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Atresia de Esôfago A atresia de esôfago é a malformação mais frequente e mais conhecida do aparelho digestivo do recém-nascido. É considerada patologia-padrão cujos resultados de tratamento são considerados como parâmetros de aferição da qualidade dos serviços de cirurgia pediátrica. Anatomicamente apresenta-se sob as seguintes formas mais comuns: com fístula distal, sem fístula, fístula em H sem atresia e dupla fístula proximal e distal. O diagnóstico antenatal é suspeitado na presença de poli-hidrâmnio materno e pode até ser visualizada ao ultrassom. Deve ser idealmente diagnosticada na sala de parto, durante a reanimação, pela parada de progressão da sonda nasogástrica, prescindindo de exames contrastados. Em casos duvidosos realizar RX com mínima quantidade de contraste hidrossolúvel. O uso de contraste em quantidade maior é altamente prejudicial, pois habitualmente ocorre aspiração do contraste para a árvore brônquica. A atresia do esôfago não é uma emergência cirúrgica, devendo ser operada quando o recém-nascido estiver em boas condições, principalmente respiratórias, pois é frequente a aspiração de saliva e suco gástrico para o lobo superior direito com consequente pneumonia química. Enquanto aguarda a cirurgia o neonato deve permanecer na unidade de terapia intensiva neonatal, em incubadora, de bruços, decúbito elevado, com sonda oroesofagiana com aspiração contínua, em nutrição parenteral, com antibióticos e realizando fisioterapia pulmonar. São frequentes as malformações associadas que, junto com a prematuridade eventual e pneumonia, são responsáveis pela morbidade e mortalidade associadas. As anomalias mais frequentes são: ósseas, principalmente de coluna vertebral, geralmente no metâmero da atresia; cardíacas, atresia anorretal, atresia duodenal e mal formações urinárias. As mal formações podem estar associadas como na associação VACTERL (vertebral, anal, fístula traqueoesofágica, renal e extremidades). A prematuridade não é considerada contra-indicação absoluta para a cirurgia. As atresias com fístula são operadas no período neonatal, por toracotomia posterior extrapleural, sem secção dos músculos da parede. Aberta a cavidade torácica por via extrapleural, realiza-se a ligadura da veia ázigos, a individualização, ligadura e secção da fístula traqueoesofagiana distal e anastomose primária, esôfago-esofagiana término-terminal em plano único. Em aproximadamente 25% dos casos, não é possível realizar a anastomose pelo excesso de tensão, optando-se pela realização de esofagostomia cervical esquerda, ressecção do esôfago distal e gastrostomia alimentar. Reconstrói-se o trânsito com cerca de um ano de idade mediante uma esofagogastro ou esofagocoloplastia. Dá-se preferência à esofagocoloplastia em crianças pequenas, deixando a esofagogastroplastia (levantamento do estômago) para crianças maiores ou quando a esofagocoloplastia já foi anteriormente tentada, sem sucesso. Nas atresias sem fístula realiza-se uma gastrostomia alimentar e investiga-se radiologicamente a distância entre os cotos. Numa minoria, é possível a anastomose imediata ou após espera de semanas pois o coto esofagiano proximal habitualmente se alonga. O critério de operabilidade, ou melhor, de que será possível a anastomose primária, ocorrerá quando a distância entre os cotos for de, no máximo, dois corpos vertebrais. Quando a reconstrução não for possível, realiza-se esofagostomia e gastrostomia com a substituição esofágica, de preferência a esofagocoloplastia, postergada para em torno de um ano de idade. Em serviços de excelência os índices de sobrevida em pacientes com peso de nascimento acima de 2.500 gramas, sem cardiopatia associada, devem atingir 100%.
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