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SP2- LER/DORT Definições LER Representa um grupo de afecções do sistema musculoesquelético. São diversas afecções que apresentam manifestações clínicas distintas e que variam em intensidade. DORT Representa a sigla para “Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho” e foi introduzida para substituir a sigla LER, particularmente por duas razões: primeiro porque a maioria dos trabalhadores com sintomas no sistema musculoesquelético não apresenta evidência de lesão em qualquer estrutura; a outra razão é que além do esforço repetitivo (sobrecarga dinâmica), outros tipos de sobrecargas no trabalho podem ser nocivas para o trabalhador como sobrecarga estática (uso de contração muscular por períodos prolongados para manutenção de postura); excesso de força empregada para execução de tarefas; uso de instrumentos que transmitam vibração excessiva; trabalhos executados com posturas inadequadas. Os distúrbios osteomusculares ocupacionais mais frequentes são as tendinites (particularmente do ombro, cotovelo e punho), as lombalgias (dores na região lombar) e as mialgias (dores musculares) em diversos locais do corpo. Os impactos da DORT na vida do trabalhador são multifatoriais, envolvendo fatores psicossociais, ambientais, condições de trabalho, jornadas extensas e cansativas, intervalos de descanso reduzidos ou inexistentes, dentre outros fatores. Epidemiologia No Brasil, as doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) são responsáveis por 70% das causas de óbito da população. A Pesquisa Nacional de Saúde (PNS), no ano de 2013, analisou doenças crônicas em 146,3 milhões de pessoas, dentre elas, 3.568.095 relataram ter diagnóstico de LER/DORT. Além do Brasil, em outros países como Japão, Estados Unidos e países escandinavos, mais de 30% das afecções trabalhistas são diagnosticadas como LER/DORT, tendo sua principal queixa a dor e incapacidade que geram sofrimento ao paciente no ambiente de trabalho. É sabido que as LER/DORT são um dos principais agravos de saúde, relacionado ao auxílio-doença acidentário. Entre 2011 e 2013, ela se manteve em segundo lugar, o primeiro foi para causas externas. Os distúrbios osteomusculares de membros superiores são os mais comuns, caracterizados pelas tendinites e tenossinovites e estima-se que afetam 50% a 80% da população economicamente ativa. Entre 2007 e 2016, 67.599 casos desse agravo foram notificados no SINAN. Etiologia Quadros clínicos diagnosticados como LER/DORT, apesar da heterogeneidade já exposta, guardam entre si a semelhança de terem em sua gênese o desconhecimento ou a ignorância das ferramentas de prevenção cuja utilidade é consolidada. Portanto a doença, geralmente, se origina quando há exposição prolongada a sobrecarga estática ou dinâmica, jornada de trabalho excessiva, ininterrupção, técnicas de produção inapropriadas ou ergonomia e antropometria inadequadas. Por sobrecarga estática, entende-se a realização de força excessiva e a sustentação de peso acima da capacidade fisiológica do indivíduo. Já a sobrecarga dinâmica é bem exemplificada pelos esforços repetitivos. Fisiopatologia O mecanismo pelo qual as LER/DORT se instalam tem em comum o fato de se iniciarem pela sobrecarga biomecânica do tecido musculoesquelético. O evento fisiológico secundário varia conforme a estrutura corporal acometida. Dor Decorre do estímulo às terminações nervosas contidas nos tecidos acometidos por lesão, alta pressão mecânica, isquemia, extremos de temperatura e agressão química. Esse estímulo é transmitido pelas vias aferentes ao sistema nervoso central e nele pode ser interpretado e modulado. Quando a causa da dor é um dano maciço ou uma inflamação crônica, pode ocorrer hiperalgesia periférica, o que justifica o quadro progressivo da dor nas LER/DORT Isquemia O estresse compressivo e tensional exercido reciprocamente por tendões, músculos e ligamentos oblitera a microvasculatura local e induz hipertrofia das camadas média e íntima das arteríolas, reduzindo ainda mais o lúmen do vaso. Quando isso ocorre com intensidade, duração ou frequência suprafisiológica, surgem lesões isquêmicas de repercussão variável, podendo ser tão simples quanto uma dor local temporária ou tão complexa quanto a disfunção grave. Dano estrutural Cargas excessivas podem causar microrrupturas instantâneas de fibras musculares e dano à estrutura interna dos tendões. A regeneração dessa estrutura envolve a infiltração de vasos e nervos que, paradoxalmente, pode degenerá-lo ou causar fibrose quando essa agressão é crônica. Nos esforços repetitivos, soma-se aos mecanismos de dano celular o acúmulo de íons Ca++ no sarcoplasma em quantidade tóxica. Na negligência dos intervalos, destaca-se que a manutenção da contração muscular por períodos prolongados induz à permanência da ativação de unidades motoras mesmo após a cessação do estímulo central. Sinais e sintomas De forma geral, os sintomas compreendem: dor, sensação de peso e fadiga dos membros superiores, parestesia, após fadiga e impossibilidade de recuperação dos locais acometidos, causada por trabalho realizado em posição fixa ou com movimentos repetitivos. Exame físico Durante a consulta médica, é imprescindível a realização de um exame físico minucioso, com inspeção, palpação e testes especiais para cada patologia a ser pesquisada. - À inspeção, deve-se verificar a presença de edema, coloração, simetria, atrofia, deformidades e cicatrizes. - À palpação, pesquisar alodínia (dor em movimentos que normalmente não causariam dor), edema, temperatura e crepitação. - Antes de realizar os testes específicos, investigar a amplitude de movimento ativa e passiva da articulação investigada. Síndrome do túnel do carpo (STC) A síndrome do túnel do carpo é definida como uma compressão do nervo mediano na junção do antebraço distal com o punho. Acomete a região do nervo mediano, portanto a dormência ou formigamento são entre o primeiro, segundo terceiro quirodáctilos e lado radial do 4º quirodáctilo. A Síndrome do Túnel do Carpo (STC) é de longe a mais prevalente dentre as mononeuropatias compressivas dos nervos periféricos dos membros superiores. Epidemiologia A STC acomete muito mais mulheres do que homens, na proporção média de 9:1 (devido a dupla jornada da mulher), sendo que a incidência é maior na perimenopausa, enquanto que os homens costumam ser acometidos mais precocemente, talvez em decorrência do início de suas atividades profissionais se dar ainda em faixas etárias menores. A STC provavelmente afeta de 0,2 a 2% da população trabalhadora e de sua faixa etária, dependendo da definição de cada caso. Etiologia Até há pouco tempo se admitia que a grande maioria dos casos fosse de causa idiopática, mas, nos dias atuais, foram identificadas mais de 15 causas, entre as quais o diabetes, o hipotireoidismo, a amiloidose, a artrite reumatoide, acromegalia, tenosinovites e até mesmo estados fisiológicos como a gravidez. Outras causas, como variações anatômicas como a do músculo palmar reverso, dos corpos musculares dos tendões flexores anomalamente longos, que invadem o túnel do carpo, além da persistência da artéria mediana em virtude de sua não involução, e de crescimentos tumorais benignos e, não necessariamente malignos. Em situações que envolvem trabalho manual em determinadas atividades profissionais, alguns fatores de risco merecem ser citados. Convém lembrar que, em medicina ocupacional, fator de risco não significa causa, apenas uma possibilidade de ser uma concausa. Pontos importantes relacionados aos fatores de risco: - Existem evidências razoáveis de que o uso regular e prolongado de ferramentas portáteis com dispositivos que produzem vibrações, mais do que dobram o risco de se ter a STC. - Também existem fortes evidências de riscos iguais ou maiores do que flexões e extensões do punho prolongadas e repetitivas, principalmente quando aliadasà forte empunhadura (segurar com muita força a raquete de tênis). - Não existem elementos de prova de que o mouse e o teclado do computador sejam causas de STC. Outras pesquisas, no mesmo sentido, também provaram que não há relação de causa e feito. Estudos são necessários para determinar com precisão a intensidade, a velocidade e o tempo de uso destes elementos, implicados na gênese da STC. Fisiopatologia O aumento de pressão no interior do túnel do carpo provoca, de início, dificuldade no retorno venoso do nervo mediano, pois as vênulas são muito mais suscetíveis à compressão do que as artérias. O obstáculo à circulação venosa já ocasiona uma diminuição da velocidade de perfusão arterial, por hipertensão retrógrada, fazendo com que se instale uma anóxia (ausência de oxigênio) intrafascicular. Nas fases mais avançadas da síndrome, ocorre também obstrução arteriolar e degeneração da bainha de mielina, que podem causar degeneração das fibras nervosas e fibrose intraneural. Muito antes de ocorrer a fibrose intraneural, já ocorre dificuldade na transmissão do estímulo nervoso, cuja velocidade diminui sensivelmente. A anóxia inicial do nervo causa dor, que pode diminuir nas fases mais avançadas, quando predominam os sintomas sensitivos, tipo parestesia e hipoestesia, e motores, tipo paresia. Dessa forma, ocorre um bloqueio temporário da condução das fibras mielinizadas do nervo mediano, causando parestesia e desconforto na mão. Se a elevação da pressão no túnel do carpo persistir, é possível ocorrer isquemia no nervo mediano, resultando em parestesia, dor e comprometimento na estrutura de mielina do nervo supracitado. Esta compressão pode ocorrer tanto pelo aumento do volume do continente ou pela diminuição do volume do conteúdo das estruturas contidas no interior do túnel. Sinais e sintomas - Dor surda, desconforto na mão, antebraço e braço. - Parestesias na mão. - Fraqueza ou “falta de jeito na mão”. - Pele seca, inchaço, ou alterações da cor das mãos. - Ocorrência de qualquer das condições acima na distribuição do nervo mediano. - Aparecimento (provocação) dos sintomas durante o sono; - Provocação dos sintomas pela posição da mão e braços levantados. - Aparecimento dos sintomas por movimentos repetitivos da mão e dos punhos. - Atenuação dos sintomas por mudança na postura da mão ou sacudimento do punho. As manifestações clínicas surgem, em geral, lentamente, ao longo de alguns meses ou anos, mas podem surgir quase que subitamente em decorrência de traumatismos ou de doenças de aparecimento súbito, como a trombose da artéria mediana. Apesar de ser uma síndrome característica da mulher mais idosa, pode, como já assinalamos, surgir no decorrer de uma gravidez, às vezes com sintomas muito intensos. Nesses casos, a STC decorre, geralmente, do edema generalizado que acontece neste estado fisiológico da mulher grávida. Na maioria dos casos, costuma ter remissão espontânea depois do parto, embora, às vezes, possa ser persistente. Diagnóstico Classicamente, a STC se caracteriza por alterações sensitivas e motoras na distribuição do nervo mediano das mãos, associada a claras evidências de um retardo da condução nervosa através do nervo mediano. O diagnóstico da síndrome do túnel do carpo é eminentemente clínico. As queixas iniciais referidas pelo paciente são o formigamento e a dormência no território do nervo mediano, além de sensações de choque e agulhadas. A dor pode, eventualmente, estar presente nesta fase. O examinador deve estar atento às nuanças na forma de apresentação clínica que, embora típica, na maioria dos casos pode, no entanto, ser polimorfa. A utilização extenuante e vigorosa da mão tende a agravar os sintomas, geralmente várias horas após a atividade laboral ou outra qualquer, fato este relevante no diagnóstico. Os sintomas resultam da lesão da bainha de mielina e se manifestam como latências e velocidade de condução retardada na eletroneuromiografia. O eletrodiagnóstico se fundamenta nesta diminuição do estímulo elétrico através do túnel carpal e exige comparação com uma condução no túnel homolateral. A dor e a parestesia irradiam para o território sensitivo do nervo mediano, que compreende o polegar, os dedos indicador, médio e a metade radial do anular; com muita frequência, o paciente refere que o dedo médio está “inchado” ou “engrossado”. Os sintomas sensitivos ocorrem mais à noite, durante o sono, acordando o paciente, que movimenta a mão no ar ou deixa-a pendente, em busca de alívio. Não são infrequentes as referências de queda de objetos da mão, que se deve tanto à perda da força do polegar, como à diminuição da sensibilidade no território do nervo mediano, sinais que devem ser procurados pelo examinador. O exame objetivo pode mostrar a atrofia da musculatura da eminência tênar, particularmente do oponente do polegar, que é o mais superficial. Mais frequente que a atrofia é a paresia (perda da força), às vezes já referida pelo paciente, que pode existir antes mesmo que a atrofia não seja evidente e que pode ser comprovada pelo teste específico de avaliação da força do abdutor curto (o examinador opõe o seu polegar ao do paciente, estando as palmas das mãos frente a frente). O exame físico do punho é complementado pelos testes chamados de “irritativos”. O sinal de Tinel é pesquisado pela percussão do nervo mediano no nível ou logo acima da borda proximal do ligamento transverso do carpo, que coincide com a prega flexora do punho. O paciente refere, categoricamente, uma sensação de choque elétrico ou formigamento no local da percussão, irradiada no território sensitivo do nervo mediano. O teste de Phalen, considerado patognomônico, é pesquisado pela flexão acentuada não forçada do punho (frequentemente opondo os dorsos das duas mãos em frente ao tronco), e desencadeia os sintomas sensitivos característicos da síndrome, semelhantes aos que o paciente refere, devendo ficar nesta posição citada por aproximadamente 60 segundos. Exames complementares Eletroneuromiografia Quando o diagnóstico clínico é duvidoso, a eletroneuromiografia pode esclarecê-lo. É o melhor método para a confirmação do diagnóstico clínico e é importante para o diagnóstico diferencial com outras doenças, como as mielopatias cervicais espondiloartrósicas ou não, e neuropatias de outros nervos. Desde que haja comprometimento substancial das fibras nervosas, o exame da velocidade de condução sensitiva e motora (VCS e VCM) pode mostrá-las diminuídas ao nível do túnel do carpo, confirmando tanto o envolvimento do nervo mediano como a topografia da lesão. O aparelho de eletroneuromiografia e o examinador devem ter alto nível de excelência. A eletroneuromiografia permite o acompanhamento evolutivo pré-operatório, mas não é o ideal para avaliação de quadros pós- cirúrgicos. Quando o diagnóstico clínico de STC é duvidoso, a eletromiografia pode ajudar, desde que haja comprometimento substancial das fibras nervosas; a eletromiografia positiva confirma a suspeita clínica de STC, mas, se negativa, não a afasta. Exames laboratoriais Exames bioquímicos restringem-se quase sempre à glicemia de jejum, glicose pós-prandial e curva glicêmica, além da dosagem de hormônios tireoidianos, visto que tanto o diabetes como o hipotireoidismo são causas de neuropatia periférica, e fazem parte do espectro etiológico da STC. O tratamento adequado e o controle destas doenças é altamente efetivo na remissão e até o desaparecimento dos sintomas. Diagnóstico diferencial Tratamento O tratamento da STC clássica, sem doença sistêmica, massa no punho, deformidade óssea maior ou infecção, deve ser iniciado se a sintomatologia interferir nas atividades diárias do(a) paciente. O tratamento deve ser individualizado para cada tipo de paciente. Inicialmente, recomenda-se tratamento conservador com órteses para o punho em posição neutra, modificação da posturadas mãos durante atividades diárias, como digitar com o uso de suporte para o punho, correção dos distúrbios hormonais, remoção de constrições e medicações anti-inflamatórias não hormonais. Em relação à infiltração de cortisona no túnel do carpo, ela pode ser indicada nos casos leves em que não há perda da sensibilidade, atrofia tênar e fraqueza. O índice de melhora como tratamento conservador é relativamente baixo, estando entre 30 e 50% de remissão dos sintomas. O tratamento cirúrgico deve ser reservado para casos crônicos, com sintomatologia exacerbada, com atrofia tênar intensa, com alterações miélicas motoras à eletroneuromiografia e após tratamento conservador ineficaz. Nesses casos, o tratamento cirúrgico para pessoas com síndrome do túnel do carpo é significativamente melhor que o conservador. Tendinopatias Tendinopatia é um termo utilizado na prática clínica, enquanto tendinite é um termo relacionado a um diagnóstico histológico, em que há presença de células inflamatórias nos tendões acometidos. A tenossinovite está relacionada ao acometimento histológico do tendão e da bainha sinovial que o envolve. As tendinopatias mais comuns em trabalhadores são a tenossinovite estenosante dos flexores (dedo em gatilho) e tenossinovite de De Quervain. Tenossinovite estenosante de DeQuervain A tenossinovite de De Quervain (TDQ) é a tendinopatia mais comum da mão e do punho em trabalhadoras que realizam trabalhos repetitivos, causando dificuldades nas atividades de vida diárias. A dor no lado radial do pulso, que é o principal sintoma, piora com abdução do polegar, com a ação de preensão da mão e com o desvio ulnar do punho. Esta é causada pelo deslizamento resistido dos tendões abdutor longo do polegar (ALP) e extensor curto do polegar (ECP) no canal fibro-ósseo do primeiro compartimento extensor do punho. Vários nomes foram dados a esta doença, como tendinite estenosante, tenossinovite estenosante, tenovaginite estilóide e tendovaginite estenosante. Todos esses termos estão apenas denotando inflamação do tendão, enquanto que a tenossinovite de De Quervain significa uma doença degenerativa do primeiro compartimento dorsal do punho. Epidemiologia A tenossinovite de De Quervain (TDQ) é uma causa comum de dor no pulso em adultos ativos entre 30 e 50 anos de idade, afetando predominantemente a mão dominante. Na literatura revista a percentagem de afetação da mão dominante varia entre os 52%-73%, sendo também possível esta tendinopatia ocorrer bilateralmente. É 6 a 10 vezes mais prevalente em mulheres do que em homens. É o distúrbio tendinoso mais comum da mão e punho em trabalhadoras que realizam trabalhos repetitivos. A incidência é maior em certas profissões como: donas de casa, empregadas de limpeza, costureiras e pianistas. É a tendinopatia do punho mais comum em atletas, frequentemente em desportos como o voleibol, golf e desportos de raquete e de remo. É associada também a algumas patologias como a Diabetes Mellitus e a Artrite Reumatoide. Etiopatogênese A etiologia da TDQ não é bem conhecida. A designação de tenossinovite é também um pouco inapropriada, já que o principal marcador histológico da doença é o acúmulo de mucopolissacarídeos na bainha tendinosa, indicando processo degenerativo em curso. De modo mais preciso, a camada reticular externa da bainha é histologicamente normal, ao passo que a camada interna demonstra degeneração mixoide ou mucinosa (colágeno desorganizado e aumento da matriz celular) e a camada central exibe proliferação vascular e macrófagos. No entanto, estudos recentes demonstraram que fatores inflamatórios e a infiltração celular por macrófagos também estão presentes na TDQ. A principal alteração estrutural na TDQ é o espessamento degenerativo do retináculo extensor que cobre o primeiro compartimento extensor, às vezes combinado com o adelgaçamento secundário do tendão dentro do compartimento e espessamento do tendão fora do compartimento. Casos graves têm sido associados a um extenso espessamento do retináculo três a quatro vezes maior que o normal. Este espessamento é devido principalmente a uma combinação de movimentos repetitivos que envolvem pronação e supinação do antebraço, desvio ulnar e radial do punho e abdução e/ou extensão do polegar. Além disso, parece que dois fatores anatômicos estão muitas vezes implicados na etiologia desta tendinopatia. 1- O primeiro está relacionado com a anatomia do tendão ALP, apresentando muitas vezes tendões acessórios que ocupam mais espaço do que o esperado na lâmina do primeiro compartimento extensor. 2- O segundo corresponde às características morfológicas deste compartimento, que muitas das vezes, tem um septo medial que o separa em dois e, portanto, reduz o espaço. Estas duas características anatômicas propiciam um aumento do atrito e promovem a inflamação dentro deste túnel. Sinais e sintomas Indivíduos com TDQ frequentemente relatam um início gradual de dor ou sensibilidade no estilóide radial que pode ser acompanhada de inchaço. Achados adicionais no exame físico podem incluir diminuição da amplitude de movimento de abdução e extensão na primeira articulação carpometacarpiana, dor com ativação isométrica dos tendões e crepitação dos tendões que se deslocam através da bainha extensora espessada. Essa dor, que às vezes pode ser muito intensa, manifesta-se principalmente durante os movimentos de abdução ativa do polegar e do punho, ou na adução passiva e ativa do polegar e do punho. Além disso, a dor piora com a ação de preensão da mão e desvio ulnar do punho, tornando-se difíceis e dolorosos os movimentos que implicam segurar em algo. Outra característica desta tendinopatia presente no exame físico é o fato de que ao movimentar o polegar existe uma sensação de movimento intermitente em “disparo”. Diagnóstico O diagnóstico inicial da TDQ é geralmente feito com base nos sintomas clínicos, em combinação com o exame físico. O teste mais utilizado para o diagnóstico é o teste de Finkelstein. Este teste é positivo quando provoca uma dor excruciante sobre a ponta do estiloide radial. Uma grande desvantagem deste método é que o teste pode provocar dor em indivíduos saudáveis, sendo por isso a ecografia um recurso muito útil para confirmar e avaliar o grau da tendinopatia. Diagnóstico ecográfico A ecografia demonstrou ser um meio rápido, barato, eficiente e dinâmico de visualizar detalhadamente as estruturas de tecido mole do punho e da mão. A imagem ecográfica tem o benefício de ser dinâmica desempenhando um papel importante na avaliação da extensão das lesões parciais dos tendões e também pode confirmar o diagnóstico de entidades, como a TDQ. Fraturas, esporões ósseos e características da artrite reumatoide têm aparência característica na ecografia, enquanto entidades como dedo em gatilho e lesão do ligamento colateral ulnar também podem ser diagnosticadas. Na TDQ espera-se que as radiografias sejam normais e do ponto de vista ecográfico, os achados típicos da tenossinovite são o espessamento e a hipoecogenicidade da bainha sinovial à volta dos tendões. A ecografia pode também demonstrar hipertrofia do retináculo que cobre o primeiro compartimento dorsal do punho, hipertrofia e aparência heterôgena dos tendões e alterações inflamatórias adjacentes, como o derrame. Diagnóstico diferencial Para fazer o diagnóstico correto de TDQ, deve-se excluir algumas causas de dor no lado radial do punho e antebraço. Deve-se, então, considerar a presença de osteoartrite na primeira articulação carpometacarpiana, rizartrose, um problema no nervo radial superficial (nevralgia/síndrome de Wartenberg) e a síndrome de interseção. Tratamento Há várias opções de tratamento disponíveis para a TDQ, que incluem desde tratamentos conservadores a tratamentos cirúrgicos. É consensual iniciar o tratamento com um tratamento conservador, que passa pelouso de uma tala de imobilização do punho e do polegar (durante 3-8 semanas, 24h por dia), uso concomitante de AINE’s (normalmente é prescrito por 2 semanas) e realização de programas de reabilitação músculo-tendinoso. Mais tarde, se não houver resultados animadores, serão oferecidas injeções de corticosteroides. Finalmente, como último recurso, podemos recorrer ao tratamento cirúrgico, mas sem garantir uma cura rápida. Além destas, outras modalidades terapêuticas adicionais podem ser consideradas, incluindo ultrassons, terapia com exercícios e cinesioterapia (A cinesioterapia é o uso do movimento ou exercício como forma de tratamento, a fim de proporcionar ao paciente um melhor e mais eficaz trabalho de prevenção, cura e reabilitação). As instruções para o paciente podem ser dadas em 3 níveis: ao nível das atividades, ao nível da função (força, amplitude de movimento, movimentos repetitivos) e ao nível da dor. O tratamento cirúrgico é reservado para a forma mais grave da TDQ, ou seja, aqueles pacientes em que as medidas conservadoras falharam ou os sintomas persistem há mais de 9 meses. Atenção à saúde do trabalhador Diferentemente do que ocorre com doenças não ocupacionais, as doenças relacionadas ao trabalho têm implicações legais que atingem a vida dos pacientes. O seu reconhecimento é regido por normas e legislação, conforme a finalidade. A Portaria n.º 777, do Ministério da Saúde, de 28 de abril de 2004, tornou de notificação compulsória vários agravos relacionados ao trabalho, entre os quais os de LER/Dort, cujo protocolo é este que se apresenta. Neste caso, não há implicações diretas para o paciente, pois a finalidade é a notificação para prevenção de novos casos de agravamento dos já existentes e organização de serviços e especialidades necessárias, por meio de intervenções nas áreas de assistência, vigilância e planejamento. Para os segurados do Seguro Acidente de Trabalho (SAT), além da notificação aos sistemas de informações de saúde, é necessário notificar os casos à Previdência Social. Neste caso, há consequências diretas para o paciente, pois – a partir do reconhecimento de uma doença ocupacional pela Previdência Social e da incapacidade para o trabalho – ocorre a concessão de auxílio-doença por acidente de trabalho para os trabalhadores com necessidade de afastamentos por mais de 15 dias. A concessão de auxílio-doença por acidente de trabalho implica manutenção do recolhimento do fundo de garantia durante o afastamento do trabalho e estabilidade durante um ano após o retorno ao serviço.
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