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Isadora Pedreira- Problema 04 Fechamento. Módulo XX A Epilepsia do Lobo Temporal Mesial (ELTM) é um tipo de epilepsia focal que apresenta grande relevância clínica em razão de alta incidência e gravidade. Pacientes com ELTM apresentam crises focais simples ou complexas que se originam em estruturas mesiais do lobo temporal, geralmente precedidas por auras. Auras correspondem a manifestações sensitivo-sensoriais, vegetativas ou psíquicas puramente subjetivas e que ocorrem em 20% a 90% dos pacientes com epilepsia do lobo temporal. Em geral são de curta duração, não excedendo 1 ou 2 minutos. São exemplos: aura epigástrica (sensação de náusea, mal-estar); medo; depressão e angústia (frequentemente ocorre no período interictal mas pode ocorrer antes da crise); déjà-vu, jamais vu; e pensamento forçado (impressão de estar vivenciando algo que já aconteceu antes – déjà-vu, ou que parece totalmente estranho – jamais vu, ou pensamento que ocorre repetidamente mesmo quando se tenta concentrar em outro fato); alucinações gustativas, olfativas, auditivas, somestésicas e visuais. A epilepsia do lobo temporal (ELT) é a síndrome epiléptica parcial mais comumente diagnosticada em adultos. A síndrome da epilepsia mesial do lobo temporal (EMLT) se expressa por meio de crises epilépticas originadas em estruturas mesiais do lobo temporal, geralmente na formação hipocampal e, ocasionalmente, na amígdala. O substrato patológico mais comum da EMLT é a esclerose mesial temporal (EMT). Este pode ser visibilizado principalmente em cortes coronais de ressonância magnética do encéfalo, como atrofia hipocampal, hiperintensidade de sinal em FLAIR e T2 e perda da estrutura interna do hipocampo. Pacientes com EMLT e EMT têm probabilidade elevada de ter crises refratárias ao tratamento clínico e podem ser candidatos a tratamento cirúrgico; a EMLT associada à EMT constitui a indicação mais frequente de cirurgia de epilepsia em adolescentes e adultos. O tratamento cirúrgico – lobectomia temporal anterior (LTA) – é superior ao tratamento medicamentoso nos pacientes com EMLT, no que diz respeito ao controle de crises e à qualidade de vida É a principal causa de crise focal com alterações discognitivas. Apresenta uma lesão estrutural característica, evidenciada pela RM: esclerose do hipocampo (porção “mesial” do lobo temporal). O lobo temporal costuma ter seu volume globalmente reduzido. No EEG observa-se pontas epileptiformes na porção anterior do lobo temporal, uni ou bilateralmente. Exames de imagem funcionais (ex.: PET-scan, SPECT) revelam hipometabolismo e hipoperfusão na área de esclerose. Responde mal aos fármacos anticonvulsivantes, porém, pode ser CURADA por neurocirurgia, através da ressecção do foco das crises. A crise costuma ter um curso clínico estereotipado: inicialmente o paciente experimenta alguma forma de aura (crise focal não motora, p. ex.: desconforto epigástrico, sensação súbita e inexplicável de medo), para logo em seguida evoluir com parada comportamental, perda da consciência e amnésia anterógrada, podendo apresentar automatismos complexos nesse momento (ex.: Condutas e Tratamento para Epilepsia Esclerose Mesial Temporal • A doença epiléptica mais comum • Inicio na 2ª década de vida • História de crise febril • Crises focais perceptivas e disperceptivas • Sensação epigástrica ascendente, medo • Comprometimento da consciência com automatismos oroalimentares. Isadora Pedreira- Problema 04 Fechamento. Módulo XX expressão facial de emoções, correr, movimento de “pinçar” pequenos objetos com os dedos das mãos). Recobrada a consciência é comum haver desorientação pós-ictal. Se o foco estiver no lado dominante (geralmente o esquerdo), pode haver disfasia pós- ictal. A abordagem diagnóstica deve ser direcionada a partir de uma anamnese completa e dos exames clínico e neurológico realizados na chegada. A investigação deve ocorrer simultaneamente ao manejo terapêutico e, posteriormente, ser aprofundada após a estabilização clínica do paciente. Inicialmente poderão ser realizados exames laboratoriais como glicose, eletrólitos, gasometria, creatinina, nível sérico de medicação antiepiléptica, punção lombar, hemograma, plaquetas e exame qualitativo da urina. Após a estabilização do paciente, continua-se a abordagem diagnóstica com provas hepáticas, triagem toxicológica, eletroencefalograma (EEG) e exames de neuroimagem, como TC de crânio ou ressonância magnética de encéfalo. É importante ressaltar que cada caso deverá ser individualizado de acordo com o quadro clínico apresentado. A forma mais comum de crise convulsiva infantil é a apresentada em vigência de um quadro febril, e assim, não há necessidade de investigação extensa. Do mesmo modo, crianças com diagnóstico prévio de epilepsia e com uso de medicação anticonvulsivante normalmente dispensam investigação aprofundada. É de suma importância relembrar que a punção lombar só poderá ser realizada com o paciente já estabilizado e com os sinais vitais estáveis, sendo contraindicada quando houver suspeita de hipertensão intracraniana ou herniação cerebral, situações nas quais se faz necessária a realização prévia de TC de crânio. As crises convulsivas febris são as mais comuns, afetando 2 a 5% das crianças na faixa etária de 6 meses a 5 anos. Na maior parte dos casos ocorre um único episódio de apresentação benigna. Na crise convulsiva febril simples não é necessário solicitar EEG, exame de neuroimagem, eletrólitos, cálcio, fósforo, magnésio, hemograma ou glicemia. Se a crise convulsiva febril tornar-se recorrente ou prolongada, com duração maior que 5 minutos, é obrigatória a realização de investigação adicional para buscar a sua etiologia, iniciando o tratamento de forma semelhante às crises afebris. • Se houver sinais ou sintomas de meningite ou infecção do SNC. • Em crianças entre 6 e 12 meses com imunização deficiente para Haemophilus influenzae B ou Streptococcus pneumoniae ou calendário vacinal desconhecido. • Se a criança foi previamente tratada com antibiótico, pois este pode mascarar os sinais e sintomas meníngeos (a decisão depende do antibiótico, da duração do tratamento e da clínica do paciente). Sempre que for realizada punção lombar, solicitar também hemocultura e glicemia. A estabilização do paciente com crise convulsiva na emergência é uma prioridade. Faz parte da abordagem inicial atentar para a função cardiorrespiratória e para as possíveis complicações das crises ou da sua terapêutica, como hipotensão arterial, arritmias cardíacas e depressão respiratória. Dessa forma, é necessário verificar a permeabilidade das vias aéreas, aspirar e fornecer oxigênio por cateter nasal ou máscara, avaliando a necessidade de intubação. Investigação Diagnóstica Isadora Pedreira- Problema 04 Fechamento. Módulo XX O EEG no diagnóstico das epilepsias é fundamental, porque oferece sinais de distúrbio epileptiforme causado por disfunção neuronal durante o período em que o paciente encontra-se assintomático, isto é, entre crises, ou durante o período ictal (registro de crises). Simetria versus assimetria da onda: ondas agudas e espículas epileptiformes têm ascensão aguda e a segunda fase (descida) mais lenta conferindo aspecto assimétrico entre os dois lados da onda. Ondas agudas não epileptiformes são simétricas quanto à duração da fase de subida e descida. • Ondas agudas e espículas epileptiformes são seguidas frequentemente por ondas lentas, com a mesma polaridade ou polaridade oposta. • Ondas agudas e espículas epileptiformes geralmente são bifásicas ou trifásicas, enquanto a atividade não epileptiforme é monofásica. • Ondas agudas e espículas epileptiformes têm duração diferente da atividade de fundo normal do paciente, sendomais alta ou mais baixa. • A atividade de fundo próxima da atividade epileptiforme geralmente é perturbada, formando um “campo” ao redor das ondas agudas. O registro de atividade epileptiforme interictal é resultante da soma de vários potenciais póssinápticos, inibitórios e excitatórios, ou seja, de um grupo grande de neurônios. O EEG interictal pode ser útil no diagnóstico das epilepsias, entretanto, mesmo quando há o registro de atividade epileptiforme inequívoca, o achado não é suficiente para estabelecer, sem correlação com o quadro clínico, o diagnóstico de epilepsia. Do mesmo modo, um traçado eletroencefalográfico normal não afasta o diagnóstico de epilepsia. O distúrbio epileptiforme pode ser localizado (ou focal) ou generalizado. As anormalidades no EEG ajudam a definir a classificação de crises e síndromes epilépticas. O traçado mostra ondas agudas de baixa a média amplitude, ou ondas lentas, isoladas ou em trens, nos eletrodos temporais (F7, F8, T3, T4, T5, T6), zigomáticos ou esfenoidais. Podem ser unilaterais ou bilaterais, associadas à atividade de fundo normal ou com lentificação em região(ões) temporal(is). Hiperventilação pode acentuar a anormalidade lenta, não epileptiforme. Fotoestimulação não altera o traçado. Atividade delta rítmica nas regiões temporais tem valor localizatório e representa anormalidade epileptiforme focal distante dos eletrodos de escalpo. O sistema internacional utiliza 21 pontos que são marcados dividindo o crâni o em proporções de 10% ou 20% do comprimento das distâncias entre os pon tos de referência, nasion e inion no plano medial e os pontos préauricularesn o plano perpendicular ao crânio. A nomenclatura dos pontos é dada de acordo com a região em que estão local izados, Fp = frontal polar, F = frontal, T= temporal, C = central, P = parietal e O = occipital. Os pontos localizados sobre a linha média são indexados pela letra “z”, de “zero”, os pontos localizados do lado esquerdo da linha média po r índices ímpares e à direita por índices pares. Em adultos, em torno de 50% dos EEG serão normais após a primeira crise. Mesmo após 5 exames(incluindo exames em sono), 20% dos pacientes não vã o apresentar alteração no EEG conveci- onal. O exame repetido e com maior duração, aumenta a chance de identifica ção de anormalidades. O EEG desempenha papel importante na classificação do tipo de crise e da síndrome epiléptica do paciente. As imagens de RM tornam possível caracterizar a lesão quanto à sua natureza e comportamento evolutivo, isto é, pelo caráter progressivo (p. ex.: neoplasias, encefalite de Rasmussen) ou estático (p. ex.: lesões isquêmicas, malformações congênitas). Eletroencefalograma O eletroencefalograma -eeg- no diagnóstico de epilepsia Ressonância Magnética Isadora Pedreira- Problema 04 Fechamento. Módulo XX No contexto de investigação para tratamento cirúrgico, a identificação de uma lesão intimamente associada à região de origem das crises tem sido associada a melhor prognóstico em relação ao controle das crises. A investigação adequada do paciente com epilepsia de provável etiologia lesional requer a utilização de protocolos específicos, selecionados com base na identificação da região de início das crises por meio de métodos clínicos e neurofisiológicos. Para fins práticos, as epilepsias parciais são divididas em epilepsia do lobo temporal e epilepsias extratemporais. Esta distinção deve-se à relativa especificidade e consistência dos achados clínicos e patológicos (esclerose mesial temporal) (Figuras 55.2 e 55.3) observadas na epilepsia temporal quando comparada às epilepsias extratemporais Em casos de atrofia bilateral, ou de atrofias mais discretas, o estudo volumétrico pode ser útil. Alterações da RM características da esclerose mesial temporal 1. Atrofia do hipocampo: É alteração mais sensível e especifica da EMT. Esta anormalidade é determinada (qualitativamente) pela comparação da circunferência do hipocampo em casa lado e também pela avaliação cuidadosa do formato do corpo do hipocampo; que é oval em indivíduos normais, e na presença de EMT assume forma achatada, com diâmetro lateromedial bem maior que o craniocaudal. 2. Sinal T2 intenso: geralmente é acompanhado de atrofia do hipocampo. É importante diferenciar o sinal T2 intenso das estruturas mediais do sinal produzido pela presença de liquor no corno temporal ou fissura coróidea, bem como de artefatos produzido pela pulsação carotídea. 3. Alteração da estrutura anatômica interna do hipocampo: geralmente associada a atrofia do hipocampo, bem como com a presença de sinal T2 intenso. Observa-se aumento de fissura hipocampal (que normalmente é um espaço virtual) e perda da homogeneidade do tecido hipocampal decorrente do desarranjo das camadas (ou campos) neuronais do hipocampo (CA1, CA3, CA4). Este tipo de alteração é melhor observada em imagens T1 inversion recovery. Excepcionalmente, este tipo de alteração pode ser encontrado em hipocampo com volume normal. Pode-se ainda observar alteração do eixo e do formato do hipocampo. 4. Atrofia da porção anterior do lobo temporal: O volume de substância branca é menor que o do lobo contralateral. Frequentemente não esta presente em pacientes com EMT. 5. Assimetria dos cornos temporais dos ventrículos lateriais: o tamanho dos cornos temporais é extremamente variável em indivíduos normais, existindo assim um alto risco de falsa lateralização. Além disso, se a lesão ocorre cedo na vida, há hipodesenvolvimento do lobo temporal e nao necessariamente ocorre dilatação ventricular ex. Vácuo. Portanto, exxe critério isoladamente nao deve ser considerado como diagnóstico. Pelo fato de, muitas vezes, as lesões estruturais envolvidas na geração das crises epilépticas serem sutis, exigindo que sejam enfatizadas áreas específicas, o estudo por ressonância magnética em epilepsia deve ser programado após o estabelecimento da correlação eletroclínica. Além disso, faz-se necessária a aplicação de protocolo extenso que exige seqüências ponderadas em T1, que enfatizam detalhes anatômicos, e em T2 (T2, densidade de prótons e FLAIR – Fluid Attenuation Inversion Recovery), seqüências com alta sensibilidade na detecção de alterações teciduais decorrentes de aumento do conteúdo de água ou alterações intersticiais associadas a gliose, desmielinização e edema. Isadora Pedreira- Problema 04 Fechamento. Módulo XX Na epilepsia do lobo temporal, que corresponde a 60% das epilepsias do adulto, a lesão mais comumente encontrada é a esclerose mesial temporal, que se caracteriza pela redução volumétrica e perda da estrutura interna do hipocampo e/ou amígdala em T1 e aumento de sinal em T2 (Fig. 11.10). Entre as epilepsias extratemporais, cerca de 30% das pessoas com epilepsia apresentam graus variados de distúrbios do desenvolvimento cortical. Para estas devem ser aplicadas seqüências de RM ponderadas em T1, como as técnicas de Spin-Echo, Inversion Recovery e seqüências volumétricas ponderadas em T1 Gradient- Echo, visando à detecção de detalhes anatômicos da arquitetura dos giros corticais. As Drogas Antiepilépticas (DAE) agem primariamente bloqueando o início ou a disseminação da hiperexcitação elétrica dos neurônios. Existem diversos mecanismos para tal, e a maioria das DAE possui efeitos pleiotrópicos, isto é, inibe mais de um mecanismo ao mesmo tempo. Até o momento não existem meios de se evitar o fenômeno da epileptogênese, ou seja, não há como impedir a formação de focos epilépticos após insultos cerebrais como trauma ou equivalentes! Dentre os principais mecanismos de ação das DAE, podemos citar: 1. Inibição de canais de Na+ (responsáveis pelo início do potencial de ação) de maneira “frequência-dependente”, como fenitoína, carbamazepina, topiramato e lamotrigina;2. Inibição de canais de Ca 2+ voltagem-sensíveis (responsáveis pela evolução do potencial de ação), como topiramato e lamotrigina; 3. Abertura de canais de K + (hiperpolarizam a célula e reduzem/dificultam a formação/transmissão dos potenciais de ação), como ezogabina; 4. Bloqueio dos receptores de glutamato (excitatórios), como topiramato e lamotrigina; 5. Aumento da atividade dos receptores do GABA (inibitórios), como benzodiazepínicos e barbitúricos; 6. Aumento na síntese e oferta de GABA, como ácido valproico, gabapentina e tiagabina; 7. Diminuição da transmissão sináptica, como levetiracetam. A etossuximida (assim como o ácido valproico) atua nas crises de ausência típica ao inibir canais de Ca 2+ do tipo T em neurônios talâmicos, bloqueando os circuitos talamocorticais envolvidos na gênese deste tipo de crise. O objetivo é manter o paciente 100% livre de crises e sem efeitos colaterais. Sempre que possível, deve-se tentar a monoterapia na menor dose possível. A correta classificação do tipo de crise é imprescindível (e o EEG pode ajudar nesse sentido), pois algumas drogas são preferíveis para determinadas formas de crise convulsiva, enquanto outras podem paradoxalmente AGRAVAR o distúrbio. Quando o paciente apresentar crises idiopáticas recorrentes ou quando houver uma causa que não possa ser prontamente corrigida. O início de DAE após uma única crise idiopática é controverso. A literatura identifica os seguintes fatores como preditores de recorrência, devendo-se iniciar uma DAE nesses casos mesmo após uma única crise idiopática: (1) exame neurológico alterado; (2) a primeira crise foi um status epilepticus; (3) ocorrência de paralisia de Todd; (4) história familiar de epilepsia; (5) EEG de base anormal. Tratamento crônico da Epilepsia Isadora Pedreira- Problema 04 Fechamento. Módulo XX Observe na tabela as DAE que podem ser usadas em cada tipo de crise. OBS: Como você pode perceber, a lamotrigina é droga de primeira linha em TODOS os tipos de crise convulsiva, sendo especialmente útil em pacientes com síndromes mistas (ex.: Lennox-Gastaut). O ácido valproico idem, exceto nas crises puramente focais. ATENÇÃO: carbamazepina, oxcarbazepina e fenitoína podem PIORAR crises de ausência, mioclônicas, tônicas e atônicas!!! Uma vez escolhida a droga, esta deve ter sua dose gradualmente aumentada até que o paciente fique livre de crises ou surjam efeitos colaterais (não existe uma regra rígida para a titulação da dose: trata-se de “tentativa e erro”, podendo levar meses até que se consiga achar a dose adequada; a faixa posológica recomendada pelo fabricante é geralmente usada como referência). Se mesmo com a máxima dose tolerável as crises continuarem ocorrendo, deve-se associar uma segunda droga, aumentando sua dose de forma igualmente progressiva. Se as crises forem controladas, deve-se tentar “desmamar” a primeira droga (a menos eficaz). A maioria dos pacientes apresenta bom controle com monoterapia, porém, aqueles que têm crises de múltiplos tipos de um modo geral necessitam de mais de uma DAE (duas ou às vezes até três medicações diferentes). Deve-se estar atento às possíveis interações farmacológicas (ex.: redução dos níveis séricos de contraceptivos orais), efeitos teratogênicos e via de metabolização preferencial (renal ou hepática). Todos esses fatores – aliado ao custo do tratamento e sua facilidade posológica – são relevantes na escolha da medicação ideal para cada paciente, que, portanto, deve ser individualizada! Quaisquer precipitantes de crise (ex.: privação de sono, estresse emocional, luzes piscantes, certos sons – estes dois últimos causam a rara “epilepsia reflexa”) evidentemente devem ser evitados. É preciso salientar que TODAS as DAE podem causar paraefeitos similares de maneira dose-dependente, como sedação, ataxia e diplopia. Algumas, em longo prazo, também podem induzir osteoporose (ex.: fenitoína). Logo, é preciso vigilância desses problemas. Hemograma, hepatograma e função renal são solicitados no início do tratamento, como parâmetros de base, devendo ser repetidos após alterações de dose. Reações idiossincrásicas (imprevisíveis e dose-independentes), como aplasia de medula, hepatite e lesões cutâneo-mucosas, podem ser atribuídas a diversas DAE de uso comum. Não obrigatoriamente, mas, se possível, isso pode ser útil, principalmente durante o início do tratamento e ao longo do processo de ajuste da dose. A verificação do nível sérico também ajuda a confirmar a adesão ao tratamento. Cada droga possui uma faixa considerada “terapêutica”, e atingir tal faixa constitui um objetivo do esquema prescrito! No entanto, é importante ter em mente que os testes que medem nível sérico das DAE em geral medem a concentração TOTAL da droga (fração ligada a proteínas + fração livre). A fração biologicamente ativa é somente a “livre”. Assim, pacientes com Isadora Pedreira- Problema 04 Fechamento. Módulo XX hipoalbuminemia (ex.: hepatopatas, síndrome nefrótica) podem ter níveis séricos totais “subterapêuticos” e ainda assim auferir o efeito pleno da medicação, pois a fração livre estará adequada (quer dizer, não seria preciso aumentar a dose da medicação). Para maior segurança, em tais casos, pode-se solicitar testes especializados capazes de medir exclusivamente a fração livre da droga no sangue. Cerca de 70% das crianças e 60% dos adultos que suprimem por completo a epilepsia com o uso de DAE conseguem interromper a medicação! Os principais preditores de sucesso para interrupção são: (1) ausência de crises por 1-5 anos; (2) o paciente apresenta um único tipo de crise; (3) exame neurológico normal, incluindo inteligência; (4) EEG normal. Na presença de todos esses critérios pode-se tentar “desmamar” gradualmente a DAE após um período de no mínimo dois anos de tratamento regular. A maioria das recidivas acontece nos primeiros três meses após a interrupção da DAE, e o paciente deve estar ciente deste fato, evitando se expor a situações em que uma crise convulsiva represente risco à vida (ex.: dirigir, nadar). Cerca de 1/3 dos pacientes não responde à DAE inicialmente prescrita. A conduta nesses casos é associar uma segunda droga, em geral outro representante do grupo de primeira linha, de preferência com mecanismo de ação diferente. O risco de epilepsia refratária é maior na presença de lesões estruturais do SNC e no paciente que tem múltiplos tipos de crise. Os mesmos princípios de titulação gradual e mensuração do nível sérico também se aplicam à “polifarmácia” com drogas antiepilépticas. Algumas DAE interagem entre si, por exemplo: o ácido valproico diminui a metabolização da lamotrigina, aumentando os níveis séricos desta última. Logo, se ambas forem usadas, recomenda-se utilizar doses mais baixas de lamotrigina, ajustando pelo nível sérico. Cerca de 20% dos pacientes não respondem à combinação de duas ou mais DAE. Em muitos desses casos, a neurocirurgia pode permitir uma redução de doses ou mesmo a cura da epilepsia! O paciente que mais se beneficia da abordagem cirúrgica é aquele que possui um foco epileptogênico identificável e passível de ressecção, sendo o exemplo clássico a esclerose mesial do lobo temporal. Na epilepsia do lobo temporal, os procedimentos empregados são: a lobectomia temporal (ressecção da porção anteromedial do lobo temporal) ou a amigdaloipocampectomia (ressecção restrita do hipocampo e da amígdala cerebral). A taxa de cura da epilepsia de lobo temporal mesial com estes procedimentos beira os 70%. Nos que não se curam a maioria consegue reduzir em até 90% a frequência de crises! Crises focais com origem extratemporal podem ter seu foco mapeado por exames de neuroimagem funcional (ex.: RM, PET, SPECT), seguido de ressecção restrita do foco, a chamada lesionectomia. Às vezeso foco das crises não é passível de ressecção (p. ex.: se o foco estiver no chamado “córtex eloquente”, cuja ressecção resultará em distúrbios da linguagem). Nesta situação pode-se recorrer à transecção subpial, um procedimento microcirúrgico que rompe conexões intracorticais daquela região, “isolando” o foco epileptogênico e impedindo a propagação das crises. Hemisferectomia e ressecções multilobares podem ser necessárias em portadores de malformações, como a hemimegalencefalia e as displasias corticais multifocais, respectivamente. A calosotomia (secção das fibras do corpo caloso, o que “desconecta” os hemisférios cerebrais) elimina as crises tônicas e atônicas na síndrome de Lennox-Gastaut, melhorando a qualidade de vida do paciente. Nem todo paciente com epilepsia refratária é candidato à cirurgia. Em pacientes com múltiplos e extensos focos epilépticos, o risco de danos pós- operatórios pode ser inaceitavelmente alto! Nestes casos, vêm sendo estudadas técnicas como a estimulação do nervo vago (VNS) – cujo mecanismo antiepiléptico é desconhecido – e a estimulação cerebral profunda (DBS). No entanto, há poucos estudos a esse respeito, e tais abordagens ainda pertencem ao campo da pesquisa científica. Isadora Pedreira- Problema 04 Fechamento. Módulo XX A maioria das crises convulsivas ocorre fora do hospital e tem curta duração. Nestes casos, quando o paciente chega ao médico, a crise já cessou espontaneamente. Logo, quando falamos de tratamento agudo de uma crise convulsiva, de um modo geral, estamos nos referindo ao chamado status epilepticus (estado de mal epiléptico), uma síndrome definida da seguinte forma: crise convulsiva contínua ou crises repetitivas (“subentrantes”) sem recuperação da consciência entre os episódios. Existem dois subtipos principais de Status Epilepticus (SE): “convulsivo generalizado” (SECG) e “não convulsivo” (SENC). No primeiro caso, o paciente está em coma e apresenta movimentos tônico-clônicos generalizados, acompanhados de atividade epileptiforme difusa no EEG; no segundo caso, o paciente pode estar em coma ou com a consciência parcialmente preservada, porém confuso, apresentando atividade motora mínima (focal ou generalizada) ou ausente, com EEG apresentando atividade epileptiforme correspondente. No passado havia um critério temporal para definir status epilepticus: crise convulsiva > 15-30 minutos. Hoje, no entanto, esse critério foi abandonado. Agora, considera-se a priori como SE toda crise que necessite de tratamento farmacológico imediato! No caso do SECG, em geral se trata de crises com duração > 5min. O SECG é uma emergência médica, pois a crise tônico-clônica prolongada causa disfunção cardiorrespiratória, rabdomiólise e hipertermia, além de lesar diretamente os neurônios. A mortalidade pode chegar a 20%, dependendo da causa básica e da duração do evento. Sua principal etiologia é a má adesão à terapia anticonvulsivante em portadores de epilepsia, contudo, fatores como distúrbios metabólicos (hiponatremia, hipoglicemia), infecções e tumores do SNC, intoxicações e trauma craniano também podem ser responsabilizados, mesmo em pacientes que aderem corretamente ao tratamento. O SENC também é uma emergência médica! Apesar de não cursar com as mesmas complicações metabólicas que o SECG, pelo fato de não haver crises tônico-clônicas, sabe-se que a atividade convulsiva persistente lesa diretamente os neurônios. Sua abordagem terapêutica é semelhante à do SECG. Uma observação importante: os benzodiazepínicos (de preferência os de ação rápida, como o lorazepam) são as drogas de escolha para abortar a crise convulsiva. Não obstante, no paciente em status, uma DAE sempre deve ser administrada na sequência, mesmo que o benzodiazepínico seja eficaz, a fim de evitar o retorno precoce da crise. Tradicionalmente se utiliza a fenitoína IV. Algumas regras se aplicam neste caso: (1) nunca diluir em Tratamento agudo da Epilepsia Isadora Pedreira- Problema 04 Fechamento. Módulo XX soluções contendo glicose, como soro glicosado, pois a fenitoína precipita na presença de glicose; (2) nunca infundir em velocidade > 50 mg/min, pois isso causa hipotensão arterial e arritmias. Se utilizarmos a fosfenitoína (pró-droga da fenitoína), a velocidade de infusão pode ser mais rápida (até 150 mg/min) e a diluição pode ser feita em soluções contendo glicose! A frequência de crises convulsivas se mantém inalterada em 50% das grávidas com história de epilepsia, aumentando em 30% e diminuindo em 20%. As principais explicações são: (1) efeito dos hormônios sexuais no SNC, modificando a excitabilidade neuronal; (2) alterações no metabolismo das DAE, por exemplo, aceleração da catabolização hepática e diminuição da fração livre devido ao aumento de proteínas plasmáticas (em função das modificações fisiológicas do organismo materno); (3) abandono do tratamento por parte da gestante, pelo medo de efeitos teratogênicos. Assim, a monitorização dos níveis séricos das DAE é fortemente recomendada durante a gestação! A teratogenicidade é um problema bem conhecido das DAE, principalmente as mais antigas. A incidência de malformações congênitas em gestantes usuárias de DAE é em média de 5-6%, comparado a 2-3% nas mulheres saudáveis. A incidência pode ser ainda maior, dependendo da dose e do número de drogas utilizadas (ex.: 10- 20% em usuárias de três DAE). As principais malformações estão relacionadas aos sistemas cardiovascular e musculoesquelético. No entanto, é importante esclarecer que o risco fetal imposto pelas crises convulsivas maternas (ex.: trauma, hipóxia) é muito maior que o risco de teratogenicidade imposto pelo tratamento anticonvulsivante! Logo, recomenda-se MANTER O TRATAMENTO HABITUAL DA PACIENTE (de preferência monoterapia na menor dose possível)!!! Outra recomendação é fazer suplementação de ácido fólico (1-4 mg/dia) durante a gestação. DAE indutoras de enzimas do citocromo P450, como fenitoína, carbamazepina, oxcarbazepina, topiramato, fenobarbital e primidona aumentam a chance de doença hemorrágica do RN por deficiência de vit. K. A profilaxia deste problema é feita com suplementação oral de vit. K para a gestante nas duas semanas que antecedem o parto (20 mg/dia), aliado à administração de vit. K intramuscular no RN (1 mg logo após o nascimento). O aleitamento é permitido quando a mãe é usuária de DAE, mas pode ser interrompido se a criança apresentar efeitos colaterais das medicações, como letargia e baixa ingesta alimentar. O levetiracetam é uma DAE que tem a peculiaridade de se concentrar no leite materno (níveis 3x mais altos no leite do que no sangue). Os fármacos reduzem as crises por meio de mecanismos como bloqueio dos canais voltagem-dependentes (Na+ ou Ca2+), potencializando impulsos inibitórios gabaérgicos e interferindo na transmissão excitatória do glutamato. Alguns antiepiléticos parecem ter múltiplos alvos no SNC, ao passo que o mecanismo de ação de alguns fármacos é mal definido. A medicação antiepilética suprime as crises, mas não cura nem previne a epilepsia. Carbamazepina A carbamazepina é um iminodibenzil que inibe as descargas neuronais corticais repetitivas, sustentadas e de alta frequência pelo bloqueio dos canais de sódio dependente de voltagem. Também possui uma discreta ação anticolinérgica. A carbamazepina tem absorção lenta e errática após administração por via oral e pode variar de genérico para genérico, resultando em amplas variações de concentração sérica. Ela induz sua própria biotransformação, resultando em concentrações séricas menores nas doses mais altas. A carbamazepina é indutora das enzimas CYP1A2, CYP2C e CYP3A e da uridina 5’-difosfato (UDP) – glicuronosiltransferase (UGT), o que aumenta a depuração de outros fármacos. Pode ser notada hiponatremia em algunspacientes, especialmente em idosos, o que requer a troca de medicação. A carbamazepina não deve ser prescrita para pacientes com crises de ausência, porque pode aumentá-las. Indicações: • Monoterapia ou terapia adjuvante de crises focais, com ou sem generalização secundária; • Crises TCG em pacientes com mais de um ano de idade. Epilepsia na gravidez Antiepilépticos Isadora Pedreira- Problema 04 Fechamento. Módulo XX Benzodiazepínicos O principal sítio de ação dos benzodiazepínicos é um receptor pós-sináptico do ácido gamaaminobutírico (GABA), o principal neurotransmissor inibitório do sistema nervoso central (SNC). Ao ligar-se aos receptores GABA-A aumenta a frequência de aberturas destes receptores, aumentando, assim, as correntes inibitórias neuronais. A maioria dos benzodiazepínicos é reservada para emergências ou tratamento de crises agudas, devido à sua tolerância. Contudo, clonazepam e clobazam podem ser prescritos como auxiliares no tratamento em tipos particulares de crises. O diazepam também está disponível para administração retal para evitar ou interromper convulsões tônico-clônicas generalizadas prolongadas ou agrupadas, quando a administração oral não é possível. Clobazam É rapidamente absorvido pelo trato digestivo, atingindo picos de concentração máximos no sangue em cerca de 90 minutos. A meia-vida é longa (em torno de 20 horas). Este fármaco é fortemente ligado às proteínas séricas. Suas principais vantagens são a alta eficácia, o rápido início de ação e a boa tolerabilidade. Possíveis desvantagens são o desenvolvimento de tolerância em 40% dos casos e problemas relacionados à sua retirada (abstinência). Indicações: • Terapia adjuvante de crises focais e generalizadas refratárias; • Terapia intermitente (por exemplo, crises catameniais). Clonazepam O clonazepam é bastante útil no tratamento de crises mioclônicas, podendo ser usado em monoterapia, mas mais frequentemente é utilizado na terapia adjuvante. Uma dose única de 0,5 a 2 mg, tomada na hora de deitar, é frequentemente efetiva no controle de crises mioclônicas, tanto em monoterapia como na terapia adjuvante dos casos mais resistentes. Indicações: • Adultos e crianças; • Crises de ausência (incluindo ausências atípicas); • Crises TCG primárias ou secundárias; • Crises tônicas; • Crises clônicas; • Crises focais; • Crises mioclônicas; • Mioclonias e movimentos anormais associados. Levetiracetam O levetiracetam é um s-enantiômero, análogo do piracetam. Acredita-se que o levetiracetam exerça suas propriedades antiepilépticas ligando-se especificamente à proteína 2A da vesícula sináptica, interferindo com a exocitose e liberação de neurotransmissor na fenda sináptica.Seu uso como terapia adjuvante para crises focais em adultos foi aprovado, e apresenta controle eficaz de crises em adultos, tanto focais quanto generalizadas. Verificou-se que tem efeito antiepiléptico não inferior à carbamazepina. O levetiracetam apresenta um perfil farmacocinético favorável, com rápido início de ação e baixa ligação a proteínas, e acredita-se que, por isso, apresente menos efeitos adversos e menor interação com outros fármacos . O levetiracetam é bem absorvido por via oral e excretado na urina em sua maior parte inalterado, resultando em pouca ou nenhuma interação com fármacos. O levetiracetam pode causar alterações de humor que podem exigir diminuição da dosagem ou alteração do fármaco. Indicações: • Pacientes com epilepsia focal e epilepsia generalizada em adultos e crianças com mais de 6 anos (12 anos para crises tônico-clônico generalizadas) como terapia adjuvante em casos refratários à monoterapia com antiepiléptico de primeira linha; • Crises mioclônicas em pacientes com EMJ, como terapia adjuvante em casos refratários; • Tratamento de crises epilépticas em pacientes com microcefalia causada pelo vírus Zika, como terapia adjuvante, no caso de falha terapêutica de outros antiepilépticos preconizados neste Protocolo. Etossuximida Este fármaco apresenta um espectro de ação antiepiléptico bastante restrito. Seu principal mecanismo de ação é o bloqueio dos canais de cálcio, com consequente inibição do circuito tálamo-cortical, que está intimamente relacionado à geração das crises de ausência. A etossuximida é útil no tratamento em monoterapia das crises de ausência típicas e como terapia adjuvante nas mioclonias negativas, crises atônicas e mioclonias. Indicações: • Tratamento de crises de ausência em pacientes com ou mais de 3 anos de idade; • Tratamento adjuvante de mioclonias negativas, crises astáticas e certos tipos de epilepsias mioclônicas. Isadora Pedreira- Problema 04 Fechamento. Módulo XX Fenitoína A fenitoína bloqueia os canais de sódio voltagem-dependentes, ligando-se seletivamente ao canal no estado inativo e tornando lenta a sua recuperação, o que lhe confere grande eficácia contra crises epilépticas de início focal. A fenitoína induz os sistemas enzimáticos CYP2C, CYP3A e UGT, acelerando a biotransformação dos fármacos substratos desses sistemas. Ela exibe biotransformação por enzima saturável, resultando em propriedades farmacocinéticas não lineares (pequenos aumentos na dose diária podem produzir grandes aumentos na concentração no plasma, resultando em toxicidade induzida por fármaco). Ocorre depressão do SNC, particularmente no cerebelo e no sistema vestibular, causando nistagmo e ataxia. Os idosos são muito suscetíveis a este efeito. Hiperplasia gengival pode levar ao crescimento da gengiva sobre os dentes. O uso por tempo prolongado pode levar ao desenvolvimento de neuropatias periféricas e osteoporose. Embora a fenitoína seja vantajosa por seu baixo custo, o preço real do tratamento pode ser muito maior, considerando o potencial de toxicidade grave e os efeitos adversos. Após ingestão, a fenitoína atinge picos de concentração em cerca de 6 horas, sendo fortemente ligada às proteínas plasmáticas (mais de 85%), com uma meia-vida de eliminação em torno de 20 horas. Está contraindicada nas crises de ausência e mioclônicas, podendo ser efetiva nas crises tônicas (próprias da síndrome de Lennox-Gastaut). Suas principais desvantagens são efeitos adversos de curto e longo prazos, limitações para uso crônico em mulheres (efeitos estéticos e propriedades teratogênicas) e janela terapêutica restrita e muito próxima dos níveis tóxicos, necessitando de frequentes monitorações dos níveis séricos. Devido à sua farmacocinética peculiar, após atingir doses em torno de 300 mg/dia, pequenos incrementos de dose podem gerar aumentos desproporcionais dos níveis séricos, o que exige cautela em sua administração. Indicações: • Tratamento de crises TCG, focais disperceptivas, ou combinação de ambas, em crianças, adolescentes e adultos; • Prevenção e tratamento de crises epilépticas durante ou após procedimento neurocirúrgico; • Tratamento das crises tônicas, próprias da síndrome de Lennox- Gastaut. Fosfenitoína A fosfenitoína é um pró-fármaco que rapidamente é convertido em fenitoína no sangue (em poucos minutos). Ao passo que a fosfenitoína pode ser administrada por via intramuscular (IM), a fenitoína sódica nunca deve ser administrada por essa via, pois causa lesão tecidual e necrose. A fosfenitoína é o fármaco de escolha e padrão quando se precisa do efeito da fenitoína por via intravenosa ou intramuscular. Devido a denominações com sons e apresentações similares, há risco de ocorrerem erros de prescrições. A denominação comercial da fosfenitoína é Cerebyx® , que pode ser confundida facilmente com Celebrex® , um inibidor da cicloxigenase-2, ou com Celexa® , um antidepressivo. Fenobarbital Este fármaco possui largo espectro de ação com efetividade similar à de outros fármacos antiepilépticos. É seguro e disponível em apresentaçõesorais e parenterais. Seu principal mecanismo de ação é o prolongamento da abertura dos canais de cloro, dos receptores GABA-A e consequente hiperpolarização da membrana pós-sináptica. O fenobarbital também pode bloquear os canais de sódio e potássio, reduzir o influxo de cálcio pré- sináptico e, provavelmente, reduzir as correntes mediadas pelo glutamato. Apresenta rápida absorção por via oral, porém uma meia-vida de eliminação longa (2 a 7 dias), apesar de ser fracamente ligado às proteínas. As principais desvantagens são seus efeitos colaterais, principalmente na área cognitiva, o que limita seu uso tanto em crianças quanto em idosos. É inadequado tentar a substituição de fenobarbital em caso de pacientes bem controlados, a menos que seu uso esteja associado a efeitos adversos inaceitáveis. A retirada deve ser feita em dosagens muito pequenas e por longo período de tempo devido ao risco de crises de abstinência. Doses elevadas devem ser evitadas (em adultos, dose máxima de 300 mg/dia). O fenobarbital ainda é largamente utilizado na prática clínica, por apresentar eficácia equivalente à de fenitoína no tratamento em monoterapia tanto de crises focais como nas generalizadas. Indicação: • Tratamento de crises focais e generalizadas de pacientes de qualquer idade, inclusive recémnascidos Gabapentina A gabapentina apresenta estrutura semelhante à do GABA, no entanto não tem nenhuma interação com os receptores GABA-A ou GABA-B. Seu sítio de Isadora Pedreira- Problema 04 Fechamento. Módulo XX ligação é a proteína alfa2-gama, uma sub-unidade dos canais de cálcio dependentes de voltagem, embora ainda não haja uma compreensão completa do exato mecanismo antiepiléptico deste fármaco. A gabapentina apresenta uma absorção saturável, dependente de dose, ou seja, em doses maiores pode haver menor absorção no duodeno, levando a uma menor eficácia. A absorção varia de indivíduo para indivíduo. Por não ser ligada a proteínas plasmáticas, é eliminada pelos rins, não interferindo com o metabolismo de outros fármacos, o que a torna ideal para idosos e para pacientes com doença crônica que geralmente usam outros medicamentos. A gabapentina tem poucos efeitos cognitivos, não tendo sido observados efeitos teratogênicos durante a gestação. É necessário diminuir sua dosagem em caso de doenças renais. Indicação: • Terapia adjuvante de crises focais com ou sem generalização secundária em pacientes com mais de 3 anos de idade. Topiramato O topiramato tem mecanismos de ação múltiplos. O topiramato apresenta um largo espectro de eficácia, e sua estrutura é distinta da dos outros antiepilépticos, tendo sido implicado em vários mecanismos de ação, incluindo o bloqueio dos canais de sódio dependentes de voltagem, modulação negativa dos canais de cálcio tipo-L, ativação da condutância do potássio, potencialização da ação inibitória GABAérgica, além de antagonismo a receptores glutamatérgicos e inibição da anidrase carbônica. Este fármaco é bem absorvido e minimamente ligado às proteínas plasmáticas. É parcialmente metabolizado no fígado, e cerca de 60% da dose são excretados de forma inalterada na urina. Seu metabolismo sofre a influência de fármacos indutores de enzimas hepáticas, tendo a meia-vida diminuída com o uso concomitante destes fármacos. Os efeitos adversos incluem sonolência, perda de massa corporal e parestesias. Cálculos renais, glaucoma, oligoidrose (sudorese reduzida) e hipertermia também foram registrados. Indicações: • Monoterapia de crises focais ou primariamente do tipo TCG em pacientes mais de 10 anos de idade com intolerância ou refratariedade a outros medicamentos de primeira linha; • Terapia adjuvante de crises focais, generalizadas ou crises associadas com a síndrome de Lennox-Gastaut em pacientes mais de dois anos de idade. Lamotrigina A lamotrigina bloqueia os canais de sódio, bem como os canais de cálcio alta voltagem-dependentes. A lamotrigina é biotransformada principalmente ao metabólito 2-N-glicuronídeo pela via da UGT1A4. Como com outras medicações antiepiléticas, os indutores gerais aumentam a depuração da lamotrigina baixando a concentração, enquanto o divalproex resulta em diminuição significativa na depuração de lamotrigina (maiores concentrações de lamotrigina). A dosagem de lamotrigina deve ser reduzida quando se acrescentar valproato ao tratamento. É necessária lenta titulação com a lamotrigina (particularmente quando se acrescentar lamotrigina a regime que inclui valproato) devido ao risco de urticária, que pode evoluir para reação grave, ameaçando a vida. Alguns autores sugerem uma associação de lamotrigina com ácido valproico para o tratamento de pacientes refratários, a fim de se obter uma eficácia maior, devido às possíveis interações farmacodinâmicas favoráveis entre os dois fármacos. Uma atualização dos parâmetros práticos recomendados pela ILAE no tratamento da epilepsia em mulheres, com foco na gestação, realizou uma revisão sistemática de artigos publicados entre 1985 e 2007. Conclui-se que é altamente provável que a exposição intrauterina a ácido valproico, no primeiro trimestre da gestação, tenha maior risco para malformações congênitas importantes em relação à carbamazepina, e possivelmente em comparação com a fenitoína e com a lamotrigina. No entanto, convém lembrar que o uso de anticoncepcionais orais diminui a concentração plasmática de lamotrigina, além do que, durante a gestação, o metabolismo deste fármaco encontra-se aumentado. Por conta dos menores riscos de teratogênese, e por proporcionar menor ganho de peso em relação ao ácido valproico, a lamotrigina tem sido apontada como um fármaco de escolha no tratamento da EMJ em mulheres em idade fértil. Entretanto, nem todos os tipos de crises são tratados com a mesma eficácia pela lamotrigina, e alguns deles inclusive podem ser agravados, como determinadas crises mioclônicas. Indicações: • Monoterapia de crises focais em pacientes com mais de 12 anos de idade com intolerância ou refratariedade a FAE de primeira linha; • Monoterapia de crises generalizadas em pacientes com mais de 12 anos de idade com intolerância ou refratariedade a FAE de primeira linha; • Terapia adjuvante de crises focais em pacientes mais de 2 anos de idade; Isadora Pedreira- Problema 04 Fechamento. Módulo XX • Terapia adjuvante de crises generalizadas da síndrome de Lennox- Gastaut em pacientes com mais de 2 anos de idade. Vigabatrina A vigabatrina atua como inibidor irreversível da transaminase GABA (GABA-T). A GABA-T é a enzima responsável pelo metabolização do GABA. A vigabatrina está associada com a perda leve ou moderada do campo visual em 30% dos pacientes ou mais. As duas maiores indicações deste fármaco são o tratamento de crises de espasmos epilépticos e de crises focais refratárias. Seu uso em adultos restringe-se a pacientes com epilepsia grave que não respondem a outros FAE, devido a seus potenciais efeitos adversos graves. No entanto, comparada à carbamazepina, sua eficácia é inferior em pacientes com epilepsia recentemente diagnosticada. Em crianças, no entanto, a vigabatrina é altamente efetiva na síndrome de West, especialmente quando associada a esclerose tuberosa A vigabatrina é eficaz para tratamento da síndrome de West (espasmos epilépticos, EEG com hipsarritmia e retardo do desenvolvimento neuropsicomotor). A vigabatrina piora crises generalizadas, provoca aumento de ausências e pode desencadear crises mioclônicas. É contraindicada para epilepsias mioclônicas e para crises tônico-clônicas generalizada. Os principais efeitos adversos são irritabilidade, insônia e distúrbios psiquiátricos. Indicações: • Monoterapia de espasmos epilépticos, particularmente nos casos de Esclerose Tuberosa; • Terapia adjuvante de crises focais evoluindo para tônico-clônicos em pacientesde qualquer idade Ácido valproico e divalproex Mecanismos de ação possíveis desses fármacos incluem bloqueio de canais de sódio, bloqueio da transaminase GABA e ações nos canais de cálcio tipo T. Os mecanismos variados oferecem um amplo espectro de atividade contra crises epilépticas. O ácido valproico está disponível como ácido livre. O divalproex sódico é a associação de valproato de sódio e ácido valproico, que é convertido em valproato quando alcança o trato gastrintestinal (TGI). Ele foi desenvolvido para melhorar a tolerância gastrintestinal (GI) do ácido valproico. Todos os sais disponíveis são equivalentes em eficácia (ácido valproico e valproato de sódio). Os produtos comerciais estão disponíveis em formulações com múltiplos sais e dosagens e com liberação prolongada. Por isso, o risco de erros de medicação é elevado, sendo essencial estar familiarizado com todas as preparações. O valproato inibe o metabolismo dos sistemas CYP2C9, UGT e epóxido hidrolase. Toxicidade hepática é rara e pode causar aumento das enzimas hepáticas, que devem ser monitoradas frequentemente. A teratogenicidade também é uma grande preocupação. O ácido valproico é um dos principais antiepilépticos utilizados, com eficácia estabelecida para múltiplos tipos de crises. Picos máximos de concentração são atingidos 2 horas após a ingestão oral. É altamente ligado às proteínas (90%), e a meia-vida de eliminação é de cerca de 15 horas. Seu mecanismo de ação pode envolver redução na frequência de disparos dos canais de sódio, ativação da condutância do potássio e, possivelmente, ação direta sobre outros canais iônicos. É sabido que o ácido valproico tem um efeito GABAérgico por meio da elevação do GABA cerebral por diversos mecanismos: inibição da GABA-transaminase, aumento das enzimas sintetizadoras do GABA, aumento da liberação e inibição da recaptação do GABA. Suas principais desvantagens são maior incidência de efeitos adversos em mulheres (alterações hormonais, ganho de peso), na gestação (teratogenicidade) e em crianças com menos de 2 anos de idade, especialmente naquelas em politerapia, com doenças metabólicas congênitas ou com retardo mental (devido a risco aumentado de desenvolvimento de hepatotoxicidade fatal). O uso de ácido valproico para casos de crises focais apresenta eficácia limitada, devido principalmente à necessidade de doses significativamente maiores do que as usadas para crises generalizadas. Indicação: • Monoterapia e terapia adjuvante de pacientes com mais de 10 anos de idade e com qualquer forma de epilepsia. Primidona A primidona, com base em sua estrutura química, não pode ser considerada um barbitúrico; no entanto, parte do seu efeito clínico pode ser atribuído à biotransformação hepática de suas moléculas em fenobarbital. Indicação: • Tratamento de crises focais e generalizadas em pacientes refratários ou intolerantes aos fármacos de primeira linha. Isadora Pedreira- Problema 04 Fechamento. Módulo XX Eslicarbazepina Acetato de eslicarbazepina é uma pró-fármaco convertida ao metabólito ativo eslicarbazepina (S-licarbazepina) por hidrólise. S-licarbazepina é o metabólito ativo da oxcarbazepina. Ela é um bloqueador do canal de sódio disparado por voltagem. A eslicarbazepina tem farmacocinética linear e é eliminada por glicuronidação. O perfil de efeitos adversos inclui tonturas, sonolência, diplopia e cefaleia. Reações adversas graves como urticária, efeitos psiquiátricos e hiponatremia ocorrem raramente. Ezogabina A ezogabina parece abrir canais de potássio tipo M disparados por voltagem, levando à estabilização do potencial de repouso. A ezogabina tem farmacocinética linear sem interações com outros fármacos nas dosagens baixas. Os efeitos adversos são retenção urinária, prolongamento do intervalo QT, coloração azulada da pele e anormalidade na retina. Felbamato O felbamato tem amplo espectro de ação anticonvulsivante com múltiplos mecanismos propostos, incluindo o bloqueio de canais de sódio voltagem- dependente, competindo com o local de ligação do coagonista glicina no receptor N-metil-D-aspartato (NMDA) glutamato, bloqueando canais de cálcio e potencializando a ação do GABA. O felbamato é um inibidor dos fármacos biotransformados por CYP2C19 e induz os fármacos biotransformados por CYP3A4. Ele é reservado para uso em epilepsias refratárias (particularmente a síndrome Lennox-Gastaut) devido ao risco de anemia aplástica (cerca de 1:4.000) e insuficiência hepática. Lacosamida A lacosamida se liga à proteína 2 mediadora da resposta colapsina (P2MRC), uma fosfoproteína envolvida na diferenciação neuronal e no controle do crescimento axonal. A função da ligação da P2MRC no controle das convulsões é desconhecido. Está disponível como uma formulação injetável. O efeito adverso mais comum que limita o tratamento inclui tonturas, cefaleia e fadiga. Oxcarbazepina A oxcarbazepina é um pró-fármaco que é rapidamente reduzido ao metabólito 10-monoidróxi (MHD), responsável pela atividade anticonvulsivante. O MHD bloqueia canais de sódio, prevenindo o alastramento das descargas anormais. A modulação dos canais de cálcio também é uma das hipóteses. Está aprovada para uso em adultos e crianças com crises de ataque focal. A oxcarbazepina é indutora menos potente do CYP3A4 e do UGT do que a carbamazepina. O efeito adverso de hiponatremia limita seu uso em idosos. Perampanel Perampanel é um antagonista ácido α-amino-3-hidroxi-5-metil-4- isoxazolepropiônico seletivo que resulta em atividade excitatória reduzida. O perampanel tem longa meia-vida, permitindo dosificação única por dia. Esse fármaco é um antiepilético novo, e apenas dados limitados em pacientes estão disponíveis. Pregabalina A pregabalina se liga ao local α2-δ, uma subunidade auxiliar de canais de cálcio disparado por voltagem no SNC, inibindo a liberação do neurotransmissor excitatório. Mais de 90% da pregabalina é eliminada por via renal. São necessários ajustes de dosagens em casos de disfunções renais. Não tem biotransformação significativa e apresenta poucas interações com fármacos. Aumento de massa corporal e edema periférico foram observados. Rufinamida A rufinamida atua nos canais de sódio. Está aprovada para o tratamento auxiliar de crises associadas com a síndrome de Lennox-Gastaut em crianças com mais de 4 anos e em adultos. A rufinamida é um inibidor fraco da CYP2E1 e um indutor fraco da CYP3A4. Os alimentos aumentam a absorção e o pico de concentração no soro. As concentrações séricas de rufinamida são afetadas por outras medicações antiepiléticas. Como com outras medicações antiepiléticas, ela é induzida pela carbamazepina e pela fenitoína, e inibida quando administrada com valproato. Os efeitos adversos incluem o potencial para diminuição do intervalo QT. Pacientes com síndrome familiar de QT curto não devem ser tratados com rufinamida. Isadora Pedreira- Problema 04 Fechamento. Módulo XX Tiagabina A tiagabina bloqueia a captação de GABA pelos neurônios pré-sinápticos, permitindo que haja uma maior quantidade de GABA disponível para ligação com o receptor; assim, aumenta a atividade inibitória. A tiagabina é eficaz como tratamento auxiliar nas crises de início parcial. Zonisamida A zonisamida é um derivado sulfonamida com amplo espectro de ação. O fármaco tem múltiplos efeitos, incluindo o bloqueio dos canais de sódio dependentes de voltagem e das correntes de cálcio do tipo T. Tem atividade anidrase carbônica limitada. Ela é biotransformada pela isoenzima CYP3A4 e pode, em menor extensão, ser afetado pela CYP3A5 e pela CYP2C19. Além dos efeitos adversos típicos dos antiepilépticos no SNC, a zonisamida pode causar cálculos renais. Foi registrada oligoidrose, e os pacientes devem ser monitorados quanto ao aumento na temperatura corporale à redução da sudorese. A zonisamida é contraindicada em pacientes com hipersensibilidade a sulfonamidas ou inibidores da anidrase carbônica. A permissão para dirigir veículos ou a renovação da habilitação para pessoas com epilepsia é um processo que envolve médicos peritos examinadores, consultores das autoridades de trânsito e os médicos destes pacientes. Para se habilitar como motorista, o candidato deverá submeter-se ao exame de aptidão física e mental (artigo 147 da Lei nº. 9.503 de 23 de setembro de 1997). A Resolução nº 425/2012 do Conselho Nacional de Trânsito (CONTRAN), que estabeleceu normas regulamentadoras para o procedimento do exame, faz referência específica à epilepsia e ela está do ponto de vista legal incluída entre as condições que necessitam de uma avaliação médica, que pode permitir ou restringir a condução veicular. O candidato deverá passar pelos seguintes procedimentos: • O condutor ou candidato à habilitação que, no momento do exame de aptidão física e mental, por meio da anamnese ou da resposta ao questionário, declarar ser epiléptico ou fazer uso de fármacos antiepilépticos, deverá ter como primeiro resultado “necessita de exames complementares ou especializados” e ser solicitado a trazer informações do seu médico assistente, que acompanhe o candidato há, no mínimo, um ano, por meio de relatório padronizado • O relatório padronizado deverá informar dados sobre o tipo de crise epiléptica, o número estimado de crises nos últimos 6, 12, 18 e 24 meses, grau de confiança na informação prestada, ocorrência de crises exclusivamente no sono, fatores precipitantes conhecidos, tipo da síndrome epiléptica, resultado do último EEG e dos exames de imagem, medicamentos em uso, duração do uso, retirada do medicamento quando for o caso, especialidade do médico assistente, início do tratamento e parecer favorável ou não à liberação para a direção de veículos automotores. O relatório deverá conter a assinatura e o carimbo do médico assistente e a assinatura de ciência do paciente (candidato). • Para a mulher o aconselhamento envolve contracepção, concepção, gravidez, cuidados com crianças, amamentação e menopausa. • Ações de aconselhamento para crianças, adolescentes e pais demonstraram alguns benefícios para o bem-estar de crianças com epilepsia, com impactos variáveis em diferentes desfechos como controle das crises e comportamento. • A educação para o auto-cuidado centrado em adultos com epilepsia demonstrou melhora na frequência de crises, melhora do conhecimento sobre epilepsia e alguns desfechos comportamentais relevantes. • São medidas que visam, sobretudo incentivar as pessoas a estudarem e trabalharem. A adesão ao tratamento representa um grande desafio para o médico de família e neurologistas. A maioria das crianças com epilepsia de diagnóstico recente não são aderentes à medicação no primeiro semestre de tratamento de maneira correta e o único preditor de maior adesão foi o status socioeconômico. Orientações para pacientes Epilépticos Isadora Pedreira- Problema 04 Fechamento. Módulo XX Intervenções para adesão medicamentosa de adultos e crianças demonstraram que a educação e aconselhamento de pessoas com epilepsia têm resultado limitado, e que intervenções comportamentais, tais como o uso de lembretes intensivos e intervenções com "intenção de implementação” têm efeitos mais positivos sobre a adesão. GRUPOS DE APOIO/ASSOCIAÇÕES Os grupos de apoio e em particular associações são importantes organizações civis que auxiliam a pessoa com epilepsia na busca de seus direitos, bem como permite um ambiente para compartilhamento de experiências e emoções dos seus participantes. É um ambiente formativo importante nos primeiros passos na construção do senso de cidadania. A possibilidade de intervenção informativa na escola pode ajudar tanto na prevenção primária (prevenção de neurocisticercose, prevenção de traumatismo craniano, etc), bem como na prevenção secundária, principalmente no que se refere ao preconceito contra a pessoa com epilepsia. É preciso informar a professores sobre a doença, desmitificando-a, ensinando como fazer diante de uma convulsão e a pessoa com epilepsia deve ser estimulada da mesma maneira como os demais alunos da sala bem como as características individuais de cada um. O trabalho é importante para qualquer pessoa e é de certa maneira um atestado social de inclusão. As pessoas com epilepsia podem exercer diferentes atividades profissionais, é preciso que as empresas e seus funcionários saibam mais sobre a epilepsia e, assim, possam se livrar do temor e dos mitos. Há certamente algumas profissões que não são adequadas para a pessoa com epilepsia com crises não controladas, como, por exemplo, a de motorista. Existem evidências que atividade física regular promove a saúde e o bem- estar de forma geral e pode ajudar na socialização dos que a praticam. As pessoas com crises controladas poderiam praticar todas as modalidades esportivas, porém naqueles ainda com crises é preciso evitar a prática de algumas modalidades. É importante sempre avisar as pessoas que estão praticando a atividade física em conjunto, o supervisor e demais membros, da sua epilepsia, como ela se apresenta e o que fazer no caso de uma crise ocorrer. ✓ Contraindicação absoluta: Paraquedismo, asa delta, alpinismo/escaladas, mergulho submarino, natação competitiva em crianças com crises de ausências não controladas; ✓ Contraindicação relativa: Arco e flecha, tiro, ciclismo competitivo para crianças com ausência não controlada, natação, surfe, esportes motorizados, ginástica olímpica A dieta cetogênica é uma opção de tratamento não farmacológico, baseado nas opções alimentares, com alto teor de gordura, baixo teor de carboidratos e teor normal de proteínas para pacientes com epilepsia refratária. Há evidências de benefícios em redução na frequência de crises em até de 90% dos casos, além da possibilidade de suspensão de medicação e melhora cognitiva. Não há idade preconizada para seu início, mas sabe-se que crianças e adolescentes tem melhor resposta e melhor aderência. Assim sendo, é uma opção para pacientes até 18 anos. É uma dieta elaborada pelo nutricionista, supervisionado pelo médico neurologista ou neuropediatra, com alto teor de gorduras, baixo de carboidrato e normal em proteínas. O tempo mínimo para se ter efeito positivo da dieta é de 3 meses, com cetonúria positiva. Se houver benefício, a dieta se prolonga por 2 a 3 anos. Não é isenta de complicações, sendo as mais comuns: náuseas, vômitos, constipação. O paciente precisa de suplementação vitamínica e de minerais. A efetividade da dieta é mensurada com a realização de cetonúria diária. Contudo, os benefícios esperados da dieta incluem redução da freqüência de crises, redução do uso de fármacos, melhora cognitiva e melhora comportamental. Referências: CONITEC. Comissão Nacional de Incorporação de tecnologias no SUS. Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas Epilepsia. 2019 WHALEN.K Farmacologia Ilustrada - 6ª ed.Porto Alegre: Artmed, 2016. DE CARVALHO, Rusbene BF et al. Nerolidol and its pharmacological application in treating neurodegenerative diseases: a review. Recent patents on biotechnology, v. 12, n. 3, p. 158-168, 2018. Isadora Pedreira- Problema 04 Fechamento. Módulo XX
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