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INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS 
HISTÓRICOS 
AULA 1 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Prof. Caio de Amorim Féo 
 
 
 
 
 
 
2 
CONVERSA INICIAL 
História é uma área do conhecimento responsável por estudar as 
sociedades humanas no tempo. Sua prática remonta desde a Antiguidade e, 
durante o passar das eras, foi sofrendo constantes modificações, seja em seus 
objetivos e preocupações, quanto na sua prática pelos que se dedicavam a 
praticá-la. 
Nesse sentido, a presente aula tem por objetivo iniciar o aluno nos 
princípios básicos acerca da História, desde suas primeiras manifestações na 
Antiguidade até seus desenvolvimentos futuros passando pelos séculos XIX, XX, 
terminando com as discussões mais recentes. Além disso, buscamos trazer à 
tona a discussão a respeito do fazer historiográfico, bem como as novas 
pretensões para a utilidade da História a partir da implementação do Novo 
Ensino Médio no Brasil. 
TEMA 1 – GÊNESE 
Tradicionalmente, a História é vista como tendo se manifestado 
inicialmente entre os gregos a partir dos escritos de Heródoto (c. 484 – c.425 
a.C.), porém, segundo José D’Assunção Barros (2011), os estudiosos sabem 
hoje que as primeiras práticas ditas historiográficas a que temos registros 
remontam à monarquia de Akkad, na Mesopotâmia, datada entre 2270 – 2083 
d.C. 
A principal distinção entre a produção de Heródoto e dos subordinados de 
Akkad é, ainda de acordo com Barros, que o autor grego foi, até onde se sabe, 
o primeiro a decidir individualmente realizar reflexões e produzir discurso acerca 
da história, ao contrário dos escribas akkadianos que foram mobilizados a 
escreverem pelo interesse da estrutura política monárquica em produzir sua 
história. Ainda assim, é preciso compreender mais acerca da prática e 
perspectiva do autor grego a fim de vislumbrar as transformações que viriam 
séculos à frente no fazer historiográfico. 
1.1 Heródoto e o início da historiografia grega 
De acordo com José D’Assunção Barros (2011), a historiografia Pré-
Moderna possui certos objetivos que lhe serve de guia, variando conforme o 
período histórico. No caso dos gregos, em que Heródoto constitui o principal 
 
 
3 
exemplo, a História possuía um objetivo de evitar o esquecimento. Por isso, 
conforme nos explica Barros (2011), Heródoto encara a pesquisa histórica como 
tendo de ser, obrigatoriamente, orientada para o relato da verdade, ou pelo 
menos com a “intenção de verdade” (Barros, p. 34, 2011). 
Essa veracidade seria obtida a partir das fontes que aquele que relatava 
os acontecimentos – ou seja, o historiador, que, nesse caso específico, se trata 
de Heródoto – tinha contato para ter acesso aos fatos. Para Barros (2011), é 
possível estabelecer que Heródoto seguia estes passos na elaboração de seu 
discurso histórico: um processo de investigação a respeito de algo tido como 
importante de ser registrado; essa investigação geralmente partia da declaração 
de testemunhas oculares dos fatos considerados; por fim, o relato da História 
seria feito a partir de uma narrativa. Ancorado nesses procedimentos, Heródoto 
deu início à atividade do historiador que, como já destacou Marc Bloch, 
inaugurou a perspectiva de que o objetivo do historiador era “contar o que foi”, 
ou seja, sempre visando a localização da verdade (Bloch, 2001, p. 125). 
1.2 Tucídides: a evolução da prática histórica 
A Grécia foi o principal berço de historiadores que marcariam o fazer 
historiográfico ocidental. Tucídides nasceu aproximadamente entre 460 a.C. e 
morreu por volta de 404 a.C., sendo o principal expoente da historiografia 
nascente após Heródoto e possuindo como principal obra a História da Guerra 
do Peloponeso, conflito entre atenienses e espartanos que ocorreu entre 431 
a.C. e 404 a.C. Seu comprometimento com a verdade permanece o mesmo que 
seu antecessor Heródoto manifestava, mas Tucídides distribui pesos diferentes 
em relação aos procedimentos. 
De acordo com Karina Anhezini (2009), o ato de registrar os fatos, para 
Tucídides, ganha o primeiro plano em quesito de importância face à investigação 
clamada por Heródoto, pois ele entende que o principal meio para chegar ao 
conhecimento e, consequentemente à verdade, daquilo que se registra é através 
da autópsia (do grego autos, eu; ópsis, ver com os próprios olhos). Nas palavras 
de Anhezini, “ao incorporar o ‘eu vi’ à narrativa, conferiu valor à prova” (Anhezini, 
2009, p. 23). 
Enquanto Heródoto detinha sua preocupação em registrar para guardar 
memória acerca dos fatos, Tucídides atribui um maior valor à exemplaridade do 
evento. Como bem definiu François Hartog, o historiador grego entendia que 
 
 
4 
crises semelhantes à da Guerra do Peloponeso ocorreriam no futuro, mas 
registrar os fatos dessa guerra que vivenciou não significava que pretendia se 
projetar no futuro, mas, sim, que “propõe simplesmente fazer de seu presente 
um ‘exemplo’ para sempre, esse presente que jamais foi tão ‘grande’” (Hartog, 
2001, p. 98 apud Anhezini, 2009, p. 24). A História, assim, demonstrava suas 
primeiras mutações a respeito do seu método. 
TEMA 2 – A HISTÓRIA NA ROMA ANTIGA 
Delineadas as principais linhas de configuração da historiografia grega 
com as figuras de Hérodoto e Tucídides, é preciso destacar, ainda que 
brevemente, a perspectiva historiográfica elaborada na Roma Antiga. Ainda que 
insiramos sua abordagem dentro de um contexto mais amplo que denominamos 
de Antiguidade, há na abordagem romana uma especificidade que necessita ser 
ressaltada. 
Esse aspecto característico carrega consigo uma importância que 
extrapola os limites temporais em que se circunscreve, uma vez que, como 
veremos no tema a seguir, estará presente também nos desdobramentos da 
pesquisa histórica do século XIX. Nos referimos aqui à História enquanto “mestra 
da vida”. Nesse sentido, abordemos especialmente a figura de Cícero. 
2.1 Marco Túlio Cícero e a história mestra da vida 
Nascido em 106 a.C. e falecido em 43 a.C., Marco Túlio Cícero pode ser 
considerado como um dos grandes e principais historiadores romanos, 
especialmente acerca das reflexões que fez acerca da História. Parte dos 
avanços feitos por Cícero haviam sido principiados nos escritos de Políbio, 
historiador grego de nascença, mas que fez seus principais trabalhos em Roma, 
onde foi levado como prisioneiro quando tinha por volta de 40 anos. 
Conforme Karina Anhezine (2009), Políbio era convicto de não haver 
necessidade de o historiador conferir as partes envolvidas nos fatos e eventos 
pois, após a expansão territorial decorrente da vitória de Roma na Segunda 
Guerra Púnica (c. 218 – 202 a.C.) só haveria um lado digno de observação, o de 
Roma. A História era vista como exemplo. 
No entanto, Cícero elevara essa perspectiva a outro patamar vários anos 
depois. Em seu entendimento, a História servia através da prática historiográfica 
 
 
5 
a particularmente um propósito: garantir que fosse feito o registro de uma 
coleção de exemplos e experiências que auxiliaria o aprendizado da sociedade. 
Como bem ressalta Igor Moraes Santos (2019), trata-se de uma 
concepção de História enraizada no entendimento de que a natureza humana é 
imutável e, por isso, os fatos que aconteceram no passado possuem em sua 
base uma essência capaz de proporcionar fatos semelhantes, ainda que em 
contextos distintos. Em outras palavras, a História aparece como “mestra da 
vida” (magistra vitae) ao fornecer exemplos de eventos e fatos que servem de 
referência ao leitor como uma espécie de guia moral, indicando o que deve ser 
reproduzido e o que se deve evitar. 
A perspectiva de Cícero manifesta a junção da tradição grega com a nova 
visão romana elaborada desde Políbio. Ainda se busca a verdade pelo registro 
da História, já que a base do fazer historiográfico para Cícero está no sentido de 
buscar os exemplos sempre nos fatos: o historiador (ou como Cícero coloca, o 
orador) deve sempre se ateraos fatos verdadeiros e apresentá-los, mas nunca 
os inventar. 
TEMA 3 – CONSTRUINDO A HISTÓRIA ENQUANTO DISCIPLINA 
Até aqui, vimos como que a História surgiu enquanto prática por 
historiadores greco-romanos. Contudo, é preciso salientar que nenhum desses 
historiadores carregavam “títulos” ou desenvolviam seus conhecimentos a partir 
de uma formação específica. Normalmente, esses indivíduos exerciam 
atividades públicas como juristas, políticos ou mesmo clérigos, se pensarmos 
nas centúrias que constituíram a Idade Média. 
Mas a partir do século XVIII e especialmente durante o decorrer do XIX, 
foi sendo construído reflexões acerca da História enquanto disciplina, uma área 
do conhecimento separada das demais e que demandava toda uma formação 
própria. Isso significou duas coisas: a institucionalização da História enquanto 
campo a ser exercido por um indivíduo especializado nas suas competências; a 
elaboração das técnicas típicas da História que resultaram na formulação e 
fundação de revistas e periódicos específicos que publicaram ensaios e artigos 
a respeito de diversas temáticas. 
 
 
 
6 
3.1 Breves considerações a respeito da historiografia moderna 
Os avanços do conhecimento humano foram consideráveis se levarmos 
em conta os aspectos científicos e filosóficos desenvolvidos na época Moderna, 
especialmente com o período conhecido por Renascimento e com o Iluminismo 
no século XVIII. 
Diversos setores do conhecimento, como Anatomia, Arte, Matemática, 
Física, Filosofia, Lógica, entre tantas outras mais, foram aprimoradas e 
construtoras de correntes distintas de pensamento a respeito de suas 
prerrogativas. A História não esteve a par desse desenvolvimento, sendo 
justamente nas últimas décadas do século XVIII que as filosofias da história são 
debatidas. Como ressalta José D’Assunção Barros (2011), esse avanço pode 
ser considerado a estrutura das posteriores teorias da história formuladas a partir 
do século XIX que revolucionariam o fazer historiográfico. 
Mas como podemos definir essa Historiografia Moderna? Barros (2011) 
explica que as transformações em fins do século XVIII fizeram da História parte 
da realidade humana, uma realidade que existe independentemente do registro 
do historiador. 
Trazendo à tona as reflexões de Reinhart Koselleck, Barros esclarece 
que, nesse momento, a História passa a ser configurada como um conceito 
“singular-coletivo”, ou seja, “como a interação de todas as experiências 
humanas, desaparecendo a tendência a se falar em ‘histórias’ separadas umas 
das outras” (Barros, 2011, p. 44). 
Em suma, podemos dizer que a verdade a ser buscada no fazer 
historiográfico permanece em fins do século XVIII, mas para chegar até ela é 
preciso conhecer e estudar os fatos históricos. É aqui que se encontra a raiz da 
História sistematizada no século XIX. 
3.2 A formação da escola metódica 
As perspectivas acerca da História no século XIX se enquadram num 
cenário que a Ciência é tida como meio para se chegar à verdade, em qualquer 
área do conhecimento. As nações estão em processo de formação e passa a ser 
mister recorrer ao trabalho histórico a fim de retornar às origens nacionais. Os 
fatos há muito tempo não são mais considerados como aquilo que o historiador 
viu ou ouviu falar sobre, mas estão documentados, registrados a partir de 
 
 
7 
determinações oficiais das comunidades humanas. Como destaca Ciro 
Flamarion Santana Cardoso (1992), os fatos são singulares e, portanto, 
irrepetíveis para os pensadores do século XIX. 
De acordo com Guy Bourdé e Hervé Martin (1990), a manifestação mais 
concreta do proceder dessa nova corrente de pensamento histórico aparece em 
1876 com a publicação de um manifesto, escrito pelo historiador francês Gabriel 
Monod, que estabeleceu a fundação de A Revista Histórica. A instituição desse 
periódico marcaria também a configuração da chamada Escola Metódica, 
comumente conhecida também, embora erroneamente como bem destacam 
Boudé e Martin (1990), por Escola Positivista. Além de Monod, outros de seus 
membros mais destacados foram Ernest Lavisse, Charles Seignobos e o 
principal historiador da vertente metódica alemã, Leopold von Ranke. 
A partir de meados do século XIX e especialmente com as primeiras ações 
da Escola Metódica, a disciplina História cada vez mais foi se consolidando como 
área científica autônoma, detentora de métodos rigorosos de análise e fazendo 
referência em citações que evidenciam o constante trabalho com as fontes 
históricas. Podemos dizer que A Revista Histórica, de 1876, e os metódicos 
franceses de forma geral, tinham como referência inspiradora para seus 
trabalhos e procedimentos o historiador alemão Leopold von Ranke. 
Ranke é considerado como o grande expoente da mudança de se fazer 
história a partir da consideração e tratamento das fontes de forma crítica. Seus 
principais postulados seguidos pelos historiadores metódicos franceses foram os 
seguintes, conforme explicitado por Boudé e Martin (1990): 
1- O historiador não deve fazer julgamentos ao passado que analisa, mas, 
sim, registrar o que de fato aconteceu. 
2- Não há interdependência entre o historiador e o(s) fato(s) considerado(s) 
em sua análise, o que garante um juízo imparcial quando se depara com 
os eventos no trabalho histórico. 
3- A História possui uma estrutura passível de ser conhecida pelos 
historiadores, mas não criada por estes. Ou seja, existe de forma objetiva. 
4- O trabalho historiográfico é mecanicista, isto é, age de forma passiva 
sobre o fato nas fontes com o objetivo de registrá-lo tal como ocorrera no 
passado. 
5- É obrigação do historiador reunir o maior número possível de dados 
provenientes de fontes seguras, sem impor qualquer reflexão teórica na 
 
 
8 
análise, pois esta sairia prejudicada pela teoria de abrir precedente de 
especulação acerca dos fatos considerados. Em uma palavra, a reunião 
dos dados garante que “o registo histórico organiza-se e deixa-se 
interpretar” (Boudé; Martin, 1990, p. 114). 
Podemos compreender a Escola Metódica como pautada, assim, numa 
perspectiva que considera o trabalho do historiador mobilizado por 
preocupações objetivas, evitando generalizações e buscando aquilo que há de 
singular na história em que se debruça. 
Cardoso (1992) nos informa que, no século XIX, há um grande 
crescimento de trabalhos monográficos realizados por historiadores – que agora 
são considerados profissionais da área – em que o objetivo era justamente 
identificar e registrar os fatos únicos que são “absolutamente rebeldes a leis” 
gerais ordenadoras (Carsoso, 1992, p. 34). 
Para além do trabalho expresso no formato de artigos e ensaios, os 
historiadores metódicos também produziam conteúdo endereçado aos materiais 
didáticos usados no ensino básico. Evidentemente que essa produção auxiliava 
no objetivo de construção e elaboração de uma história nacional, característica 
tão marcante do século XIX e que possui preocupações já no Romantismo. 
Contudo, embora fosse extremamente influente por muitas décadas e tenha 
instaurado o princípio básico e primordial do trabalho historiográfico (a análise 
de fontes), nem todos os historiadores concordavam com a visão de História da 
Escola Metódica. 
TEMA 4 – FONTES HISTÓRICAS 
As transformações mobilizadas pela Escola Metódica no século XIX são 
fundamentais na consolidação da História enquanto disciplina e ciência humana. 
Em especial, é preciso destacar aqui o papel da matéria-prima utilizada pelo 
historiador para elaborar o seu trabalho: as fontes. Nenhuma pesquisa de uma 
área que clame para si o título de científica pode ser concretizada se não possui 
formas de sustentar aquilo que afirma. Por esse motivo, desenvolveremos, neste 
tema, o que podemos indicar como constituindo fontes históricas, assim como 
quais os cuidados devem ser tomados para que se possa utilizá-las da maneira 
mais proveitosa possível.9 
4.1 Fontes históricas como documentos 
A Escola Metódica fincou os pilares da História no território da Ciência. 
Mobilizou rigorosos métodos de análise, demarcou os princípios fundamentais e 
consolidou a necessidade de utilização das fontes como espinha dorsal da 
prática historiográfica. Mas não seria qualquer objeto que poderia assumir a 
condição de fonte histórica. Se a História passou a ser assumida como uma área 
específica e que buscava seu espaço entre as demais áreas do conhecimento, 
isso significava que havia uma noção “correta” do que era e o que não era 
História. Estendendo a perspectiva, para construir o conhecimento histórico da 
maneira correta, seria necessário utilizar as fontes “corretas”. 
Antonio Fontoura (2016) deixa claro que a perspectiva predominante na 
historiografia do século XIX consistia no entendimento de que a fonte histórica 
deveria ser sempre uma referência a um texto, cuja origem deveria estar ligada 
às documentações oficiais dos governos das sociedades antigas. Essa 
documentação traria uma espécie de chancela ao assunto que transmitiam, 
sendo possível traçar a gênese dos Estados-nação em que os historiadores do 
século XIX pertenciam. 
Nesse sentido, as sociedades anteriores ao desenvolvimento da escrita – 
na visão da historiografia do século XIX – não possuiriam história. Evidentemente 
que isso configura uma clara posição baseada no contexto em que esses 
historiadores viviam, de inflamado nacionalismo. Fontoura (2016) destaca, por 
isso, que é preciso entender que as documentações a que temos acesso através 
dos arquivos, por exemplo, não sobreviveram por acaso, mas, sim, foram ali 
mantidas por um interesse preciso de uma época precisa. Em uma palavra, 
nenhum “documento existe por si só” (Fontoura, 2016, p. 42). 
Os avanços na produção historiográfica a partir do século XX, 
especialmente por meio dos postulados da Escola dos Annales, ainda que não 
restrita a ela, possibilitaram que outras referências fossem elevadas a condição 
de fontes históricas, como aquelas representadas em imagens (iconografias), 
música, objetos arqueológicos, oralidade etc. A abertura para utilização de novas 
fontes, consequentemente, demandou que os historiadores recorressem a 
diversas outras disciplinas, mantendo um diálogo produtivo e instigante que 
aprimorou ainda mais os estudos históricos. 
 
 
10 
Entretanto, a inclinação à interdisciplinaridade escancarou uma 
preocupação fundamental da prática historiográfica enquanto operação 
científica: o cuidado com o tratamento da documentação. 
4.2 Operando com as fontes históricas 
Ciro Flamarion Santana Cardoso (1992) nos fornece uma definição 
rápida, porém bastante elucidativa, do que significa o método aplicado nas 
ciências de forma geral: 
o método científico pode ser definido como o conjunto de recursos de 
que dispõe a ciência para propor-se problemas verificáveis 
(constrastáveis) e para submeter à prova os resultados ou soluções 
que venham a ser sugeridos para tais problemas. (Cardoso, 1992, p. 
14) 
De que forma o historiador deveria proceder, já que a História é 
considerada como uma ciência? Diversos são os cuidados que o pesquisador 
deve ter quando realiza o procedimento historiográfico, sendo preciso destacar 
algumas dessas preocupações. 
Qualquer que seja a pesquisa histórica a ser realizada é preciso 
estabelecer o corpus documental a ser utilizado no empreendimento 
historiográfico. Como bem definiu José D’Assunção Barros (2012), o corpus 
documental trata-se das fontes históricas a serem utilizadas, cujo papel consiste 
no fornecimento de “evidências, informações e materiais passíveis de 
interpretação historiográfica” (Barros, 2012, p. 413). 
Não há uma regra rígida ou bem estabelecida sobre se a escolha 
documental precisa ser feita antes ou depois de já se ter definido uma temática 
de estudo, da mesma forma que o pesquisador pode utilizar diversas fontes ou 
somente uma. Tudo depende do problema posto pelo historiador à(s) fonte(s) 
que o mobiliza para iniciar uma pesquisa. 
Quando temos acesso a alguma informação, sempre é preciso ter cuidado 
com a origem desta, com a História não é diferente. Quando tomamos algo como 
fonte para analisar, torna-se imprescindível questionar as origens daquele 
material. Pensando especificamente acerca das fontes escritas, questionar 
criticamente a documentação reside em buscar respostas para alguns pontos 
que podemos resumir da seguinte maneira: Quem produziu o documento? Em 
que local? Qual o contexto social em que foi produzido? Quem é/são o(s) 
 
 
11 
receptor(es) do que foi registrado? Qual a posição social daquele(s) que a 
produziu/produziram? 
Barros (2012) prefere resumir todas essas problemáticas por meio de um 
termo cunhado por Michel de Certeau na década de 1970, “lugar de produção”, 
que inicialmente foi confeccionado para se referir à prática historiográfica, mas 
que foi estendido por Barros para as fontes históricas. Por esse motivo, Barros 
explicita que “o emissor de um discurso nunca é somente o seu autor nominal 
[...] [pois este seria] apenas a ponta de um imenso iceberg” (Barros, 2012, p. 
419). 
O que o autor pretende informar é que a elaboração de um documento 
escrito por um indivíduo diz respeito também ao que sua sociedade compreende 
da realidade social, uma vez que todo indivíduo está imerso nas contradições 
que envolvem uma sociedade no tempo. 
Mas, afinal, trata-se de uma produção consciente ou inconsciente? De 
acordo com Barros (2012), ambas as respostas são possíveis. A consciência ou 
não da posição assumida em um texto tido como fonte histórica pode realçar a 
posição da sociedade à qual o documento pertence originalmente. Seguindo de 
perto as considerações do autor, a contextualização das fontes utilizadas se 
torna imprescindível justamente por esclarecer os pontos que elencamos 
anteriormente, evitando que o historiador seja seduzido pela ideologia presente 
na documentação. 
Por fim, façamos uma última observação. Todas as produções 
historiográficas são produzidas dentro de determinado contexto, sendo 
indiscutível que o contexto histórico vivenciado pelo historiador influencia no seu 
procedimento, seja ao ser mobilizado por alguma temática específica, seja pelas 
questões que faz a determino assunto. 
Como ressaltamos, a historiografia do século XIX priorizou as 
documentações escritas por conta da busca por referências que justificassem as 
origens dos Estados nacionais. Nesse sentido, entender o contexto de produção 
não indica um caminho de mão única, levando somente às fontes documentais. 
É preciso ressaltar que a própria prática historiográfica pode (e deve), em algum 
momento, ser submetida à análise crítica, de modo que possamos não apenas 
entender as preocupações de uma dada época, como também o que entendiam 
por História e, consequentemente, o que pode ser entendido por fontes 
históricas. Em uma palavra, a nossa prática historiográfica também pode ser 
 
 
12 
utilizada como fonte histórica, representando o que denominamos de história da 
historiografia. 
TEMA 5 – A HISTÓRIA ATUALMENTE E SEU LUGAR NO BRASIL 
Afinal, o que a História representa nos dias atuais? Após o longo caminho 
percorrido desde que se tornou uma disciplina consolidada, praticada por 
profissionais capacitados por uma formação específica, a História tem 
caminhado para uma direção cada vez mais negligenciada. 
Façamos aqui duas reflexões finais: a primeira em relação à perspectiva 
que podemos dizer ser “mais aceita” ou pelos menos capaz de mobilizar maior 
consenso por parte dos historiadores a respeito da cientificidade da área; a 
segunda é promovida a respeito da última reforma do Ensino Médio articulada 
pela Lei n. 13.415/2017, que prevê reformulações a serem aplicadas a partir 
deste ano de 2022. 
5.1 A imposição de um novo cenário a uma ciência em construção 
Podemos afirmar que, mesmo apóstodas as críticas e reformulações de 
seus pressupostos teórico-metodológicos básicos, a História se manteve firme. 
Dentro das muitas questões suscitadas pela historiografia ao longo das últimas 
décadas acerca dos significados da prática da História, apesar das diversas 
divergências entre historiadores e historiadoras, ainda é possível destacarmos 
alguns consensos. 
Diogo da Silva Roiz (2010) nos explicita que o historiador alemão Peter 
Gay discordava da crítica da historiografia pós-moderna a respeito da forma 
narrativa de escrita da história. Para esse autor, o recurso de metáforas 
aplicadas durante a produção do texto historiográfico não obscurecia a 
representação da realidade que se fazia referência como argumentavam os pós-
modernos, mas, sim, garantiam uma maior profundidade do conhecimento 
histórico produzido. Ainda assim, como ressalta Roiz (2010), Peter Gay 
acreditava que a História era “quase” uma ciência, pois, por mais que mantivesse 
um rigor teórico-metodológico, ela não estava submetida a leis. 
Ciro Flamarion Santana Cardoso (1992) parte de uma perspectiva 
diferente, mas que não está tão distante de Gay. Assim como nas demais 
ciências, o autor destaca que as teorias históricas quando superadas não são 
 
 
13 
descartadas em prol das novas, mas, sim, incorporadas a estas. Nesse sentido, 
Cardoso entende que a História é uma “ciência em construção”, pois os 
“historiadores ainda estão descobrindo os meios de análise adequados ao seu 
objeto” (Cardoso, 1992, p. 49). Entretanto, o autor destaca que ainda que não 
considere a História uma ciência completa, não há impeditivos que a impeça de 
em algum momento chegar à essa condição. 
Os historiadores utilizam sua produção em muitos âmbitos, não somente 
em debates internos à academia. Uma de suas práticas, além da investigação e 
análise de processos históricos, é o ensino para crianças, jovens e adultos. 
Especialmente na educação básica, o espaço do historiador vem sendo 
constantemente atacado. Mais recentemente foi aprovada a Lei n. 13.415/2017, 
que prevê reformulações no Ensino Médio. 
Entre as muitas mudanças, estão a introdução do “itinerário formativo”, 
em que cada estudante escolherá, a partir do 1º ano, um setor para se 
aprofundar nos conhecimentos. Esses setores serão dispostos de acordo com 
separações semelhantes às do ENEM, por exemplo, Ciências Humanas e 
Sociais Aplicadas ou Matemática e suas Tecnologias. Há ainda a opção de 
escolher a formação técnica e profissional, que visa capacitar o aluno para entrar 
no mercado de trabalho assim que terminar o Ensino Médio. 
De acordo com Rodrigo Turin (2018), há a discussão acerca de que a 
reforma veio sendo conduzida por expressões como flexibilidade que se conecta 
com a aceleração cada vez mais intensa do mercado no mundo capitalista. Para 
o autor, o desafio da História na formação das crianças e adolescentes está 
agora em provar sua utilidade em suprir as demandas do mercado que, cada vez 
mais, se impõe sobre a sociedade. 
Isso é algo negativo na visão de Turin (2018), uma vez que a História e 
as demais disciplinas estão sendo associadas à formação única e exclusiva de 
habilidades requisitadas pelo mercado, sem pensar que a formação escolar está 
associada à formação do aluno enquanto ser humano, indivíduo e cidadão. 
Por essas razões, qual o papel da História? Em consequência, qual o 
papel do historiador? São essas questões que todo indivíduo disposto a se 
formar em História precisa estar atento durante seus estudos para além das 
questões teórico-metodológicas dispostas nos temas iniciais. 
 
 
 
14 
NA PRÁTICA 
As evoluções da disciplina História forneceram as bases para a prática 
historiográfica em sentido tanto de investigação a respeito dos assuntos mais 
variados quanto da escrita das análises feitas. Com isso, propomos a seguinte 
atividade: leia atentamente o trecho a seguir retirado da documentação medieval 
conhecida como Anglo-Saxon Chronicle (Anglo-Saxon Chronicle, 1961, p. 36), 
que relata acerca de um dos primeiros ataques vikings conhecidos e realize os 
procedimentos críticos descritos nesta aula, como de qual estrato social 
aparenta pertencer o autor do documento? Em que local foi produzida a 
documentação? É possível depreender um juízo de valor acerca do relatado? Se 
sim, qual seria? 
Neste ano [793], presságios terríveis apareceram na Nortúmbria e 
assustaram muito o povo. Eles consistiam em imensos redemoinhos e 
relâmpagos, e dragões de fogo foram vistos voando no ar. Uma grande 
fome se seguiu imediatamente a esses sinais e, pouco depois, no 
mesmo ano, em 8 de junho, a devastação dos homens pagãos destruiu 
miseravelmente a igreja de Deus em Lindisfarne, com pilhagem e 
matança. 
FINALIZANDO 
O esquema a seguir resume todas as discussões abordadas ao longo da 
presente aula sobre o desenvolvimento da História e do ofício do historiador no 
tempo. 
 
 
•Surgimento das primeiras práticas 
historiográficas na Antiguidade, quando os 
testemunhos oculares e os exemplos de 
grandes fatos predominavam, a fim de 
indicar as bases que a futura disciplina se 
organizaria.
1
•Consolidação da História enquanto campo do 
conhecimento articulado por rigorosos 
métodos científicos elaborados pela Escola 
Metódica e as inovações da Escola dos 
Annales.
2
•O que são fontes históricas e como foram 
propostas novas utilizações ao longo do 
tempo.
3
•Apresentamos os novos desafios do que o 
historiador e a História enfrentam com a 
realidade atual, como por meio das novas 
organizações do ensino no Brasil.
4
 
 
15 
REFERÊNCIAS 
ANHEZINI, K. Escrituras da história: da história mestra da vida à história 
moderna em movimento (um guia). Guarapuava: Editora Unicentro, 2009. 
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Pesquisa do CDHIS Uberlândia, v. 25, n. 2, 2012, pp. 407-429. 
_____. Teoria da História. Os primeiros paradigmas: positivismo e historicismo. 
Petrópolis: Editora Vozes, 2011. v. 2. 
BLOCH, M. Apologia da História ou o ofício do historiador. Rio de Janeiro: 
Editora Zahar, 2001. 
BOURDÉ, G.; MARTIN, H. As Escolas Históricas. Portugal: Editora 
Publicações Europa-América, 1990. 
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1992. 
FONTOURA, A. Teoria da História. Curitiba: Intersaberes, 2016. 
ROIZ, D. da S. O ofício do historiador: entre a “ciência histórica” e a “arte 
narrativa”. Revista História da Historiografia, n. 4, 2010, pp. 255-278. 
SANTOS, I. M. A História Mestra da Vida no Iluminismo Francês: um olhar sobre 
as concepções de história de Montesquieu a Voltaire. Revista do CAAP, v. 24, 
n. 1, 2019, pp. 157-190. 
TURIN, R. Entre o passado disciplinar e os passados práticos: figurações do 
historiador na crise das humanidades. Revista Tempo, v. 24, n. 2, 2018, pp. 
186-205. 
WHITELOCK, D. et al (Ed.). The Anglo-Saxon Chronicle. London: Eyre and 
Spottiswooode, 1961.

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