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Linfomas UNIT - Medicina P6- Bianca Lima de Souza TUTORIA Compreender a epidemiologia, etiopatogenia, quadro clínico, diagnóstico e tratamento do Linfoma de Hodgkin INTRODUÇÃO · O linfoma de Hodgkin (LH) é um tipo singular de linfoma. · O estadiamento clínico nessa doença é um bom indicador prognóstico e um elemento fundamental a considerar na escolha do tratamento. · As duas principais modalidades terapêuticas são a radioterapia e a quimioterapia. · O linfoma de Hodgkin tornou-se um dos melhores exemplos de neoplasia curável, quando abordada corretamente. EPIDEMIOLOGIA · Estima-se que, em 2010, houve aproximadamente 8.500 casos novos LH nos Estados Unidos e 1.300 mortes. · Essa incidência representa aproximadamente 12% dos casos de linfomas não Hodgkin e 1% do total das neoplasias malignas. · Idade-incidência países desenvolvidos: padrão bimodal (baixa incidência na infância, primeiro pico em torno dos 20 anos, um platô de baixa incidência ao longo da meia-idade e um aumento progressivo da incidência a partir dos 55 anos). · Primeiro pico é formado, em sua ampla maioria, por casos de esclerose nodular. · Países pobres, com economias agrícolas: não se verifica o padrão bimodal; há uma incidência um pouco maior na primeira infância, não há o pico em jovens, e ocorre um aumento contínuo a partir dos 40 anos. · Tipo histológico predominante é a celularidade mista. ETIOPATOGENIA · O fator etiológico mais estudado e mais provavelmente implicado na etiologia do linfoma de Hodgkin é o vírus Epstein-Barr (EBV). · Nos EUA e na Europa ocidental, as células do linfoma de Hodgkin contêm o EBV em aproximadamente 20 a 50% dos casos. · No Brasil, a positividade parece ser de aproximadamente 50% em adultos e 80% em crianças. · A positividade é maior nos casos de celularidade mista. · Nos casos positivos, o EBV é monoclonal (célula foi infectada antes de sua transformação neoplásica). · A infecção é latente, com a expressão das proteínas EBNA-1, ENBA-2 e LMP-1. · A LMP-1 exerce uma atividade transformadora sobre as células B, e sua expressão parece conferir vantagem proliferativa às células infectadas. · O antecedente de mononucleose infecciosa confirmado através de sorologia confere um risco três vezes maior de linfoma de Hodgkin. · Parece haver também um componente genético na etiologia do linfoma de Hodgkin: incidência duas a três vezes mais elevada em judeus. · A incidência em irmãos gêmeos monozigóticos é maior do que em gêmeos dizigóticos. · Em vista da baixa incidência do linfoma de Hodgkin, a agregação familiar observada representa um risco muito baixo de que um familiar de um paciente com linfoma de Hodgkin venha a desenvolver a doença. QUADRO CLÍNICO LINFADENOMEGALIA · Apresentação mais comum do linfoma de Hodgkin: aparecimento de uma tumoração cervical indolor, com consistência de borracha, causada pelo aumento de um gânglio ou de um grupo de gânglios linfáticos. · A tumoração pode ter sido observada recentemente ou estar presente há vários meses e seu tamanho pode flutuar de forma traiçoeira. · Em ¾ dos casos, o primeiro gânglio é percebido na região cervical; · Em ¼ o gânglio é axilar ou inguinal. · Ocasionalmente, o gânglio é levemente doloroso à palpação, ou torna-se dolorido com a ingestão de álcool. · A maioria dos pacientes que se apresentam sem linfadenomegalia periférica tem uma massa mediastinal revelada em radiografia de tórax, solicitada devido a sintomas respiratórios, ou raramente um prurido intenso e disseminado. · Outra apresentação menos comum é o envolvimento dos gânglios abdominais ou retroperitoneais. OUTROS SINTOMAS · Aproximadamente ⅓ dos pacientes apresentam sintomas sistêmicos por ocasião do diagnóstico. · Emagrecimento, sudorese noturna e febre estão presentes em ¼ dos pacientes, e prurido em ⅛ . · A febre é manifestação característica do linfoma de Hodgkin: Inicialmente é baixa, vespertina, e pode passar despercebida, mas progride para uma febre alta e debilitante quando o linfoma não é controlado. · O padrão de febre pode ser constante ou remitente. · A defervescência da febre, durante a noite, é acompanhada de sudorese profunda. · Febre de Pel-Ebstein: raramente vista, caracterizada por períodos de uma a duas semanas de febre alta, separados por intervalos afebris da mesma duração. ENVOLVIMENTO DO MEDIASTINO · O envolvimento mediastinal ocorre em ⅔ dos casos. · Inicialmente, o linfoma de Hodgkin torácico envolve o mediastino anterior e os gânglios paratraqueais e traqueobrônquicos. · Com a progressão, os hilos pulmonares e a parede torácica podem ser acometidos. · Presença de massa expansiva intratorácica: tosse seca e dispneia que pioram com a posição supina, dor torácica, rouquidão, pneumonite obstrutiva e síndrome da veia cava superior. · O envolvimento mediastinal pode ser inteiramente assintomático. BAÇO · O baço, envolvido em ⅓ dos pacientes, é a estrutura intra-abdominal mais comumente acometida pelo linfoma de Hodgkin. · A avaliação do envolvimento esplênico através do exame físico é pouco confiável. MEDULA ÓSSEA · O envolvimento da medula óssea ocorre em 3 a 15% dos pacientes. · A maioria desses pacientes apresenta sintomas constitucionais. · A disseminação para os ossos também ocorre em 5 a 15% dos paciente; · Caracteriza-se por dor óssea e pelo aspecto radiográfico, que pode ser lítico, blástico ou misto. · Ossos mais acometidos: coluna vertebral, pelve, arcos costais, fêmur e esterno. ÁREAS EXTRALINFÁTICAS · Áreas extralinfáticas raramente envolvidas no linfoma de Hodgkin incluem a pele, o trato gastrintestinal e o SNC. · Essas áreas são mais comumente envolvidas em linfomas não Hodgkin ou linfoma de Hodgkin associado à infecção pelo HIV. · A compressão medular é a principal forma de envolvimento do sistema nervoso, e embora rara, requer menção pela gravidade. · A coluna torácica é a mais comumente acometida, e a dor é o primeiro sintoma. · Fraqueza muscular, alterações sensoriais e disfunção esfincteriana são sinais indicativos de compressão medular grave. ALTERAÇÕES HEMATOLÓGICAS · Anemia de doença crônica, de moderada intensidade, pode ser encontrada em pacientes com doença avançada e sintomas constitucionais. · Alguns pacientes apresentam anemia grave que pode estar relacionada: · Infiltração extensa da medula óssea e fibrose medular; · Hiperesplenismo; · Anemia hemolítica Coombs-positiva. · A elevação da velocidade de Hemossedimentação (VHS) correlaciona-se com diversos indicadores de progressão da doença: · Número de áreas linfóides envolvidas; · Presença de sintomas sistêmicos; · Presença de grande massa. · VHS elevada após o tratamento pode ser evidência de doença residual. · Pacientes com linfoma em atividade também podem apresentar leucocitose neutrofílica eosinofilia e trombocitose. · Neutrofilia e linfopenia estão associadas a um pior prognóstico. · Eosinofilia é usualmente discreta, mas pode ser acentuada, sobretudo em pacientes com prurido. · Manifestações raras: neutropenia autoimune, síndrome hemofagocítica e púrpura trombocitopênica trombótica. DIAGNÓSTICO · O diagnóstico do linfoma de Hodgkin é feito por meio da avaliação histopatológica de tecido obtido por biópsia. · Para um diagnóstico confiável é essencial que o material obtido na biópsia seja adequado e entregue imediatamente a um hematopatologista qualificado. · Sempre que possível, um gânglio linfático inteiro deve ser retirado para avaliação. · O tecido a ser biopsiado deve ser escolhido pelo clínico e pelo cirurgião. · Em geral, o maior gânglio palpável deve ser o escolhido, e sempre que possível deve ser tentada a excisão completa do gânglio. · Deve-se evitar a biópsia de gânglios inguinais se houver outras cadeias periféricas acometidas. Se houver somente envolvimento de órgãos ou gân- glios linfáticos profundos, recomenda-se abordá-los por toracoscopia ou laparoscopia, se possível. Outra opção é a core-needle biopsy guiada por imagem. Uma vantagem desse procedimento é que pode ser feito com anestesia local eem regime ambulatorial. Entretanto, o método tem como desvantagem principal a obtenção, por vezes, de material pouco representativo. TRATAMENTO 2. Diferenciar o Linfoma de Hodgkin e o Linfoma Não Hodgkin · O diagnóstico diferencial entre o linfoma de Hodgkin e os linfomas não Hodgkin só pode ser definido pelo patologista. · Entretanto, algumas características clínicas que ajudam a diferenciar o linfoma de Hodgkin dos linfomas não Hodgkin: 3. Entender o estadiamento dos linfomas O estadiamento do linfoma de Hodgkin cumpre quatro oEMetivos . au[ilia na seleção da aEordagem teraprutica mais adequada; 2. tem valor prognóstico; 3. assegura a identifcação de todas as ireas acometidas Tue deverão ser reavaliadas ao fnal do tratamento para a comprovação da remissão completa; e 4. permite a comparação dos resultados entre diferentes instituições e entre diferentes tratamentos. A história natural do linfoma de Hodgkin sugere que ele surge em uma única área linfoide e dissemina-se de forma ordenada e razoavelmente previsível para as áreas linfoides contíguas e também para estruturas não linfoides contíguas. O sistema de estadiamento de Ann Arbor foi proposto com base nessas observações em 1971, e receEeu algumas modifcaç}es em uma conferrncia internacional realizada em 1988 na região de Cotswolds, Inglaterra (Tabela 52.3).3 Os procedimentos recomendados por essa conferência para o estadiamento do linfoma de Hodgkin estão descritos na Tabela 52.4. Pacientes com estádio IIIA, IIIB, IVA e IVB eram tradicionalmente denominados como “estádios avançados”, mas atualmente há forte tendência a incluir também o estádio ,,% nessa categoria. 2 signifcado prognystico da classifcação dos pacientes em doença locali]ada ou avançada será tratado mais adiante. BIOPSIA DE MEDULA ÓSSEA NO ESTADIAMENTO DO LINFOMA DE HODGKIN A Biópsia de Medula Óssea (BMO) é o procedimento-padrão para avaliar o envolvimento da medula óssea no linfoma de Hodgkin. Como esse envolvimento não é difuso, mas sim multifocal, a recomendação por muitos anos foi de biópsia bilateral, que aumenta em aproximadamente 10 a 20% a sensibilidade do exame. No entanto, devido à dor associada ao procedimento, muitos preferem reali]ar apenas a Eiypsia unilateral. $demais foram identifcados subgrupos de pacientes nos quais a probabilidade de acometimento medular é baixa. Isto levou muitos experts a recomendar que a BMO seja obtida somente quando há febre ou citopenias ao diagnóstico (leucócitos < 4000/μL, hemoglobina < 12 g/dL para mulheres e < 13 g/dL para homens, ou contagem de plaquetas < 125.000/μL).4 A recente introdução do PET/TC no manejo de pacientes com LH vem propiciando um reexame do papel da BMO. O envolvimento difusamente homogêneo do esqueleto não é considerado evidência de LH, pois a biópsia nesses pacientes é consistentemente negativa. Em contrapartida, o envolvimento multifocal é altamente preditivo de infltração pela doença. Esses pacientes apresentam soErevida livre de progressão semelhante à dos pacientes com BMO positiva, e a captação no esqueleto desaparece após o tratamento. Em uma série retrospectiva com 454 pacientes com LH submetidos a um PET/TC no momento do estadiamento foi avaliado se o resultado da biópsia de medula óssea adicionou informação com relevância clínica. Lesões multifocais no esqueleto foram detectadas pelo PET/TC em 18% dos pacientes, e apenas 6% apresentaram BMO positiva. Nenhum paciente com BMO positiva apresentava estádio I ou II no estadiamento que incluía PET/TC. A BMO mudou o estadiamento para cima em cinco pacientes, mas todos já estavam em estádio III antes da BMO. Portanto, a principal observação desse estudo foi a de que em nenhum dos 454 pacientes a abordagem terapêutica teria sido modifcada pela adição da %M2.5 Diante desses dados, é possível hoje formular duas recomendações sobre a realização de BMO no LH. Em pacientes cujo estadiamento não inclui um PET/TC, a BMO está indicada quando há sintomas B ou citopenia. Se o PETTC f]er parte dos e[ames de estadiamento a %M2 pode ser dispensada. MÉTODOS DE IMAGEM NO ESTADIAMENTO DO LINFOMA DE HODGKIN O avanço obtido nas últimas duas décadas nos métodos de avaliação por imagem trouxe grandes benefícios para o estadiamento dos pacientes com linfomas e tornou desnecessária e obsoleta a realização de procedimentos cirúrgicos para estadiamento. $ Tomografa Computadori]ada (TC) é KoMe o procedimento radiológico padrão. Deve-se solicitar TC de tórax, aEdome e pelve. $ tomografa do pescoço emEora não seMa imprescindível, vem sendo solicitada com mais frequência. A administração intravenosa de contraste permite melhor distinção entre gânglios linfáticos e vasos. Ocasionalmente, a TC de abdômen apresenta achados duvidosos no fígado e baço. O aumento desses órgãos não implica necessariamente envolvimento pelo linfoma. Por vezes é necessário complementar a avaliação com ultrassonografa para descartar a presença de lesões sólidas, ou com ressonância nuclear magnética, que pode caracterizar melhor as anormalidades hepáticas quando há imagens ambíguas na TC. Uma limitação da TC é não prover informação funcional o Tue impede a identifcação de doença Tuando não há aumento de volume nas estruturas acometidas. A Tomografa por Emissão de Pysitrons (PET) supera essa limitação. Utiliza como traçador moléculas de desoxiglicose marcadas com um isótopo radiativo de meia-vida curta, o Á~or- Tue emite pysitrons. $s células neoplisicas trm uma alta atividade metabólica, e as moléculas de 18F-Áuorodeoxiglicose concentram-se preferencialmente no tecido neoplásico. Foram desenvolvidos, na última década, sistemas integrados PET/TC, que permitem realizar, em um mesmo exame, a avaliação anatômica e funcional. Recomenda-se, sempre que possível, a solicitação do PET/TC para o estadiamento. Com o PET/TC é possível identifcar mais les}es Tue com outros e[ames de imagem e verifca-se progressão do estidio em apro[imadamente 25% dos casos. Ademais, a obtenção de um PET/TC antes do tratamento permite uma melhor interpretação dos achados posteriores. Por outro lado, a falta de correlação dos achados de imagem com os achados histopatológicos nos estudos sobre estadiamento com PET/TC é uma limitação que persiste na literatura. Também não há ainda dados que comprovem que a progressão do estádio proporcionada pelo exame se traduza em vantagem na sobrevida dos pacientes. 4. Citar as complicações da quimioterapia e radioterapia