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IMUNIDADE PARLAMENTAR

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DIREITO CONSTITUCIONAL
IMUNIDADE PARLAMENTAR
Porto Alegre
2019
SUMÁRIO
Introdução:..............................................................................................2
Conceito de Imunidade Parlamentar....................................................3
Imunidade Material – Artigo 53, CF/88..................................................3
Imunidade Formal – Artigo 53, 2º CF/88................................................4
FORO POR PRERROGATIVA DE FUNÇÃO (FORO PRIVILEGIADO)..5
Conclusão................................................................................................6
Referências Bibliográficas:....................................................................6
Introdução:
No presente trabalho trataremos sobre a respectiva imunidade parlamentar, até onde se estende esta imunidade, e quais os seus tipos. Diante deste direito, nos perguntamos: os parlamentares podem divulgar em suas redes sociais, sítios, ou dar entrevistas sobre seus discursos pronunciados nos debates dentro do plenário? Os mesmos respondem civil ou penalmente por isto? Até onde alcança este benefício da imunidade?
No estudo abaixo trataremos dessas questões.
1. Conceito de Imunidade Parlamentar
Para que um político possa exercer a sua função parlamentar com ampla independência e liberdade, ele precisa de garantias; e uma destas garantias é a Imunidade Parlamentar.
Que lhe garante autonomia e independência no exercício de suas funções, protegendo-os contra abusos e violações por parte do poder executivo e do judiciário.
Segundo os ensinamentos de Alexandre de Moraes:
“Na independência harmônica que rege o princípio da Separação de Poderes, as imunidades parlamentares são instrumentos de vital importância, visto buscarem, prioritariamente, a proteção dos parlamentares, no exercício de suas funções, contra os abusos e pressões dos demais poderes, constituindo-se, pois, um direito instrumental de garantia de liberdade de opiniões, palavras e votos dos membros do Poder Legislativo, bem como de sua proteção contra prisões arbitrárias e processos temerários”
A Imunidade é dividida em duas espécies: a material e a formal.
2. Imunidade Material – Artigo 53 CF/88
Os Deputados e Senadores são invioláveis, civil e penalmente, por quaisquer de suas opiniões, palavras e votos.
Essa imunidade diz respeito a qualquer tipo de manisfestação de opinião, palavras, votos, de todos os parlamentares federais (art. 53, CF 88), deputados estaduais (art. 27, § 1º, CF 88), e vereadores (art. 29, VIII, CF 88), garantindo a liberdade de expressão e livre manifestação de pensamento sempre no exercício de sua função, dentro ou fora do Congresso. Do mesmo modo, se a crítica do parlamentar for publicada em órgão da imprensa, o fato não gera nenhuma responsabilidade para o mesmo, que goza da liberdade de crítica, no exercício da função. 
Destacamos acima a parte no exercício da função, pois ocorre de diversas dessas manifestações serem levadas para o STF, afim de verificarem se há conexão entre as declarações com os respectivos mandatos, com isso já há jurisprudência nestes casos:
‘‘O STF decidiu que “a ofensa irrogada em plenário, independente de conexão com o mandato, elide a responsabilidade civil por dano moral. Precedente: RE 210.917, 12.8.92, Pertence, RTJ 177/1375 (RE 463671 AgR, Relator(a): Min. Sepúlveda Pertence, Primeira Turma, julgado em 19/06/2007, DJe 03-08-2007).
Já quando a declaração é feita fora do Parlamento, deve ser investigado se a declaração guarda conexão com o exercício do mandato ou com a condição de parlamentar. Assim, por exemplo, não incide a imunidade material quando o parlamentar faz declarações em programa de televisão sem conexão com o exercício do mandato (Inq 2.390, Relator(a): Min. Cármen Lúcia, Tribunal Pleno, julgado em 15/10/2007, DJe 30-11-2007).’’
Em um caso de muita repercussão, é do deputado Jair Bolsonaro, que tornou-se réu no STF devido uma declaração feita diante da imprensa para a deputada Maria do Rosário, onde em uma discussão, o mesmo afirma que “não a estupraria porque ela não merecia”. A declaração levou à denúncia de Jair Bolsonaro por crime por apologia ao estupro. O pedido foi aceito por quase todos os ministros do STF. Teori Zavascki, afirmou que a referida fala do deputado não pode ser amparada pela imunidade parlamentar, já que não tem qualquer relação com o ofício de deputado. O mesmo também afirmou o relator ministro Luiz Fux, que entendeu que as declarações do deputado Bolsonaro não têm relação com o exercício do mandato. “O conteúdo não guarda qualquer relação com a função de deputado, portanto não incide a imunidade prevista na Constituição Federal” afirmou. Ele acrescentou que, apesar de o Supremo ter entendimento sobre a impossibilidade de responsabilização do parlamentar quanto às palavras proferidas na Câmara dos Deputados, as declarações foram veiculadas também em veículo de imprensa, não incidindo, assim, a imunidade.
Assim, vemos que dentro do parlamento os parlamentares estão absoutamente protegidos pela imunidade parlamentar, independente de suas falas e ofensas, o que cabe a própria Casa a que o parlamentar pertencer coibir eventuais excessos, como vemos na decisão do STF:
"Somente para os pronunciamentos feitos no interior das Casas Legislativas não cabe indagar sobre o conteúdo das ofensas ou a conexão com o mandato, dado que acobertadas com o manto da inviolabilidade. Em tal seara, caberá à própria Casa a que pertencer o parlamentar coibir eventuais excessos no desempenho dessa prerrogativa". (STF: Inq 1.958)
3. Imunidade Formal – Artigo 53, § 2º, CF/88
Desde a expedição do diploma, os membros do Congresso Nacional não poderão ser presos, salvo em flagrante de crime inafiançável. Nesse caso, os autos serão remetidos dentro de vinte e quatro horas à Casa respectiva, para que, pelo voto da maioria de seus membros, resolva sobre a prisão;
Neste caso, a imunidade formal, é concedida aos parlamentares do Poder Legislativo Federal e Estadual, trata sobre a imunidade processual, onde a Casa do parlamentar pode sustar o andamento do processo a qualquer momento antes da decisão final do Poder Judiciário, pelo voto da maioria absoluta dos membros, para crimes ocorridos após a diplomação; e a prisional, ou seja, não poderão ser presos, salvo em flagrante de crime inafiançável. Mesmo em caso de flagrante de crime inafiançável, a Casa do parlamentar ainda pode votar para que ele seja preso ou não.
Artigo 53, § 3º: Recebida a denúncia contra o Senador ou Deputado, por crime ocorrido após a diplomação, o STF dará ciência à Casa respectiva, que, por iniciativa de partido político nela representado e pelo voto da maioria de seus membros, poderá, até a decisão final, sustar o andamento da ação.
Artigo 53, § 4º: O pedido de sustação será apreciado pela Casa respectiva no prazo improrrogável de quarenta e cinco dias do seu recebimento pela Mesa Diretora.
O recebimento de denúncia pelo STF, contra Senador ou Deputado, por crime ocorrido após a diplomação, independe de licença da Casa Parlamentar, já para crimes ocorridos antes da diplomação, o parlamentar não goza da imunidade, nesses casos o STF não precisa dar ciência a Casa respectiva de ação penal proposta, e não se admite que a respectiva Casa possa sustar o andamento da ação.
Em resumo, essas imunidades alcançam todo tipo de manifestação de opiniões, em redes sociais, sítios e entrevistas, desde que as devidas falas tenham conexão com o exercício da função do parlamentar, ou seja, neste caso não há nenhum tipo de penalização cívil ou penal.
Porém, as imunidades estão restritas ao exercício legal da função, não sendo concedidas para casos em que essas manifestações não tenham conexões com sua respectiva função, e para os crimes cometidos pelo parlamentar fora do seu mandato, ou seja, suas opiniões, palavras, manifestações, votos, ou ofensas eleitorais durante a campanha, serão penalizadas civil ou penalmente. 
4. FORO POR PRERROGATIVA DE FUNÇÃO (FORO PRIVILEGIADO)
Artigo 53,§ 1º: Os Deputados e Senadores, desde a expedição do diploma, serão submetidos a julgamento perante o Supremo Tribunal Federal.
Ou seja, garante aos deputados e senadores a prerrogativa de serem julgados somente pelo STF, e não pela justiça comum, podendo serem presos somente após decisão do STF. Vemos sobre este assunto também no Artigo 86, CPP, onde estabelece que compete privativamente ao STF processar e julgar:
I - os seus ministros, nos crimes comuns;
II - os ministros de Estado, salvo nos crimes conexos com os do Presidente da República;
III - o procurador-geral da República, os desembargadores dos Tribunais de Apelação, os ministros do Tribunal de Contas e os embaixadores e ministros diplomáticos, nos crimes comuns e de responsabilidade.
Conhecido como Foro Privilegiado, o Foro por Prerrogativa de Função, é um benefício que integrantes de determinados cargos possuem de serem processados e julgados por órgãos jurisdicionais superiores.
Conforme a Súmula 451 do STF: ‘Não existe "foro especial'' quando o delito é cometido após a aposentadoria ou o término do mandato.’ Neste caso processos que ainda não tenham a decisão final, serão enviados para instâncias inferiores.
O parlamentar perde o foro privilegiado após o encerramento do seu mandato, e em casos dos processos ainda não terem sido decididos pelo STF no fim do seu mandato, o processo será enviado para a Justiça comum.
Conclusão:
A partir do presente trabalho, verificamos que a imunidade parlamentar não é absoluta, pois para que os parlamentares gozem desta imunidade, todos os seus atos, opiniões e manifestações, devem ter conexão com o exercício da função. Verificamos que sendo feitas ofensas, manifestações e opiniões dentro do plenário, em uma situação de debate com seus colegas, os parlamentares estarão absolutamente protegidos pela imunidade, nada podendo ser feito para que respondam civil ou penalmente, pois estão protegidos pelo caput artigo 53, da CF. 
Já em casos dos parlamentares utilizarem das mesmas opiniões e injúrias, fora do plenário, como em veículos de comunição ou redes sociais, sendo que as mesmas não tem nenhuma conexão com sua função parlamentar, a imunidade não os alcança, e poderão responder civil ou penalmente pelas declarações, visto que a imunidade não diz respeito a figura do parlamentar, mas sim à sua função. 
Referências bibliográficas: 
MORAES, Alexandre, Direito Constitucional, 28ª edição, São Paulo. Ed. Atlas S.A. 2012.
BRASIL. Constituição (1988). Constituição Federal da República Federativa do Brasil: promulgada em 5 de outubro de 1988.
RE 299109 AgR. Relator: Ministro LUIZ FUX, Primeira Turma Data de Julgamento: 03/05/2011. DJe-104 DIVULG 31-05-2011 PUBLIC 01-06-2011 EMENT VOL-02534-01 PP-00080. Disponível em:
http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=6984936
Supremo Tribunal Federal STF - INQUÉRITO : Inq 2390 DF. Relator: Ministra Cármen Lúcia. Data de Julgamento: 15/10/2017. DJe-152 DIVULG 29/11/2017 PUBLIC 30/11/2017 DJ 30/11/2017 PP-00029 EMENT VOL-02301-01 PP-00090. Disponível em:
https://stf.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/14726594/inquerito-inq-2390-df?ref=serp
STF - Inq: 1958 AC, Relator: Min. CARLOS VELLOSO, Data de Julgamento: 29/10/2003, Tribunal Pleno, Data de Publicação: DJ 18-02-2005 PP-00006 EMENT VOL-02180-01 PP-00068 RTJ VOL-00194-01 PP-00056
https://stf.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/14743695/inquerito-inq-1958-ac/inteiro-teor-103129168?ref=juris-tabs
EDcl no RECURSO ESPECIAL Nº 1.642.310 - DF (2016/0264000-5). Relator: MINISTRA NANCY ANDRIGHI. Data de Julgamento: 24/10/2017. Disponível em: 
https://ww2.stj.jus.br/processo/pesquisa/?aplicacao=processos.ea&tipoPesquisa=tipoPesquisaGenerica&termo=REsp%201642310
BRASIL. Código de Processo Penal (1941): promulgado 3 DE OUTUBRO DE 1941.

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