Buscar

O militarismo na América Latina

Prévia do material em texto

O militarismo na América Latina
Introdução
No século XX, duas grandes revoluções ocorridas na América Latina deram demonstrações do poder de mobilização do povo contra a exploração socioeconômica interna e externa, sobretudo em relação às atitudes imperialistas dos Estados Unidos da América, adotadas em fins do século XIX.
No caso mexicano, em 1876 ascendeu ao poder Porfírio Dias, que ali permaneceu até 1910, por meio de fraudes eleitorais e corrupção política.
A elite fundiária manteve o controle da terra e os demais setores da economia, aos poucos, foram monopolizados por empresas estrangeiras, principalmente estadunidenses.
A resistência contra a exploração foi liderada por Pancho Villa, ao norte, e Emiliano Zapata, ao sul, defendendo os camponeses contra as oligarquias e a Igreja, exigindo reforma agrária e reformas sociais urgentes.
Em 1911, com a queda do porfiriato, subiu ao poder Francisco Madero, representante da burguesia liberal.
Encontrou uma grande resistência por todos os lados: as camadas dominantes receavam o apoio popular ao seu governo, as classes populares viam suas tão sonhadas reformas não serem implementadas e o capital estadunidense temia perder seus investimentos.
Dois anos após, Madero foi assassinado, e o país passou a ser liderado por um governo submisso à política norte-americana, interessada na exploração dos recursos minerais do rico subsolo mexicano.
A repressão culminou no assassinato de Zapata (1919) e de Pancho Villa (1923), mas o movimento continuou atraindo a atenção dos Estados Unidos, que ameaçavam invadir o México de modo a garantir seus interesses.
Em 1934, Lázaro Cárdenas foi eleito presidente e iniciou um plano de reformas inspirado no programa zapatista: realizou a reforma agrária, para o descontentamento geral dos latifundiários, nacionalizou as empresas estrangeiras, atraindo a fúria externa e enfatizou a educação e a valorização da cultura nacional.
Porfírio Dias
Francisco Madero
Pancho Villa
Lázaro Cárdenas
No caso cubano, a independência da ilha em relação à Espanha se deu na passagem do século XIX para o XX, com a ajuda dos Estados Unidos. Independente, Cuba passou para o domínio estadunidense como um protetorado legitimado pela Emenda Platt, de 1901, que obrigava o país a aceitar a intervenção militar em seu território sempre que os Estados Unidos sentissem que seus interesses pudessem estar prejudicados.
Cuba também foi obrigada a ceder um território na região de Guantánamo para a construção de uma base estadunidense.
A tutela política em forma de protetorado permitia uma subordinação econômica que beneficiava as empresas e os bancos estadunidenses, controlando quase toda a produção e exportação do açúcar, principal produto da economia cubana, bem como plantações de fumo, exploração de minas, hotéis, cassinos, tráfico de drogas e prostituição.
Havana tornou-se a capital do jogo e da prostituição e Cuba, governada por políticos pró-Estados Unidos, como Fulgêncio Batista, era o paraíso do turismo estadunidense. Enquanto isso, a população local, além de analfabeta, vivia na miséria e no subemprego.
Em 1953, uma tentativa fracassada de tomar o quartel de Moncada pôs na cadeia o jovem advogado cubano Fidel Castro e seus companheiros, engajados no projeto de libertar Cuba do imperialismo estadunidense.
Depois de dois anos preso em Cuba, Fidel foi exilado no México, onde conheceu “Che” Guevara. Juntos, retornaram a Cuba, dando início a um processo de guerrilha rural (Guerrilha de Sierra Maestra), cujo objetivo era enfraquecer o governo de Fulgêncio Batista e conseguir a adesão da população pobre cubana à revolução.
Em janeiro de 1959, Fidel Castro, auxiliado pelo médico e revolucionário argentino Ernesto Che Guevara conseguiu conquistar Havana.
O sucesso da Revolução Cubana colocou os Estados Unidos em estado de alerta, pois era a época da Guerra Fria, e Fidel e seus companheiros eram vistos como comunistas. À medida que os Estados Unidos procuraram isolar Cuba e enfraquecer o governo revolucionário, a União Soviética se aproximou, gerando a Crise dos Mísseis, em 1962.
O mundo esteve à beira daquilo que teria sido a “Terceira Guerra Mundial”, acrescida de mais um agravante: as duas superpotências mundiais eram detentoras de grandes arsenais de armas nucleares. Contudo, tudo foi resolvido diplomaticamente entre John Kennedy (EUA) e Nikita Krushev (URSS); os Estados Unidos se comprometeram a não mais interferir em Cuba, enquanto a União Soviética se comprometeu a não instalar armas nucleares ali.
A partir daí, os cubanos intensificaram sua aproximação com a União Soviética e, consequentemente, com o socialismo.
Por conta desse episódio, o governo estadunidense não tardou em apoiar regimes conservadores, geralmente liderados por militares, que mantivessem o capitalismo predominando na América Latina.
Fulgêncio Batista
Fidel Castro
Che Guevara
América Andina: O caso peruano
O governo militar no Peru foi presidido pelo general Velasco Alvarado, entre 1968 e 1975, e apresentou características próprias em relação aos demais governos militares implantados no período, na América Latina.
No Peru, o governo militar assumiu o papel de agente econômico modernizador de caráter nacional desenvolvimentista e procurou aliar-se aos trabalhadores, apresentando dessa maneira, uma tendência socialista.
O governo passou a controlar o sistema bancário, os latifúndios foram expropriados para a reforma agrária, a mineração, o petróleo e os serviços públicos (telefones, eletricidade, saúde) também passaram para o controle estatal, com os objetivos de desenvolver o país e criar mecanismos para uma efetiva distribuição de renda.
Entretanto, a classe média e as elites dominantes, apoiadas pelos EUA, passaram a se organizar contra essas medidas consideradas comunistas.
Em 1964, foi criado o Sendero Luminoso, uma organização guerrilheira que pregava a criação de um Estado indígena e a expulsão dos estrangeiros do país. As ações guerrilheiras desse grupo provocaram grandes desestabilizações no regime militar, e o governo reagiu com grande violência no combate às guerrilhas.
Em 1975, o general Alvarado foi deposto e seu sucessor comandou a transição da ditadura militar para o regime democrático por meio das eleições de 1980.
Com isso, os Estados Unidos mantiveram sua influência na região, e as tradicionais elites oligárquicas voltaram ao poder, perpetuando a herança colonial de economia dependente, latifundiária e exportadora com grandes desníveis socioculturais.
Juan Velasco Alvorado
O caso chileno
Desde a sua independência, o Chile foi uma república que praticou uma democracia representativa, destacando-se, dessa forma, entre as demais repúblicas da América do Sul.
Isso permitiu que se desenvolvesse um clima de liberdade, o que facilitou não só o crescimento econômico, como também a organização dos trabalhadores e a prática da cidadania. Por isso, o Chile ficou conhecido como o Condor da Democracia.
Esse contexto permitiu que, em 1958, a Unidade Popular, união de partidos de esquerda, lançasse a candidatura de Salvador Allende à presidência da República, com o objetivo de implantar o socialismo por vias pacíficas e democráticas, isto é, por meio de eleições. A derrota do candidato da esquerda deu-se por uma pequena margem de votos.
A Unidade Popular em 1970, conseguiu eleger Allende, num período que coincidiu com a implantação de ditaduras militares, apoiadas e financiadas pelos EUA, por toda a América Latina.
Allende nacionalizou a exploração do cobre, do petróleo, do carvão e do ferro e realizou uma reforma agrária. Essas medidasincentivaram as camadas populares a exigirem reformas cada vez mais amplas e profundas.
Sentindo-se prejudicados e ameaçados, o governo estadunidense passou a boicotar os produtos chilenos.
Internamente, o governo Allende também enfrentava resistências do empresariado chileno, que procurava desestabilizar o governo socialista.
Na tentativa de acalmar os ânimos e amenizar a resistência da burguesia, Allende substituiu o ministro do Exército, nomeando o general Augusto Pinochet. Foi seu maior erro histórico.
Em setembro de 1973, Pinochet chefiou o golpe militar, contando com o apoio das forças políticas e empresariais dominantes e dos EUA. O presidente Salvador Allende morreu combatendo o golpe.
O governo Pinochet
Após o golpe, Pinochet assumiu o controle do país, instalando uma ditadura militar que governou o Chile até 1989.
Todas as empresas nacionalizadas por Allende foram devolvidas e as estatais foram privatizadas, obedecendo às ordens do governo estadunidense e da política do neoliberalismo.
A economia voltou a crescer. Os EUA voltaram a comprar os produtos chilenos.
Financiamentos e empréstimos, antes negados, foram facilitados em nome da iniciativa privada e da ordem interna.
As resistências populares ao regime militar foram massacradas. A ditadura chilena foi, talvez, a mais violenta da América, rivalizando-se com a ditadura argentina.
Em 1980, por meio de um plebiscito controlado pelas Forças Armadas, foi aprovada a Constituição que legalizava a presidência do general ditador.
Em 1988, o governo chileno realizou outro plebiscito sobre um novo mandato de Pinochet e a resposta das urnas: NÃO! 
O resultado antecipou o fim do regime militar, que se efetivou em 1989 com a saída de Pinochet. Mesmo assim, o general continuou como homem forte do governo, sendo comandante do Exército até 1998, e exigiu o cargo de senador vitalício.
Contudo, a democracia foi restaurada e a economia desenvolveu-se num ritmo acelerado, dando continuidade à estabilização financeira, graças aos investimentos estrangeiros aplicados no país.
Em 1998, Pinochet foi preso em Londres, a pedido da Justiça espanhola, sob a acusação de “crimes inomináveis e violação dos direitos humanos durante seu governo contra cidadãos espanhóis”. Conseguiu evitar a extradição graças aos médicos que atestaram sua fragilidade física e idade avançada, que o incapacitariam de enfrentar um longo processo judiciário. Com isso, ele foi solto e retornou ao Chile confiante de que sendo senador vitalício teria a garantia de imunidade.
O Congresso chileno retirou sua imunidade parlamentar, e Pinochet passou a ser processado por sequestros e assassinatos praticados quando estava no poder. Morreu em dezembro de 2006, aos 91 anos.
Salvador Allende
Augusto Pinochet
América Platina: O caso paraguaio
O Paraguai foi precoce, no contexto sul-americano, em relação à ditadura militar, ocorrida a partir do conflito contra a Bolívia, na denominada Guerra do Chaco, entre 1932 e 1935.
O território do Gran Chaco era, desde o século XIX, disputado por Argentina, Paraguai e Bolívia. A posse desse território era de extrema importância para a Bolívia atingir o oceano Pacífico através da bacia do Prata, uma vez que havia perdido seus territórios marítimos desse oceano para o Chile (1879-1883).
Por outro lado, para o Paraguai, manter a região do Chaco favorecia a exploração de erva-mate.
O Paraguai saiu vencedor, mas os custos materiais e humanos foram gigantescos (36 mil mortos de seu lado, enquanto que do lado boliviano houve 57 mil mortos), arruinando a economia nacional, enfraquecendo as oligarquias rurais e fortalecendo os militares.
Até 1954, o Paraguai sofreu uma sucessão de golpes militares até a ascensão do general Stroessner.
Este se manteve no poder por meio de eleições fraudulentas até 1989, quando o general André Rodrigues o destituiu por meio de um golpe militar. Durante seu governo, o Paraguai abriu seu comércio para o mercado internacional.
A partir de 1989, os partidos políticos foram legalizados, a censura à imprensa foi suspensa e foram realizadas eleições gerais. O general André Rodrigues foi eleito para Presidente da República, dando início ao processo de redemocratização do país.
Alfredo Stroessener Matiauda
O caso uruguaio
Graças ao desenvolvimento da pecuária e da produção de lã, o Uruguai teve um crescimento econômico que possibilitou uma qualidade de vida à sua população comparável à da Europa. 
A partir da década de 1950, o Uruguai começou a apresentar sinais da crise econômica, provocada pela diminuição nas exportações de carne e lã.
Estavam ocorrendo conflitos localizados como a Guerra da Coréia, a Questão Árabe-Israelense e a Guerra do Vietnã.
O momento provou que o mundo podia viver sem a carne uruguaia, mas a economia deste país, assentada na herança colonial exportadora, não havia se preparado para tal eventualidade.
Na década de 1970, a crise do petróleo viria piorar a situação.
Os partidos políticos não conseguiam satisfazer os anseios populares, possibilitando a organização da resistência pelos setores de esquerda influenciados pelo sucesso da Revolução Cubana.
A população empobreceu, as elites se sentiam prejudicadas, as classes media e trabalhadora tiveram empregos, salários e consumo cortados. A crise se generalizava em todos os níveis e camadas sociais, e o descontentamento era comum a todos.
Organizações guerrilheiras inspiradas nas guerrilhas castristas surgiram para impor uma nova tendência política.
Dentre elas, destacou-se o Movimento de Libertação Nacional, cujos membros ficaram conhecidos como Tupamaros, em homenagem ao inca Tupac Amaru, que liderou a última grande revolta da América espanhola.Em 1976, foi instituída a ditadura militar com a deposição do presidente Bordaberry e, em nome da Segurança Nacional, o Congresso foi fechado, mandatos políticos foram cassados e a censura à imprensa foi imposta.
Sindicatos e organizações estudantis foram colocadas na ilegalidade, os partidos políticos foram extintos e foram utilizados todos os meios para combater os guerrilheiros tupamaros.
Na década de 1980, a ditadura militar já não encontrava um ambiente favorável, uma vez que o combate ao socialismo – até então o grande pretexto dos militares para cometerem atrocidades em nome de Deus, da família, da propriedade e da democracia – não era mais necessário, devido à sua falência.
Os militares que haviam assumido o governo prometendo desenvolver o país não atingiram seus objetivos e aumentaram a dívida externa e a dependência econômica.
A ditadura passou a apresentar visíveis sinais de desgaste.
Essa fragilidade política foi aproveitada pela resistência popular, que conseguiu a realização de eleições, em 1984, das quais saiu vitorioso o civil Júlio Sanguinetti, que tomou posse em março de 1985.
A vitória de Sanguinetti pôs fim à ditadura militar, e o Uruguai retornou à normalidade democrática, passando a enfrentar os problemas herdados do período militar.
Presidente Bordaberry
Júlio Sanguinetti
O caso argentino
O ciclo militar argentino teve início em 1966, quando o general Juan Carlos Ongania depôs o presidente Arturo Illia. Organia foi sucedido pelo também militar Roberto Marcelo Levingston; este, por sua vez foi sucedido pelo general Alejandro Agustin Lanusse.
Em 1973, Lanusse, pressionado por políticos e sindicalistas, convocou eleições diretas, que deram a vitória ao peronista Hector Campora.
Juan Domingo Perón, ex-presidente, estava exilado na Espanha esperando uma oportunidade para retornar ao país, o que foi possível com a eleição do peronista Campora.
Campora renunciou e novas eleições foram realizadas, desta vez tendo Perón como candidato e sua esposa, Isabelita, como candidato a vice. Ambos forameleitos. Em 1974, Isabelita assumiu o poder, após a morte de Perón.
Em 1976, um golpe militar liderado por Jorge Videla deu início a uma das ditaduras militares mais sangrentas da América.
Em nome da Segurança Nacional, foram praticados atos de extrema selvageria e sanguinolência contra as oposições políticas sindicais, estudantis e intelectuais. Liquidaram a guerrilha de esquerda e os próprios peronistas. A violência da repressão foi tão brutal que recebeu o nome de “guerra suja”.
A partir da década de 1980, a ditadura militar já começava a apresentar sinais de desgaste. Para desviar a atenção da oposição e envolver o povo contra um inimigo externo, o general Galtieri provocou a Guerra das Malvinas, contra a Inglaterra, em 1982.
A derrota argentina após a fanfarrice patriótica marcou também o fim da ditadura militar. Em 1983, nas eleições, o povo escolheu Raul Alfonsín para presidente, iniciando o processo de redemocratização do país.
Juan Domingo Perón
Isabelita Peron
Jorge Rafael Videla
Guerra das Malvinas

Mais conteúdos dessa disciplina