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RESIDÊNCIA MÉDICA GUERZONI 297 Introdução Esôfago: - 1/3 proximal: MEE - 2/3 distal: ML A disfagia pode ser de 2 tipos: 1) Transferência (alta): dificuldade em iniciar deglutição, passar alimento da boca p/ esôfago. O que mais chama a atenção não é a disfagia. ENGASGO Doenças musculares (polimiosite, miastenia) Doenças neurológicas (AVE, Sd 1º neurônio, ELA) 2) Condução (baixa): dificuldade de passar alimento do esôfago ao estômago mais chama na atenção: disfagia ENTALO Obstrução mecânica (divertículo, anéis, estenose, tumor) Distúrbio motor (acalásia, esclerodermia, EED) Disfagia de condução (“entalo”) Quadro clínico: halitose + regurgitação + ↓ peso • Halitose (alimento preso em decomposição) • Regurgitação (ao se abaixar) com risco de broncoaspiração • ↓ Peso (não se alimenta bem) Abordagem Inicial: ESOFAGOGRAFIA BARITADA (não é padrão ouro, mas é método inicial) Obstrução mecânica: - Divertículo - Anéis e membranas - Estenose péptica (complicação DRGE) - Tumor Distúrbio motor: - Acalasia (Chagas, idiopática) - Esclerodermia - Espasmo Esofagiano Difuso CIR2: SÍNDROME DISFÁGICA E DISPÉPTICA RESIDÊNCIA MÉDICA GUERZONI 298 Divertículo de Zenker (faringoesofágico) Hipertonia do EES ↑ força p/ engolir enfraquecimento da parede esofágica (Triângulo de Killian) herniação da mucosa e submucosa Divertículo falso (apenas mucosa e submucosa) ou de pulsão (“expulsão”) Divertículo + comum do esôfago É mais comum à esquerda Esfíncter esofagiano superior é formado pelos músculos: • Cricofaríngeo (fibras circulares) • Tireofaríngeo é o que faz força (fibras oblíquas) Divertículo em tamanho considerável comprime esôfago e gera sensação de entalamento. Divertículos Zenker Médio–esofágico Epifrênico Localização Hipofaringe Esôfago médio Distal (diafragma) Mecanismo Pulsão Tração Pulsão Causas Enfraquecimento da parede esofágica Doença mediastinal Sd Ehlers-Danlos Sinceridade Falso Verdadeiro Falso Clínica: ≈ 70 anos, disfagia, halitose, regurgitação Paciente sente uma bolsa no pescoço que alivia com a digito pressão. Diagnóstico: Esofagografia baritada (em perfil) Evitar EDA pelo risco de perfuração e mediastinite Tratamento: Miotomia (cricofaringomiotomia p/ aliviar pressão do EES) +/- abordagem do divertículo Obs.: Pexia = Fixar Obs.: Comunicar luz do esôfago - luz do divertículo = diverticulotomia. Tamanho Conduta < 2 cm miotomia ≥ 2 cm miotomia + - diverticulopexia (até 5 cm) - diverticulectomia (> 5 cm) ≥ 3 cm EDA (miotomia + diverticuloctomia) RESIDÊNCIA MÉDICA GUERZONI 299 Acalásia Mais comum = Idiopática/ Primária (Auerbach) Norte do país = Secundária, pensar em Chagas (Auerbach + Meissner) “Calasia = Relaxamento” // “Acalasia = Falta de Relaxamento” Fisiopatologia: - Destruição do plexo de Auerbach - Hipertonia do EEI (pressão > 35 mmHg) - Perda do relaxamento do EEI - Peristalse anormal = não conduz alimento e entala. Pode aperistalse. Clínica (tríade clássica): - Halitose, disfagia, regurgitação (alimentos não digeridos), emagrecimento (DD com câncer) Obs.: câncer = quadro rápido (meses), ↑ emagrecimento, + velhos Obs.: acalasia = quadro arrastado (anos), ↓ emagrecimento, + jovens Diagnóstico: Rx tórax = ausência de bolha gástrica, massa mediastínica e nível hidroaéreo (material no esôfago) Esofagografia baritada = sinal do bico de pássaro / vela. Dilatação esofágica, falhas de enchimento EDA (realizar sempre) = descartar neoplasia e ver complicações Padrão ouro = esofagomanometria (PPH) - 1. Perda de relaxamento EEI - 2. Hipertonia EEI (pressão > 35 mmHg) - 3. Peristalse anormal Perda do relaxamento EEI + Hipertonia EEI + Peristalse anormal RESIDÊNCIA MÉDICA GUERZONI 300 Tratamento: Classificação de Mascarenha / Rezende (Rezende é 4, 7 e 10): Estágio I: até 4 cm (hipertonia sem dilatação) Estágio II: 4 – 7 cm Estágio III: 7 – 10 cm Estágio IV: > 10 cm (dolicomegaesôfago / esôfago em sigmoide) Estágios iniciais: Estágio I – Nitrato, sildenafil, antagonistas canal de cálcio, “botox” Estágios avançados: Estágio II – Dilatação pneumática por balão Estágio III – Cardiomiotomia a Heller (refluxo) + fundoaplicatura (evitar refluxo) Estágio IV – Esofagectomia (dolicomegaesôfago > 10 cm diâmetro) Ajuda na prova → SABISTON: cirurgia tende a ser mais eficaz e segura Obs.: acalasia é fator de risco para CA de esôfago (epidermoide / escamoso) Anel de Shatzki Fisiopatologia: estreitamento laminar em corpo de esôfago Associado à hérnia de hiato Etiologia: indefinida, ingestão de grandes pedaços de alimentos pode desencadear o processo: → “Síndrome de Steakhouse” Clínica: disfagia intermitente (principalmente sólidos = pedaço de carne, por isso Steakhouse) Tratamento: dilatação endoscópica Sd Plummer Vinson = anel hipofaríngeo + anemia ferropriva (+ alto) Disfagia lusória = anormalidade do arco aórtico que comprime esôfago + comum: subclávia direita que emerge da aorta descendente RESIDÊNCIA MÉDICA GUERZONI 301 Espasmo esofagiano difuso Ocorre mais em mulheres depressivas e que choram a toa Fisiopatologia: contração difusa dos 2/3 inferiores da musculatura esofágica Clínica: disfagia, dor retroesternal que alivia com nitrato (DD: IAM - aqui sem disfagia) Diagnóstico: Esofagografia baritada = esôfago em saca-rolha Esofagomanometria (com teste provocativo) = contrações vigorosas e simultâneas + relaxamento NORMAL do EEI Tratamento: Nitratos, antagonistas de canal de cálcio, tricíclicos (Acalasia estágio I) Refratário = Miotomia longitudinal Esôfago em quebra-nozes Fisiopatologia: hipertrofia das fibras musculares esofágicas Clínica: disfagia e dor retrosternal. Diagnóstico: Esofagomanometria = contrações de ALTA AMPLITUDE e ALTA PRESSÃO Tratamento = Nitratos, Antagonistas de canal de cálcio Diagnóstico Diferencial Diagnóstico Diferencial Acalasia Espasmo esofagiano difuso Esôfago em quebra- nozes Clinica Disfagia, regurgitação e emagrecimento Disfagia e dor retroesternal (alivia com nitrato) Disfagia e dor retroesternal Esofago- manometria Peristalse anormal Perda relaxamento EEI Hipertonia EEI (> 35 mmHg) Contrações vigorosas e simultâneas Relaxamento normal do EEI Contrações de ALTA amplitude e ALTA pressão Tratamento I (< 4): nitrato, bloqueador canal Ca+2 II (4-7): balão III (7-10): cardiomiotomia a Heller + fundoplicatura IV (>10): esofagectomia Igual I = nitrato, bloqueador canal Ca+2 Igual I = nitrato, bloqueador canal Ca+2 RESIDÊNCIA MÉDICA GUERZONI 302 Tumores benignos e malignos Benignos Mais comum = Leiomioma EDA: cresce a partir do músculo e não invade mucosa (mostra mucosa abaulada aspecto arredondado) Esofagografia baritada: mucosa normal e abaulada Malignos Escamoso / Epidermoide = + comum. Esôfago médio. Adenocarcinoma = esôfago distal. Síndrome dispéptica Presença de 1 dos 3 sintomas: 1) Dor ou queimação epigástrica / retroesternal 2) Plenitude pós-prandial (comida por muito tempo no estômago) 3) Saciedade precoce (estômago cheio antes de terminar a refeição) As 5 principais causas são: DRGE, úlcera péptica, câncer, doença biliar, dispepsia funcional Sinais de alarme: hematêmese, perda ponderal, icterícia, massa palpável, linfadenopatia, história familiar, gastrectomia parcial prévia, disfagia, odinofagia ACG 2017 sugere: DISPEPSIA + 1) > 60 anos: EDA 2) > 45 anos em alguns países (Brasil): EDA 3) < 45 anos e sem sinais de alarme: história de neoplasia gástrica prévia (óbvio), gastrectomia parcial prévia e imigrante de país com prevalência p/ CA gástrico = EDA Doença orgânica(25%) Sem causa aparente (75%) Doença biliar Dispepsia funcional Câncer DRGE Úlcera péptica RESIDÊNCIA MÉDICA GUERZONI 303 Algoritmo Dispepsia Dispepsia funcional Consenso de Roma IV: 6 meses com sintomas e ativos nos últimos 3 meses Conceito: EDA normal 1. Pesquisa H. pylori, não melhorou: 2. IBP, não melhorou: 3. Tricíclico, não melhorou: 4. Pró-cinético RESIDÊNCIA MÉDICA GUERZONI 304 DRGE Fisiopatologia = perda dos mecanismos antirrefluxo - EEI hipotônico e com relaxamento transitório - Alteração anatômica da junção esofagogástrica: perda da angulação, hérnia de hiato - Déficit esvaziamento gástrico (diabetes) e ↓ saliva (Sjögren) Quadro clínico: 1) Sintomas esofagianos: Pirose (queimação) e regurgitação (ácido na boca) - sintomas típicos Obs.: pirose é exclusiva do refluxo (Sabiston) Complicações (presentes em 50% na EDA): - Esofagite (+ comum) - Úlcera - Estenose péptica (evolui com disfagia. Tratamento: dilatação pneumática) - Barret 2) Sintomas extraesofagianos Faringite, rouquidão, tosse crônica e broncoespasmo (ácido no estômago distal causa reflexo vagal), pneumonia de repetição (sintomas atípicos) Diagnóstico clínico: pirose (+ comum) + regurgitação EDA normal não exclui DRGE (complicações presentes em 50%). Mais indicado p/ afastar câncer e avaliar complicações Phmetria de 24h (padrão ouro) 1. Sintomas típicos refratários com EDA normal 2. Confirmação antes da cirurgia Impedanciometria esofágica - Refluxo ácido e não ácido - + sensível e específico que pHmetria (provável futuro padrão ouro) Pegadinha clássica: H. pylori NÃO ESTÁ ASSOCIADA A DRGE RESIDÊNCIA MÉDICA GUERZONI 305 I Idade > 45 anos H Histórico familiar de CA H Hematêmese O Odinofagia / disfagia A Anemia L Linfadenopatia A Amarelão (icterícia) R RAAAUUULLL (vômitos) M Massa abdominal E Emagrecimento Classificação de Savary Miller (esofagite de refluxo): I-III: Erosão (I = 1 prega/ II = ≥ 2 pregas / III = 360º - circular) IV: úlcera ou estenose péptica V: Barret = biópsia!!! Erosão (restrita à mucosa) X Úlcera (pelo menos muscular da mucosa) RESIDÊNCIA MÉDICA GUERZONI 306 Tratamento do DRGE 1) Medidas antirrefluxo 2) Tratamento farmacológico 3) Tratamento cirúrgico (1) Medidas antirrefluxo - ↓ Peso, ↑ cabeceira e evitar comer 2 – 3h antes de deitar-se (se sintomas noturnos) - Eliminar alimentos que pessoalmente causem sintoma (2) Tratamento farmacológico Objetivo: ↓ acidez / Duração: 8 semanas (6 – 12 em algumas referências) IBP em “dose plena”: omeprazol 20 mg (panto 40mg, esome 40mg, lanso 30mg) – 30-60 minutos antes das refeições (pela manhã - ↑ “bombas de prótons” p/ inibir) *Recorrência (melhora e após recorre) = IBP sob demanda (preferível) ou crônico *Sem melhora = IBP em dose dobrada + 12 semanas (2x / dia) ↓ *Refratário = EDA / avaliar cirurgia Obs.: uso crônico de IBP relacionado à demência Obs.: bloqueadores-H1 não têm muito benefício (3) Tratamento cirúrgico Indicações: - Refratariedade (sintoma mesmo com IBP 2x), recorrência, preço X tempo - Alternativa ao uso crônico dos IBP - Complicações: estenose / úlcera Fundoaplicatura = tratamento padrão. Fazer antes da cx: pHmetria de 24h + Esofagomanometria - Confirmar DRGE - escolha da técnica (definir se há aperistalse) FUNDOAPLICATURA DE NISSEN – 360º (total): - Cura qualquer refluxo, cria um esfíncter muito eficaz (escolha) Contraindicações (manometria): cx pode bloquear trânsito alimentar 1) < 30 mmHg no esôfago distal 2) < 60% atividade peristáltica Complicações PO: disfagia - SD pós-fundoplicatura Aperistalse = realizar FUNDOAPLICATURA PARCIAL: - Anterior (técnicas de DOR, THAL) - Posterior (TOUPET, LIND). Macete: p/ TOUPETe ficar LINDo, jogar pra posterior RESIDÊNCIA MÉDICA GUERZONI 307 Barret (pré-adenocarcinomatosa) - Acidez crônica no esôfago = metaplasia intestinal (epitélio escamoso colunar) - É mais resistente (↓ sintomas de DRGE) - 10% dos pacientes com DRGE (0.5% ao ano) Lesão pré adenocarcinomatosa - Principal fator de risco p/ adenocarcinoma de esôfago - ↑ chance: brancos, homens, etilismo, tabagismo e obesidade Diagnóstico = histológico com metaplasia intestinal (células caliciformes) EDA SUGERE Barret com áreas de cor vermelho salmão... biopsiar!!! Metaplasia → displasia → neoplasia Síndrome de Mallory-Weiss - Lesão de mucosa - Maioria hérnia de hiato - Maioria 2 cm da JEC - Maioria UMA laceração na cárdia - 5-10% das hemorragias digestivas Tratamento do BARRET IBP 1x / dia ad eternum (mesmo assintomáticos) Consenso de 2015 do CAG: p/ todos “prazol” + ... Histologia Conduta Metaplasia (sem displasia) EDA a cada 3 - 5 anos Displasia baixo grau Ablação endoscópica (preferível) ou EDA em 12 meses Displasia alto grau (Ca in situ) Ablação endoscópica Adeno CA invasivo Esofagectomia Resumindo: displasia = ablação Cirurgia de refluxo NÃO diminui ou regride esôfago de Barret RESIDÊNCIA MÉDICA GUERZONI 308 Úlcera péptica Fisiopatologia - Local = duodeno ou estômago - Agressão = ácido!!! - Facilitadores = H. pylori, AINEs - Desbalanço agressão / proteção Fisiologia gástrica Fundo: Células parietais (bomba de H+) Antro: Células G = Gastrina (estimula célula parietal) Células D = inibe (“DEsestimula”) Gastrina = somastatina N. Vago, Gastrina e Histamina = estimulam H+ pelas células parietais (VGH) Como ↓ acidez? - IBP (bloqueia toda bomba) - Bloqueadores histamínicos (bloqueia parcialmente, menos eficaz) - Vagotomia / Antrectomia Quadro clínico e diagnóstico: Úlcera gástrica → dispepsia piora com alimentação Úlcera duodenal → dispepsia piora 2 – 3h após alimentação e à noite < 40 anos e sem sinal de alarme: diagnóstico presuntivo de úlcera > 40 anos: diagnóstico por EDA Úlcera gástrica (câncer?): Biopsiar sempre / Controle de cura (nova EDA) Obs.: úlcera duodenal raramente é CA (geralmente pólipo) Tratamento da úlcera péptica: 1. Reduzir acidez: IBP 4 – 8 semanas 2. Questionar AINEs 3. Pesquisar e erradicar H. pylori (úlcera = pesquisar H. pylori) - EDA: teste rápido da urease (escolha, IBP ↓ sens.) / histologia - Sem EDA: teste de ureia respiratória (escolha) / antígeno fecal / sorologia Erradicação - 14 dias (mudou junho/2018) Claritromicina 500 mg 2x/dia Amoxicilina 1g 2x/dia Omeprazol 20 mg 2x/dia 4. Controle: úlcera gástrica (nova EDA) e H. pylori (4 semanas após: NÃO sorologia) Sorologia +: mesmo após erradicação: não realizar para controle!!! RESIDÊNCIA MÉDICA GUERZONI 309 AINES COX 1 – PG do bem: barreira mucosa COX 2 – PG do mal: inflamação AINES: - Inibidores não seletivos (ibuprofeno, cetoprofeno, diclofenaco): ↓ barreira mucosa e permite agressão ácida - Inibidores seletivos da COX-2 (coxibes): ↓ risco de úlcera, ↑ agregação plaquetária (IAM e AVC) Helicobacter pylori - 80-95% das úlceras duodenais / 75% das úlceras gástricas / 50% das pessoas estão colonizadas / Transmissão oral-oral / Bacilo Gram negativo flagelado Mecanismos: (1) Infecção no antro (↑ gastrina) = hipercloridria = úlcera péptica (2) Infecção disseminada: ↓ TODAS as células (ácidas e antiácidas) = hipocloridria + ↓ barreira → úlcera péptica (pouco ácido faz lesão) Prova: H. pylori associada ao Linfoma MALT (hiperestimulação de linfócitos B) Quando pesquisar / erradicar H. pylori: - Úlcera péptica - Linfoma MALT (regride com erradicação) - Dispepsia funcional - Adenocarcinoma gástrico: pós gastrectomia por CA, metaplasia intestinal no estômago, parente de 1º grau com CA. - AINEs (↓ barreira) - Anemia ferropriva inexplicada / PTI - Gastrite atrófica INTENSA - ↑ risco de úlcera (idosos, úlcera prévia,antiagregante) PEGADINHA HARD: DRGE e gastrite não são indicações!!! SEGUIMENTO P/ AVALIAR CURA: Úlcera péptica → após 4 semanas. Linfoma malt → após 4 semanas. ÚLCERA sem AINEs ou H. PYLORI? Sd Zollinger-Ellison (Gastrinoma) Múltiplas úlceras gástricas refratária Local mais comum = 1ª porção do duodeno 60% malignos Diagnóstico: gastrina > 200 RESIDÊNCIA MÉDICA GUERZONI 310 Cirurgia na úlcera péptica Indicações: refratariedade, recidiva, perfuração, hemorragia refratária e obstrução Localização das úlceras conforme acidez: Hipercloridria (“base”) • Duodenal • Gástrica II (corpo gástrico) • Gástrica III (pré-pilórica) Hipocloridria (“ápice”) • Gástrica I (pequena curvatura baixa + comum) • Gástrica IV (pequena curvatura alta) Importante pois ajuda a definir o tipo de cirurgia que será realizada (não tem sentido seccionar nervo vago se é hipocloridria) Existem leis p/ cada caso: Lei Nº 1: hipercloridria = vagotomia +/- antrectomia Lei Nº 2: úlcera gástrica = remover úlcera (risco de câncer). Em geral remove a área gástrica com a úlcera (gastrectomia) RESIDÊNCIA MÉDICA GUERZONI 311 Úlcera duodenal (PA SP): ÚLCERA ANTERIOR: perfura = PA ÚLCERA POSTERIOR: sangra (a. gastroduodenal) = SP Macete: PA (perfura anterior) / SP (sangra posterior) Procedimento: vagotomia +/- antrectomia Vagotomia troncular: vago relaxa piloro. Sem relaxamento do piloro, é necessário sempre associar a um dos processos, caso contrário não ocorrerá esvaziamento gástrico: - Vagotomia troncular + Piloroplastia (mais utilizada) - Vagotomia troncular + antrectomia (↓ ação da gastrina) = ↑ complicações e ↓ recidiva - Vagotomia gástrica proximal (superseletiva) = ↑ recidivas e ↓ complicações Como reconstruir o trânsito? 1) Gastroduoedenostomia – Billroth I (B1): “juntar os cotos” 2) Gastrojejunostomia – Billroth II (B2): jejuno ao estômago + alça aferente 3) Vagotomia superseletiva / gástrica proximal: secção de ramos proximais (não afeta piloro: não precisa piloroplastia / antrectomia RESIDÊNCIA MÉDICA GUERZONI 312 Úlcera gástrica (hipercloridria = “base” / hipocloridria = “ápice”) Tipo I = hipocloridria = antrectomia (gastrectomia distal) + reconstrução a B1 Não faz vagotomia, mas tem que retirar a úlcera. Logo, se faz uma antrectomia para retirar a área que abriga a úlcera. Corrige a B1 por ser mais simples, embora possa ser feito B2. Úlcera + comum. Tipo II = hipercloridria Vagotomia troncular + antrectomia (gastrectomia distal) + reconstrução a B2 Tipo III = hipercloridria Obs: tipo II estende-se até corpo, embora os livros citem apenas antrectomia. Tipo IV = hipocloridria = gastrectomia subtotal + reconstrução em Y de Roux Não consegue realizar B1 ou B2 pois o remanescente gástrico está muito alto. Complicações cirúrgicas: 3 principais São elas: Sd Dumping (BII), Gastrite alcalina (BII) e Sd da alça aferente (BII) O que mais tem caído é Sd da alça aferente. SD de Dumping SD Alça Aferente Gastrite Alcalina RESIDÊNCIA MÉDICA GUERZONI 313 Sd de DUMPING (“derramamento”): ↓ barreira pilórica após BII, alimento "derrama” diretamente no duodeno 1) Dumping precoce: 15 – 20 min após alimentação HIPOvolemia Alça intestinal se distende devido à quantidade de alimento hiperosmolar - Sintomas gastrointestinais: dor, náusea, diarreia explosiva. - Sintomas vasomotores: duodeno distendido libera hormônios vasoativos (serotonina, bradicinina) taquicardia, palpitação, rubor, “flushing”. Hipotensão pode ocorrer por hipovolemia (a alça puxa líquido por osmose) 2) Dumping tardio: 2 – 3h após alimentação HIPOglicemia ↑ alimentos (hiperglicemia) → ↑ insulina → hipoglicemia após 2-3h Tratamento: - Deitar-se após alimentação (lentifica trânsito) - Fracionar a dieta - Grave ou refratário: gastrectomia + reconstrução Gastrite alcalina (gastropatia por refluxo biliar): refluxo biliar e pancreático p/ estômago causando gastrite. Mais comum após BII (BI a bile teria que correr sentido antiperistáltico) Clínica: dor contínua, vômitos, sem melhora com vômito (inflamado = gastrite!!) Tratamento: Y de Roux (remover alça aferente) Colestiramina (quelante de sal biliar, inativa bile) = atenua sintomas, mas não resolve o refluxo pancreático Sd da alça aferente: Única que complica é a BII, pois é a única reconstrução que cria essa alça. Angulação da alça aferente → semi-obstrução → distensão da alça por suco pancreático e bile → dor abdominal pós-prandial (libera mais bile e suco pancreático) → desobstrução → vômito em jato e melhora da dor. Clínica: dor que melhora (elimina o líquido que estava distendendo) com os vômitos (biliosos e em jato) Tratamento: Y de Roux RESIDÊNCIA MÉDICA GUERZONI 314 Por que então não faz Y de Roux em todo mundo p/ evitar complicações supracitadas? Porque essa cirurgia é maior, faz mais anastomoses entéricas, o que aumenta o risco de complicações como fístulas e deiscência de sutura. Além disso, essas complicações acimas não são comuns. Complicações (PA / SP) 1) Sangramento (+ comum) Local mais comum = parede posterior do duodeno. 2) Perfuração (2a + comum) Local mais comum = parede anterior do duodeno. Quadro clínico = dor abdominal, Sinal de Joubert (timpanismo em HD na área de macicez hepática) Tratamento - Clínico: atb amplo espectro + IBP + SNG + hidratação - Cirúrgico: ulcerorrafia, proteção do omento (patch/tampão Graham) + vagotomia troncular com antrectomia / piloroplastia (se estável e perfuração < 24h) Macete: PA SP. Perfuração anterior e Sangramento posterior. 3) Obstrução Esofagite Eosinofílica Geralmente é induzida por alguns alimentos alergênicos. DRGE a princípio refratária a IBP RESIDÊNCIA MÉDICA GUERZONI 315 Neoplasia Endócrina Múltipla I (NEM-1 / SD Wermer) Lembrar os 3 P’s (Pâncreas, Pituitária e Paratireoide) - Gastrinoma (pâncreas, mas pode vir da parede do duodeno) - Prolactinemia - Hiperparatireoidismo Questão de prova: galactorreia, reabsorção óssea aumentada, litíase renal, múltiplas úlceras gástricas que não melhoram, seguido de perfuração abdominal e pneumoperitônio = NEM 1 (Sd de Wermer) SD Zollinger-Ellison (gastrinoma) Células tumorais no pâncreas (células NÃO betas) Células produtoras de gastrina no estômago Quando suspeitar? Úlceras múltiplas, refratárias e não associadas a H. pylori e AINEs Local + comum = parede duodenal Confirmação 1. Gastrinemia > 1000 pg/ml 2. pH gástrico < 2.5 3. Teste da secretina (↑ gastrinemia) RESIDÊNCIA MÉDICA GUERZONI 316
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