGIA E ANAMNESE FARMACÊUTICA existente, têm trabalhado na construção de novas possibilidades de medida. Se, no passado, fenômenos subjetivos tais como fadiga, dor, autoeficácia, depressão e qualidade de vida eram considerados sem possibilidade de mensuração, atualmente encontramos à disposição diversos instrumentos para esse tipo de avaliação. O desafio está em incorporá-los à prática clínica visando a aperfeiçoá-los. Esse novo caminho, em busca de instrumentos que considerem a subjetividade humana, é reflexo de um movimento de resgate da complexidade do ser humano, que durante muito tempo ficou submetido a uma avaliação objetiva e materialista, em conformidade com a racionalidade biomédica de compreensão do ser humano em seu aspecto orgânico e biológico (SOUTO; PEREIRA, 2011). A literatura relata que a abordagem clínica no século XX foi permeada pela incorporação de uma prática materialista, desenvolvida a partir da racionalidade biomédica centrada no orgânico. Nesse sentido, a doença é relacionada prioritariamente a um efeito anatômico, bioquímico ou fisiológico (SANVITO, 2009; SOUTO; PEREIRA, 2011). Essa forma de abordagem clínica levou à utilização abusiva de insumos de finalidade biomédica na atenção aos problemas de saúde e à subtração do aproveitamento de tecnologias de cuidado voltadas à promoção da saúde e à qualidade de vida. Além disso, não valorizou o princípio da equidade. Houve, dessa forma, uma dicotomia entre o sujeito e a vida na vivência do processo de cuidado à saúde, o que reduziu a abordagem das necessidades clínicas aos limites do corpo biológico (FONSECA; KIRST, 2004; SOUTO; PEREIRA, 2011). Como resultado dessa forma de abordagem, foram evidenciadas as dificuldades em lidar com fenômenos subjetivos do indivíduo que demandam cuidado e, assim, ocorreu um movimento de resgate da clínica com foco no sujeito, de forma a suscitar vida ao vivo e o sentido de ser à pessoa. Para isso, foi iniciado um processo de estabelecimento de diagnósticos que ultrapassam a dimensão biomédica, bem como de prescrições objetivas. Trata-se de alcançar uma prática que aborde o espaço da existência, extrapolando os objetos em termos de vida e morte, adotando uma estratégia que identifica as necessidades de saúde e propõe planos de cuidado de modo ampliado e integral (FONSECA; KIRST, 2004; SOUTO; PEREIRA, 2011). A saúde envolve aspectos de essência integradora, inter-relacional e multidimensional e permeia múltiplas dimensões do ser humano: biológicas, sociais, psicológicas, espirituais, dentre outras. Essas dimensões se inter-relacionam com o ambiente no qual as pessoas se encontram e que pode demandar o atendimento em saúde com foco no equilíbrio e na sustentabilidade (CAPRA, 2002; ZAMBERLAN et al., 2013). As ações em saúde necessitam, fundamentalmente, ser pautadas considerando os ambientes onde o ser humano está agregado, bem como a rede de interações e relações que ele construiu ao longo da vida, visto que a relação dele com o meio gera repercussões no seu pensar, agir e sentir (ZAMBERLAN et al., 2013, p. 606). 36 Unidade I Ações ecossistêmicas no cotidiano de trabalho do farmacêutico envolvem o atendimento integral ao ser humano, uma vez que tem a oportunidade de adotar ações que abrangem aspectos ambientais, ecológicos, físicos, psicológicos, sociais e espirituais, criando, desse modo, possibilidades de um cuidado integrativo e inter-relacional. Destaca-se, ainda, a concepção de cuidado inserida na interação com o ambiente. Refletir na perspectiva ecossistêmica é, essencialmente, religar saberes, favorecer flutuações em diversos campos do conhecimento, promover a auto-organização e, em especial, propiciar a sustentabilidade dos sistemas vigentes (ZAMBERLAN et al., 2013). A OMS, com o objetivo de promover em nível internacional o reconhecimento da relevância dos determinantes sociais, bem como o combate das iniquidades em saúde desencadeadas por eles, estabeleceu a Comissão sobre Determinantes Sociais da Saúde em 2005 (CSDH, 2008). Nesse mesmo ano, o governo brasileiro fundou a sua Comissão Nacional sobre Determinantes Sociais da Saúde (CNDSS), promovendo esse debate em âmbito nacional. Além disso, divulgou um relatório, fruto de discussões dessa comissão (CNDSS, 2008). A CNDSS propôs, nesse relatório, a utilização de um modelo conceitual de determinação social da saúde, que estratifica os determinantes em diferentes eixos: os macrodeterminantes, referentes às condições socioeconômicas, culturais e ambientais gerais, bem como os determinantes proximais, a exemplo de estilo de vida dos indivíduos, idade, sexo e fatores hereditários. Além disso, a CNDSS também estabeleceu um conjunto de indicadores relacionados aos diversos determinantes sociais. Destaca-se, porém, a restrição na discussão da temática ambiental. O estabelecimento da CNDSS representou um avanço para o resgate de estudos que envolvem o tema dos determinantes sociais na área da saúde, entretanto, apresentou uma limitação ao não discorrer acerca da articulação dos indicadores sociais e econômicos com o meio ambiente (SOBRAL; FREITAS, 2010). Nesse sentido, os mesmos autores propõem, para viabilizar a operacionalização da análise dos determinantes sociais da saúde (DSS) a partir de um conjunto de indicadores integrados, a utilização do modelo de organização ou sistema de indicadores chamado de Força Motriz-Pressão-Situação-Exposição-Efeito-Ação (FPSEEA). Esse modelo foi elaborado pela OMS, em coparceria com o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), com a finalidade de abordar as inter-relações entre os fatores ambientais e a saúde (CORVALÁN; BRIGGS; KJELLSTRÖM, 1996; SOBRAL; FREITAS, 2010). 37 SEMIOLOGIA E ANAMNESE FARMACÊUTICA Crescimento populacional Desenvolvimento econômico Tecnologia Força motriz Políticas econômicas Políticas sociais Tecnologias limpas Ação Produção Consumo Geração de resíduos Pressão Controle dos processos de produção Controle de emissões Políticas de saneamento ambiental Recursos naturais Serviços dos ecossistemas Poluição Situação Conservação Melhora da qualidade ambiental Vigilância em saúde ambiental Bem-estar Morbidade Mortalidade Efeito Promoção de saúde Tratamento Reabilitação Condições de vida e trabalho Estilo de vida Dose absorvida Exposição Educação/educação em saúde Atenção básica Figura 3 – Modelo de organização de indicadoresFPSEEA Observação Sobral e Freitas (2010) destacam que tão significativo quanto reconhecer a importância dos DSS e realizar um diagnóstico da situação a partir de indicadores é executar uma abordagem que integre todos os indicadores aos âmbitos econômico, social, ambiental, institucional e de saúde, para, assim, possibilitar um monitoramento sistemático das alterações das condições de vida e da situação de saúde da população. O paradigma holístico no processo de cuidar em saúde emerge amplamente dentro do contexto da humanização e está imbuído das prerrogativas do SUS, em especial, a da integralidade (LEMOS et al., 2010). 38 Unidade I 4.2 Promoção da saúde Considerando a relevância da promoção da saúde como prática de cuidado e a necessidade de uma compreensão ampliada do ser humano em seus processos de produção e reprodução social para uma avaliação integral dele, apresentamos uma breve discussão acerca do conceito e dos desdobramentos da promoção da saúde. Promoção da saúde é o nome dado ao processo de capacitação da comunidade para atuar na melhoria de sua qualidade de vida e saúde, incluindo uma maior participação no controle desse processo. Para atingir um estado de completo bem-estar físico, mental e social, os indivíduos e grupos devem saber identificar aspirações, satisfazer necessidades e modificar favoravelmente o meio ambiente. A saúde deve ser vista como um recurso para a vida, e não como objetivo de viver. Nesse sentido, a saúde é um conceito positivo, que enfatiza os recursos sociais e pessoais, bem como as capacidades físicas. Assim, a promoção da saúde não é responsabilidade exclusiva do setor saúde, e vai além de um estilo de vida saudável, na direção de um bem-estar global (WHO, 1986, tradução nossa). Em um movimento contrário para superar as abordagens tecnicistas e medicalizantes acerca dos problemas de saúde, temos as iniciativas de promoção da saúde, tais como definidas na Carta de Ottawa (WHO, 1986), que envolvem evidentes esforços interdisciplinares e intersetoriais. Dessa forma, o campo da promoção da saúde compõe um espaço de problematização e fomento às ferramentas analíticas e metodológicas com o objetivo de ampliar o conhecimento sobre a natureza dos processos de saúde, adoecimento e vulnerabilidades sociais (MAGALHÃES, 2016). Existem diversas referências teórico-conceituais que discorrem sobre as práticas de promoção da saúde, entretanto, o eixo condutor comum é a crítica à ênfase excessiva dada à tecnologia médica e à alteração de comportamentos individuais como soluções para os desafios enfrentados (MAGALHÃES, 2016). A Política Nacional de Promoção da Saúde (PNPS) (BRASIL, 2010a) afirma que a análise do processo saúde-doença demonstra que a saúde é resultante das formas de organização da produção, do trabalho e da sociedade em um contexto histórico determinado. Afirma ainda que a estrutura biomédica não é capaz de modificar os condicionantes e os determinantes mais amplos desse processo. Essa estrutura atua a partir de um modelo de atenção e cuidado majoritariamente centrado nos sintomas. A promoção da saúde pode ser compreendida como um mecanismo de fortalecimento e implementação de uma política transversal, integrada e intersetorial, capaz de dialogar com as diferentes áreas do setor sanitário, outros setores do governo, setor privado e não governamental e sociedade. Configura, dessa forma, redes de compromisso e corresponsabilidade no que se refere à qualidade de vida da população, com a participação de todos na proteção e no cuidado com a vida (BRASIL, 2010a). 39 SEMIOLOGIA E ANAMNESE FARMACÊUTICA Nesse sentido, a promoção da saúde desenvolve-se a partir da articulação entre sujeito e coletivo, público e privado, Estado e sociedade, clínica e política, setor sanitário e outros setores, almejando romper a fragmentação existente de forma evidente na abordagem do processo saúde-adoecimento e reduzir vulnerabilidades, riscos e danos produzidos nesse contexto (BRASIL, 2010a). Em 2014, por meio da Portaria n. 2.446, o Ministério da Saúde redefiniu a PNPS e apresentou o seguinte conceito de promoção da saúde: A PNPS traz em sua base o conceito ampliado de saúde e o referencial teórico da promoção da saúde como um conjunto de estratégias e formas de produzir saúde, no âmbito individual e coletivo, caracterizando-se pela articulação e cooperação intra e intersetorial, pela formação da Rede de Atenção à Saúde (RAS), buscando articular suas ações com as demais redes de proteção social, com ampla participação e controle social (BRASIL, 2014b). A reformulação da PNPS, articulada a um arranjo político, apresenta uma nova sistematização para as ações de promoção da saúde. Suas metas apontam para os novos desafios no contexto do SUS, apesar de constatar que suas prioridades ainda estão vinculadas à versão de 2006 da política. É esperado que, ao longo dos dez anos de existência da PNPS, novos desafios estejam direcionados para as arenas políticas com a finalidade de permear a assinatura – e a consequente concretização – de acordos favoráveis à sustentabilidade (ALBUQUERQUE; SÁ; ARAÚJO JÚNIOR, 2016). Lembrete A Política Nacional de Promoção da Saúde (PNPS) (BRASIL, 2010a) afirma que a análise do processo saúde-doença demonstra que a saúde é resultante das formas de organização da produção, do trabalho e da sociedade em um contexto histórico determinado. Na nova versão, os temas prioritários da PNPS, convergentes com o Plano Nacional de Saúde, pactos interfederativos e planejamento estratégico do Ministério da Saúde, além de acordos internacionais estabelecidos com o governo brasileiro, são: I – formação e educação permanente, que compreendem mobilizar, sensibilizar e promover capacitações para gestores, trabalhadores da saúde e de outros setores para o desenvolvimento de ações de educação em promoção da saúde e incluí-la nos espaços de educação permanente; II – alimentação adequada e saudável, que compreende promover ações relativas à alimentação adequada e saudável, visando à promoção da saúde e à segurança alimentar e nutricional, contribuindo com as ações e metas de redução da pobreza, com a inclusão social e com a garantia do direito humano à alimentação adequada e saudável; 40 Unidade I III – práticas corporais e atividades físicas, que compreendem promover ações, aconselhamento e divulgação de práticas corporais e atividades físicas, incentivando a melhoria das condições dos espaços públicos, considerando a cultura local e incorporando brincadeiras, jogos, danças populares, dentre outras práticas; IV – enfrentamento do uso do tabaco e seus derivados, que compreende promover, articular e mobilizar ações para redução e controle do uso do tabaco, incluindo ações educativas, legislativas, econômicas, ambientais, culturais e sociais; V – enfrentamento do uso abusivo de álcool e outras drogas, que compreende promover, articular e mobilizar ações para redução do consumo abusivo de álcool e outras drogas, com a corresponsabilização e autonomia da população, incluindo ações educativas, legislativas, econômicas, ambientais, culturais e sociais; VI – promoção da mobilidade segura, que compreende: a) buscar avançar na articulação intersetorial e intrassetorial, envolvendo a vigilância em saúde, a atenção básica e as redes de urgência e emergência do território na produção do cuidado e na redução da morbimortalidade decorrente do trânsito; b) orientar ações integradas e intersetoriais nos territórios, incluindo saúde, educação, trânsito, fiscalização, ambiente e demais setores envolvidos, além da sociedade, visando definir um planejamento integrado, parcerias, atribuições, responsabilidades e especificidades de cada setor para a promoção da mobilidade segura; e c) avançar na promoção de ações educativas, legislativas, econômicas, ambientais, culturais e sociais, fundamentadas em informação qualificada e em planejamento integrado, que garantam o trânsito seguro, aredução de morbimortalidade e a paz no trânsito; VII – Promoção da cultura da paz e de direitos humanos, que compreende promover, articular e mobilizar ações que estimulem a convivência, a solidariedade, o respeito à vida e o fortalecimento de vínculos, para o desenvolvimento de tecnologias sociais que favoreçam a mediação de conflitos, o respeito às diversidades e diferenças de gênero, de orientação sexual e identidade de gênero, entre gerações, étnico-raciais, culturais, territoriais, de classe social e relacionada às pessoas com deficiências e necessidades especiais, garantindo os direitos humanos e as liberdades fundamentais, articulando a RAS com as demais redes de proteção 41 SEMIOLOGIA E ANAMNESE FARMACÊUTICA social, produzindo informação qualificada e capaz de gerar intervenções individuais e coletivas, contribuindo para a redução das violências e para a cultura de paz; e VIII – Promoção do desenvolvimento sustentável, que compreende promover, mobilizar e articular ações governamentais, não governamentais, incluindo o setor privado e a sociedade civil, nos diferentes cenários, como cidades, campo, floresta, águas, bairros, territórios, comunidades, habitações, escolas, igrejas, empresas e outros, permitindo a interação entre saúde, meio ambiente e desenvolvimento sustentável na produção social da saúde em articulação com os demais temas prioritários (BRASIL, 2015, p. 31-32). Observação Entender o conceito de promoção da saúde e sua premissa de olhar o processo saúde-doença para além do aspecto biológico, em uma inserção social complexa, direciona a compreensão da farmácia clínica, que preconiza avaliar o ser humano sempre inserido em um contexto ampliado. 4.3 Entrevista farmacêutica A entrevista farmacêutica deve ser compreendida como uma prática dos itens abordados no subtópico 2.1.4, disponível no tópico 2, “Anamnese farmacêutica”. Quando o processo de entrevista farmacêutica é desenvolvido em instituições prestadoras de serviços ambulatoriais de saúde, domicílios, escolas, associações comunitárias etc., é chamado de consulta farmacêutica. Em farmácia, a prática de cuidar demanda a utilização de muitas tecnologias. Destaca-se, em especial na atenção primária à saúde (APS), a execução da consulta farmacêutica, que envolve a combinação de conhecimento humano, científico e empírico. A consulta farmacêutica sistematiza a ação cotidiana do farmacêutico clínico com o intuito de ofertar uma assistência qualificada e que se realiza no ato de cuidar do indivíduo/família/comunidade. Cabe destacar que ela está permeada por questões éticas e pelo processo reflexivo (DANTAS; SANTOS; TOURINHO, 2016; MEIER et al., 2008). Para o CFF, consulta farmacêutica é o “Atendimento realizado pelo farmacêutico ao paciente, respeitando os princípios éticos e profissionais, com a finalidade de obter os melhores resultados com a farmacoterapia e promover o uso racional de medicamentos e de outras tecnologias em saúde” (BRASIL, 2013a). Uma das etapas essenciais para esse tipo de atendimento é a coleta e organização dos dados do paciente; nela, o farmacêutico coleta dados de rotina necessários para a identificação do paciente, além de informações sobre história clínica, história familiar e medicamentos utilizados. Todas essas informações coletadas durante a entrevista clínica são importantes para avaliar o estado de saúde do paciente. Segundo Correr (2013, p. 272), “A entrevista clínica inclui um conjunto de técnicas e abordagens cujo objetivo é estabelecer vínculo terapêutico com o paciente e obter informações em qualidade e 42 Unidade I quantidade suficientes para uma boa avaliação”. Na entrevista, o farmacêutico utiliza a técnica de anamnese para coletar informações sobre os sintomas e sinais do paciente. Os dados coletados na história clínica podem ser complementados por avaliação física, exames clínicos, exames laboratoriais etc. Um encontro entre um profissional e um paciente durante o qual ocorre uma entrevista clínica é chamado de consulta farmacêutica. O que devo fazer na entrevista clínica? Para fazer essa entrevista, o primeiro passo é fazer o acolhimento do paciente. Apresente-se e cumprimente-o. Uma boa forma de iniciar a entrevista é fazendo a pergunta: “Em que posso ajudá-lo?”. Desta forma, será possível saber qual é a queixa principal do paciente, ou seja, o motivo pelo qual ele está procurando assistência. Não esqueça de abrir uma ficha para registrar o atendimento. Quais dados devo coletar durante a consulta farmacêutica? Uma das formas mais comuns de registro, adotada por diferentes profissionais da área da saúde, é o modelo SOAP (do inglês subjective, objective, assessment, plan), que organiza as informações em dados subjetivos (S), dados objetivos (O), avaliação (A) e plano (P). Esse modelo permite a organização das informações do paciente bem como o registro de sua evolução. De modo geral, o prontuário do paciente deve apresentar: 1. Número do prontuário, data de abertura, nome completo, data de nascimento, sexo, endereço, telefone, e-mail, dados do cuidador (se aplicável), médico do paciente (se aplicável), escolaridade, ocupação, limitação (cognitiva, visual etc.), alergia e data. Em seguida, deve-se registrar: 2. Os dados subjetivos coletados, ou seja, dados que não podem ser diretamente medidos como sintomas identificados pelo paciente/cuidador, história clínica, tentativas de tratamento e expectativas. 3. Dados objetivos, ou seja, os dados mensuráveis e observáveis, incluindo resultados de exames laboratoriais ou testes laboratoriais remotos. 4. A análise de todos os dados, sejam eles objetivos ou subjetivos. Essa análise visa à identificação das necessidades e problemas de saúde do paciente, considerando as intervenções possíveis, fatores que agravam os sintomas e sinais para encaminhamento do paciente. 5. Elaboração do plano. Neste plano, deve-se definir os objetivos farmacêuticos e as intervenções necessárias. As intervenções podem incluir as terapias farmacológicas e outras intervenções, como o encaminhamento do paciente. 43 SEMIOLOGIA E ANAMNESE FARMACÊUTICA Ao final da consulta farmacêutica, você deverá entregar ao paciente a Declaração de Serviço Farmacêutico, que registra e materializa o atendimento. Como deve ser elaborada a Declaração de Serviço Farmacêutico? Segundo a Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) n. 44, de 17 de agosto de 2009, essa declaração deve ser elaborada em papel com identificação do estabelecimento, contendo nome, endereço, telefone e CNPJ, assim como a identificação do usuário ou de seu responsável legal, quando for o caso. Além disso, a declaração também deve apresentar outras informações, que variam de acordo com o serviço farmacêutico prestado. Uma declaração de prescrição de medicamento deve apresentar informações como: • medicamento prescrito e dados do prescritor (nome e inscrição no conselho profissional), quando houver; • indicação de medicamento isento de prescrição e a respectiva posologia, quando houver; • valores dos parâmetros fisiológicos e bioquímicos, quando houver, seguidos dos respectivos valores considerados normais; • frase de alerta, quando houver medição de parâmetros fisiológicos e bioquímicos: “ESTE PROCEDIMENTO NÃO TEM FINALIDADE DE DIAGNÓSTICO E NÃO SUBSTITUI A CONSULTA MÉDICA OU A REALIZAÇÃO DE EXAMES LABORATORIAIS”; • dados do medicamento administrado, quando houver: • nome comercial, exceto para genéricos; • denominação comum brasileira; • concentração e forma farmacêutica; • via de administração; • número do lote; • número de registro na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa); • orientação farmacêutica; • plano de intervenção, quando houver; • data, assinatura e carimbo com inscrição no CRF do farmacêutico responsável pelo serviço. 44 Unidade I Por fim, agende o retorno para avaliar as condutas do seu paciente. A cada consulta, abra um novo prontuário, e deixe todos os dados do paciente registrados.
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