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Hohlfeldt- Hipóteses Contemporâneas de Pesquisa em Comunicação Inúmeras teorias desenvolvem-se entre os anos 20 e 70, teorias essas que podem ser agrupadas em diversos blocos, genericamente, como sugere Mauro Wolf: teoria hipodérmica, teorias empíricas de campo e experimentais, teoria funcionalista, teoria estruturalista, teoria crítica, teorias culturológicas, cultural studies, teorias comunicativas, entre outras. Havia um enorme fosso para separá-las em relação às suas fontes: entre os paradigmas norte-americanos, descritivistas e burocráticos, e os paradigmas europeus, sociológicos e extremamente ideológicos. Havia, em ambos os casos, um ponto negativo que caracteriza todas as teorias: por ser um sistema fechado, ela é excludente. Foi a partir dos anos 60 que surgiram, nos Estados Unidos, o que hoje chamamos de communication research, através de diferentes pesquisadores que buscavam, além de trabalhar em equipe, o cruzamento das diferentes teorias e disciplinas, a fim de compreender de maneira mais ampla a abrangência do processo comunicacional. Foi assim que surgiu as linhas de pesquisa agenda setting, news making e espiral do silêncio, pelo norte-americano Maxwell McCombs e a alemã Elisabeth Noelle-Neumann. A hipótese de agenda setting — hipótese, pois teorias são paradigmas fechados — possui alguns pressupostos: fluxo contínuo de informação, a influência dos meios de comunicação sobre o receptor a médio e longo prazos, inclusive no falar e pensar dos receptores. A agenda da mídia passa a constituir-se também na agenda individual e social. A capacidade que a mídia tem de dar relevância a um determinado tema, destacando-o do imenso conjunto de acontecimentos diários que serão transformados posteriormente em notícia e informação é um dos seus conceitos básicos, assim como: o conceito de consonância, um acontecimento que, transformado em notícia, ultrapassa os espaços tradicionalmente a ele determinados se torna onipresente. Por exemplo, quando a página policial acaba por se ocupar de um assunto desportivo; de relevância, avaliada pela consonância do tema nas diferentes mídias, ou seja, se um determinado acontecimento acaba sendo noticiado por todas as diferentes mídias, independentemente do enfoque que lhe venha a ser dado, ele possui evidente relevância; de frame temporal, quadro de informações que se forma ao longo de um determinado período de tempo da pesquisa e que nos permite a interpretação contextualizada do acontecimento. Ele cobre todo o período de levantamento de dados das duas ou mais agendas; time lag, intervalo decorrente entre o período de levantamento da agenda da mídia e a agenda do receptor, isto é, como se pressupõe a existência de um efeito de influência da mídia sobre o receptor, ela não se dá mágica ou imediatamente, mas necessita de um certo tempo para se efetivar e ser constatável; de centralidade, capacidade que as mídias têm de atribuir importância a determinado assunto, acabando por também atribuir hierarquia e significado; de tematização, procedimento implicitamente ligado à centralidade, na medida em que se trata da capacidade de dar o destaque necessário, a modo de chamar atenção; de saliência, valorização individual dada pelo receptor a um determinado assunto noticiado, que se traduz pela percepção que ele venha a emprestar à opinião pública; e de focalização, maneira pela qual a mídia aborda determinado assunto, apoiando-o, contextualizando-o, assumindo determinada linguagem, tomando cuidados especiais para sua editoração, inclusive mediante a utilização de chamadas especiais, logotipos etc. Destacada por Mauro Wolf como um estudo ligado à sociologia das profissões (o jornalismo), a hipótese de newsmaking é mais uma teoria do jornalismo do que da comunicação, mas tem sido estudada sob a perspectiva comunicacional. Dando ênfase à potencial transformação dos acontecimentos cotidianos em notícia, é especialmente sobre o emissor, no caso o profissional da informação, visto enquanto intermediário entre o acontecimento e sua narratividade como notícia. No horizonte do newsmaking estão os estudos sobre gatekeeping, ou filtragem da informação, que se distingue da censura por sua perspectiva distinta da ideologia e mais vinculada às rotinas de produção da informação, verificáveis, por exemplo, tanto entre a mídia capitalista quanto na socialista. Foi em torno dos processos do gatekeeping verificados por Kurt Lewin em 1947 que os estudos em torno do newsmaking (“fazedores de notícia” ou “a criação da notícia”) surgiram. Ao estudar o fluxo informativo de um órgão de imprensa norte-americano, a relação entre a chegada de notícias pelos telexes da época e o uso daquelas informações na edição posterior do jornal, Lewin levantou a estatística de que: de 1333 negativas de publicação, 800 deixaram de ser editadas por uma alegada falta de espaço, 300 por pretensa sobreposição de tema ou falta de interesse junto ao público, 200 por falta de qualidade do material enviado e 33 por constituírem informações situadas em áreas muito distantes dos campos de interesse dos leitores mais tradicionais do jornal. Lewin concluiu que, de cada dez notas de telex chegadas àquela redação, apenas uma era transformada em notícia na edição seguinte. Dessa forma, estabeleceu-se o conceito de que existem normas profissionais que superariam distorções subjetivas na seleção das informações. Ao mesmo tempo, descobriu-se que a seletividade informacional não acontecia apenas na redação do jornal. Caberia tentar verificar onde mais esta filtragem se fava, assim como o modo pela qual ela ocorria. As primeiras conclusões admitiram que os processos de comunicação possuem função de controle social desenvolvido a partir do estabelecimento de práticas socializadas entre seus profissionais (jornalistas). A função de gatekeeping dependeria de uma gama de perspectivas e influências, dentre as quais as mais comuns seriam: a autoridade institucional e suas eventuais sanções; sentimentos de fidelidade e estima para com os superiores; aspirações à mobilidade social da parte do profissional; ausência de fidelidade de grupo contrapostas; caráter agradável ao trabalho; o fato de a notícia ter-se transformado em valor. Nascida em 1916, são acontecimentos da vida de Elisabeth Noelle-Neumann que originam a perspectiva de espiral de silêncio. Especialista em demoscopia, um termo ainda não dicionarizado, mas salvo em obras especializadas, que se trata de uma palavra composta: demos (povo) + copia (translado literal), que significa pesquisar a opinião do público para torná-la conhecida, é a pesquisa de opinião pública sob organização científica. Obrigada a exilar-se na Alemanha pelos nazistas, Noelle-Neumann retornaria depois da guerra e, com o marido Erich Peter Neumann, fundaria o Instituto de Demoscopia Allensbach, que dirige até hoje. O instituto atualmente possui 90 empregados, e realizou cerca de oitenta mil entrevistas para mais de cem pesquisas diferentes. Suas principais teorias estão desenvolvidas no livro A espiral do silêncio – Opinião pública: nossa pele social, publicado nos Estados Unidos em 1984. A primeira vez em que se falou a respeito foi em 1972. Em uma apresentação de um congresso internacional de psicologia em Tóquio, a pesquisadora começava a chamar a atenção para o poder que a mídia possuía, especialmente a televisão, a influência sobre o conteúdo no pensamento dos receptores. Ela revisava, desta maneira, as teses correntes de que a mídia afetava apenas parcialmente o público, contrapondo que haveria uma tendência dos jornalistas em produzirem o que ela denomina como “uma consonância irreal quando relatam os acontecimentos''.
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