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INTERPRETAÇÃO DO HEMOGRAMA FRENTE A SUSPEITA DE DENGUE-LAPTOP-9LF9VE30

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INTERPRETAÇÃO DO HEMOGRAMA FRENTE A SUSPEITA DE DENGUE.
O exame hemograma é recomendado para todos os pacientes com suspeita de dengue. A abordagem do paciente com dengue deve seguir uma rotina de anamnese e exame físico. Os dados de anamnese e exame físico serão utilizados para estadiar os casos e para orientar as medidas terapêuticas cabíveis. O manejo adequado dos pacientes depende do reconhecimento precoce dos sinais de alarme, do contínuo monitoramento e reestadiamento dos casos e da pronta reposição hídrica.
Dengue clássica:
Hemograma: a leucopenia é achado usual, embora possa ocorrer leucocitose. Pode estar presente linfocitose com atipia linfocitária. A trombocitopenia é observada ocasionalmente.
Febre Hemorrágica da Dengue – FHD: 
Hemograma: a contagem de leucócitos é variável, podendo ocorrer desde leucopenia até leucocitose leve. A linfocitose com atipia linfocitária é um achado comum. Destacam-se a concentração de hematócrito e a trombocitopenia (contagem de plaquetas abaixo de 100.000/mm3 ). 
Hemoconcentração: aumento de hematócrito em 20% do valor basal (valor do hematócrito anterior à doença) ou valores superiores a 38% em crianças, a 40% em mulheres e a 45% em homens). 
Trombocitopenia: contagem de plaquetas abaixo de 100.000/mm3 . Coagulograma: aumento nos tempos de protrombina, tromboplastina parcial e trombina. Diminuição de fibrinogênio, protrombina, fator VIII, fator XII, antitrombina e α antiplasmina. 
Bioquímica: diminuição da albumina no sangue, albuminúria e discreto aumento dos testes de função hepática: aminotransferase aspartato sérica (conhecida anteriormente por transaminase glutâmico-oxalacética - TGO) e aminotransferase alanina sérica (conhecida anteriormente por transaminase glutâmico pirúvica - TGP).
Foi definido como caso de dengue, todo indivíduo com doença febril aguda com duração máxima de sete dias, acompanhada de pelo menos dois dos seguintes sintomas: cefaleia, dor retrorbital, mialgia, artralgia, prostração e/ou exantema. Foram considerados os seguintes tipos de dengue: dengue clássico (DC) e febre hemorrágica do dengue (FHD), segundo a classificação da Organização Mundial da Saúde.
A população analisada foi de 543 pacientes com predomínio de indivíduos do sexo feminino (57,1%) e na faixa etária entre 13 a 48 anos, com idade mínima de 10 anos e máxima de 87 anos. Do total de pacientes, 90,2% (IC 95% 87,7 - 92,7) apresentaram DC e 9,8% (IC 95% 7,3 - 12,3) tiveram FHD. Não houve associação entre frequência das diferentes formas clínicas, sexo e faixa etária.
Não houve caso de FHD de gravidade clínica máxima (grau IV) ou de óbito. Os quadros clínicos considerados mais leves foram mais frequentes no DC (46,9%). A prova do laço foi realizada na maioria (no =351) dos pacientes com positividade baixa (33,3%).
Dos 543 prontuários avaliados, 68,5% apresentaram número de plaquetas inferior a 150.000/mm³. Houve queda do número de plaquetas a partir do 3º dia no DC e a partir do 1º e 2º dias na FHD. A mediana dos valores de plaquetas foram menores na FHD desde o primeiro dia de sintomatologia em relação à DC. Porém, evolução diária semelhante atingindo o menor número no 7º dia e recuperando-se a partir daí.
Do total (no = 543) de pacientes, 191 apresentaram hemorragia. No grupo de pacientes no qual houve sangramento, a mediana de plaquetas foi de 95.000/mm³ e no sem sangramento, a mediana foi de 135.000/mm³. O principal tipo de sangramento observado foram as petéquias (64,4%), tanto no DC como na FHD.
Quanto ao número de leucócitos, observou-se que 69,8% dos pacientes apresentaram número de leucócitos inferior a 4.000/mm³. A leucopenia apresentou-se mais precocemente na FHD, sendo observada já no 2º dia de sintomatologia e recuperando-se a partir do 8º dia. No DC, a leucopenia foi evidenciada do 3º ao 8º dia com recuperação semelhante à ocorrida na FHD.
Dos 543 pacientes, ocorreu linfopenia em 67,8%, sendo que 363 (66,9%) apresentaram linfócitos atípicos. A porcentagem de linfócitos no sangue periférico variou de 1% a 35%. Tanto no DC, quanto na FHD, houve normalização do número de linfócitos a partir do sétimo dia (Figura 3); no entanto, o número de linfócitos atípicos aumentou acentuadamente a partir do quinto dia, principalmente na FHD (figura 4). 
A prova do laço é recomendada pela OMS para caracterização do quadro de febre hemorrágica do dengue, porém tem sua utilização limitada pelo desconforto que provoca no paciente. Esse método não foi realizado em todos os pacientes e apresentou positividade baixa. Isso pode indicar que acrescenta pouco ao diagnóstico de febre hemorrágica do dengue, sendo utilizado principalmente como indicador de presença de fragilidade vascular.
Sabe-se que a ocorrência de leucocitose no dengue pode ser considerada como um fator prognóstico associado ao desenvolvimento de complicações. Em estudo no qual foram avaliadas amostras de sangue de sessenta pacientes com presença de leucopenia durante o dengue, observou-se redução da contagem absoluta de células CD8 e CD4 tanto durante fase aguda da doença quanto em período de convalescença.
Os linfócitos atípicos são definidos como formas intermediárias de ativação dos linfócitos T em decorrência de estímulos antigênicos virais, sendo esse achado mais comum na FHD.
Quando se compara o dengue com outras patologias infecciosas virais, de quadro clínico semelhante, constata-se que a presença de no mínimo 10% de linfócitos atípicos no sangue periférico é bom indicador para diagnóstico de dengue. Esses resultados são consistentes com análises de marcadores celulares que demonstraram predomínio de linfócitos atípicos na febre hemorrágica do dengue através da citometria de fluxo. Esses linfócitos atípicos são, na maioria, linfócitos CD 19 positivos, além disso, são mais frequentes no dia da alta do que na admissão do paciente, relacionando-se com o início da fase de convalescença da doença.
Em conclusão, as principais alterações hematológicas foram: a leucopenia, a plaquetopenia, a linfopenia e a presença de linfócitos atípicos. A febre hemorrágica do dengue apresentou linfopenia e plaquetopenia mais acentuadas e maior número de linfócitos atípicos. As alterações hematológicas da FHD apresentaram evolução diária semelhante às encontradas no dengue clássico, exceto a plaquetopenia, que ocorreu mais precocemente na FHD.
SOROLOGIA
O diagnóstico laboratorial da dengue pode ser feito por métodos sorológicos e virológicos, indicados em momentos distintos da doença. Os critérios de indicação e realização dos mesmos podem variar de acordo com a situação epidemiológica no local. Segue abaixo figura demostrando a dinâmica do aparecimento dos anticorpos na infecção pelo virus dengue para facilitar o entendimento do diagnostico laboratorial. O método de escolha para diagnóstico de rotina da dengue é a sorologia. Anticorpos da classe IgM podem ser detectados à partir do sexto dia do início dos sintomas, embora em infecções secundárias (situação em que já houve uma infecção por outro sorotipo anteriormente) sua detecção possa ocorrer a partir do segundo ou terceiro dia, permanecendo em média por 90 dias. Esse período de positividade extenso pode interferir no diagnóstico de outras quadros infecciosos, como por exemplo, um paciente infectado de forma assintomática há mais de um mês, apresenta uma síndrome febril por outra causa e na investigação é solicitada sorologia de dengue. Anticorpos da classe IgG podem ser detectados à partir do 90 dia na infecção primária e já estar detectável desde o primeiro dia nas infecções secundárias. A indicação de realização de sorologia pode ser limitada, em determinada região, por determinado período, quando existir situação de epidemia. Os métodos virológicos tem por objetivo identificar o patógeno e monitorar o sorotipo viral circulante. Devem ser coletados preferencialmente nos 3 primeiros dias, até o 50 dia após início dos sintomas. Consistem no isolamento viral, detecção do genoma viral e detecção de antígenos virais, métodos geralmente disponíveis nos laboratórios de referênciaestaduais e nacionais e de indicação definida pela Vigilância Epidemiológica. A indicação desses exames pode ser ampliada em períodos inter-epidêmicos. O teste rápido para detecção do antígeno viral NS1, proteína não estrutural importante para a replicação viral, é positivo no período inicial da infecção. Tem como objetivo principal estabelecer o diagnóstico o mais rapidamente possível em pacientes com sinais de gravidade, para que as medidas de cuidado sejam prontamente instituídas. Deve ser realizado preferencialmente nos primeiros três dias do início dos sintomas. A presença do antígeno NS1 é indicativo de doença aguda e ativa, porém um resultado negativo, diante de um quadro suspeito de dengue, não exclui o diagnóstico. Ressalte-se que a agilidade em reconhecer os casos suspeitos de dengue tem repercussões importantes tanto para a saúde do indivíduo quanto para a saúde coletiva. A identificação e acompanhamento diário de pessoas com risco de apresentar quadros mais graves, a detecção de sinais de alerta e a implementação oportuna da hidratação são fatores da assistência que podem determinar impacto favorável na evolução clínica dos pacientes. A atenção primária tem papel fundamental nesse contexto, como porta preferencial do sistema, desenvolvendo ações na promoção, prevenção e assistência, dentro das Unidades Básicas de Saúde, nos domicílios e demais espaços comunitários. Resposta antígeno-anticorpo na infecção por dengue  
OLIVEIRA, Éveny Cristine Luna de et al . Alterações hematológicas em pacientes com dengue. Rev. Soc. Bras. Med. Trop.,  Uberaba ,  v. 42, n. 6, p. 682-685,  Dec.  2009 . 
Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Diretoria Técnica de Gestão. Dengue : diagnóstico e manejo clínico: adulto e criança . – 4. ed. – Brasília, 2013.

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