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Maria Eduarda de Souza Trigo Fernandes - 9º Semestre - Internato Obstetrícia 2022 Adaptações do Organismo Materno à Gravidez O organismo feminino sofre mudanças anatômicas e funcionais durante a gravidez, adaptando-se para a presença do feto em desenvolvimento. Essas altera- ções se dão nas esferas molecular, bioquímica, hor- monal, celular e tecidual dos mais variados órgãos e sistemas. Já no início da gestação, a presença de células tro- foblásticas no ambiente intrauterino altera a home- ostase local e, em seguida, por meio da produção celular de hormônios e outras substâncias, o funcio- namento de quase todos os sistemas maternos se adapta à nova condição. SISTEMA CIRCULATÓRIOSISTEMA CIRCULATÓRIOSISTEMA CIRCULATÓRIO « Adaptações HematológicasAdaptações HematológicasAdaptações Hematológicas O volume sanguíneo materno aumenta considera- velmente durante a gravidez, atingindo valores 30 a 50% maiores do que os níveis pré-gestacionais. As variações relacionadas ao aumento da volemia se associam a diferenças individuais e à quantidade de tecido trofoblástico, sendo maior em gestações múl- tiplas. Assim, observa-se aumento volêmico mais discreto em pacientes que apresentam restrição de crescimento fetal (RCF) e HAS. O papel da hipervolemia no organismo materno es- tá associado ao aumento das necessidades de supri- mento sanguíneo nos órgãos genitais, especialmen- te em território uterino, cuja vascularização apre- senta-se maior. Além disso, tem função protetora para gestante e feto em relação à redução do retor- no venoso, comprometido com as posições supina e ereta, e para as perdas sanguíneas esperadas no parto. Em geral, o aumento de volume plasmático é da or- dem de 45 a 50% em comparação com os valores da mulher não gestante, enquanto o volume de células vermelhas se eleva em cerca de 30%, estabelecen- do, portanto, estado de hemodiluição. Consequen- temente, a viscosidade plasmática está menor, o que reduz o trabalho cardíaco. Esses processos adaptativos se iniciam já no primeiro trimestre de gestação, por volta da sexta semana, com expansão mais acelerada no segundo trimestre, para, final- mente, reduzir sua velocidade e estabilizar-se nas úl- timas semanas do período gravídico. Fora do ciclo gravídico-puerperal, elevações agudas da volemia ativam receptores de volume e barorre- ceptores, assim como a baixa osmolaridade plas- mática provoca a excitação de quimiorreceptores. Esses estímulos acarretam secreção de peptídeo atrial natriurético, que atua em receptores presen- tes nos rins, adrenais e vasos, promovendo excreção de sódio e água, além de vasodilatação. Durante a gravidez, apesar do aumento progressivo dos níveis séricos de peptídeo atrial natriurético, o aumento lento da volemia torna os receptores menos sensí- veis ao seu estímulo, permitindo o acúmulo de só- dio e água pelo organismo materno. Apesar da hemodiluição fisiológica observada na gestante, o volume eritrocitário absoluto apresenta aumento considerável. Em média, mulheres grávidas possuem 450 mL a mais de eritrócitos, com maior incremento no terceiro trimestre. A concentração de hemoglobina se encontra reduzida durante a gra- videz, resultado da hemodiluição. Considerando-se que a produção eritrocitária seja maior no terceiro trimestre, essa redução relativa dos valores de he- moglobina é menor no fim da gravidez. A leucocitose (níveis elevados) pode estar presente na gravidez normal. Durante o parto e o puerpério imediato, os valores de leucócitos se elevam de mo- do significativo, possivelmente relacionado à ativida- de das adrenais no momento de estresse. A proteí- na C reativa apresenta níveis plasmáticos mais eleva- dos no momento próximo ao parto. Os níveis plaquetários estão discretamente reduzi- dos na gravidez normal. Parte desse evento ocorre pelo fenômeno da hemodiluição, mas o consumo de plaquetas também está envolvido nesse processo (hipercoagulabilidade), e certo grau de coagulação intravascular no leito uteroplacentário pode ser uma justificativa para esse achado. O aumento da produção de tromboxano A2 está as- sociado à maior agregação plaquetária e, assim, à redução da contagem plaquetária. Especula-se que todas essas alterações do mecanismo de coagulação sejam mediadas por processos hormonais relaciona- dos aos altos níveis de estrógeno e progesterona oriundos do tecido placentário, uma vez que desa- Maria Eduarda de Souza Trigo Fernandes - 9º Semestre - Internato Obstetrícia 2022 parecem 1 hora após a dequitação (expulsão ou saí- da da placenta). As necessidades de ferro durante o ciclo gravídico- puerperal aumentam consideravelmente. O consu- mo e a perda de ferro que ocorrem nessa fase não permitem que a gestante mantenha os níveis de he- moglobina e os estoques desse elemento dentro do intervalo de normalidade. Uma série de eventos contribui para esse estado de deficiência de ferro: consumo pela unidade fetoplacentária, utilização pa- ra produção de hemoglobina e de mioglobina para aumento da massa eritrocitária e da musculatura uterina, depleção por perdas sanguíneas e pelo alei- tamento. Por esse motivo, a não ser que haja suple- mentação adequada, a maioria das gestantes apre- sentará anemia ferropriva. « Adaptações CardiovascularesAdaptações CardiovascularesAdaptações Cardiovasculares Após a expansão volêmica, outras adaptações cir- culatórias devem ocorrer no organismo materno pa- ra comportar esse incremento de conteúdo sanguí- neo. Na gravidez o aumento da frequência cardíaca basal, geralmente em 15 a 20 bpm, e a elevação do volume sistólico (contração – saída do sangue para os vasos) determinam aumento do débito cardíaco (cerca de 50% maior). Esse processo se inicia por volta da quinta semana de gravidez, estabiliza-se por volta de 24 semanas e atinge seu ápice no pós-parto imediato, com incremento de 80% no débito cardía- co. Esse aumento final no pós-parto imediato possi- velmente ocorre pelo aumento do retorno venoso e, portanto, da pré-carga, após a descompressão dos vasos pélvicos pelo útero, o que ocorre com o nasci- mento do concepto. A postura da gestante pode exercer grande influên- cia no débito cardíaco, especialmente nas últimas semanas da gravidez em função do grande volume uterino. A posição supina (decúbito dorsal) pode re- duzir o débito cardíaco em 25 a 30%, em compara- ção com o decúbito lateral esquerdo, por conta da compressão da veia cava e da redução do retorno venoso. A terceira adaptação circulatória acontece em nível bioquímico. O aumento relativo da produção de prostaciclina, em comparação à produção de trom- boxano A2, ocasiona vasodilatação sistêmica. Em as- sociação aos altos níveis de progesterona presentes no período gestacional, a prostaciclina não só gera, como também mantém a vasodilatação generalizada que se observa na gestante. Além desses fatores, a produção endotelial de óxi- do nítrico apresenta aumento no período gestacio- nal e colabora localmente para a vasodilatação peri- férica. O aumento da pressão venosa nos membros inferi- ores é justificado pela compressão das veias pélvicas pelo útero volumoso. Por essa razão, há maior chan- ce de a gestante apresentar hipotensão, edema, va- rizes e doença hemorroidária. A distribuição do fluxo sanguíneo se modifica durante a gravidez e vai sen- do desviada com prioridade para útero, rins, mamas e pele. Com o decorrer da gravidez, o diafragma se eleva por conta do aumento do volume abdominal. Esse deslocamento altera a posição cardíaca, que está in- timamente relacionada à localização do diafragma. Assim, o coração se apresenta desviado para cima e para a esquerda, ligeiramente rodado para a face anterior do tórax. Além desse deslocamento, o volu- me do órgão está maior como um todo, em função do aumento do volume sistólico e da hipertrofia dos miócitos. SISTEMA ENDÓCRINOSISTEMA ENDÓCRINOSISTEMA ENDÓCRINO Resumo das principais alterações hormonais observadas na gesta- ção Hormônios Alteração na Gestação Hipofisários Prolactina Aumento - Prepara as glândulas mamáriaspara a produção de leite no pós-parto GH Aumento a partir do segundo trimestre (fonte pla- centária) TSH Redução no primeiro trimestre, normalizando no segundo e no terceiro trimestre ACTH Aumento FSH e LH Redução MSH Aumento ADH Níveis mantidos, mas com menor limiar para libe- ração Ocitocina Mantêm-se constantes durante a gestação, ele- vando-se no período expulsivo do trabalho de par- to Tireoidianos T3 e T4 total Aumento T4 livre Discreto aumento no primeiro trimestre, normali- zando no segundo e no terceiro trimestres Paratireoidianos PTH Redução no primeiro trimestre, platô e aumento discreto no terceiro trimestre Calcitonina Aumento Adrenais Cortisol Aumento Aldosterona Aumento Andrógenos Redução de sulfato de deidroepiandrosterona (DHEA-S) e aumento de androstenediona e de tes- tosterona Ovarianos Progesterona Aumento Maria Eduarda de Souza Trigo Fernandes - 9º Semestre - Internato Obstetrícia 2022 Estrógeno Aumento Andrógenos Aumento de androstenediona e de testosterona Relaxina Aumento A regulação da tireoide está evidentemente altera- da na gravidez em razão da estimulação direta dos receptores de TSH pelo hCG. Essas alterações provo- cam sobrecarga funcional da tireoide, mas não cos- tumam causar aumento volumétrico acentuado da glândula. O aumento da depuração renal de iodo as- sociado à ingestão baixa ou limítrofe desse elemen- to pode ocasionar deficiência na produção hormo- nal materna e fetal. A função das paratireoides está intimamente ligada ao metabolismo do cálcio. A demanda de cálcio na gestação é maior em função da unidade fetoplacen- tária, que absorve cálcio e outros elementos do or- ganismo materno para a formação do esqueleto fe- tal. Na lactante, as demandas são ainda maiores, pe- lo alto teor de cálcio no leite materno, que deve su- prir as necessidades do recém-nascido. O aumento generalizado das atividades do eixo hi- potálamo-hipófise-adrenal e do sistema renina-angi- otensina-aldosterona fazem da gravidez um período de hipercortisolismo e hiperaldosteronismo. O au- mento do cortisol sérico decorre da redução de sua excreção e do aumento de sua meia-vida. Tem rela- ção direta com a unidade fetoplacentária, que pro- duz CRH e ACTH, e, no terceiro trimestre, os níveis de cortisol chegam a ser três vezes maiores que os níveis basais. Durante a gravidez normal, a função endócrina ova- riana está relacionada à produção de progesterona pelo corpo lúteo. Sua importância se limita até a sétima semana de gravidez, pois está associada à manutenção da gestação até o período em que o trofoblasto cresce suficientemente para sua autono- mia hormonal. A produção de andrógenos (andros- tenediona e testosterona) está elevada, mas não acarreta maiores repercussões, já que a placenta possui mecanismos de proteção fetal, convertendo esses hormônios em estradiol. ADAPTAÇÕES METABÓLICASADAPTAÇÕES METABÓLICASADAPTAÇÕES METABÓLICAS Depara-se com duas fases distintas: uma primeira etapa de anabolismoanabolismoanabolismo materno, que dura pouco mais da metade da gestação; e uma segunda etapa de ca-ca-ca- tabolismotabolismotabolismo materno e anabolismo fetal, que se inicia ao fim da primeira metade e segue até o término da gravidez. O ganho de peso materno decorre, em grande par- te, do acúmulo de componente hídrico intra e extra- vascular, e em menor proporção, do acúmulo de componentes energéticos e estruturais (carboidra- tos, lipídeos e proteínas). Na primeira fase de anabo- lismo materno, que se estende da concepção até 24 a 26 semanas de gestação, o aporte energético é di- reciona do para reservas maternas. Na segunda fa- se, de catabolismo materno tanto o aporte energéti- co ingerido como as reservas maternas são direcio- nados ao crescimento do feto. Observa-se redução da glicemia em jejum e da gli- cemia basal materna em favor do armazenamento de gordura, glicogênese hepática e transferência de glicose para o feto. Essas alterações são observadas na fase anabólica da gestação e são desencadeadas pelos hormônios sexuais placentários (estrógeno e progesterona). A partir da segunda metade da gravidez, inicia-se o período catabólico, com lipólise, gliconeogênese e resistência periférica à insulina, a qual é secundária à produção placentária de hormônios diabetogêni- cos, como GH, CRH, progesterona e, especialmente, hormônio lactogênico placentário (hLP), também chamado de somatomamotropina coriônica. É a par- tir de 30 semanas gestacionais que a mulher come- ça a mobilizar suas reservas energéticas para se ade- quar ao crescimento fetal. Para garantir o aporte de glicose necessário visando o crescimento e o desen- volvimento do produto conceptual, ocorre aumento da resistência periférica à insulina, criando um ambi- ente de hiperglicemia pós-prandial (sangue) e con- sequente hiperinsulinemia, resultante da hipertrofia e da hjperplasia das células beta pancreáticas medi- adas pela prolactina e pelo hLP. A redução da sensibilidade à insulina é um fenôme- no materno observado de forma mais evidente a partir de 26 semanas de gestação, período em que há aumento progressivo do nível de hLP. É nesse mo- mento, portanto, que qualquer desequilíbrio no me- tabolismo de carboidratos pode gerar quadro de Di- abetes Mellitus Gestacional, em especial se a oferta de glicose no sangue materno ultrapassar a capaci- dade pancreática de produção de insulina. Maria Eduarda de Souza Trigo Fernandes - 9º Semestre - Internato Obstetrícia 2022 O apetite e a ingestão alimentar são maiores na gravidez porque as gestantes desenvolvem resistên- cia relativa à leptina no centro de saciedade do siste- ma nervoso central. Glicosúria leve pode estar presente em um número considerável de gestantes, mas sem maiores signifi- cados, pois está relacionada ao aumento fisiológico da filtração glomerular e à diminuição da reabsor- ção tubular renal. MODIFICAÇÕES SISTÊMICASMODIFICAÇÕES SISTÊMICASMODIFICAÇÕES SISTÊMICAS « Pele e AnexosPele e AnexosPele e Anexos A produção placentária de estrógenos leva à proli- feração da microvasculatura de todo o tegumento, fenômeno conhecido como angiogênese. Associado ao estado hiperprogestogeoico, ocorre vasodilata- ção de toda a periferia do organismo. Observam-se assim, eventos vasculares da pele e dos anexos, co- mo eritema palmar, telangiectasias (microvasos na superfície da pele), hipertricose (aumento de pelos) e aumento de secreção sebácea e da sudorese. A alopecia (perda de cabelo) é rara, mas pode ocorrer por causa das alterações hormonais. A hiperpigmentação da pele da gestante também está relacionada aos altos níveis de progesterona, que parecem aumentar a produção e a secreção do hormônio melanotrófico da hipófise. Agindo sobre moléculas de tirosina da pele, induz a produção ex- cessiva de melanina, o que provoca máculas hiper- crômicas denominadas cloasmas ou melasma. Entre os locais de maior incidência estão face, fronte, pro- jeção cutânea da linha alba (que passa a ser denomi- nada linha nigra), aréola mamária e regiões de do- bras. Podem piorar com a exposição solar e costu- mam desaparecer após a gravidez. O sinal de Hunter nada mais é que a pigmentação periareolar que de- termina o surgimento da aréola secundária nas ges- tantes. A distensão da pele do abdome, das mamas e do quadril pode provocar o aparecimento de estrias nessas regiões. « Sistema EsqueléticoSistema EsqueléticoSistema Esquelético Durante a gravidez, observa-se que as articulações da bacia óssea (sínfise púbica, sacrococcígea e sinos- toses sacroilíacas) apresentam-se com maior elasti- cidade, aumentando a capacidade pélvica e modifi- cando a postura e a deambulação da gestante o que prepara o organismo para a parturição. Em geral, os ligamentos estão mais frouxos e são mais compla- centes à movimentação. Tais modificações são im- prescindíveis para o fenômeno de expulsão fetal pois elas permitem o aumento dos diâmetros e es- treitos da pelve materna. O aumento do volume abdominal e das mamas desvia anteriormente o centro de gravidade mater-no. Por instinto, a gestante direciona o corpo todo posteriormente, de forma a compensar e encontrar novo eixo de equilíbrio que permita que ela se man- tenha ereta. Por essa razão, surgem hiperlordose e hipercifose da coluna vertebral, aumento da base de sustentação, com afastamento dos pés e diminuição da amplitude dos passos durante a deambulação (marcha anserina). « Sistema DigestórioSistema DigestórioSistema Digestório Muitas gestantes se queixam do aumento de apeti- te e sede. A resistência à ação da leptina e as altera- ções da secreção de ADH, em nível de osmolaridade distinto da não grávida, parecem ser as explicações para tais alterações de sensibilidade na gestante. Náuseas e vômitos são ocorrências muito prevalen- tes no primeiro trimestre e desaparecem ao longo da gravidez. Por vezes, podem ser de difícil manejo, acompanhados de perda significativa de peso, o que configura hiperêmese gravídica. Dados recentes as- sociam tal entidade a altos níveis de hCG circulante e alterações laboratoriais da função tireoidiana. O estrógeno, por sua vez age como indutor dos efeitos progestogênicos no organismo materno. Es- ses efeitos levam a relaxamento do esfíncter esofági- co inferior e redução de seu peristaltismo com au- mento da incidência de refluxo gastroesofágico. A azia é, portanto, queixa comum da gestante. A contratilidade da musculatura lisa dos intestinos também se encontra reduzida, causando obstipa- ção. A permanência prolongada do bolo fecal no lú- men intestinal expõe os alimentos ao contato com enzimas digestivas por tempo mais prolongado e au- menta a absorção de água, o que contribui para pio- ra da obstipação. « Sistema RespiratórioSistema RespiratórioSistema Respiratório Ocorre ingurgitamento e edema da mucosa nasal, que se traduz em maior frequência de obstrução, sangramento e rinite durante a gravidez. O edema da mucosa também acomete a laringe e a faringe, diminuindo o lúmen dessas vias. Maria Eduarda de Souza Trigo Fernandes - 9º Semestre - Internato Obstetrícia 2022 A frequência respiratória sofre pouca ou nenhuma mudança na gravidez normal, mas o aumento de vo- lume corrente estabelece situação de hiperventila- ção. A facilidade da movimentação do ar nas estru- turas brônquicas e alveolares é resultado de ação da progesterona, que tem efeito direto na musculatura lisa dos brônquios, além do centro respiratório, di- minuindo o limiar de estímulo desse centro pelo di- óxido de carbono e aumentando a ventilação. Essas alterações do sistema respiratório causam à gestan- te sensação de dispneia, queixa comum que pode estar associada somente à conscientização da respi- ração. « Sistema UrinárioSistema UrinárioSistema Urinário A liberação de ADH e o mecanismo de sede são, portanto, desencadeados por menores níveis os- móticos. Esses fatos denotam menor capacidade re- nal de concentrar urina. As grávidas em geral, fil- tram maiores quantidades de sódio e água no glo- mérulo, o que é compensado por maior reabsorção tubular desses elementos resultado da ação da al- dosterona e do ADH. « Sistema Nervoso CentralSistema Nervoso CentralSistema Nervoso Central As principais queixas das gestantes quanto ao siste- ma nervoso central (SNC) relacionam-se a discretas alterações de memória e de concentração, geral- mente no último trimestre, e sonolência. Acredita- se que a sonolência esteja associada aos altos níveis de progesterona, hormônio conhecidamente de- pressor do SNC e à alcalose respiratória causada a hiperventilação. Estudos apontam que a memória verbal e a velocidade de processamento estão me- nores quando em comparação a mulheres não ges- tantes. As modificações do padrão e da qualidade do sono não só aumentam a fadiga da grávida ao fim da ges- tação, como também podem colaborar para qua- dros psíquicos de blues puerperal (baby blues – tris- teza transitória, alterações de humor, ansiedade, choro fácil) ou até de depressão. MODIFICAÇÕES LOCAIS DO ORGANISMO MATERNOMODIFICAÇÕES LOCAIS DO ORGANISMO MATERNOMODIFICAÇÕES LOCAIS DO ORGANISMO MATERNO « ÚteroÚteroÚtero As modificações uterinas são as mais pronunciadas, já que é durante a gravidez que o útero exerce ple- namente sua capacidade funcional e anatômica: participar da formação do concepto e do mecanis- mo de parto. Assim como ocorre com outros órgãos genitais a coloração uterina passa a ser violácea por causa do aumento da vascularização e da vasodilatação veno- sa. A retenção hídrica do espaço extravascular, por sua vez, torna a consistência do útero amolecida. As alterações de volume e peso são marcantes, vis- to que fora do período gestacional o útero normal é um órgão compacto, que pesa aproximadamente 60 a 70 g e com capacidade interna de até 10 mL e ter- mo da gestação, apresenta-se como um órgão com peso de 700 a 1.200 g e capacidade total de 5 L (po- dendo chegar a 20 L em determinadas situações). As dimensões, a forma e a posição do útero alte- ram-se ao longo da gravidez de forma progressiva. Assim, nota-se que até 12 semanas o útero é um ór- gão intrapélvico, com forma assimétrica decorrente da implantação localizada do embrião. A partir disso e até 20 semanas de gestação assume a forma es- férica e deixa de se localizar exclusivamente na regi- ão pélvica para se tomar um órgão abdominal. Com o contínuo crescimento uterino, a anteverso- flexão (útero na posição normal, inclinado para fren- te sobre a bexiga) reduz-se aliviando os sintomas de polaciúria. As fibras musculares do miométrio uterino se mo- dificam substancialmente na gravidez, caracterizan- do-se três tipos de alterações: hiperplasia (aumento no número de células), hipertrofia (aumento do ta- manho) e alongamento. A hiperplasia ocorre com menor frequência, sendo restrita às primeiras sema- nas de gestação. O útero é o órgão em que ocorre o fenômeno de hipervascularização mais intenso. O fluxo sanguíneo local, que fora do período gestacional é de 50 mL/min, chega a valores entre 500 e 700 ml/ min. A perfusão uterina é extremamente abundante, com surgimento de novos vasos e aumento da capacida- de dos já existentes. As principais artérias que parti- cipam do suprimento sanguíneo do útero são as ute- rinas e as ovarianas. A elevação dos níveis séricos de estrógeno e de progesterona ao longo da gravidez aumenta o fluxo sanguíneo do compartimento uteroplacentário por meio da vasodilatação. O compartimento fetopla- centário, por sua vez contribui para esse mesmo me- canismo por meio das ondas de invasão trofoblásti- ca, que aumentam o número de vasos fetoplacentá- Maria Eduarda de Souza Trigo Fernandes - 9º Semestre - Internato Obstetrícia 2022 rios. Observam-se dessa forma, o aumento do fluxo e a redução da resistência das artérias uterinas. A hipertrofia glandular da endocérvix desencadeia maior produção de muco espesso e viscoso denomi- nado rolha de Schroeder. O muco cervical da gestan- te é rico em imunoglobulinas e citocinas, funcionan- do mecânica e imunologicamente como proteção contra a ascensão de microrganismos. Sua elimina- ção acontece na presença de dilatação de qualquer ordem (prematura ou oportuna ou por contrações). Por causa da hipervascularização local, é comum sangramento durante a manipulação do colo uteri- no, como na coleta da colpocitologia oncótica e na amnioscopia. « OváriosOváriosOvários Os ovários têm importância crucial no início da gra- videz, mais especificamente até a sétima semana. É nessa etapa que o corpo lúteo, que geralmente se mantém por 2 semanas após a ovulação ou durante a segunda metade do ciclo menstrual, transforma-se em corpo lúteo gravídico. Seu crescimento e manu- tenção são assegurados pelos altos níveis de hCG produzidos pelas células trofoblásticas. O principal papel do corpo lúteo gravídico é fornecer progeste- rona em níveis suficientes para a deciduação do en- dométrio, com consequente nidação do blastocisto, até o momento em que o trofoblasto seja capaz de produzir progesterona de forma autônoma e em quantidades adequadas para a manutenção da ges- tação. Ocorpo lúteo gravídico começa a regredir no primeiro trimestre (por volta de 12 semanas), por conta da redução e da estabilização dos níveis circu- lantes de hCG. « VaginaVaginaVagina A hipervascularização local provoca hiperemia e edema da mucosa vaginal. Já no início da gestação, a coloração avermelhada se torna arroxeada pela re- tenção sanguínea nos vasos venosos, o que se deno- mina sinal de Kluge. O aumento do diâmetro das ar- térias vaginais permite sentir sua pulsação nos fórni- ces laterais (sinal de Osiander). Ocorre hipertrofia das células musculares, bem como do tecido conjun- tivo, o que, em conjunto com o acúmulo hídrico, au- menta a espessura e elasticidade da mucosa vaginal. Essas alterações levam à redução da rugosidade mu- cosa e garantem a distensão necessária do órgão pa- ra formação do canal de parto em momento oportu- no. Os elevados níveis de progesterona circulante pro- movem alterações celulares locais similares às do período secretor do ciclo menstrual, contudo, mais intensas e duradouras. Por esse motivo, o acúmulo de glicogênio e a maior descamação celular servem de substrato para proliferação de Lactobacillus aci- dophilus. O consumo do excesso de glicogênio por esses microorganismo gera maior produção de áci- do lático, com consequente diminuição do ph da va- gina. O pH vaginal que na gravidez se encontra-se em torno de 3, 5 a 6, tem papel protetor contra in- fecções bacterianas locais, mas pode predispor a in- fecções fúngicas. « MamasMamasMamas As modificações das glândulas mamárias são evi- dentes desde o início da gestação. A gestante se queixa com frequência de dor e hipersensibilidade mamária já no primeiro trimestre e costuma apre- sentar melhora com o decorrer da gravidez. A pro- dução hormonal de estrógeno e de progesterona pela unidade placentária e a produção de prolactina pela hipófise materna promovem o crescimento e o desenvolvimento mamário necessários para o pro- cesso de lactação no pós-parto. O aumento volumétrico das mamas é observado a partir da sexta semana de gravidez. O mamilo se to- ma mais pigmentado e sensível. A papila se apresen- ta mais saliente, pois está com maior capacidade erétil. A hiperpigmentação areolar faz com que o mamilo tenha cor acastanhada, com surgimento de coloração externa aos limites originais da aréola mais clara que ela, contudo, mais escura que a pele das mamas. A esse contorno de limites imprecisos que circunda a aréola dá-se o nome de aréola se- cundária ou sinal de Hunter. Há hipertrofia das glân- dulas sebáceas do mamilo, que formam elevações visíveis, os tubérculos de Montgomery. A pele das mamas pode apresentar estrias secun- dárias aos elevados níveis de cortisol associados à distensão local. A hipervascularização do tecido glandular torna visível a rede venosa sob a pele cha- mada de rede de Haller. A partir da segunda metade da gravidez, é possível visualizar a saída de colostro pelas papilas à expressão mamária.
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