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Júlia Assis Silva - Turma IV alfa MEDICINA LEGAL Bioética e Ética Médica HISTÓRIA E CONCEITUALIDADE ● Documento mais antigo que relaciona a Medicina e o Direito: Código penal Hamurábi, Babilônia, século XVIII a.C., relação jurídica entre médico e paciente: “Se um médico tratou um ferimento grave de um escravo de um homem pobre, com uma lanceta de bronze, e causou a morte do escravo, deve pagar escravo por escravo.” ○ Primeiro marco da relação médico-legal. ● Documento punitório, relacionado com o dever e não com direitos. ● Períodos da medicina legal: antigo, romano, médio ou da idade média, canônico e moderno. Antigo ● Legislação teológica. ● Tratado de 1240 a.C de Hsi yuan Lu: avaliação pós morte (venenos/antídotos)→ primeiro registro de medicina legal. Manual para aplicação dos conhecimentos médicos à solução de casos criminais e ao trabalho dos tribunais. ● Era a religião que ditava essa época. Médico visto como curandeiro, era privado de fazer coisas que não estavam descritas na religião. ● Nessa época começou a investigação por morte com venenos em casos de pessoas da alta sociedade. ● O corpo era visto como algo sagrado, não sendo possível fazer sua avaliação após a morte→ necropsia proibida. Romano ● Avaliação de cadáver externamente, emancipação Medicina e Direito (morte de Júlio César), letalidade de ferimentos e questões relacionadas à gestação. ● Após a morte de Júlio César eles quiseram inspecionar o cadáver para identificar a causa, mas como ainda era proibido, essa inspeção foi feita em praça pública para provar que o cadáver não foi violado ou aberto. ● As questões relacionadas com a gestação iam desde tentar prevenir a morte da 1 mãe e do bebê ou até provar a relação sexual pós casamento→ comprovação de que o homem não é estéril→ 1234 papa Gregório IX. ○ O médico iria ao local verificar se houve a relação sexual, caso a mulher não engravidasse o homem era considerado estéril. Médio ● Nos capitulares de Carlos Magno os julgamentos devem apoiar-se no parecer dos médicos, após Carlos onda de vandalismo com medidas inquisitórias (fim ML). ● Após a morte dele ocorre um fim da medicina legal devido ao vandalismo. Canônico ● Entre 1200 e 1600 as perícias médico-legais são feitas, ● O Código Criminal Carolino é o 1° documento organizado (Alemanha); ● Ferimentos/Sexologia. ● 1521 ocorreu uma das primeiras necropsias documentadas do Papa Leão X. ● 1597 Methodus testificandi de Baptista Codronchius→ problemas médico-legais de traumatologia, sexologia e toxicologia. ● Início da falta de moralidade na necropsia para fins de resolução, foi realizada em praça pública na Alemanha. Diminuição da resistência da igreja. ○ 1507: obrigatoriedade da perícia médica em mortes violentas na Alemanha, mas apenas inspeção externa→ Código de Bamberg. ● 1374: O papa concede à Faculdade de Medicina de Montpellier a autorização para realizar necrópsias para estudos anatômicos e clínicos. Porém, ainda não é necrópsia forense. ● 1532: necropsia forense permitida com a promulgação do Constitutio Criminalis Carolina, pelo imperador alemão Carlos V. Moderno ● 1602 Itália; ● 1621: Paulos Zacchias publica o tratado da disciplina, Quaestiones Medico Legales Opus Jurisperitis Maxime Necessarium Medicis Peritilis 1200 páginas; ○ Abrange aspectos médico-legais de obstetrícia, sexologia, psiquiatria, toxicologia, traumatologia, tanatologia e saúde pública. ● XIX foi quando a Medicina Legal se firmou e começou a ter mais respaldo científico coincidindo com a revolução francesa em 1789, que foi quando a ciência se firmou; Grandes descobertas científicas. ● A Alemanha e a Itália são os berços da medicina legal. 2 No Brasil ● Na época colonial foi influenciada pela França. ● 1818 Souza Lima→ Toxologia. ● Nacionalização Escola Baiana→ foi a primeira a se interessar e discutir sobre o legal, era menos dogmática e pragmática que outras escolas de medicina. Conceito ● Sem conceituação precisa. ● É muito ampla. ● É ciência e arte extrajurídica auxiliar, alicerçada em um conjunto de conhecimentos médicos, paramédicos e biológicos destinados a defender os direitos e os interesses dos homens e da sociedade. ○ Usa outros conhecimentos além dos biológicos, como os matemáticos, físicos e químicos. DIVISÃO DIDÁTICA ● Antropologia forense: estuda a identidade e a identificação, seus métodos, processos e técnicas. ● Traumatologia forense: trata das lesões corporais e das energias causadoras do dano. ○ Em alguns livros ela juntamente com a tanatologia se chamam patologia forense. ● Sexologia forense: a sexualidade normal, patológica e criminosa (erotologia, a hiemiologia e a obstetrícia forense). ○ Erotologia: distúrbios sexuais, maníacos, estupradores. ○ Hiemologia: avaliação do hímen para verificar se houve rompimento. ○ Obstetrícia forense: avaliar as causas da morte do bebê nascido morto e da mãe que morreu no parto. ● Asfixiologia forense: vê as asfixias em geral. Detalha as particularidades próprias da esganadura, do estrangulamento, do enforcamento, do afogamento, do soterramento, da imersão em gases irrespiráveis, nos suicídios, homicídios e acidentes. ● Tanatologia: preocupa-se com a morte e o morto em todos os seus aspectos médico-legais, os fenômenos cadavéricos, a data da morte, o diagnóstico da morte, a morte súbita e a morte agônica, a inumação, a exumação, a necropsia, o 3 embalsamento e a causa jurídica da morte. ● Toxicologia: estuda os cáusticos, os envenenamentos e a intoxicação alcoólica e por tóxicos, pelo emprego de processos laboratoriais. ● Psicologia judiciária: fenômenos volitivos, afetivos e mentais inconscientes que podem influenciar na formação, na reprodução e na deformação do testemunho e da confissão do acusado e da vítima. ○ O médico é chamado para avaliar a saúde mental da pessoa no momento e se ela está apta a testemunhar ou depor. ● Psiquiatria forense: estuda as doenças mentais, a periculosidade do alienado, as socioneuropatias em face dos problemas judiciários, a simulação, a dissimulação, os limites e modificadores da capacidade civil e da responsabilidade penal. ● Policiologia científica: visualiza os métodos científico-médico-legais empregados pela polícia na investigação criminal e no deslindamento de crimes. ○ Não é preciso ser policial para fazer a policiologia. ● Criminologia: estuda os diferentes aspectos da gênese e da dinâmica dos crimes. ● Vitimologia: trata da análise racional da participação da vítima na eclosão e justificação das infrações penais. ○ Dá a ideia de que a vítima tem culpa em parte do crime, mas visa estudar a participação da vítima e o que ela fez para facilitar o crime. ● Infortunística: preocupa-se com os acidentes de trabalho, com as doenças profissionais, com a higiene e a insalubridade laborativas. ○ Quando não ocorrem acidentes é mais responsabilidade do médico do trabalho do que da medicina legal. ● Deontologia: normas éticas e bioéticas. PERÍCIA E PERITOS, DOCUMENTOS MÉDICOS LEGAIS ● Processos: conjunto de providências para verificar e sanar lesão de direito. Conjunto de evidências que tentam comprovar se teve lesão de direito. ○ Esclarecer os fatos sem quaisquer dúvidas para os juízes proferirem uma sentença justa. ● Os fatos alegados em um processo precisam ser demonstrados e dependem da natureza. Ex: se os fatos não deixam vestígios precisa da testemunha, mas se resultam vestígios eles devem ser examinados e registrados. ● Se os fatos se perdem é quando entra a testemunha (devemos nos questionar se condizem com a realidade). Os fatos sobressaem sobre o testemunho. ● Exame de elementos materiais (vestígios), quando feito por técnico qualificado 4 para atender solicitações de autoridades competentes→ perícia. ○ Qualquer exame, de qualquer material, que responde a uma possível lesão de direito. ● O laudo pericial deve prevalecer sobre a testemunha, mas o juiz pode aceitar ou não, desde que justifique as razões. ● Indivíduo que realiza é o perito. A gama dos exames necessáriospara esclarecer os fatos é enorme, várias profissões podem ser convocadas para a função pericial. Corpo de delito ● Quando o fato produz alterações materiais no ambiente, dá-se o nome de corpo de delito ao conjunto de elementos sensíveis denunciadores do fato criminoso. ○ Todos os vestígios materiais deixados por um determinada ação delituosa e que indicam a existência de um crime. ○ Desta forma, em uma cena de crime contendo um cadáver, ferimentos, sangue, DNA, componentes de munição e perfurações em paredes, podemos afirmar que todos citados configuram como o corpo de delito relacionado ao ato criminoso ● Exame de elementos materiais feito por um perito oficial. ● Pode ser feito em várias outras situações além da lesão corporal, como injúria, desacato, tentativa de homicídio por outras vias que não a lesão corporal. ● Buscar os vestígios das infrações penais. ● Quais os elementos? Perceptíveis pelos nossos sentidos. ● Deve ser realizado o mais rápido possível, para evitar modificação dos elementos. ● Estabelecer nexo causal dos elementos com o crime. ○ A depender do crime é difícil encontrar os elementos, como crimes virtuais. ● Feito por 2 peritos oficiais, pessoas concursadas. ● Localidade sem peritos oficiais e que precisa fazer um corpo de delito deve-se ser realizada por 02 pessoas idôneas (que tem uma índole não questionável) portadoras de nível superior. ● A ideia de corpo de delito pode ser reproduzida em vários tipos de perícia sem peritos oficiais. Função do perito ● Não defende e não acusa, apenas verifica o fato e indica a causa. ● Tem que ser imparcial. ● Opinião científica é livre, mas tem que comprovar durante o texto o que é 5 científico e não opinião. ● Ambiente adequado/instituições governamentais para realizar a perícia. ● Pode colher material para avaliação de outro perito. Divergência entre peritos ● O correto é ser 2 peritos para prevenção contra divergência e para melhor seguir os protocolos. ● Porém, muitas vezes um dos peritos não faz a perícia corretamente. ● Se divergência pode pedir laudos individuais, podendo não aceitar um dos laudos ou utilizar os dois, ou pode ser designado um 3° perito oficial ou não podendo ser realizado um novo exame. ○ Em casos de laudos individuais o juiz pode negar um dos laudos e levar em conta apenas o outro, ou pode utilizar uma mescla dos dois laudos. ○ Pode pedir um novo exame, mas muitas das vezes muito tempo se passou da lesão. Achados periciais ● Linguagem técnica mas acessível à autoridade solicitante. ● Se a linguagem não for acessível pode ser solicitado convocação para viva voz, ou podem ser enviados quesitos ao perito. ○ Quesitos: perguntas objetivas enviadas para o perito para esclarecer os achados. Documentos legais ● Laudos realizados pelos peritos podem entrar em qualquer tipo de processo (penal, civil ou administrativo) em qualquer etapa (inquérito, sumário, julgamento ou até após a sentença), ● Mas normalmente o perito vai atuar no início do processo fazendo o corpo de delito. Pode examinar qualquer uma das partes do processo (vítima, indiciado, testemunhas ou de jurado). ● Relatório médico legal: narração escrita e minuciosa de todas as operações de uma perícia médica determinada por autoridade policial ou judiciária a um ou mais profissionais anteriormente nomeados. ● Relator é quem redige o documento. ● Auto: relatório ditado a um escrivão. ● Laudo: relatório confeccionado depois da coleta dos dados. ● Consulta médico-legal: consulta a um mestre sobre aquele determinado assunto, 6 uma referência. ● Parecer: outra opinião sobre qualquer outro profissional de qualquer outro conhecimento que vai elucidar o caso. ● Depoimento oral: esclarecimento sobre o que escreveu ou viu para tentar estabelecer o nexo causal com o ocorrido. É o depoimento viva-voz. Esqueleto para construção dos documentos legais ● Preâmbulo: introdução (qualificações/local/data/hora/tipo de perícia). ○ O local e a data podem vir ao final do laudo. ○ Muitas vezes na introdução coloca-se informações do perito e de quem solicitou. ● Quesitos: perguntas para caracterização de fatos. Variam de acordo com tipo de perícia. Respostas sucintas e objetivas. ○ Quesitos oficiais: quesitos formulados pelos órgãos oficiais, varia de acordo com cada instituição oficial. ○ Não necessariamente é obrigatório, mas pode ser feito para facilitar a leitura do juiz e do delegado. ● Histórico: anamnese. Não são opiniões. ● Descrição: parte mais importante do relatório. Não pode ser realizada da mesma maneira em dois momentos distintos, por exemplo refazer o laudo após meses do ocorrido. Minucioso e rico em detalhes. Evitar diagnóstico. ○ Na conclusão até podemos insinuar o diagnóstico, mas na descrição apenas descrevemos o que visualizamos na lesão. ■ Ex: não posso dizer que foi uma esganadura, posso apenas relatar as marcas que, apesar de serem típicas da esganadura, não posso concluir nessa hora. ● Discussão: feita principalmente quando há discrepância dos dados em dois laudos diferentes. Utiliza-se esquema/desenhos/fotografias. ● Conclusão: aqui sem espaço para dúvidas, afirmativas ou negativas ou impossibilidade de concluir. ● O quesito é uma indagação objetiva, espelhando uma questão de fato, embora possa conter aspecto jurídico, destinada aos jurados para atingir o veredito, a ser respondido de maneira sintética, na forma afirmativa ou negativa. ○ Alguns dos quesitos auxiliam na avaliação jurídica, para atenuar ou aumentar a pena e para ajudar os jurados. ○ É uma indagação sobre o fato que ocorreu e auxilia os jurados e pessoas mais leigas a entender o que ocorreu no crime. 7 ○ Cada tipo de perícia tem seus quesitos específicos e a cada instituição oficial existem seus quesitos. ● Atestado médico ● Afirmação simples e por escrito de um fato médico e suas consequências. ● Oficiosos: atestados solicitados por quaisquer pessoas a cujo interesse atendem. Ex: justificar falta de trabalho, provas escolares, a bancos, etc. ● Administrativos: exigidos pelas autoridades administrativas quando os empregados públicos solicitam licença ou aposentadoria. ● Judiciários: atestados requisitados por juiz, quando os jurados faltam ao júri. ○ Só os atestados que interessem à justiça constituem documento médico-legal. ● Atestado gracioso: fornecer atestado a pessoa que você não consultou mas refere estar doente, ou em casos que a pessoa diz não ter estado doente e só quer usufruir do benefício. Atestado de óbito 8 ● O médico está sujeito a normas legais que ora o impedem de declarar o óbito, ora o obrigam a fazê-lo. ● O médico assistente está impedido de firmar a declaração de óbito quando se tratar de morte em que a causa tenha sido violenta ou com suspeita de violência. ○ Mesmo que o paciente tenha morrido de uma complicação remotamente relacionada com o trauma, a morte é tida como violenta desde que se possa estabelecer nexo causal. ● Em casos de morte natural a que não tenha assistido também não pode assinar a declaração. Exceto em casos de óbito hospitalar, mesmo não tendo acompanhado o caso. ● Em casos de pacientes internados por curto período, menos de 24 horas, sem que se tenha chegado a uma conclusão quanto à causa da morte, ele também não pode. 9
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