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RESIDÊNCIA MÉDICA GUERZONI 327 Introdução Abdome agudo, pode ser: Clínico X Cirúrgico 1. Intoxicação por Chumbo X 1. Apendicite 2. Porfiria X 2. Diverticulite 3. Febre tifoide X 3. Pancreatite 4. Isquemia mesentérica 5. Colecistite Difusa: chumbo / porfiria // isquemia / obstrução Andar superior: pancreatite crônica // pancreatite aguda Andar inferior: febre tifoide // apendicite / diverticulite Abdome + neuro = lembrar de intoxicações Dor abdominal + distensão + hiperperistalse = obstrução em fase inicial / porfiria Dor abdominal + distensão + hipoperistalse = obstrução em fase tardia / íleo paralítico Intoxicação por chumbo (Saturnismo) Fontes de exposição: - Mineradoras - Baterias - Indústria automobilística - Tintas (brinquedos, pintores) - Projéteis (menos provável) - Destilados clandestinos (chumbo acelera a fabricação dos destilados) Manifestações clínicas: 3 A’s (Abdome, Anemia e Amnésia) + exposição a) Gastrointestinais (chumbo lentifica enzimas digestivas = ↑ metabólitos tóxicos) - Dor abdominal, náuseas, vômitos, anorexia b) Hematológicos - Anemia hipocrômica/microcítica (dificulta síntese da hb) - Hemólise: reticulócitos normais ou levemente aumentados (contrário a ferropenia) Hematoscopia: hemácias grandes com pontilhados basofílicos (núcleos) c) Neurológicos - Encefalopatia aguda / demência / amnésia d) Renais - Afeta túbulo renal (nefrite proximal) e) Outras: - HAS / Gota (↓ excreção ácido úrico) / infertilidade (impregnação gonadal) - Linha gengival (linha de Burton) CIR4: SÍNDROME ÁLGICA, DOR ABDOMINAL RESIDÊNCIA MÉDICA GUERZONI 328 Diagnóstico: - Chumbo sérico > 25 mcg/dl (pode variar) Tratamento: - Interromper exposição - Quelantes: DMSA, dimercaprol, EDTA Porfiria Distúrbio na síntese da porfirina da heme: “acúmulo de porfirinas ou seus precursores quando faltam enzimas à síntese da heme” Hemoglobina = HEME + Globina (2 alfa + 2 beta) HEME = Ferro + Protoporfirina IX (porfirina) Resumo: Succinil CoA → ácido aminolevulênico → 7 reações → Porfirina Há vários tipos de Porfiria, cada uma delas afeta uma das 7 reações Onde a porfirina atua? • Medula óssea (eritropoieticas) sintomas de fotossensibilidade • Fígado: síntese citocromo P450 sintomas neuroviscerais Porfirina cutânea tarda (doença do lobisomem / vampiro): Defeito: Uroporfirinogênio descarboxilase = acúmulo de metabólitos dessa via Quadro clínico: hipertricose / lesões cutâneas (área de exposição solar) / NÃO HÁ quadro TGI Porfiria Intermitente aguda: - ↓ HMB-SINTASE (ou PBG sintase) e ↑ ALA e PBG (metabólitos) Clínica: • Dor / distensão abdominal em surtos intermitentes • Hiperatividade simpática (crises adrenérgicas que lembram feocromocitoma) • Neuropatia (fraqueza, lembra Guillain-Barré) • Convulsão • Distúrbios psiquiátricos Fatores precipitantes: • Álcool / tabagismo / medicamentos / infecções / cirurgias • Chumbo = inibe síntese da porfirina em 3 vias (chumbo faz porfiria) RESIDÊNCIA MÉDICA GUERZONI 329 Diagnóstico (urina de 24h): dosam-se os metabólitos • Porfobilinogênio urinário (PBG) > 50 mg/dia • ALA urinário > 20 mg/dia Obs.: precursores causam arroxeamento da urina Tratamento: suspender precipitantes + ↓ ALA e PBG... - Heme (hematina / arginato): interrompe a via por feedback negativo (caro) - Carboidratos (SG 10%): via relacionada (barato) Febre Tifoide (Febre Entérica) Conceitos: febre + bradicardia → Sinal de FAget - Febre Tifoide / Febre Amarela (epidemiologia, icterícia) Agente: Salmonella entérica (sorotipo Typhi) Fontes: água, alimentos e contato Facilitadores: ↑ carga bacteriana / ↑ pH gástrico / ↓ barreira intestinal Fisiopatologia: bactéria p/ delgado, tropismo pela placa de Peyer (íleo). Macrófago não destrói após fagocitar migração p/ MEDULA, BAÇO, FÍGADO → fezes Quadro clínico 1ª – 2a semana = bacteremia - Sinal de FAgeT, dor abdominal - Diagnóstico: hemocultura (+) 2ª – 3ª semana = hiperatividade - Rash (roséolas tifíticas), hepatoesplenomegalia, torpor - Diagnóstico: mielocultura (+ sensível) / biópsia / sorologia (não diferencia agudo x crônico) Complicações: sangramento intestinal (+ comum) / perfuração (+ grave, ileal) 4ª semana = convalescença - Controle de cura: coprocultura - Portador crônico (< 5%): idosa, doença biliar (tropismo pela litíase) Diagnóstico - Mielocultura (+ sensível p/ todas as fases) - Biópsia: pele (roséolas) / intestino (placas de Peyer) Tratamento - Gram negativa entérica: Ceftriaxone ou ciprofloxacino +/- dexametasona (grave) Obs.: MS – cloranfenicol pode ser 1a linha Profilaxia: Vacina (↓ imunogenicidade) – benefício p/ viagem às áreas endêmicas RESIDÊNCIA MÉDICA GUERZONI 330 Apendicite aguda Apêndice = intestino em miniatura, com todas as camadas e luz, colonizado por bactérias e produz muco. Ponto de Mcburney: onde é mais encontrado apêndice (linha da cicatriz umbilical à crista ilíaca anterossuperior, terço médio com lateral) Fisiopatologia: 1) Obstrução da luz: fecalito (+ comum), corpo estranho, hiperplasia linfoide, tumor 2) ↑ Bactérias (E. coli e Bacteroides fragilis) e muco 3) Distensão (peritônio visceral – fibras não mielinizadas plexo mesentérico superior com localização periumbilical dor vaga) e inflamação 4) Isquemia após 12 – 24h: peritônio parietal – fibras mielinizadas dor em FID Classificação laparoscópica: 1) Edematosa / catarral (inflamação): ap + atbprofilaxia 2) Úlcero-flegmonosa (edema): ap + atbprofilaxia 3) Gangrenosa (necrose): ap + atbterapia + drenagem 4) Perfurativa (perfuração): ap + atbterapia + drenagem + lavagem cavidade Clínica: “Dor periumbilical (visceral) que migra p/ FID (parietal) + sinais clássicos” Anorexia / náuseas / vômitos / febre / disúria - Schwartz: apendicite deve ser precedida por anorexia (do contrário duvidar do dx) - Sabinston: dor periumbilical que migra p/ FID é o dado mais importante Obs.: ponta do apêndice próximo ao ureter: pode disúria Obs.: gestante pode haver dor em flanco Sinais clássicos: - Blumberg: dor a descompressão súbita do ponto de McBurney - Rovsing: dor em FID ao pressionar FIE - Iliopsoas: dor em FID com extensão da perna em DLE - Obturador: dor em FID a flexão da coxa + rotação interna do quadril (bom p/ avaliar AP pélvica) - Dunphy: dor em FID que piora com a tosse - Lenander: T retal > T axilar ≥ 1ºC, devido a inflamação pélvica. Não é específico = qualquer abdome agudo inflamatório!!! RESIDÊNCIA MÉDICA GUERZONI 331 Diagnóstico é clínico? Cuidado: Situação: Conduta: Probabilidade alta (história clássica, homem) Diagnóstico = clínico Probabilidade intermediária / dúvida (criança, idoso, mulher) Solicitar imagem: - USG / RNM (mulher idade fértil, gestantes, crianças) - TC: idoso, homem ou não gestante Rx? Ruim (mas pode ver fecalito) Escore de alvarado Sintomas Migração da dor 1 Anorexia 1 Náuseas e/ou vômitos 1 Sinais Inflamação em quadrante inferior direito 2 Descompressão dolorosa 1 Aumento da temperatura 1 Leucograma Leucocitose 1 Desvio p/ esquerda 1 Total: 10 Sensibilidade e especificidade do USG semelhante à TC. Tendência é TC tornar-se padrão-ouro. - USG: - Borramento de gordura periapendicular (hipoecoica) - Espessamento da parede > 7 mm - Apêndice não colabável - Hipervascularização ao doppler (inflamação) - TC (padrão ouro): mais detalhes, pode identificar fecalito Suspeita de complicação (massa ou tardio > 48h) = imagem Apêndice limpo? tendência remover (Crohn?) Complicação + comum da apendicectomia: infecção do TCS(abscesso de parede) RESIDÊNCIA MÉDICA GUERZONI 332 Tratamento: Conduta em gestante é igual Apendicectomia aberta ou fechada? - Sabiston: cirurgião decide - Prova: videolaparoscopia (tendência) Incisões: - Davis-Rockey (transversa) - McArthur-Mcburney (obliqua) - Infraumbilical média: grande fleimão, plastrão ou incerteza diagnóstica Classificação Conduta Apendicite simples, sem complicações e evolução < 48 h HV + NPO + antibioticoprofilaxia + apendicectomia Apendicite tardia (> 48h) ou complicada (massa) Imagem Resultado do exame de imagem Conduta Exame normal = apendicite simples Antibioticoprofilaxia + apendicectomia Abscesso (hipodensa, bem delimitada, drenável) Antibioticoterapia + drenagem + colononoscopia (4 – 6 semanas) +/- apendicectomia *Cx imediata pode peritonite* Fleimão (difusa, infiltrativa, NÃO drenável) Antibioticoterapia + colonoscopia (4 – 6 semanas) +/- apendicectomia RESIDÊNCIA MÉDICA GUERZONI 333 Colonoscopia: afastar neoplasia Apendicectomia tardia: não obrigatória Conservadora (Sabiston 2017): apendicite simples e ↑ risco cirurgico Peritonite difusa = medidas gerais + antibioticoterapia + CIRURGIA (preferir VLP) DD: linfadenite mesentérica, diverdiculite de Meckel, apendagite epiplóica, doença de Crohn, diverticulite Apendicite / Apendagite Epiploica - Apêndice Epiploico sofre torção sobre próprio eixo - IVAS prévia + diarreia + dor em FID - Tratamento: expectante (autolimitada) Doença Diverticular dos Cólons / Diverticulose Herniação da mucosa intestinal (divertículo) onde há arteríolas colônicas Ocidentais: ↑ proteína + carboidratos + ↓ fibras - Bolo fecal fino e duro: força p/ evacuar com enfraquecimento da parede nas áreas de inserção das arteríolas Idosos / assintomáticos / + comum em sigmoide (↓ diâmetro, ↑ pressão) Diagnóstico - Colonoscopia (pode retossigmoidoscopia se não insuflar gás no intestino) - Clister / Enema opaco com bário (pode se contraste hidrossolúvel) RESIDÊNCIA MÉDICA GUERZONI 334 Complicações: - Diverticulite (colon esquerdo. Fisiopatologia = apendicite) – 25% - Hemorragia (cólon direito) – 15% - Microperfurações com abcesso pericólico (abscesso p/ conter perfuração) Diverticulite aguda: “Inflamação pericolônica pela perfuração de um ou mais divertículos.” Clínica: - Apendicite do lado esquerdo = fisiopatologia - Dor em FIE que pode irradiar para flanco, coluna, suprapúbica - Prova: constipação crônica, dor há alguns dias, recorrente (pistas de diverticulose) Classificação de Hinchey: evolução natural da doença... Classificação de Hinchey = 4 PÉS Estágio I Abscesso PEricólico / mesentérico Estágio II Abscesso PÉlvico Estágio III PEritonite purulenta Estágio IV PEritonite fecal Diagnóstico: - História + exame físico - Dúvida: TC (padrão ouro) - Evitar colonoscopia e enema (risco de perfuração) Colonoscopia refeita após 4 – 6 semanas p/ afastar neoplasias Principal DD: CA retossigmoide RESIDÊNCIA MÉDICA GUERZONI 335 Conduta Complicada? (abscesso ≥ 4 cm, peritonite ou obstrução) Obs.: sempre faz ATB!!! NÃO Não opera SIM ↓ Opera Sintomas mínimos Sintomas exuberantes Abscesso ≥ 4 cm Peritonite / obstrução ATB VO + dieta líquida Se possível, tratamento ambulatorial ATB IV + HV + Dieta zero Drenagem por TC + ATB IV + Colononoscopia após 6 semanas + Cx eletiva após 6 semanas* *sigmoidectomia + anastomose 1a Fístula: cirurgia eletiva 6 semanas Cirurgia de urgência: (Hartmann) Hartmann: sigmoidectomia + colostomia + fechamento retal *Lavagem laparoscópica Não faz anastomose primária pelo risco de fístula e deiscência Hinchey: Estágio I Estágio I / II Estágio III* e IV *Lavagem laparoscópica + drenagem Atb VO: cipro + metro / atb IV: ceftriaxone + metro Estágio I nunca opera? Exceções: 1. Fístula (homem (mulher útero protege) / vesical + comum) 2. Imunocomprometidos 3. Incapaz de excluir CA *Após 2º episódio / < 50 anos = não são mais indicações! Cirurgia eletiva: sigmoidectomia + anastomose primária RESIDÊNCIA MÉDICA GUERZONI 336 Isquemia mesentérica Anatomia: Tronco celíaco: Hepática comum (fígado, vias biliares, estomago, duodeno proximal), Esplênica (baço, pâncreas, estômago) e Gástrica esquerda (estômago, esôfago inferior) A. Mesentérica superior: pâncreas, duodeno distal, íleo, jejuno, apêndice, cólon ascendente e colón transverso A. Mesentérica inferior: colón transverso distal, colón descendente, sigmoide, reto proximal (a. retal superior) *Reto distal é ilíaca interna (pudenda interna) Flexura esplênica (Griffiths) e retossigmoide (Sudeck): poucos colaterais Causas: - Embolia (50%) → cardiopatia emboligênica: FA, IAM recente (“dor desproporcional ao exame físico”) - Vasoconstricção (20%) → isquemia não oclusiva: ICC grave, sepse, choque, vasoconstrictores, cocaín - Trombose arterial (15%) → vascular: aterosclerose, insuficiência vascular periférica - Trombose venosa (5%) → hipercoagulabilidade: Fator V de Leiden, SAF, trauma. acúmulo de sangue leito venoso → refluxo retrógrado pela via arterial → aumento da pressão arterial local → isquemia Clínica: “IAM do intestino” - Dor abdominal intensa (AMS: grande segmento intestinal) - Exame físico normal: dor DESPROPORCIONAL ao exame físico. ↑ peristalse pelo influxo de cálcio gerado pela isquemia - Inversão do sinal de Lenander (T retal < T axilar) = não está chegando sangue - Acidose metabólica + ↑ lactato (metabolismo anaeróbio) - TAQUIPNEIA (compensar acidose) - Irritação peritoneal: achado tardio (necrose) Diagnóstico: -Laboratório inespecífico: leucocitose, acidose, ↑ lactato -Rx abdome: pneumatose intestinal (achados tardios) -Angio-TC (1ª escolha): espessamento, dilatação, pneumatose, falha de enchimento -Angiografia mesentérica seletiva: padrão-ouro Tratamento: Suporte: HV, DHE, antibioticoterapia, monitorização Objetivo: restaurar fluxo e avaliar viabilidade da alça TIPO CONDUTA Oclusiva (êmbolo / trombo arterial ou venoso) - Heparina + laparotomia + embolectomia / trombectomia + avaliar alça - Pós-operatório: papaverina Não oclusiva (vasoconstricção) - Papaverina intra-arterial - Refratário / irritação peritoneal: laparotomia *Papaverina: vasodilatadora, evita vasoespasmo RESIDÊNCIA MÉDICA GUERZONI 337 ISQUEMIA MESENTÉRICA CRÔNICA Causa: aterosclerose Clínica: “angina mesentérica” - Dor com alimentação (DD: pancreatite crônica) - Emagrecimento (medo de alimentar-se) - Sinais sistêmicos de aterosclerose (doença coronariana, doença arterial periférica) Diagnóstico: angiografia mesentérica Tratamento: revascularização (Cirurgia: jovem / Stent: idoso ou comorbidades) ISQUEMIA COLÔNICA (COLITE ISQUÊMICA) Doença vascular intestinal + comum Idoso (vascularização debilitada) + hipoperfusão + colite Clínica (colite): dor em cólica, diarreia mucossanguinolenta, febre, hipotensão Prova: correção de aneurisma de aorta em idoso (gera hipoperfusão) Diagnóstico: avaliar resultado da isquemia em microvasculatura - Clister opaco: sinal das impressões digitais (“thumbprinting”) - Retossigmoidoscopia / colonoscopia: edemas, úlceras e necrose Tratamento: Suporte (não revasculariza, são artérias distais) Indicações de cirurgia (colectomia parcial ou total): - Fase aguda: peritonite, hemorragia, colite fulminante - Fase crônica: estenose, obstrução - Refratariedade RESIDÊNCIA MÉDICA GUERZONI 338 Pancreatite aguda Sinal de Cullen (Central): hematoma periumbilical Sinal de Grey-Turner: hematoma em flancos Sinal de Fox: hematoma em grandes lábios (mulher), basedo pênis (homem) Dor em abdome superior que irradia p/ dorso (posição genupeitoral p/ alívio da dor) Causas: Biliar (30 – 60%): + comum, < 5 mm podem obstruir ducto pancreático, acúmulo de enzimas que se ativam no próprio pâncreas (colocalização) Álcool (15 – 30%): 2a + comum. Principal causa de pancreatite crônica Drogas (ácido valpróico, E, azatioprina, HIV – Didanosina e pentamidina) Pós-CPRE (complicações): pancreatite, perfuração duodenal e hemorragia Idiopática Pós-traumática Metabólica: hiperCa, hiperTGL Escorpião: Tytius trinitatis (raro) Criança: trauma, viroses, congênita (pâncreas divisum, anular, fibrose cística) Diagnóstico: 2 dos 3 abaixo (critérios de Atlanta): Clínica Dor abdominal em barra Náuseas e vômitos Pode icterícia Laboratório Amilase ou lipase (> 3x ) Sem relação com prognóstico Imagem TC com contraste: > 48 – 72h de TTO CLÍNICO*, pode subestimar necrose se antes. Se < 48h refazer > 48 – 72h USG: avaliar colelitíase *TC imediata: Ranson ≥ 3 / Apache ≥ 8 / dúvida / piorando Abordagem: 1º passo: causa e gravidade 2º passo: tratamento 3º passo: complicações 4º passo: avaliar alta RESIDÊNCIA MÉDICA GUERZONI 339 1º Passo: causa e gravidade Causas - Biliar = avaliar CPRE - Alcoólica = exacerbação de um quadro crônico - Medicamentosa = suspender Gravidade 1. Apache II ≥ 8: avaliação imediata, UTI 2. BISAP (mini apache) ≥ 3: BUN > 25 (nitrogênio ureico sanguíneo), ↓ nível consciência (Impaired mental status), SIRS, > 60 anos (Age), derrame pleural (Pleural effusion) 3. Ranson ≥ 3: admissão / 48h 4. PCR > 150: após 48h (persistindo inflamação) 5. Critérios de Atlanta: 1 desses achados... - Disfunção orgânica (choque, IR, IRpA) - Complicação renal (necrose, abscesso...) - Complicação sistêmica (CIVD, cálcio < 7.5 mg/dl) RANSON Admissão Biliar Após 48h Biliar L Leucocitose F Déficit de Fluidos > 16.000 > 18.000 > 6L > 4L E Enzimas (TGO) E Excesso de Base > 250 > 250 < - 4.0 < - 5.0 G Glicose C Cálcio sérico > 200 > 220 < 8 < 8 A Anos H Hematócrito > 55 > 70 (↓ 10 pts) 10 pts L LDH O Oxigênio (PaO2) > 350 > 400 < 60 NÃO U BUN (BUN= ureia x 2.14) > 5 > 2 - ETIOLOGIA BILIAR: PaO2 não é critério - TGP não faz parte (elevada sugere etiologia biliar) - Não fazem parte: amilase / lipase / bilirrubinas / TGP RESIDÊNCIA MÉDICA GUERZONI 340 2º Passo: TRATAMENTO Leve (80 – 90%): Conduta: repouso + dieta zero (inicialmente) + analgesia + antieméticos + HV + eletrólitos Analgesia: Meperidina (dolantina) - não contrai esfincter de Oddi, mas é neurotóxica ou ofentanil Graves (10 – 20%): Conduta: Leve + CTI HV: reposição volêmica (diurese > 0.5 ml/kg/h) E o antibiótico? Indicação: necrose INFECTADA Antibiótico: carbapenêmio – IMIPENEM (opção: ciprofloxacino + metronidazol) Conduta na suspeita: punção do tecido necrótico guiada por TC TC: gás no pâncreas ou tecido peripancreático (“sinal da bolha de sabão”) Necrose infectada: NECROSECTOMIA tardia (aguardar organizar - fibrose) Suporte nutricional: Leve: VO (assim que peristalse, fome e menos opioide – em torno 4o - 7o dia) Grave: primeiras 72h, via cateter nasogástrico / nasojejunal (doente que terá recuperação lenta, então nutrição iniciada até antes que a forma leve) NPT: não tolera enteral / enteral insuficiente Colangite ou icterícia persistente / progressiva = CPRE urgente Algo a mais... Critérios de Atlanta – revisão: 1) Leve: Sem falência orgânica ou complicações 2) Moderadamente grave: Falência orgânica transitória (< 48h) ou complicação local isolada 3) Grave: Falência orgânica persistente (ex: não sai da diálise) RESIDÊNCIA MÉDICA GUERZONI 341 3º Passo: Complicações Coleção fluída aguda (30-50%) = mais comum Pâncreas inflamado: líquido peripancreático e baço - Expectante - Infectada: punção PERCUTÂNEA + imipenem Necrose (grave) Infectada: final 4ª semana, paciente afunda: ↑PCR, leucocitose Estéril: conservador Infectada: - Instável: punção + necrosectomia + imipenem - Estável: necrosectomia tardia Pseudocisto (15%) > 4 a 6 semanas (↑ amilase ou massa) Pseudocisto: não epitelizado Conduta: - Assintomático e sem complicações: USG seriado - ↑ > 6 cm, complicações (hemorragia, ruptura, abscesso) = drenagem (stent no wirsung via CPRE / transgástrica via EDA *Infectado: percutânea Complicações do Pseudocisto Ascite pancreática: amilase/lipase na paracentese Fístula pancreaticopleural Fístula pancreaticoentérica Obstrução gástrica/duodenal 4º Passo: antes da alta Dor controlada, alimentação normal e avaliação de VCC Antes da alta, avaliar colecistectomia: • Pancreatite leve: mesma internação • Pancreatite grave: após 6 semanas RESIDÊNCIA MÉDICA GUERZONI 342 Pancreatite crônica Fisiopatologia: inflamação contínua com atrofia + fibrose = irreversível Quadro clínico: etilismo + episódios de pancreatite aguda + esteatorreia (Sd disabsortiva) + DM + dor abdominal (andar superior, piora com alimentação, emagrecimento) Causas: - Álcool (proteínas obstruem ductos) 70 – 80% - Idiopática (20%) - Fibrose cística (crianças) Outras: DII, autoimune, obstrutiva (trauma, pâncreas divisum), idiopática Diagnóstico: - Amilase / lipase normais (fibrose = cirrose) - Funcionais: secretina (se > 90% de perda de função), pesquisa de elastase fecal - Rx / TC / RNM: atrofia e calcificações Principal diagnóstico diferencial: tumor periampular (dor, icterícia, obstrução) Tratamento: - Abstinência / analgesia - Esteatorreia: IBP (↓ pH) + lipase - DM: hipoglicemiantes ou insulina - CPRE: estenose e cálculos Refratário? Analisar ductos pancreáticos: - Dilatados (grandes ductos): Pancreatojejunostomia latero-lateral (Pustow modificado / Partington-Rochelle) – derivação biliar e pancreática p/ jejuno (USP-RP) - Não dilatados (pequenos ductos): paliativo RESIDÊNCIA MÉDICA GUERZONI 343 Intensivão – Câncer de Pâncreas Fatores de risco: tabagismo, idade, negros, homens Tipo e localização: - Adenocarcinoma – 80% - Cabeça (periampular) – 70% - Corpo e cauda – 30% Clínica: - Cabeça: sinal de Courvoisier - Corpo e cauda: dor Marcador: CA 19-9 Diagnóstico: clínica + TC. Se não ressecável: biópsia Tratamento: - Ressecável: sem metástase e invasão vascular < 180o - Cabeça: duodenopancreatectomia (Whipple) - Corpo e causa: pancreatectomia corpo-caudal (Child) RESIDÊNCIA MÉDICA GUERZONI 344
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